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UNEB- UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃOCAMPUS VII SENHOR DO BONFIM PEDAGOGIA 2007.1 O ENCANTO DA MUSICA NAS CANTIGAS DE RODA - APRENDIZAGENS ATRAVÉS DAS CANTIGAS DE RODA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ELISA GOMES DA PAIXÃO Senhor do Bonfim- BA Março - 2011

Elisa monografia pedagogia 2011

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Pedagogia 2011

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UNEB- UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃOCAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

PEDAGOGIA 2007.1

O ENCANTO DA MUSICA NAS CANTIGAS DE RODA - APRENDIZAGENS ATRAVÉS DAS CANTIGAS DE RODA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

ELISA GOMES DA PAIXÃO

Senhor do Bonfim- BA Março - 2011

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ELISA GOMES DA PAIXÃO

O ENCANTO DA MUSICA NAS CANTIGAS DE RODA - APRENDIZAGENS ATRAVÉS DAS CANTIGAS DE RODA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho monográfico apresentado como pré-requisito de Licenciatura Plena em Pedagogia Docência e Gestão de Processos Educativos pelo Departamento de Educação campus VII- Senhor do Bonfim.

Orientadora: Profª MS.c Maria Elizabeth Souza Gonçalves

Senhor do Bonfim- BA Março - 2011

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ELISA GOMES DA PAIXÃO

O ENCANTO DA MUSICA NAS CANTIGAS DE RODA - APRENDIZAGENS ATRAVÉS DAS CANTIGAS DE RODA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Orientadora

_______________________________________________ Profª MS.c Maria Elizabeth Souza Gonçalves

Banca Examinadora

______________________________________ Profº Esp. Pascoal Eron Santos de Souza

______________________________________ Profª Ms.c Simone Ferreira de S. Wanderley

Senhor do Bonfim- BA Março - 2011

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Dedico esta pesquisa monográfica a Deus e aos meus pais Edvaldo (in memoriam) e Maria Margarida Paixão, que com imenso amor e muito zelo me educaram para alcançar vitórias no cotidiano.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, que me conduziu a mais uma grande vitória dentre tantas em

minha vida, sempre me relembrando da nossa aliança e do significado o qual em

meu nome carrego de consagrada a Deus. .

A UNEB minha amada Instituição no qual agradeço por ter oferecido o curso de

Pedagogia em Senhor do Bonfim. E a todos os funcionários que me ajudaram no

decorrer desses quatro anos na Universidade.

Á todos os professores que passaram em minha vida acadêmica o qual muito

contribuíram para minhas significativas aprendizagens. Em especial aos

professores, Pascoal Eron, Lilian Teixeira, Maísa Antunes, Elizabeth Gonçalves e

Simone Wanderly pela paciência, orientações e incentivo a estar sempre avançando

em busca das minhas aspirações tornando possível a conclusão desta monografia.

A professora e orientadora Maria Elizabeth Gonçalves por sua dedicação, apoio e

inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos que me

levaram a execução e conclusão desta monografia, agradeço de todo coração.

A minha mãe Maria Margarida, meu baluarte, que esteve comigo a todo momento

cuidando para que me torna-se a pessoa que hoje sou. A meu pai Edvaldo Paixão

(in memoriam) pelo seu imenso amor, pela sua presença que sempre foi tão

constante em minha vida, como é difícil sem você.

A minha querida irmã Isabela, que sempre está comigo, cuidando de mim, me

ajudando e muitas vezes adivinhando minhas vontades. A toda minha família em

especial minha vó Maria, as minhas tias e tios tão queridos e aos meus primos os

quais amo muito, que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu

chegasse até esta etapa de minha vida.

Em especial a minha equipe Lenira, cujo os componentes são: Luci Cláudia (Luci),

Maria Aparecida (Cida), Lenira (Lê), Daniela (Dani), Josiane (Josi), amigas que

fizeram a faculdade fazer sentido para mim, por me proporcionarem grandes

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momentos e aprendizagens, desejo que em nossas vidas sempre possa permanecer

essa alegria que temos quando estamos juntas.

A todos os meus colegas de sala que juntos construímos nossa vida acadêmica de

grandes aprendizados. Há, não poderia esquecer de seu Reinaldo, das minha

amigas da Fundame, todas as pessoas que me deram carona nesta jornada de

grandes aventuras e por fim, a todos e a todas que diretamente ou indiretamente me

ajudaram nessa caminhada, diminuindo o peso do meu dia-a-dia.

Aos meus amigos e amigas, que sempre estiveram comigo mesmo que fosse em

telepatia, e em especial, a minha irmã/amiga Luana que desde sempre esteve

presente em minha vida me apoiando e me ajudando nesta longa caminhada.

Aos meus amigos e amigas de música da filarmônica, banda Didá, Orquestra da

Saudade, banda Luz Divina, Ministério de Música Promessa e todos que passaram

em minha vida preenchendo minha vida com muita música, onde juntos construímos

aprendizados valorosos sobre a música, sua importância em minha vida e na

sociedade.

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O Momento que vivemos é, de vários pontos de

vista, único. [...] Mas único, ainda, porque

acreditamos que “música” representa tanto uma

dimensão sensível fundamental do ser humano quanto

um importante patamar, onde não meramente se

assenta, mas sobre o qual se desenvolve uma legítima

cultura.

kater

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RESUMO

O presente trabalho monográfico traz algumas reflexões sobre as aprendizagens da música através das cantigas de roda na Educação Infantil, buscando compreender qual o impacto das cantigas de roda na aprendizagem dos alunos e sua presença no universo musical das crianças, objetivando: Analisar o impacto das Cantigas de Roda na aprendizagem dos alunos; Analisar a presença das Cantigas de roda no universo musical das crianças, acreditando que a música propicia uma amplitude de aspectos benéficos colaborando para a formação da personalidade do indivíduo. A pesquisa teve como metodologia a pesquisa qualitativa, onde foram utilizados como instrumentos de coleta de dados a observação participante ou etnográfica, entrevista semi-estruturada, diário de bordo e mapas mentais. Utilizamos como suporte teórico autores que por muito tempo estão engajados na construção dos referenciais fundantes na proposta de música na escola como: André(1995), Bastian(2009), Candé(1981), Camargo(1994), Faria(2001), Freire(1992), Gainza(1988), Howard(1984), Jannibelli(1971), Martins(1995), Penteado(2005), Queiroz(2005), Silva(2008), Snyders(1997) e Uriarte(2005). Dessa maneira, a pesquisa foi desenvolvida a partir de três (3) grupos de sujeitos: os alunos, os pais e a professora que também é a pesquisadora. Os resultados apontam eficácia na contribuição para processo de ensino e aprendizagem, valorização ao prestígio das Cantigas de Roda, sensibilização na percepção e favorecimento a desinibição e integração social.

Palavras-chave: Música. Educação musical. Indústria Cultural. Cultura.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01: VÍNCULO PROFESSOR X ALUNO ...........................................54

FIGURA 02: VÍNCULO PROFESSOR X ALUNO............................................54

FIGURA 03: EU CANTANDO..........................................................................66

FIGURA 04: MINHA SALA SEM MÚSICA......................................................66

FIGURA 05: EU CANTANDO..........................................................................67

FIGURA 06: MINHA SALA SEM MÚSICA......................................................67

FIGURA 07: EU CANTANDO..........................................................................68

FIGURA 08: MINHA SALA SEM MÚSICA.......................................................68

FIGURA 09: MINHA CANTIGA PREFERIDA .................................................69

FIGURA 10: MINHA CANTIGA PREFERIDA..................................................69

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

CAPITULO I ..................................................................................................... 14

CAPITULO II .................................................................................................... 18

2. 1 A MÚSICA E SUAS DIVERSAS MANEIRAS DE APRENDIZAGENS ....... 18

2.1.1conceituando música ........................................................... 18

2.1.2 Historicizando a trajetória da Música ................................ 20

2.2 EDUCAÇÃO MUSICAL .............................................................................. 23

2.2.1 Música na Escola ................................................................. 23

2.3 A INDÚSTRIA CULTURAL ......................................................................... 26

2.4 CULTURA: A MÚSICA REPRESENTADA NO COTIDIANO ...................... 31

2. 4.1 Cultura Erudita X Cultura Popular ..................................... 31

2.4.1.1 Cantigas de Roda: Ramificações da Cultura Popular 35

CAPITULO III ................................................................................................... 38

3. CAMINHOS METODOLÓGICOS TRILHADOS ............................................ 38

3.1 LÓCUS ....................................................................................................... 39

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA ......................................................................... 40

3.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .............................................. 40

3.3.1 Observação participante ou etnográfica ........................... 41

3.3.2 Entrevista semi-estruturada ............................................... 43

3.3.3 Diário de campo ou de bordo ............................................. 44

3.3.4 Mapas mentais ................................................................... 445

CAPITULO IV ................................................................................................... 47

4. ANALISANDO AS ENTRELINHAS DO CAMINHO ...................................... 47

4.1 MEU OLHAR ENQUANTO EDUCADORA NESSE CAMINHO PERCORRIDO

......................................................................................................................... 48

4.2 PERCEPÇÃO DOS PAIS EM RELAÇÃO À MÚSICA ................................ 51

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4.3 O IMPACTO DA MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO CULTURAL NA

EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................................................... 54

4.4 A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS ............... 61

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 71

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 73

APÊNDICES ..................................................................................................... 77

A- ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ........................... 78

B- MAPAS MENTAIS ...................................................................................... 79

C- FOTOS ........................................................................................................ 83

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INTRODUÇÃO

A idéia de discutir a temática “O encanto da música nas cantigas de roda -

Aprendizagens através das cantigas de roda na Educação Infantil” nasceu de

afinidades e diversas vivências com a música. Sou musicista, toco flauta transversal

e canto desde muito pequena. Foi a partir desse contato que surgiu o interesse pela

temática e para uma melhor compreensão fizemos um breve relato sobre como essa

inteligência foi desenvolvida.

Estudos nos mostram que estamos em contato com a música desde o ventre

de nossa mãe, depois com as cantigas de ninar e logo após na escola. Dessa forma,

continuei desenvolvendo a inteligência musical em meu cotidiano cantando desde

muito pequena em apresentações da escola, da igreja, teatros e corais, até que aos

15 anos, entrei na Orquestra da Saudade, no intuito do cantar no coral, fui

apresentada à mais encantadora e completa forma de percepção musical, a de tocar

em um instrumento, aprendi a ler partitura e tocar flauta transversal. Após ter

aprendido a tocar, passei por diversos ambientes onde a música está presente,

como, na Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses, Fanfarras, na banda

Católica Luz Divina, na banda Didá1 e por fim, na banda da Católica, Ministério de

Música Promessa.

Na Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses é onde estou me

aperfeiçoando e aprendendo os mais diversos estilos e ritmos musicais,

compreendendo a sua forma e percebendo que “tocar um instrumento musical é

uma das atividades humanas mais complexas” (BASTIAN, 2009, p. 111), pois utiliza

percepção, corpo, concentração, educação social e auditiva, cognição na leitura das

partituras, dentre outras.

1 - Banda feminina negra que tem origem de uma Fundação em apoio a mulheres e crianças, mas que atende

jovens, ensinando música percussiva, dança, teatro e construção de instrumentos musicais de percussão. Que tem por intuito a valorização negra, o atendimento as mulheres e crianças pobres, ensinando-lhes métodos de sobrevivência, proporcionando o conhecimento do mundo através da musica.

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Nesse direcionamento surge uma inquietação sobre como essa forma de

aprendizagem tão ampla, tem sido explorado de forma distanciada da realidade

escolar e ao mesmo tempo distorcida da vivência das pessoas, pois a música esta

em todos os lugares sendo perpassada em algumas composições com letras que

denigrem a imagem e valores dos indivíduos.

Compreendendo sua relevância, e por trabalhar em uma escola onde

algumas professoras utilizam como metodologia música para determinar regras e

horários escolares e outras não, e sabendo ainda que o universo musical é amplo,

porém mídiaticamente pobre para nossas crianças, priorizei as Cantigas de Roda,

que necessitam do resgate de seu prestígio, sendo uma tradição popular oral e

musicalmente riquíssima. “Não há dúvida de que todos os que viveram plenamente

a música receberam uma boa dose de cultura” (GAINZA, 1988, p. 16).

A nossa opção metodológica voltada na educação musical, objetiva contribuir

para o processo de ensino e aprendizagem através das Cantigas de Roda,

acreditando ser este caminho inovador, eficaz e significativo. Acreditamos que a

música propicia um amplo envolvimento em aspectos afetivos, sensoriais, motores,

mentais, espirituais dentre outros diversos benefícios, colaborando assim para a

formação da personalidade do indivíduo.

No intuito de uma melhor compreensão deste trabalho, o dividiremos em

categorias de quatro capítulos:

Capítulo I: Discorre a importância da presença da música em nossa vida, com

intuito de valorização das cantigas de roda, considerando o empobrecimento que a

nossa sociedade vive em relação a música na Educação infantil, compreendendo

que a história da criança como um ser social, precisa de respeito a suas limitações e

de uma educação significativa o qual desenvolva suas habilidades, finalizando com

os objetivos e a questão para a escola pesquisada.

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Capítulo II: Apresentamos as discussões por meio do aprofundamento teórico

que embasou a nossa prática, acerca da Música, Educação musical, Indústria

Cultural e Cultura.

Capítulo III: Neste capítulo, Apresentamos os caminhos metodológicos

trilhados, organizados em: tipo de pesquisa, lócus, sujeito e instrumentos de coleta

de dados utilizados para recolhimento dos dados e elaboração deste estudo.

Capítulo IV: Organizamos este capitulo de maneira que os dados coletados,

analisados e interpretados, fossem explicitados de forma a serem compreendidos,

por isso utilizamos de categorias nas quais responderam o objetivo da nossa

pesquisa.

Finalizamos, com as considerações finais onde expomos algumas

considerações referentes à construção da presente monografia.

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CAPITULO I

“Ó dona Maria Ó Mariazinha

Entrarás na roda ou ficarás sozinha...”

(Cantiga de Roda)

Este trabalho tem por intuito refletir sobre a aprendizagem através da música,

dentre elas enfoco as Cantigas de Roda, pois a nossa sociedade vive atualmente

um processo de empobrecimento musical face ao bombardeamento midiático,

desvalorizando cada vez mais o Ser Humano.

A aparência ilusória corresponde ao falso encantamento oferecido pela música de massas, destinada a ser objeto de consumo, e, por isso, desprovida, segundo o autor, de características efetivamente artísticas. Além do mais, essa música é também desprovida de inovações técnicas; segundo Adorno, ela se limita a copiar o que a música séria realizou em Brahms ou Wagner, tirando-lhe, contudo, a autenticidade e o vigor (FREIRE, 1992, p.86).

Em convivência com as crianças em sala de aula, sentimos a necessidade de

envolvê-las no mundo cultural, que a respeite e a valorize, pois percebemos que por

sua capacidade ágil de aprendizado, incorpora letras de musicas e danças que

deprecia e distorce o real sentido da infância, fazendo-se imprescindível o resgate

das Cantigas que alem de promover o cultural, nos propicia a aprendizagem

prazerosa através da música. Como nos afirma Laraia (2009):

Culturas são sistemas (de padrões de comportamentos socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos e organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante (p.59).

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A formação da criança é influenciada pelo meio e por isso, necessitam de

acompanhamento e direcionamento em busca da valorização na e da infância.

Gainza (1988) acredita que para as crianças a música folclórica oferece pureza e

força para constituir-se em seu inicio de vida, pois, “move elementos primitivos

básicos, sobretudo em relação ao corporal e ao afetivo, razão pela qual torna

próximo do homem sensível e tanto das crianças”.

No entanto, ao estudarmos sobre a formação da criança assunto esse que

está diretamente interligada á educação, que por diversas experiências e por

múltiplos contextos ao longo de sua história foi sendo marcada a Educação Infantil,

remetendo não apenas uma questão específica, mas cultural, nos trazendo reflexões

sobre o ensino, onde inicialmente acreditava-se que a criança era adulto em

miniatura. Assim, perceberemos que o “conceito de infância é, pois, determinado

historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade”

(KRAMER, 1992, p.19).

Com o passar dos anos, surgem estudos interessados na mente das crianças,

a educação nesse período era assistencialista preocupava-se no cuidar e finalmente

significa-se o olhar para a valorização da criança como sujeito, ultrapassando o

cuidar, percebendo que a criança aprende a todo momento precisando assim

integração no cuidar e no educar Lembrando que:

(...) as instituições da Educação Infantil deve promover em suas propostas pedagógicas, práticas de educação e cuidados que possibilitem a integração entre aspectos físicos; afetivos; cognitivos;lingüísticos; e sociais da criança, entendendo ela é um ser completo, total, indivisível...(BRASIL, 1999, p.24 apud COSTA, 2006, p.71).

Analisando as propostas educacionais recentes que remetem novas práticas

de ensino, acreditamos que a música contempla muitos requisitos apresentados,

vista por Bréscia (2003) como “linguagem Universal, tendo participado da história da

humanidade desde as primeiras civilizações”, estando sempre presente em nossa

vida. E hoje, é uma forma eficaz no processo ensino e aprendizagem para discentes,

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por proporcionar o desenvolvimento de diversas habilidades e competências no

indivíduo.

Várias são as vantagens da utilização da música escolar. A mais importante é que a atividade musical ajuda a crescer no sentido mais amplo da palavra deste termo. O indivíduo cresce em vários campos que, embora interrelacionados podem ser observados em separado. (...) cresce física, mental e emocional (incluindo o moral, o intelectual, o sensorial etc) (JANNIBELLI, 1971, p.24).

A música propicia uma amplitude de aspectos benéficos colaborando para a

formação da personalidade desse indivíduo. Para Gainza (1988), “a música é um

elemento de fundamental importância, pois movimenta, mobiliza, por isso contribui

para a transformação e o desenvolvimento”, favorecendo a um ambiente divertido e

mais propício para aprendizagem, segundo Bréscia (2003) melhorando “o

desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem

de matemática, leitura e outras habilidades lingüísticas nas crianças”.

Nesta perspectiva devemos refletir a importância da música para as crianças,

e buscarmos entender que através de uma proposta de Educação Musical, que é

uma educação voltada para a música, mas com finalidade social, cidadã, ou seja,

educacional, possamos garantir uma nova visualização de mundo e, por

conseguinte, nas práticas.

Neste sentido, a proposta está voltada à educação para a cidadania: suas metas básicas são cooperação e autonomia, as crianças são encaradas como pequenos cidadãos e cidadãs, e o trabalho escolar é entendido como o que deve garantir o acesso aos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade e formar, simultaneamente, indivíduos críticos, criativos e autônomos, capazes de agir no seu meio e transformá-lo (KRAMER, 2001, p. 13).

Ao falarmos da finalidade educacional, necessitamos compreender o território

onde a criança está inserida, de forma a contextualizar o ensino, de acordo com sua

vivencia, seu cotidiano.

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É uma educação que parte das necessidades e dos interesses da criança, estimulando sua atividade e o desenvolvimento de sua criatividade, na conquista de sua autonomia. Esses valores devem ser buscados desde os primeiros anos de vida, quando a criança está completamente aberta em si mesma, para os outros e para o mundo que a cerca. Pois é nesse período que ela é mais sensível a qualquer influência dos fatores externos e sua personalidade adquire marcas indeléveis que caracterizarão na vida futura. (NICOLAU, 1990, p.24).

Acreditamos que há uma forte influência da indústria cultural em nossa

sociedade transformando idosos, adultos, jovens e crianças, acompanhadores fieis

de suas idéias e propostas, nos levando ao consumismo exagerado. Como destaca

Schwartz (1985) “Os meios de comunicação afetam profundamente as atitudes da

comunidade, as estruturas políticas e o estado psicológico de todo um país” (p.20).

Diante do exposto, faz-se necessário reafirmar a importância da música que é

um instrumento tão eficaz, que podemos utilizar tanto na educação como em de

outras formas de interação tanto do seu eu, como com o outro.

Diante dessa conjuntura surgiram algumas inquietações resumindo nos

seguintes objetivos: Analisar o impacto das Cantigas de Roda na aprendizagem dos

alunos; Analisar a presença das Cantigas de roda no universo musical das crianças.

Dessa forma, surgiu no presente estudo o seguinte questão de pesquisa:

Qual o impacto das cantigas de roda na aprendizagem dos alunos e como se dá sua

presença no universo musical das crianças. No intuito de contribuir para processo

de ensino e aprendizagem através das Cantigas de Roda, com o propósito da

valorização do prestígio das Cantigas de Roda.

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CAPITULO II

Diante da nossa questão de pesquisa, problematizada na temática sobre a

música, buscamos aprofundar as nossas reflexões, a partir da leitura de autores que

discutem e complementem a temática apresentada. Nesta perspectiva

apresentamos os nossos conceitos-chave: Música. Educação musical. Indústria

Cultural. Cultura.

2.1 A MÚSICA E SUAS DIVERSAS MANEIRAS DE APRENDIZAGENS

Referenciando a importância da musica e sua abrangência, sentimos a

necessidade de abordamos subtemas que venham integrar essa discussão.

2.1.1 Conceituando música

A musica é vista por diversos estudiosos, da forma mais restrita que se

resume no ouvir, ao universo mais amplo que ela possa nos proporcionar, como a

totalidade humana (psíquica, física, motora, normas sociais e afetiva), que reflete

nessa diversidade conceitual feita por pessoas que estudam música, vivem de

música e fazem música. São teorias com bases não só de estudos, sociedade,

cultural, mas de sentimentos que a música os proporciona.

É importante destacar que a musica se apresenta como elemento constituivo

da sensibilidade humana, “a música é meio e elemento constitutivo da

autorrealização humana, uma sensibilidade fundamental do ser-no-humano situado

e em vias a situar-se, expressão da “maneira de posicionar-se” do ser humano”

(PLESSNER apud in BASTIAN, 2009,p.34). Na mesma pespectiva Snyders(1997),

vem relatando a importância da estética musical, da beleza que precisamos

encontrar:

(...) a música é feita para ser bela e para proporcionar experiências de beleza, e que a beleza existe para dar alegria, a alegria estética, que é a alegria específica, diferente dos prazeres de que habitualmente desfrutamos, e que constitui um dos aspectos da alegria cultural beleza. (p.11).

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Podemos vê-la de forma mais sistemática, como sons e silêncios. Assim,

como a música é constituída e através desses dois componentes, são feitas as mais

diversificadas melodias. Para Camargo (1994) “Música é arte de harmonizar sons.

Assim sendo, ela tem capacidade de produzir a combinação dos elementos físicos e

psicológicos, resultando na coerência almejada entre as duas formas de movimento

(p. 71). Nota-se que esses itens constituem e influenciam no nosso corpo humano,

nos sensibilizando a ações diversas decorrentes das musicas escutadas. Snyders

(1997) afirma que:

A influência que a música exerce sobre nós remete-nos evidentemente a seu poder sobre o corpo; ela coloca o corpo em movimento, faz com que ele vibre de forma não comparável às outras artes; e é o fato de estarem inscritos em nosso corpo que dá tanta acuidade às emoções musicais; por seu enraizamento psicológico, a própria música atinge uma espécie de existência corporal. (p.85)

Concomitantemente, percebemos que música é movimento, logo criança e

música estão intimamente ligadas. Ao utilizá-las estimulamos as mais diversas áreas

do nosso cérebro, simultaneamente de todo nosso corpo, contribuindo assim para as

mais importantes atividades psíquicas humanas. Que segundo Wilhems:

Cada um dos aspectos ou elementos da música corresponde a um aspecto humano específico, ao qual mobiliza com exclusividade ou mais intensamente: o ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a afetividade; a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou na forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental do homem. (WILHEMS apud GAINZA, 1988, p.36 e 37).

Dessa reflexão podemos perceber o universo musical como forma de

educação e identificação cultural. E Gaiza (1988) afirma que “uma educação que

excluísse a música não poderia ser considerada completa. A música é uma parte

intrínseca – consciente ou não – de cada ser humano” (p.16).

Page 21: Elisa monografia pedagogia 2011

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É importante termos a convicção que fazemos parte de uma sociedade onde

as classes dominantes e a mídia constroem e legitimam qual musica é

“culturalmente relevante”. E Queiroz (2005) conceitualiza sob a ótica cultural nossas

discussões onde

A música transcende os aspectos estruturais e estéticos se configurando como um sistema estabelecido a partir do que a própria sociedade que a realiza elege como essencial e significativo para seu uso e sua função no contexto que ocupa. (p.50)

Assim, a música é vista também como objeto de linguagem, como forma de

comunicação, sendo esta discussão objeto de controvérsias entre vários autores.

(...) podemos dizer que há autores que consideram que a música é uma linguagem, embora comunique emoções e não conceitos, e há os que consideram que a música não é linguagem, uma vez que não transmite significados conceituais (FREIRE, 1992, p. 10).

No entanto, notamos os inúmeros benefícios trazidos pelo contato com a

música, seja por o estudo direcionado, pelo canto, instrumentalização ou apreciação,

independente do seu campo conceitual.

2.1.2 Historicizando a trajetória da Música

Com o surgimento da musica na sociedade primitiva, que vem sendo

transmitida de geração a geração pela reprodução, pela realidade, pela criação,

tendo diversas funções no seu cotidiano, abrangendo assim, múltiplos aspectos em

sua formação histórica. Candé (1981) remete-se que no princípio no cotidiano dessa

sociedade a música era “uma ato comunitário. Não há público, não há autor, não há

obra: os assistentes são, quase todos participantes” (p.29). Mostrando que a música

era parte intrínseca desses povos, pois o vivenciavam, com isso, fazia parte de sua

identidade cultural e social. Sabendo que:

Nas origens, a música não era senão uma atividade muscular (membros laringe) adaptada às condições da luta pela vida. De

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diversas maneiras, seu desenvolvimento seguiu das sociedades humanas. (...) unidas à magia, a religião, à ética, à terapêutica, à política, ao jogo, ao prazer também, constitui um dos aspectos fundamentais das antigas civilizações...(CANDÉ, (s/d), p.17).

Por ser vista de diversas maneiras ela influenciava o cotidiano e crenças da

população na época, que culturalmente faziam uso de rituais. Bastian (2009)

destaca que “os povos primitivos eram vistos pelo seu poder de encantamento e

cura”(p.40).

Ao longo do tempo, a música foi ensinada pelos jesuítas através dos cantos

gregorianos, juntamente com catequese que abrangia para as crianças e os jovens o

ensino leitura, escrita, contar, jogos, instrumentos musica de corda e sopro, não

havendo distinção da musica erudita para popular. “A música, nos primeiros anos do

Brasil, foi de caráter religioso. Os beneditinos e carmelitas eram grandes cultores do

canto-chão” (JANNIBELLI, 1971, p.40), na época de 1586. Percebemos que a igreja

como maneira de dominação, soube usufruir desse mecanismo para alcançar seu

intuito. É curioso entender como os jesuítas através da catequese utilizaram esse

recurso:

Já a partir do primeiro século da colonização, promovendo a integração dos elementos da música e da dança das populações nativas com cantos e instrumentação ligados ao teatro religioso de fundo medieval, combinação que, revestindo ao tempo, esta na origem de nossas festas e danças populares. (SILVA, 2008, p.105)

Com a evolução do império no Brasil vivia-se o período colonial em meados

do século XVII, segundo Jannibelli (1971) “A música religiosa continuou sendo a

mais utilizada. Mas a música popular de varias origens, principalmente a

portuguesa”(p. 40). Em 1891, surgiu o Instituto Nacional da Música que antes, era o

conservatório musical cujo diretor era Leopoldo Miguês. Posteriormente começa a

preocupação do estudo da música no Jardim de Infância, que com o passar dos

anos em 1959, surgi a:

Escola Popular de Educação Musical e Artística – EPEMA; publicação de Pesquisa Folclórica – “Brinquedos Cantados pelas Crianças Cariocas e Hinos Oficiais”; Instituição do Calendário do Sema; participação das comemorações do 4º Centenário da Cidade

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do Rio de Janeiro, com série Conferências, Concertos e Publicações, (JANNIBELLI, 1971, p.44).

A música expandiu-se abrangendo diversos segmentos, a exemplo da escola,

que utilizava-se nas classes Maternais e Jardins Infância superficialmente canções

de ninar, brincadeiras e recreação. Segundo Jannibelli (1971) “a utilização da

musica como fator de educação foi possível porque (...) consegue-se estabelecer, de

maneira natural, a ligação entre o lar e a escola” (p.26). Novos estudos sobre a

música na Educação Infantil foram feitos, e descobriram sua importância nos

diversos aspectos dinâmicos que ela abrange como físico, motor, espiritual,

atividades psíquicas, em suma:

(...) a música destina-se totalidade do homem: seus sentidos, coração, inteligência e de acordo com Edgar Willems (1970), os três domínios da natureza humana- o fisiológico, afetivo e o mental – estão estritamente ligados elementos constitutiva da música. (CAMARGO, 1994, p. 17).

Destacamos que a criança em sua essência vive envolvida num ambiente

sonoro, ainda no ventre mãe o bebê escuta e brinca com os sons, ao nascer na

medida em que ele vai interagindo, interioriza a linguagem de sua comunidade, pois,

desde pequena já ouve canções ou cantigas de ninar, de roda, cantadas por sua

mãe ao dormir. Como enfatiza Faria (2001):

A música como sempre esteve presente na vida dos seres humanos, ela também sempre está presente na escola para dar vida ao ambiente escolar e favorecer a socialização dos alunos, além de despertar neles o senso de criação e recreação. (p24).

Nesse sentido Faz-se necessário uma valorização dos prestigio da música e

ampliando o universo musical dessas crianças, que ao longo de suas vidas

vivenciam ao ouvirem e cantarem, muitas vezes somente o que se é escutado em

suas casas, o que a mídia permanentemente toca, tendenciando, o que escutamos,

o que dizemos, como compramos e o que vestimos.

Page 24: Elisa monografia pedagogia 2011

23

2.2 EDUCAÇÃO MUSICAL

Ao dialogarmos sobre musica, sabemos que existe uma extensa abrangência

de gêneros musicais, dentre essas variedades está à música erudita e música

popular, que necessita esta perpassando o ambiente escolar através de uma

abundante educação musical, onde a escola deve ser parte integrante nesse

universo de conhecimento e cultura.

2.2.1 Música na Escola

Quando pensamos em música na escola, na Educação Infantil, lembramos de

algumas cantigas de roda, músicas infantis que são utilizadas em determinados

momentos de rotina escolar: como chegada, lavar as mãos, hora do conto e saída.

Sabemos que o ser humano ao ouvir a música se apropria de significados sendo

interpretados a depender de suas vivencias. Diante disso o professor que trabalha

com música na Educação Infantil:

[...] deve partir da realidade musical igualmente vivenciada pelo aluno, do repertório que ele traz, das atividades musicais corriqueiras no grupo social do qual participa igualmente, não deve estagnar aí, procurando ampliar a escuta do aluno para os fazeres musicais de outros grupos (PENTEADO, 2005, s/n).

É importante ressaltar que o professor que se utiliza da música deve

oportunizar aos alunos conhecimentos de diversos estilos musicais, tendo papel

fundamental em ensiná-los a analisá-los para filtrarem o que cada música tem de

melhor, esse é o papel da Educação Musical enriquecer o universo do aluno

ultrapassando a leitura e a escrita gráfica tradicional. Sabemos como afirma Snyders

(1997) que “a música exerce, em troca, influência sobre os valores da comunidade”

(p.52).

Page 25: Elisa monografia pedagogia 2011

24

Pois, como destaca Penteado (2005) “não se deve ter receio de mostrar

diferentes músicas étnicas, sejam concertos ou músicas populares, procurando

discuti-las para entender seus modos de produção” (p.21), mas sua verdadeira

intencionalidade por essas músicas super valorizadas pela mídia.

Necessitamos ensinar nossos discentes a apreciar o amplo universo musical,

pois, em sua maioria é delimitada pela mídia, percebemos que quanto mais

crescemos musicalmente, nos tornamos sensíveis auditivamente ao nosso ambiente

e estendemos os nossos conhecimentos adquiridos pela cultura local, regional e

mundial. Para Snyders (1997) “ensinar música é também a possibilidade de

apresentar obras-primas a crianças muito pequenas e fazer com que elas

encontrem, nelas, alegria cultural” (p.132).

A Educação Musical não deve ser vista somente como uma metodologia para

aulas, pois é muito mais ampla por trabalhar não só o intelecto, mas o motor, o

físico, a sensibilidade, crescimento cultural, assim, contribuindo em diversos

aspectos, não se limitando a dinamização de aulas ou anúncio de rotinas, logo, os

educadores musicais devem:

[...] garantir a autenticidade da vivência musical, inserindo-a nas salas de aula de modo abrangente, dialogando com a linguagem específica, buscando discutir possibilidades como área de conhecimentos e alimentando-nos de sons e imagens que nos levam a acreditar na educação como fonte de vida, de crescimento e de realização (URIARTE, 2005, p.160).

Devemos aprender a apreciar a música, a ter sensibilidade para ouvi-la,

sensibilidade aos sons e silêncios que é como se constitui, compreender sua

essência e a intensa “carga” cultural que ela contém. Já foram citadas as mais

diversos resultados que a música nos propicia ao ser utilizadas e trabalhadas no

cotidiano do “Ser Humano” e a escola pode e deve abarcar esse universo musical

para ajudar a construir essa nova maneira de ver, de admirar os mais diversos

estilos e gêneros musicais, descobrindo a beleza do ouvir por ouvir. Bastian (2009)

contextualiza as alegrias da música e cotidiano:

Page 26: Elisa monografia pedagogia 2011

25

Nossas escolas deveriam também aproveitar tais efeitos, não somente no âmbito pedagógico- terapêutico. Quero dizer, a oportunidade para a “alegria pela música” como para uma alegria pela vida, para um excitante contato com a prática ativa da música e do canto como apoio para a vida, para o prazer de ouvir a sonoridade (...) (p.40).

Precisamos instigar nossos discentes à reconstrução crítica do conhecimento

cotidiano de nossas escutas, sabemos que a mídia tem exercido forte influencia,

limitando-os e também nos empobrecendo culturalmente, por essa razão devemos

ensinar-los a fazer uma análise a partir de suas experiências, percebendo que:

[...] a desconstrução e reconstrução do discurso musical. Nesse contexto a analise também deve ser vista como um instrumento vital de exploração de novas modalidades de cognição e conseqüentemente na ampliação das estratégias de aprendizagem (MARTINS, 1995, p.101).

Considerando que a música é instrumento de aprendizagem se apresentado

como uma metodologia lúdica, o educador deve contextualizar os conteúdos

estudados com o cotidiano dos discentes, mostrando que a escola não está alheia

aos acontecimentos sociais. Como afirma Moura (1996) “Os mais variados assuntos,

ao serem trabalhados com crianças, devem partir de elementos ou situações já

conhecidas e vivenciadas por elas. A música não é exceção”. (p.12)

Vale ressaltar que a música retrata as necessidades, o pensamento, as

crenças, o cotidiano e as ideologias de toda uma sociedade, que esteve, está

presente na escola, ou que participa indiretamente desse sistema educacional

através da comunidade escolar e da educação informal, grande influenciadora no

cotidiano e escutas de nossos discentes, perpassando habitualmente a todo

instante, os corredores escolares.

Page 27: Elisa monografia pedagogia 2011

26

2.3 A INDÚSTRIA CULTURAL

Situados em uma sociedade envolta por inúmeras influências midiáticas, que

tendencialmente impõe regras através da violência simbólica nos fazendo agir

alienadamente, acreditando ou aceitando a situação vivenciada que é proposta pela

mídia. Nesse sentido, pode-se afirmar que “a mídia é capaz de influenciar, das

formas mais diversificadas, a vida cotidiana e a atuação política dos indivíduos- a

maneira como agem, sentem, desejam, lembram, convivem, e resistem” (IRACI;

SANEMATSU, 2007, p.112).

Os meios de comunicação que tem uma imensa amplitude é representada

pela: rádio, televisão, internet, jornal, cinema, publicidade, música, telefones móveis

e fixos, outdoor, DVD’s, cd’s, fax, cartões, dentre muitos outros.

(...) os meios de comunicação têm uma dimensão simbólica irredutível: eles se relacionam com a produção, o armazenamento e a circulação de materiais que são significativos para os indivíduos que os produzem e os recebem (THOMPSON, 1998, p.19).

Observamos que a maioria das informações e influências são oriundas da

mídia, que tem uma força significativa, pois está freqüentemente noticiando sobre o

nosso cotidiano, nos fazendo creditar o que se é passado, mostrando que a nossa,

Percepção de realidade acaba bastante influenciada pelo mundo como é mostrado pelos diversos meios de comunicação. Seu mundo “perceptual” deixa de ser gerado pela “realidade objetiva” que os cerca, passando a ser conseqüência direta da “realidade simbólica” midiática que elas vêem através das notícias recebidas (GEBNER, 2000, p.546 apud CIARELLI e AVILA, 2007, p.546).

Estamos ativamente nos modificando por meio de mensagens e de conteúdo

significativo oferecidos pelos produtos da mídia (entre outras coisas). Este processo

de transformação pessoal não é um acontecimento súbito e singular. Ele acontece

lentamente, imperceptivelmente, dia após dia, ano após ano.

Page 28: Elisa monografia pedagogia 2011

27

É um processo no qual algumas mensagens são retiradas e outras são esquecidas, no qual algumas se tornam fundamento de ação e de reflexão, tópico de conversação entre amigos, enquanto outras deslizam pelo dreno da memória e se perdem no fluxo de imagens e de idéias (THOMPSON, 1998, p.46).

Nesse sentido nota-se que a Indústria Cultural dita regras, cria ou destrói

valores: difundi a moda, elege e distitui candidatas, condena e inocenta pessoas,

lança artistas e músicas, influência a violência, criminalidade, erotização e o

exarcebado consumo de produtos, comprovando que a mídia é poder. Como afirma

Almeida (2004):

As populações atuais, no conceito do poder, são poder, são chamadas “massa” – pessoas que, mesmo alfabetizadas, não passaram pelo universo da leitura/escrita (meio individual de criação, reflexão e crítica) que permite a inteligibilidade das coisas do homem de maneira mais completa e menos homogeneizada. São seres orais, cuja inteligência se forma/informa não mais interpessoal ou intergrupalmente, mas audiovisualmente com os produtos de difusão da indústria cultural (p.25).

Logo, entende-se que a mídia é uma forte influenciadora nas músicas que

ouvimos e cantamos, direcionando quem estará no auge ou não em nossas vidas,

despertando emoções através das músicas em Dvd’s, videoclipes, em emissoras de

televisão, pois unem imagem, áudio, movimento e performance do suposto, ídolo

para nossas crianças, adolescentes e adultos.

A música que é vinculada pela mídia, não tem o intuito de explorar a qualidade e técnica, mas somente esses estados que a música é capaz de evocar. Através do óbvio, ela impõe esses efeitos. Com isso, reduz-se a um mero produto industrial, pronto para ser consumido, sem nenhuma intenção de arte (ECO, 1993, p.297).

É interessante refletirmos como gostamos de determinadas músicas além do

modismo do momento. De como selecionamos nossas escutas e posteriormente

assim fazermos com as de nossas crianças. Um leigo escuta a música que lhe traz

emoções, através do ritmo que toca, já os indivíduos que tem instrução criteria por

qualidade musical observando a sua composição como um todo, preocupando-se

com a estética. Como afirma Schwartz (1985):

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28

A mídia estimulou-nos a preferir, cada vez mais, a nova realidade construída. Nosso envolvimento com a mídia eletrônica é de tal ordem que geralmente um encontro face a face pode parecer irreal comparado à realidade da comunicação eletrônica. (...) As pessoas não julgam a mídia através dos padrões da mídia (p.53).

Por isso, há necessidade da escola intervir de maneira direta na educação

musical e visual dos seus discentes, minimizando a ação da mídia televisiva que

com seus desenhos, que contem temas musicais elaborados fazendo com que as

crianças passem a gostar, imitar e tentar vivenciar nesse mundo de imaginação, que

assistem, conduzindo muitas vezes a violência e enfraquecimento de nossos

costumes e valores. Segundo Schwartz (1985):

O papel do professor deveria incluir ensinar às crianças como estruturar e classificar informações que elas já possuem e estão constantemente recebendo. Muitos poucos professores adotam essa abordagem e as crianças pagam o preço dessa falha dos mestres, desinteressando-se pela escola (p.130).

Temos que repensar o nosso papel não só como educador, mas como

cidadão que compra o que a mídia oferece, simultaneamente a sustentamos, não a

fazemos em termos técnicos, mas a consumimos diretamente e nossas crianças

também, sem o menor critério, muitas vezes com maneira de acalmá-los, hipnotizá-

los, sendo as babás, e elas a aceitam, cantam e dançam as músicas que mais

tocam, que em sua maioria são erotizadas, depreciativas, preconceituosas, dentre

outras, que em seu cotidiano é comum pois seus pais também as consomem,

formando um ciclo vicioso ou um pão e circo.

Dentro desse sistema complexo, observa-se que a Indústria Cultural é fruto

de uma sociedade industrializada, que visa o capital na busca do consumismo

exacerbado. Como afirma Viana (2002):

O Estado capitalista também busca controlar a difusão cultural via indústria cultural. E isto não somente através do aparato legislativo como também através de suas próprias empresas de comunicação. Ambas buscam atingir o maior público possível, embora a ênfase do

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setor privado esteja na maximização do lucro e a do setor estatal na propaganda política (p.s/p).

Entende-se que a indústria cultural por ser a instância maior, se utiliza da

mídia para atuar, no intuito de ir construindo e legitimando paulatinamente, as

ideologias dominante, utilizando dos mas diversos artifícios e elementos

tecnológicos chamado de simulacro, para persuadir a “massa” de nossa sociedade,

criando barreiras entre a cultura popular e sua forma de sobrevivência.

Os brincantes da cultura popular “diferenciam-se da indústria cultural na

medida em que esta utiliza elementos tecnológicos próprios da segunda revolução

industrial (fotografia, televisão, rádio e cinema), produzindo o que se convencionou

chamar de simulacro”. (BAUDRILLARD, 1996 apud SILVA, 2008, p.8 e 9). Eles tem

por intuito favorecer a classe dominante, que constantemente, desvaloriza a cultura

popular, por terem a tecnologia em sua disposição, produzindo, através da violência

simbólica a idéia de poder para quem tem capital e consome produtos de numa

sociedade altamente industrializada. Como confirma Silva (2008):

Ao contrario da industrial cultural, os brincantes da cultura popular produzem cultura a partir de uma tecnologia mecânica simples, em tudo diferente da tecnologia característica do capitalismo, tardio, a energia que as manipula é basicamente humana, centrada na corporalidade, no uso das mãos, do controle do processo produtivo/criativo pelo corpo esvaziando-se assim os elementos de força produtores do simulacro(...). Esse é o contexto político-cultural e socioeconômico em que se situa a subalternidade da “cultura popular”. (p.9)

Abarcando a discussão nota-se que a indústria cultural tem um poder de

dominação espetacular, pois fabrica produções com finalidade de serem trocados

por dinheiro e persuasão de ideologias, convencendo a serem consumidas através

de inúmeras repetições, levando ao inculcamento e aceitação do produto oferecido

no mercado.

Todo este processo reproduz os interesses da classe dominante. A indústria cultural produz uma padronização e manipulação da cultura, reproduzindo a dinâmica de qualquer outra indústria capitalista, a

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30

busca do lucro, mas também reproduzindo as idéias que servem para sua própria perpetuação e legitimação e, por extensão, a sociedade capitalista como um todo (VIANA, 2002, p. s/p).

E a música está dentro desse contexto, participando culturalmente da

sociedade, influenciando educacionalmente em nossas vivencias e

concomitantimente nas escolas, ditando o que é relevante ou não para ser escutado

em casa e nas ruas, limitando muitas vezes a disseminação da cultura erudita “dita

como a única boa”, pois, em sua maioria está por demais distante do cotidiano,

sendo apresentada para a população somente pelos meios de comunicação de

massa em canais fechados. Logo:

Pensar a música como expressão humana contextualizada social e cuturalmente é fator fundamental para estabelecermos ações educativas que possam ter consequências relevantes na sociedade e na vida das pessoas que constituem o universo educacional, tendo em vista que cada meio determina aquilo que é ou não importante e que pode ou não ser entendido e aceito como música (MERRIAM, 1964, p. 66 apud QUEIROZ, 2005, p. 55).

Necessitamos nos apoderar dos mais variadas estilos musicais para

podermos dialogar e desmitificar o que a indústria cultural produz, que têm

positivamente o avanço tecnológico, mas que, contudo, utiliza-se das mais diversas

artimanhas para difundir ideologias, intencionalizando a acentuada divisão de

classes, sendo separado por cultura erudito e cultura popular, na tentativa de

manipulação de culturas e indução ao excessivo consumismo.

É dado tudo pronto e acabado, mas dar-se a impressão de que vivenciamos e

participamos da construção do que escutamos, lemos ou assistimos, e o mais

interessante para refletirmos é que continuamos a reproduzir conteúdos

estrangeiros, filmes, musicas, novelas, programas de TV, dentre outros, sempre

valorizando o externo que tenha uma influência econômica, sem percebermos ou

não, que continuamos a sermos colonizados e influenciados, permanecendo em

determinados momentos como meras copias.

Page 32: Elisa monografia pedagogia 2011

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2.4 CULTURA: A MÚSICA REPRESENTADA NO COTIDIANO

Uma das explanações mais complexas é falar sobre Cultura, sobre o que

emana do povo, das representações do povo trazidas, e muitas vezes figuradas por

nossas visualizações, de acordo com nosso limitado contexto social, que engloba

luta de classe, letramento, visão de mundo, mídia e a escola. Nessa ampla

discussão, delimitaremos alguns tópicos sobre a discussão de Cultura subdividida

de acordo com teóricos que discorrem essa temática.

2. 4.1 Cultura Erudita X Cultura Popular

Discorrer sobre a Cultura Erudita e Cultura Popular é falar de história, de

construção coletiva da vida humana, de uma sociedade que limita e delimita, quem

somos e como nos enxergamos, através da contextualização em que vivemos e das

leituras que fazemos de mundo. Complementa Brandão(2008) “Nós somos o

extremo da experiência em que a vida de um indivíduo precisa aprender interativa,

social e culturalmente, para torna-se um ser pessoal uma pessoa” (p.29).

Logo, estamos interruptamente relacionados a uma conjetura de experiências

e significados, que acontece em meio a um todo, sociedade, povo, família, e o

próprio, que é um ser humano único.

Dessa forma, se a cultura está diretamente ligada à construção de significados de um determinado grupo, também nesse emaranhado se dará a construção da identidade, individual e coletiva, marcada por um conteúdo reflexivo ou comunicativo que orienta o desenvolvimento das relações sociais. (OLIVEIRA, 1976, p.5 apud FRANCO, 2007, p. s/p).

Diante dessa conjuntura, nos questionamos e no mesmo instante

respondemos sobre essa divisão do erudito e do popular. E mesmo sabendo que

essa manifestação vem desde muitos séculos, é perceptível que com base em

nossa sociedade atual, a desvalorização da cultura alheia se hierarquiza a partir da

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dominação do capital, perpassando outras setores que por eles são ordenados e

legitimados. Por isso, “a cultura popular é pensada sempre em relação à cultura

erudita, à alta cultura, a qual é de perto associada tanto no passado quanto no

presente às classes dominantes” (SANTOS, 2003, p. 52).

A Cultura Erudita é vista como intelectual, ”fina”, superior e elitizada,

composta pela sociedade dominante, que tem o capital, a industria cultural, a mídia,

sendo eficaz influenciadora na cultura de massa, ou seja a detentora do poder.

Associada ao conhecimento científico a cultura dominante como referido, dita o

popular. É interessante discutirmos mais sobre essa idéia a partir de alguns autores

que estudam essa temática. Santos (2003) ressalta que:

É a própria elite cultural da sociedade, participante de suas instituições dominantes, que desenvolve a concepção de cultura popular. Esta é assim duplamente produzida pelo conhecimento dominante. Por um lado porque, na formação de seu próprio universo de legitimidade, muitas manifestações culturais são deixadas de fora. Por outro lado porque é o conhecimento dominante que decide o que é cultura popular. (p. 51)

É entender que, em sua maioria falar do que é cultura do povo, não irá sair

dele e sim de um grupo de pessoas que já detêm se não for o poder aquisitivo (a

elite), é leitura e a escrita, na mais completa forma o letramento, decidindo assim, o

que é de fato Erudito e o iremos aceitar como Cultura Popular. Silva (2008) nos

afirma que “no Brasil a idéia de Cultura (pelo menos a denominada “cultura de

verdade” ou a “alta cultura”) remete para um conjunto de bens materiais e imateriais

possível de ser apropriado e elaborado por uma minoria, uma elite endinheirada”

(p.7).

A complexidade desse tema reflete até nas universidades, que constroem,

registram ou se omitem através de suas pesquisas realizadas sobre o saber popular,

pois, trazem o seu olhar, que já está enraizado com ranços da “colonização” em nós,

legitimada pelos poderosos de nossa sociedade, portanto, ao escreverem acabam

priorizando uma cultura ou uma determinada manifestação, não abrangendo assim,

a imensidão de culturas que há em cada território.

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33

A manutenção dessa polarização é uma atitude política, pois a reversão dessa idéia passa pela transformação das relações sociais e das desigualdades entre as classes sociais. O conhecimento de determinada cultura possibilita os instrumentos necessários para sua dominação, disso, o poder constituído preocupa-se em definir, em entender, em controlar e em infiltrar na cultura os seus próprios interesses (MICCHELINI, 2007, p. s/p).

É interessante entendermos que a música esta diretamente ligada a essa

construção histórica cultural, sendo influenciada também pela classe dominante, que

a divide em música erudita e música popular. Então, música é cultura, pois expressa

sentimentos, que perpassa nas inter-relações sociais, podemos dizer que é

comunicação. Portanto:

Destaca-se como fator determinante para a constituição de singularidades que dão forma e sentido a práticas culturais dos mais variados contextos. As performances musicais, em suas múltiplas expressões, representam fenômenos significativos nas expressões, representam fenômenos significativos nas configurações de distintos grupos e/ou contextos étnicos, estando presente em manifestações diversas dos indivíduos em sua vida cotidiana (QUEIROZ, 2005, p.51).

Reproduzimos o que significamos e vivenciamos no cotidiano dependendo do

seu local de origem, e o mesmo acontece com a cultura da música. “Homens de

culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto têm visões desencontradas das

coisas” (LARAIA, 2009, p.67).

Lembremo-nos que a cultura popular não deveria se remeter somente a

população pobre, pois muitas vezes a cultura de um povo é abarcada por todas as

classes sociais. Nesse momento percebemos que “não há também fronteiras rígidas

entre a cultura popular e erudita: elas se comunicam permanentemente” (SILVA,

2008, p.24). É nivelando conhecimentos, respeitando culturas, pensando

igualitariamente, que poderemos fazer de nossas crianças seres livre, multicultural,

multiétinico, multiracial, poderíamos dizer humanos.

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Vejamos a relevância de trabalhar nossa cultura, pois, mesmo tendo o mesmo

ritmo, harmonia, letra, a melodia irá variar de acordo com seus significados.

Podemos morar na mesma cidade e cantarmos a mesma música de forma diferente,

e isto está muito presente nas cantigas de roda, por ser uma tradição oral, passada

de geração em geração, no qual cada comunidade traz em sua raiz sua maneira de

cantar, ou seja, suas especificidades.

Nossa riqueza musical não obedece à lógica dos mapas geográficos. A diversidade é a essência da nossa produção musical, reflexo de um processo de formação intercultural e que hoje representa a mais completa tradução das características étnicas de cada região do país, conjugando diferentes cantos, ritmos e sons (MURRAY apud in SILVA, 2008, p.106).

Somos produtos de nossas vivências, por isso respiramos e construímos a

todo momento nossa cultura popular, também através de nossas músicas, que de

fato se confirma na cultura do povo, na forma de expressão de sentimentos que

permeiam o nosso meio social, nesse contexto a musica é vista como fenômeno

cultural. Dessa maneira, Merriam (1964) citado por Queiroz (2005) destaca que “A

música como fenômeno cultural constitui uma das mais ricas e significativas

expressões do homem, sendo produto das vivências, das crenças, dos valores e dos

significados que permeiam a vida” (p.52)

Diante dessa explanação sobre cultura e música que estão interligadas,

compreendemos que a escola faz parte desse contexto cultural musical, de modo a

estar presente nos corredores, nas conversas em sala, no cotidiano. Então,

devemos utilizar desse propicio ambiente para quebrar paradigmas musicais e

culturais entre erudito e popular, abrangendo a vida de toda uma sociedade, das

raízes dessa sociedade, aprendendo o respeito às culturas.

Enfim, é preciso recusar a hierarquização das expressões culturais e sua articulação em culturas subalternas e culturas dominantes. É necessário uma outra visão do processo cultural como um todo, mas também da educação e da escola (SILVA, 2008, p.9).

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Precisamos ver a escola como local propício a trocas de aprendizados em

culturas, e principalmente como legitimador, valorizador no reconhecimento de

identidades. Identidades essas que trazem em sua história músicas folclóricas, como

as cantigas de roda, que se perdem no universo da industria cultural, formando

crianças cada vez mais distantes de suas raízes, podemos concluir que delas

mesma.

2.4.1.1 Cantigas de Roda: Ramificações da Cultura Popular

As Cantigas de Roda ou Cantigas Infantis foram trazidas pelos portugueses

para o Brasil, eram brincadeiras típicas de meninas, que durante muitos anos foram

as principais brincadeiras das crianças, Essas:

(...) manifestações musicais rurais populares ou folclóricas no Brasil aparecem, segundo Schurman(1989) um outro exemplo de expressão de emoções, uma vez que música interrelaciona atividades de subsistência concepções religiosas vigentes. As manifestações musicais daí derivados associa-se, segundo o autor, ora as práticas rituais, ora a atividades de contar estórias (como os contadores nordestinos) (FREIRE, 1992, p.91).

Destacamos a importância do resgate do prestígio da cultura das Cantigas de

Roda, pois, é uma tradição oral popular que perpassa as gerações, fazendo parte

também do nosso folclore, e sua ausência promoverá um empobrecimento cultural.

Segundo Moura (1996):

O cancioneiro folclórico infantil de nossa terra é de grande riqueza rítmica e melódica, devendo ser largamente explorado na musicalização. Ao cantar melodias pertencentes ao folclore, a criança assimila e, consequentemente, preserva expressões vitais da cultura de seu povo (p.10).

Martins (2003) vem nos afirmar que as Cantigas podem em sua utilização ir

formando o homem em sua integralidade , pois, “as Cantigas de Roda são poesias e

poemas cantados em que a linguagem verbal (o texto), a música (o som), a

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coreografia (o movimento) e o jogo cênico (a representação) se fundem numa única

atividade lúdica”. Elas são ricas em significação para o crescimento infantil como

símbolos e os signos, pois, utiliza-se também dos movimentos além das palavras.

Segundo Merriam:

(...) quase não há duvidas de que a música funciona em todas as sociedades como uma representação simbólica de outras coisas, idéias e comportamentos.(...) pode ser considerada nestes quatro níveis: significação ou simbolização existente nos textos de canções; representação simbólica de significados efetivos ou culturais; representação de outros comportamentos e valores culturais; simbolismo profundo de princípios universais. (MERRIAM, 1964, p.258 apud FREIRE, 1992, p.21-22).

Essas significações promovem uma aprendizagem mais proveitosa, dinâmica,

podendo ser vista e trabalhada de forma interdisciplinar pelo docente,

reconhecendo-se como mediador e valorizador de culturas dentro do processo

educativo, propondo situações de ensino e aprendizagem, para que as crianças

possam edificar conhecimentos sobre a música e em especial sobre o nosso folclore

que é repleto de brincadeiras e cantigas, enfatizando que:

O folclore pode trazer à música erudita suas experiências de contato com o cotidiano: expressões de uma sensibilidade às voltas com as alegrias dificuldades familiares, emoções e pensamentos que se enraízam num real vivido etc. Pelo que é expresso, pela maneira exprimi-lo chegamos ao acessível, isto é, a uma base comum onde muitos vão se reconhecer, um laço estabelece-se, assim, entre os ouvintes (SNYDERS, 1997, p.168).

Analisando que a presença da música na educação pode estimular as

diversas habilidades do indivíduo na sua inserção na sociedade, pois, ajuda no seu

desenvolvimento a se guiar e se reconhecer no ambiente. Lembrando que hoje, ela

é utilizada em múltiplos aspectos por nos proporcionar, ao ouvi-la, as mais diversas

emoções, nos dando sensações de tranqüilidade, alegria, tristeza, entre diversas

outras, sendo trabalhada em terapias, ensinos, inclusão de crianças portadoras de

deficiências, favorecendo assim a desinibição e envolvimento social.

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Nas brincadeiras, as cantigas de Roda que faziam parte do dia-a-dia das

crianças, deixaram de ser reproduzidas perdendo, espaço para nos meios de

comunicação e para jogos mais atualizados, desaparecendo esses significativos

momentos de interação construção de aprendizagem com o outro. Afirma Howard

(1984):

Acredito que o velho costume de contar histórias de fadas e cantar para às crianças, que se perdeu em nossa época, era excelente: o somente despertar sua curiosidade, sua alegria, seu entusiasmo tudo aquilo que fosse impressão sensorial pura, pelos sons e pelos timbres (p.28).

Essa Cultura Popular, mantém sua longevidade através da oralidade,

emanada do povo, das vivencias, das representações sociais que a sociedade nos

apresenta, sendo representada por danças, cantigas e ritos. Por isso, a necessidade

de preservação dessa cultura, das mais variadas formas de cultura, do incentivo à

aceitação da identidade local, não a valorização e imposição subliminar da cultura

midiática

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38

CAPITULO III

3. CAMINHOS METODOLÓGICOS TRILHADOS

A metodologia é o segmento pelo qual, podemos atingir a um determinado

alvo, de forma a tentar abranger todas as hipóteses possíveis, para uma melhor

interpretação de determinado objetivo. Como nos mostra Garcia (2003):

A metodologia de pesquisa é completamente interessada nos processos que buscam, simplesmente, mudar o mundo. Indagando os processos permanente produzidos nas relações sociais para ofuscar e ocultar as múltiplas dimensões da realidade e do ser humano, a pesquisa amplifica as possibilidades de interpretação e compreensão do cotidiano e vai encontrando meios para melhor compreender a complexidade humana (p.128).

Dessa forma, nota-se a importância da metodologia em pesquisa, e do

pesquisador como modificador de relações sociais, que se efetiva através de uma

boa pesquisa, caracterizando numa metodologia significativa. Como nos traz Demo

(1991) “por qualidade científica entendemos predominantemente a perfeição

metodológica, o domínio dos instrumentos teóricos e experimentais, o traquejo em

técnicas de coleta e mensuração de dados”, (p.17).

A pesquisa é um estudo meticuloso, que requer uma finalidade, uma

curiosidade, que parte do pesquisador diante da realidade que lhe inquieta. E para

compreendermos como se realiza uma pesquisa:

É preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele. Em geral isso se faz a partir do estudo de um problema, que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a uma determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.1-2).

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39

A pesquisa será de cunho qualitativo que segundo Bogdam e Biklem (1982

apud LUDKE; ANDRÉ, 1986): “envolve a obtenção dos dados descritivos, obtidos no

contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do

que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. (p.29).

A pesquisa qualitativa diferente da quantitativa, busca utilizar-se do ambiente

natural para como obtenção de dados para a pesquisa e o pesquisador como

instrumento. André (1995) a distingue quando afirma que:

Qualitativa porque se contrapõe ao esquema quantitativista de pesquisa (que divide a realidade em unidades passíveis de mensuração, estudando-as isoladamente), defendendo uma visão holística dos fenômenos, isto é, que leve em conta todos os componentes de uma situação em suas interações e influências recíprocas (p.17).

Ou seja, buscando respeitar o contexto social do sujeito, suas emoções e

vivências, descartando o método cartesiano na pesquisa em educação. Pois, são

várias as vantagens da utilização de dados qualitativos, podemos “apontar que eles

permitem apreender o caráter complexo e multidimensional dos fenômenos em sua

manifestação natural” (TIKUNOFF ; WARD, 1980 apud ANDRÉ, 1983, p.66).

3.1 LÓCUS

O lócus de pesquisa escolhido foi a Escola Municipal FUNDAME - Fundação

de apoio a Criança e ao Adolescente, está situado na Rua 02, Quadra B, nº. 49,

Casas Populares e essa Fundação de apoio a Criança e ao Adolescente tem caráter

filantrópico com formação cristã evangélica, sem fins lucrativos, sendo seu objetivo,

promover assistência social, educacional e religiosa às crianças e aos adolescentes

menos favorecidos da cidade de Senhor do Bonfim.

A escola foi escolhida por conta de sua clientela, ou seja, por atender

crianças da Educação Infantil da classe popular, que estão mais alheias a

diversidade musical e em sua maioria distante da música de qualidade, visando

Page 41: Elisa monografia pedagogia 2011

40

assim contribuir para a educação de forma direta ou indireta em meu bairro, na

valorização da boa música e do prestigio das Cantigas de Roda.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA

Os sujeitos da pesquisa foram 3 (três) grupos: dos alunos que foram vinte

(20) discentes do 1º período da Educação Infantil, com faixa etária de 3 a 5 anos e

dos pais, no qual são provindos do contexto social referente à classe popular, onde

a música escutada e trazida ao âmbito escolar resume-se a escutas de baixa

qualidade e desvalorização do sujeito. Essas crianças fazem duas refeições no

âmbito escolar pelo horário matutino: o café da manhã e o almoço por muitas delas

não terem essa alimentação saudável em suas casas. E da pesquisadora, que traz

consigo uma experiência em música e em ensino com cantigas de roda na educação

infantil, sendo a professora dos discentes pesquisados e lidando diretamente com os

pais deles.

3.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Somente através dos instrumentos utilizados em pesquisas que podemos

compreender ou responder inquietações, utilizando das respostas para ajudar de

forma direta ou indiretamente na vida da sociedade, fazendo com que ocorra

pequenas mudanças, que faz-se possível através do pesquisador. Que segundo

André (1995) “o pesquisador é instrumento principal na coleta e na análise dos

dados” (p.28).

Utilizamos como instrumento de investigação a observação participante, o

diário de bordo contendo a experiência diária com a turma (utilizando das cantigas

de roda), conversas com os pais e familiares e experiência em outras turmas (sem

cantigas de roda), a entrevista semi-estruturada e mapas mentais.

Page 42: Elisa monografia pedagogia 2011

41

3.3.1 Observação participante ou etnográfica

Ressaltamos a importância das visitas exploratórias e observações, pois, com

elas podemos perceber as necessidades visíveis e ter uma aproximação maior com

os sujeitos pesquisados. Como afirma Barros e Lehfeld (2000):

Observar é aplicar atentamente os sentidos a um objeto para dele adquirir um conhecimento claro e preciso. É um procedimento investigativo de suma importância na Ciência, pois é através dele que se inicia todo estudo dos problemas (p.61).

A observação participante o pesquisador ele vivencia, participa e interage do

ambiente pesquisado, ou seja, “consiste na participação real do pesquisador com a

comunidade ou grupo” (LAKATOS; MARCONI, 1991, p.194), complementando

André(1995) afirma que “a observação é chamada de participante porque parte do

principio de que o pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação

estudada, afetando-a e sendo por ela afetada” (p.28)

Foi escolhida como instrumento de coleta a observação participante ou

etnográfica por a pesquisadora estar em contato direto com o sujeito e ser sujeito na

pesquisa. Trazendo através as suas percepções, vivências, estudos e práticas

realizadas em música, para o ambiente pesquisado com duração de um ano. Como

afirma Fiorentini (2006):

A observação participante é uma estratégia que envolve não só a observação direta, mas todo um conjunto de técnicas metodológicas (incluindo entrevistas, consulta a materiais etc.), pressupondo um grande envolvimento do pesquisador na situação estudada (p.108).

Logo, sendo a professora dos pesquisados fazia-se necessário refletir a

prática em sala, tendo o cuidado de analisá-los enquanto sujeito sendo fiel ao

observado, e através do trabalho realizado perceber e compreender que ha uma

influencia no intuito de tentar modificar o quadro encontrado, pois, a pesquisa é

reflexo da efetivação da proposta apresentada e é neste momento que me constituo

Page 43: Elisa monografia pedagogia 2011

42

sujeito da pesquisa.

É relevante discorrer sobre a etnografia que se fundi na pesquisa aqui

realizada, que tem como instrumento essencial a observação participante ou

etnográfica. Como ressalva André (1995) os etnógrafos que tem como foco de

interesse a “descrição da cultura (práticas, hábitos, crenças valores, linguagens,

significados) de um grupo social, a preocupação central dos estudiosos da educação

é com o processo educativo” ( p.28).

A etnografia busca compreender o contexto do sujeito como um todo,

respeitando, observando e vivenciando a realidade, coletando assim, ao máximo as

informações obtidas. Como relata Geertz (2008): “(...) praticar a etnografia é

estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar

genealogias, mapear campos, manter um diário, e assim por diante” (p.4).

Na busca de compreender o objeto estudado conectado através dessa rede

complexa de informações a etnografia tem por objetivo, como afirma Geertz (2008)

“é tirar grandes conclusões a partir de fatos pequenos, mas densamente

entrelaçados; apoiar amplas afirmativas sobre o papel da cultura na construção da

vida coletiva empenhando-as exatamente em especificações complexas” (p. 19- 20).

Essa junção da Observação diretamente ligada com a etnografia vem

enriquecer as mais diversas formas de fazer pesquisa, sendo de grande relevância,

pois o observador e o observado ao interagir facilitam o entendimento do significado

que os sujeitos dão à realidade. Para Mann (1979, p.96), “a observação participante

é uma tentativa de colocar o observador e o observado do mesmo lado, tornando-se

o observador um membro do grupo de modo a vivenciar o que eles vivenciam e

trabalhar dentro do sistema de referência deles” (apud FIORENTINI, 2006, p.194).

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43

3.3.2 Entrevista semi-estruturada

A entrevista nos possibilitou compreendermos e alcançarmos às respostas de

nossas indagações. Pois, como nos afirma Ludke e André (1986) “a grande

vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata

e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e

sobre os mais variados tópicos” (p.34).

Possibilitando-nos uma interação maior com o indivíduo, tendo assim uma

visão mais ampla do objeto a ser pesquisado, pois o entrevistador tem a

oportunidade de perceber expressões faciais e corporais, entonações diferenciadas

nas falas e gestos, facilitando na elaboração da análise dos dados. Logo, notamos

que “a entrevista possibilita registrar, além disso, observações sobre aparência, o

comportamento e as atitudes do entrevistado. Daí sua vantagem sobre o

questionário” (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007, p. 52).

Escolhemos a entrevista semi-estruturada que por sua vez também utiliza de

um roteiro de perguntas, mas, permiti uma flexibilidade no momento em que

acontece a entrevista com o sujeito. Ludke e André (1986) nos mostra que a

entrevista semi-estruturada, se desenrola a partir de um esquema básico, porém não

aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias

adaptações (p.34). Com isso, o entrevistador precisa estar atento a algumas

questões para que a entrevista seja bem sucedida. Então:

O entrevistador deve manter-se na escuta ativa e com a atenção receptiva a todas as informações prestadas, intervindo com discretas interrogações de conteúdo ou com sugestões que estimulem a expressão mais circunstanciada de questões que interessem à pesquisa. A atitude disponível à comunicação, a confiança manifesta nas formas e escolhas de um diálogo descontraído devem deixar o informante inteiramente livre para exprimir-se sem receios, falar sem constando-os no contexto em que ocorrem (CHIZZOTTI, 1991, p.93 apud FIORENTINI, 2006, p.122).

O entrevistador tem por finalidade deixar o entrevistado acomodado para que

Page 45: Elisa monografia pedagogia 2011

44

possa se expressar de maneira espontânea, sem medo de ser criticado, servindo

assim, como técnica de obtenção eficaz de dados para a pesquisa. Então, para a

realização das entrevistas com os alunos, foi necessário que acontecesse

individualmente, deixando-os mais à vontade no intuito de propiciar no ambiente

uma entrevista espontânea e eficaz.

3.3.3 Diário de campo ou de bordo

O diário de campo ou de bordo como é chamado por alguns autores é um

instrumento de coleta de dados muito rico para a pesquisa, pois, são anotações da

percepção do pesquisador ao objeto e ao contexto de vivência do pesquisado. Como

afirma Fiorentini (2006):

Um dos instrumentos mais ricos de coleta de informações durante o trabalho de campo é o diário de bordo. É nele que o pesquisador registra observações de fenômenos faz descrições de pessoas e cenários, descreve episódios ou retrata diálogos. Quanto mais próximo do momento da observação for feito o registro maior será a acuidade da informação (p.118 e 119).

Por isso, no diário “deverão ser registradas com exatidão e muito cuidado as

observações, percepções, vivências e experiências obtidas na pesquisa” (BARROS;

LEHFELD, 2000, p.89). O diário pode ter duas perspectivas, uma descritiva e outra

interpretativa. A primeira utiliza-se da descrição e a segunda de toda a

contextualização envolvida do sujeito pesquisado. Fiorentini (2006) define as duas

perspectivas de maneira distinta e bem perspicaz:

A perspectiva descritiva atém-se à descrição de tarefas e atividades, de eventos, de diálogos, de gestos e atitudes, de procedimentos didáticos, do ambiente e da dinâmica da prática, do próprio comportamento do observador etc. A perspectiva interpretativa, por sua vez, tenta olhar para a escola e a sala de aula como espaços socioculturais produzidos por seres humanos concretos, isto é, por sujeitos que participaram da trama social com seus sentimentos, idéias, sonhos, decepções, intuições, experiências, reflexões e relações interpessoais (p.119-120).

Page 46: Elisa monografia pedagogia 2011

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E o autor vem finalizando a importância de mesclarmos as formas de

utilização das duas perspectivas ao escrever no diário na busca do equilíbrio. Então,

“para que o diário não seja meramente técnico ou muito genérico e superficial,

recomenda-se que busque contemplar de forma equilibrada essas duas

perspectivas” (FIORENTINI, 2006, p.119- 120).

É importante registrar tudo o que se for observado, como impressões, falas,

considerações, e até expressões faciais e corporais, sempre contextualizando para

que seja de fácil compreensão quando o diário for lido, de qual foi o momento e

reações dos pesquisados. Essas “situações e outras ocorrências durante o trabalho

de campo sirvam para melhor contextualizar dados levantados e ajudar a reconstruir

os fatos observados” (BARROS; LEHFELD, 2000, p.89).

3.3.4 Mapas mentais

Mapas mentais são representações espaciais que os indivíduos têm do

contexto em que estão inseridos, que podem estar em sua mente de forma implícita

ou explicita. E, “o mapa mental permitirá a afloração e a identificação de coisas

(percepções) que o lado esquerdo do cérebro, responsável pela racionalidade e a

lógica, normalmente bloqueia” (GÓES, 2009, p.251).

As representações sociais que temos estão diretamente ligadas as nossas

relações do cotidiano, nossa maneira de ver a vida e nossas formações. Fischer

(1964, p.82) confirma esse ponto de vista do pesquisador “interessado em identificar

no mapa que o indivíduo tem em sua cabeça a relação que ele estabelece entre os

dados físicos do ambiente e sua importância para ele” (apud ANADÓN; MACHADO,

2003, p.66).

E são por vias dessas representações que são criados nossos mapas

mentais que “estabelecem uma variedade significativa das compreensões de cada

indivíduo, que poderão ser representadas nos grafismos, desenhos, pequenos

textos entre outros” (ALMEIDA, 2006, p. 36).

Page 47: Elisa monografia pedagogia 2011

46

Aplicamos os mapas mentais em alunos com idades entre 3 a 5 anos,

cursando o 1º período da Educação Infantil. As crianças foram colocadas sentadas

no ambiente cotidiano de sua sala, com um som ambiente, então, pedimos que

desenhassem em uma folha de papel oficio eles cantando e em outra em outro

momento, como eles ficariam se a gente não cantasse mais na salinha.

Page 48: Elisa monografia pedagogia 2011

47

CAPITULO IV

4. ANALISANDO AS ENTRELINHAS DO CAMINHO

Apresentaremos neste capitulo os resultados obtidos nesta pesquisa que teve

como objetivo analisar a presença das Cantigas de roda no universo musical das

crianças, compreendendo o impacto da mesma na aprendizagem dos alunos.

Portanto, ressaltamos na nossa análise e interpretação de dados, ao qual tivemos

como fonte: a observação participante, entrevista semi-estruturada, diário de bordo e

os mapas mentais.

Optamos por analisar e interpretar os dados coletados seguindo os seguintes

pressupostos: da utilização da associação entre o que visualizamos no decorrer da

observação participante, das anotações feitas no diário de bordo, nas entrevistas

feitas com as crianças e conversas com pais e crianças no cotidiano e leituras

realizadas a partir dos mapas mentais.

Estabelecemos três categorias, que nos possibilitaram compreender nossas

inquietações, distanciamentos e aproximações existentes nas informações obtidas.

Ressaltamos ainda, que todas as nossas interpretações foram norteadas por nosso

quadro teórico, sem nos afastar dos objetivos traçados.

Destacamos que essa pesquisa foi analisada a partir de três grupos de

sujeitos, a qual nos possibilitou chegarmos às conclusões relatadas na pesquisa.

Esses grupos sujeitos foram: os pais, os alunos e a pesquisadora que traz consigo

uma experiência em música, na qual influenciou em suas percepções e

interpretações dos dados na referida pesquisa.

Para uma melhor compreensão apresentamos três categorias que surgiram

no decorrer da nossa pesquisa, foram: o olhar da pesquisadora enquanto educadora

nesse caminho percorrido, o impacto da música no desenvolvimento cultural na

Educação Infantil e a influência da música no cotidiano das crianças. Optamos em

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representar as crianças com nomes de cantigas de roda entre parênteses e o os

pais e irmãos pelas siglas P1, P2, P3, P4... assim, sucessivamente.

4.1 O OLHAR ENQUANTO EDUCADORA NESSE CAMINHO PERCORRIDO

Refletir impactos da música em sala foi fascinante e complexo, pois,

compreendemos o quanto é desafiante interpretar silêncios, expressões faciais,

corporais e desenhos através de mapas mentais. Para isso, utilizamos o diário de

bordo onde relatamos o cotidiano das crianças no ambiente escolar e fora dele,

através dos pais. Achamos de suma importância relatar resultados de experiências

anteriores em Educação Infantil para uma melhor compreensão de como resultaram

(cheguei) nessas reflexões. Como ressalta Freire(1996):

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque busco, porque indaguei, porque e me indago. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (p.29).

Consideramos, portanto, a significativa relevância de fazer uma breve análise

das atividades como docente durante o período de realização da pesquisa

ensinando na Educação Infantil, com a música e em especial as Cantigas de Roda.

Pois, todo o meu conhecimento adquirido foi no decorrer das experiências em

música, no cotidiano em sala e no meio acadêmico, é fator preponderante para

minhas leituras e interpretações dessa pesquisa. Como afirma Snyders (1997)

“nosso cotidiano, em matéria de gostos, necessidades e valores, não se reduz ao

estéril, ao manipulável do exterior, mas já possui as marcas da importância e da

significação sob a forma do pressentimento, da espera” (p. 17). Mostrando-nos que,

somos frutos das experiências e do meio em que vivemos, ou seja, dos estímulos da

sociedade.

É interessante ressaltar a minha primeira experiência sem a utilização das

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49

cantigas de roda, pois, senti diversas dificuldades em trabalhar com crianças

inquietas, ativas, de fácil dispersão e algumas bastante agressivas, como

normalmente encontramos em nossas escolas, necessitando de um domínio maior

em sala e por serem crianças, naturalmente se solicita uma diferenciada

metodologia. Como declara Kramer (2001):

(...) reconhecer que as crianças são diferentes e têm especificidades, não só por pertencerem a classes diversas ou por estarem em momentos diversos em termos do desenvolvimento psicológico. Também os hábitos, costumes e valores presentes na sua família e na localidade mais próxima interferem na sua percepção do mundo e na sua inserção (p. 22).

Hoje percebo que poderia ter atuado e transformado algumas realidades, não

acuso a ausência das cantigas de roda como fator predominante para que isso

viesse a ocorrer e sim a sua utilização como metodologia para que eu pudesse

tentar intervir no quadro encontrado, acreditando que seria uma maneira eficaz para

que a aula flui-se.

O segundo momento em que me deparei com uma sala do infantil foi uma

proposta na grade do curso da Universidade, um estágio de regência numa sala de

1º período. No primeiro dia de observação, surgiu a necessidade de ficar com as

crianças sozinha naquela sala super lotada, a forma que encontrei de acalmar e

diverti-las foi exatamente através das Cantigas de Roda, então me propus a utilizá-

las para embasar com mais eficácia meus dias em sala.

Foram dias desafiadores, pois, os momentos que melhor interagíamos eram

quando estávamos em contato com a música, então aproveitei dessa condição para

cantando explicar as regras de momentos escolares determinados como lavar as

mãos, ficar na rodinha, fazer fila e merendar, tudo com muita música. E, como afirma

Jannibelli (1971) a música:

Page 51: Elisa monografia pedagogia 2011

50

(...) se destaca como sendo o setor da educação que estimula, de maneira especial, o impulso vital e as mais importantes atividades psíquicas humanas: a inteligência, a vontade, a imaginação criadora e, principalmente, a sensibilidade e o amor. Nisto está sua peculiaridade, pois reúne harmoniosamente, com conhecimentos, sensibilidade e ação (p. 21).

No decorrer das experiências vou me aprimorando e acredito que já é notório

como a música sensibiliza as crianças, criando assim um propício local para nos

aproximarmos, utilizando através das canções para trabalhar todas as matérias

propostas (português, matemática, ciências sociais e ciências naturais).

Mas, é indispensável perpassar esses momentos determinados, como a

chegada, hora do lanche, fazerem silêncio ou a saída. No intuito de valorização da

cultura das cantigas de roda, para isso, utilizei de momentos de brincadeiras de

roda, também levei a flauta transversal (instrumento o qual toco constantemente) e

toquei diversas cantigas para eles, o ensino a apreciação musical, a sensibilização

auditiva, motora e desenvolvimento na dicção, acreditando que assim, posso ser

contribuidora na educação através da música, estando consciente que:

A música pode produzir muitos efeitos, melhor as condições de vida, desenvolver a sociabilidade, mas o maior ganho que proporciona aos praticantes é torná-los sensíveis aos sons, capazes de lidar com eles de forma efetiva e criativa e permitir que desfrutem da imensa alegria de fazer música (BASTIAN, 2009, p.10).

O momento de maior interação em sala de aula, com aquelas crianças de 1º

período, acontecia quando cantamos a música da Chapeuzinho Vermelho, uma das

que eles mais gostavam, pois imitávamos as vozes e participavam ativamente na

história, logo, víamos e sentíamos o ambiente se contagiar de tanta alegria,

propiciando introduzir assuntos com cartazes coloridos, desenhos e materiais

concretos, trabalhávamos as músicas, sendo uma maneira de aprender

prazerosamente, pois, como criança e música é movimento ambos se completam.

Apreendendo que essencialmente:

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Uma metodologia que tenha por objetivo favorecer o desenvolvimento intelectual deve criar situações para que a criança manifeste seu pensamento através das mais variadas atividades. Essas atividades deverão propiciar não só a interação com o meio físico, oferecendo oportunidades de observação, exploração, experimentação e a manipulação de materiais concretos que correspondam às necessidades e interesses das crianças, como também a interação com o meio social. (NICOLAU, 1990, p.95)

Para isso, algumas Cantigas de Roda utilizadas foram: Borboletinha, Fui ao

Mercado, Atirei o pau no gato, Pirulito que bate – bate, meu pintinho amarelinho,

Ciranda Cirandinha (Algumas conhecidas por eles) e Sapo Cururu, Fui Morar Numa

Casinha, Bom Dia, Havia uma barata careca do vovô, Alface Nasceu, Indiozinho,

Seu Lobato tinha um sítio, Quanta laranja, A canoa virou, peixinho do mar, A Pulga e

o Percevejo e seu lobo (músicas apresentadas2).

4.2 PERCEPÇÃO DOS PAIS EM RELAÇÃO À MÚSICA

É importante destacar a visualização e comentários dos pais em relação à

música, como influenciou seus filhos no seu aprendizado, comportamento em casa e

sala de aula. Mostrando que:

Se pretendemos a libertação dos homens não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É a práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo (FREIRE, 1987, p.67).

Para tanto, dialogar com os pais3 me ajudou a entender e confirmar que seus

filhos aprendiam cantando, “P1 relata - essa menina canta e dança igualzinho a

senhora”, muitas vezes se emocionando com o desenvolvimento das crianças,

sendo percebidos por atitudes em suas casas, os inquietando e os fazendo vir ao

2 - São as músicas que no decorrer da história vão sendo cantadas com gestos e vozes diferenciadas.

3 - Para representar a fala dos pais e irmãos dos alunos utilizei as siglas P1, P2, P3... sucessivamente.

Page 53: Elisa monografia pedagogia 2011

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meu encontro para agradecer e saber mais sobre o aprendizado do seu filho.

Somente assim, pode ser compreendido e feito uma intervenção nos espaços, como

afirma Gandim (2000):

Só quando conhecemos a realidade existente é que podemos falar em transformação, tendo em vista que não podemos mudar o que não sabemos como é. De resto, é esse conhecimento da realidade que nos possibilita fazer uma proposta adequada para a transformação (GANDIM, 2000, p.35 apud SOUZA, 2005, p.29).

No decorrer do ano as intervenções foram feitas e a cada dia iam

acontecendo mudanças de comportamentos. Percebendo, como destaca Hernandez

(1998, p.31) citado por Souza (2005) que “o aluno aprende (melhor) quando torna

significativa a informação ou os conhecimentos que se apresentam na sala de aula”

(p.100). Os pais e irmãos começaram serem “obrigados” a ouvir e cantar com seus

filhos e irmãos, pois "eles cantavam e dançavam o dia todo" as Cantigas de Roda

aprendidas em sala, expressões ditas por pais, que me relatavam ao chegar à

escola nos dias posteriores. Algumas falas de pais e irmãos4:

P1- Essa menina não para de cantar e dançar o dia todo; P2- Oxe! Essas músicas ela canta lá em casa todos os dias; P3- Ela bota eu, o pai e a irmã no sofá e fica cantando e dançando essas músicas que você canta; P4- Ele me ensina pra eu cantar com ele essas músicas principalmente Pombinha branca; P6- eu pensava que essa música era invenção dela que na existia (irmã da criança).

Mas, somente é possível essa intervenção no cotidiano das crianças se

houver diálogo, confiança e admiração no contato com o professor. Como afirma

Freire (1987) “o pensar do educador somente ganha autenticidade do pensar dos

educandos, mediatizados ambos pela realidade, portanto, na intercomunicação”

(p.64).

4 -As falas estão escritas fielmente como foram relatadas e também são falas dos pais as que estão

escritas em itálico e estão entre aspas.

Page 54: Elisa monografia pedagogia 2011

53

Logo, começaram a compreender que a cada relação que seus filhos faziam

com a letra do que cantavam com animais e objetos do seu cotidiano os deixavam

mais “espertos e sabidos”, que ao cantar a música dos numerais e alfabeto

lembravam de sua idade, acompanhava com os dedos, com figuras de números e

letras e associavam com seu nome, dos demais e a coisas a sua volta, pois, como

ressalta Bastian(2009) “ a música desperta as qualidades mais humanas e,

adicionalmente, serve de apoio para o desenvolvimento das competências

escolares” (p.11). Como diziam alguns pais:

P1- Pró tu não sabe...minha filha já tá escrevendo o nome dela e fazendo a tarefinha sozinha, fiquei emocionada quando vi, chorei e tudo; P2- Essa menina é impossível só se aquieta quando tá brincando de escolinha ela diz que é a pró e pica o pau a cantar as musiquinhas P5- Esse menino anda cada dia mais esperto e sabido;

.

Nota-se que os comentários desses pais são de pais presentes e atentos ao

desenvolvimento dos filhos. Mas é relevante ressaltar que esses comportamentos

das crianças deveriam ser estimulados por estarem na fase pré-escolar, onde sua

integração ao meio vai edificando seu cognitivo, afetivo e motor. Como afirma

Nicolau (1990):

Na fase pré-escolar, a criança está construindo uma estrutura de pensamento e essa construção vai sendo realizada à medida que ela interage com o meio, incorporando e transformando as informações que dele recebe. Quanto mais estimulador for o ambiente e quanto mais possibilidades de ação forem dadas à criança, mais rica será essa construção (p.96).

Foi interessante saber que muitas crianças aprendiam a me respeitar como

professora, a gostar dela mesma, a cuidar do colega, abraçá-lo e aceita-lo através

da música e das histórias infantis representadas, que se utilizava também da música

para contá-las, formando um grande laço de afetividade foi à metodologia mais

eficaz para nos aproximarmos e termos uma boa convivência durante o ano. A

música "fortalece o desejo de auto-expressão, aumentando seu entusiasmo de

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54

utilizá-la, como recurso de exteriorização do seu "eu" interior. (CAMARGO, 1994, p.

138). Esse vínculo pode ser percebido através dos mapas mentais, vejamos:

Figura 1- (Formiguinha) Vínculo professor x aluno Figura 2- (Alecrim) Vínculo professor x aluno

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

Todas as minhas experiências em Educação Infantil foram com a mesma

faixa etária, série e utilizando-se da música, como está posto nos três relatos. Pois,

como destaca Moura (1996) “é importante que, em todo e qualquer contexto de

ensino-aprendizagem, a integração dos elementos musicais seja observada” (p. 9).

4.3 O IMPACTO DA MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO CULTURAL NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Sabemos que cotidianamente as crianças são bombardeadas por músicas e

desenhos, presentes na mídia, reforçado por seus pais ao escutarem e por motivos

diversos, ao deixarem assistir TV para entretê-los, conseqüentemente refletindo em

seus comportamentos na sala de aula. "Hoje em dia, as mídias, como são

chamadas, ou os meios de comunicação social, sobretudo a televisão, têm uma

influência marcante na primeira cultura, principalmente na infância”. (Gadotti, 1982,

p.82).

Page 56: Elisa monografia pedagogia 2011

55

Foi notório na escola ver as crianças o tempo inteiro brincando de se

transformar em vampiros, mutantes, homem aranha, Ben10, pica-pau e lutando

constantemente. E, como afirma Aplle (1999):

O conhecimento formal e informal é utilizado essencialmente como um filtro complexo para processar as pessoas, habitualmente, através da classe; simultaneamente, transmitem-se diferentes tendências e valores a diferentes populações escolares, mais uma vez de acordo com a classe (e o sexo e a raça). Com efeito, para esta tradição mais crítica, as escolas recriam de uma forma latente as disparidades culturais e econômicas, apesar de, de certa forma, ser isto o que a maioria das pessoas ligadas à educação pretendam. (p.68)

Essas crianças por estarem dentro desse complexo sistema cultural e

econômico são influenciadas diretamente em seu contexto no seu cotidiano. E por

não terem ainda noção de espaço quando estão se divertindo no momento de lazer

agridem os colegas algumas vezes sem querer nas brincadeiras ensinadas pela

mídia. Algumas falas dessas crianças5 durante as brincadeiras:

1-(A pulga e o percevejo) - se ele vim pra cá vou dar um murrão; 2 -(Pombinha branca)- eu vou te matar, porque sou o homem aranha; 3- (Sapo Cururu)-olha pró minha arma massa;

É notório nas falas dessas crianças a influência que a mídia exerce na vida

delas, sejam nas brincadeiras ou nos momentos de brigas na sala. Acontece como

destaca Aplle (1999) “a televisão e os meios de comunicação de massa, os museus,

e os anúncios, os filmes e os livros, todos dão seu contributo para a distribuição,

organização e, acima de tudo, controle do significado social (p.244). Com isso, não

poderíamos esquecer de frisar as músicas que são constantemente cantadas nas

ruas, nas salas de aula, nos corredores e pátios escolares. falas de crianças da sala

pesquisada:

5 - O nome das crianças para preservá-los estão representados por nomes de Cantigas de roda, que estão entre parênteses.

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56

1- (Indiozinho)- desce com a mão no tabaco; 2- (Pastorzinho) pisa, pisa, pisa na barata... 3 -(A barata)- mão na cabeça que vai começar, o rebolexon, xon, xon, o rebolexon.

Primeiramente, me inquieta a situação que cotidianamente vivemos da perda

cultural em relação à valorização territorial, que é tão importante, e de notar, a

indústria cultural disseminando ideologias de violência, divisão de classes,

preconceitos e indução ao consumismo. Como afirma Schwartz (1985) “a mídia

muito mais do que um partido político – é responsável pela informação e formação

de nossas idéias e comportamento políticos” (p.133). Sendo interessantíssimo

perceber em sala de aula que as crianças ainda se interessam quando se trata de

Cantigas de Roda e contação de história. Descobrindo que para as crianças:

O folclore infantil é fácil de ser assimilado, é claro e simples. Atrai o ouvido por seu ritmo pitoresco, pela ingenuidade jocosa de seus textos. Move elementos primitivos básicos, sobretudo em relação ao corporal e ao afetivo, razão pela qual o torna próximo do homem sensível e, portanto, das crianças (CAMARGO, 1994, p.73)

Partindo dessa premissa foi indispensável a metodologia da utilização da

música, no intuito da busca incessante do prestígio da cultura local, enfocando as

Cantigas de Roda que mesmo algumas tendo a mesma letra, varia sua melodia

(modo de cantar), dependendo da sua região, pais, cidades, dentre outras questões,

faz com que seja um fator determinante o aprendizado de suas raízes, pois, cada

localidade tem suas especificidades.

Finalmente, é preciso dizer que reconhecer a importância da contextualização social e cultural significa considerar os determinantes, as condições e as histórias de vida também dos profissionais que atuam na escola, em particular daqueles que mais diretamente participam, junto com as crianças, da prática pedagógica - os professores (KRAMER, 2001, p. 47 e 48).

Então, ao perceber em atitudes e conversas em sala ou no ambiente de

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57

descontração na escola como hora da música, do conto, recreio e brincadeiras, que

a música escutada tanto por seus pais quanto na TV, independentemente de ser

para criança ou adulto, eram fortemente reproduzidas em sala, o contágio da

Indústria cultural na valorização de culturas específicas, faziam com que crianças

desejassem essa forma de viver, de cantar e de dançar.

Laraia (2009) traz uma grande contribuição quando explica como acontece

essa perda, constatando que “em lugar da super estima dos valores de sua própria

sociedade, numa dada situação de crise os membros de uma cultura abandonam a

crença nesses valores e, consequentemente, perdem a motivação que os mantêm

unidos e vivos” (p.75). Vejamos:

1-(Ciranda cirandinha)- ô pró canta Stefany... no meu crossfox eu vou sair; 2-(pastorzinho)- canta a música do Michael Jackson; 3-(A pulga e o percevejo)- aquela é... do pica pau. 4-(A barata)-pró quero uma Barbie loura dos cabelão, pró meus cabelos não é duro não né?

Era notável que naquele ambiente escolar, como em outros lugares de nossa

sociedade, pois, é histórico o fato da desvalorização e hierarquização de culturas,

apoderando das cidades e de nosso país que tem grandes misturas culturais, e por

fim adentrando principalmente de nossas casas, sendo re-conhecida como mudança

cultural. Como afirma Laraia (2009) “existem dois tipos de mudança cultural: uma é

interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e uma segunda que é o

resultado do contato de um sistema cultural com o outro” (p.96).

É interessante como realmente nos apoderamos de outras culturas e que a

criança tem facilidade de incorporar novas formas de viver. Nicolau(1990)

complementa “o que há de mais marcante na criança é sua capacidade de

adaptação. Ela constitui um vasto acervo de possibilidades sócio-afetivas, cognitivas

e psicomotoras (p.5).

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58

Então como mediadora resolvi utilizar de alguns recursos da indústria cultural

como produções de cd’s (músicas escutadas pelos pais e por eles), filmes, e

desenhos que passam na TV. Passando o material proposto no dia e logo após na

rodinha conversávamos sobre quem era o personagem, como ele agia, se agia

certo, se eles gostariam de ser assim, e como um menino e menina gente boa

deveria se comportar. Partindo do pressuposto da contextualização da vivência

deles, as crianças merecem ser vista de forma ampla, pois são seres sociais. Logo,

A educação pré-escolar visa ao desenvolvimento global e harmônico da criança, de acordo com suas necessidades físicas e psicológicas, neste particular momento de sua vida e situada em sua cultura e em sua comunidade. Ela tem, portanto, objetivos em si mesma, próprios da faixa etária e adequados às necessidades do meio físico, social, econômico e cultural (NICOLAU, 1990, p.24).

No intuito de resgatar as Cantigas de roda, entendendo que devemos partir

dos conhecimentos prévios deles, resolvi perguntá-los em entrevista sobre quais

eram as musicas que eles costumavam ouvir em casa. As respostas após termos

trabalhado quase durante um ano com eles foram interessantes. Utilizei nomes de

Cantigas de Roda para representar essas crianças. Vejamos quais músicas eles

costumavam ouvir em casa.

1-(Borboletinha)- Galinha pintadinha, Dalula; 2-(Sapo Cururu)- Borboletinha, pintinho amarelinho, cachorro, pisadinha, Silvano Salles, Aviões do forró; 3-(Indiozinho)- Borboletinha, marcha soldado e assiste filme, Aviões do forró (papai tá dodói); 4- (Vô Lobato)- Escuto música de Jesus, música de Deus, Silvano Salles; 5-(Pintinho amarelinho)- Borboletinha tá na cozinha.

Nota-se que essas crianças se acostumaram a ouvir e cantar cantigas de

roda, mesmo tendo ranços das músicas que seus pais escutam, tendo quase em

sua totalidade de entrevistados a música borboletinha como predileta a mais ouvida,

a mais cantada e sendo a primeira que trabalhamos em sala. E como afirma Gainza

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59

(1988):

É de importância fundamental que em todos os países as autoridades educacionais sejam suficientemente lúcidas para resgatar a música e colocá-la a serviço da educação, ou seja, do desenvolvimento integral do homem (p.17).

E complemento, não só as autoridades, mais os profissionais da educação, os

quais também deveriam se apoderar da música como elemento de crescimento

cultural de nossas crianças. Mas, para que seja eficaz essa utilização precisamos do

apoio dos pais. E para entender o universo das crianças é necessário entender a

família, então a partir do exposto perguntei as crianças um pouco sobre elas em

casa e sobre seus pais, lhes perguntando: quais as músicas que o papai e a mamãe

gostavam de ouvir e se eles também gostavam.

1-(Borboletinha)- Esqueci como era a música que mãe ouve. Ah, só a da motinha que minha mãe tem e escuta e aviões as duas vem juntas. 2-(Sapo Cururu)- Pisadinha, Silvano Salles, Aviões do forró. 3-(Indiozinho)- Assiste filme, Aviões do forró (papai tá dodói) e a mamãe gosta de escutar Silvano Salles (eu to pensando em você e em mim), e gosta de ouvir pisa, pisa, pisa na barata. 4- (Vô Lobato)- Música de Deus, Silvano Salles e o meu pai escuta thuco gostoso.(...) Calypso e Silvano Salles. 5-(Pintinho amarelinho)- não se lembrava das músicas que a mãe escutava.

É relevante percebermos que as músicas escutadas pelos pais são

praticamente os mesmos estilos, tanto nas outras entrevistas que não foram citadas,

como as que estão acima, somente duas não falam de Silvano Salles ou Aviões do

Forró. Em sua maioria escutam esses estilos e os que ouvem esses e pagode, são

dos pais mais novos, de faixa etária de 19 a 25. É notório também que algumas

músicas escutadas são evangélicas, pois algumas mães frequentam a igreja, mas

os pais escutam músicas comuns a exemplo do entrevistado numero 4 (Vô Lobato) .

Como nos traz Caldas (2005):

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A música popular é um termômetro riquíssimo da realidade- esse é mais um lugar nem sempre percebido no que tem de interesse. Nas suas diversas modalidades e épocas estão registradas as emoções e as idéias na voz dos artistas que se tornam, mesmo sem querer (e talvez aí esteja o melhor) não a voz do dono, mas a voz do povo (p.11).

Ao analisarmos os pais entrevistados, fizemos uma observação importante,

todos eles são da classe popular de menor poder aquisitivo ou classe media baixa, a

maioria mora em bairros periféricos. Acreditamos que isso poderia explicar os estilos

musicais apresentados e fazendo uma alusão à citação acima de Caldas que fala

sobre as emoções e idéias dos artistas que se tornam a voz do povo, me traz um

dado importante, lembrando que essas bandas já são frutos dessa forma de

alienação e as pessoas ao escutarem conseguem se encontrarem enquanto

pessoas ou se divertem enquanto ouvintes com a desvalorização do Ser Humano, já

que as mesmas trazem em suas músicas letras às quais denigrem a imagem da

mulher, induzem a violência, ao trafico, a uso de bebidas, ao racismo, entre outras.

Muitos não têm oportunidade de escutar não diria outros gêneros, pois se

trata de diversidade musical e diversidade é cultura, mas, sim letras mais ricas e

mais humanizadas, que valorizem o universo cultural, as limitações que a mídia nos

coloca, que respeitem a identidade cultural e pessoal de cada indivíduo, que não

denigra imagens e nem induza à violência, pois, a mídia propositadamente em

certos programas as valoriza. Concomitantemente as pessoas vão absorvendo dia

após dia, supondo que ouvem o que se tem de melhor e quando se abrem ao

mundo das artes se espelham nesses artistas para fazerem e dançarem esses

estilos de músicas. Mostrando que:

A publicidade pode atingir toda a população ou somente parte da mesma. O público compartilha de uma fonte comum de informações que atinge através dos meios que não pode controlar: noticiários, debates, artigos em revistas e jornais, noticias transmitidas oralmente. A publicidade pode induzir essa informação, planejando-a para um sistema específico de referência.(SCHWARTZ, 1985, p.87).

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61

Nesse momento, que é de suma importância a figura do professor enquanto

mediador desse universo musical, trazendo de forma critica desde a infância, pois

aprendemos a gostar do que escutamos constantemente por nossos pais que é o

primeiro contato com a música, depois com professores e os demais. Então como

afirma Caparelli (1986):

É preciso repensar cada setor, cada modalidade, mas analisando e potencializando a comunicação como um processo total. E, em tudo, a dicotomia teoria e pratica está presente. Impossível analisar, avançar, aproveitar as tecnologias, os recursos sem levar em conta sua ética, sua operacionalidade, seu benefício para todas as pessoas em todos os setores profissionais. E, também, o benefício na própria vida doméstica e no lazer (p.5).

Devemos utilizar dos mais diversos meios de comunicação, para ampliarmos

o universo das crianças e mostrarmos que a cultura musical é uma forma de

conhecermos determinadas culturas, sem deixarmos de nos reconhecer e valorizar

nossa cultura local, nossa forma de viver, e aprendermos que a beleza da música

não está em denegrir pessoas ou culturas e sim respeitá-las, e ao cantarmos ou

tocarmos uni-las.

4.4 A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS

Uma das formas mais complexas, porém, de grande satisfação é analisar, e

poder compreender qual a importância da musica para as crianças e notar como

elas percebem essa música, principalmente meninos e meninas de faixa etária de 3

a 5 anos, pois, ainda não se apropriaram da escrita e nem da leitura decodificada,

sendo indispensável nos basear nas mais diversas manifestações faciais, orais

(conversas, falas, cantos), corporais (danças e movimentos) e os desenhos (mapas

mentais), o qual é uma maneira bastante expressiva que as crianças tem para se

comunicar.

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É de suma importância descrever que posturas que esses discentes

chegaram/ trouxeram no início das aulas. Recordo que eram crianças que xingavam

muito, bastante agressivas, cantavam e dançavam músicas de letras bastante

pornográficas, dançavam de maneira fiel como eram ensinadas na TV, pois, é o que

a mídia lhes oferece. Logo, como Thompson (1998) destaca:

(...) a recepção e a apropriação dos produtos da mídia são processos sociais complexos em que indivíduos- interagindo com outros e também com os personagens retratados nos programas- dão sentido às mensagens de uma forma ativa, as adotam com atitudes diversas e as usam diferentemente no curso de suas vidas. Simplesmente não é possível inferir, das características das mensagens da mídia consideradas em si mesmas, os variados aspectos dos processos de recepção (THOMPSON, 1998, p.153).

Para compreendermos esse contexto de processos de recepção e poderia

dizer de reprodução, destacaremos na prática algumas falas cotidianas das crianças

em sala6:

1- (Pintinho Amarelinho)- a piriguete anda com fio só todo enfiado, todo enfiado; 2- (Pastorzinho)- Sai pra Lá piolhenta, bicha feia veia, minha namorada é que é bonita! 3- (A barata)- desce com a mão no tabaco... 4-(Ciranda cirandinha)- na sua boca eu viro chuva, chuva que é de uva. (transcrição fielmente). 5-(A pulga e o percevejo)- bate com a bunda bate com a bunda, bate bate bate com a bunda.

É notório que as músicas escutadas pelas crianças e que eram cantadas

cotidianamente na sala, musicas estas que estão destacadas na falas acima, são

músicas que estão no auge e por isso, são tocadas a todo momento. Certa vez ao

entrarmos na sala tinha duas crianças uma sentada no chão e a outra batendo com

a bunda no rosto da que estava sentada, cantavam alegremente bate com a bunda,

bate com a bunda, e os demais da sala acompanhavam. Foi uma cena chocante, daí

sentimos a necessidade de intervir na educação musical daquelas crianças

6 - Foram respeitadas a idade das crianças e sua formação na dicção das palavras, com isso,

escrevemos igual foram pronunciadas.

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urgentemente.

O mais impressionante é que em uma emissora de TV que é assistida pela

maioria dos pais, passava essa reportagem que era um vídeo do momento em que

ocorrera a dança, programa esse que tem cunho denunciativo, onde o mesmo

reivindicava que esse local estava corrompendo jovens ao mundo das drogas e do

álcool, mas a emissora que tinha base sensacionalista a reproduzia todos os dias e

as crianças o assistiam aprendendo a imitar essa dança representada por jovens e

adultos no video. Sabemos que:

A publicidade pode atingir toda a população ou somente parte da mesma. O público compartilha de uma fonte comum de informações que o atinge através de meios que não pode controlar: noticiários, debates, artigos em revistas e jornais, livros notícias transmitidas oralmente. A publicidade pode induzir essa informação, planejando-a para o sistema de referência (SCHWARTZ, 1985, p.87).

Concomitantemente vocês perguntariam e os pais? Sabemos que essa não é

preocupação dos pais em sua maioria, pois em decorrência da correria do cotidiano,

a TV é para muitos o momento de paz em suas residências, e em seus desabafos

procuravam relatar quem eram seus filhos. Vejamos suas falas pois são por demais

interessantes. Vejamos:

P1- Esse menino é uma peste, ele não vale nada, já vou logo avisando, qualquer coisa me fala e eu bato e boto de castigo. P2- Pró isso ai puxou a família do pai não presta um... tu acredita que me joga até pedra na rua. P3- Não sei mais o que fazer com essa menina na para de falar é desobediente, tenho que reclamar toda hora e dizer cala a boca, não guento mais sua voz. P4- Já desisti desse menino ele não presta! P5- Estou cansada de ser chamada da mãe do cachorrinho que morde e bate no filho dos outros, e de que não sei dar educação a meu filho.

Nota-se que as falas dos pais demonstram descontrole em relação à

convivência, diálogo, com seus filhos, mas também sabemos que esse tipo de

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64

comportamento podem ser reproduções de suas criações, crenças, valores,

representações socias e até descuido ou despreparo, dificultando a educação de

seus filhos. Como destaca Anadón (2003) somos produtos e de nosso contexto

social, por isso precisamos compreender que:

Não há nada real que não seja construído pelos sujeitos, apoiando-se em sistemas de valores e implicados em um contexto social e ideológico. A partir da herança social, o indivíduo desempenha um papel não negligenciável em suas tomadas de decisão: ele é ao mesmo tempo produto e produtor da sociedade (p.12).

Com essa diversidade de pensamentos e expressões, tínhamos também uma

criança especial que sua patologia era distúrbio de impulsividade, comprovada por

médico. Seu comportamento era muito agressivo, pois além de xingar muito, batia,

mordia, atentava a vida dos colegas com pedra, pau, empurrava de escadas e locais

altos, percebemos na fala da mãe P5, que sofria por ter seu filho com uma patologia

impulsiva, causando grandes transtornos em sala e se estendendo à escola. Por

fim, essa era a realidade encontrada ao adentrar naquela sala. Diante desse

panorama como nos afirma Souza (2005), o professor como modificador tem que:

Perceber a realidade para nela atuar [...], indicando uma visão[...] que constitui como espaço comum de conservação, de aprendizagens, em que os próprios sujeitos possuem papel ativo e favorece múltiplas conexões (p.74).

Após, a visualização da situação encontrada, com a utilização da música,

para podermos juntamente atuar com as crianças foi preciso, “em primeiro lugar,

conhecê-los. Saber quais são as características que apresentam, para utilizarmos a

música, de forma a favorecer-lhes o crescimento e a maturidade" (JANNIBELLI,

1971, p.25). Os resultados obtidos, no decorrer do ano foram posturas sendo

alteradas, tendo conseqüentemente crianças mais dóceis, mas sociáveis, maior

facilidade nos assunto e entendimento nas atividades, houve um grande avanço

tanto na aprendizagem quanto na sensibilidade a apreciação musical, nas músicas

cantadas no âmbito escolar. Como afirma Jannibelli (1971):

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65

O ato de cantar é educativo, porque desperta, na criança, o que nele há como patrimônio hereditário. O senso de ritmo, de tonalidade e outras qualidades musicais são estimuladas nesse ato que deixa de ser simplesmente imitativo, para ser expressivo. Cantar é, em última análise, emitir com a voz sons musicais e as canções facilitam a realização desse ato (p.61).

O mais interessante são os comentários dos alunos que corrigem os outros

coleguinhas sobre as musicas como eles dizem “feias” que são cantadas, a exemplo

de algumas musicas de pagode, funk e arrocha dentre outras.

Incitados pelos desafios atrelados, após termos iniciado o trabalho no intuito

de compreender como as crianças enxergam a música nada mais apropriado do que

perguntá-las. Então fiz o seguinte questionamento a elas: você gosta de música? E

100% dos entrevistados responderam que Sim. E quando perguntei se você

pudesse escolher quantas vezes cantaríamos na sala? Vejamos algumas respostas:

1-(Borboletinha)- Cantava toda hora e na hora do recreio brincava. 2-(Sapo Cururu)- Queria que só cantasse só uma música as minhas. 3-(Barata)- nesse instante, aqui (no refeitório), também na sala e aqui. 4-(Pombinha branca)- Nesse instante, na hora de fazer desenho. 5-(Pintinho amarelinho)- toda hora, na hora do recreio e na salinha.

A música por nos despertar tantas emoções faz com que almejemos estar

sempre em contato com ela como foi relatada nas falas das crianças, pois, afirma

Snyders (1997):

Através da música o ser humano consegue uma forma de expressar-se sentimentalmente, traz consigo a possibilidade de exteriorizar as alegrias, as tristezas e as emoções mais profundas, emergindo emoções e sentimentos que as palavras são muitas vezes incapazes de evocar. Além disso impulsiona a expressão corporal e faz com que o corpo vibre com a excitação que o abala (p.104).

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Faz-se importante analisarmos através dos mapas mentais, as respostas das

crianças quando revelam que gostam de música. Então, buscando perceber essas

respostas através de traços marcantes em seus mapas, pedimos que se

desenhassem cantando e em outro momento, como eles ficariam se a gente não

cantasse na salinha. Ao confrontarmos, foram notados alguns aspectos relevantes.

Vejamos alguns mapas:

Figura 3- (Meu Lanchinho)- Eu cantando Figura 4- Minha sala sem música.

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

É interessante que Meu Lanchinho nome fictício da criança, se fez feliz

cantando, bem colorida e ao se ver sem música, ela desenhou a pró parecida com

ela feliz, mas ela, no desenho está triste então não colocou nem a boca e nem os

dedos. Ocorreu em outros mapas7 também essa amputação de membros ou

descaracterização do rosto, quando se falava do nosso cotidiano escolar sem

música. Como afirma Anadón e Machado (2003):

As representações sociais se apresentam sempre com duas faces: a de imagem e a de significação e a de significação (a cada imagem correspondente uma significação e a cada significação uma imagem). Elas constituem uma forma particular de pensamento simbólico, ao mesmo tempo imagens concretas apreendidas diretamente e ao mesmo tempo remetidas a um conjunto de relações mais sistemáticas que dão uma significação mais ampla a estas imagens concretas (p.13).

7 - Estes outros mapas mentais poderão ser acompanhados nos apêndices.

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67

Dessa forma, os grafismos a seguir nos mostram as representações trazidas

pela criança em seu cotidiano. Onde, o segundo mapa na figura 3 – a criança

chamada de Pombinha branca está cantando feliz, perceba que o desenho tem

bastante detalhes, como cabelo, o rosto, a boca sorrindo, o short com bolsos, o

sapato, ao contrario da figura 4- onde a mesma criança, fez uma cabeça sem cabelo

e sem nariz e boca, ele utilizou das formas geométricas pra fazer o corpo o qual é

bastante interessante, pois, relacionou os assuntos trabalhos em sala como forma

de expressão e também foi notado o desenho desproporcional comparado ao

primeiro. Analisemos:

Figura 5- (Pombinha Branca)- Eu cantando Figura 6- Minha sala sem música

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

Ao desenhar a criança fala de seu sentimentos, dos seus medos, anseios,

seus sonhos e seu cotidiano é uma forma que ela tem de se expressar, de deixar a

sua marca, de interação e de conquistas as novas estruturas de movimento. Moreira

(2008) traz claramente esses aspectos quando menciona:

O que se pode perceber é que no ato de desenhar, pensamento e sentimento estão juntos. Pois também é possível constatar que as crianças. Com algum comprometimento a nível intelectual, apresentam acentuado comprometimento no desenho (p.4).

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68

Continuando nossa análise, o terceiro mapa traz alguns dados relevantes: nos

dois mapas, a criança aqui chamada de Alecrim, se desenha parecido, sendo que no

primeiro que é o que ele está cantando, à cores, desenho é maior. Vejamos:

Figura 7- (Alecrim)- Eu cantando Figura 8- Minha sala sem música

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

Referenciando a segunda pergunta utilizada para fazer o mapa: De como

seria a salinha sem a música, foi respaldada por Moura, que fala da relevância da

criança se perceber no ambiente e seus sons, integrando - se no meio em que está

inserida. Compreendendo que:

A importância do som emerge quando se surge à criança imaginar o mundo sem sons. Evocando-se fatos e situações onde a sonoridade é absolutamente necessária, observa-se que, sem ela, o telefone, o despertador, a música e mesmo a fala não teriam razão de ser. (MOURA, 1996, p.12).

Dessa forma, mediante o que foi abordado acima como maneira de

complemento para a análise, surgiu à oportunidade de questionar sobre quais as

músicas as crianças mais gostavam. Obtivemos diversas respostas:

1-(Borboletinha)- borboletinha 2-(Sapo Cururu)- Sapo cururu 3-(Vô Lobato)- Indiozinho 4-(Pombinha branca)- A cobra 5-(Pintinho amarelinho)- Fui ao mercado

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69

Nessa oportunidade, pedimos para que fizessem um desenho da Cantiga de

roda que elas mais gostavam, tiveram diversos mapas com borboletinha, soldado

(marcha soldado), porquinho (música dos três porquinhos), cobra entre outros.

Observemos alguns mapas8:

Figura 9- (Borboletinha)- minha cantiga preferida Figura 10- (Indiozinho)- minha cantiga preferida é é borboletinha Marcha Soldado

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

É relevante destacar que em 50% dos mapas apareceram à família (pai, mãe

e irmão), mostrando a importância que o seio familiar tem para as crianças, em

outros casos colegas de sala e a professora. Percebe-se que as crianças em seus

mapas estavam falando não só da música, mas de sua família, da escola, seus

sentimentos e do espaço onde vivem. Fischer (1964) coloca de modo interessante

essa realidade da representação através do espaço, quando menciona:

A representação do espaço é um mecanismo psicológico que resulta de processos cognitivos e afetivos de interações a partir dos quais se constrói uma significação(...) Em outros termos, aquilo que se percebe, que se aprecia, que se recusa no espaço resulta em larga margem do sistema de valores criados pela sociedade mesma, de tal sorte que ao final os traços que são decifrados não são muitas vezes nada mais que valores aprendidos. (FISCHER 1964, p. 84 apud in ANADÓN; MACHADO 2003, p.64).

8 - Estes outros mapas mentais que retratam as Cantigas de roda que eles mais gostam, poderão ser

acompanhados nos apêndices.

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70

No entanto, é interessante ressaltar que sempre acontecerá crianças estarem

cantando músicas trabalhadas pela mídia, então, precisamos estar conscientes que

é uma luta constante, o sistema reforça essas letras e músicas todos os dias e nós

acabamos por absorvê-las, por isso, a necessidade de estarmos sempre

trabalhando e conscientizando nossas crianças, não esquecendo de ensiná-las a

apreciação musical, que nos sensibiliza a interiorizar o que a música tem de melhor.

Page 72: Elisa monografia pedagogia 2011

71

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por isso dona Rosa Entre dentro desta roda Diga um verso bem bonito Diga adeus e vá se embora

(Cantigas de Roda)

Tem se discutido a necessidade de uma educação mais significativa, mais

contextualizada, voltada para a vivência dos discentes, logo, acreditamos que a

música através das Cantigas de Roda, busca a valorização da cultura e da

identidade local, quando prestigiamos as nossas raízes, entendendo que cada

comunidade mesmo possuindo-as, interpreta, canta, dança e brinca de forma

singular, “as diversas” representações da cultura Folclórica ou Popular.

Analisando a presença da música em educação, percebemos o quanto os

discentes em especial da Educação Infantil, tem satisfação em ouvir e cantar

expressando suas emoções. Enfocando que a música é movimento, por isso faz

com que, quem a escuta exprima alguma reação seja de alegria ou tristeza, de pular

ou dançar, sendo assim utilizada para acalmar, para brincar, para alegrar, para

iniciar a seqüência de rotinas escolares, como chegada, lavar as mãos, lanchar,

silenciar e despedida.

A presença da música na educação pode estimular as diversas habilidades do

indivíduo na sua inserção na sociedade, pois, ajuda no seu desenvolvimento a se

guiar e se reconhecer no ambiente. Lembrando que hoje, ela é utilizada em múltiplos

aspectos, sendo trabalhada em terapias, ensinos, inclusão de deficientes,

favorecendo assim a desinibição e envolvimento social.

A experiência que tivemos com a pesquisa me conduziu a aprendizagens

inefáveis no que diz respeito ao confronto, impasses e possibilidades da atuação

pedagógica necessária em música, utilizando das Cantigas de roda, pois, trabalhar

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72

com aquelas crianças durante um ano, fez com que notássemos quantas as alegrias

e aprendizados tivemos no decorrer do ano e o mais gratificante é saber que

contagiou pais e crianças, mesmo que seja em determinados momentos, a semente

foi plantada.

Torna-se essencial uma análise reflexiva sobre a valorização e o resgate da

cultura musical, utilizando da interdisciplinaridade do ensino e aprendizagem através

das diversas formas que a música representa. Em suma, a musica é movimento e

precisa perpassar momentos determinados, pois é um influente modo de politização,

sendo mais um método de criticar ou alienar uma sociedade, utilizando como

método para inculcar ideologias através de suas letras, vistas muitas vezes de

maneira “inofensiva” pelas pessoas.

É relevante ressaltar, que a comunidade escolar é um forte influenciador para

que haja esse reforço do prestigio musico - cultural para a criança, enriquecendo-a

culturalmente, já que a “musica mídiatica”, está em relação à infância, musicalmente

empobrecida.

Torna-se necessário, continuar os estudos e trabalhos referentes a música

nas escolas para um melhor aperfeiçoamento, pois a educação precisa que a teoria

e prática andem juntas e para que isso aconteça, o professor tem que estar sempre

se atualizando e buscando novas formas de ensinar. Servindo assim, para trocas de

experiências para outros professores e pesquisadores, no intuito de poder intervir

em outros campos de pesquisa adequado a sua realidade.

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REFERÊNCIAS ALMEIDA, Milton José de. Imagens e sons. A nova cultura Oral – 3ª. Ed- São Paulo, Cortez, 2004. ALMEIDA, Suzzana A. L. Escola, adolescência e Representações Sociais: Olhares sobre jeitos de ser e compreender. IN: Colóquio Internacional Quebec- Bahia: formação, pesquisa e desenvolvimento em educação- Salvador: EDUNEB, 2006. ANADÓN, Marta; MACHADO, Paulo Batista. Reflexões teórico-metodológicas sobre as representações sociais - Salvador: Editora UNEB, 2003. ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de: Etnografia da prática escolar. – Campinas, SP; Papirus, 1995. – (Série pedagógica). ________. Texto, Contexto e significado: Algumas questões na análise de dados qualitativos; Cad. Pesq.; São Paulo, 1983. APLLE, Michael W. ; Ideologia e Currículo – Editora Porto, LDA- Portugal, 1999. BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia Científica: Um guia para a iniciação científica – 2. Ed. Ampliada, São Paulo, Makron Books, 2000. BASTIAN, Hans Günther. Música na Escola: a contribuição do ensino da música no aprendizado e no convívio social da criança; - 1. Ed. – São Paulo: Paulinas, 2009. CALDAS, Waldenyr. A cultura político- musical brasileira- São Paulo: Musa Editora, 2005. CAMARGO, Maria Lígia Marcondes. Música/Movimento: um universo em duas dimensões; aspectos técnicos pedagógicos na Educação Física- Belo Horizonte: Villa Rica, 1994. CANDÉ, Roland de. Dicionário dos músicos – Tradução Artur Lopes Cardoso. Edições 70, Lisboa, (s/d). CAPARELLI, Sérgio. Comunicação de massa sem massa – 3 ed- São Paulo: Summus, 1986. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6. Ed- São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

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APÊNDICES

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UNEB- UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃOCAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

PEDAGOGIA 2007.1

Apêndice A

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1- Você gosta de música?

2- Quais as músicas que você mais gosta?

3- Se você pudesse escolher quantas vezes cantaríamos na sala?

4- Que músicas você costuma ouvir em casa?

5- Que músicas o papai e a mamãe gostam de ouvir em casa?

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UNEB- UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃOCAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM

PEDAGOGIA 2007.1

Apêndice B - MAPAS MENTAIS

1-Desenhe você cantando na sala e como você ficaria seria se não cantássemos na sala.

Figura 11- Eu cantando Figura 12- Minha sala sem música

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa Figura 13- Eu cantando Figura 14- Minha sala sem música

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

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Figura 15- Eu cantando Figura 16- Minha sala sem música

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa Figura 17- Eu cantando Figura 18- Minha sala sem música

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

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Figura 19- Eu cantando Figura 20- Minha sala sem música

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

Figura 21- Eu cantando Figura 22- Eu cantando

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

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2-Desenhe a música que você mais gosta.

Figura 23-Minha cantiga preferida Figura 24- Minha cantiga preferida

Fonte- Pesquisa Fonte- Pesquisa

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FOTOS

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Imagem I- Atividade com a música Sapo Cururu

Fonte- Pesquisa

Imagem 2- Atividade em sala

Fonte- Pesquisa

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Imagem 3- Brincadeiras de Cantigas de Roda

Fonte- Pesquisa

Imagem 4- Na rodinha cantando Peixinho do Mar

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Fonte- Pesquisa

Imagem 5- Cantigas de Roda com flauta transversal para as crianças

Fonte- Pesquisa

Imagem 6 - Integração escola e as com mães através da música

Fonte- Pesquisa

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Imagem 7- Apresentação com música e parlendas

Fonte- Pesquisa

Imagem 8- Cantigas de Roda para todas as crianças da escola

Fonte- Pesquisa

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Imagem 9- Música- momentos com os pais na escola

Fonte- Pesquisa

Imagem 10- Estágios em EJA.

Fonte- Pesquisa

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Imagem 11- Encontros de filarmônicas

Fonte- Pesquisa

Imagem 12- Banda Didá

Fonte- Pesquisa

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Imagem 13- Apresentação no Encontro Baiano de Estudantes de Pedagogia

Fonte- Pesquisa

Imagem 14- Trabalho voluntário no Hospital das Clínicas com docente e discentes da UFBA

Fonte- Pesquisa