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ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS PARA UMA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA EM NATAL - RN Lara Gabriele Ferreira de Medeiros (UFRN) [email protected] Livia Mariana Lopes de Souza Torres (UFRN) [email protected] Barbara Vaz Ferreira (UFRN) [email protected] Fadja D`julia Cavalcanti Souza (UFRN) [email protected] A evolução da indústria farmacêutica se deu consoante ao crescimento da preocupação com o meio ambiente e com a qualidade dos medicamentos. Pensando na preservação dos recursos disponíveis, o presente estudo objetiva elaborar um diagnóstico, análise crítica e proposições para gestão dos resíduos de uma indústria farmacêutica pública de Natal-RN, por meio da criação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) . Tendo como base a redução, o aproveitamento e a destinação dos resíduos gerados, esta pesquisa utilizou para a realização de um estudo de caso, métodos de abordagens qualitativa e descritiva. Como resultados, através da utilização das etapas do desenvolvimento de um Plano de Gerenciamento de Resíduos, esta pesquisa identificou o gerador, classificou os resíduos gerados, relatou os tratamentos já realizados para estes e sendo assim, apresenta sua contribuição quando propõe programas de redução, reciclagem, reuso e educação ambiental para o melhor desempenho da organização. Conclui-se sabendo que a implantação do PGRSS permitirá à indústria o uso controlado dos recursos naturais e o gerenciamento do tratamento dos resíduos, trazendo benefícios não só para esta, mas para a sociedade e gerações futuras. Palavras-chave: Plano de Gerenciamento de Resíduos, indústria farmacêutica, gestão de resíduos XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE …abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_214_269_27106.pdf · resíduos de uma indústria farmacêutica pública de Natal-RN, por meio da criação ... Fortaleza,

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ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS PARA UMA

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA EM NATAL - RN

Lara Gabriele Ferreira de Medeiros (UFRN)

[email protected]

Livia Mariana Lopes de Souza Torres (UFRN)

[email protected]

Barbara Vaz Ferreira (UFRN)

[email protected]

Fadja D`julia Cavalcanti Souza (UFRN)

[email protected]

A evolução da indústria farmacêutica se deu consoante ao crescimento da

preocupação com o meio ambiente e com a qualidade dos medicamentos.

Pensando na preservação dos recursos disponíveis, o presente estudo objetiva

elaborar um diagnóstico, análise crítica e proposições para gestão dos

resíduos de uma indústria farmacêutica pública de Natal-RN, por meio da

criação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde

(PGRSS) . Tendo como base a redução, o aproveitamento e a destinação dos

resíduos gerados, esta pesquisa utilizou para a realização de um estudo de

caso, métodos de abordagens qualitativa e descritiva. Como resultados,

através da utilização das etapas do desenvolvimento de um Plano de

Gerenciamento de Resíduos, esta pesquisa identificou o gerador, classificou

os resíduos gerados, relatou os tratamentos já realizados para estes e sendo

assim, apresenta sua contribuição quando propõe programas de redução,

reciclagem, reuso e educação ambiental para o melhor desempenho da

organização. Conclui-se sabendo que a implantação do PGRSS permitirá à

indústria o uso controlado dos recursos naturais e o gerenciamento do

tratamento dos resíduos, trazendo benefícios não só para esta, mas para a

sociedade e gerações futuras.

Palavras-chave: Plano de Gerenciamento de Resíduos, indústria farmacêutica,

gestão de resíduos

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

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Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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1. Introdução Devido à evolução das sociedades e da tecnologia, a produção de resíduos e a toxicidade

destes crescem progressivamente. Somado a isto, a falta de conscientização e suporte do

governo implica na destinação inadequada destes resíduos, tornando-os riscos potenciais ao

meio ambiente e à saúde pública. Em especial, os Resíduos de Serviço de Saúde geram grande

riscos caso não gerenciados adequadamente porque podem apresentar algum tipo de

contaminação por agentes patogênicos.

Todavia, o gerenciamento e controle dos Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) continua

ineficiente no Brasil. Segundo Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais – ABRELPE (2012), a coleta de RSS executada pela maioria dos

municípios é parcial, acarretando desconhecimento sobre a quantidade total gerada e o destino

real dos RSS. Embora existam resoluções e legislação orientando o tratamento dos RSS, as

organizações não estão destinando corretamente seus resíduos devido à falta de

conscientização e/ou suporte do governo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE (2010), em torno de 51% dos resíduos sólidos ainda são dispostos em

vazadouros em céu aberto (lixões) apesar do crescimento da utilização do aterro controlado e

aterro sanitário no Brasil.

Logo, faz-se necessário um gerenciamento adequado dos RSS afim de minimizar o impacto

desses resíduos no meio ambiente e os riscos à saúde. Neste sentido, este trabalho objetiva

analisar como é feito atualmente o gerenciamento dos RSS no Departamento de Qualidade do

Núcleo de Pesquisa em Alimentos e Medicamentos (NUPLAM) da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte através da caracterização dos resíduos gerados e seu manejo, propondo

assim um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde – PGRSS.

O trabalho se justifica devido à necessidade de um tratamento e uma disposição final

ambientalmente adequada para os resíduos gerados no Departamento de Qualidade do

NUPLAM. Assim, o PGRSS consistirá na proposição de práticas e políticas ambientalmente

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corretas aos seguintes aspectos dos resíduos gerados: Segregação, Acondicionamento, Coleta,

Estocagem temporária, Transporte, Tratamento e Disposição Final.

2. Referencial teórico

2.1 Indústria farmacêutica e a gestão de resíduos A indústria farmacêutica, em seus processos, apresenta manejo de diversos componentes

químicos reagindo entre si e, desse modo, os resíduos, tanto dos processos quanto o resíduo

do produto final, necessitam de especial cuidado quanto a sua disposição final, fato que nem

sempre é respeitado pelas empresas. Rezende et al diz que esses cuidados ambientais são

caminho obrigatório a ser seguido pelas indústrias farmacêuticas, seja pelos fundamentos da

competitividade ou por motivos éticos.

A adoção de posturas como implantação de ISO 14.001, ou de obtenção de outros certificados

ambientais permite mostrar um comprometimento com a mitigação dos impactos causados

pela empresa no meio ambiente. No panorama nacional percebe-se que certificações como a

ISO 14.001 não são mandatórias pela legislação, entretanto com a aprovação da Política

Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/2010, que institui a responsabilidade compartilhada

dos resíduos, assim como a responsabilidade dos mesmos pelo seu gerador, as empresas estão

sendo forçadas a realizar mudanças devido a legislação em vigor.

Arjona& Ruiz (1997) observaram esta atividade e listaram os pontos críticos que levam a

formação de resíduos: a devolução e recolhimento de medicamentos do mercado, o descarte

de medicamentos rejeitados pelo controle de qualidade, às perdas inerentes aos processos e,

sobretudo, às embalagens que transportam os insumos e matérias-primas. Estes podem ser

caracterizados como resíduos industriais ou como resíduos de serviços de saúde, em ambos os

casos o resíduo pode ser incinerado e em caso de resíduo de industrial Aterro Sanitário Classe

I.

De posse de tais informações, pode-se inferir que a indústria farmacêutica se constitui em um

campo de estudo vasto necessitando de diversas medidas para a gestão dos resíduos tendo em

vista que grande parte de seus processos geram resíduos, sendo esses diversos e alguns

apresentando caráter tóxico e de alta periculosidade. Logo, analisar quais ações aplicar

visando melhorar a gestão dos resíduos por esse setor constitui em uma importante ação, não

somente para adequar as empresas a legislação, mas também como modo de evitar que essa se

torne grande poluidora do meio ambiente.

2.2 Plano de gerenciamento de resíduos de serviço de saúde

O Plano de Gerenciamento Resíduo de Serviço de Saúde (PGRSS) tem como objetivo

cumprir as normas, leis e regulamentações vigentes de forma que ocorra a prevenção e

redução dos riscos à saúde e ao meio ambiente, bem como a redução do volume de resíduos

perigosos e a incidência de acidentes ocupacionais. Importante frisar que práticas que

favoreçam a substituição de materiais perigosos por outros de menor periculosidade serão

aplicadas sempre que possível. O PGRSS também tem a finalidade de avaliar as rotinas atuais

para que se possam programar medidas de correção das rotinas constatadas como inadequadas

ou inexistentes.

O PGRSS foi dividido de acordo com as etapas de gerenciamento de resíduos, segundo a

Resolução CONAMA nº 307/2002 se inicia com a etapa de caracterização, onde gerador

identifica e quantifica os resíduos. A próxima etapa, a segregação, deverá ser realizada,

preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser realizada nas áreas de destinação

licenciadas para essa finalidade. Já na etapa do acondicionamento, o gerador deve garantir o

confinamento dos resíduos após a geração até a etapa de transporte, assegurando em todos os

casos em que seja possível, as condições de reutilização e de reciclagem. O transporte e a

destinação deverá ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as

normas técnicas vigentes. Além das etapas citadas, ainda serão consideradas as seguintes

etapas: Programa de redução da fonte geradora; Programa de educação ambiental; e Plano de

Ação e Indicadores.

3. Aspectos metodológicos Averiguar a situação do gerenciamento dos RSS no Departamento de Qualidade do Núcleo de

Pesquisa em Alimentos e Medicamentos (NUPLAM) da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte é o foco principal desta pesquisa. Destarte, problemas não documentados, que tem

como objetivo a descrição de características de determinada amostra, são levantados neste

estudo. Sendo assim, no que se diz respeito à tipologia relacionada aos objetivos da pesquisa,

classifica-se este estudo como do tipo descritivo. Segundo Gil (1999), a pesquisa descritiva

tem como principal objetivo descrever características de determinada população ou fenômeno

ou o estabelecimento de relações entre as variáveis. Quanto à abordagem científica utilizada, a

pesquisa é qualitativa (CRESWELL, 2007).

De acordo com Martins (2000), estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma

unidade que se analisa profundamente. Pode ser caracterizado como um estudo de uma

entidade bem definida, como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma

pessoa ou uma unidade social. Por conseguinte, essa pesquisa também se classifica como

estudo de caso.

Os procedimentos utilizados para fazer a pesquisa se iniciam com um embasamento teórico

no tema de gerenciamento e gestão de resíduos sólidos, no que se refere principalmente à

indústria farmacêutica. A coleta de informações se deu principalmente por meio de visitas

técnicas ao local, onde ocorreram entrevistas de caráter semi-estruturado. Definiu-se este

modelo de entrevista, pois nele o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre suas

experiências a partir do escopo principal proposto pelo entrevistador; além disso, Triviños

(1987) fundamenta que os resultados qualitativos que se desenvolvem mediante a entrevista

semi-estruturada são melhores, pois parte dos questionamentos básicos. Visto isso, foram-se

entrevistados a gerente do setor assim como seus funcionários.

O estudo foi realizado em uma indústria farmacêutica pública da cidade de Natal-RN. Esta

empresa foi selecionada devido a grande importância da minimização de impactos negativos

oriundos da indústria farmacêutica, caracterizada pela grande produção de resíduos de

classificação perigosa. O estudo presente faz referência apenas ao setor de gerência de

qualidade da supracitada empresa.

4.Estudo de caso 4.1 Identificação do gerador A empresa analisada é do ramo de indústrias farmacêuticas, atuando no setor público há 41

anos. O presente estudo tem como foco o setor de Gerência de Qualidade, especificamente o

Departamento de Controle de Qualidade. A empresa apresenta quadro funcional entre 60 a 70

funcionários, sendo 15 funcionários trabalhando no setor analisado, e sua área total

corresponde a 27.000 m2.

A empresa apresenta autorizações e registros na ANVISA para produzir quatro tipos

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diferentes de medicamentos, sendo esses voltados para órgãos públicos de assistência

farmacêutica vinculada ao Sistema Único de Saúde. Dentre os produtos licenciados pela

empresa, apenas dois estão sendo produzidos (vide Figura 1).

Figura 1 – Composição dos medicamentos produzidos.

Fonte: Elaboração própria (2014)

4.2 Caracterização dos resíduos gerados Os resíduos gerados no NUPLAM não são caracterizados como Resíduos Industriais, apesar

de serem oriundos de uma indústria. São Resíduos de Serviço de Saúde tendo em vista que

sua utilidade é voltada para tal setor de acordo com a NBR 10.004/2004.

Para análise, os resíduos foram separados em dois grupos devido a natureza da atividade

realizada. A classificação se dá em resíduos químicos (de origem química ou com algum tipo

de contaminação) e comuns (não contaminados, por exemplo, materiais de escritório); a

Figura 2 caracteriza os resíduos químicos.

Figura 2 - Resíduos químicos gerados (Grupo B)

Fonte: Elaboração própria (2014)

Já a caracterização dos resíduos comuns estão dispostas na Figura 3:

Figura 3 - Resíduos comuns gerados (Grupo D)

Fonte: Elaboração própria (2014)

Quanto as classes dos resíduos, as atividades do controle da qualidade geram resíduos de

classes A, B, D e E. Na Figura 4, encontra-se a descrição, subcategoria e categoria para cada

uma destas classes.

Figura 4 - Classificação dos resíduos gerados.

Fonte: Elaboração própria (2014)

4.2.1 Procedimentos da empresa relativos aos resíduos

Os resíduos classe A são separados no momento e local de sua geração e submetidos a um

tratamento prévio, a descontaminação dos resíduos através do processo de autoclavação.

Primeiramente, é descartado o material orgânico sólido em uma lixeira reservada apenas para

este tipo de resíduo. Os recipientes e placas de vidro passam pelo processo de autoclavação,

de forma a descaracterizar os resíduos infectantes tornando-os resíduo comum. Após a

autoclavação, o resíduo líquido é drenado e depois descartado na pia e os sólidos são

descartados como lixo comum (Classe D) em uma lixeira específica para este tipo de resíduo.

A Classe B é formada pelos os resíduos químicos. A Figura 5 apresenta as classificações e o

procedimento para estes.

Figura 5 - Procedimento dos resíduos do Grupo B

Fonte: Elaboração própria (2014)

O destino final dos resíduos da Classe D são detalhados na Figura 6.

Figura 6 - Procedimento dos resíduos do Grupo D

Fonte: Elaboração própria (2014)

Já o procedimento dos resíduos classe E é apresentado na Figura 7.

Figura 7 - Procedimento dos resíduos do Grupo E

Fonte: Elaboração própria (2014)

5. Plano de gerenciamento de resíduo de serviço de saúde 5.1. Segregação

Os resíduos gerados devem ser segregados quanto ao Grupo (A, B, C, D e E), conforme a

Figura 8.

Figura 8 - Segregação dos resíduos por grupo

Fonte: Elaboração própria (2014)

Para que haja um maior controle e organização da etapa de segregação, faz-se necessário

identificar os resíduos por meio da utilização de etiquetas com nomes e figuras, de acordo

com a classificação por grupo, nos recipientes e embalagens onde serão acondicionados.

5.2. Acondicionamento O acondicionamento deve ser específico para cada tipo de resíduo. Os resíduos do Grupo A1

ficam acondicionados dentro dos recipientes adequados para as análises microbiológicas. O

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primeiro apresenta capacidade de 1000 ml, entretanto nunca é utilizado cheio. Os recipientes

são sempre manuseados com luvas e bem vedados visando evitar vazamentos ou contaminar o

material ali presente. Após a utilização, os recipientes são acondicionados em um carrinho

para a autoclavagem dos mesmos. Caso existam meios de cultura não utilizados, entretanto

vencidos, esses são destinados conjuntamente com os resíduos químicos sólidos.

Os resíduos químicos (Grupo B) são trabalhados no laboratório dentro de vidrarias como

Becker, erlenmeyer. Entretanto, após o uso desses para análises esses são acumulados em

vidros de âmbar de capacidade de 1000 ml e depois de atingido 2/3 dessa capacidade ficam

em bombonas fechadas de 200 L, que também são utilizadas com o máximo de 2/3 de sua

capacidade. Quando os 2/3 de capacidade são atingidos os vidros de âmbar que são

identificados através de etiqueta especificando o tipo de líquido que contém, são transportados

cuidadosamente até o pass-through para serem depositados nas bombonas. Além dos resíduos

líquidos provenientes de análises, existem os químicos sólidos. Esses são acondicionados em

recipientes plásticos com pedal e com identificação para esse tipo de resíduo. O recipiente

também apresenta saco plástico, esse é pesado, etiquetado e acondicionado no abrigo

temporário de resíduos do setor.

Os resíduos químicos sólidos estão muito relacionados com a proteção dos funcionários

quanto a manipulação dos produtos químicos, são em sua maioria EPI’s como luvas, máscaras

e jalecos descartáveis. Ou seja, após a utilização do EPI, esse é descartado no recipiente

adequado.

Os resíduos do Grupo D, também denominados RSU, são acondicionados em recipientes

plásticos revestidos com sacos plásticos. Os recipientes são dotados de pedal de modo a não

sujar as mãos. Os sacos plásticos depois de retirados dos recipientes são enviados para o

tratamento final dos resíduos. O recipiente para armazenamento de papéis apresenta

capacidade aproximada de 36L enquanto que os demais são menores apresentando em torno

de 20 a 25 L.

O resíduo perfurocortante (Grupo E) é gerado devido a quebras ou devido a trincas em

vidrarias. Desse modo, existem recipientes plásticos com pedal e identificados com o nome

desse tipo de resíduo, forrados com sacos também plásticos. Os sacos são retirados dos

recipientes, pesados, etiquetados e acondicionados em bombonas no abrigo temporário de

resíduos para serem encaminhados para o tratamento final.

Por se tratar de um laboratório, os funcionários sempre se encontram usando luvas e jalecos,

em caso de manuseio de produtos químicos e microbiológicos utilizam-se também máscaras. Esses EPI’s, após a utilização, podem ser classificados de duas formas, resíduo sólido comum,

caso não apresente contato com produtos químicos, ou resíduo químico sólido em caso de

contato.

5.3. Coleta/transporte interno dos resíduos O procedimento de coleta interno é manual. Para a realização de tal processo, os funcionários

utilizam luvas, botas e máscaras. Os resíduos RSU são levados para fora da instituição,

enquanto os demais são armazenados temporariamente no abrigo temporário de resíduos. Na

Figura 9, os dois fluxos estão destacados na planta baixa do setor, o fluxo azul indica o fluxo

de pessoas para adentrar o laboratório e o fluxo laranja indica o fluxo amostras que são

analisadas no laboratório, que entram pela sala de recebimento de amostras e serão

encaminhadas de acordo com o tipo de teste a ser realizado.

Figura 9 - Planta baixa com fluxo de pessoas e amostras

Fonte: Elaboração própria (2014)

Na Figura 10, o fluxo destacado em vermelho indica o caminho que os reagentes devem

seguir quando chegam ao laboratório. Os verdes indicam os dois caminhos genéricos que o

resíduo deve percorrer, quando os RSU são retirados devem ser recolhidos em todo o

laboratório, ou seja, das salas passam pela circulação 3, depois pela 4 e enviados para a parte

externa do prédio para a sua coleta por parte da universidade. O outro caminho está indicado

pelas setas nas salas de lavagem, os resíduos químicos ou os perfuro cortante são recolhidos

no laboratório e levados para o armazenamento temporário de resíduos do local, denotado na

planta como Resíduos, através de pass-through em ambas as salas. Essas também são

destacadas tendo em vista que nelas observa-se a maior geração de resíduo perfuro cortante

devido ao processo nela realizado. Observa-se também que os resíduos químicos circulam do

lado esquerdo da planta baixa, tendo em vista esse ser o lado destinado ao laboratório de

análises químicas, enquanto o lado direito representa o laboratório de análises

microbiológicas, apresentando em sua maioria de circulação e geração resíduos

microbiológicos e RSU.

Figura 10 - Planta baixa com fluxos de resíduos e reagentes

Fonte: Elaboração própria (2014)

5.4. Acondicionamento/estocagem temporária

Após a coleta dos resíduos, esses são armazenados temporariamente no Abrigo Temporário de

Resíduos do setor. Esse pode ser visualizado na planta baixa apresentada na Figura 11.

Figura 11 - Planta baixa com área de armazenamento destacada

Fonte: Elaboração própria (2014) Em relação ao acondicionamento dos resíduos temos que os resíduos líquidos são bem

armazenados, entretanto pelo fato de não apresentar nenhum isolamento na área em estão

alocados, existe o risco de contaminar os demais em caso de vazamento, tendo em vista que

alguns ficam armazenados em sacos, estando esses na superfície de palets. As bombonas

apresentam bom estado de conservação e boa vedação e estão rotuladas. Por último devemos

mencionar que o local é observado pelos funcionários para garantir seu bom funcionamento.

5.5. Pré-tratamento/tratamento interno

Devido ao alto nível de periculosidade, os RSS necessitam de um tratamento prévio para que

a etapa de disposição final seja realizada. Para os resíduos do Grupo A, considera-se os

seguintes processos de tratamento: Autoclave, Tratamento químico, Irradiação, Microondas e

Incineração. A incineração também é recomendada para os resíduos do Grupo B. Os resíduos

do Grupo D, não necessitam passar por nenhum tipo de tratamento específico. Quanto aos

resíduos do Grupo E, estes devem receber um tratamento específico de acordo com a

contaminação biológica, química ou radiológica. (CONAMA, 2005)

A Figura 12 abaixo compara os tratamentos de alguns processos. Em itens com “(*)”

não se

considera a capacitação necessária para manejar equipamentos de produção de vapor e com “(**)”

significa com incineradores de tecnologia avançada.

Figura 12 - Comparação de alguns processos de tratamento de RSS

Fonte: Adaptado de Guía de Capacitación - Gestión y Manejo de Desechos Sólidos Hospitalarios (1996) apud

BRASIL (2001)

Já a Figura 13 apresenta quais são os resíduos que podem receber tratamento interno e qual é

seu procedimento.

Figura 13 - Detalhamento dos tratamentos realizados internamente

Fonte: Elaboração própria (2014)

5.6. Coleta/transporte externo Os resíduos sólidos do Grupo A, Grupo B e Grupo E são recolhidos pela empresa SERQUIP

em um veículo próprio para esta atividade. A SERQUIP é uma empresa especializada na

coleta, transporte, tratamento e destinação final desses resíduos. A coleta acontece

mensalmente e a quantidade máxima é de 50kg. Os resíduos do Grupo D são coletados pela

UFRN e são levados para a Unidade de Armazenamento Temporário de Resíduos (UATR) da

UFRN, sendo os resíduos recicláveis são posteriormente destinados às cooperativas de

catadores de materiais recicláveis de Natal. O serviço de coleta desses resíduos acontece

periodicamente. Os resíduos líquidos do Grupo B também são coletados pela UFRN. A Figura

14 apresenta um resumo dos principais dados da coleta e transporte externo.

Quanto aos veículos coletores, para os resíduos do Grupo A, Grupo B e Grupo E, os veículos

devem atender os padrões descritos da NBR 12.810 – Coleta de resíduos de serviços de saúde.

Para os resíduos do Grupo D, pode-se utilizar de veículos de coleta domiciliar. Em caso de

acidente, caso o acidente seja de pequeno porte, a equipe que estiver realizando a coleta e

transporte deve realizar a limpeza e desinfecção imediata. Caso seja um acidente de grande

porte, o responsável pela execução da coleta externa informar imediatamente os órgãos

municipais e estaduais de controle ambiental e de saúde pública.

Figura 14 - Período de coleta e quantidades

Fonte: Elaboração própria (2014)

5.7. Destinação final

A Figura 15 apresenta o detalhamento da destinação final apresentando o tratamento

adequado e o equipamento utilizado, bem como as condições para disposição final.

Figura 15 - Detalhamento da destinação final

Fonte: Elaboração própria (2014)

5.8. Plano de ação Foram identificadas algumas medidas que precisam ser tomadas para que haja uma melhor

adequação às legislações vigente e o PGRSS atinja os objetivos propostos. Um plano de ação

(Figura 16) foi estruturado afim de facilitar a execução dessas atividades.

Figura 16 - Plano de Ação proposto

Fonte: Elaboração própria (2014)

5.9 Programa de redução na fonte geradora Este trabalho propõe a segregação dos materiais com potencial para reciclagem e a separação

dos resíduos químicos, em classes, possibilitando que seja dado outro destino aos resíduos,

que não a disposição em aterro.

Algumas metas do programa seguem abaixo, específicas para o setor de produção da empresa:

Redução de 20% da quantidade de plástico, através do controle da quantidade

de EPI’s utilizados e das paradas no processo;

Redução de 15 % dos resíduos farmacêuticos através do controle estatístico do

processo e da manutenção preventiva das máquinas.

5.10 Programa de educação ambiental Todos os colaboradores do serviço, temporários ou não, que estejam diretamente ou

indiretamente envolvidos com o gerenciamento de resíduos, devem ter conhecimento do

sistema adotado na organização para gerenciamento dos resíduos. A capacitação e a educação

continuada deve ser oferecida constantemente para o pessoal que se relaciona do diretamente

com o manejo destes resíduos.

Para a indústria farmacêutica, Azevedo (2008) ainda propõe temas que um programa de

educação continuada pode contemplar (Figura 17):

Figura 17 – Sugestões de temas para programa educacional ambiental

Fonte: Adaptação de Azevedo (2008)

Tais temas podem ser apresentados na forma de palestras, cartazes, etc.

6. Considerações finais

O presente estudo objetivou analisar a situação de uma indústria farmacêutica em relação a

sua gestão de resíduos. Desta forma, fez-se necessário a identificação e classificação dos seus

resíduos gerados pelas atividades do setor de qualidade da referida empresa. De acordo com

esta categorização, foi possível elaborar programas de redução, educação ambiental,

concluindo as etapas de um Plano de Gerenciamento de Resíduos.

Pode-se observar que as indústrias químico-farmacêuticas, em função de uma maior cobrança

legislativa, obedecem a normas rigorosas no que diz respeito aos seus resíduos, considerando

os passivos ambientais gerados nos processos industriais. Nesse sentido, a implantação de um

Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos vai permitir a empresa obter uma maior eficácia

no processo, além de maior lucratividade para a empresa.

Sendo assim, a implantação do PGRSS vai permitir à indústria fazer uso controlado dos

recursos naturais e do gerenciamento de tratamento dos resíduos, trazendo benefícios não só

para a empresa, mas para a sociedade de forma geral e, sobretudo, às gerações futuras.

REFERENCIAS

ARJONA, B.; RUIZ, J. Diseño e implementacion de um programa de minimizacion de resíduos de la indústria farmacêutica. Centro de Calidade Ambiental, ITESM, Copyright, BTA-CTL-04-130398, 1997.

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