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EMPREENDEDORISMO: o perfil do pequeno empreendedor francano
Adriana Cristina de Araújo - Uni-Facef1 Hélio Braga Filho - Uni-Facef2
1. INTRODUÇÃO
O empreendedorismo é um tema que está sendo constantemente
abordado nos dias atuais e debatido por diversos autores, porém sua caracterização é
bastante ambígua. Assim, de acordo com Cunha et. al. (2008), cujos resultados foram
obtidos através de uma pesquisa de campo baseada em amostra aleatória abrangendo
diferentes segmentos de mercado (lojas de vestuário, moda íntima, estacionamento,
banca de pesponto, varejo, loja de material de construção, revenda de agropecuários,
fábrica de lajes, de doces caseiros entre outros), totalizando dezesseis empresas,
motivou-nos a buscar maior aprofundamento sobre este tema.Os resultados revelaram
que 92,3% dos entrevistados participam diretamente dos negócios como investidores
proprietários, e 7,7% como gerentes. A formação escolar predominante desses
“empreendedores” foi de 46,1% ensino médio completo; 15,4% ensino superior
completo e 38,5% o ensino médio incompleto. As empresas tinham um tempo médio de
existência de dois anos e uma média de quatro funcionários. Constatou-se que os
motivos que os levaram a investir no ramo prevaleceram: 46,1% oportunidade de abrir o
negócio; 30,8% por vocação; 15,4% necessidade; e 7,7% falta de perspectiva
profissional em empregos anteriores. Nenhum dos pesquisados utilizou como
parâmetros na decisão de investir análise de mercado, viabilidade do empreendimento,
grau de retorno e risco, em outras palavras, o plano de negócio. Utilizaram a intuição
baseada numa visão de oportunidade (53,8%), ou em ramos que estavam prosperando
1 Graduada em Administração de Empresas pelo UNI-FACEF, Graduanda em Economia pelo UNI-FACEF e membro não-bolsista de iniciação científica pelo UNI-FACEF em 2009. 2 Orientador: Economista, Doutor em Serviço Social pela UNESP (Universidade Estadual Paulista – Franca), professor de economia do UNI-FACEF, pesquisador do IPES (Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais) e membro do NEIC (Núcleo de Estudos sobre a Indústria Calçadista).
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(38,5%), e ou por ter trabalhado como funcionário na área e por isso optaram em abrir o
próprio negócio (23,1%). Esta última questão abria possibilidade para o entrevistado
responder mais de uma alternativa como pode ser observado.
Do ponto de vista da função Schumpeteriana, os entrevistados possuem
características de “empresário-capitalista” (empresário tradicional), pois além de serem
o dono do capital, dedicam se a maior parte de seu tempo nas atividades rotineiras e
deixam de se envolver na parte estratégica da empresa; e desta forma, não se
caracterizam como “empresário-empreendedor”, estes por sua vez, delegam tarefas
repetitivas e se ocupam da parte estratégica do negócio, além de serem capazes de
perceber uma necessidade e criar uma oportunidade que busca a inovação, a criação
de novos métodos e produtos, ou seja, a ‘destruição criadora de Schumpeter’.
E, através da pesquisa de iniciação científica desenvolvida por Araújo e
Braga Filho (2009) foi possível complementar este assunto, e identificar quantas
empresas iniciaram suas atividades entre 2004 a 2008 no município de Franca/SP, e
quantas empresas fecharam neste mesmo intervalo.Para verificar, se mesmo sendo
considerados “empresários capitalistas” (empresário tradicional) conseguem se
manterem no mercado com tantas pressões e mudanças competitivas. Além de
identificar os subsetores da atividade econômica com maior número de
estabelecimentos (concentração). Para tanto, levantou-se informações e dados no
Cadastro Físico de Contribuintes Ativos e Inativos da Prefeitura Municipal de Franca-
SP, dos anos de 2004 a 2008, sendo depois compilados e analisados. Assim, o setor
de comércio se destaca como o que possui o maior número de empresas abertas (40%)
e também como o que mais encerrou atividades (43%) no período estudado. Sendo que
no setor do comércio, o ramo do comércio varejista de artigos de vestuários e
complemento, se apresenta com o maior índice de concentração (20,52%), e também
se revelou o ramo que mais encerrou atividades (20,07%), entre 2004 a 2008. Por outro
lado, o ramo da indústria de transformação (fabricação), configurou índice de
concentração relativamente alto (35%), e, por fim o setor de serviços apresentou índice
de concentração aparentemente baixo (25%). Sendo fechadas respectivamente 30% e
27% das empresas do setor, das quais podem se encontrar empresas que foram
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abertas entre 2004 a 2008, como empresas abertas em outros períodos e que vieram a
se fechar no período estudado.
O que indica que o tamanho do mercado local (população total), não
consegue absorver todos os bens e serviços ofertados, o que por sua vez pode levar as
empresas menos eficientes a serem eliminadas do mercado, como revela Steindl (1983)
ao afirmar que os produtores vêm sofrendo as pressões da concorrência predatória
causada pelo aumento do número de ofertantes, cuja demanda, não tem aumentado na
mesma proporção da oferta, o que implica de um modo geral a afirmar que as
pequenas firmas, não seriam capazes de suportar tal tensão, sendo forçadas a
abandonar o mercado. Isto denota, conforme apresentado na pesquisa em questão, que é
necessário se ter informações sobre o mercado, ou seja, sobre o ramo de atividade que
se pretende investir, para que assim seja possível identificar uma oportunidade e
oferecer de um modo diferente e inovador, produtos ou serviços com maior efetividade,
o que revela que estes empresários-capitalistas (empresário tradicional) não utilizaram
um plano de negócios, ou seja, ciência, e sim, intuição.
Justifica-se, portanto, desenvolver um trabalho que venha abordar
questões relevantes sobre o empreendedorismo, como definição, perfil do
empreendedor, distinção do empresário capitalista (empresário tradicional) do
empresário empreendedor, entre outras, com a intenção de trazer a tona o tema para
discussão e reflexão, de modo a destacar que o empreendedorismo é a válvula
propulsora da economia para qualquer município, estado ou país. O objetivo do
trabalho é identificar quais são as características do perfil do empreendedor francano
com base na revisão de literatura. Assim será aplicado um questionário para no mínimo
20 micro empresas abertas nos últimos 5 anos, para identificar e analisar as
características encontradas nestes empreendedores. Além de destacar as
características do município de Franca como: população, renda, escolaridade e
população economicamente ativa para contextualizar o dinamismo da economia local.
Para expor este esboço, o método empregado na presente pesquisa
valerá de análise quantitativa, qualitativa e exploratória a qual se apoiará em uma
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análise teórica de artigos, pesquisas, bibliografias e em informações e dados da
Fundação Seade, que serão depois compilados e analisados.
Para isso a pesquisa encontra-se estruturada da seguinte forma: a primeira
seção apresenta uma revisão da formação da cultura empreendedora no Brasil, onde
destaca as características do desenvolvimento econômico no país e a necessidade que
começa a surgir de um agente cuja capacidade inovativa é fundamental no processo do
desenvolvimento econômico, o “empresário-empreendedor”; na segunda seção,
abordam-se os conceitos de empreendedorismo e empreendedor, na visão de alguns
renomados autores; a terceira seção está sob a ótica do GEM (Global Entrepreneurship
Monitor), que define os estágios em que pode ocorrer o empreendedorismo, a
importância, as motivações que levam a empreender e o que é empreendedorismo e
em qual posição do ranking se encontra o Brasil; a quarta seção destaca a relevância
do papel das micro e pequenas empresas, uma vez que respondem por uma importante
parcela da economia brasileira; já a quinta seção se baseia na importância de saber o
porquê da concentração das atividades econômicas no mercado; a sexta seção ressalta
a relevância de se fazer o plano de negócios, para que se possa assumir riscos
calculados de forma a conhecer os pontos fortes, oportunidades, fraquezas e ameaças
que o empreendimento venha a sofrer em um ambiente de mudanças; já a sétima a
seção evidencia as características predominantes do perfil do empreendedor de
sucesso. Assim as demais seções que serão apresentadas terão por finalidade
apresentar os diversos aspectos relativos ao método e aos procedimentos da pesquisa,
utilizados para alcançar os objetivos do estudo.
2. A FORMAÇÃO DA CULTURA EMPREENDEDORA NO BRASIL
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Dornelas (2001) destaca que o empreendedorismo no Brasil começou a
tomar forma na década de 1990, quando entidades como Sebrae e Softex foram
criadas, porque antes disso, praticamente não se falava em empreendedorismo e em
criação de pequenas empresas, uma vez que, os ambientes político e econômico do
país não eram propícios.
Diante disto, o desenvolvimento do Brasil no que se refere à parte
econômica, social e política foi germinada sob parâmetros de dependência e
subordinação. A formação econômica do país esteve por alguns séculos presa à base
agrário-exportadora, caracterizando por sua vez uma economia submetida às ordens
dadas de fora para dentro.
Baer (1988) destaca que o Brasil era uma colônia portuguesa
administrada de acordo com restrita política mercantilista, não se permitia o
desenvolvimento de qualquer indústria e os produtos manufaturados deveriam ser
comprados dos portugueses e ingleses, em troca das matérias-primas nacionais. Esta
política mercantil foi levada a tal extremo que era vedada à Colônia a instalação de
imprensa e proibido o ensino superior. O Brasil, embora sobre o regime republicano, de
1889 a 1930, foi governado por uma oligarquia fechada, que representava
principalmente os interesses rurais de dois estados: São Paulo e Minas Gerais.Assim, a
colônia era subordinada de forma econômica, política e culturalmente à metrópole.
A partir da crise de 1930 (Wall Street), conhecida também como a grande
depressão econômica que afetou as economias mundiais, é que o desenvolvimento
brasileiro deixou de ser dirigido pela agricultura e abriu espaço para a industrialização.
Porém, para se atingir a prosperidade industrial do país, fazia-se necessário um fator
insubstituível para o crescimento sustentado da economia, o “empresário-
empreendedor”.
De acordo com Baran (1984) outro conceito que tem sido também objeto
de desmedido entusiasmo em trabalhos sobre desenvolvimento econômico, os quais
nunca se cansam de explicar o atraso dos países subdesenvolvidos ou como os
resultados da ação de “forças eternas” ou por um conjunto de reflexões reunidas ao
acaso, e aparentemente profundas, mas que, de fato, são extremamente superficiais. A
essa última categoria pertence à lamentação pela falta de “capacidade empresarial” ou
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de “espírito de empresa” nos países subdesenvolvidos, a cuja existência abundante,
deve se creditar ao progresso econômico dos países capitalistas ocidentais. E assim, os
economistas destacam e dão ênfase ao papel crucial desempenhado pelo “empresário
inovador” na promoção do desenvolvimento econômico. Sendo que este empresário
inovador descrito por Baran, enquadra nas mesmas funções do empresário-
empreendedor da visão schumpeteriana, um agente cuja capacidade inovativa é
fundamental no processo do desenvolvimento econômico.
Cardoso (1964) diz que o padrão mais difundido de direção dos
empreendimentos industriais no Brasil continua a basear-se na autoridade obtida pelo
controle da propriedade. Entretanto, como a propriedade da empresa se restringe, em
geral, aos grupos familiares, além de participarem das decisões fundamentais das
empresas (por exemplo, a determinação de novos investimentos), que constitui
praticamente um corolário do sistema de apropriação privada, os proprietários das
“empresas clânicas” exercem intensa atuação administrativa. Em geral, não apenas a
administração faz-se através de membros da família proprietária, como a maior soma
de autoridade é exercida unipessoalmente pelo ‘patriarca’ chefe da família.
Torna-se evidente que em empresas de pequeno porte o “empresário-
empreendedor” é simultaneamente o “empresário-capitalista” (proprietário do capital),
não havendo por isso mesmo o isolamento do capitalista, ou seja, do proprietário do
capital, da função schumpeteriana. A administração gerida pelo patriarca da família trás
certas incongruências, como o fato de se empenhar de forma excessiva as atividades
operacionais e priorizar menos à função estratégica.
Para Cardoso (1964), se considerarmos o conjunto das empresas em
que o controle familiar vigora, é inegável que a rotina e o temor da perda de controle do
empreendimento são os fatores que interferem no sentido da manutenção do padrão
familiar de administração. Perdem-se muitas oportunidades de expansão das empresas
para garantir-se a possibilidade das fábricas estarem ‘sob o olhar do dono’, valoriza-se
a rotina e por isso, fazem a mesma coisa que o pai, o avô e o bisavô fizeram.
É interessante ressaltar segundo Marcovitch (2003) estudos como os
realizados pelo Luiz Carlos Bresser Pereira, e o de Fernando Henrique Cardoso,
publicados em 1964, pois trazem luz sobre a origem dos empreendedores. Bresser-
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Pereira questiona a origem oligárquica do empresariado industrial e conclui que a
grande maioria era constituída de estrangeiros ou filhos de estrangeiros sem vínculos
com a aristocracia cafeeira. Está conclusão ganha relevância para entender os conflitos
entre os cafeicultores que, apesar de reconhecerem a importância da industrialização,
se opunham à proteção da indústria nacional e do empresariado nacional desejoso de
obter recursos do Estado para sua empreitada modernizadora. Assim o autor aborda
que a oligarquia cafeeira comercial e os empresários industriais constituíam dois grupos
de origem étnica distinta e socialmente separados.
Contudo, pode se ressaltar que parte do nosso atraso e
subdesenvolvimento estão enraizados na própria formação histórica do país, onde
inicialmente de um lado existia uma metrópole, que não consentia a industrialização e
inclusão do ensino superior, e do outro se mistura uma cultura que foi por muitos anos
disseminada de maneira reprimida a aceitar sem questionamentos absolutamente tudo
que lhe era imposta.
3. O EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR O tema empreendedorismo está incessantemente sendo discutido, porém
sua definição é bastante peculiar e ambígua. Muitos acreditam saber, no entanto não
conseguem definir exatamente o que seja. Com isso a pesquisa pretende compreender
melhor o que é empreendedorismo, já que os empreendedores contribuem de forma
significativa na geração de força de trabalho e conseqüentemente no desenvolvimento
econômico do país e formação de riquezas.
Para Baron e Shane (2007) o empreendedorismo é um processo, em vez
de um evento único, o que reitera a idéia de que ele ocorre em vários estágios do
negócio. Eles complementam que há um crescente consenso na área quanto à utilidade
e correção de se enxergar o empreendedorismo como um processo que se desenvolve
ao longo do tempo e se move por meio de fases distintas, mas intimamente
relacionadas.
Para os autores, em linhas gerais, pode-se dizer que tais fases são
identificadas primeiramente com o reconhecimento de uma oportunidade, seguida da
utilização de recursos para promover o desenvolvimento da oportunidade e por último a
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concretização da oportunidade, caracterizando o empreendedorismo como um
processo que passa por determinadas etapas.
Portanto, Baron e Shane (2007) destacam o empreendedorismo, como
subdivisão da área de negócios, é um campo de estudos que busca entender como
surgem as oportunidades para criar novos produtos ou serviços, novos mercados,
processos de produção, formas de organizar as tecnologias existentes ou matérias-
primas e como são descobertas por pessoas específicas, que então usam meios para
explorá-las ou desenvolvê-las, o que justifica o empenho de pesquisadores em estudos
relacionados a esta atividade, considerando os benefícios econômicos e sociais que ela
provoca com a geração de riqueza e criação de empregos.
Para Hisrich & Peters (2004) o processo de iniciar um novo
empreendimento está incorporado ao processo de empreender, sendo que este
processo possui quatro fases distintas: identificação e avaliação de oportunidade,
desenvolvimento do plano de negócio, determinação dos recursos necessários e
administração da empresa resultante. Lembrando que embora essas fases ocorram
progressivamente, nenhuma é tratada de forma isolada ou está totalmente completa
antes de considerar os fatores de uma fase posterior.
Chiavenato (2004) destaca que o processo empreendedor abrange todas
as atividades, as funções e as ações relacionadas com a criação de uma nova
empresa, assim, em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve o processo de criação
de algo novo, que tenha valor e seja valorizado pelo mercado; em segundo lugar, o
empreendedorismo envolve devoção, comprometimento de tempo e esforço e em
terceiro lugar, requer ousadia, assunção de riscos calculados, além de tolerância com
possíveis tropeços, erros ou insucessos.
Diante disto, de acordo com Degen (2005) o sucesso do empreendedor
não depende do fator sorte, mas sim da aplicação sistemática de técnicas gerenciais
sintonizadas com o desenvolvimento de novos empreendimentos.
No meio acadêmico não existe uma definição conclusiva sobre
empreendedorismo, pois não existe um empreendedor típico (BIRLEY e MUZYKA,
2001). No entanto, o termo é entendido como as pessoas que criam os seus próprios
negócios, normalmente conectados à inovação, ao aproveitamento de oportunidades e
20
à audácia. Pode ser visto também como um processo de criação de algo diferente, com
valor, devido à dedicação e esforço de alguém que assuma os riscos financeiros,
psicológicos e sociais que busque as recompensas resultantes na forma de satisfação
pessoal e monetária (HISRICH e PETERS, 1986).
Podendo ter a função de engajar-se em atividades de arbitragem
lucrativa, comprando mercadorias a um preço mais baixo que o esperado, e ou
vendendo produtos/serviços a um preço acima da média (HAMILTON e HARPER,
1994).
Chiavenato (2004) refere-se ao empreendedor como sendo a pessoa que
consegue fazer as coisas acontecerem, pois é dotado de sensibilidade para os
negócios, tino financeiro e capacidade de identificar oportunidades.
Schumpeter (1949) afirma que a função empreendedora não pode ser
incorporada por uma única pessoa, pois ela deve ser exercida cooperativamente. E que
o empreendedor é o “homem que faz as coisas serem feitas e não necessariamente o
homem que as inventa”.
É o indivíduo que tem comportamento pró-ativo, que deseja pensar e agir
por conta própria, com criatividade, liderança e visão de futuro, para inovar e ocupar o
seu espaço no mercado, transformando esse ato também em prazer e emoção
(DOLABELLA, 1999).
Vries (2001) acrescenta que os empreendedores parecem ser orientados
para realizações, gostam de assumir a responsabilidade por suas decisões e não
gostam de trabalho repetitivo e rotineiro.
São criativos possuem altos níveis de energia e altos graus de
perseverança e imaginação que, combinados com disposição para correr riscos
moderados e calculados, os capacitam a transformar o que freqüentemente começa
como uma idéia muito simples e mal definida, em algo concreto. Tendo disposição em
buscar oportunidades, independentemente dos recursos disponíveis (STEVESON e
JARILLO, 1990). Ao analisar as diversas definições vistas até então, a de Dornelas (2001)
sintetiza: “o empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio
para capitalizar sobre ela, assumindo riscos calculados”.
21
Uma das grandes diferenças entre o empreendedor e as pessoas que
trabalham em organizações é que o empreendedor define o objetivo que vai determinar
seu próprio futuro (FILION, 1999), de forma visionária e avaliada, além de desenvolver
as mesmas atividades de planejar, organizar, dirigir e controlar de um “empresário-
capitalista” (empresário tradicional). Todavia, o empreendedor deixa explícito que
conhece a relevância de delegar as tarefas repetitivas para se empenhar na parte
estratégica de forma a identificar uma necessidade em um determinado nicho de
mercado que não tenha sido satisfeita.
Segundo Dornelas (2001) o empreendedor pode ser diferenciado de um
administrador por cinco dimensões distintas de negócio: orientação estratégica, análise
das oportunidades, comprometimento dos recursos, controle dos recursos e estrutura
gerencial. Sendo assim, o empreendedor busca atingir uma estratégia de vanguarda
conciliando análise e planejamento da organização, e não simplesmente se limita à
rotina e às formas tradicionais das atividades, de um empresário-capitalista.
Por outro lado, para Schumpeter (1961) o capitalista é o investidor, detém
a propriedade dos recursos. E o empreendedor é aquele que combina recursos pela
primeira vez, não sendo necessariamente o proprietário da empresa, dando a forma do
negócio, ou seja, o conceito de empreendedor exclui aqueles que somente têm como
função operar negócio já estabelecido, não é necessário ser ele o autor da inovação,
mas ser o condutor dos meios de produção para novos canais.
Schumpeter (1985) acrescenta que os “empresários” não são apenas os
homens de negócios “independentes” em uma economia de trocas, mas, sim, todos que
preenchem a função pela qual define o conceito, mesmo que sejam, como está se
tornando regra, empregados “dependentes” de uma companhia.Por outro lado, o
conceito é mais restrito do que o tradicional ao deixar de incluir todos os dirigentes de
empresas, gerentes ou industriais que simplesmente pode operar um negócio
estabelecido.
O empresário ao qual se refere Schumpeter é o empreendedor, cuja
definição provém da inovação e da exploração de novos mercados. Assim, os conceitos
de empresário - empreendedor estão embasados em inovar, conhecer o mercado e ser
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capaz de detectar uma oportunidade, oferecer mesmo que já existam, produtos ou
serviços, com maior eficiência, o que lhe aumentará a competitividade.
Já o proprietário do capital, denominado empresário – capitalista
(empresário tradicional), se destaca como sendo além do dono dos recursos o
responsável por operar o empreendimento como um todo, ou seja, centralizando todas
as decisões, o que direciona grande parte do seu tempo em atividades corriqueiras que
podem ser delegadas, para que seu foco seja o comprometimento com o
desenvolvimento da empresa.
Para Filion (1999), esses empreendedores são involuntários (empresário-
capitalista /tradicional), os quais tendem a optar pelo auto-emprego, mas não são
empreendedores no sentido geralmente aceito do termo. Criam uma atividade de
negócio, porém não são movidos pelo aspecto da inovação, e sim pelo extinto de
sobrevivência ou intuição.
Deste modo, se há um comprometimento em busca de fazer algo de um
modo diferente e efetivo, que traga através de riscos calculados um benefício à
sociedade é possível caracterizar esta ação como sendo empreendedora. Da mesma
forma que aqueles que usam suas aptidões para manterem um padrão de vida estável,
suprir a ausência de um emprego ou aplicar um capital em um empreendimento que
julgam estar dando certo no mercado, pode ser denominado empresário-capitalista, ou
seja, empresário tradicional.
4. RELATÓRIO DO GEM (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR) O GEM (Global Entrepreneurship Monitor), é uma das maiores pesquisas
sobre o empreendedorismo, iniciada em 1999 e liderada pela London Business School
e o Babson College (EUA). Envolve aproximadamente cerca de 60 países, dos mais
variados graus de desenvolvimento econômico e social, cuja proposta é avaliar o
empreendedorismo no mundo a partir de indicadores comparáveis, conforme descreve
o relatório executivo GEM de 2005 e 2008, na qual o Brasil participa desde o ano 2000,
constituindo um valioso acervo de informações sobre o comportamento do
empreendedor brasileiro.
Este estudo define o empreendedorismo como qualquer tentativa de
criação de um novo empreendimento, como, por exemplo, uma atividade autônoma,
23
uma nova empresa, ou a expansão de um empreendimento existente, por um indivíduo,
grupos de indivíduos ou por empresas já estabelecidas, ou seja, qualquer tipo de
atividade.
É importante ressaltar que esta atividade empreendedora ocorre tanto no
estágio inicial do negócio, como em empresas ou negócios já estabelecidos, o que
garante o desenvolvimento permanente do negócio através do processo constante de
inovação e busca de oportunidades.
De acordo com o relatório executivo GEM 2008, é importante destacar que
as motivações para iniciar uma atividade empreendedora podem ser divididas em
motivação para empreender ou em motivação por oportunidade quando o
empreendedor identifica uma nova forma de oportunidade no mercado e, motivação por
necessidade quando o empreendedor busca suprir, por falta de opção, uma ocupação
ou renda.
O Brasil ocupou em 2008 a 13º posição no ranking mundial de
empreendedorismo. A Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA) brasileira foi
de 12%, o que significa que de cada 100 brasileiros em idade adulta (18 a 64 anos) 12
realizavam alguma atividade empreendedora até o momento da pesquisa. (GEM,
2008).
Essa taxa está relativamente próxima da média histórica brasileira, que é
de 12,72. Pela primeira vez desde que a pesquisa foi iniciada no Brasil, o país ficou fora
do grupo dos dez países com maiores taxas de empreendedorismo. A mudança se
deve principalmente à alteração no conjunto de países participantes da pesquisa GEM
2008 e não significa necessariamente uma piora relativa do Brasil. (GEM, 2008).
Podemos destacar sob a ótica do GEM 2008, que entre os países
analisados, o Brasil apresentou uma das taxas mais baixas de lançamentos de
produtos considerados novos, ou seja, desconhecidos pelo o consumidor.
Os dados da pesquisa GEM Brasil 2008, ressalta que embora o
empreendedorismo seja um tema de interesse do meio empresarial, político e
acadêmico por ser importante e responsável pelo desenvolvimento e crescimento
econômico de um país, a maioria dos empreendedores nacionais, não participou de
atividades relacionadas à abertura de negócios, principalmente em sua formação
24
educacional – ensino fundamental, médio e superior - e não participou de outras
atividades que agregassem conhecimentos sobre empreendedorismo.
Assim, apesar do Brasil demonstrar que possui grande capacidade
empreendedora, evidencia-se ainda a influência do empreendedorismo por
necessidade em relação aos demais países.
5. MICRO EMPRESA – MPEs É relevante destacar que uma empresa segundo Chiavenato (2004) é um
conjunto de pessoas que trabalham juntas no sentido de alcançar objetivos por meio da
gestão de recursos humanos, materiais e financeiros, com o intuito de atingir objetivos
que isoladamente jamais conseguiriam, assim, as empresas existem para produzir algo
e prestar algum serviço à sociedade.
O autor acrescenta que as empresas possuem objetivos diretos e
indiretos, sendo os objetivos diretos a produção ou a venda de mercadorias ou a
prestação de serviços e seus objetivos indiretos é almejar ganhar mais do que gasta
para produzir ou vender suas mercadorias ou prestar serviços.
Desta forma o papel das micro e pequenas empresas se tornam cada vez
mais relevante, uma vez que respondem por uma importante parcela da economia
brasileira. Elas representam 99% do total das empresas do país, 28% do faturamento
do setor privado, 20% do PIB brasileiro e 2% do valor das exportações brasileiras.
(SEBRAE, 2006).
A classificação das micro e pequenas empresas pode ser realizada de
acordo com o
número de
empregados, como segue abaixo:
Porte/ Setor
Indústria
Comércio e Serviços
Microempresas Até 19
Até 9 empregados
Empresas de Pequeno Porte
De 20 a 99 De 10 a 49
Médias
De 100 a 499 De 50 a 99
Grandes
500 ou mais 100 ou mais
25
Fonte: SEBRAE-SP, 1998.
De acordo com o Sebrae (2006) se levarmos em consideração a geração
de postos de trabalho, as MPEs realizam um papel de “colchão social”, abrigando a
maioria das ocupações formais e informais, sendo que levando em conta apenas os
empregados com registro em carteira, as MPEs respondem por 56% desse grupo de
trabalhadores.
As principais características das MPEs segundo o Sebrae (2007), são que
elas oferecem produtos e serviços de baixo preço unitário, onde predominam as vendas
ao consumidor final, de forma a atender as necessidades básicas da população
(alimentos, bebidas, vestuário, calçados, móveis, moradia - construção e reforma) e
possuem escalas de produção muito baixas como por exemplo capital, insumos,
materiais e mão-de-obra.
É importante ressaltar que em média, a cada ano são registradas na Junta
Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP) cerca de 130 mil empresas, contudo,
cerca de 29% não conseguem ultrapassar o primeiro ano de funcionamento e 56%
fecham suas portas antes de completar o 5º ano de atividade. (SEBRAE, 2006).
Para o Sebrae (2006) entre as principais causas da mortalidade de
empresas encontra-se o comportamento empreendedor pouco desenvolvido, como a
falta da realização do plano de negócio, ou seja, um planejamento antes da abertura do
empreendimento, o que se torna uma das razões que leva ao fechamento dos
pequenos negócios, destacando também a gestão deficiente durante os primeiros anos
de atividade, sendo assim, as deficiências mais comuns, em termos de gestão, são: a
má administração do fluxo de caixa, a falta de aperfeiçoamento de produtos/serviços às
necessidades dos clientes e de controle dos custos, o desconhecimento sobre
26
estratégias de comercialização e pouca divulgação dos produtos e serviços da
empresa.
Percebe-se deste modo que os empresários empreendedores bem
sucedidos costumam apresentar habilidades e atitudes empreendedoras bem
desenvolvidas. São exemplos: a disponibilidade para enfrentar “riscos moderados”, a
busca intensa por informações para tomar suas decisões, sempre se antecipar aos
fatos e definir objetivos e metas e ter persistência para atingi-los. Entre os empresários
que encerraram suas atividades, essas características são menos desenvolvidas.
(SEBRAE, 2006).
6. DISPARIDADES PARA UMA POSSÍVEL SATURAÇÃO NO ESPAÇO ECONÔMICO LOCAL
Steindl (1983) destaca que os produtores enfrentam a concorrência
elevada do número de ofertantes e por outro lado à demanda não tem aumentado no
mesmo ritmo, o que acaba gerando a redução dos preços dos produtos e
conseqüentemente da margem de lucro. Sendo que as firmas de custo mais elevado ou
com menor flexibilidade financeira, aspectos que em geral são mais encontrados entre
as pequenas firmas, não seriam capazes de suportar tal tensão, sendo forçadas a
abandonar o mercado. Considerando que as atividades desenvolvidas no âmago do espaço local
baseiam-se provavelmente na expectativa do lucro e na acumulação de capital, quando
ocorre o crescimento exagerado de empresas pertencentes a um mesmo ramo de
atividade, possivelmente esta concentração ocasionará uma situação de saturação.
Para Singer (1988), o tamanho de um mercado se dá por três fatores
principais: o tamanho da população, sua renda e a integração da economia como um
todo. Para que haja a integração dessa economia é necessário que se obstrua todas e
quaisquer barreiras que atrapalhem a circulação de mercadorias dentro de um território,
como por exemplo, através da melhoria da rede de transportes e da distribuição
populacional. O tamanho da população e o seu nível de renda dependem em
contrapartida, de outros fatores; pode-se dizer que, à medida que a população e
respectiva renda crescem, o mercado de consumo se expande, pois, verifica-se o
equilíbrio face ao aumento simultâneo entre oferta de bens e serviços e demanda
27
efetiva pelos mesmos; diferentemente, quando a população e sua renda diminuem, o
mercado de consumo se retrai.Assim, considerando o mercado local, sucintamente,
pode-se para uma melhor compreensão destacar que o tamanho do mercado é uma
função da quantidade e da renda dos habitantes, ou seja, o mercado está relacionado
com as variações das quantidades de habitantes e renda combinados com a economia
como um todo.
Kupfer (2002), frisa que se uma indústria apresentar lucros elevados, é de
se esperar que novas empresas venham a se estabelecer nessa indústria buscando
compartilhar esses lucros. Por outro lado, se uma indústria apresentar desempenho
deficitário, algumas empresas desejarão encerrar as atividades e transferir-se para
indústrias mais atraentes. Nos setores superavitários, aumento de oferta, conseqüente
à adição de capacidade, reduz preços e contrai lucros enquanto nos setores
deficitários, a redução da oferta, conseqüente à saída de empresas, contrai a oferta e
eleva os lucros.
Evidencia que a concentração industrial em um dado local pode
intensificar o aumento da competição, ou seja, apresentar um aumento relevante no
número de ofertantes maior do que a demanda, o que por sua vez poderá ocasionar
uma queda nos preços, contrair o lucro e provocar a eliminação de alguns destes
produtores do mercado.
Kupfer (2002), diz que a lucratividade de um conjunto de firmas pode ser
superior à média até certo período de tempo, porém, se “esses lucros extraordinários”
mostrarem-se permanentes, essa indústria pode apresentar restrições, ou seja,
barreiras à entrada. Como por exemplo: vantagens absolutas de custo – quando o
custo médio a longo prazo de empresas entrantes é superior ao das empresas
estabelecidas, o que torna as segundas mais vantajosas - , a existência de economias
de escala - que será uma barreira à entrada significativa quanto maior for a redução
esperada para o preço pós-entrada -, a diferenciação de produtos – que tornam os
consumidores leais aos produtos de empresas já existentes, forçando as empresas
entrantes a praticarem preços mais baixos para deslocar a preferência dos
consumidores – e os requerimentos iniciais de capital – que dificultam a entrada de
firmas devido aos investimentos iniciais serem muito elevados -. Assim, percebe-se que
28
a decisão de uma empresa entrar ou não em determinado mercado, é baseada em uma
expectativa de obtenção de lucros imediatamente após a entrada e, quanto mais
dinâmica for à economia, menos possibilidade de impedimento à entrada se encontrará.
Deste modo é possível perceber que as novas empresas baseiam-se nos
lucros atingidos entre as empresas estabelecidas e passam a acreditar que prosperarão
no mesmo ramo de atividade.
Kon (1994), salienta que nesse sentido, os efeitos sobre a competição em
um mercado podem ser observados e avaliados não apenas com relação ao número de
firmas envolvidas e nos impactos sobre a formação de preços e os níveis de produção,
mas também sobre a desigualdade nos tamanhos das firmas, sobre a capacidade de
inovação e sobre as barreiras à entrada de novas firmas. Assim, as mudanças nos
níveis de concentração de uma indústria resultam de fatores que induzem mudanças no
poder dos produtores individuais, como por exemplo, alterações nas políticas
estratégicas das firmas líderes, nas economias de escala das firmas, no tamanho e no
crescimento do mercado, ou ainda a ocorrência de fusões ou outros fatores, que afetam
as condições de entrada de novas firmas naquele mercado.
Destaca-se assim, que a competição entre as empresas no mercado é
motivada por diversos desdobramentos como a formação de preços, margem de lucro,
barreiras à entrada de novas firmas, o tamanho do mercado, a renda da população, a
integração da economia como um todo, onde a concentração industrial dentro do
mercado local, concomitantemente reflete no aumento de produtos homogêneos entre
os produtores, gerando uma situação de saturação seguida de eliminação.
De acordo com estes preceitos, a pesquisa identifica no espaço local as
atividades econômicas que nele se desenvolvem, e acredita que por essas concepções
alguns nichos de mercado podem ter atingindo expressivo grau de concentração, o que
aumenta a concorrência, ocasiona a redução de preços e, por conseguinte a diminuição
da margem de lucro, entre outros fatores.
7. PLANO DE NEGÓCIOS Bernardi (2008) acredita que novos empreendimentos são vulneráveis e
estão sujeitos a muitas restrições e, por isso, a prudência e cautela devem ser
redobradas desde o início do processo. Assim, uma preparação não adequada e
29
superficial é pré-requisito a um provável insucesso e um bom plano de negócios, na
melhor das hipóteses, aumenta as chances de sucesso.
Dornelas (2005) afirma então que o plano de negócios deve ser elaborado
e utilizado seguindo algumas regras básicas, porém que não são estáticas e que, por
sua vez, permitem ao empreendedor empregar sua criatividade ou o bom senso,
enfatizando um ou outro aspecto que mais interesse aos envolvidos com o plano em
questão. Portanto, o plano de negócios, faz-se essencial para que se possa demonstrar
a viabilidade para se atingir uma situação desejada, mostrando os caminhos
necessários que a empresa deve trilhar para crescer e desenvolver economicamente no
mercado. Desse modo, é necessário que o empreendedor, siga um caminho lógico e
racional, para transformar a sua idéia em realidade, em outras palavras, consiga
capitalizar sobre ela, ou ao menos, pô-la em prática evitando os riscos que envolvem
quaisquer tipos de empreendimento.
O autor acrescenta que para o plano de negócios se tornar uma
ferramenta eficaz de gerenciamento é primordial que as informações nele contidas
possam ser comunicadas internamente à empresa de forma satisfatória.Afinal, ainda
que existam ótimas informações capazes de aperfeiçoar o processo gestor de uma
organização, não adiantam, se estiverem inutilizadas.
Segundo Clemente (2004) o plano de negócios é um instrumento
importante para a comunicação da viabilidade do negócio, sendo fundamental para o
momento da negociação. O plano pode também ser usado para vender parte do
negócio a sócios potenciais, estabelecer alianças com futuros parceiros, conseguir
financiamentos e crédito junto a bancos, captar investimentos com capitalistas de risco
e orientar os empregados e colaboradores a trabalharem alinhados com a missão da
empresa. É válido ressaltar que o plano de negócio é uma ferramenta eficiente somente
quando oriunda de um planejamento adequado.
Para Salles (2001) um plano de negócios será mais bem elaborado se
contar com uma visão estratégica, previamente elaborada, que atinja toda a situação do
empreendimento e do ambiente tecnológico, econômico, financeiro, social e cultural que
envolve. Para tanto, é recomendável que se tomem em consideração, antes de sua
elaboração as forças e fraquezas do empreendimento assim como as ameaças e
30
oportunidades do ambiente, principalmente no que estas se traduzem em termos de
mercado potencial e condições financeiras. Assim o plano de negócios, na direção
destes empreendimentos é mais do que uma possibilidade é uma necessidade e um
instrumento imprescindível de seu desenvolvimento.
Chiavenato (2004) reforça que para ser bem sucedido o empreendedor
precisa planejar o seu negócio, através do plano de negócio – business plan – o qual é
um conjunto de dados e informações sobre o futuro empreendimento, que define suas
principais características e condições para proporcionar uma análise da sua viabilidade
e dos seus riscos, bem como para facilitar sua implantação.
Baron e Shane (2007) denotam que um plano de negócio é um documento
vivo que pode mudar – e muda – freqüentemente, conforme o negócio se desenvolve e
quando por sua vez, bem preparado explicará o que o novo empreendimento está
tentando realizar e como alcançará as metas propostas.
O plano de negócio para Hisrich & Peters (2004) é um documento
preparado pelo empreendedor em que são descritos todos os elementos externos e
internos relevantes envolvidos no início de um novo empreendimento.
Os autores esclarecem que o planejamento é um processo que jamais
termina em uma empresa e que à medida que o empreendimento evolui de uma
empresa iniciante para uma empresa madura, o planejamento continuará enquanto a
administração buscar atingir suas metas de curto ou longo prazo.
Dornelas (2001) descreve o plano de negócio como sendo uma
ferramenta que se aplica tanto no lançamento de novos empreendimentos quanto no
planejamento de empresas maduras, sua elaboração envolve um processo de
aprendizagem e autoconhecimento, o que permite o empreendedor situar-se no seu
ambiente de negócios.
Segundo o Sebrae (2007) o plano de negócio é o instrumento ideal para
traçar um retrato fiel do mercado, do produto e das atitudes do empreendedor, o que
propicia segurança para quem quer iniciar uma empresa com maiores condições de
êxito ou mesmo ampliar ou promover inovações em seu negócio. O plano irá orientar na
busca de informações detalhadas sobre o ramo, os produtos e serviços que irá
oferecer, seus clientes, concorrentes, fornecedores e, principalmente, sobre os pontos
31
fortes e fracos do seu negócio, contribuindo para a identificação da viabilidade de sua
idéia e na gestão da empresa.
O Sebrae (2007) destaca os principais pontos para a elaboração de um
plano de negócios, dentre os quais se destacam: o sumário executivo, análise de
mercado, plano de Marketing, plano operacional, plano financeiro, construção de
cenários, avaliação estratégica e avaliação do plano de negócio.
Percebe-se desta maneira que o plano de negócios se faz
primordial, para que se possa assumir riscos calculados e atingir o objetivo que se
deseja, de forma a conhecer os pontos fortes, oportunidades, fraquezas e ameaças que
o empreendimento venha a sofrer em um ambiente de mudanças drásticas.
8. CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR
Como já foi visto anteriormente, o empreendedor é essencial para a
formação de riquezas na economia e dentro desse raciocínio Degen (1989) confirma
que a riqueza de uma nação é medida por sua capacidade de produzir, em quantidade
suficiente, os bens e serviços necessários ao bem estar da população, e por esse
motivo, o melhor recurso para solucionar os graves problemas sócio-econômicos pelos
quais o Brasil passa é a liberação da criatividade dos empreendedores, através da livre
iniciativa, para produzir esses bens e serviços.
Sendo assim, os autores Chiavenato (2004), Hisrich e Peters (2004),
Dornelas (2001), Bernardi (2008), Baron e Shane (2007) e Birley e Muzyka (2001),
destacam as características do perfil empreendedor, as quais se apresentam descritas
no quadro 1.
Quadro 1 - Características do Perfil Empreendedor
Autores Características
Básicas Características Desejáveis
Iniciativa pessoal Busca de informações
Busca de
oportunidades
Planejamento e
monitoração (controle)
Necessidade de
realização Perseverança Capacidade de persuasão
32
Comprometimento Capacidade de fazer
contatos
Qualidade do trabalho Independência
Eficiência Autonomia
Coragem de assumir
riscos
Autocontrole
Chiavenat
o (2004)
Disposição para
assumir riscos
Autoconfiança
Fixação de metas objetivas
Habilidades
técnicas
Habilidades
administrativas
Habilidades
empreendedoras pessoais
33
Hisrich
&
Peters
(2004)
Redação
Expressão oral
Monitoramento do
ambiente
Administração
comercial técnica
Tecnologia
Interpessoal
Capacidade de
ouvir
Capacidade de
organizar
Construção de
rede de
relacionamentos
Estilo
administrativo
Treinamento
Trabalho em
equipe
Planejamento e
estabelecimento de
metas
Capacidade de tomar
decisões
Relações humanas
Marketing
Finanças
Contabilidade
Administração
Controle
Negociação
Lançamento de
empreendimento
Administração do
crescimento
Controle interno e de
disciplina
Capacidade de correr
riscos
Inovação
Orientação para
mudanças
Persistência
Liderança visionária
Habilidade para
administrar mudanças
34
Características dos empreendedores de sucesso
São visionários São dedicados São líderes e formadores
de equipe
Sabem tomar
decisões
São bem relacionados
(networking)
São indivíduos
que fazem a
diferença
São otimistas e
apaixonados pelo que
fazem São organizados
Planejam, planejam,
planejam
Sabem explorar
ao máximo as
oportunidades
São independentes e
constroem o próprio
destino
Possuem conhecimento
Assumem riscos
calculados
Dornelas
(2001)
São determinados
e dinâmicos
Ficam ricos
Criam valor para a
sociedade
Perfil característico
Senso de
oportunidade
Otimismo Flexibilidade e resistência a
frustrações
Dominância Dinamismo Criatividade
Agressividade e
energia para
realizar
Independência
Propensão ao risco
Autoconfiança Persistência Liderança carismática
Bernardi
(2008)
Habilidade de equilibrar “sonho” e
realização
Habilidade de relacionamento
Peculiaridades do empreendedor
Lidam com incertezas Reagem bem e de forma flexível aos
contratempos
Têm disposição Têm paixão por suas crenças
Acreditam em si mesmos São bons com outras pessoas
Baron
e
Shane
(2007) São altamente adaptáveis Assumem níveis de riscos razoáveis
Dimensões da capacidade empreendedora
Orientação estratégica Controle dos recursos
Comprometimento com a Estrutura administrativa
35
Elaborado pela autora
De acordo com as características mencionadas pelos autores acima
citados, pode se afirmar que o empreendedor de sucesso possui uma visão ampla de
seu negócio, além de estar sempre atualizado e aprender continuamente sobre o ramo
que atua, sem se desconectar da economia como um todo.
9. Método da pesquisa O método de pesquisa pode ser entendido como qualitativo, onde o
pesquisador é um interpretador da realidade (BRADLEY, 1993), quantitativo por utilizar
coleta de dados na forma de números e ou percentagens (MATTAR, 1999) e
exploratória porque objetiva proporcionar uma visão geral do tipo aproximativo acerca
de determinado fato (GIL, 1999).
10. Apresentação e análise dos resultados Obtido os dados e as informações do espaço amostral de no mínimo 20
micro empresas abertas nos últimos 5 anos, nas quais serão aplicadas questionários
para se coletar as evidências do perfil do empreendedor francano, se tornará possível
apresentar os resultados da pesquisa realizada, onde conforme Marconi e Lakatos
(1999) uma tabulação se fará necessária para “a arrumação dos dados em tabelas, de
maneira a permitir a verificação das relações que eles guardam entre si”.
Desta forma, poderá se verificar a contribuição das variáveis de pesquisa
para atingir o perfil do empreendedor francano, sendo efetuada uma análise e
interpretação dos resultados atingidos, e diante da revisão de literatura e dos
questionários que serão analisados, se realizará a conclusão, para demonstrar o
objetivo do estudo.
36
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