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ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO NA DOENÇA DE PARKINSON Resumo: A Doença de Parkinson é caracterizada pela morte e lesão das células produtoras de dopamina, no cérebro. Esta substância é responsável pelo controle da coordenação motora e dos movimentos voluntários no corpo humano. Pelo que a diminuição desta substância no organismo provoca alterações no movimento, que requerem um suporte fornecido por profissionais especializados. Contudo, este trabalho pretende apenas analisar o papel da enfermagem, em especial da enfermagem de reabilitação no referido suporte aos doentes portadores da doença. Palavras-chave: Doença de Parkinson; Enfermagem de Reabilitação; Cuidador. A Doença de Parkinson (DP) foi descrita pela primeira vez em 1817, por James Parkinson no seu ensaio intitulado “An Essay on the Shaking Palsy” (Meneses et al, 2003, p.1). É caracterizada pela morte e lesão das células produtoras de dopamina, no cérebro. Esta substância é responsável pelo controle da coordenação motora e dos movimentos voluntários no corpo humano. Quando a redução da dopamina atinge os 80%, então chegam os sinais cardinais: rigidez muscular que afecta o rosto, braços, pernas e até o pescoço, tremores involuntários nas mãos e a lentidão dos movimentos, bradicinésia e alterações da marcha com instabilidade postural. Este distúrbio do movimento tem progressão lenta e as causas são ainda desconhecidas. 1

ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO NA DOENÇA DE PARKINSON

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Page 1: ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO NA DOENÇA DE PARKINSON

ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO NA DOENÇA DE PARKINSON

Resumo:A Doença de Parkinson é caracterizada pela morte e lesão das células

produtoras de dopamina, no cérebro. Esta substância é responsável pelo

controle da coordenação motora e dos movimentos voluntários no corpo

humano. Pelo que a diminuição desta substância no organismo provoca

alterações no movimento, que requerem um suporte fornecido por profissionais

especializados. Contudo, este trabalho pretende apenas analisar o papel da

enfermagem, em especial da enfermagem de reabilitação no referido suporte

aos doentes portadores da doença.

Palavras-chave: Doença de Parkinson; Enfermagem de Reabilitação;

Cuidador.

A Doença de Parkinson (DP) foi descrita pela primeira vez em 1817, por James

Parkinson no seu ensaio intitulado “An Essay on the Shaking Palsy” (Meneses

et al, 2003, p.1). É caracterizada pela morte e lesão das células produtoras de

dopamina, no cérebro. Esta substância é responsável pelo controle da

coordenação motora e dos movimentos voluntários no corpo humano. Quando

a redução da dopamina atinge os 80%, então chegam os sinais cardinais:

rigidez muscular que afecta o rosto, braços, pernas e até o pescoço, tremores

involuntários nas mãos e a lentidão dos movimentos, bradicinésia e alterações

da marcha com instabilidade postural. Este distúrbio do movimento tem

progressão lenta e as causas são ainda desconhecidas.

Os doentes e cuidadores podem demonstrar um impacto emocional forte ao

primeiro conhecimento do diagnóstico. No entanto, é habitual haver boa

adaptação por parte dos mesmos, a essa nova realidade das suas vidas

(www.DoencaDeParkinson.com). Num estudo feito por Michaelsen et al (2007)

aos doentes parkinsónicos em programa de reabilitação num centro de

hidroterapia, no intuito de, entre outros objectivos, identificar o papel do

enfermeiro no cuidado aos doentes com DP, concluíram que as orientações de

enfermagem são muito importantes logo após o diagnóstico de doença. Os

enfermeiros têm competência para orientar e encaminhar o doente e o cuidador

para cuidados mais humanísticos e integrais por forma a permitir que estes

encarem a doença com menor agressividade. Segundo a Associação Brasil

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Parkinson: “ o enfermeiro poderá atendê-lo, seja na clínica ou no domicílio, ao

contrário do médico. Em países como o Reino Unido, há um número crescente

de enfermeiros especializados na DP que podem oferecer orientações

especializadas e informações sobre como lidar com os desafios do quotidiano

da DP ” .

A independência funcional do doente pode ser afectada em maior ou menor

grau de acordo com o estadio da doença. Os estadios de incapacidade do

doente são identificados através da aplicação de escalas existentes para o

efeito, no entanto, a mais vulgarmente usada é a escala de Hoehn e Yahr1

(O’Sullivan et al, 1993, p. 554). A manutenção da independência torna-se

indispensável para evitar o agravamento precoce da DP, o isolamento social e

diminuição da auto-estima entre outras consequências. Assim, associado ao

tratamento farmacológico deve estar um programa intensivo de reabilitação e

não só de exercício físico, onde uma equipa multidisciplinar (médico,

fisioterapeuta, terapeuta da fala, terapeuta ocupacional e enfermeiro de

reabilitação) tem responsabilidade e competência para o implementar.

Apesar de todos os seus elementos serem importantes e como refere

Hesbeen (2001, p.80), no processo de reabilitação, a intervenção

multidisciplinar “permite fazer um balanço da situação e a sua avaliação e

traçar as linhas de conduta geral e o tipo de acções requeridas”. Também

defende o mesmo autor, que para se verificar eficácia na intervenção a este

nível, é importante que exista uma ”pessoa de referência para o doente” , isto

é, que seja um profissional da equipa que “constitua uma referência particular

para o doente” e seus cuidadores, e que consiga, pelo sua proximidade

efectiva, executar uma análise global da situação do doente, por forma a

valorizar as suas potencialidades, desejos e expectativas (ibiden, p.81) e

transmiti-las à restante equipa. Mediante estes requisitos, parece que o

enfermeiro é o profissional ideal para desempenhar este papel. É

identicamente definido pelo autor (ibiden, p.82) que o profissional de referência

1 A escala de Hoehn e Yahr classifica a DP em 5 estádios conforme o nível de gravidade: Estadio I: manifestações unilaterais da DP, com os sinais cardinais: tremor, rigidez e bradicinésia.Estadio II: manifestações bilaterais da DP, possíveis anomalias da fala e marcha, postura flectida. Estadio III: agravamento bilateral das manifestações da DP, acrescida de distúrbios de equilíbrio.Estadio IV: agravamento dos estadios anteriores, ficando a pessoa incapaz de viver sozinho.Estadio V: pessoa que necessita do auxilio de cadeira de rodas, ou fica confinado ao leito.

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deve ser experiente. O enfermeiro especialista em reabilitação possui todas

essas competências.

Assim definido o profissional de referência para o portador da DP e o

respectivo programa de reabilitação, deve este último, ser implementado o

mais precocemente possível.

Calne et al (2005, p.235), justifica essa importância dizendo que a ajuda

praticada e os conselhos que dão, podem fazer grande diferença na vida dos

portadores de DP e seus cuidadores. A pessoa com DP gere melhor os

problemas consequentes da doença (postura, bradicinésia respiratória,

equilíbrio e marcha) se se integrarem num programa seguro e apropriado logo

desde o início do diagnóstico.

O estadio avançado da doença traduz-se num agravamento dos sinais cardeais

e aumento dos problemas consequentes, já mencionados, acrescido de

alterações do estado mental (demência e/ou psicose induzidas pelos

fármacos). Esta inevitável progressão da doença, leva a que o doente fique

com o acesso ao programa de reabilitação mais reduzido. Todos estes factores

contribuem para o risco de quedas e de fracturas confinando o doente, muitas

vezes, ao estado de acamado e até mesmo a internamentos hospitalares que

anteriormente não tinham tanta probabilidade de serem necessários.

É importante para o doente, cuidador e equipa de reabilitação saber identificar

as causas das alterações inerentes aos diferentes níveis de mobilidade,

quando o estadio da doença não é muito avançado como o referido

anteriormente. Cada alteração na mobilidade pode causar ansiedade no doente

e no cuidador e inclusivé criar confusão na equipe de saúde, na medida em

que de um momento para o outro, o doente que tinha capacidades para

participar no seu cuidado, deixa de as possuir. O enfermeiro inexperiente

poderá ser crítico sobre a situação e não saber reconhecer que as alterações

são alheias à vontade do doente mas que se devem ao efeito “on-off” que os

fármacos provocam quando está a terminar o seu efeito no doente. Este

retoma o seu estado de mobilidade anterior a partir do momento em que faz

nova toma do fármaco em causa.

Ainda, no estudo de Calne et al (2005, p.235) é mencionado que a equipa de

reabilitação do centro de Parkinson onde trabalham tem enfermeiros com mais

de 20 anos de experiência, o que lhes permite conhecer muito bem este tipo de

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alterações (e não só!), e referem que a reabilitação e as actividades de vida

diárias, não devem ser implementadas quando o doente está com redução da

mobilidade ou com diminuição do efeito do fármaco pois, podem magoá-lo. Os

doentes nestas situações podem, no entanto, responder a sinais verbais,

tactéis ou visuais dados pelo cuidador para permitir que comecem a mobilizar-

se. O enfermeiro de reabilitação poderá ensinar a forma correcta de

deambulação ao doente, tal como ensinar a sair de uma cadeira, tomar banho,

etc e fornecer dispositivos de compensação para facilitar-lhe determinadas

actividades de vida diárias.

Conclusão

A enfermagem de reabilitação tem assim um papel indispensável no alcance de

resultados positivos na funcionalidade e independência abrangendo a

dimensão emocional e social do doente portador de DP e seu cuidador. A

adesão do doente e cuidador a todas as actividades impedirá o agravamento

precoce da doença. A enfermagem de reabilitação encara o doente como um

todo participante no seu processo de reabilitação. Os cuidados de reabilitação

são complexos e multifacetados e, como tal, só podem ser executados através

de um conjunto de competências que se adquire com trabalho em equipe.

Apesar de tudo, não há muita bibliografia que fundamente o papel da

enfermagem de reabilitação neste âmbito .

Bibliografia

- CALNE, Susan M., C. M., R. N.- Late-stage parkinson’s disease for the rehabilitation specialist- a nursing perspective. Topics in Geriatic Rehabilitation [em linha]. Vol.21, nº 3 (2005), p. 233-246. [ consult. 1 Dez. 2007].

- DOENÇA DE PARKINSON - [ em linha], 8 Jul. 2007 [consult. 2 Dez. 2007] disponivel em www.DoencaDeParkinson.com.

- HESBEEN, Walter- Reabilitação: que caminhos. Lisboa: Lusociência , 2001.

- MENESES, S. Murilo, TEIVE, Hélio A. G.- Doença de Parkinson. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

- MICHAELSEN, S. C., RIBEIRO, I. M.- Assistência de enfermagem aos portadores de mal de Parkinson e seus cuidadores. 8 Agosto 2007- Universidade do Sul de Santa Catarina.[em linha]. - Brasil. [ consult. 2 Dez. 2007]. Disponível em www.JUNIC.UNISUL.br/2007/junic.

- O’SULLIVAN, Susan, SCHMITZ, Thomas J.- Fisioterapia: avaliação e tratamento. São Paulo: Manole, 2ª ed., 1993.

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