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Eixos programáticos do psol para as eleições 2010

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Page 1: Eixos programáticos do psol para as eleições 2010

Eixos programáticos do PSOL para as eleições 2010 – Parte I

Por Edilson Silva

Lei de Responsabilidade Social e Ambiental e Participação Popular

Após uma maratona de debates internos com apoiadores de nossa

candidatura, além é claro de nossa vivência e convivência com os

movimentos sociais e outros atores da sociedade civil, concluímos a

primeira parte de nossa proposta programática para as eleições 2010, que

são as concepções mais gerais do programa e que se debruçam sobre a

seguinte realidade de nosso Estado:

- Epidemia de crack vitimando a juventude em todas as regiões do estado;

- Sistema público de saúde e a filosofia do SUS sendo desmontados;

- Catástrofes e enchentes destruindo vidas de milhares de pernambucanos;

- Segurança pública sendo maquiada, sem ações estruturais, o que pode

explodir a qualquer momento sobre a sociedade;

- Professores da rede estadual sem receber sequer o piso nacional do

magistério, com um dos piores salários do Brasil;

- Quase metade da população recebendo e sobrevivendo do Bolsa-Família;

- Mais de 300 mil desempregados na Região Metropolitana de Recife;

- 5° pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil;

- Caos na região metropolitana, com ocupação desordenada do trânsito e

solo urbano;

- Pernambuco se transformando num paraíso da devastação ambiental,

sendo tratado como um enorme garimpo, onde alguns poucos podem

enriquecer rapidamente, mas com destruição de mangues, matas e rios,

instalação de usinas nucleares, construção de cidades da copa sem debate

com a sociedade, etc.

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Esta situação é a fotografia mais nítida de nosso Estado. Contudo, se

formos colocar esta situação numa perspectiva dinâmica, como uma

sociedade que está processando transformações econômicas numa

determinada direção política, o quadro poderá ficar ainda mais dramático

nos próximos anos.

Crescimento do PIB sem planejamento estratégico de desenvolvimento

social poderá fazer com que Pernambuco deságüe num processo que

chamamos de “mexicanizão”. O México, há cerca de uma década,

ostentava taxas de crescimento do PIB que causavam inveja à maioria dos

países, com as famosas “maquiladoras” dando a dinâmica do crescimento e

da concentração de renda. O México hoje vive uma grave crise social por

conta do agigantamento do narcotráfico, que recruta aos milhares,

diariamente, os jovens cuspidos pelo modelo estúpido de crescimento do

PIB como estratégia suprema.

Mas não precisamos ir tão longe para buscar exemplos dos riscos que nosso

Estado atravessa com este modelo imposto pelos governos que vêm se

revezando no poder. O estado da Bahia, por exemplo, já teve o “seu” Suape

um dia, no município de Camaçari, que concentrou investimentos vultuosos

num passado não muito distante, impactando positivamente o PIB daquele

Estado. O entorno de Camaçari hoje é um cinturão de miséria e a riqueza

ali gerada está nos bolsos de alguns poucos.

Diante deste quadro, nossa candidatura apresenta como uma de suas

principais propostas a criação de uma Lei Estadual de Responsabilidade

Social e Ambiental. Através desta Lei, o Estado e seus gestores ficam

comprometidos, sob pena de perda de mandato e inelegibilidade, com

metas democraticamente estabelecidas nas áreas de educação, saúde,

habitação, mobilidade urbana, reforma agrária, crianças, adolescentes,

juventude e idosos, segurança pública, comunicação, meio ambiente,

qualidade do ar, preservação e recuperação de matas, rios e biomas e outras

que a sociedade entender pertinentes. Esta Lei que propomos pretende ter a

mesma eficácia da LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal -, que disciplina

os gastos públicos com o objetivo de fazer superávits para remunerar o

capital especulativo. Esperamos com esta Lei criar uma relação harmoniosa

entre crescimento econômico e desenvolvimento social em nosso Estado.

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A criação de uma Lei de Responsabilidade Social e Ambiental exigirá da

sociedade e do Estado a construção de uma nova forma de pensar a própria

democracia que praticamos. Exigirá o fim do desastroso monopólio das

grandes decisões políticas nas mãos do poder Executivo e Legislativo, hoje

absolutamente seqüestrados e organicamente vinculados a interesses de

grupos econômicos. Exigirá Controle Social sobre o Estado, de fato e de

direito.

Propomos iniciar, para tanto, uma gigantesca obra cultural em nosso

Estado: a construção de uma nova cultura política, obra que obviamente

não caberá no prazo de um mandato, pois é uma construção histórica,

dinâmica, em permanente edificação. Construir metas a serem perseguidas

e atingidas em áreas sociais, pensando o respeito aos direitos humanos sob

uma perspectiva bastante ampla, como condição sine qua non para o

desenvolvimento social, exigirá antes de tudo verdadeira participação

popular no diagnóstico, no pensamento de soluções e na implementação

destas. Comprometimento e co-responsabilização da sociedade exigi que

ela seja parte viva na elaboração de políticas públicas em todas as etapas.

A realização de conferências massivas, amplamente divulgadas e com

garantia de infra-estrutura democrática para as suas realizações será uma

necessidade inescapável. Sem forte mobilização social não haverá soluções

duradouras e ressonância social para a Lei de Responsabilidade Social e

Ambiental. Vejamos, por exemplo, o tema da epidemia de crack em nosso

Estado. As soluções de gabinete não contemplam a sociedade. Caberia

neste caso convocar esta sociedade para que ela se posicionasse e se

comprometesse com as soluções, estabelecendo políticas públicas de

enfrentamento ao problema.

Outro mecanismo importante que propomos como parte da construção

desta nova cultura política é a implementação de algo que está já previsto

em nossa Constituição Federal, em seu capítulo IV, dos direitos políticos.

No Artigo 14 está escrito em nossa Constituição: A soberania popular será

exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor

igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – Plebiscito; II –

Referendo; III – Iniciativa popular.

Propomos convocar nossa população para debater e definir, via plebiscitos

e referendos, como garante a Constituição, temas de impacto estratégico

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para a nossa sociedade, que digam respeito ao planejamento do tipo de

sociedade que queremos no presente e no futuro, e que darão moldura para

a Lei de Responsabilidade Social e Ambiental.

É o caso, por exemplo, da usina nuclear que o atual governo tenta trazer

para o nosso Estado. Quem conferiu ao governador e à sua maioria na

Assembléia o direito de definir se vamos trazer para o nosso estado esta

perigosa obra? Nossa proposta é abrir uma profunda discussão com a

sociedade e concluir este debate democrático com um plebiscito. Como

este, outros temas poderão e deverão submeter-se à intervenção direta da

sociedade.

*Candidato do PSOL ao governo do Estado de Pernambuco

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Eixos programáticos do PSOL para as eleições 2010 - Parte II

Por Edilson Silva

Finanças públicas, Educação, Saúde e Segurança

Em relação à saúde financeira do Estado para vincular crescimento do PIB

ao desenvolvimento social e à Lei de Responsabilidade Social e Ambiental,

propomos reestabelecer no pacto federativo o papel e a responsabilidade

dos tributos arrecadados pela União na política de investimentos sociais

nos estados. Não podemos concordar e muito menos admitir que mais de

40% do Orçamento Geral da União perca-se nos cofres da agiotagem do

sistema financeiro, como ocorre hoje com a atual política econômica. Esta

situação deverá ser revista e nossa candidatura tem compromisso com a

auditoria na dívida pública para revertermos este quadro.

Propomos, ainda no âmbito do tema dos tributos, fortalecer o aparato de

auditoria fiscal num processo articulado democraticamente com os

servidores públicos da área. Com relação à fiscalização dos gastos

públicos, fortalecer e pugnar pela máxima independência do Tribunal de

Contas do Estado. Comprometemo-nos com a definição de Conselheiros a

partir dos quadros concursados do Tribunal de Contas e somos

absolutamente contrários às indicações políticas, pois estas comprometem

a missão original e cidadã do Controle Externo.

Sempre num processo democrático de debate com a sociedade, no espírito

da construção de uma nova cultura política, sugerimos que nosso Estado

recupere sua capacidade intelectual e técnica de planejar o nosso

desenvolvimento, capacidade que foi e vem sendo sucateada com o

objetivo de desprover o Estado e a sociedade da possibilidade de

desamarrar-se dos interesses privados. Num momento em que nosso Estado

vem recebendo investimentos públicos e privados consideráveis, e na

medida em que pensamos dotar a sociedade de capacidade de

planejamento, instituições que pensem estrategicamente a infra-estrutura do

nosso estado, sob a ótica da maioria da população, precisam ser resgatadas.

Sobre a Educação, que tem foco prioritário em nossa proposta, nosso

compromisso é com a imediata implantação, já no primeiro dia de governo,

do piso salarial nacional do magistério e reabrir um processo democrático

de definição de um plano de cargos e carreiras para os trabalhadores em

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educação. Propomos também resgatar e aprofundar o processo de gestão

democrática nas escolas estaduais e romper com a lógica tecnicista

perversa implementada pelos últimos governos, com seus centros de

excelência para uns poucos e escola de péssima qualidade para a maioria.

Na saúde, nosso compromisso é respeitar as deliberações das conferências

públicas e a democracia no Conselho Estadual de Saúde. Posicionamo-nos

contrários à administração via organizações sociais de unidades públicas de

saúde, que vem desconstituindo a filosofia do SUS – Sistema Único de

Saúde.

Na segurança pública apresentamos a proposta de romper de forma segura

e gradual com a lógica da premiação pecuniária aos policiais para a

redução das taxas de homicídios. Como alternativa, propomos investimento

estratégico na formação e na carreira, tornando-a mais atrativa e exigindo

cada vez mais formação profissional e intelectual. Nesse sentido, vemos

com bons olhos a aprovação da PEC 300 no Congresso Nacional.

Apresentamos também a proposta de desmilitarização e unificação das

polícias militar e civil.

*Candidato do PSOL ao governo do Estado de Pernambuco

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Eixos programáticos do PSOL para as eleições 2010 - Parte III

Por Edilson Silva

Educação e transformação da Cidade da Copa em Cidade da Juventude

Por fim, mas não menos importante, damos também especial atenção à

juventude, que merecerá no transcorrer de nossa campanha elaboração

ainda mais apurada a partir de diálogos com a própria juventude.

Salientamos que dois aspectos precisam ser trabalhados conjuntamente:

crack e educação. Sugerimos construir uma grande conferência sobre o

tema e tratá-los de forma estratégica. Em relação à educação, nossa

juventude está sendo roubada pelas gestões públicas. O Estado está se

desfazendo gradualmente de suas responsabilidades para com todos os

jovens em idade escolar, estabelecendo uma educação que sequer tem

professores em sala de aula, objetivando única e exclusivamente a entrega

de um diploma, um pedaço de papel, aos nossos jovens.

Nossa juventude, seja ela de face negra, pobre, da periferia, ou não, tem o

direito à educação integral; tem direito a conhecer literatura, língua

estrangeira, física, química, história, geografia, filosofia, sociologia, dentre

outros saberes que hoje são gradativamente negados através de programas

que buscam “acelerar” a formação dos alunos. É a partir desta lógica que as

crianças estão saindo do ensino fundamental sem saber ler e escrever

direito e muito menos interpretar textos. É a partir desta lógica que o

Estado vem se desobrigando de garantir profissionais de educação,

sobretudo professores, com condições plenas de trabalho para contribuir no

desenvolvimento da formação intelectual, moral, cultural e humanística de

nossas crianças e jovens. O não respeito ao piso nacional do magistério

encaixa-se nesta lógica. Alunos de segunda categoria; professores de

segunda categoria; escola de segunda categoria; ensino de segunda

categoria; diploma de segunda categoria. Esta situação precisa ser revista

urgentemente.

Além destas questões, precisamos desenvolver políticas públicas que

avancem na organização e inserção dos jovens na dinâmica social, seja

através do emprego, dos esportes, da arte e da cultura, seja através de

inteiração com cuidados com o meio ambiente. Para tanto, há soluções

estruturais que envolvem esforços de um conjunto de esferas que nossa

proposta busca alcançar, como a redução da jornada de trabalho para abrir

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mais postos de emprego com a capacidade produtiva já instalada em nossa

economia.

Mas, entendemos que o mundo contemporâneo precisa tratar o ócio

involuntário não como uma praga a ser combatida sempre na perspectiva

do capitalismo, ou seja, preenchendo todo o tempo com trabalho

assalariado, mas como mais uma oportunidade de elevação da condição

humana. Na visão meramente capitalista, o ócio é um problema, pois esta

vê o homem como uma mera extensão do processo produtivo capitalista, o

homem como uma mercadoria. Na visão de uma proposta socialista, o ócio

pode e deve ser qualificado e reprocessado, reconceitualizado. Devemos

trocar a palavra ócio por algo como disponibilidade. Temos muitos jovens

disponíveis.

Disponibilidade para praticar esportes de alto rendimento e transformar

nosso Estado numa potencia esportiva; para praticar arte e cultura popular à

vontade; para desenvolver práticas comunitárias e solidárias no cuidado

com os animais, com a natureza; ou seja, esta disponibilidade humana, em

tempos de máquinas ocupando os espaços produtivos que antes eram

destinados ao homem, pode e deve ser tratada como uma oportunidade de

colocar na ordem do dia princípios como solidariedade, coletividade,

companheirismo, sustentabilidade ambiental, em contra-posição aos

princípios construídos pelo capitalismo selvagem: individualismo,

concorrência, competição, vencedores e perdedores, sucesso e fracasso.

Nosso Estado terá uma oportunidade de fazer nos próximos anos

investimentos em equipamentos que podem converter-se em benefícios

para a nossa juventude. Nossa candidatura condena os gastos, não

planejados democraticamente, na cidade da Copa em São Lourenço da

Mata, pois entendemos que há outras prioridades e formas para investirmos

os recursos públicos que serão alocados neste empreendimento. Contudo,

em não sendo possível revertermos plenamente este quadro, precisamos

qualificar ao máximo os gastos. Para tanto, proporemos para a sociedade e

para a juventude em particular que a Cidade da Copa seja convertida

em Cidade da Juventude, construída de forma a converter-se imediatamente

num pólo de referência para o desenvolvimento de ações esportivas,

artísticas e culturais para a juventude da região metropolitana.

*Candidato do PSOL ao governo do Estado de Pernambuco