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Grupo Opinião Pública, Marketing Político e Comportamento Eleitoral
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GRUPO DE PESQUISA OPINIO PBLICA, MARKETING POLTICO E COMPORTAMENTO ELEITORAL
Em Debate Peridico de Opinio Pblica e Conjuntura Poltica
Misso Publicar artigos e ensaios que debatam a conjuntura poltica e temas das reas de opinio
pblica, marketing poltico, comportamento eleitoral e partidos. Coordenao: Helcimara de Souza Telles UFMG
Conselho Editorial
Antnio Lavareda IPESPE Aquilles Magide UFPE Bruno Dallari UFPR Cloves Luiz Pereira Oliveira UFBA Dalmir Francisco UFMG Denise Paiva Ferreira UFG rica Baptista - UFMG Gustavo Venturi Jnior USP Helcimara de Souza Telles UFMG Heloisa Dias Bezerra UFG Julian Borba UFSC Luiz Ademir de Oliveira UFSJ
Jornalista Responsvel rica Anita Baptista Equipe Tcnica: Brbara Oliveira Roberto Rocha Parceria Instituto de Pesquisas Sociais, Polticas e Econmicas IPESPE
Luciana Fernandes Veiga UFPR Luiz Cludio Loureno UFBA Malco Braga Camargos PUC-MINAS Marcus Figueiredo IESP/UERJ Mathieu Turgeon UnB Rubens de Toledo Jnior UFBA Paulo Victor Melo - UFMG Pedro Santos Mundim UFG Silvana Krause UFRGS Yan de Souza Carreiro UFPR
Endereo Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas Departamento de Cincia Poltica DCP Av. Antnio Carlos, 6.627 - Belo Horizonte Minas Gerais Brasil CEP:31.270-901 + (55) 31 3409 3823 Email: [email protected] Facebook: Grupo Opinio Pblica Twitter: @OpPublica
As opinies expressas nos artigos so de inteira responsabilidade dos autores.
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.3-4, mai. 2016.
3
EM DEBATE Peridico de Opinio Pblica e Conjuntura Poltica
Ano VIII, Nmero III, Maio 2016
SUMRIO
Editorial
5-6
Dossi: Novo comportamento poltico e eleies presidenciais
Storytelling persoal, desafeccin ciudadana y
banalizacin da poltica
Pablo Vzquez Sande
Os resultados das pesquisas eleitorais influenciam
as escolhas dos eleitores?
Adriano Oliveira, Carlos Gadelha e Simara Costa
Discurso do medo nas eleies presidenciais de 2014
Vanderlei de Castro Ezequiel
Antipetismo e ciclos de protestos no Brasil: uma anlise das manifestaes ocorridas em 2015
Claudio Andr de Souza
7-13
14-27
28-34
35-51
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.3-4, mai. 2016.
4
Opinio
O retorno da reforma poltica agenda pblica
durante o governo Dilma Rousseff (2011-2015)
Merilyn Escobar de Oliveira Resenha
Poltica latinoamericana comparada Mateus Senna Franco
Colaboradores desta edio
52-58
59-71
72
5 EDITORIAL
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.5-6, mai. 2016.
EDITORIAL Novo Comportamento Poltico e Eleies Presidenciais
A edio de maio do peridico Em Debate traz como tema Novo
Comportamento Poltico e Eleies Presidenciais. Os textos abordam
questes atuais que afetam aspectos sensveis para o campo do
comportamento poltico, como a insatisfao com as instituies
representativas e com a poltica em si. Tais aspectos iro impactar, direta ou
indiretamente, as estratgias para as eleies presidenciais, assim como os seus
resultados.
Abrindo a seo Dossi Pablo Vzquez Sande, professor da Universidade
de Santiago de Compostela, em seu artigo intitulado Storytelling persoal,
desafeccin ciudadana y banalizacin da poltica, apresenta uma pesquisa que
utiliza mtodos diversos para avaliar o uso das narrativas pessoais em
comunicao poltica tendo em vista dois pontos principais: o risco do
aumento da insatisfao pblica nas sociedades onde o poder perde
legitimidade poltica e o perigo derivado da banalizao da poltica.
Os autores Adriano Oliveira, professor na Universidade Federal de
Pernambuco, Carlos Gadelha e Simara Costa, ambos do Instituto de Pesquisa
Maurcio de Nassau, escrevem sobre Os resultados das pesquisas eleitorais
influenciam as escolhas dos eleitores?. Na viso dos autores a hiptese
central de que no universo dos eleitores que acreditam nos resultados das
pesquisas eleitorais est presente o maior porcentual daqueles que assevera
que os resultados das pesquisas influenciam o seu voto e de outros cidados.
Vanderlei de Castro Ezequiel, ps-graduando da Faculdade Csper Lbero,
escreve em seu artigo Discurso do medo nas eleies presidenciais de 2014
como o discurso do medo transformado numa estratgia de campanha
eleitoral. Segundo o autor, no atual contexto poltico-eleitoral brasileiro o
discurso do medo utilizado de maneira generalizada pelos candidatos e
6 EDITORIAL
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.5-6, mai. 2016.
partidos, independentemente do posicionamento ideolgico,
espetacularizando a poltica.
Ainda na seo Dossi, o artigo Antipetismo e ciclos de protestos no
Brasil: uma anlise das manifestaes ocorridas em 2015, de Cludio Andr
de Souza, professor de cincia poltica da Universidade Catlica do Salvador e
da Faculdade Baiana de Direito, busca compreender o antipetismo enquanto
um elemento presente no ciclo de protesto iniciado em junho de 2013,
desembocando nas manifestaes contra o PT e o governo da presidente
Dilma. A radicalizao do antipetismo observado na sociedade civil e nos
protestos ocorridos em 2015 um fator que compe a crise poltica, e gera
efeitos imediatos sobre os nveis de confiana poltica nas instituies.
Na seo Opinio, a professora da Universidade Paulista, Merilyn Escobar
de Oliveira, no ensaio O retorno da reforma poltica agenda pblica
durante o governo Dilma Rousseff (2011-2015), aborda o tema da reforma
poltica, pauta do governo Dilma Rousseff (PT), que ganhou destaque na
cobertura jornalstica e tambm na audincia do pblico. O ensaio aborda
pontos da minirreforma eleitoral (Lei n 12.891/2013) e a assinatura do pacote
de medidas anticorrupo em 2015, elaborado como resposta crise poltica e
presso de grupos insatisfeitos com o governo petista.
Na seo Resenha, Mateus Senna Franco, graduando em Gesto Pblica
pela Universidade Federal de Minas Gerais e bolsista do Grupo Opinio
Pblica, resenha o livro "Poltica Latinoamericana Comparada". Nessa obra os
autores Mirta Geary, Juan Bautista Lucca e Cintia Pinillos apresentam diversos
ensaios e pontos de vista a respeito das perspectivas da poltica comparada no
continente, diversificando enfoques e vises com trabalhos de cientistas
latino-americanos e europeus, alm de transcries das discusses realizadas
em um encontro em Rosrio, em 2007, por professores e pesquisadores da
Argentina, Brasil e Uruguai.
DOSSI 7 PABLO VZQUEZ SANDE
STORYTELLING PERSOAL, DESAFECCIN CIUDADANA Y BANALIZACIN DA POLTICA
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.7-13, mai. 2016.
STORYTELLING PERSOAL, DESAFECCIN CIUDADANA Y BANALIZACIN DA POLTICA
Pablo Vzquez Sande Universidade de Santiago de Compostela
[email protected] Resumen: Esta investigacin emplea la encuesta y la entrevista para evaluar la utilizacin de los relatos personales en la comunicacin poltica con respecto a las dos principales crticas que los detractores de esta tcnica sealan: el riesgo de que incremente la desafeccin ciudadana en sociedades en las que el poder poltico pierde legitimidad y el peligro de que contribuya a la banalizacin de la poltica. Palabras clave: Storytelling, personalizacin, comunicacin poltica. Abstract: This survey uses lift and interviews to evaluate the use of personal narratives in political communication concerning the two main critical analisys that opponents of this technical note: the risk that increase social discontent in societies where political power loses legitimacy and the danger that it contributes to the politics trivialization Keywords: Storytelling, customization, political communication.
Introduccin
El fuerte y creciente grado de personalizacin en el mbito de la
comunicacin poltica, consecuencia de los procedimientos de individualizacin y
privatizacin (VAN AELST; SHEAFER; STANYER, 2012, p. 205), provoca que
los atributos personales del candidato se hayan convertido en uno de los framings
de las campaas. Es por esto por lo que el candidato y sus propiedades
particulares, privadas y, en ocasiones, incluso ntimas funcionan como un atajo
cognitivo (LAGUNA, 2011, p. 46), de modo que se ficcionaliza la vida de los
DOSSI 8 PABLO VZQUEZ SANDE
STORYTELLING PERSOAL, DESAFECCIN CIUDADANA Y BANALIZACIN DA POLTICA
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.7-13, mai. 2016.
candidatos para buscar adhesiones y simpatas ms por los valores personales que
por las creencias polticas (MAAREK, 2014, p. 18).
Una de las herramientas esenciales para presentar estos contenidos son los
relatos, con las tcnicas narrativas propias del storytelling y con todas las ventajas
que entraan, especialmente la gran capacidad de activacin de emociones en el
receptor (NEZ, 2007) y el mayor poder de memorizacin que imprimen
(BRUNER, 2003).
Sin embargo, diversos tericos se han manifestado en contra de este tipo
de estrategias por entender que desvirtan la poltica. Uno de ellos es Salmon,
quien califica esta tcnica de arma de distraccin masiva y sostiene que tal es su
grado de penetracin que ha dado pie a una nueva etapa en la democracia, la de la
pospoltica, en la que la batalla de las historias se impone al debate de las ideas
porque al dirigirse a los individuos como a una audiencia, al evitar al
adversario, al eludir los partidos, han sustituido el debate pblico por la captacin
de las emociones y los deseos (SALMON, 2007, p. 222).
Otro de ellos es Valls, quien considera que la poltica democrtica ha sido
raptada por una lgica comunicativa de importancia capital en la que los relatos
personales ocupan un lugar central y en la que se aprecian rasgos como la
predileccin por los contenidos ms prximos al impacto emocional que a la
exposicin racional () y la predileccin por el personaje smbolo-relato
(VALLS, 2010, p.15).
En las opiniones de ambos se encuentra latente la creencia de que los relatos
personales constituyen una amenaza para la poltica en su sentido tradicional de
espacio de confrontacin de ideas, proyectos e ideologas. De este modo,
identifican el recurso a esta tcnica y a estos contenidos con el peligro de que se
agrave la desafeccin ciudadana y de que se banalice y se trivialice la poltica.
Metodologa
DOSSI 9 PABLO VZQUEZ SANDE
STORYTELLING PERSOAL, DESAFECCIN CIUDADANA Y BANALIZACIN DA POLTICA
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Para evaluar cmo perciben los expertos estos dos peligros hemos optado por
una metodologa mixta en el marco de la triangulacin metodolgica ya que,
adems de la revisin bibliogrfica, hemos escogido las tcnicas de la encuesta y
de la entrevista dirigidas a profesionales que hayan empleado el storytelling
personal en campaa y al presidente de la Asociacin de Comunicacin Poltica
(ACOP), David Redoli, respectivamente, con el objetivo de incorporar las
opiniones de profesionales e expertos.
La encuesta fue enviada a una muestra no aleatoria (todos los equipos de
comunicacin de los candidatos gallegos con vdeos en Youtube donde se aprecia
storytelling personal (VZQUEZ, 2015) a travs de la herramienta Google Forms,
mientras que la entrevista fue no sistematizada y en profundidad (DE MIGUEL,
2005), con un cuestionario abierto y se celebr personalmente en febrero de
2015.
Por ltimo, es importante precisar que aunque la mayora de investigaciones
cientficas en el mbito de la comunicacin poltica se centran en el contenido del
mensaje y en su recepcin, nuestro estudio se enmarca en el aspecto de la
produccin, lo que le otorga un valor diferencial y complementario al del resto de
contribuciones acadmicas.
Resultados
Si hablamos en primer lugar de la relacin entre el storytelling personal y la
desafeccin ciudadana, es preciso sealar que el 50% de los profesionales
consultados opinan que estos relatos son bastante tiles para combatir esta
percepcin, mientras que el 50% restante los ven muy tiles. Esto pone de
manifiesto el elevado grado de confianza que depositan sobre la tcnica, ya no
solo como recurso electoral que contribuya a las lgicas poltico-electorales, sino
tambin como un elemento de relegitimacin de los polticos frente al panorama
actual. Adems, resulta muy llamativo que ninguno de los participantes en la
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encuesta haya considerado los relatos personales nada tiles, poco tiles o
indiferentes para tal fin, como se ofreca entre las posibles respuestas.
Por su parte, el presidente de la ACOP supedit la posibilidad de que los
relatos contribuyan a reducir la desafeccin ciudadana a la manera en la que estos
se empleen, puesto que no siempre se consigue minimizar la distancia entre los
representantes y los representados, sino que en ocasiones se agranda ese foso. En
sus palabras,
Por un lado puede dar proximidad pero tambin, por el otro, puede dar distancia. Por ejemplo, lo que hizo Aznar1 con su hija no transmita proximidad: organizar una boda por todo lo alto en el Escorial2 con primeros ministros y fuerzas de seguridad del estado no acerca a ningn poltico, excepto a algunas lites determinadas, que es lo que l quera. Fue un uso pblico de un acto privado, la boda de su hija. Por eso, puede alejar o acercar, depende de cmo se utilice, depende del contexto Pero creo que no va a ser lo substantivo de un candidato ni de sus campaas, por lo menos no en Espaa en el corto plazo.
Por otra parte, tambin les pedimos su opinin respecto del segundo
riesgo: que el uso del storytelling acabe conduciendo a la poltica a la trivializacin y
a la banalizacin. As lo comparte David Redoli, quien seal este peligro cuando
le preguntamos cul era el principal inconveniente que detectaba a respecto de
esta tcnica:
Que puede vaciar de contenido a la poltica () si se pone demasiado peso sobre la
parte comunicativa. La cuestin de los relatos y las historias est muy bien si no olvidamos que son una herramienta para transmitir contenidos polticos. Si acaban siendo un fin en s mismos es donde aparece el gran problema: concebirlos como un fin en lugar de como un medio.
Mientras, a los profesionales del sector les pedimos que expresasen su grado de
conformidad con la siguiente afirmacin: Creo que el uso de los relatos
personales puede ser contraproducente para el ejercicio de la poltica porque
contribuye a la trivializacin y a la banalizacin. A diferencia del presidente de la
1 Ex presidente del gobierno espaol.
2 Complejo de ms de 33.000 metros cuadrados, ubicado en la comunidad de madrid, que incluye un palacio real,
una baslica, un panten, una biblioteca y un monasterio. construido en el siglo xvi, fue residencia de la familia real
espaola y es lugar de sepultura de los reyes espaoles.
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ACOP, ninguno de los encuestados percibe que el storytelling personal pueda tener
efectos perjudiciales de este tipo: el 75% dicen estar en total desacuerdo con
dicha aseveracin y el 25% se manifiestan en bastante desacuerdo con ella.
Por lo tanto, los profesionales que emplearon esta tcnica de relatos personales
no temen ninguna consecuencia negativa derivada del uso del storytelling. Por el
contrario, el presidente de la ACOP insisti en su reflexin final de la entrevista
en la necesidad de no trivializar el empleo del storytelling, en el que percibe que se
desvirtu su esencia al reducirlo a contar historietas:
Hay algo que me sorprende del storytelling: que se olvide un poco el origen contemporneo de este concepto, de Henry Jenkins (profesor del Massachusetts Institute of Technology de 2003) con el artculo Transmedia Storytelling. Se ha
simplificado demasiado el storytelling: parece que es contar historietas o cuentos, o hacer relatos sin ms. Y no es eso: el artculo original de Jenkins lo que viene a decir es que se generan historias a partir de una trama narrativa que cubra todo el espectro comunicativo de un candidato, de una persona o de una institucin. Eso es lo ms til del storytelling, no reducirlo a contar historias Porque se ha desdibujado lo que es el concepto de storytelling, que no es hacer historietas ni simplificarlo como en la nia de Rajoy3. Tiene que ver con eso, pero no es eso.
Conclusiones
Pese a que diversos tericos critican la utilizacin de los relatos personales de
los polticos por entender que agravan la desafeccin ciudadana al mostrar su
faceta ms humana, ni el experto consultado ni los profesionales del mbito
gallego (una de las comunidades autnomas que forman parte de Espaa)
comparten esa impresin. Mientras que los que han trabajado con esta tcnica
creen que es til para combatir esa desafeccin (la mitad de ellos opinan que es
bastante til y la otra mitad que es muy til), el presidente de la Asociacin
de Comunicacin Poltica opina que depende del uso que se les d, de modo que
tanto puede contribuir a minimizar esa percepcin como a agrandarla.
3 Referencia a una intervencin del candidato del PP espaol, Mariano Rajoy, durante un debate en la campaa de
las elecciones nacionales (2008): https://www.youtube.com/watch?v=xdFDPxsxl9Y
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STORYTELLING PERSOAL, DESAFECCIN CIUDADANA Y BANALIZACIN DA POLTICA
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Por el contrario, respecto del riesgo que entraan los relatos personales
para la banalizacin de la poltica no se produce esa coincidencia entre las fuentes
de nuestra investigacin porque mientras que los profesionales se muestran
radicalmente en contra de ese postulado, el experto al frente de la ACOP s
advierte de que el principal inconveniente del storytelling personal es precisamente
el de contribuir a la trivializacin.
En cualquier caso, hay que sealar que, desde nuestra perspectiva, es
necesario desterrar visiones simplistas extremas que defiendan a ultranza el
empleo de esta tcnica y tambin las que sistemticamente la condenan al
ostracismo. Al contrario, conviene impulsar la produccin cientfica sobre el
storytelling en la comunicacin poltica y entablar un dilogo permanente con la
prctica profesional y la sociedad porque solo a partir de esta triple encrucijada se
podrn obtener conclusiones fiables, siempre relativas y no universalmente
vlidas, sino que sometidas a las coordenadas sociopolticas en las que se
producen y se reciben esos mensajes.
Referencias
BRUNER, Jerome. La fbrica de historias. Derecho, literatura, vida. Buenos Aires: FCE, 2003. DE MIGUEL, Roberto. La entrevista en profundidad a los emisores y los receptores de los medios en BERGAZA CONDE, Rosa y RUIZ SAN ROMN, Jos A. Investigar en Comunicacin. Gua prctica de mtodos y tcnicas de investigacin social en Comunicacin. Madrid: McGrawHill, p.251-264, 2005. LAGUNA, Antonio. La profesionalizacin comunicativa: partidos polticos o empresas de comunicacin. mbitos. Revista internacional de comunicacin, n.22, p.11-20, 2013. MAAREK, Philippe J. Politics 2.0: New Forms of Digital Political Marketing and Political Communication. Trpodos, n.34, p. 13-22, 2014. NEZ, Antonio. Ser mejor que lo cuentes! Los relatos como herramientas de comunicacin. Barcelona: Empresa Activa, 2007. SALMON, Christian. Storytelling. La mquina de fabricar historias y formatear las mentes. Barcelona: Pennsula, 2007
DOSSI 13 PABLO VZQUEZ SANDE
STORYTELLING PERSOAL, DESAFECCIN CIUDADANA Y BANALIZACIN DA POLTICA
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.7-13, mai. 2016.
VALLS, Josep M. Poltica democrtica y comunicacin: un rapto consentido. Revista de Estudios Polticos, n.150, p.11-50, 2010. VAN AELST, Peter; SHEAFER, Tamir; y STANYER, James. The Personalization of Mediated Political Communications: a review of Concepts, Operationalizations and Key Findings. Journalism, n.13 (2), p.203-220, 2012. VZQUEZ, Pablo. Storytelling personal en el relato poltico. Anlisis de los contenidos publicados en Youtube por los candidatos gallegos en las elecciones municipales de 2011. Tese de Doutoramento, indita, 2015.
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DOSSI ADRIANO OLIVEIRA, CARLOS GADELHA E SIMARA COSTA
OS RESULTADOS DAS PESQUISAS ELEITORAIS INFLUENCIAM AS ESCOLHAS DOS ELEITORES?
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.14-27, mai. 2016.
OS RESULTADOS DAS PESQUISAS ELEITORAIS INFLUENCIAM AS ESCOLHAS DOS ELEITORES?
Adriano Oliveira Universidade Federal de Pernambuco
Carlos Gadelha
Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau
Simara Costa
Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau
Resumo: Os resultados das pesquisas eleitorais influenciam o voto do eleitor? O objetivo deste artigo responder tal indagao. Procura-se verificar tambm se os eleitores na eleio para presidente da Repblica, governo do Estado e Senado tomaram conhecimento dos resultados das pesquisas eleitorais, e se sim, se acreditaram neles. De posse dos dados encontrados, testamos a hiptese central deste artigo: No universo dos eleitores que acreditam nos resultados das pesquisas eleitorais est presente o maior porcentual de eleitores que assevera que os resultados das pesquisas influenciam o seu voto e a de outros eleitores. Os dados abordados neste artigo advm de pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau entre os eleitores recifenses aps o processo eleitoral de 2014. Palavras-chave: Pesquisas eleitorais; Eleitores; Escolhas; Influncia dos eleitores. Abstract: The results of polls influence the vote of the voter? The purpose of this article is to answer this question. Wanted also check voters in the election for President of the Republic, the state government and Senate took note of the results of the polls, and if so, to believe them. Having the data found, we test the central hypothesis of this article: In the universe of voters who believe the results of polls is this the highest percentage of voters who asserts that research results influence your vote and other voters. The data discussed in this article come from research conducted by the Mauritius Research Institute of Nassau between Recife voters after the election 2014. Keywords: electoral Research, Voters, Choices, Influence voters.
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DOSSI ADRIANO OLIVEIRA, CARLOS GADELHA E SIMARA COSTA
OS RESULTADOS DAS PESQUISAS ELEITORAIS INFLUENCIAM AS ESCOLHAS DOS ELEITORES?
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.14-27, mai. 2016.
Introduo
corriqueiro, em pocas eleitorais, os institutos de pesquisas serem
questionados quanto sua credibilidade. Os questionamentos advm dos
eleitores, imprensa e candidatos. Eles provocam diversas discusses que
possibilitam que os institutos de pesquisas e as pesquisas eleitorais sejam
vitrines durante a competio eleitoral ou em momentos de tenso social
(CHAMPAGNE, 1998; GRAMACHO, 2010).
So diversos os questionamentos aos institutos de pesquisas, dentre os
quais: 1) Esta pesquisa est correta? 2) Quem pagou por esta pesquisa? 3) Na
pesquisa do instituto A, Z est frente de D; mas na pesquisa do instituto B,
Z est atrs de D. Por qu1? Estas indagaes provocam intensos debates que
promovem dvidas quanto credibilidade dos institutos de pesquisas2. Alm
disto, pairam incertezas sobre a influncia das pesquisas eleitorais na escolha
do eleitor3.
Em razo dos questionamentos apresentados, este artigo tem o objetivo
de responder, inicialmente, as seguintes indagaes: 1) Os eleitores confiam
em institutos de pesquisas que divulgam pesquisas eleitorais? 2) Na ltima
eleio brasileira, a qual ocorreu no ano de 2014, os eleitores tomaram
conhecimento dos resultados de pesquisas eleitorais? 3) Se sim, os eleitores
acreditaram nos resultados que foram divulgados pelos institutos? 4) No
universo dos eleitores que tomaram conhecimento dos resultados das
1 Na ltima eleio presidencial, o presidencivel Acio Neves (PSDB) questionou os resultados das pesquisas eleitorais. Segundo ele, as pesquisas erraram no 1 turno da disputa eleitoral (GAIER, 2014). http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/reuters/2014/10/23/aecio-questiona-pesquisas-e-diz-que-dilma-e-derrotada-em-qualquer-resultado.htm 2 Em outubro de 2013, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina concluiu CPI que sugeriu a ocorrncia de fraudes em pesquisas eleitorais realizadas pelo Ibope no municpio de Foz do Iguau http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/cpi-do-ibope-conclui-que-houve-fortes-indicios-de-fraude-em-pesquisas-eleitorais-30mheo4lm1zj7dnu4sghcstam 3 Em fevereiro de 2015, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) protocolou pedido para instalao da CPI das pesquisas eleitorais. Segundo Barros, o objetivo da pesquisa "O objetivo da investigao avaliar a divulgao das pesquisas e o seu reflexo no resultado das eleies. Ns queremos saber se o eleitor se influencia ou no pela pesquisa que divulgada vspera da eleio para que a possamos prosperar na regulao desse assunto. http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/481365-CPI-DA-PESQUISA ELEITORAL-FOI-A-PRIMEIRA-A-SER-PROTOCOLADA.html
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DOSSI ADRIANO OLIVEIRA, CARLOS GADELHA E SIMARA COSTA
OS RESULTADOS DAS PESQUISAS ELEITORAIS INFLUENCIAM AS ESCOLHAS DOS ELEITORES?
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.14-27, mai. 2016.
pesquisas, eles acreditaram que elas influenciaram o seu voto e o de outros
eleitores?
A hiptese central deste artigo : no universo dos eleitores que
acreditam nos resultados das pesquisas eleitorais est presente o maior
porcentual de eleitores que assevera que os resultados das pesquisas
influenciam o seu voto e a de outros eleitores. Neste caso, quanto mais o
eleitor acredita nos resultados, mais crer que eles influenciam o seu voto e o
de outrem. Esta a relao causal que sugere a hiptese apresentada.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau
(IPMN) na cidade do Recife, capital de Pernambuco, no ano de 2014, aps as
disputas para presidente da Repblica, governo do Estado e Senado,
possibilita, atravs da estatstica descritiva e de outras ferramentas estatsticas,
como teste de associao, que as indagaes apresentadas encontrem
respostas e a hiptese seja testada4.
Este artigo sofre forte influncia de Champagne (2008). Segundo este
autor, as pesquisas de opinio podem ser utilizadas por atores polticos para
influenciar a opinio pblica, e, por consequncia, a tomada de deciso de
diversos atores. Elas podem, inclusive, ameaar a democracia, em razo de
que elas representam para os analistas polticos e jornalistas a opinio
suprema, a qual deve ser respeitada e seguida. E, obviamente, no
questionada, pois as pesquisas refletem os desejos da opinio pblica.
Gramacho (2013) desenvolve artigo indito sobre os erros das
pesquisas eleitorais brasileiras. O autor procurar verificar, com base em
diversas pesquisas realizadas no ano de 2010 para presidente da Repblica e
governo do Estado, se os resultados apresentados por elas conferem com os
derivados das urnas. O artigo conclui que os contextos importam para
explicar os resultados das eleies, que nenhum partido foi beneficiado pelas
4 As entrevistas foram realizadas nos dias 13 e 14 de outubro entre os eleitores recifenses. Foram
entrevistados 624 eleitores. Agradecemos o apoio do IPMN.
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DOSSI ADRIANO OLIVEIRA, CARLOS GADELHA E SIMARA COSTA
OS RESULTADOS DAS PESQUISAS ELEITORAIS INFLUENCIAM AS ESCOLHAS DOS ELEITORES?
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.14-27, mai. 2016.
pesquisas eleitorais realizadas no decorrer da disputa eleitoral de 2010 e que
no convm condenar a preciso dos resultados das pesquisas.
Oliveira et. al (2011) responde parte das indagaes apresentadas neste
artigo em pesquisa realizada no estado de Pernambuco no ano de 2010 aps
as eleies para presidente da Repblica e governo do Estado. Porm, o autor
no testa as hipteses sugeridas neste artigo. Portanto, os estudos de
Gramacho (2013) e Oliveira et. al abordam a preciso dos resultados das
pesquisas e a confiabilidade delas entre os eleitores. Entretanto, eles no
respondem se, luz dos eleitores, os resultados das pesquisas eleitorais
influenciam ou no as escolhas dos eleitores.
Inicialmente, este artigo, atravs da estatstica descritiva, responde as
indagaes apresentadas. Em seguida testa a hiptese evidenciada. Apesar dos
dados contidos neste artigo advirem apenas da opinio dos eleitores
recifenses, ele contribui para iluminar a plausibilidade da afirmao presente
no senso comum de que os resultados das pesquisas eleitorais influenciam a
deciso dos eleitores. Alm de incentivar novas pesquisas sobre a influncia
dos resultados das pesquisas no comportamento dos eleitores.
As pesquisas eleitorais na opinio dos eleitores
Voc confia em institutos de pesquisas que realizam pesquisas
eleitorais? 9,3% dos entrevistados afirmaram confiar em todos os institutos de
pesquisas. 40,9% declararam no confiar em institutos de pesquisas. E 38,3%
frisaram confiar em apenas alguns institutos de pesquisas. Constatamos,
portanto, que 47,6% dos eleitores confiam em algum instituto de pesquisa. Tal
porcentual superior aos do que declaram no confiar em nenhum.
Os eleitores com menor renda familiar so os que menos confiam em
institutos de pesquisas (Tabela 1). No universo dos eleitores que tem renda
familiar at 1 salrio mnimo, 57% no confiam em nenhum instituto de
pesquisa. Entre os eleitores que tm renda familiar acima de 1 at 2 salrios
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DOSSI ADRIANO OLIVEIRA, CARLOS GADELHA E SIMARA COSTA
OS RESULTADOS DAS PESQUISAS ELEITORAIS INFLUENCIAM AS ESCOLHAS DOS ELEITORES?
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.14-27, mai. 2016.
mnimo, 44% no confiam. Entre os eleitores que tm renda familiar entre 2 e
5 salrios mnimo, 31% no confiam. No segmento dos eleitores que tem
renda familiar superior a 5 salrios mnimo, 34% no confiam.
Os dados revelam que os institutos de pesquisas tm maior aprovao
entre os eleitores com maior renda familiar. No universo dos eleitores que
possuem renda entre 2 a 5 salrios mnimos, 59% confiam em algum instituto
de pesquisa. Porcentual semelhante encontramos no estrato de eleitores que
tm renda acima de 5 salrios mnimos.
Resultados semelhantes encontramos quando analisamos a opinio dos
eleitores por nvel de instruo. So os eleitores com mais tempo de estudo
que mais confiam em algum instituto de pesquisa. E os que tm menor tempo
de estudo so os que menos confiam Tabela 1. Portanto, eleitores com
maior renda e com maior nvel de instruo so os que mais confiam em
algum instituto de pesquisa.
Tabela 1 Voc confia em institutos de pesquisas que realizam pesquisas eleitorais?
Fonte: Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau
Nesta ltima campanha eleitoral, voc tomou conhecimento de
resultados de pesquisas eleitorais? 49,2% asseveraram que sim e 46,6%
afirmaram que no. No universo de 49,2%, 98% frisaram que a televiso foi a
principal fonte de informao. Seguido da internet, com 52%.
So os eleitores com maior renda familiar e mais tempo de estudo que
mais afirmaram ter tomado conhecimentos dos resultados das pesquisas
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DOSSI ADRIANO OLIVEIRA, CARLOS GADELHA E SIMARA COSTA
OS RESULTADOS DAS PESQUISAS ELEITORAIS INFLUENCIAM AS ESCOLHAS DOS ELEITORES?
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.14-27, mai. 2016.
eleitorais. Entre os eleitores com renda acima de 5 salrios mnimo, 61%
afirmaram que tomaram conhecimentos dos resultados das pesquisas. No
universo entre 2 a 5 salrios mnimo, 63% (Tabela 2).
Com a diminuio da renda, o porcentual de eleitores informados sobre
os resultados de pesquisas se reduz. Nos estratos de renda familiar entre 1 e 2
salrios mnimo e at 1 salrio mnimo, os porcentuais foram de 45% e 37%,
respectivamente. Os eleitores com maior tempo de estudo so os que tambm
tomaram conhecimento sobre os resultados das pesquisas eleitorais. Portanto,
quanto mais elevada renda familiar e o nvel de instruo dos eleitores, maior
a informao sobre as pesquisas eleitorais e maior a confiana em algum
instituto de pesquisa.
Tabela 2 Nesta ltima campanha eleitoral, voc tomou conhecimento de resultados de pesquisas eleitorais?
Fonte: Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau
Ao tomar o conhecimento dos resultados, voc acreditou neles? 58,6%
responderam sim. E 33,6%, no. Neste ponto, no encontramos forte
diversidade de opinio sobre a confiana nos resultados das pesquisas. Em
todos os segmentos renda familiar e nvel de instruo constatamos
porcentual acima de 50% de confiana dos eleitores para com os resultados
das pesquisas.
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Tabela 3 Ao tomar conhecimento dos resultados, voc acreditou neles?
Fonte: Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau
No universo dos que foram informados sobre os resultados das
pesquisas eleitorais (49,2%), 70,1% salientaram que os institutos de pesquisas
acertaram parte dos resultados das eleies. E 18,4% frisaram que eles
acertaram todos os resultados das eleies. Portanto, 88,5% consideram, de
algum modo, que os institutos de pesquisas acertaram os resultados da eleio.
Em sua avaliao, os resultados das pesquisas eleitorais divulgados pela
imprensa influenciaram o voto dos eleitores? Entre os eleitores que
declararam ter tomado conhecimento dos resultados das pesquisas eleitorais
(49,2%), predomina a opinio de que eles, ao serem divulgados pela imprensa,
influenciaram a escolha dos eleitores.
A tabela 4 mostra que 60% dos eleitores afirmaram que os resultados
das pesquisas influenciaram as escolhas de outros eleitores para o governo de
Pernambuco. 63% e 60% frisaram que os resultados incentivaram a deciso
dos eleitores para senador e presidente da Repblica, respectivamente. Quanto
maior a renda, maior a crena de que os resultados das pesquisas eleitorais
influenciaram o voto de outrem eleitor.
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Tabela 4 Em sua opinio, os resultados das pesquisas eleitorais divulgados pela imprensa influenciaram o voto dos eleitores para:
Fonte: Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau
Em sua avaliao, os resultados das pesquisas eleitorais divulgados pela
imprensa influenciaram o seu voto? Ao contrrio do que a Tabela 4 mostra, os
eleitores no consideram, majoritariamente, que os resultados das pesquisas
divulgados influenciaram o seu voto.
Para 28% dos eleitores, os resultados das pesquisas influenciaram a sua
escolha eleitoral para governador de Pernambuco. 26% e 21% dos eleitores
reconhecem que os resultados das pesquisas influenciaram o seu voto para
senador de Pernambuco e presidente da Repblica. Independente da renda e
do nvel de instruo, os eleitores, majoritariamente, reconhecem que os
resultados das pesquisas no incentivaram a sua escolha eleitoral (Tabela 5).
Tabela 5 Em sua opinio, os resultados das pesquisas eleitorais divulgados pela imprensa influenciaram o seu voto para
Fonte: Instituto de Pesquisa Maurcio de Nassau
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A crena dos eleitores e o reconhecimento da influncia
Os eleitores, majoritariamente, afirmam que os resultados das pesquisas
eleitorais influenciam o seu voto e dos demais eleitores. Esta hiptese foi
parcialmente falseada. As tabelas 4 e 5 mostram que os eleitores,
majoritariamente, afirmam que os resultados das pesquisas eleitorais
influenciaram o voto dos outros eleitores 60% para presidente da Repblica,
65% para governador de Pernambuco e 63% para senador de Pernambuco.
Entretanto, 79% dos eleitores consideram que os resultados das pesquisas no
incentivaram o seu voto para presidente da Repblica. E 72% e 74%
asseveram, respectivamente, que eles no influenciaram a sua escolha para
governador de Pernambuco e senador de Pernambuco.
Qual a razo desta diferena de opinio? Interpretao possvel no
advm dos dados. Mas de uma nova hiptese. Os eleitores no admitem
admitir, embora possam acreditar, que os resultados das pesquisas eleitorais
influenciem o seu voto. Neste sentido, eles reconhecem que os resultados das
pesquisas incentivam o voto de outrem, mas no o seu. Tal negao sugere
possvel vergonha ou receio em admitir que a sua escolha eleitoral foi
influenciada pelos resultados das pesquisas.
A outra hiptese deste artigo : No universo dos eleitores que
acreditaram nos resultados das pesquisas eleitorais esto presentes o maior
porcentual de eleitores que asseveram que os resultados das pesquisas
influenciam o seu voto e a de outros eleitores. Esta hiptese falsa.
Para o teste da hiptese apresentada, foram realizadas anlises
conjuntas de duas variveis quanto s suas relaes, dependncias ou
associaes. Neste caso, foram utilizadas tcnicas e testes de comparao de
proporo (com utilizao do mtodo de comparao mltipla de Bonferroni)
com uma significncia de 5%. O ajuste de Bonferroni conservativo, ou seja,
o p-valor que ele produz nunca menor que o p-valor real. Assim, quando o
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p-valor, aps o ajuste de Bonferroni for pequeno, a hiptese nula pode ser
rejeitada conclusivamente.
Os resultados de comparao das propores aqui apresentados e que
tiveram resultados significativos indica que foi encontrado em cada caso um
p-valor
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Tabela 6 Ao tomar conhecimento dos resultados, voc acreditou neles? Versus Em sua avaliao, os resultados das pesquisas eleitorais divulgados pela imprensa
influenciaram O VOTO DOS ELEITORES para:
Valor de p = 0,017
Valor de p = 0,007
Valor de p = 0,004
Foi utilizado o Teste Qui-Quadrado de Pearson para verificar a
existncia de associao entre as variveis P. 05 e P.07. Todas as variveis
testadas apresentaram associao com nvel de significncia de p
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Por outro lado, no universo dos eleitores que no acreditaram nos
resultados das pesquisas 36,4% que encontramos o menor porcentual de
eleitores que admitem que eles influenciaram o seu prprio voto para
presidente da Repblica, governador de Pernambuco e senador de
Pernambuco. Os resultados foram, respectivamente: 8,8%, 10,8% e 7,8%.
Neste caso, quanto menor a confiana nos resultados das pesquisas, menor o
porcentual de eleitores que reconhecem a influncia deles em sua escolha
eleitoral.
Tabela 7 Ao tomar conhecimento dos resultados, voc acreditou neles? Versus Em sua avaliao, os resultados das pesquisas eleitorais divulgados pela imprensa
influenciaram O SEU VOTO para:
Valor de p =0,000
Valor de p =0,000
Valor de p =0,000
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Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.14-27, mai. 2016.
Foi utilizado o Teste Qui-Quadrado de Pearson para verificar a
existncia de associao entre as variveis P. 05 e P.08. Todas as variveis
testadas apresentaram associao com nvel de significncia de p
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presente o menor porcentual de eleitores que no acreditam que elas
influenciam o seu prprio voto.
Portanto, ao contrrio da interpretao do eleitor para com a influncia
do resultado da pesquisa em outrem, constatamos que no universo dos que
acreditam nos resultados das pesquisas que est o maior percentual de
eleitores que creem que elas influenciam o seu prprio voto. Ento, parte da
hiptese no foi falseada.
Tal contradio incentiva realizao de novas pesquisas com o
objetivo de decifr-la. Este artigo, entretanto, contribui para mostrar que os
eleitores acreditam, majoritariamente, que os resultados das pesquisas
eleitorais influenciam a deciso do eleitor. Porm, no admitem, em sua
maioria, que elas incentivam a sua prpria escolha. Qual a razo disto? Outra
agenda para nova pesquisa.
Referncias
CHAMPAGNE, Patrick. Formar a opinio O novo jogo poltico. Traduo de Guilherme Joo de Freitas Teixeira. GRAMACHO, Wladimir G. margem das margens? A preciso das pesquisas pr eleitorais brasileiras em 2010. Opin. Publica v.19, n.1, Campinas, June, 2013. GUSMO, Lus de. O fetichismo do conceito: limites do conhecimento terico na investigao social. Rio de Janeiro: Topbooks, 2012. OLIVEIRA, Adriano; GADELHA, Carlos; ROMO, Maurcio. As pesquisas das pesquisas A opinio do eleitor sobre as pesquisas eleitorais. Teoria e Pesquisa: Revista de Cincia Poltica. v.20, n.2, 2011.
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VANDERLEI DE CASTRO EZEQUIEL DISCURSO DO MEDO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2014
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.28-34, mai. 2016.
DISCURSO DO MEDO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2014
Vanderlei de Castro Ezequiel Faculdade Csper Lbero
[email protected] Resumo: O objetivo deste trabalho analisar o discurso do medo como estratgia de campanha eleitoral. A orientao terico-metodolgica a Anlise de Discurso de linha francesa. Conclui-se que, no atual contexto poltico-eleitoral brasileiro o discurso do medo utilizado de maneira generalizada pelos candidatos e partidos, independentemente do posicionamento ideolgico, espetacularizando a poltica. Palavras-chave: medo, discurso poltico, ethos, antiethos, espetculo.
Abstract: The objective of this study is to analyze the discourse of fear as a campaign strategy. The theoretical and methodological orientation is the French Discourse Analysis. We conclude that, in the current Brazilian political-electoral context the discourse of fear is used extensively by candidates and parties, regardless of ideological positioning, spectacularizing the policy. Keywords: fear, political discourse, ethos, antiethos, spectacle.
Introduo
Muitos pesquisadores e cientistas polticos afirmam que o medo no
elege. Entretanto, esse um discurso recorrente em campanhas eleitorais No
perodo eleitoral, candidatos e partidos polticos investem em elementos de
diferenciao no enfrentamento da concorrncia, cada vez mais acirrada, pelo
voto. A principal estratgia desenvolver uma imagem positiva (ethos) do
candidato e do partido junto populao. Por outro, o ataque aos adversrios
tambm amplamente utilizado, empregando, muitas vezes, o discurso do
medo para desconstruir e macular a imagem, criando um antiethos dos
oponentes.
O objetivo deste trabalho analisar o discurso do medo como
estratgia de campanha eleitoral. Especificamente, pretende-se identificar a
utilizao do discurso do medo para construo do ethos dos candidatos e
antiethos dos adversrios e sua apropriao por diferentes correntes
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VANDERLEI DE CASTRO EZEQUIEL DISCURSO DO MEDO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2014
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.28-34, mai. 2016.
poltico/ideolgicas, durante as eleies para Presidente da Repblica do
Brasil em 2014.
O trabalho inicia-se apresentando os conceitos: origem do medo
(MIRA Y LOPES E DELUMEAU) e racionalizao do medo (HOBBES),
espetacularizao (DEBORD). Segue com a apresentao da metodologia da
Anlise de Discurso de linha francesa discurso poltico, ethos e antiethos. Em
seguida, apresenta o objeto fala dos principais candidatos durante a
campanha eleitoral de 2014 e analisa as sequncias discursivas selecionadas.
Finaliza com uma anlise crtica do discurso do medo nas eleies.
Origem do medo e sua racionalizao
O medo representa uma emoo extraordinariamente complexa, pois
acha-se integrado pela combinao de vrios processos que foram surgindo ao
longo da evoluo biolgica. Pode ser definido como um estado, no da
mente, mas do sistema neuroendcrino, constituindo uma raiz biolgica
primitiva do fenmeno emocional (MIRA, LPEZ, 1996).
Inerente natureza humana, constituindo-se numa defesa essencial
contra os perigos, o medo indispensvel reflexo que auxilia ao organismo
escapar provisoriamente morte: sem ele, nenhuma espcie teria sobrevivido.
Para Delumeau, o termo medo, no sentido estrito (individual): [...] uma
emoo-choque, frequentemente precedida de surpresa, provocada pela
tomada de conscincia de um perigo presente e urgente que ameaa, cremos
ns, nossa conservao (2009, p. 30).
Thomas Hobbes em seu clssico Leviat parte de um construto
terico: estado de natureza, utilizado como metfora para explicar como
seria a vida dos homens se eles no vivessem em sociedade. Assim, os homens
em estado de natureza no esto submetidos a qualquer ordenamento ou
instituio superior a si, sendo todos iguais, tanto em fora fsica como em
esprito. Ou seja, igualmente aptos a matar e, por isso mesmo, vivendo a
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VANDERLEI DE CASTRO EZEQUIEL DISCURSO DO MEDO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2014
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.28-34, mai. 2016.
ameaa de um estado catico, de ausncia de regras comuns, de anomia total,
tendo como expresso mxima a guerra de todos contra todos. Devido s
paixes humanas a situao de convvio coletivo torna-se invivel e a paz
social no possvel. Em contrapartida,
As paixes que fazem os homens tender para a paz so o medo da morte, o desejo daquelas coisas que so necessrias para uma vida confortvel, e a esperana de consegui-las atravs do trabalho. E a razo sugere adequadas normas de paz, em torno das quais os homens podem chegar a acordo. (HOBBES, 1979, p. 77).
Assim, ao tomar conscincia do perigo comum em que se encontram,
os indivduos teriam tomado deciso racional de sarem do estado natural,
entrando no estado civil. Institui-se, ento, o poder do Estado, e no centro do
nascimento do Estado encontra-se o medo. Esse medo, produtor de
racionalidade, parte de um impulso que, ao colocar em risco um bem essencial
a vida estimula os indivduos a ultrapassarem suas divergncias para
fundar uma ordem poltica, garantindo a sobrevivncia de todos.
Discurso poltico, ethos e antiethos
O discurso poltico, durante o perodo eleitoral, sofre a coero da
formao discursiva a que pertence, exibindo uma situao de disputa que
estabelece a figura do sujeito-candidato e seu oposto, o outro, adversrio
poltico. O discurso poltico objetiva, assim, influenciar as opinies a fim de
obter adeses s propostas que defende, ou rejeies aos projetos adversrios.
O discurso poltico no esgota, de forma alguma, todo o conceito poltico, mas no h poltica sem discurso. Este constitutivo daquela. A linguagem o que motiva a ao, a orienta e lhe d sentido. A poltica depende da ao e se inscreve constitutivamente nas relaes de influncia social, e a linguagem, em virtude do fenmeno de circulao dos discursos, o que permite que se
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VANDERLEI DE CASTRO EZEQUIEL DISCURSO DO MEDO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2014
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.28-34, mai. 2016.
constituam espaos de discusso, de persuaso e de seduo nos quais se elaboram o pensamento e a ao polticos. A ao poltica e o discurso poltico esto indissociavelmente ligados, o que justifica pelo mesmo raciocnio o estudo poltico pelo discurso (CHARAUDEAU, 2011, p. 39).
De acordo com Charaudeau, O ethos relaciona-se ao cruzamento de
olhares: olhar do outro sobre aquele que fala, olhar daquele que fala sobre a
maneira como ele pensa que o outro v (2011, p. 115). Ainda segundo o
autor, a construo da imagem do sujeito que fala se apoia ao mesmo tempo
nos dados anteriores ao discurso, isto , naquilo que se sabe a priori do
locutor, e nos dados trazidos pela prpria enunciao.
Dessa forma, ao constituir um ethos prprio, o candidato investe direta
ou indiretamente na produo do antiethos figura do adversrio. Essa
estratgia de realizar a crtica indireta do oponente refora a valorizao do
ethos prprio. No entanto, a falha no ritual discursivo pode deslizar,
inconscientemente, o antiethos para o prprio sujeito poltico enunciante,
construindo uma imagem negativa do candidato.
O medo na disputa eleitoral de 2014
O corpus deste artigo sequncias discursivas se delimita a prtica
discursiva dos dois candidatos que disputaram o segundo turno da eleio
Presidncia da Repblica do Brasil em 2014: Acio Neves e Dilma Rousseff,
publicados em veculos de comunicao (impressos e/ou eletrnicos)
relevantes no contexto social brasileiro.
Durante a campanha eleitoral de 2014, o PSDB e seu candidato Acio
Neves atacam as boas relaes do Brasil com o governo cubano, fazendo
ressurgir o fantasma do comunismo na tentativa de tirar votos da adversria:
Dilma Rousseff (PT). Para tanto, o partido publicou na sua pgina no
Facebook uma animao de um minuto e dezoito segundos, intitulada Os
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VANDERLEI DE CASTRO EZEQUIEL DISCURSO DO MEDO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2014
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.28-34, mai. 2016.
Monstros da Dilma. Na animao, figuram personagens criados pelo PSDB
em aluso ao que o partido considerava problemas do governo petista. Ao
lado da Fantasmagrica Corrupo e do Jurssico PAC aparece o
personagem Godzilla Cubano, uma figura pr-histrica exibindo uma
bandana com a bandeira cubana. Com isso estimularam o medo do
comunismo, aproveitando uma discusso comum nos debates do submundo
da internet, e fizeram surgir inmeras teorias conspiratrias, como as de que
os mdicos cubanos contratados pelo Programa Mais Mdicos seriam
guerrilheiros que viriam ao Brasil perpetrar um golpe comunista. O antiethos
produzido contra Dilma propaga o medo do comunismo, combatido de longa
data por foras conservadoras e de direita no Brasil.
Temendo a derrota, aps sucessivas quedas nos ndices de inteno de
voto, os responsveis pela campanha do Partido dos Trabalhadores adotaram
o discurso do medo como estratgia. A presidente e candidata reeleio
Dilma Rousseff foi apresentada como nica garantia de que as conquistas do
povo no sero tiradas. Simultaneamente, assume um discurso do medo,
insinuando que os adversrios, se chegarem ao poder, eliminariam os
benefcios conquistados com os governos petistas: Bolsa-famlia, PROUNI,
Mais-mdicos. Essas mensagens foram inseridas no programa partidrio e
anncios publicitrios da campanha eleitoral, e de forma indireta, nos
discursos da candidata Dilma. Neste caso, o antiethos atribudo aos seus
adversrios propaga, principalmente, o medo da perda de benefcios e
conquistas sociais adquiridos durante os governos petistas.
Espetacularizao da poltica
Para pensador francs Guy Debord, O espetculo no um conjunto
de imagens, mas uma relao social entre pessoas, mediada por imagens
(2004, p. 14). De acordo com Debord, no plano das tcnicas, a imagem
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VANDERLEI DE CASTRO EZEQUIEL DISCURSO DO MEDO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2014
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.28-34, mai. 2016.
construda pode se tornar a principal ligao do indivduo com o mundo
real, que ele vivenciava por si mesmo, interagindo com as situaes que
defrontava em qualquer lugar que pudesse ir. Na sociedade espetacular no h
mais espao para vivermos nossas prprias experincias, so os modelos que
vivem em nosso lugar: tudo o que era vivido diretamente torna-se uma
representao (2004, p. 13).
A dinmica eleitoral brasileira favorece o estabelecimento de um debate
poltico esvaziado de contedo e espetacularizado na forma. Durante as
campanhas eleitorais, principalmente para cargos majoritrios, os candidatos
lanam acusaes sem compromisso com a comprovao contra seus
adversrios, repercutindo na mdia toda sorte de agresso. No raro, como no
caso analisado, a prpria mdia propaga sua opinio, revelando um discurso
agressivo e utilizando padres de manipulao com apropriaes do discurso
do medo. Essa multiplicidade de vozes, acirramento de interesses nem sempre
claros ao eleitor, e utilizao de imagens que estimulam as paixes humanas
contribuem para a despolitizao da disputa eleitoral.
Concluso
Os estmulos de medo propagados durante as campanhas eleitorais
trabalham com a dimenso instintiva dos eleitores, limitando o espao para
reflexo. Em contrapartida, as apropriaes do discurso do medo,
espetacularizadas no discurso dos candidatos, aprofundam o processo de
manipulao do indivduo e fragilizando da noo de poltica.
Numa democracia, as eleies significam um ritual peridico de
lembrana da delegao de soberania em troca de segurana. Porm, num
contexto de alienao cvica, em que o espao pblico se esvazia e o discurso
do medo se expande, a capacidade da sociedade de determinar o bem pblico,
mobilizando-se para tal, se atrofia espetacularizando a poltica.
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VANDERLEI DE CASTRO EZEQUIEL DISCURSO DO MEDO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2014
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.28-34, mai. 2016.
Conclui-se que, no atual contexto poltico-eleitoral brasileiro o discurso
do medo utilizado de maneira generalizada pelos candidatos e partidos,
independentemente do posicionamento ideolgico. Verifica-se que, mesmo os
chamados partidos progressistas, identificados com ideologias mais
esquerda no espectro poltico brasileiro, quando no poder desenvolvem
discursos conservadores, contrrios mudana.
Referncias CHARAUDEAU, P. Discurso poltico. Traduo de Dilson Ferreira da Cruz e Fabiana Komesu. So Paulo: Contexto, 2011. DEBORD, G. A sociedade do espetculo. 1. ed. 5. reimpr. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004. DELUMEAU, J. Histria do medo no ocidente. So Paulo: Companhia das Letras, 2009. HOBBES, T. Leviat ou matria, Forma e Poder de um Estado Eclesistico e Civil. Col. Os Pensadores. Trad.: Joo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. 2 ed. So Paulo: Abril Cultural, 1979. MIRA Y LPEZ, E. Quatro gigantes da alma. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1996.
Sites visitados Editor. (2014, outubro 22). Acio usa medo do comunismo contra Dilma. Pragmatismo Poltico. Acessado em 21 de fevereiro de 2015, em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/aecio-usa-medo-comunismo-contra-dilma.html Editor. (2014, setembro 03). Dilma quer ressuscitar o medo na campanha, afirma Marina Silva. G1. Acessado em 22 de fevereiro de 2015, em: http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/noticia/2014/09/dilma-quer-ressuscitar-o-medo-na-campanha-afirma-marina-silva.html Os monstros de Dilma. (2014). Facebook. Acessado em 21 de fevereiro de 2015, em: https://www.facebook.com/Rede45/photos/a.729255300487015.1073741923.190928727653011/729582360454309/
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CLUDIO ANDR DE SOUZA ANTIPETISMO E CICLOS DE PROTESTOS NO BRASIL: UMA ANLISE DAS MANIFESTAES
OCORRIDAS EM 2015
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.35-51, mai. 2016.
ANTIPETISMO E CICLOS DE PROTESTOS NO BRASIL: UMA ANLISE DAS MANIFESTAES OCORRIDAS EM 20151 Cludio Andr de Souza Faculdade Baiana de Direito/Universidade Catlica do Salvador
[email protected] Resumo: Este trabalho busca compreender o antipetismo enquanto um elemento presente no ciclo de protesto iniciado em junho de 2013, desembocando nas manifestaes contra o governo da presidente Dilma e o PT. Analisa-se o perfil dos manifestantes e de que forma os resultados obtidos estimulam a balizar as nuances da crise poltica atual, assim como as fissuras estabelecidas no lulismo diante da perda de apoio poltico na sociedade civil e no mbito institucional. A radicalizao do antipetismo observado bastante na sociedade civil e nos protestos ocorridos em 2015 um fator que compe a crise poltica, ajudando a desgastar ainda mais o governo, gerando efeitos imediatos nos nveis de confiana poltica nas instituies. Palavras chave: lulismo, protestos, antipetismo. Abstract: This work seeks to understand the anti-PT as an element in the protest cycle started in June 2013, ending up in the demonstrations against the government of President Dilma and PT. Analyzes the profile of the protesters and how the results stimulate mark out the nuances of the current political crisis, as well as cracking down on Lulism at the loss of political support civil society and institutional framework. The radicalization of anti-PT seen enough in civil society and in protests in 2015 is a factor that makes up the political crisis, helping to further erode the government, generating immediate effects on political trust levels in the institutions. Keywords: protest, democracy, government.
Os acontecimentos recentes da poltica brasileira so desafiadores a
todos que esto envolvidos em anlises referentes ao desenho institucional,
mas tambm dos protestos e mais recentemente dos repertrios de interao
Estado-sociedade (ABBERS, 2011; TATAGIBA, 2013).
As formas de mobilizao construdas no pas nos ltimos anos esto
intrinsecamente vinculadas ascenso do lulismo como uma forma de
promover distribuio de renda e incluso social sem confronto entre as
1 Este artigo uma verso inicialmente publicada enquanto captulo de livro Na luta contra o PT: projetos
polticos em disputa e radicalizao do antipetismo nos ciclos de protesto no Brasil. In: SOUZA, C. A.; BARREIROS NETO, J. #DemocraciaBr. O momento poltico atual. Salvador: Faculdade Baiana de Direito, 2015.
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CLUDIO ANDR DE SOUZA ANTIPETISMO E CICLOS DE PROTESTOS NO BRASIL: UMA ANLISE DAS MANIFESTAES
OCORRIDAS EM 2015
Em Debate, Belo Horizonte, v.8, n.3, p.35-51, mai. 2016.
classes, conforme assinala Singer (2012). As mobilizaes recentes
representam um jogo tensionado de disputa entre projetos polticos situados
nas relaes entre Estado e sociedade civil e que tambm se utilizam da
participao como um meio de organizao poltica (DAGNINO, 2006).
Vale ressaltar, no entanto, que as manifestaes de junho de 2013
explodiram uma forte indignao com os servios pblicos e com o sistema
poltico, de uma maneira geral, traduzindo o que Jos lvaro Moiss (2013) j
apontara como forte tendncia no cenrio brasileiro aps a democratizao,
ou seja, o fato dos ndices de baixa credibilidade institucional levarem a um
claro distanciamento da poltica e de seu funcionamento, tratando-se,
portanto, de um aspecto relacionado cultura poltica.
Um dos argumentos presentes neste trabalho diz respeito recorrente
desconfiana nas instituies por parte dos cidados, porm, direcionada a
partir de 2015 para a construo de narrativas que responsabilizam quase que
exclusivamente o Partido dos Trabalhadores (PT) por erros e posies
equivocadas (economia, corrupo, polticas pblicas, etc.), mas que atinge, na
verdade, o sistema poltico no qual se sustentam as instituies democrticas.
possvel falar em uma radicalizao do antipetismo situada em uma
dupla dimenso de anlise: a) imputa-se ao partido a responsabilidade por
malfeitos na poltica brasileira em um cenrio de forte crtica ao sistema
poltico; b) Mas, no entanto, as mobilizaes contra o PT assumem um vis
partidrio, medida que buscam a mobilizao de segmentos conservadores
alinhados oposio partidria, que ganharam fora ao longo do ano de 2015
em protestos contra a Presidente Dilma Rousseff (PT) e tendo como pano de
fundo o pedido de impeachment, levando a uma queda brutal dos ndices de
apoio ao seu governo, conforme pesquisas realizadas pelos principais
institutos de opinio.
Em suma, este trabalho tem como objetivo sustentar o argumento de
que as manifestaes de junho de 2013 e os protestos de 2015 contra o PT
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apresentaram pontos de aproximao, alm do que existe um confronto em
curso entre dois projetos polticos - o projeto neoliberal e o democrtico-
participativo -, tendo como um dos efeitos a radicalizao do antipetismo2,
como parte constitutiva de um projeto poltico neoliberal nos termos
analticos sugeridos por Dagnino (2006) e tambm analisados mais
recentemente por Andr Singer (2015), ao identificar alguns limites e
equvocos do lulismo nas decises encaminhadas no segundo governo da
Presidente Dilma, aproximando-se de uma agenda avessa queles que foram
os responsveis pela sua reeleio. So estes que tem ajudado a derrubar a
popularidade do governo diante de medidas que aceleram as fissuras do
lulismo como um modo de representao poltica, tendo como desfecho o
andamento do processo de impeachment no Senado Federal.
Confiana como marco das manifestaes de 2015
A confiana enquanto um instrumental analtico nos ajuda a
compreender os ciclos de protestos recentes no Brasil, ou seja, a importncia
da desconfiana como tema central de explicao da cultura poltica nos
estudos sobre a democracia. Moiss (2013, p. 363) confirma que
[...] a desconfiana poltica estrutural e afeta, seno todas, a grande maioria das instituies. Alm disso, ela no um fenmeno transitrio, associado a uma situao especfica, como denncias de escndalos ou crises polticas. persistente da relao entre os cidados brasileiros e as instituies, tal como j mostravam as pesquisas conduzidas ao longo das ltimas dcadas.
A confiana interpessoal pode ser entendida enquanto processo
designador de segurana de procedimento ou crena em outros com quem se
interage e se convive, sendo que nas cincias sociais, o interesse pelo
conceito est associado preocupao com os processos informais por meio
2 A radicalizao avana o dio de classe e rejeio ao PT, como um fenmeno anteriormente observado, isto
, que no se inicia em 2003 com a vitria presidencial de Lula.
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dos quais as pessoas enfrentam as incertezas e as imprevisibilidades que
decorrem da crescente complexificao da vida (MOISS, 2013, p. 39). O
que uma parte considervel da literatura analisa sob a tica do autor que
[...] as experincias dos cidados influem decisivamente sobre a confiana poltica e que elas esto associadas vivncia de regras , normas e procedimentos que decorrem do princpio de igualdade de todos perante a lei. Mostra tambm, no entanto, que a avaliao dos cidados sobre as instituies depende do aprendizado propiciado a eles pelo seu funcionamento prtico. Uma vez que sejam capazes de sinalizar, de modo inequvoco, o universalismo, a imparcialidade, a justeza e a probidade de seus procedimentos, assegurando que os interesses dos cidados sejam efetivamente levados em conta pelo sistema poltico, as instituies geram apoio, solidariedade e ganham a confiana dos cidados. Em sentido contrrio, quando prevalece a ineficincia ou a indiferena institucional diante de demandas para fazer valer direitos assegurados por lei ou generalizam-se prticas de corrupo, de fraude ou de desrespeito ao interesse pblico, instala-se uma atmosfera de suspeio, de descrdito e de desesperana, comprometendo a aquiescncia dos cidados lei e s estruturas que regulam a vida social; floresce, ento, a desconfiana e o distanciamento dos cidados da poltica e das instituies democrticas, a exemplo da experincia recente de pases da Amrica Latina e, inclusive, do Brasil. (MOISS, 2013, p. 48)
Esse tipo de explicao remete valorizao da confiana poltica com
base nas instituies e na sua significao cultural e poltica, balizando em
parte o sentido da ao poltica. Nessa direo, Jos lvaro Moiss prope a
defesa da conexo analtica dos conceitos de confiana, cidadania e
instituies democrticas.
possvel perceber nas pesquisas realizadas pelo autor que a maior
parte dos brasileiros capaz de definir os princpios de democracia
preconizados pelos valores liberdade e ao conjunto de procedimentos e
estruturas institucionais, no entanto, o brasileiro pode ser definido como um
cidado crtico, conforme definio mais ampla de Pippa Norris (1999). O
significado disto o que Moiss3 exemplifica referindo-se avaliao dos
partidos polticos no Brasil:
3 op. cit.
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[...] ao mesmo tempo em que os partidos so reconhecidos como indispensveis democracia, o seu desempenho concreto severamente avaliado, como exemplifica a atitude de desconfiana dos cidados; no entanto, mais que querer elimin-los, a maioria dos cidados parece estar dizendo que deseja que eles funcionem efetivamente como mecanismos de representao. A percepo razoavelmente sofisticada dos cidados brasileiros sobre a democracia pode servir de base para iniciativas de presso sobre o sistema poltico, no sentido de reforma das instituies de representao. Por ltimo, a preocupao com a corrupo tambm mostra que existe uma demanda sobre o desempenho das instituies encarregadas da responsabilizao de polticos e governos. Para um pas cuja experincia democrtica relativamente recente, esses sinais no so de pouca importncia. (p. 86)
A desconfiana nas instituies configura intensamente o quadro
poltico impulsionador das manifestaes de junho de 2013, quando milhares
de pessoas foram s ruas pela primeira vez apresentando uma grande
reprovao aos polticos e s instituies polticas. Segundo pesquisa realizada
pelo Datafolha no ato do dia 18/06 em So Paulo, 84% dos participantes no
tinham preferncia partidria e 40% foram protestar contra a corrupo e
24% contra os polticos4. H entre os cidados comuns uma forte meno
corrupo como algo que determina significativamente a capacidade de
eficcia das polticas pblicas.
Segundo as consideraes de Romo (2013), as manifestaes levaram a
uma tentativa de resposta por parte do governo federal, sendo que este no
foi capaz de conduzir um debate mais fecundo com a sociedade civil,
derrubando os ndices de aprovao do governo. Entre abril de 2012 e maro
de 2013 a aprovao do governo Dilma oscilava entre os 62 e 65 pontos
percentuais (Datafolha), sendo em novembro de 2013 de 36%.
Concordamos com Tatagiba (2014) quando aponta que h um ciclo em
aberto aps as manifestaes de junho, que levaram cabo um contraditrio e
multifacetado desejo de mudana, j sendo possvel enxergar uma disputa
entre projetos polticos distintos. Para a autora,
4 Mais detalhes no link: Acesso em 09/out. 2015
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[...] as caractersticas dos protestos de junho permitem supor que entramos em uma nova fase de mudanas, na qual os movimentos sociais tradicionais e os partidos polticos de esquerda disputam e/ou compartilham o protagonismo das lutas sociais com um leque mais diversificado de atores que emergem na cena pblica portando um conjunto variado de demandas e projetos polticos. (p. 58)
Essa afirmao pe junho de 2013 em disputa, sendo que os atos
atraram grupos sociais alinhados a distintos projetos polticos. De algum
modo, os repertrios de mobilizaes que se sucederam nos anos seguintes
apontam para uma tenso ainda em curso, mas de afastamento do projeto
poltico democrtico-participativo, conforme o quadro analtico sugerido por
Dagnino (2002).
O conceito de projeto poltico se baseia numa viso gramsciana
importante para analisar a sociedade civil, sendo definido enquanto um
conjunto de crenas, interesses, concepes de mundo, representaes do
que deve ser a vida em sociedade, que orientam a ao poltica dos diferentes
sujeitos (DAGNINO, 2002, p. 282).
Olhando para as manifestaes de 2015, v-se que a grande novidade
do momento poltico atual, portanto, alm da rearticulao do projeto
neoliberal, a ocupao das ruas como uma forma de ao coletiva, sendo
que a sucesso de mobilizaes aps junho de 2013 reforou uma guinada
conservadora impulsionada pelo antipetismo5.
difcil definir o tempo na poltica, mas os desdobramentos da
polarizao poltica e a ascenso da direita tm como um dos fatores a
inabilidade do lulismo em responder s insatisfaes reverberadas pelas ruas
em 2013 e que se voltaram contra a copa do mundo como uma oportunidade
poltica (TARROW, 2009) para denunciar as desigualdades no pas diante da
5 O Movimento Brasil Livre (MBL) um dos grupos articuladores dos protestos realizados contra o PT no ano de 2015, sendo emblemtico observar nos documentos, vdeos e site como eles se reconhecem como defensores de um Estado mnimo, aliando-se, em grande medida, ao receiturio neoliberal, mas que utilizam como um dos slogans, Brasil livre Brasil sem PT.
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construo de uma infraestrutura cara e complexa com o intuito de sediar um
evento organizado para fins privados (ver foto abaixo) 6.
Figura 1 - manifestao de junho de 2013 em So Paulo.
Antipetismo e as manifestaes Fora PT
O sentimento de mudana que tem pairado na sociedade brasileira
mantm uma relao intrnseca com os resultados negativos de confiana nas
instituies h certo tempo, no entanto, os escndalos de corrupo cobertos
pela grande imprensa e a forma pela qual a oposio arregimentou apoio nas
eleies de 2014 revelam o peso do antipetismo como impulsionador das
mobilizaes em curso a partir de 2015. Ou seja, a percepo para grande
parte dos cidados comuns que a performance das nossas instituies
resume-se de imediato na ineficcia em amplo sentido de um partido poltico
no governo.
A sustentao desse antipetismo e a sua respectiva fora social e poltica
no ocorreria sem se apresentar como um projeto poltico em termos
gramscianos, ou seja, de grande penetrao e legitimidade na sociedade civil,
um espao marcado por distintos projetos e interesses. A crise vivida pelo PT
a partir das manifestaes de junho de 2013 perpassa justamente pela
dimenso daqueles espaos pblicos que originaram o partido como uma
6 Imagem disponvel no link: Acesso em 15/mar. 2016
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agremiao extra-parlamentar e de representao dos movimentos sociais.
Dagnino (2006) alerta para o fato de no existir homogeneidade na sociedade
civil. A partir do momento em que o partido deixa de enfatizar alguns
repertrios de ao de rua por meio da ao de movimentos sociais
ambientados nos gabinetes e nos acordos firmados no interior dos partidos,
promove-se um afastamento de um lcus privilegiado da batalha poltica.
Embora, o antipetismo seja um fenmeno presente desde a fundao
do PT na dcada de 80, ele foi impulsionado pelo cenrio eleitoral de 2014,
radicalizando-se no ambiente institucional e de mobilizao da sociedade civil
no ano de 2015. A radicalizao do antipetismo possui dois aspectos: ele se
refere ao dio de classe7, ecoando um posicionamento ideolgico afastado
claramente de pautas relacionadas a valores como justia, igualdade e incluso
social, assim como a mobilizao das oposies partidrias e de segmentos da
sociedade civil que se sustentam no argumento de inviabilidade institucional
(crise) do governo petista.
Nessa direo, Helcimara Telles (2015, p. 19) analisa os manifestantes
que tem ido s ruas em 2015:
[...] a principal particularidade deste grupo de manifestantes analisados , alm da crtica aos casos de corrupo, o profundo sentimento contrrio ao PT, aos seus lderes e s agendas de incluso social. O que mudou entre 2010 e 2014? Por que apenas presentemente o tema de corrupo passa a alterar as atitudes dos eleitores, a ser associada como um atributo natural do petismo, e a organizar as ruas? Em primeiro lugar, a explicao para os protestos pela sada da presidente e o antipetismo no decorrem somente da cobertura que a mdia faz de casos de corrupo que envolvem o PT. De fato, h parcelas do antipetismo que podem ser explicados como uma reao da opinio pblica aos casos de corrupo dos quadros do PT, amplamente divulgados pela mdia. Mas, tal sentimento contrrio ao PT no tem sua origem simplesmente na narrativa feita pela mdia sobre os casos de atos ilcitos praticados por este partido (...) o antipetismo e o antipartidarismo encontrados entre os manifestantes no procedem simplesmente de uma reao corrupo. Eles so do mesmo modo provenientes da divergncia dos participantes dos protestos
7 Esta anlise pode ser conferida na entrevista concedida por Luiz Carlos Bresser-Pereira Folha de So Paulo em 01/03/2015. Confira a entrevista no link: Acesso em 11/out. 2015
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com os projetos das polticas de redistribuio de investimentos aos grupos mais pobres.
Tanto a autora como Renato Janine Ribeiro (2014), ao analisarem o
impacto da discordncia dos manifestantes de 2013 e 2015 com relao s
polticas de incluso social, poderiam resgatar no plano analtico o conceito de
lulismo (SINGER, 2012), que favorece o entendimento no somente do papel
do realinhamento eleitoral ocorrido na eleio presidencial de 2006, mas o
peso destas polticas ao buscar estabelecer uma agenda de representao dos
mais pobres, mas sem confrontar o status quo.
Nesse sentido, o antipetismo ambientado na sociedade civil repercute
desde 2015 a canalizao da pouca confiana nas instituies por parte dos
cidados em direo presena do PT no poder. Em linhas gerais, os
manifestantes de 2013 e 2015 souberam conduzir as crticas a um sistema
poltico como um processo de responsabilizao na prtica de um s partido.
Isso explica o mote dos protestos em algumas capitais, com cartazes, falas em
trios e faixas na luta contra o PT.
O perfil dos protestos de 2015 nos leva a considerar que existe uma
conexo com as narrativas das manifestaes de junho de 2013 (melhoria dos
gastos pblicos, combate corrupo, entre outros), mas expandem-se, na
verdade, mobilizando grande parcela de eleitores que sempre estiveram mais
distantes do apoio eleitoral ao PT, principalmente aps a ascenso do lulismo
em 2006 pela via do fenmeno de realinhamento eleitoral (SINGER, 2012).
Segundo os dados do Datafolha sobre o perfil dos manifestantes que
foram s ruas no primeiro protesto do ano (15/mar.), 82% votaram em Acio
Neves nas eleies passadas, 37% tinham preferncia partidria pelo PSDB,
37% so assalariados registrados, 74% foram a uma manifestao pela
primeira vez e 76% dos entrevistados possuam o ensino superior.
O perfil dos manifestantes que foram s ruas nesse mesmo dia na
cidade de Porto Alegre (RS) em pouco difere da parcela da populao que se
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mobilizou na capital paulista. Segundo a pesquisa realizada pelo Instituto
Index, 76% disseram ter votado no candidato Acio Neves, 87,2% se
disseram brancos, 40,5% declararam renda acima de dez salrios mnimos e
44% disseram estar decepcionados com o PT e 56,8% afirmaram estar
decepcionados com os polticos como um todo. Quando perguntados o que
levaram eles s ruas, 43,8% afirmaram estar indignados com a corrupo.
Em pesquisas realizadas ao longo do ano de 2015 pelo Grupo de
Pesquisa Opinio Pblica (UFMG) percebe-se que o perfil ideolgico dos
manifestantes de Belo Horizonte aproxima-se do projeto poltico neoliberal.
Estes so, portanto, eleitores da oposio e que defendem na sociedade civil
um projeto poltico antagnico ao PT.
Esse cenrio tambm muito semelhante aos resultados obtidos em
Salvador (BA) 8, traando o perfil dos participantes do protesto do dia 16 de
Agosto, que apresentaram fortes crticas ao PT, embora uma parcela inferior
tenha j votado no PT em alguma eleio. Conforme o Grfico 1, a pesquisa
entre os soteropolitanos que compareceram manifestao em agosto de
2015 apontou um apoio de 52,6% a uma possvel interveno militar em caso
de desordem. O Grfico 2 apresenta o sentimento conformado nos
manifestantes com relao presidente Dilma e o PT. A grande maioria
apresenta um sentimento muito forte de negao do PT e, por conseguinte,
do governo Dilma. Claro que em um contexto de presidencialismo de coalizo
a crise poltica perpassa pela desconstruo da figura do lder poltico, que
significa colocar a presidente como um alvo do antipetismo.
8 Pesquisa realizada pelos Professores Cludio Andr de Souza (UCSAL) e Leonardo Fernandes Nascimento (UFBA) em parceria com o Grupo Opinio Pblica (UFMG). Os resultados da pesquisa esto disponveis no link: Acesso em 11/out. 2015
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Grfico 1 Apoio interveno militar em caso de muita desordem, Salvador
2015.
Fonte: elaborao do autor.
Grfico 2 Sentimentos que Dilma e o PT fizeram sentir, Salvador 2015.
Fonte: elaborao do autor.
A radicalizao do antipetismo soma-se crise de representao vivida
em outro patamar entre os eleitores lulistas, que ao longo do ano de 2015 e
2016 tm reprovado o governo, independente do porte do municpio,
escolaridade, renda, regio e preferncia partidria.
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A eroso do apoio ao lulismo se condensa na baixa capacidade de
dilogo dos governos Dilma com a sociedade civil e s aes desastradas na
economia. Soma-se a isso, o peso dos escndalos de corrupo no pas como
um malfeito estruturalmente petista, depositando sobre o partido o legado
de dcadas de desconfiana nas instituies que tem sido observado na cultura
poltica dos brasileiros.
Em artigo publicado recentemente visando um balano dos governos
Dilma e do lulismo, de uma maneira geral, como um fenmeno atual da
poltica brasileira, Andr Singer (2015) analisa o recuo do desenvolvimentismo
durante os governos Dilma, protagonizando o pano de fundo de uma sria
crise do lulismo, o que ainda no se incorporou ao debate pblico de agendas
por parte da sociedade civil, mas que tem como reflexo da disputa a
radicalizao do antipetismo posta em curso a partir das eleies de 2014.
A crise estrutural do lulismo tem como um dos efeitos a
continuidade dos ciclos de protestos a partir de 2013, mobilizando e levando
s ruas uma nova direita que tem se apoiado na estratgia da participao da
sociedade e de intensa militncia digital nas redes (TELLES, 2015b).
Essa nova direita pode potencializar o confronto com o lulismo em
algumas pautas, todavia, a crise do lulismo reside no mago do projeto
democrtico-participativo, pois deriva no somente da mudana dos
repertrios de mobilizao dos movimentos sociais, que, no intuito de evitar o
enfrentamento arbitragem de interesses sustentada pelo lulismo, tem
recuado dos conflitos mais amplos que envolvem as agendas do governo
federal, mas tambm assistem ao desmonte da incluso social enquanto uma
orientao do governo por meio da defesa do desenvolvimentismo. Nas
palavras de Singer (2015, p. 66-7), a crise do lulismo refere-se aos seguintes
aspectos:
[...] um Estado capaz de comandar a atividade econmica de alto interesse para a frao organizada da classe trabalhadora, assim como para as camadas populares em geral e tambm, em um primeiro momento, para a burguesia
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industrial. A interveno do Estado abre avenida para a industrializao, o pleno emprego, o aumento dos salrios e a incluso do subproletariado. S que, logo depois, quando o Estado passa a ter o poder de comando sobre a economia, os industriais recuam. Em ponto pequeno, o ensaio desenvolvimentista de Dilma teria, assim, seguido as pegadas da dcada de 1960. Na partida, a burguesia industrial pede ofensiva estatal contra os interesses estabelecidos, pois depende de poltica pblica que a favorea. Para isso, alia-se classe trabalhadora. No segundo ato, os industriais descobrem que, dado o passo inicial de apoiar o ativismo estatal, esto s voltas com um poder que no controlam, o qual favorece os advers- rios de classe, at h pouco aliados. No terceiro episdio, a burguesia industrial volta-se contra seus prprios interesses (Cardoso) para evitar o que seria um mal maior: Estado demasiado forte e aliado aos trabalhadores. Une-se, ento, ao bloco rentista para interromper a experincia indesejada. Tal como em 1964, as camadas populares no foram mobilizadas para defender o governo quando a burguesia o abandonou. Mais uma vez o mecanismo burgus pendular ficou sem contrapartida dos trabalhadores. A duplicidade recorrente da camada q