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Resenhado por : Caroline Moraes Cintrão BARRETO, Lima . Recordações do Escrivão Isaías Caminha – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. Lima Barreto (1881-1922) foi escritor e jornalista brasileiro. Considerado pela crítica como o maior nome do Pré- Modernismo brasileiro, Lima Barreto (1881-1922) publicou uma obra relativamente extensa, incluindo romances, contos, crônicas, críticas literárias, memórias e uma série de artigos em jornais e revista da época, foi reconhecido pela marca da literatura comprometida com a vida social, seus dramas e iniquidades. Em Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Lima Barreto em sua obra de estreia abrange alguns temas: a hipocrisia existente na sociedade, o forte preconceito racial e o retrato da imprensa da época. A narrativa é considerada autobiográfica, pois, além da personagem principal, o protagonista tem as mesmas características físicas e ideológicas do autor. Isaías Caminha é filho de um padre branco e uma mãe negra, que vivia no interior do Rio de Janeiro e decidiu ir à capital com intenção de tornar-se doutor. Ele almeja esse título como se fosse a solução para todos seus problemas. Aluno brilhante, dedicado e sempre elogiado na época de escola, não imaginou que

Em Recordações Do Escrivão Isaías Caminha

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Resenhado por : Caroline Moraes CintroBARRETO, Lima . Recordaes do Escrivo Isaas Caminha Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

Lima Barreto (1881-1922) foi escritor e jornalista brasileiro. Considerado pela crtica como o maior nome do Pr-Modernismo brasileiro, Lima Barreto (1881-1922) publicou uma obra relativamente extensa, incluindo romances, contos, crnicas, crticas literrias, memrias e uma srie de artigos em jornais e revista da poca, foi reconhecido pela marca da literatura comprometida com a vida social, seus dramas e iniquidades.

Em Recordaes do Escrivo Isaas Caminha, Lima Barreto em sua obra de estreia abrange alguns temas: a hipocrisia existente na sociedade, o forte preconceito racial e o retrato da imprensa da poca. A narrativa considerada autobiogrfica, pois, alm da personagem principal, o protagonista tem as mesmas caractersticas fsicas e ideolgicas do autor.

Isaas Caminha filho de um padre branco e uma me negra, que vivia no interior do Rio de Janeiro e decidiu ir capital com inteno de tornar-se doutor. Ele almeja esse ttulo como se fosse a soluo para todos seus problemas. Aluno brilhante, dedicado e sempre elogiado na poca de escola, no imaginou que poderia sofrer algum tipo de discriminao racial ao sair da sua cidade.

Ele decidiu ir para o Rio de Janeiro para se tornar doutor, Isaas consegue uma carta de recomendao do chefe eleitoral local para o deputado Doutor Castro. Chegando ao Rio, ele se abriga no Hotel Jenikal e conhece o doutor Iv Gregorvitch Rostloff, jornalista do jornal O Globo. Ao procurar o deputado Castro para conseguir um emprego rejeitado rapidamente por este.

Lima faz uma crtica a postura e o carter dos polticos Gente miservel que d sano aos deputados, que os respeita e prestigia! Por que no lhes examinam as aes, o que fazem e para que servem? Se o fizessem... Ah! se o fizessem! Que surpresa! Riem-se, enquanto do suor, da resignao de vocs, das privaes de todos tiram cios de nababo e uma vida de sulto... (p. 58)J estava sem dinheiro e sem emprego, quando recebe uma intimao para ir delegacia depor sobre o roubo no Hotel em que vivia. Na delegacia o delegado refere-se a Isaas como mulatinho. Revoltado com tal tratamento e por tantos outros pontaps que levara por conta de sua cor, e chama o delegado de imbecil e preso. Aps trs horas liberado e o delegado se mostra amvel e o trata como a um filho. Isaas vai embora da delegacia, muda de hotel, mas no encontra emprego e passa a viver nas ruas.

O autor utilizou Isaas para mostrar o racismo existente naquela poca mesmo depois da abolio, a cor ainda era um meio para diferenciar as pessoas na sociedade. Quando o hotel onde estava hospedado no Rio assaltado, logo, ele o primeiro suspeito j que o nico negro ali hospedado e quando chega delegacia ofendido verbalmente de mulatinho pelo prprio delegado, Isaas sentiu-se extremamente humilhado com o ocorrido na delegacia, pois, at ento, ele nunca havia sido tratado assim por causa de sua raa.Os negros ou mulatos ainda eram, e s vezes ainda so, vistos como ladres ou vagabundos, ocasionando revolta da populao negra. Em outro episdio ele tentou arrumar emprego em uma padaria e o padeiro no o aceitou devido a sua cor o gordo proprietrio esteve em um instante a considerar, agitou os pequenos olhos perdidos no grande rosto, examinou-me convenientemente e disse por fim, voltando-me as costas com mau humor: -No me serve. (p.79) .Depois de um certo tempo Isaas, ento, consegue um emprego no jornal O globo, graas ao amigo e jornalista Gregorvitch Rostloff. Com o seu trabalho de continusta, descobre a verdade sobre a impressa e os jornalistas. E conhece Lebarant o diretor do jornal, Floc, um crtico literrio e Leporace, o redator-chefe.

A imprensa tinha grande influencia na sociedade, Lima faz uma forte crtica imprensa que exposta de forma tirana, parcial, corrupta e hipcrita. A Imprensa! Que quadrilha! Fiquem vocs sabendo que, se o Barba-Roxa ressuscitasse [...] s poderia dar plena expanso sua atividade se se fizesse jornalista. Nada h to parecido como o pirata antigo e o jornalista moderno: a mesma fraqueza de meios, servida por uma coragem de salteador; conhecimentos elementares do instrumento de que lanam mo e um olhar seguro, uma adivinhao, um faro para achar a presa e uma insensibilidade, uma ausncia de senso moral a toda prova... E assim dominam tudo, aterram, fazem que todas as manifestaes de nossa vida coletiva dependam do assentimento e da sua aprovao. Todos ns temos que nos submeter a eles, adul-los, cham-los gnios, embora intimamente os sintamos parvos, imorais e bestas... [...] E como eles aproveitam esse poder que lhes d a fatal estupidez das multides! Fazem de imbecis gnios, de gnios imbecis; trabalham para a seleo de mediocridades (p. 92)

O jornalismo da poca baseava-se na manipulao e jogo de interesses, percebeu uma grande superficialidade dentro do jornal, no entendendo o motivo daqueles jornalistas serem to respeitados na sociedade sendo que no possuam conhecimento suficiente para isso. O diretor do jornal era venerado por medo, no pela sua capacidade. Caminha acreditava e admirava o trabalho de Loberant.Verificou , ainda, que todos se desprezavam entre si, dando aberturas criao de uma atmosfera falsa e carregada, embora procurassem manter as aparncias a qualquer custo.

Aps a morte de um crtico do jornal o Floc, que se suicida na repartio, quando Isaas vai contar a Leporace o que aconteceu acaba encontrando o diretor bbado em um prostbulo com outros casais e uma anta. Aps o ocorrido Leporace transforma Caminha em reprter. Episdio em que se faz uma crtica ao tipo de pessoas sem carter e srdidas que eram comuns em redaes.

A maioria dos homens so movidos por interesses diversos e conduzidos pelas aparncias. As observaes de Isaas continuam sendo oportunas e ele, inteligente e astuto, aproveita-se delas num intenso processo de aprendizagem.

Mas Isaas no se sente satisfeito com o tipo de vida vivido no jornal. A partir do momento que descobre que jogou seu sonho fora, e retorna para sua cidade natal, casa-se, tem dois filhos que, infelizmente, falecem e escreve o seu livro de memrias.

Lima Barreto atravs de sua obra faz um retrato histrico do Brasil. A obra acontece quase inteiramente no Rio de Janeiro, na poca em que a cidade era a capital do pas. Era l que acontecia tudo de importante, era o lugar para onde os jovens iam estudar para se tornarem a futura elite brasileira. Tambm expe a distino entre as redaes dos jornais do incio do sculo XX com as atuais. Os objetivos das pessoas mudaram e em consequncia os jornais tambm se modificaram para atender esse pblico. O racismo que estava bastante presente na sociedade brasileira. O livro est repleto de informaes caractersticas da poca, que contribuem para esclarecer fatos histrico-culturais na comunicao no Brasil .