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ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS PARA UMA
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA EM NATAL - RN
Lara Gabriele Ferreira de Medeiros (UFRN)
Livia Mariana Lopes de Souza Torres (UFRN)
Barbara Vaz Ferreira (UFRN)
Fadja D`julia Cavalcanti Souza (UFRN)
A evolução da indústria farmacêutica se deu consoante ao crescimento da
preocupação com o meio ambiente e com a qualidade dos medicamentos.
Pensando na preservação dos recursos disponíveis, o presente estudo objetiva
elaborar um diagnóstico, análise crítica e proposições para gestão dos
resíduos de uma indústria farmacêutica pública de Natal-RN, por meio da
criação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde
(PGRSS) . Tendo como base a redução, o aproveitamento e a destinação dos
resíduos gerados, esta pesquisa utilizou para a realização de um estudo de
caso, métodos de abordagens qualitativa e descritiva. Como resultados,
através da utilização das etapas do desenvolvimento de um Plano de
Gerenciamento de Resíduos, esta pesquisa identificou o gerador, classificou
os resíduos gerados, relatou os tratamentos já realizados para estes e sendo
assim, apresenta sua contribuição quando propõe programas de redução,
reciclagem, reuso e educação ambiental para o melhor desempenho da
organização. Conclui-se sabendo que a implantação do PGRSS permitirá à
indústria o uso controlado dos recursos naturais e o gerenciamento do
tratamento dos resíduos, trazendo benefícios não só para esta, mas para a
sociedade e gerações futuras.
Palavras-chave: Plano de Gerenciamento de Resíduos, indústria farmacêutica,
gestão de resíduos
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução Devido à evolução das sociedades e da tecnologia, a produção de resíduos e a toxicidade
destes crescem progressivamente. Somado a isto, a falta de conscientização e suporte do
governo implica na destinação inadequada destes resíduos, tornando-os riscos potenciais ao
meio ambiente e à saúde pública. Em especial, os Resíduos de Serviço de Saúde geram grande
riscos caso não gerenciados adequadamente porque podem apresentar algum tipo de
contaminação por agentes patogênicos.
Todavia, o gerenciamento e controle dos Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) continua
ineficiente no Brasil. Segundo Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais – ABRELPE (2012), a coleta de RSS executada pela maioria dos
municípios é parcial, acarretando desconhecimento sobre a quantidade total gerada e o destino
real dos RSS. Embora existam resoluções e legislação orientando o tratamento dos RSS, as
organizações não estão destinando corretamente seus resíduos devido à falta de
conscientização e/ou suporte do governo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE (2010), em torno de 51% dos resíduos sólidos ainda são dispostos em
vazadouros em céu aberto (lixões) apesar do crescimento da utilização do aterro controlado e
aterro sanitário no Brasil.
Logo, faz-se necessário um gerenciamento adequado dos RSS afim de minimizar o impacto
desses resíduos no meio ambiente e os riscos à saúde. Neste sentido, este trabalho objetiva
analisar como é feito atualmente o gerenciamento dos RSS no Departamento de Qualidade do
Núcleo de Pesquisa em Alimentos e Medicamentos (NUPLAM) da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte através da caracterização dos resíduos gerados e seu manejo, propondo
assim um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde – PGRSS.
O trabalho se justifica devido à necessidade de um tratamento e uma disposição final
ambientalmente adequada para os resíduos gerados no Departamento de Qualidade do
NUPLAM. Assim, o PGRSS consistirá na proposição de práticas e políticas ambientalmente
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corretas aos seguintes aspectos dos resíduos gerados: Segregação, Acondicionamento, Coleta,
Estocagem temporária, Transporte, Tratamento e Disposição Final.
2.1 Indústria farmacêutica e a gestão de resíduos A indústria farmacêutica, em seus processos, apresenta manejo de diversos componentes
químicos reagindo entre si e, desse modo, os resíduos, tanto dos processos quanto o resíduo
do produto final, necessitam de especial cuidado quanto a sua disposição final, fato que nem
sempre é respeitado pelas empresas. Rezende et al diz que esses cuidados ambientais são
caminho obrigatório a ser seguido pelas indústrias farmacêuticas, seja pelos fundamentos da
competitividade ou por motivos éticos.
A adoção de posturas como implantação de ISO 14.001, ou de obtenção de outros certificados
ambientais permite mostrar um comprometimento com a mitigação dos impactos causados
pela empresa no meio ambiente. No panorama nacional percebe-se que certificações como a
ISO 14.001 não são mandatórias pela legislação, entretanto com a aprovação da Política
Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/2010, que institui a responsabilidade compartilhada
dos resíduos, assim como a responsabilidade dos mesmos pelo seu gerador, as empresas estão
sendo forçadas a realizar mudanças devido a legislação em vigor.
Arjona& Ruiz (1997) observaram esta atividade e listaram os pontos críticos que levam a
formação de resíduos: a devolução e recolhimento de medicamentos do mercado, o descarte
de medicamentos rejeitados pelo controle de qualidade, às perdas inerentes aos processos e,
sobretudo, às embalagens que transportam os insumos e matérias-primas. Estes podem ser
caracterizados como resíduos industriais ou como resíduos de serviços de saúde, em ambos os
casos o resíduo pode ser incinerado e em caso de resíduo de industrial Aterro Sanitário Classe
I.
De posse de tais informações, pode-se inferir que a indústria farmacêutica se constitui em um
campo de estudo vasto necessitando de diversas medidas para a gestão dos resíduos tendo em
vista que grande parte de seus processos geram resíduos, sendo esses diversos e alguns
apresentando caráter tóxico e de alta periculosidade. Logo, analisar quais ações aplicar
visando melhorar a gestão dos resíduos por esse setor constitui em uma importante ação, não
somente para adequar as empresas a legislação, mas também como modo de evitar que essa se
torne grande poluidora do meio ambiente.
2.2 Plano de gerenciamento de resíduos de serviço de saúde
O Plano de Gerenciamento Resíduo de Serviço de Saúde (PGRSS) tem como objetivo
cumprir as normas, leis e regulamentações vigentes de forma que ocorra a prevenção e
redução dos riscos à saúde e ao meio ambiente, bem como a redução do volume de resíduos
perigosos e a incidência de acidentes ocupacionais. Importante frisar que práticas que
favoreçam a substituição de materiais perigosos por outros de menor periculosidade serão
aplicadas sempre que possível. O PGRSS também tem a finalidade de avaliar as rotinas atuais
para que se possam programar medidas de correção das rotinas constatadas como inadequadas
ou inexistentes.
O PGRSS foi dividido de acordo com as etapas de gerenciamento de resíduos, segundo a
Resolução CONAMA nº 307/2002 se inicia com a etapa de caracterização, onde gerador
identifica e quantifica os resíduos. A próxima etapa, a segregação, deverá ser realizada,
preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser realizada nas áreas de destinação
licenciadas para essa finalidade. Já na etapa do acondicionamento, o gerador deve garantir o
confinamento dos resíduos após a geração até a etapa de transporte, assegurando em todos os
casos em que seja possível, as condições de reutilização e de reciclagem. O transporte e a
destinação deverá ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as
normas técnicas vigentes. Além das etapas citadas, ainda serão consideradas as seguintes
etapas: Programa de redução da fonte geradora; Programa de educação ambiental; e Plano de
Ação e Indicadores.
3. Aspectos metodológicos Averiguar a situação do gerenciamento dos RSS no Departamento de Qualidade do Núcleo de
Pesquisa em Alimentos e Medicamentos (NUPLAM) da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte é o foco principal desta pesquisa. Destarte, problemas não documentados, que tem
como objetivo a descrição de características de determinada amostra, são levantados neste
estudo. Sendo assim, no que se diz respeito à tipologia relacionada aos objetivos da pesquisa,
classifica-se este estudo como do tipo descritivo. Segundo Gil (1999), a pesquisa descritiva
tem como principal objetivo descrever características de determinada população ou fenômeno
ou o estabelecimento de relações entre as variáveis. Quanto à abordagem científica utilizada, a
pesquisa é qualitativa (CRESWELL, 2007).
De acordo com Martins (2000), estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma
unidade que se analisa profundamente. Pode ser caracterizado como um estudo de uma
entidade bem definida, como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma
pessoa ou uma unidade social. Por conseguinte, essa pesquisa também se classifica como
estudo de caso.
Os procedimentos utilizados para fazer a pesquisa se iniciam com um embasamento teórico
no tema de gerenciamento e gestão de resíduos sólidos, no que se refere principalmente à
indústria farmacêutica. A coleta de informações se deu principalmente por meio de visitas
técnicas ao local, onde ocorreram entrevistas de caráter semi-estruturado. Definiu-se este
modelo de entrevista, pois nele o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre suas
experiências a partir do escopo principal proposto pelo entrevistador; além disso, Triviños
(1987) fundamenta que os resultados qualitativos que se desenvolvem mediante a entrevista
semi-estruturada são melhores, pois parte dos questionamentos básicos. Visto isso, foram-se
entrevistados a gerente do setor assim como seus funcionários.
O estudo foi realizado em uma indústria farmacêutica pública da cidade de Natal-RN. Esta
empresa foi selecionada devido a grande importância da minimização de impactos negativos
oriundos da indústria farmacêutica, caracterizada pela grande produção de resíduos de
classificação perigosa. O estudo presente faz referência apenas ao setor de gerência de
qualidade da supracitada empresa.
4.Estudo de caso 4.1 Identificação do gerador A empresa analisada é do ramo de indústrias farmacêuticas, atuando no setor público há 41
anos. O presente estudo tem como foco o setor de Gerência de Qualidade, especificamente o
Departamento de Controle de Qualidade. A empresa apresenta quadro funcional entre 60 a 70
funcionários, sendo 15 funcionários trabalhando no setor analisado, e sua área total
corresponde a 27.000 m2.
A empresa apresenta autorizações e registros na ANVISA para produzir quatro tipos
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diferentes de medicamentos, sendo esses voltados para órgãos públicos de assistência
farmacêutica vinculada ao Sistema Único de Saúde. Dentre os produtos licenciados pela
empresa, apenas dois estão sendo produzidos (vide Figura 1).
Figura 1 – Composição dos medicamentos produzidos.
Fonte: Elaboração própria (2014)
4.2 Caracterização dos resíduos gerados Os resíduos gerados no NUPLAM não são caracterizados como Resíduos Industriais, apesar
de serem oriundos de uma indústria. São Resíduos de Serviço de Saúde tendo em vista que
sua utilidade é voltada para tal setor de acordo com a NBR 10.004/2004.
Para análise, os resíduos foram separados em dois grupos devido a natureza da atividade
realizada. A classificação se dá em resíduos químicos (de origem química ou com algum tipo
de contaminação) e comuns (não contaminados, por exemplo, materiais de escritório); a
Figura 2 caracteriza os resíduos químicos.
Figura 2 - Resíduos químicos gerados (Grupo B)
Fonte: Elaboração própria (2014)
Figura 3 - Resíduos comuns gerados (Grupo D)
Fonte: Elaboração própria (2014)
Quanto as classes dos resíduos, as atividades do controle da qualidade geram resíduos de
classes A, B, D e E. Na Figura 4, encontra-se a descrição, subcategoria e categoria para cada
uma destas classes.
Figura 4 - Classificação dos resíduos gerados.
Fonte: Elaboração própria (2014)
Os resíduos classe A são separados no momento e local de sua geração e submetidos a um
tratamento prévio, a descontaminação dos resíduos através do processo de autoclavação.
Primeiramente, é descartado o material orgânico sólido em uma lixeira reservada apenas para
este tipo de resíduo. Os recipientes e placas de vidro passam pelo processo de autoclavação,
de forma a descaracterizar os resíduos infectantes tornando-os resíduo comum. Após a
autoclavação, o resíduo líquido é drenado e depois descartado na pia e os sólidos são
descartados como lixo comum (Classe D) em uma lixeira específica para este tipo de resíduo.
A Classe B é formada pelos os resíduos químicos. A Figura 5 apresenta as classificações e o
procedimento para estes.
Figura 5 - Procedimento dos resíduos do Grupo B
Fonte: Elaboração própria (2014)
O destino final dos resíduos da Classe D são detalhados na Figura 6.
Figura 6 - Procedimento dos resíduos do Grupo D
Fonte: Elaboração própria (2014)
Figura 7 - Procedimento dos resíduos do Grupo E
Fonte: Elaboração própria (2014)
5. Plano de gerenciamento de resíduo de serviço de saúde 5.1. Segregação
Os resíduos gerados devem ser segregados quanto ao Grupo (A, B, C, D e E), conforme a
Figura 8.
Figura 8 - Segregação dos resíduos por grupo
Fonte: Elaboração própria (2014)
Para que haja um maior controle e organização da etapa de segregação, faz-se necessário
identificar os resíduos por meio da utilização de etiquetas com nomes e figuras, de acordo
com a classificação por grupo, nos recipientes e embalagens onde serão acondicionados.
5.2. Acondicionamento O acondicionamento deve ser específico para cada tipo de resíduo. Os resíduos do Grupo A1
ficam acondicionados dentro dos recipientes adequados para as análises microbiológicas. O
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primeiro apresenta capacidade de 1000 ml, entretanto nunca é utilizado cheio. Os recipientes
são sempre manuseados com luvas e bem vedados visando evitar vazamentos ou contaminar o
material ali presente. Após a utilização, os recipientes são acondicionados em um carrinho
para a autoclavagem dos mesmos. Caso existam meios de cultura não utilizados, entretanto
vencidos, esses são destinados conjuntamente com os resíduos químicos sólidos.
Os resíduos químicos (Grupo B) são trabalhados no laboratório dentro de vidrarias como
Becker, erlenmeyer. Entretanto, após o uso desses para análises esses são acumulados em
vidros de âmbar de capacidade de 1000 ml e depois de atingido 2/3 dessa capacidade ficam
em bombonas fechadas de 200 L, que também são utilizadas com o máximo de 2/3 de sua
capacidade. Quando os 2/3 de capacidade são atingidos os vidros de âmbar que são
identificados através de etiqueta especificando o tipo de líquido que contém, são transportados
cuidadosamente até o pass-through para serem depositados nas bombonas. Além dos resíduos
líquidos provenientes de análises, existem os químicos sólidos. Esses são acondicionados em
recipientes plásticos com pedal e com identificação para esse tipo de resíduo. O recipiente
também apresenta saco plástico, esse é pesado, etiquetado e acondicionado no abrigo
temporário de resíduos do setor.
Os resíduos químicos sólidos estão muito relacionados com a proteção dos funcionários
quanto a manipulação dos produtos químicos, são em sua maioria EPI’s como luvas, máscaras
e jalecos descartáveis. Ou seja, após a utilização do EPI, esse é descartado no recipiente
adequado.
Os resíduos do Grupo D, também denominados RSU, são acondicionados em recipientes
plásticos revestidos com sacos plásticos. Os recipientes são dotados de pedal de modo a não
sujar as mãos. Os sacos plásticos depois de retirados dos recipientes são enviados para o
tratamento final dos resíduos. O recipiente para armazenamento de papéis apresenta
capacidade aproximada de 36L enquanto que os demais são menores apresentando em torno
de 20 a 25 L.
O resíduo perfurocortante (Grupo E) é gerado devido a quebras ou devido a trincas em
vidrarias. Desse modo, existem recipientes plásticos com pedal e identificados com o nome
desse tipo de resíduo, forrados com sacos também plásticos. Os sacos são retirados dos
recipientes, pesados, etiquetados e acondicionados em bombonas no abrigo temporário de
resíduos para serem encaminhados para o tratamento final.
Por se tratar de um laboratório, os funcionários sempre se encontram usando luvas e jalecos,
em caso de manuseio de produtos químicos e microbiológicos utilizam-se também máscaras. Esses EPI’s, após a utilização, podem ser classificados de duas formas, resíduo sólido comum,
caso não apresente contato com produtos químicos, ou resíduo químico sólido em caso de
contato.
5.3. Coleta/transporte interno dos resíduos O procedimento de coleta interno é manual. Para a realização de tal processo, os funcionários
utilizam luvas, botas e máscaras. Os resíduos RSU são levados para fora da instituição,
enquanto os demais são armazenados temporariamente no abrigo temporário de resíduos. Na
Figura 9, os dois fluxos estão destacados na planta baixa do setor, o fluxo azul indica o fluxo
de pessoas para adentrar o laboratório e o fluxo laranja indica o fluxo amostras que são
analisadas no laboratório, que entram pela sala de recebimento de amostras e serão
encaminhadas de acordo com o tipo de teste a ser realizado.
Figura 9 - Planta baixa com fluxo de pessoas e amostras
Na Figura 10, o fluxo destacado em vermelho indica o caminho que os reagentes devem
seguir quando chegam ao laboratório. Os verdes indicam os dois caminhos genéricos que o
resíduo deve percorrer, quando os RSU são retirados devem ser recolhidos em todo o
laboratório, ou seja, das salas passam pela circulação 3, depois pela 4 e enviados para a parte
externa do prédio para a sua coleta por parte da universidade. O outro caminho está indicado
pelas setas nas salas de lavagem, os resíduos químicos ou os perfuro cortante são recolhidos
no laboratório e levados para o armazenamento temporário de resíduos do local, denotado na
planta como Resíduos, através de pass-through em ambas as salas. Essas também são
destacadas tendo em vista que nelas observa-se a maior geração de resíduo perfuro cortante
devido ao processo nela realizado. Observa-se também que os resíduos químicos circulam do
lado esquerdo da planta baixa, tendo em vista esse ser o lado destinado ao laboratório de
análises químicas, enquanto o lado direito representa o laboratório de análises
microbiológicas, apresentando em sua maioria de circulação e geração resíduos
microbiológicos e RSU.
Figura 10 - Planta baixa com fluxos de resíduos e reagentes
5.4. Acondicionamento/estocagem temporária
Após a coleta dos resíduos, esses são armazenados temporariamente no Abrigo Temporário de
Resíduos do setor. Esse pode ser visualizado na planta baixa apresentada na Figura 11.
Figura 11 - Planta baixa com área de armazenamento destacada
Fonte: Elaboração própria (2014) Em relação ao acondicionamento dos resíduos temos que os resíduos líquidos são bem
armazenados, entretanto pelo fato de não apresentar nenhum isolamento na área em estão
alocados, existe o risco de contaminar os demais em caso de vazamento, tendo em vista que
alguns ficam armazenados em sacos, estando esses na superfície de palets. As bombonas
apresentam bom estado de conservação e boa vedação e estão rotuladas. Por último devemos
mencionar que o local é observado pelos funcionários para garantir seu bom funcionamento.
5.5. Pré-tratamento/tratamento interno
Devido ao alto nível de periculosidade, os RSS necessitam de um tratamento prévio para que
a etapa de disposição final seja realizada. Para os resíduos do Grupo A, considera-se os
seguintes processos de tratamento: Autoclave, Tratamento químico, Irradiação, Microondas e
Incineração. A incineração também é recomendada para os resíduos do Grupo B. Os resíduos
do Grupo D, não necessitam passar por nenhum tipo de tratamento específico. Quanto aos
resíduos do Grupo E, estes devem receber um tratamento específico de acordo com a
contaminação biológica, química ou radiológica. (CONAMA, 2005)
A Figura 12 abaixo compara os tratamentos de alguns processos. Em itens com “(*)”
não se
considera a capacitação necessária para manejar equipamentos de produção de vapor e com “(**)”
significa com incineradores de tecnologia avançada.
Figura 12 - Comparação de alguns processos de tratamento de RSS
Fonte: Adaptado de Guía de Capacitación - Gestión y Manejo de Desechos Sólidos Hospitalarios (1996) apud
BRASIL (2001)
Já a Figura 13 apresenta quais são os resíduos que podem receber tratamento interno e qual é
seu procedimento.
Figura 13 - Detalhamento dos tratamentos realizados internamente
Fonte: Elaboração própria (2014)
5.6. Coleta/transporte externo Os resíduos sólidos do Grupo A, Grupo B e Grupo E são recolhidos pela empresa SERQUIP
em um veículo próprio para esta atividade. A SERQUIP é uma empresa especializada na
coleta, transporte, tratamento e destinação final desses resíduos. A coleta acontece
mensalmente e a quantidade máxima é de 50kg. Os resíduos do Grupo D são coletados pela
UFRN e são levados para a Unidade de Armazenamento Temporário de Resíduos (UATR) da
UFRN, sendo os resíduos recicláveis são posteriormente destinados às cooperativas de
catadores de materiais recicláveis de Natal. O serviço de coleta desses resíduos acontece
periodicamente. Os resíduos líquidos do Grupo B também são coletados pela UFRN. A Figura
14 apresenta um resumo dos principais dados da coleta e transporte externo.
Quanto aos veículos coletores, para os resíduos do Grupo A, Grupo B e Grupo E, os veículos
devem atender os padrões descritos da NBR 12.810 – Coleta de resíduos de serviços de saúde.
Para os resíduos do Grupo D, pode-se utilizar de veículos de coleta domiciliar. Em caso de
acidente, caso o acidente seja de pequeno porte, a equipe que estiver realizando a coleta e
transporte deve realizar a limpeza e desinfecção imediata. Caso seja um acidente de grande
porte, o responsável pela execução da coleta externa informar imediatamente os órgãos
municipais e estaduais de controle ambiental e de saúde pública.
Figura 14 - Período de coleta e quantidades
Fonte: Elaboração própria (2014)
5.7. Destinação final
A Figura 15 apresenta o detalhamento da destinação final apresentando o tratamento
adequado e o equipamento utilizado, bem como as condições para disposição final.
Figura 15 - Detalhamento da destinação final
Fonte: Elaboração própria (2014)
5.8. Plano de ação Foram identificadas algumas medidas que precisam ser tomadas para que haja uma melhor
adequação às legislações vigente e o PGRSS atinja os objetivos propostos. Um plano de ação
(Figura 16) foi estruturado afim de facilitar a execução dessas atividades.
Figura 16 - Plano de Ação proposto
Fonte: Elaboração própria (2014)
5.9 Programa de redução na fonte geradora Este trabalho propõe a segregação dos materiais com potencial para reciclagem e a separação
dos resíduos químicos, em classes, possibilitando que seja dado outro destino aos resíduos,
que não a disposição em aterro.
Algumas metas do programa seguem abaixo, específicas para o setor de produção da empresa:
Redução de 20% da quantidade de plástico, através do controle da quantidade
de EPI’s utilizados e das paradas no processo;
Redução de 15 % dos resíduos farmacêuticos através do controle estatístico do
processo e da manutenção preventiva das máquinas.
5.10 Programa de educação ambiental Todos os colaboradores do serviço, temporários ou não, que estejam diretamente ou
indiretamente envolvidos com o gerenciamento de resíduos, devem ter conhecimento do
sistema adotado na organização para gerenciamento dos resíduos. A capacitação e a educação
continuada deve ser oferecida constantemente para o pessoal que se relaciona do diretamente
com o manejo destes resíduos.
Para a indústria farmacêutica, Azevedo (2008) ainda propõe temas que um programa de
educação continuada pode contemplar (Figura 17):
Figura 17 – Sugestões de temas para programa educacional ambiental
Tais temas podem ser apresentados na forma de palestras, cartazes, etc.
6. Considerações finais
O presente estudo objetivou analisar a situação de uma indústria farmacêutica em relação a
sua gestão de resíduos. Desta forma, fez-se necessário a identificação e classificação dos seus
resíduos gerados pelas atividades do setor de qualidade da referida empresa. De acordo com
esta categorização, foi possível elaborar programas de redução, educação ambiental,
concluindo as etapas de um Plano de Gerenciamento de Resíduos.
Pode-se observar que as indústrias químico-farmacêuticas, em função de uma maior cobrança
legislativa, obedecem a normas rigorosas no que diz respeito aos seus resíduos, considerando
os passivos ambientais gerados nos processos industriais. Nesse sentido, a implantação de um
Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos vai permitir a empresa obter uma maior eficácia
no processo, além de maior lucratividade para a empresa.
Sendo assim, a implantação do PGRSS vai permitir à indústria fazer uso controlado dos
recursos naturais e do gerenciamento de tratamento dos resíduos, trazendo benefícios não só
para a empresa, mas para a sociedade de forma geral e, sobretudo, às gerações futuras.
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