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Eixo temático nº1: Técnica e Métodos de Cartografia, Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, Aplicadas ao Planejamento e Gestão Ambientais
CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E GEOMORFOLÓGICA DA BACIA DO CÓRREGO
MORRINHO (SUL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO)
WANDERLEY, T.C. Licenciada em Geografia
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória-ES e-mail: [email protected]
BRICALLI, L.L.
Doutoranda em Geologia Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro-RJ
e-mail: [email protected]
VALE, C.C. Doutora em Geografia Física
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória-ES e-mail: [email protected]
RESUMO
Este trabalho representa um estudo geológico e geomorfológico de parte do município de Guarapari, sul do estado do Espírito Santo, que se localiza sobre rochas do embasamento a oeste da bacia e Formação Barreiras a leste. Esta área apresenta algumas peculiaridades geológicas e geomorfológicas representativas, dentre elas, a Formação Barreiras, que abrange a maior parte da bacia, e que é uma unidade geológica presente em todo estado do Espírito Santo e grande parte do litoral do Brasil, representando uma importante área de deposição de rochas sedimentares de origem continental, com ocorrência de movimentações neotectônicas (registradas principalmente no norte do estado), além de ser o local de intensa ocupação urbana, devido a seu relevo plano. Tem como objetivo caracterizar a área de acordo com aspectos geológicos e geomorfológicos e analisar categorias de comportamento morfodinâmico. Para atingir os objetivos foram realizados os seguintes mapeamentos, utilizando o software ArcGis 9.2: mapa hipsométrico, mapa de declividade de vertente, ambos na escala 1:50.000 e; mapa de lineamentos estruturais (1:100.000). Além disso, foram utilizados mapas pré-existentes da litologia da área (CPRM, 2004 e RadamBrasil, 1983) na escala 1:1.000.000. A correlação dos mapas citados mostrou que: 1) a área onde predomina a Formação Barreiras apresenta as declividades mais baixas da bacia (0 a 5%), sendo que nos morros isolados presentes nessa formação a declividade aumenta (5 a 12%). As altitudes predominantes são de até 27m, no entanto, nos chama atenção a existência de alguns morros isolados com altitudes variando de 27 a 84m; 2) a bacia apresenta uma orientação NW, com lineamentos estruturais de direção predominante NE e secundariamente NW. Essas direções limitam morros isolados na Formação Barreiras e nas rochas do embasamento; e 3) a bacia foi compartimentada em duas áreas de comportamentos morfodinâmicos diferentes: área com alto grau de instabilidade morfodinâmica (área do embasamento) e área com instabilidade morfodinâmica moderada (Formação Barreiras). Palavras-Chave: Morfodinâmica. Declividade de vertente. Geomorfologia.
ABSTRACT
This work represents a geological and geomorphological study of Morrinho creek basin, located in the city of Guarapari, south of the state of Espírito Santo, over basement rocks to the west of the basin and the Barreiras Formation to the east. This basin presents some significant geological and geomorphological particularities, among them, the Barreiras Formation. This formation covers most of the basin and is a geological unit present all over the state of Espírito Santo and in large part of the Brazilian coast, representing an important deposition area of continental sedimentary rocks, with neotectonic movements (recorded mainly in the north of the state). It is also a place of intense urban occupation because of its flat relief. It aims at characterizing the area according to geological and geomorphological features and to analyze categories of morphodynamic behavior. In order to achieve these goals, the following mapping was carried out using software ArcGis 9.2: hypsometric and slope angle maps (both at a scale of 1:50.000) and; structural lineaments map (1:100.000). Moreover, preexisting lithological maps of the area (CPRM, 2004 and RadamBrasil, 1983), at a 1:1.000.000 scale, were used. The correlation between the maps showed that: 1) the area where the Barreiras Formation predominates shows the lowest slope angles of the basin (0 to 5%), whereas in isolated hills present in this formation, slope angles increase (5 to 12%). Predominant altitudes go up to 27m, however, some isolated hills with altitudes ranging between 27 and 84m attracted our attention; 2) the basin is NW oriented, with structural lineaments predominantly NE and secondarily NW oriented. These directions limit the isolated hills in the Barreiras Formation and in the basement rocks; and 3) the basin was split into two areas with different morphodynamic behavior: an area with high level of morphodynamic instability (Precambrian basement) and an area with moderate morphodynamic instability (Barreiras Formation). Key-words: Morphodynamics. Slope angle. Geomorphology. 1 – INTRODUÇÃO
Este trabalho representa um estudo geológico e geomorfológico da bacia do córrego Morrinho,
localizado no município de Guarapari, sul do estado do Espírito Santo sobre rochas do embasamento
pré-cambriano a oeste, e rochas da Formação Barreiras a leste. Esta bacia apresenta algumas
peculiaridades geológicas e geomorfológicas relevantes, dentre elas, a Formação Barreiras, que
abrange a maior parte da bacia, e que corresponde a uma unidade geológica presente em todo estado
do Espírito Santo e grande parte do litoral do Brasil, representando uma importante área de deposição
de rochas sedimentares de origem continental, com ocorrência de movimentações neotectônicas
(registradas principalmente no norte do estado) além de ser o local de intensa ocupação urbana, devido
a seu relevo plano.
O objetivo principal deste trabalho é caracterizar os principais aspectos geológicos e
geomorfológicos da bacia e, secundariamente relacionar essas características ao comportamento
morfodinâmico da área.
Para atingir esses objetivos utilizamos como procedimentos mapeamentos sobre aspectos
geológicos e geomorfológicos na mesma escala, com intuito de correlacioná-los, além da utilização de
mapas pré-existentes e de pesquisa sobre os graus de instabilidade e estabilidade morfodinâmica.
A área estudada está localizada na região sudeste do país, na porção sul do Espírito Santo,
compreendendo o município de Guarapari e o distrito de Meaípe (Figura 1).
Segundo FILHO et al (1983), a área em estudo apresenta rochas sedimentares, pertencentes a
Unidade Geológica Formação Barreiras a leste da bacia, e rochas ígneas e metamórficas no
embasamento pré-cambriano a oeste (Figura 2).
A Formação Barreiras abrange grande parte do litoral brasileiro, estendendo-se desde o norte
do estado do Rio de Janeiro até o estado do Amapá (Arai, 2006). Sua origem está relacionada a
deposição continental, relacionado a deposição fluvial de rios entrelaçados, apesar de alguns estudos
apontarem para uma origem associada a ambientes litorâneos (Arai et al., 1988 apud Morais, 2007).
Sua litologia no Espírito Santo, de acordo com Morais (2007), predomina os arenitos quartzosos,
cauliníticos, ora maciços, ora com estratificações, intercalados a lamitos, bastante ferruginizados, com
idade admitida desde o fim do Mesozóico até o início do Quaternário, sendo normalmente aceita entre
o Mioceno – Plioceno a Pleistoceno (Suguio & Nogueira, 1999; Arai, 2006).
As rochas do embasamento pré-Cambriano (Figura 2) segundo FILHO et al (1983), estão
inseridas na Suíte Intrusiva Espírito Santo. Os corpos intrusivos da “suíte” exibem formatos
aproximadamente circulares ou ligeiramente alongados na direção nordeste, em concordância com a
estrutura regional e compõem elevações expressivas na topografia da região, as quais apresentam
pontões e encostas de rocha nua. Estes conjuntos compõem-se de uma associação litológica bastante
variada, onde predominam tipos graníticos a granodioríticos e nela foram caracterizadas por intrusões
em fases sin e pós-tectônicas, em relação ao Ciclo Brasiliano. As datações feitas para essa “suíte”
confirmam apenas a idade estimada com base em rochas correlatas bem como a época do resfriamento
regional, sendo neste caso, de 453 ± 23 MA.
Em relação às características geomorfológicas, a Formação Barreiras compõe a Unidade
Geomorfológica Tabuleiros Costeiros (GATTO et al 1983) constituída de rochas sedimentares (Figura
2). Os Tabuleiros Costeiros são constituídos de depósitos argilo-arenosos e argilitos. Constituem-se de
relevos dissecados de topos aplainados e convexizados de 15 e 40 m. Em direção ao litoral os
Tabuleiros Costeiros apresentam-se marcados por falésias, que podem estar ou não em contato com o
mar.
O embasamento pré-cambriano está inserido na Unidade Colinas e Maciços Costeiros no
Domínio das Faixas de Dobramentos Remobilizados (GATTO et al 1983). As Faixas de Dobramentos
Remobilizados caracterizam-se pelas evidências de movimentos crustais, com marcas de falhas,
deslocamentos de blocos e falhamentos transversos, impondo nítido controle estrutural sobre a
morfologia atual. Dessa forma, a Unidade Colinas e Maciços Costeiros distribui-se continuamente ao
Figura 1 – Localização da bacia do Córrego Morrinho, Guarapari, ES. Fonte: IBGE, 2002. Organização: Luiza L. Bricalli e Thayana C. Wanderley, 2009.
longo da faixa costeira. Caracteriza-se por ser uma área de topografia deprimida, com reduzidos
valores altimétricos em relação a outras unidades, refletindo estrutura fraturada e dobrada.
As colinas apresentam cobertura coluvial no topo e linha de pedra angulosa e/ou
subarredondada separando o material superior da alteração dos gnaisses. Predominam sedimentos
areno-argilosos, observando-se muitas vezes concentrações ferruginosas. Matacões e blocos ocorrem
nas encostas em áreas onde não se registram espessuras significantes de colúvio. Processos bastante
significativos nestas áreas são os movimentos de massa devido à existência de espessos mantos de
alteração nas vertentes e favorecidos pelos altos índices pluviométricos e pela ocupação antrópica. Os
maciços costeiros concentram-se na porção meridional de unidade e são representados por serras
isoladas e conjuntos menores que constituem pães-de-açúcar e serras orientadas. Apresentam blocos
falhados, basculados para o norte, cujas encostas convexas expõem diáclases curvas.
Segundo OLIVEIRA et al (1983) o solo da bacia do Córrego Morrinho pode ser caracterizado
pela presença de Latossolo Vermelho-Amarelo Álico e por Podzólico Amarelo Álico. Os Latossolos
Vermelho-Amarelo compreendem solos minerais, não hidromórficos, são normalmente muito
profundos ou profundos, com seqüência de horizontes A, B e C. Apresentam avançado estágio de
intemperismo, com predominância de argila. Ocorrem principalmente em relevos fortemente ondulado
e montanhoso, como nas Colinas e Maciços Costeiros, e algumas vezes em relevo ondulado e até
suave. São solos utilizados para pastagens, culturas de café e milho. Já os solos Podzólicos Amarelo
Álico estão presentes nos Tabuleiros Costeiros referidos ao Grupo Barreiras e em outras áreas
sedimentares. Assim como os Latossolos, são solos minerais não hidromórficos com argila de baixa
atividade e álicos. São intensamente utilizados no plantio de cana-de-açúcar, pastagem, mandioca e
abacaxi.
Em relação à vegetação da área estudada, segundo URURAHY et al (1983) há a predominância
de Floresta Ombrófila Densa, que subdivide-se em Terras Baixas, Submontana, Montana e Alto-
Montana. Neste caso, há predomínio da Floresta das Terras Baixas, que são vegetações que se
encontram no nível do mar.
O estado do Espírito Santo, assim como os demais estados da Região Sudeste brasileira,
localiza-se em baixas latitudes - zona climática Tropical e possui duas estações bem definidas: a
chuvosa, com chuvas bem distribuídas e médias anuais em torno de 1500 mm e a seca que dura em
média dois meses sendo, portanto, o clima classificado como Tropical, (IBGE, 1977). Segundo a
classificação de Koppen apud Costa (2001) o município de Guarapari possui como tipo climático o Aw
que se caracteriza por ser um clima de savanas, não tendo estação fria, e a mais baixa temperatura
Figura 2 – Mapa litológico da bacia do córrego Morrinho, Guarapari, ES. Fonte: IBGE, 2002; CPRM, 2004. Organização: Luiza L. Bricalli e Thayana C. Wanderley, 2009.
no mês menos quente não atinge menos de 18ºC. Além disso, possui uma estação seca bem
caracterizada ocorrendo no inverno.
2 – METODOLOGIA
Os procedimentos utilizados para a realização deste trabalho foram: 1) elaboração e análise de
mapeamentos; 2) correlação dos mapas elaborados com mapas pré-existentes e; 3) análise descritiva e
comparativa dos mapeamentos para compartimentação morfodinâmica da bacia.
Os mapeamentos elaborados foram: mapa hipsométrico (escala 1:50.000); mapa de declividade
de vertente e; mapa de lineamentos estruturais (escala 1:100.000). O mapa hipsométrico e de
declividade de vertentes foram elaborados a partir da base digital IBGE (2002) a partir da utilização do
software ArcGis 9.2, desenvolvido pela ESRI Gis and Mapping, disponível para uso do Laboratório de
Cartografia Geográfica e Geotecnologias do Departamento de Geografia da Universidade Federal do
Espírito Santo.
O mapa hipsométrico foi gerado a partir da análise computadorizada das altitudes presentes nas
curvas de nível, onde fizemos a conversão de um tin em raster, e a partir disso foi elaborado o mapa e
estabelecido 10 classes de intervalos altimétricos de acordo com a melhor representatividade dos
valores altimétricas da bacia.
O mapa de declividade de vertente foi gerado a partir da análise computadorizada da
declividade de cada vertente das curvas de nível, utilizando-se a ferramenta spacial analyst e
posteriormente surface analisis, onde se escolheu a opção slope. Nessa condição foi gerado o mapa de
declividade de vertente, dada em percentagem e com as células dos pixels com valor 10, onde foram
estabelecidas cinco classes de declividades para a área, segundo De Biasi (1992).
O mapa de lineamentos estruturais foi elaborado sobre um modelo digital de elevação (MDE)
elaborado com dados obtidos através do site do Serviço Geológico Norte-Americano (USGS),
referente ao levantamento realizado pela Shuttle Radar Topography Mission (SRTM-NASA), com
resolução espacial de 90m. Foi feito um sombreamento do relevo (hillshade) utilizando-se duas
iluminações artificiais (315˚ e 45˚) com elevação de 45˚. Em seguida, foram traçados lineamentos
sobre a imagem, utilizando-se como critério a metodologia de Liu (1984), que estabelece como
lineamentos estruturais: linhas de segmentos de escarpas, alinhamento de cristas, vales, trechos de rios
e lagos, depressões alongadas e ainda feições lineares separando terrenos através da diferença de
textura e feições tonais lineares.
Em seguida, organizamos no software ArcGis 9.2, o mapa litológico da área, segundo
mapeamento elaborado pelo CPRM, 2004, onde adicionamos a litologia da folha SF 24 Vitória e
recortamos a área de interesse por meio da ferramenta arctoolbox e, em seguida, reclassificamos o
mapa com intuito de destacar as unidades litológicas da bacia.
Utilizamos também os mapas geológico e geomorfológico do Projeto RadamBrasil (1983),
Folhas SF. 23/24 Rio de Janeiro/Vitória para analisar as principais características geológicas e
gemorfológicas da bacia.
Por fim, os mapas descritos acima foram analisados e correlacionados, buscando-se obter
respostas a respeito da morfodinâmica a partir da caracterização geológico-geomorfológica da área.
3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Mapa hipsométrico
Mapas hipsométricos são importantes em estudos ambientais porque podem indicar a relação
existente entre configurações superficiais do terreno, núcleos urbanos e usos dos solos (SANTOS,
2004).
O mapa mostra relevo predominantemente plano ou quase plano, com altitudes variando de 0
(zero) a 42m de altitude. Essas altitudes, em sua maioria, principalmente na parte leste da bacia,
correspondem às rochas sedimentares que compõem as feições de Tabuleiros Costeiros. Há também
áreas relativamente mais elevadas, com altitudes variando de 42m a 180m de altitude. Na porção
centro-norte da bacia a predominância é para as altitudes de 106m a 180 m, correspondente a maciços
rochosos da unidade geológica Suíte Intrusiva Espírito Santo e unidade geomorfológica Colinas e
Maciços Costeiros (Figura 3).
Apesar do predomínio de relevo plano, os morros existentes possuem topos convexos, onde
provavelmente ocorrem processos degradacionais, com presença de processos de erosão modificando o
relevo. Além disso, os morros mais altos (altitudes de 70 a 180m) parecem alinhados na direção NE,
parecendo indicar controle estrutural ou lito-estrutural.
As áreas planas, correspondentes aos Tabuleiros Costeiros, principalmente as altitudes de 0 a
70m, possuem a mesma orientação da bacia (NW) e dos cursos d’água principais, diferentemente da
orientação das áreas mais altas que são NE Além disso a diferença de altitude nos Tabuleiros Costeiros
pode ser explicada pela movimentação tectônica, responsável pelo soerguimento de blocos. Essas áreas
são também regiões com urbanização considerável, visto que, a região de Meaípe é um balneário
voltado diretamente para as atividades turísticas, onde ocorre aumento notável no número populacional
no verão e em altas temporadas.
3.2 Mapa de declividade
O mapa de declividade de vertentes mostra que as maiores declividades correspondem a
unidade geológica Suíte Intrusiva Espírito Santo e coincidem com as altitudes mais elevadas da bacia.
Figura 3 – Mapa hipsométrico da bacia do córrego Morrinho, Guarapari, ES. Fonte: IBGE, 2002. Organização: Luiza L. Bricalli; Thayana C. Wanderley, Wanildo D. Pires, 2009.
A bacia possui relevo predominantemente plano, com declividades variando de 0% (zero) a
5%, área que abrange a quase totalidade do compartimento dos Tabuleiros Costeiros. Nos morros
isolados nos Tabuleiros Costeiros as declividades variam de 5 a 12% e nos morros pertencentes ao
compartimento Colinas e Maciços Costeiros as declividades variam de 5 a 30%. Pequenos trechos, nas
bordas da bacia, há declividades chegando a 47% (Figura 4).
Segundo a classificação de De Biasi (1992) as áreas que predominam as declividades menores
ou iguais a 5%, são denominadas como Limite urbano-industrial, sendo, portanto, destinadas à
ocupação urbana e industrial. Essa informação é compatível ao que existe na área, pois há um
predomínio da ocupação nessa declividade, correspondente aos Tabuleiros Costeiros. Nessas
declividades o predomínio de processos de movimentos de massa são menores que em aéreas mais
declivosas, assim como nos morros isolados nos Tabuleiros Costeiros, onde as declividades variam de
5 a 12% . Ainda com base na classificação de De Biasi (1992) pode-se dizer, que as vertentes com 5 à
12% de declividade são classificadas como limite máximo para o emprego de agricultura mecanizada.
Nos morros pertencentes ao compartimento Colinas e Maciços Costeiros as declividades variam de 5 a
30%. Essas declividades pertencem às Faixas de Dobramentos Remobilizados, caracterizadas por
evidências de movimentos crustais podendo influenciar processos geomorfológicos de movimentos de
massa, como queda de blocos e deslizamentos de terras, pois matacões e blocos ocorrem nessas
encostas, onde não se registradas espessuras significantes de colúvio. Além da razoável declividade
influenciando na ocorrência desses processos, a existência de espessos mantos de alteração nas
vertentes e altos índices pluviométricos também influenciam. Assim sendo, esses processos impõem
um nítido controle sobre a morfologia atual. De Biasi (1992) afirma ainda que as vertentes com
declividades entre 12 e 30% são definidas por legislação federal como sendo o limite máximo para
urbanização sem restrições. E por último, as vertentes em menor quantidade que possuem declividades
entre 30 e 47% de declividade são consideradas pelo Código Florestal como limite máximo de corte
raso, a partir do qual a exploração só será permitida se sustentada por cobertura de florestas. Sendo
assim, são áreas que necessitam reflorestamento constante e não são indicadas para a ocupação urbana.
Todavia essa área não é muito representativa na bacia, estando presente somente nas bordas.
Figura 4 – Mapa de declividade de vertente da bacia do Córrego Morrinho, Guarapari, ES. Fonte: IBGE, 2002. Organização: Thayana C. Wanderley e Wanildo D. Pires, 2009.
3.3 Mapa de lineamentos estruturais
O mapa de lineamentos estruturais mostra orientações predominantes NE-SW e,
secundariamente, NNW-SSE (Figura 5). Essas duas direções de lineamentos são compatíveis com as
direções dos lineamentos e também de falhas medidas e encontradas no estado do Espírito Santo
(Mello et al, 2005 a, Miranda, 2007; Miranda et al, 2008; Bricalli e Mello, 2009).
Essas direções podem estar relacionadas a dois eventos tectônicos: uma transcorrência dextral
E-W e uma distensão NW-SE. Essa observação mostra que pode haver um controle estrutural na
morfologia da bacia, além do litológico.
Além disso, as direções dos lineamentos limitam morros isolados na Formação Barreiras e nas
rochas do embasamento, parecendo controlar a morfologia na área.
3.4 Mapa de compartimentos morfodinâmicos
A partir da correlação dos mapas gerados no presente trabalho pode-se estabelecer uma divisão
para a área baseada em Ross (1991). Neste caso, dividiu a grande área em duas subáreas, segundo
comportamentos morfodinâmicos: 1) área com alto grau de instabilidade morfodinâmica (área do
embasamento) e; 2) área com instabilidade morfodinâmica moderada (Formação Barreiras) (Figura 6).
Segundo ROSS (1991) a área com alto grau de instabilidade morfodinâmica corresponde a
uma região com provável processo de urbanização com loteamentos sem infra-estrutura urbana,
terrenos com obras de terraplenagem, litologia com espesso manto de alteração e processos de
ravinamentos, voçorocamentos e assoreamentos generalizados. Isso porque nessa área predominam as
mais elevadas altitudes e consequentemente as vertentes mais inclinadas do terreno. Instabilidade essa,
que, provavelmente se agrava em épocas de fortes chuvas que contribuem para o aumento da
instabilidade local.
Ainda com base neste mesmo autor pode-se afirmar que, a área de instabilidade
morfodinâmica moderada é uma região voltada provavelmente para o uso do solo por meio de
agricultura possuindo relevo com vertentes convexas em colinas baixas e declividades não muito
relevantes (não excedendo 12%), porém, com pluviosidade elevada e concentrada no verão.
Figura 5 – Mapa de lineamentos estruturais da bacia do Córrego Morrinho, Guarapari, ES. Fonte: IBGE, 2002; SRTM, 2009. Organização: Thayana C. Wanderley e Wanildo D. Pires, 2009.
Figura 6 – Mapa de comportamento morfodinâmico da bacia do Córrego Morrinho, Guarapari, ES. Fonte: IBGE, 2002. Organização: Thayana C. Wanderley e Wanildo D. Pires, 2009.
3.5 Correlação dos mapas
A correlação entre os mapas mostrou que as altitudes mais baixas estão presentes na Formação
Barreiras e as mais altas nas Colinas e Maciços Costeiros e que as menores declividades são
compatíveis com as áreas de mais baixas. Além disso, os morros isolados da Formação Barreiras
parecem estar alinhados segundo a direção NE e os morros mais altos pertencentes ao compartimento
Colinas e Maciços Costeiros estão alinhados segundo a direção NW, a mesma orientação da bacia. Há
um controle litológico na morfologia da bacia, já que as unidades geológicas são compatíveis com as
unidades geológicas, ou seja, as rochas do embasamento pré-cambriano pertencem ao compartimento
Colinas e Maciços Costeiros, enquanto as rochas sedimentares da Formação Barreiras pertencem ao
compartimento dos Tabuleiros Costeiros. O mapa de lineamentos estruturais mostra a predominância
de lineamentos na nas direções NE-SW e NNW-SSE, controlando as áreas de maior altitude e
compatíveis com estruturas medidas a norte do estado, mostrando que há um controle estrutural na
morfologia da bacia, além do litológico. E, por fim, há uma compatibilidade dos graus de instabilidade
morfodinâmica com os tipos de rochas e tipo de relevo da bacia, ou seja, a área com alto grau de
instabilidade morfodinâmica corresponde às rochas do embasamento pré-cambriano e pertencem ao
compartimento Colinas e Maciços Costeiros e a área com instabilidade morfodinâmica moderada
corresponde a rochas sedimentares da Formação Barreiras e pertencem ao compartimento dos
Tabuleiros Costeiros.
5 – CONCLUSÃO
Ao final do trabalho percebemos que há uma grande compatibilidade entre tipo de rocha e tipo
de relevo na bacia, e que o grau de instabilidade morfodinâmica é controlado por essa relação.
Dessa maneira, a correlação dos mapas citados mostrou que: 1) a área onde predomina os
Tabuleiros Costeiros da Formação Barreiras apresenta as declividades mais baixas da bacia (0 a 5%),
sendo que nos morros isolados presentes nessa formação a declividade aumenta (5 a 12%). As altitudes
predominantes são de até 42m, no entanto, nos chama atenção a existência de alguns morros isolados
com altitudes variando de 42 a 55 m. A área onde predomina as Colinas e Maciços Costeiros
pertencentes ao embasamento cristalino apresenta as declividades mais altas da bacia (5 a 30%)
correspondentes aos morros mais altos de toda bacia, com altitudes variando de 55 a 180m; 2) a bacia
apresenta uma orientação NW, com lineamentos estruturais de direção predominante NE e
secundariamente NW. Essas direções limitam os morros isolados da Formação Barreiras e das rochas
do embasamento pré-cambriano, podendo ser indicativo de controle estrutural no relevo da área; e 3) a
bacia foi compartimentada em duas áreas de comportamentos morfodinâmicos diferentes: área com
alto grau de instabilidade morfodinâmica (rochas do embasamento pré-cambriano pertencentes às
Colinas e Maciços Costeiros) e área com instabilidade morfodinâmica moderada (rochas sedimentares
pertencentes aos Tabuleiros Costeiros).
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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