47
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE BIOMEDICINA EMÍLIA SOUSA DE OLIVEIRA EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À VANCOMICINA NA CIDADE DO NATAL/RN Natal Dezembro, 2016

EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE BIOMEDICINA

EMÍLIA SOUSA DE OLIVEIRA

EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À

VANCOMICINA NA CIDADE DO NATAL/RN

Natal

Dezembro, 2016

Page 2: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À VANCOMICINA NA CIDADE

DO NATAL/RN

por

Emília Sousa de Oliveira

Orientador: Prof. Dra. Maria Celeste Nunes de Melo

Natal

Dezembro, 2016

Monografia apresentada à coordenação do curso de Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Biomedicina.

Page 3: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE BIOMEDICINA

A Monografia Emergência de Enterococcus resistente à vancomicina na cidade do Natal/RN

elaborada por Emília Sousa de Oliveira

e aprovada por todos os membros da Banca examinadora foi aceita pelo Curso de Biomedicina

e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à obtenção do título de

BACHAREL EM BIOMEDICINA

Natal, 08 de dezembro de 2016

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Profa. Dra. Maria Celeste Nunes de Melo (DMP)

_________________________________________

Profa. Dra. Maria José de Brito Costa Fernandes (DMP)

_________________________________________

Me. Miguel Angel Ansaldi Júnior (Centro de Patologia Clínica)

Page 4: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

Oliveira, Emília Sousa de. Emergência de Enterococcus resistente à vancomicina na cidadedo Natal/RN / Emília Sousa de Oliveira. - Natal, 2016. 43 f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grandedo Norte. Centro de Biociências. Curso de Biomedicina. Orientadora: Profa. Dra. Maria Celeste Nunes de Melo.

1. Enterococcus faecalis - Monografia. 2. Resistência àvancomicina - Monografia. 3. VRE - Monografia. 4. PFGE -Monografia. I. Melo, Maria Celeste Nunes de. II. UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 579.86

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Biociências - CB

Page 5: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

AGREDECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus por ter me acompanhado em toda a trajetória pelo curso

de Biomedicina dando-me forças quando achava que não conseguiria continuar e lembrando-

me sempre que com Ele tudo é possível.

À minha orientadora, Prof. Dra. Maria Celeste, por acreditar em mim, desde o momento

que cheguei ao laboratório como bolsista do programa Jovens Talentos para Ciências e sem

nenhum conhecimento na área de microbiologia. Pelos vastos ensinamentos que me fizeram

conhecer melhor e amar esse campo de pesquisa.

Ao Prof. Dr. Ermeton pelos seus valiosos ensinamentos e por ser um exemplo, para

mim, de profissional.

A todos do laboratório, aos que já saíram, aos que permanecem e aos que acabaram de

entrar. À Carol, ao Thiago, à Sabina, à Bruna, ao Ganilson, à Bruna Helena, à Julliette, à Talita

e à Renata agradeço por me ensinarem muito do que aprendi nesses mais de quatro anos de

LaBMed.

Às técnicas do laboratório de microbiologia, Erika e Alessandra, por estarem sempre

dispostas a ajudar nas muitas vezes que precisei utilizar algum equipamento do laboratório

escola ou mesmo em responder as minhas inúmeras dúvidas.

Aos meus pais, pela formação, sempre incentivado ao estudo e pesquisa, pelo carinho e

apoio e por serem meu alicerce nessa jornada.

Aos meus irmãos por esteram presentes em todos os momentos, mesmo longe ainda

estão comigo.

Às minhas tias e tios por me apoiarem sempre e me incentivarem ao estudo e dedicação

sendo exemplos de vida. Em especial à tia Meire, que esteve presente me ajudando quando

precisei encontrar o antibiótico que faltava para finalizar o trabalho.

À André por me aturar nos momentos de estresse da produção do TCC e por conseguir

me acalmar e acalentar. E por também me ajudar na procura ao antibiótico.

Aos meus amigos e colegas que ganhei nesses anos de curso, que foram de suma

importância e essenciais nessa caminhada. Em especial ao grupo 9 - Sara Ester, Raquel, Talita,

Gustavo, Daniel, Pedro, Marcel e Renata. E às minhas amigas de longa data Mirella, Andréa,

Maria Júlia, Stella, por estarem sempre comigo me apoiando.

À todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente a minha formação como

cidadã, como biomédica e para a realização desse trabalho.

Page 6: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

ii

SUMÁRIO

O gênero Enterococcus pertence ao grupo dos cocos Gram-positivos dispostos,

morfologicamente, em pares ou cadeias curtas. Eles colonizam naturalmente o ser humano,

principalmente o sistema gastrointestinal. Contudo, esse gênero vem emergindo como um

importante agente patogênico oportunista causador de infecções, tanto comunitárias quanto

hospitalares. A sua sobrevivência no ambiente hospitalar está relacionada com a presença da

resistência intrínseca a diversos antimicrobianos, além da sua capacidade de aquisição de

resistência por mutação ou por elementos genéticos móveis. O objetivo desse estudo é

caracterizar fenotípica e geneticamente cepas de Enterococcus resistentes à vancomicina.

Foram analisados cinco isolados provenientes de hospitais diferentes coletados de sangue

periférico, swab anal, líquido cefalorraquidiano e secreção purulenta. Os isolados foram

identificados no nível de espécie através do sistema automatizado VITEK 2. O perfil de

resistência aos antimicrobianos comumente utilizados na clínica médica para o tratamento de

infecções por Enterococcus foi avaliado por meio da técnica de disco-difusão, do E-test e da

diluição em meio sólido, segundo recomendação do Clinical and Laboratory Stardards

Institute, 2016. As relações genéticas foram avaliadas pela técnica da eletroforese em campo

pulsado (PFGE). Todas as cepas foram identificadas como Enterococcus faecalis e

apresentaram resistência à vancomicina, tetraciclina, ciprofloxacina, assim como a altos níveis

à gentamicina e à estreptomicina. Uma amostra apresentou resistência à linezolida e todas foram

sensíveis à ampicilina e à fosfomicina. Os isolados apresentaram dois pulsotipos distintos, A e

B, no qual o pulsotipo A predominou em quatro cepas. A emergência da resistência à

vancomicina observada nesse estudo pode apontar para uma possível mudança na

epidemiologia das infecções enterocócicas na cidade do Natal.

PALAVRAS-CHAVE: Enterococcus faecalis; resistência à vancomicina; VRE; PFGE.

Page 7: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

iii

ABSTRACT

The genus Enterococcus belongs to the group of Gram-positive cocci, morphologically

arranged in pairs or chains. It colonizes the human microbiota, mainly the gastrointestinal

system. This genus has emerged as an important opportunistic pathogen causing community

and nosocomial infections. The survive in the hospital environment is related to the presence

of intrinsic resistance to many antibiotics, in addition to capabilities of resistance acquisition

by mutation or mobile genetic elements. The aim of the study is to characterize phenotypic and

genetically strains of vancomycin-resistant Enterococcus. Five strains from different hospitals

were analyzed, it was collected from peripheral blood, anal swab, cerebrospinal fluid and

purulent secretion. The isolates were identified at the species level by automated system VITEK

2. The resistance profile to antimicrobials was assessed by disk-difusion test, E-test and dilution

in agar as recommended by the Clinical and Laboratory Stardards Institute, 2016. The genetic

relationship between the strains were evaluated by the technique of Pulsed Field Gel

Electrophoresis (PFGE). All strains were identified as Enterococcus faecalis and showed

resistance to vancomycin, tetracycline, ciprofloxacin, as well as high levels of gentamicin and

streptomycin. One sample had resistance to linezolida and all of them were sensitive to

ampicillin and fosfomycin. The isolates had two distinct types, A and B, in which pulse A

predominated in four strains. The emergence of resistance to vancomycin observed in this study

may point to a possible change in the epidemiology of enterococcal infections in the city of

Natal.

KEYWORDS: Enterococcus faecalis; Vancomycin-resistant; VRE; PFGE

Page 8: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

iv

ÍNDICE

Página

LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................... v

LISTA DE TABELAS ................................................................................................... vii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... viii

1- INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

1.1 – Enterococcus ................................................................................................ 9

1.2 – Resistência aos antimicrobianos ................................................................... 10

1.3 - Enterococcus resistentes à vancomicina ....................................................... 11

2 – REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 15

3 – NORMAS DO PERIÓDICO: The Brazilian Journal of Infectious Diseases”

(BJID).............................................................................................................................

21

4 – ARTIGO: Emergência de Enterococcus resistente à vancomicina na cidade do

Natal/RN ........................................................................................................................

32

Page 9: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

v

LISTA DE ABREVIATURA

AMP Ampicilina

CIM Concentração Inibitória Mínima

CIP Ciprofloxacina

CLSI Clinical And Laboratory Stardards Institute

D-Ala D-alanina

D-Lac D-lactase

D-Ser D-serina

EST Estreptomicina

FOS Fosfomicina

GEN Gentamicina

HLAR High-Level Aminoglycoside Resistance

LaBMed Laboratório De Bacteriologia Médica

LCR Líquido Cefalorraquidiano

LNZ Linezolida

mg Miligrama

MH Müeller-Hinton

mL Mililitro

MRSA Methicillin-Resistant Staphylococcus Aureus

NaCl Cloreto de Sódio

PBP Penicilin Binding Protein

PCR Polimerase Chain Reaction

PFGE Pulsed-Field Gel Electrophoresis

pH Potencial de Hidrogênio Iônico

Page 10: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

vi

PYR Pirrolodonil Arilamidase

TEC Teicoplanina

TET Tetraciclina

Tn Transposons

VAN Vancomicina

VRE Vancomycin-Resistent Enterococcus

Page 11: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Características microbiológicas das cepas de Enterococcus

faecalis: antibiograma, determinação do CIM e perfil de

PFGE.

38

Page 12: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Perfil de PFGE das cepas de Enterococcus faecalis em gel de

agarose 1,2% corado com 0,5 µg/mL de brometo de etídio. PM:

Peso Molecular; E1- 5: Cepas de Enterococcus faecalis em

análise.

37

Page 13: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

9

1. INTRODUÇÃO

1.1. Enterococcus

Os Enterococcus pertencem à família Enterococcaceae e são compostos por 55 espécies

bacterianas já descritas na literatura (PARTE et al., 2014). Observados pela primeira vez em

1899, por Thiercelin, foram chamados de “entérocoque” para enfatizar a sua origem intestinal

(THIERCELIN, 1899; KÖHLER et al., 2007). No século XX estas bactérias pertenciam ao

gênero bacteriano Streptococcus. Na década de 30, o gênero Streptococcus foi dividido por

Sherman em quatro classes: piôgenicos, viridans, lácteos e enterococos (FACKLAM,

CARVALHO e TEIXEIRA, 2002; MORENO et al., 2006). Somente em 1984, Schleifer e

Kilpper-Bälz, utilizando-se de técnicas moleculares, conseguiram realizar a distinção do gênero

Enterococcus (SCHLEIFER AND KILPPER-BÄLZ, 1984).

Constituído por bactérias pertencentes ao grande grupo das Gram-positivas, os

Enterococcus apresentam morfologia de cocos ovalados dispostos em pares, cadeias curtas ou

células isoladas (FLACKLAM et al., 2002). São anaeróbios facultativos, capazes de crescer em

temperaturas variantes de 10 e 45°C, em ambientes ricos em sais – até 6,5% de cloreto de sódio

–, com pH variante do ácido ao básico (pH entre 4 e 9,6) e resistentes a 60°C por até 30 minutos

(SHERMAN, 1937). Além disso, são capazes de hidrolisar bile na presença de esculina,

produzir pirrolodonil arilamidase (PYR) e sem produzir a enzima catalase (WINN et al., 2014).

Por apresentar capacidade de sobrevida e adaptação em diversos tipos de ambientes, até

os mais hostis, as propriedades funcionais dos Enterococcs vêm sendo estudadas com as

seguintes aplicações: na biotecnologia ambiental com a biorremediação; na indústria

alimentícia com a biopreservação de alimentos; e nos tratamentos terapêuticos com os

probióticos (FRANZ et al. 2003; FRANZ et al. 2011; MORENO et al., 2006; PINTO et al.,

2001).

Esses microrganismos estão presentes na microbiota do ser humano. Normalmente,

encontrados no intestino e no trato geniturinário feminino. Também são encontrados na

microbiota de outros animais, no solo e na água (GIRAFFA, 2002). Algumas espécies benéficas

são importantes na produção de queijos e leites fermentados, utilizadas como cultura de

arranque, responsáveis pelo aroma e sabor (GIRAFFA, 2002; MORENO et al., 2006). Contudo,

esse gênero bacteriano vem emergindo nas últimas décadas como um importante agente

patogênico oportunista causador de infecções, tanto comunitária quanto hospitalares. Nos

Page 14: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

10

Estados Unidos, ele é considerado o segundo microrganismo mais isolado em infecções

nosocomiais urinárias e o terceiro causador de bacteremia adquirida em ambiente hospitalar

(CETINKAYA, FALK e MAYHALL, 2000; BAZET et al., 2005). Eles são capazes de agir

como oportunistas em idosos, pacientes imunocomprometidos, portadores de doenças graves,

pacientes com internação prolongada, cirurgia prévia ou uso de antibiótico de largo espectro,

merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas,

infecção do trato urinário entre outras (CARVALHO et al., 2008; HÖRNER et al., 2005). A

maioria das infecções por Enterococcus origina-se da microbiota do paciente e em menor

proporção pode ser transmitida por contato ou mesmo através do consumo de alimentos

contaminados. De acordo com TORNIEPORTH et al. (1996), o modo de transmissão mais

prevalente desse gênero é por transferência, pelo contato das equipes médicas.

Algumas espécies são consideradas importantes patógenos. As que promovem a

colonização e a infecção em seres humanos são o Enterococcus faecalis e o Enterococcus

faecium, os quais estão associados a 80-90% e 10-15%, respectivamente, dos isolados de

infecções enterocócicas; as demais espécies são menos frequentes – menos de 5% dos isolados.

(RUOFF et al., 1990).

1.2. Resistência aos antimicrobianos

A recente atenção voltada aos enterococos não está focada somente no aumento das

infecções nosocomiais ocasionadas por essas bactérias, mas também na elevada resistência aos

antimicrobianos que esses organismos apresentam. O hospital é um ambiente propício a

supressão bacteriana com seleção de organismos resistentes, além da potencial disseminação

do microrganismo e dos seus genes de resistência. Sua sobrevida hospitalar está relacionada

com a presença da resistência intrínseca a diversos antimicrobianos utilizados na rotina, além

da sua capacidade de aquisição de resistência por mutação ou por elementos genéticos móveis,

como plasmídeos e transposons, em decorrência da sua plasticidade genômica (CLEWELL et

al., 1990).

A resistência intrínseca dos enterococos localiza-se no cromossomo bacteriano. Eles

possuem resistência intrínseca a baixos níveis de aminoglicosídeos e de lincosamidas, além de

uma concentração inibitória mínima (CIM) elevada cefalosporinas e resistência à ação das

sulfanamidas e trimetropim. A resistência aos aminoglicosídeos deve-se a sua reduzida

permeabilidade da parede celular. Já a elevada CIM dos agentes beta-lactâmicos é decorrente

da diminuição da afinidade das proteínas de ligação da penicilina (PBP) presente na membrana

Page 15: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

11

(CETINKAYA, FALK e MAYHALL, 2000). A resistência à ação dos antibióticos que agem

inibindo a síntese de ácido fólico para produção de ácido nucleicos (sulfanamidas e

trimetropim) é resultado da utilização pela bactéria de ácido fólico pré-sintetizado (WINN et

al., 2014).

Extrinsecamente, os Enterococcus adquiriram novos genes capazes de elevar a CIM ou

mesmo tornar a cepa resistente ao fármaco. A resistência adquirida a altas concentrações de

aminoglicosídeos mediada por transposons é um exemplo; nessa hipótese ocorre a diminuição

da ligação do antimicrobiano ao ribossomo (sítio de ação do fármaco) ou da codificação de

enzimas modificadoras do aminoglicosídeo (CENTINKAYA et al., 1990). Esse fenômeno é

conhecido como fenótipo de resistência a níveis elevados de aminoglicosídeos (HLAR - high-

level aminoglycoside resistance). Em virtude disso, a terapia antimicrobiana para infecções

enterocócica, que era realizada pela combinação sinérgica da penicilina com o aminoglicosídeo,

tornou-se ineficiente, reduzindo, assim, as opções de tratamento (ARIAS, CONTRERAS e

MURRAY, 2010). Outros exemplos de resistências mediadas por plasmídeos são às

tetraciclinas, às quinolonas e às linezolidas. A resistência às tetraciclinas e às quinolonas são

encontradas com frequência no enterococos, elas são resultadas da redução da afinidade ao

sítio-alvo (ribossomo – tetraciclina – e DNA girasse e topoisomerase – ciprofloxacina) e

mecanismo de efluxo, geralmente por bombas de efluxo (CATTOIR et al., 2015; HUANG et

al., 2016). Já a resistência à linezolida, rara em enterococos, decorre em virtude de uma mutação

no alvo do antibiótico, no 23S rRNA ou nas proteínas ribossomais (BENDER et al., 2016).

1.3. Enterococcus resistente à vancomicina

A resistência aos gliopeptídeos ocorre devido a alteração do sítio alvo, o terminal do

precursor pentapetídicos D-Alanina é modificado para D-lactato (D-Lac) ou D-serina (D-Ser).

Essa mudança na região terminal ocasiona a quebra de uma ligação de hidrogênio essencial

para a formação do complexo (antibiótico-precursor) resultando na diminuição da afinidade e

nos altos níveis de resistência (COURVALIN, 2006). Diversos genes contribuem para a

resistência à vancomicina em Enterococcus, sendo eles: vanA, vanB, vanC, vanD, vanE, vanG,

vanL, vanM e vanN (CATTOIR e LECLERCQ, 2013). Dentre eles, os mais prevalentes são

vanA, vanB e vanC.

O gene vanA possui um elevado nível de resistência à vancomicina (CIM ≥ 64 μg/mL)

e a teicoplanina (CIM ≥ 16 mg/L), muitas vezes, induzida por antibióticos da classe

glicopeptídica (CATTOIR e LECLERCQ, 2013). Ele é carreado por um plasmídeo da família

Page 16: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

12

Tn3, denominado Tn1546. As cepas com o gene vanB possuem resistência induzida à

vancomicina (CIM 4 μg/mL), contudo, diferente do vanA, apresentam susceptibilidade à

teicoplanina (CIM < 0,5-1 μg/mL) (CATTOIR e LECLERCQ, 2013). O gene vanB também é

carreado por um transposon, o Tn1547. Tanto o operon vanA quanto o vanB sintetizam ligases

que catalisam a formação do substrato D-Lac. Por estarem localizados em transposons que

residem em plasmídios, favorece a transmissão horizontal, entre as espécies, como também a

possibilidade de transferência de genes para patógenos mais virulentos, como o Staphylococcus

aureus. Contudo, raramente o operon vanA é detectado no S. aureus, devido a ineficácia da

replicação desses plasmídeos em estafilococos (COURVALIN, 2006; SIEVERT et al., 2008;

COURVALIN, 2006). Já a cepa com fenótipo vanC, que sintetiza a D-Ser, apresenta uma

resistência constitutiva à baixos níveis de vancomicina (CIM 2-32 μg/mL) e susceptibilidade à

teicoplanina (CIM 0,5 – 1 mg/L), sendo uma característica intrínseca do Enterococcus

gallinarum e Enterococcus casseliflavus (LEBRETON et al., 2011).

A vancomicina é um antibiótico glicopeptídeo derivado do organismo conhecido como

Streptomyces orientalis. O composto é ativo contra a grande maioria dos microrganismos

Gram-positivos. Sua atividade resulta na inibição da síntese da parede celular bacteriana,

interferindo na sua formação, ligando-se ao terminal D-alanina-D-alanina (D-Ala-D-Ala)

gerando um complexo entre o antibiótico e o precursor da cadeia, impedindo a ação enzimática

que resultaria na transglicosilação e transpeptidação para síntese do peptídeoglicano

(COURVALIN, 2006). Sua principal indicação é em infecções graves por estafilococos, nos

pacientes alérgicos à beta-lactâmicos e estafilococos resistentes à meticilina e oxacilina. Além

de ser de escolha para infecções por enterococos resistentes à penicilina, administrado

sinergicamente com um aminoglicosídeo (TAVARES, 2001; ARIAS, CONTRERAS,

MURRAY, 2010).

O fármaco foi descoberto por Edmund Knonfield, em 1953, e licenciado, nos Estados

Unidos, em 1958. Em virtude da sua toxicidade resultante de impurezas no composto, a

vancomicina era utilizada como antibiótico de segunda escolha, entre 1960 e 1970

(MOELLERING, 2006). Na década de 80, com a aumento de infecções ocasionadas por

Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), o medicamento tornou-se a primeira

escolha para o tratamento das infecções ocasionadas por esses microrganismos (LEVINE,

2006). Em 1988, em uma cultura de vigilância de um paciente com leucemia linfocítica aguda

(LLA) foi isolado o primeiro Enterococcus resistente à vancomicina (VRE) (LECLERCQ et

al., 1988). Após o primeiro isolado, diversos relatos foram reportados ao redor no mundo

(GAMBAROTTO, et al. 2000; LEE, et al. 2007). No Brasil, o VRE foi reportado somente no

Page 17: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

13

ano de 1998 em Curitiba (DALLA-COSTA et al., 1998). A partir desse ano, o VRE foi isolado

em outras cidades pelo Brasil, detectado como causa de surtos hospitalares ou de forma

endêmica (ZANELLA et al., 1999; ALBUQUERQUE et al., 2000; D’AZEVEDO et al., 2000;

CEREDA et al., 2001; RESENDE et al., 2014; RIBAS et al., 2007 e ZANELLA et al., 2003).

Em estudo realizado pelo programa de monitoramento da resistência da América Latina, 27%

dos enterococos resistentes à vancomicina foram isolados do Brasil (JONES et al., 2013). De

acordo com Boletim Informativo, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a

infecção ocasionada por VRE possui prevalência de notificação de 17%, com o maior número

de casos concentrados nas regiões sul, centro-oeste e suldeste, sendo 2% dos casos de VRE

foram reportados no nordeste brasileiro (BRASIL, 2014).

No período de 2000 a 2002 foi demostrado, em um estudo realizado em São Paulo, o

aumento da taxa de isolamento de amostras de enterococos no hospital universitário foi de mais

de 50% (FURTADO et al., 2005). No Brasil, diferentemente da epidemiologia das infecções

enterocócicas dos Estados Unidos e da Europa, os VRE são a oitava causa de infecções humanas

(ROSSI, 2011). Apesar do crescente número de isolamento de VRE, o primeiro relato na região

do nordeste brasileiro, foi de um estudo realizado com amostra coletadas em 2004, no Hospital

Universitário na cidade do Recife (VILELA et al., 2006). Em Natal, um estudo epidemiológico

realizado em 2012, com mais de cem isolados de enterococos, não observou nenhuma cepa

resistente à vancomicina (COSTA, 2012). Com isso, na cidade do Natal, até o presente

momento, não havia descrição de Enterococcus resistente à vancomicina.

Um estudo realizado em São Paulo, com objetivo de avaliar a disseminação de VRE em

centros clínicos da cidade, apresentou o resultado de disseminação policlonal das cepas

(CEREDA et al., 2002). Posteriormente, em outro estudo, realizado no mesmo estado, com o

objetivo semelhante de caracterização molecular com cepas apresentando resistência aos

glicopeptídeos, observou-se a disseminação monoclonal inter-hospitalar, como detecção de

cepas estritamente relacionadas, em hospitais distantes entre si (MORETTI et al., 2004).

Estudos moleculares vêm demostrando a existência de grupos genéticos associados a isolados

de Enterococcus faecium presentes nos surtos hospitalares, como a linhagem genética

denominada complexo clonal 17 (CC17) (WILLEMS et al., 2005). Os surtos provenientes de

Enterococcus faecalis, por sua vez, estão associadas, normalmente aos CC2 e CC9

(NALLAPAREDDY, et al. 2005; WAAR, et al. 2002). A tipagem molecular corrobora com o

estudo epidemiológico dessa bactéria cada vez mais emergente nos hospitais. Poucos são os

estudos, no Brasil, que apresentam a análise epidemiológica do VRE, reforçando assim a

importância da pesquisa de vigilância desse microrganismo.

Page 18: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

14

Tendo em vista a relevância do gênero Enterococcus como agente causador de infecções

severas e crescente emergência de cepas resistentes, principalmente à vancomicina, e diante da

carência de dados epidemiológicos das infecções enterocócicas, principalmente na região

nordeste do Brasil, estudos que visem conhecer mais da epidemiologia desse patógeno são

importantes.

Page 19: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

15

2. REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, V.S., et al. Occurrence of vancomycin-resistant Enterococcus faecalis in

Rio de Janeiro, Brazil: strains showed genetic relationship with high-level gentamicin resistant

(HLGR) endemic clone. Interscience Conference On Antimicrobial Agents And Chemotherapy.

v. 40, p 107, 2000;

ARIAS, C. A.; CONTRERAS, G. A.; MURRAY, B. E. Management of multidrug-resistant

enterococcal infections. Clinical microbiology and infection, Wiley Online Library, v. 16, n. 6,

p. 555 – 562, 2010;

BAZET, C. et al. Enterococos resistentes a vancomicina: Un problema emergente en

Uruguay. Revista Médica del Uruguay, v. 21, n. 2, p. 151-158, 2005;

BENDER, J. K. et al. Detection of a cfr (B) Variant in German Enterococcus faecium Clinical

Isolates and the Impact on Linezolid Resistance in Enterococcus spp. PloS one, v. 11, n. 11, p.

e0167042, 2016;

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa. Boletim Informativo - Segurança

do Paciente e Qualidade dos Serviços de Saúde - Ano IV, n. 7, mar. 2014. Disponível em: <

http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/272031/Boletim+Seguran%C3%A7a+do+Pacien

te+e+Qualidade+em+Servi%C3%A7os+de+Sa%C3%BAde+n%C2%BA+09+de+dezembro+

de+2014/9ae86439-0124-410c-b6a9-6c2b37988301>. Acessado em: 30 de outubro de 2016;

CARVALHO, M. G. S. et al. Designation of the provisional new Enterococcus species CDC

PNS-E2 as Enterococcus sanguinicola sp. nov., isolated from human blood, and identification

of a strain previously named Enterococcus CDC PNS-E1 as Enterococcus italicus Fortina,

Ricci, Mora, and Manachini 2004. Journal of clinical microbiology, v. 46, n. 10, p. 3473-3476,

2008;

CATTOIR, V. et al. Genomic analysis of reduced susceptibility to tigecycline in Enterococcus

faecium. Antimicrobial agents and chemotherapy, v. 59, n. 1, p. 239-244, 2015;

Page 20: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

16

CATTOIR, V.; LECLERCQ, R. Twenty-five years of shared life with vancomycin-resistant

enterococci: is it time to divorce? Journal of Antimicrobial Chemotherapy, Br Soc Antimicrob

Chemo, v. 68, n. 4, p. 731 – 742, 2013;

CEREDA, R. F., et al. Enterococcus faecalis resistant to vancomycin and teicoplanin (Van A

phenotype) isolated from a bone marrow transplanted patient in Brazil. Braz J Infect Dis. v. 5,

n. 1, 40 – 46, 2001;

CEREDA, R. F., et al. Molecular typing and antimicrobial susceptibility of vancomycin-

resistance Enterococcus faecium in Brazil. Infect Control Hosp Epidemiol. v. 23, n 1, p. 19-22.

2002;

CETINKAYA, Y.; FALK, P.; MAYHALL, C. G. Vancomycin-resistant enterococci. Clinical

Mirobiology Reviews, v. 13, n. 4, p. 686 – 707, 2000;

CLEWELL, D. B. Movable genetic elements and antibiotic resistance in enterococci. European

Journal of Clinical Microbiology and Infectious Diseases, v. 9, n. 2, p. 90 – 102, 1990;

COSTA, M. K. de C. M., Caracterização fenotípica e molecular de amostras de Enterococcus

isoladas em hospitais da cidade do Natal/ RN. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Médica

e Humana) — Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio

de Janeiro. 91 p., 2012;

COURVALIN, P. Vancomycin Resistance in Gram-Positive Cocci. Clinical Infectious

Diseases, v. 42, p. 25 – 34, 2006;

D’AZEVEDO, P. A.; KACMAN, S. B.; SCHMALFUSS, T.; SILVA, A. e RODRIGUES, L.

F. Primeiro caso de Enterococcus resistente a vancomicina isolado em Porto Alegre, RS. J.

bras. J Bras Patol, v. 36, n. suppl 3, p. 258, 2000;

DALLA-COSTA, L. M. et al. Vancomycin-Resistant Enterococcus faecium: First Case in

Brazil. The Brazilian journal of infectious diseases: an official publication of the Brazilian

Society of Infectious Diseases, v. 2, n. 3, 1998;

FACKLAM, R. R.; CARVALHO, M. da G. S.; TEIXEIRA, L. M. History, Taxonomy,

Biochemical Characteristics, and Antibiotic Susceptibility Testing of Enterococci. In: The

Enterococci. American Society of Microbiology, p. 1 – 54, 2002;

Page 21: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

17

FRANZ, C. M. et al. Enterococci as probiotics and their implications in food safety.

International Journal of Food Microbiology, v. 151, n. 2, p. 125 – 140, 2011;

FRANZ, C. M. et al. Enterococci in foods - a conundrum for food safety. International Journal

of Food Microbiology, v. 88, n. 23, p. 105 – 122, 2003;

FURTADO, G. H. C.et al. Incidence of vancomycin-resistant Enterococcus at a university

hospital in Brazil. Revista de Saúde Pública, v. 39, n. 1, p. 41-46, 2005;

GAMBAROTTO, K. et al. Prevalence of vancomycin-resistant enterococci in fecal samples

from hospitalized patients and nonhospitalized controls in a cattle-rearing area of France.

Journal of clinical microbiology, v. 38, n. 2, p. 620-624, 2000;

GIRAFFA, G. Enterococci from foods. FEMS Microbiology Reviews, The Oxford University

Press, v. 26, n. 2, p. 163 – 171, 2002;

HÖRNER, R. et al. Suscetibilidade antimicrobiana entre amostras de Enterococcus isoladas

no Hospital Universitário de Santa Maria. J Bras Patol Med Lab, v. 41, n. 6, p. 391-5, 2005;

HUANG, T. et al. Low-concentration ciprofloxacin selects plasmid-mediated quinolone

resistance encoding genes and affects bacterial taxa in soil containing manure. Frontiers in

Microbiology, v. 7, 2016;

JONES, R. N., et al. Susceptibility rates in Latin American nations: report from a regional

resistance surveillance program (2011). The Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 17, n.

6, p. 672-681, 2013.

KÖHLER, W. The present state of species within the genera Streptococcus and Enterococcus.

International Journal of Medical Microbiology, v. 297, n. 3, p. 133 – 150, 2007;

LEBRETON, F. et al. D-Ala-D-Ser VanN-type transferable vancomycin resistance in

Enterococcus faecium. Antimicrobial agents and chemotherapy, Am Soc Microbiol, v. 55, n.

10, p. 4606 – 4612, 2011;

LECLERCQ, R. et al. Plasmid-Mediated Resistance to Vancomycin and Teicoplanin in

Enterococcus faecium. New England Journal of Medicine, v. 319, n. 3, p. 157 – 161, 1988;

Page 22: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

18

LEE, D.K. et al. Antimicrobial activity of mupirocin, daptomycin, linezolid,

quinupristin/dalfopristin and tigecycline against vancomycin-resistant enterococci (VRE) from

clinical isolates in Korea (1998 and 2005). BMB Reports, v. 40, n. 6, p. 881-887, 2007;

LEVINE, D. P. Vancomycin: A History. Clinical Infectious Diseases, v. 42, n. Supplement 1,

p. S5 – S12, 2006;

MOELLERING, R. C. Vancomycin: A 50-Year Reassessment. Clinical Infectious Diseases, v.

42, n. Supplement 1, p. 3 – 4, 2006;

MORENO, M. F. et al. The role and application of enterococci in food and health.

International. Journal of Food Microbiology, v. 106, p. 1 – 24, 2006;

MORETTI, M. L., et al. Clonal dissemination of Van A-type glycopeptide-resistant

Enterococcus faecalis between hospitals of two cities located 100 km apart. Braz J Med Biol

Res. v. 37, n 9, p. 1339 – 1343. 2004;

NALLAPAREDDY, S. R. et al. Molecular characterization of a widespread, pathogenic, and

antibiotic resistance-receptive Enterococcus faecalis lineage and dissemination of its putative

pathogenicity island. Journal of bacteriology, v. 187, n. 16, p. 5709-5718, 2005;

PARTE, A. C. LPSN - list of prokaryotic names with standing in nomenclature. Disponível em:

<http://www.bacterio.net/enterococcus.html>. Acessado em: 30 de outubro de 2016;

PINTO, G. A. S., et al. Aplicação de microrganismos no tratamento de resíduos: a remoção de

metais pesados de efluentes líquidos. Methodus - Revista Científica Cultural da Universidade

Estácio de Sá, 2001;

RESENDE, M. et al. Emergence of vanA vancomycin-resistant Enterococcus faecium in a

hospital in Porto Alegre, South Brazil. The Journal of Infection in Developing Countries, v. 8,

n. 02, p. 160-167, 2014.

RIBAS, R. M. et al. Vancomycin-resistant van a phenotype Enterococcus faecalis: first case in

Minas Gerais state and epidemiological considerations. Brazilian Journal of Infectious

Diseases, v. 11, n. 4, p. 439-440, 2007;

ROSSI, F. The Challenges of Antimicrobial Resistance in Brazil. Antimicrobial resistance d

CID. p. 52, 2011;

Page 23: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

19

RUOFF, K. L., et al. Species identities of enterococci isolated from clinical specimens. Journal

of Clinical Microbiology, Am Soc Microbiol, v. 28, n. 3, p. 435 – 437, 1990;

SCHLEIFER, K. H.; KILPPER- BÄLZ, R. Transfer of Streptococcus faecalis and

Streptococcus faecium to the Genus Enterococcus norn. rev. as Enterococcus faecalis comb.

nov. and Enterococcus faecium comb. nov. International Journal Of Systematic Bacteriology,

v. 34, n. 1, p. 31 – 34, 1984;

SHERMAN, J. M. The streptococci. Bacteriological reviews, American Society for

Microbiology (ASM), v. 1, n. 1, 1937;

SIEVERT, D. M., et al.Vancomycin-resistant Staphylococcus aureus in the United States,

2002–2006. Clinical Infectious Diseases, Oxford University Press, v. 46, n. 5, p. 668 – 674,

2008;

TAVARES, W. Manual de Antibióticos e Quimioterápicos Antiinfecciosos, 20 ed. São Paulo:

Editora Atheneu, cap 18, p.438 -441, 2001;

TENOVER, F. C., et al. Interpreting chromosomal DNA restriction patterns produced by

pulsed-field gel electrophoresis: criteria for bacterial strain typing. Journal of clinical

microbiology, American Society for Microbiology (ASM), v. 33, n. 9, 1995;

THIERCELIN, M. Sur un diplocoque saprophyte de l’intestin susceptible de devenir

pathogene. CR Soc. biol, v. 5, p. 269 – 271, 1899;

TORNIEPORTH, G. N et al. Risk Factors Associated with Vancomycin-Resistant Enterococcus

faecium Infection or Colonization in 145 Matched Case Patients and Control Patients. Clin

Infect Dis. v. 23, n. 4, p. 767 – 772, 1996;

VILELA, M. A., et al. Identification and molecular characterization of Van A-type

vancomycin-resistant Enterococcus faecalis in Northeast of Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz.;

v. 101, n 7, p. 716-719, 2006;

WAAR, K. et al. Genogrouping and incidence of virulence factors of Enterococcus faecalis in

liver transplant patients differ from blood culture and fecal isolates. Journal of Infectious

Diseases, v. 185, n. 8, p. 1121-1127, 2002;

Page 24: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

20

WILLEMS, R. J. et al. Global spread of vancomycin-resistant Enterococcus faecium from

distinct nosocomial genetic complex. Emerg infect dis, v. 11, n. 6, p. 821-828, 2005;

WINN, W.C.; et al. Cocos Gram Positivos: Parte II: Estreptococos, Enterococos e Bactérias

“Semelhantes a Estreptococos”. In: Diagnóstico microbiológico. Texto e Atlas Colorido. 6. ed.

Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, cap. 13, p. 666 – 758, 2014;

ZANELLA, R. C., et al. First confirmed case of a vancomycin-resistant Enterococcus faecium

with vanA phenotype from Brazil: isolation from a meningitis case in São Paulo. Microbial

Drug Resistance, v. 5, n. 2, p. 159-162, 1999;

ZANELLA, R. C., et al. Phenotypic and Genotypic Characterization of VanA Enterococcus

Isolated During the First Nosocomial Outbreak in Brazil. Microbial Drug Resistance, v. 9, n.

3, p. 283 – 291, 2003.

Page 25: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

21

3. NORMAS DO PERIÓDICO: The Brazilian Journal of Infectious Diseases” (BJID)

Page 26: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

22

Page 27: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

23

Page 28: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

24

Page 29: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

25

Page 30: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

26

Page 31: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

27

Page 32: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

28

Page 33: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

29

Page 34: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

30

Page 35: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

31

Page 36: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

32

4. ARTIGO:

Emergência de Enterococcus resistente à vancomicina na cidade do Natal/RN

Page 37: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

33

Emergência de Enterococcus resistente à vancomicina na cidade do Natal/RN

Emília Sousa de Oliveira, Maria Celeste Nunes de Melo1

1 Laboratório de Bacteriologia Médica, Departamento de Microbiologia e Parasitologia,

Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil.

SUMÁRIO

O gênero Enterococcus pertence ao grupo dos cocos Gram-positivos dispostos,

morfologicamente, em pares ou cadeias curtas. Colonizam a microbiota do ser humano,

principalmente do trato gastrointestinal. Contudo, esse gênero vem emergindo como um

importante agente patogênico oportunista causador de infecções, tanto comunitária quanto

hospitalares. O objetivo desse estudo é caracterizar fenotípica e geneticamente cepas de

Enterococcus resistentes à vancomicina. Foram analisados cinco isolados provenientes de

hospitais diferentes. Os isolados foram identificados a nível de espécie através do sistema

automatizado VITEK 2. O perfil de resistência aos antimicrobianos comumente utilizados na

clínica médica para o tratamento de infecções por Enterococcus foram avaliados através da

técnica do disco-difusão, do E-test e da diluição em meio sólido, segundo recomendação do

Clinical and Laboratory Standards Institute, 2016. As relações genéticas foram avaliadas pela

técnica da eletroforese em campo pulsado (PFGE). As cepas foram identificadas como

Enterococcus faecalis e apresentaram resistência à vancomicina, tetraciclina, ciprofloxacina,

gentamicina e estreptomicina. Uma amostra apresentou resistência à linezolida e todas foram

sensíveis à ampicilina e à fosfomicina. Apresentaram dois pulsotipos distintos, A e B, no qual

o pulsotipo A predominou em quatro cepas. A emergência de resistência à vancomicina

observada nesse estudo pode apontar para uma possível mudança na epidemiologia das

infecções enterocócicas na cidade do Natal, revelando um clone de Enterococcus resistente à

vancomicina disseminado entre hospitais da cidade.

PALAVRA-CHAVE: Enterococcus. resistência à vancomicina. VRE. PFGE.

Page 38: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

34

INTRODUÇÃO

O gênero Enterococcus vem emergindo nas últimas décadas como um importante agente

patogênico oportunista causador de infecções nosocomiais. A maioria das infecções por

Enterococcus origina-se da microbiota do paciente, já em menor proporção pode ser transmitida

por contato ou mesmo através do consumo de alimentos contaminados [1]. Eles são capazes de

agir como agente oportunistas principalmente em imunocomprometidos, merecendo atenção

nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas em recém-nascidos e

infecção do trato urinário [2, 3]. As espécies bacterianas que normalmente promovem a

colonização e a infecção em seres humanos são o Enterococcus faecalis e o Enterococcus

faecium [4]. Sua sobrevivência hospitalar está relacionada com a presença da resistência

cromossomal a diversos antimicrobianos utilizados na rotina, além da sua capacidade de

aquisição de resistência por mutação ou por elementos genéticos móveis [5].

A vancomicina é um antibiótico glicopeptídeo ativo contra a grande maioria dos

microrganismos Gram-positivos. Sua atividade resulta na inibição da síntese da parede celular

bacteriana, interferindo na sua formação[6]. Foi criado em 1953, mas somente na década de 80,

com a aumento de infecções ocasionadas por Staphylococcus aureus resistente à meticilina

(MRSA), a vancomicina tornou-se primeira escolha para infecções enterocócicas [7]. Em 1988,

foi isolado o primeiro Enterococcus resistente à vancomicina (VRE) [8]. Após o primeiro

isolado, diversos relatos foram reportados ao redor no mundo [9, 10]. No Brasil, o VRE foi

reportado somente no ano de 1998 em Curitiba [11]. A partir desse ano, o VRE foi isolado em

outras cidades pelo Brasil de forma endêmica [12-16]. O primeiro isolado da região Nordeste,

ocorreu em 2006, no Hospital Universitário na cidade do Recife [17]. Em estudo realizado na

cidade do Natal, em 2012, com mais de cem isolados de enterococos, não apresentou nenhuma

cepa resistente à vancomicina [18]. Com isso, em Natal, até o presente momento, não havia

descrição de VRE.

Em estudo realizado em São Paulo, com objetivo de caracterização molecular de cepas

apresentando resistência aos glicopeptídeos, observou-se a disseminação monoclonal inter-

hospitalar, como detecção de cepas estritamente relacionadas [19]. Estudos moleculares vêm

demostrando a existência de grupos genéticos associados a isolados de E. faecium presentes

nos surtos hospitalares, como a linhagem genética denominada complexo clonal 17 (CC17)

[20]. Os surtos provenientes de E. faecalis estão associadas, normalmente aos CC2 e CC9 [21

e 22]. A tipagem molecular corrobora com o estudo epidemiológico dessa bactéria cada vez

Page 39: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

35

mais emergente nos hospitais. Poucos são os estudos, no Brasil, que apresentam a análise

epidemiológica do VRE.

O objetivo desse estudo é caracterizar fenotípica e geneticamente cepas Enterococcus

resistentes à vancomicina, além de relatar a mudança na epidemiologia de infecções

entorocócicas na cidade do Natal.

MATERIAIS E MÉTODOS

Comitê de Ética

O projeto foi submetido para o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte para a dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE).

Amostras

As amostras de Enterococcus resistentes à vancomicina foram provenientes de cinco

pacientes internados em diferentes hospitais (A-E) em setembro de 2015, na cidade do Natal.

Foram isolados a partir de hemocultura, swab anal, cultura de secreção purulenta e cultura de

líquido cefalorraquidiano. Foram identificadas utilizando o sistema automatizado VITEK 2

(BioMérieux, França) de acordo com as recomendações do fabricante.

Avaliação da susceptibilidade aos antimicrobianos

Avaliadas quanto ao perfil de resistência aos antimicrobianos através da técnica do

disco-difusão segundo as recomendações do Clinical and Laboratory Stardards Institute

(CLSI) [23]. Os antimicrobianos (DME, Brasil) testados foram: ampicilina 10μg,

ciprofloxacina 5μg, tetraciclina 30μg, linezolida 30μg, fosfomicina 200μg e gentamicina 120μg

e estreptomicina 300μg (detecção de fenótipo de resistência a níveis elevados aos

aminoglicosídeos– HLAR). A confirmação da resistência aos glicopepitídeos foi realizada

através da determinação da concentração inibitória mínima utilizando a técnica do E-test

(PLAST LABOR, Brasil) para vancomicina e a diluição em meio sólido para teicoplanina

(UNIÃO QUÍMICA, Brasil), seguindo as recomendações do CLSI.

Page 40: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

36

Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE)

As cepas foram analisadas quanto a sua relação genética através da técnica da

Eletroforese em Campo Pulsado (PFGE), por restrição com a enzima Sma I, segundo a

metodologia recomendada por Teixeira [24]. A análise foi realizada pelo critério de Tenover

[25].

RESULTADOS

Todas as cepas foram identificadas, pelo sistema automatizado VITEK 2, como

Enterococcus faecalis. As características microbiológicas dos isolados encontram-se na tabela

1. Todas as cepas avaliadas apresentaram resistência a, no mínimo, quatro antimicrobianos

testados. As cepas foram resistentes de tetraciclina e de ciprofloxacina assim como,

apresentaram o fenótipo de resistência a níveis elevados à estreptomicina e à gentamicina,

demostrando o fenótipo HLR e elevado CIM à vancomicina (> 32 μg/mL). Quatro das cepas

analisadas apresentaram perfil de resistência elevado para teicoplanina (> 128 μg/mL) e uma

apresentou CIM de susceptibilidade intermediária (> 16 μg/mL). Todas as cepas foram

sensíveis à ampicilina e à fosfomicina. Apenas uma cepa apresentou resistência à linezolida.

Os perfis clonais gerado pelo PFGE podem ser visualizados na figura 1. Foram obtidas

cerca de 15 bandas para cada amostra. Das cinco amostras analisadas, três apresentaram perfil

clonal semelhante e foram nomeadas grupo clonal A. Uma cepa apresentou apenas 3 bandas

diferentes e foi nomeada como subclone A1. A última amostra, com oito bandas de diferença

como um outro clone.

Page 41: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

37

Figura 1: Perfil de PFGE das cepas de Enterococcus faecalis em gel de agarose 1,2% corado

com 0,5 µg/mL de brometo de etídio. PM: Peso Molecular; E1- 5: Cepas de Enterococcus

faecalis em análise.

Page 42: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

38

Tabela 1: Características microbiológicas das cepas de Enterococcus faecalis: antibiograma, determinação do CIM e perfil de PFGE.

1disco apresentando concentração elevada para definição do fenótipo de resistência a níveis elevados (HLAR, high-level aminoglycoside

resistance); a interpretação dos resultados seguiu as recomendações do CLSI, 2016. LCR: Líquido Cefalorraquidiano. AMP: Ampicilina; CIP:

ciprofloxacina; TET: Tetraciclina; LNZ: Linezolida; FOS: Fosfomicina; GEN: Gentamicina; EST: Estreptomicina; VAN: Vancomicina; TEC:

Teicoplanina. R: Resistente; S: Sensível.

Sítio de coleta Hospital Antibiograma CIM (μg/mL) PFGE

AMP CIP TET LNZ FOS GEN1201 EST3001 VAN TEC

E1 Sangue periférico A S R R S S R R > 256 > 128 A

E2 Sangue periférico B S R R R S R R 32 > 16 B

E3 Swab anal C S R R S S R R > 256 > 128 A

E4 LCR D S R R S S R R > 256 > 128 A

E5 Secreção purulenta E S R R S S R R 192 > 128 A1

38

Page 43: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

39

DISCUSSÃO

Um dos principais patógenos causadores de infecções hospitalares e considerado um

reservatório de genes de resistência e virulência pela sua grande capacidade de aquisição e

transferência de material genético, o Enterococcus vem ganhando espaço como um importante

patógeno oportunista nos últimos anos [26].

Uma grande preocupação em torno desse gênero é transferência de genes de resistência

a patógenos considerados mais virulentos, como para o Staphylococcus aureus, por intermédio

de plasmídeos. Em 2002, nos Estados Unidos, foi reportado o primeiro caso de S. aureus

resistente à vancomicina, apresentando o gene vanA de enterococos, sugestionando

transferência entre espécies [27].

No Boletim Informativo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a

infecção ocasionada por VRE apresentavam prevalência de notificação de 17%, com o maior

número de casos concentrados nas regiões sul, centro-oeste e suldeste, sendo 2% dos casos de

VRE foram reportados no nordeste brasileiro [28].

Em estudo realizado há quatro anos com 117 cepas de Enterococcus isolados de

hospitais da cidade do Natal (dados não publicados), foi observado que as cepas possuíam

sensibilidade à vancomicina e à teicoplanina [18]. A mudança da epidemiologia da infecção

por Enterococcus encontrado nesse estudo evidencia a importância de uma constante cultura de

vigilância para controle epidemiológico.

A alta resistência à aminoglicosídeos, demostra a presença do fenótipo HLAR. A

resistência à gentamicina coincidindo com a resistência ao glicopeptídeo (vancomicina)

demonstra que esses fármacos, utilizados sinergicamente em infecções complicadas, como o

caso de endocardites, estão se tornando cada vez menos eficazes. [29]

Embora uma cepa tenha apresentado resistência à linezolida, nos chama atenção, uma

vez que esse fármaco é uma das últimas escolhas para tratamento de infecções por bactérias

Gram-positivas multirresistentes, incluindo os Enterococcus resistentes à vancomicina com alta

resistência à ampicilina [30].

A tipagem molecular por PFGE mostrou a existência um clone que predominou entre

as amostras analisadas. As cepas pertencentes ao mesmo tipo clonal apresentaram um perfil de

resistência similar. Como os Enterococcus faecalis são microrganismo com grande capacidade

adaptativa [1], após a introdução ao ambiente hospitalar, sua erradicação é complexa e difícil.

A possibilidade de disseminação do clone com resistência deve ser tratada com cautela,

Page 44: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

40

utilizando-se de protocolos de prevenção e controle para eliminação desses microrganismos

multirresistentes.

Pela sua difícil erradicação e grande disseminação é necessário um cuidado especial

com esses patógenos. Utilizando-se sempre dos protocolos de cultura de vigilância e controle

de infecções nas unidades de saúde. Além da atenção ao uso de antibiótico.

CONCLUSÃO

A emergência de cepas de Enterococcus resistentes à vancomicina isolados na cidade

do Natal, aponta para numa possível mudança na epidemiologia das infecções enterocócicas na

cidade do Natal. Além de demostrar a presença de um clone predominando entre as amostras

estudadas, indicando a disseminação de um clone de Enterococcus faecalis resistente à

vancomicina difundido na cidade do Natal/RN.

REFERÊNCIA

[1] Winn, W.C.; Allen, S.D.; Janda, W.M.; Koneman, E.W.; Procop. G.W.;

Schreckenberger, P.C.; Woods, G.L. (2014) Cocos Gram Positivos: Parte II: Estreptococos,

Enterococos e Bactérias “Semelhantes a Estreptococos”. In: Diagnóstico microbiológico. Texto

e Atlas Colorido. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. cap. 13, 666 – 758;

[2] Carvalho, M. G. S., et al. Designation of the provisional new Enterococcus species

CDC PNS-E2 as Enterococcus sanguinicola sp. nov., isolated from human blood, and

identification of a strain previously named Enterococcus CDC PNS-E1 as Enterococcus

italicus Fortina, Ricci, Mora, and Manachini 2004. Journal of clinical microbiology, 2008;

46(10), 3473-3476;

[3] Hörner, R. et al. Suscetibilidade antimicrobiana entre amostras de Enterococcus

isoladas no Hospital Universitário de Santa Maria. J Bras Patol Med Lab, 2005; 41(6), 391-5;

[4] Ruoff, K. L., Maza, L. D. L., Murtagh, M. J., Spargo, J. D. e Ferraro, M. J. Species

identities of enterococci isolated from clinical specimens. Journal of Clinical Microbiology,

Am Soc Microbiol, 1990;28(3):435 – 437;

Page 45: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

41

[5] Clewell, D. B. Movable genetic elements and antibiotic resistance in enterococci.

European Journal of Clinical Microbiology and Infectious Diseases 1990; 9(2):90 – 102;

[6] Courvalin, P. Vancomycin Resistance in Gram-Positive Cocci. Clinical Infectious

Diseases, 2006;42:25 – 34;

[7] Levine, D. P. Vancomycin: A History, Clinical Infectious Diseases

2006;42(Supplement 1): S5 – S12;

[8] Leclercq, R., Derlot, E., Duval, J. e Courvalin, P. Plasmid-Mediated Resistance to

Vancomycin and Teicoplanin in Enterococcus faecium, New England Journal of Medicine,

1988;319(3):157 – 161;

[9] Gambarotto, K. et al. Prevalence of vancomycin-resistant enterococci in fecal samples

from hospitalized patients and nonhospitalized controls in a cattle-rearing area of France.

Journal of clinical microbiology, 2000; 38(2), 620-624;

[10] Lee, D.K. et al. Antimicrobial activity of mupirocin, daptomycin, linezolid,

quinupristin/dalfopristin and tigecycline against vancomycin-resistant enterococci (VRE) from

clinical isolates in Korea (1998 and 2005). BMB Reports, 40(6), 881-887;

[11] Dalla-Costa, L. M., Souza, D., Martins, L., Zanella, R., Brandilone, M., Bokermann,

S., Sader, H. & Souza, H. Vancomycin-Resistant Enterococcus faecium: First Case in Brazil.

The Brazilian journal of infectious diseases: an official publication of the Brazilian Society of

Infectious Diseases, 1998; 2(3)

[12] Zanella, R. C., Brandileone, M. C. C., Bokermann, S., Almeida, S. C., Valdetaro, F.,

Vitório, F., Moreira, M. D. F. A., Villins, M., Salomão, R. & Pignatari, A. C. C. ‘Phenotypic

and genotypic characterization of VanA Enterococcus isolated during the first nosocomial

outbreak in Brazil’, Microbial Drug Resistance 2003;9(3):283 – 291;

[13] Zanella, R. C., et al. First confirmed case of a vancomycin-resistant Enterococcus

faecium with vanA phenotype from Brazil: isolation from a meningitis case in São

Paulo. Microbial Drug Resistance, 1999 5(2), 159-162;

[14] Albuquerque, V.S., et al. Occurrence of vancomycin-resistant Enterococcus faecalis in

Rio de Janeiro, Brazil: strains showed genetic relationship with high-level gentamicin resistant

Page 46: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

42

(HLGR) endemic clone. Interscience Conference On Antimicrobial Agents And Chemotherapy,

2000; 40, 107;

[15] Ribas, R. M. et al. Vancomycin-resistant van a phenotype Enterococcus faecalis: first

case in Minas Gerais state and epidemiological considerations. Brazilian Journal of Infectious

Diseases, 2007; 11(4), 439-440;

[16] Bender, E. A.; Freitas, A. L. P.; Barth, A. L. Evaluation of antimicrobial susceptibility

profile of Enterococcus spp. isolated in two hospitals of Porto Alegre – RS, Brazil. Rev Bras Anal

Clin. 2010; 42:15-19.

[17] VILELA, M. A., et al. Identification and molecular characterization of Van A-type

vancomycin-resistant Enterococcus faecalis in Northeast of Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz;

2006, 101(7), 716-719;

[18] Costa, M. K. De C. M. Caracterização fenotípica e molecular de amostras de

Enterococcus isoladas em hospitais da cidade do Natal/ RN. Dissertação (Mestrado em

Microbiologia Médica e Humana) — Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2012. 91 p;

[19] Moretti, M. L., et al. Clonal dissemination of Van A-type glycopeptide-resistant

Enterococcus faecalis between hospitals of two cities located 100 km apart. Braz J Med Biol

Res. 2004; 37(9), 1339 – 1343;

[20] Willems, R. J. et al. Global spread of vancomycin-resistant Enterococcus faecium from

distinct nosocomial genetic complex. Emerg infect dis, 2005; 11(6), 821-828;

[21] Nallapareddy, S. R. et al. Molecular characterization of a widespread, pathogenic, and

antibiotic resistance-receptive Enterococcus faecalis lineage and dissemination of its putative

pathogenicity island. Journal of bacteriology, 2005; 187(16), 5709-5718;

[22] Waar, K. et al. Genogrouping and incidence of virulence factors of Enterococcus

faecalis in liver transplant patients differ from blood culture and fecal isolates. Journal of

Infectious Diseases, 2002; 185 (8), 1121-1127;

[23] Clinical And Laboratory Standards Intitute. Performance Standards for Antimicrobial

Susceptibility Testing. CLSI M100, 26. ed., 2016;

Page 47: EMERGÊNCIA DE ENTEROCOCCUS RESISTENTE À ......merecendo atenção nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas, infecção do trato urinário entre outras

43

[24] Teixeira, L. M., Gloria, S. C. M. D., Merquior, V. L., Steigerwalt, A. G., Gloria, M. T.

M. D., Brenner, D. J. & Facklam, R. Recent approaches on the taxonomy of the enterococci

and some related microorganisms. In: Streptococci and the Host. Springer, 1997: 397 – 400;

[25] Tenover, F. C., Arbeit, R. D., Goering, R. V., Mickelsen, P. A., Murray, B. E., Persing,

D. H. & Swaminathan, B. Interpreting chromosomal DNA restriction patterns produced by

pulsed-field gel electrophoresis: criteria for bacterial strain typing. Journal of clinical

microbiology, American Society for Microbiology (ASM), 1995;33(9);

[26] Murray, B. E. Vancomycin-resistent enterococcal infections. New England Jounal of

Medicine. 2000; 342: 710 – 721;

[27] Centers For Disease Control And Prevetion (CDC). Staphylococcus aureus resistant to

vancomycin – United States, 2002. MMWR. Morbidity and mortality weekly report, 2002;

51(26):565 – 567;

[28] BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa. Boletim Informativo -

Segurança do Paciente e Qualidade dos Serviços de Saúde - Ano IV, n. 7, mar. 2014.

Disponível em: <

http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/272031/Boletim+Seguran%C3%A7a+do+Pacien

te+e+Qualidade+em+Servi%C3%A7os+de+Sa%C3%BAde+n%C2%BA+09+de+dezembro+

de+2014/9ae86439-0124-410c-b6a9-6c2b37988301>. Acessado em: 30 de outubro de 2016;

[29] Shepard, B. D. e Gilmore, M. S. Antibiotic-resistant enterococci: mechanisms and

dynamics of drug introdution and resistance. Microbes and Infection, 2002; 4: 215 – 224;

[30] Arias, C. A.; Contreras, G. A.; Murray, B. E. Management of multidrug-resistant

enterococcal infections. Clinicalmicrobiology and infection. 2010;16(6):555 – 562.