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Ensaio por Cleber Silva Santos
A região e a globalização
A discussão sobre região na Geografia vem de longo tempo, desde os primeiros
passos de sua sistematização como ciência sob interesses de expansão territoriais de
impérios nos últimos séculos até o momento atual, onde a globalização se faz presente e
esse como um período histórico (Silveira, 2003).
Como afirmou Maria Laura Silveira a globalização se realiza enquanto período
histórico por que a “ciência, a técnica e a informação” comandam “a produção e o uso dos
objetos, ao mesmo tempo que impregnam as ações e determinam as normas”. Assim
sendo, a região se dá pela sua coerência funcional, pela área de ocorrência dos
fenômenos e seus limites não seriam geométricos mas sim “uma manifestação do
tamanho do acontecer”.
No mundo globalizado, um fator regionalizante e globalizante que ressalta como
processo de conformação de regiões é a guerra fiscal, que aparentemente é um dado
local, mas estruturalmente é uma arma da guerra dos lugares que é mundial. Essa guerra
fiscal, beneficia unicamente as empresas, dando benefícios as mesmas para se
instalarem em determinados lugares ou porções do território. Mas não cessam os
incentívos no âmbito fiscal, densidades técnicas e normativas acompanham essas ações
para que possibilite a maior flexibilização dos lucros, viabilizando o território para as
empresas, transformando o papel do Estado em sendo o principal ator da invenção da
viabilidade do território.
A região nessa lógica global responde a uma função de mercado, a flexibilização
das relações de produção e da fluidez generalizada, seja material ou imaterial. Eis que
surge a discussão sobre a alienação do território, uma vez que a região corresponde a
uma ordem da globalização e sua função independe de vontade própria, pois na maioria
das vezes seu alinhamento produtivo é externo ao próprio país ou a região é também
transfronteiriça, o que se pode fazer é descaracterizar a região de seu viez contraditório,
já que mesmo sendo “receptáculo de eventos” também o é produtora “a partir do que já
existe, da história concreta”.
A economia, como já se sabe em vários estudos, passou a guiar políticas territoriais
e aprofundou as relações entre os seres humanos, na busca incessante de mais lucro e
controle social as empresas ditaram regras que culminaram na desestabilização dos
povos fazendo com que o dado migratório acentuasse no último século e os povos a partir
das técnicas passassem a uma possibilidade de comunicação e interação como jamais
houve na história da humanidade, tecnicas que são da capacidade humana e não das
empresas, o que é erroneamente creditado a elas e monopolizado por elas.
As fronteiras regionais são flexíveis, não possuem uma linha limítrofe clara, mas
apenas representam o alcance de determinados fenômenos, sejam eles econômicos,
culturais, políticos, etc.
“O uso do território, por parte dos homens e das empresas, nunca eliminou as fronteiras, mas as reorganizou. Esse é um condicionamento que a fronteira, como elemento político do espaço geográfico e delimitador dos territórios impõe a sociedade: não ignora-la, mesmo que seja para modificala.” (Cataia, 2003)
O que isso nos traz as claras? O papel do Estado e das empresas no ordenamento
do território se faz muito presente, seja funcionalizando uma região segundo a lógica de
mercado “aumentando o grau e natureza da exclusão” (Silveira, 2003) ou planejando a
totalidade do território, para todos. Dessa forma, a economia política do território é cada
vez mais real à realidade regional, uma vez que se materializa no espaço.
O capital se aprofunda no território, onde antes haviam relações tradicionais com a
produção passa a ser automatizada e assalariada, onde antes o trabalho vivo era
valorizado passa o trabalho morto, acabado, de valor superior, a racionalidade produtiva
torna-se irracional, ou seja, a produção não é mais para atender as necessidades locais,
nacionais ou “globais” – se o discurso fosse real – mas não passa de uma lógica que visa
o lucro, nada além disso, por isso irracional, afinal, regiões funcionais com produção com
grau de automação elevado também se deparam com autos índices de desemprego,
principalmente na America Latina. A irracionalidade está aí. Afinal, se há desemprego, por
que automatizar a produção?
A política do Estado e das empresas entram em conflito no que cerne a
organização territorial no últimos anos. As empresas possuem visão funcional do território,
pacial, assim sendo possível apenas uma política com “p” minúsculo e o Estado, por
excelência, necessitam praticar uma Política com “P” maiúsculo, que abranja a totalidade
do território nacional.
“O fato de ser o único intermediário entre o modo de produção em escala internacional e a sociedade nacional, renova o papel do Estado no período
atual. Cabe-lhe decidir a abertura para a entrada das inovações, dos capitais e dos homens e assim ele se torna responsável pelas consequências de sua cumplicidade ou de sua resistência em relação aos interesses do sistema capitalista mundial.” (Santos, 2004)
Porém, na segunda metade do século XX em diante, uma onda de políticas
neoliberais inundou o continente latino americano, onde os Estados nacionais abdicaram
do controle territorial e funcionalizaram porções dos seus territórios segundo lógicas
internacionais de produção colocando porções territoriais no circuito espacial produtivo.
Cedendo incentivos e benéficies a determinados setores da economia elegendo em
conjunto com o setor privado onde as vantagens setoriais seriam promovidas.
“A ação do Estado pode referir-se à satisfação de necessidades de tipo regional, mas cuja resposta é dada em um ponto preciso desse espaço regional...” (Santos, 2004)
Vejamos o caso da Amazônia Legal e sua fronteira agrícola por parte do território
brasileiro, onde o setor agropecuário avançou por duas décadas. Mas com a emergência
de partidos de esquerda na América Latina, políticas de biocombustíveis alteraram a
configuração regional de vários países, inclusive o Brasil, que a partir de bancos públicos,
empresas estatais e política de Estado, converteu regiões inteiras em funcionais à
produção de biocombustíveis, como a região da cana-de-açucar na produção de Etanol.
Já no caso amazônico, o dado regional se dá pelo fenômenos do agrocombustível a base
de Dendê, uma oleogenosa originária de uma outra região do litoral sul da Bahia.
Essa cultura do Dendê para a produção do bioDiesel avança rapidamente pelo
nordeste do Pará, com fortes incentivos fiscais por parte da administração local e com
grandes investimentos por parte do Estado nacional via bancos e empresas estatais
(BNDS, Banco do Brasil, Petrobrás, etc.) no Programa Nacional de Produção e Uso de
Biodiesel (PNPB).
A políticas visam pontos estratégicos de parcela do território, vias de acesso são
construídas para dar fluxo a essa produção, centros de pesquisas se voltam ao
melhoramento do produto, parcerias com pequenos agricultores locais são realizadas,
etc., uma verdadeira densidade técnica e normativa migrou para que se torna-se viável
uma nova região de produção do Dendê para bioDiesel.
Pode ver a dimensão desse fenômeno regional quando analisamos os principais
pontos de incentivo econômico e técnico por parte do Estado e das empresas envolvidas
no reordenamento econômico da região nordeste do Pará, onde se nota a mancha que
abarca a região e seu limite fenomenológico, claro que para atender lógicas externas a
esse lugar, um território alienado.
Agora fica mais claro como se dá um fenômeno regional, a conformação dessa
região e a importância da economia política a fim de satisfazer necessidades globais a
partir da configuração e ordenamento regional.
ConclusãoO mais interessante é ver que a região não se dá como algo rígido, delimitado
geométricamente, mas sim como fenômeno regional, onde o seu alcance vai até a
fronteira de sua densidade técnica e normativa. Já a “invensão” de sua viabilidade é
condicionada a uma economia política, alienando-o segundo uma lógica externa, que na
maioria das vezes é global. Mas as possibilidades também são regionais, pois a própria
história concreta se dá regionalmente e assim possibilitando uma saída a essa
irracionalidade sistemica capitalista do mundo globalizado atual.
Bibliografia
CATAIA, MARCIO. A Região e a Invenção da Viabilidade do Território. Org. Maria Adelia de Souza / Território Brasileiro: Usos e Abusos, cap. 23. Campinas: Edições Territorial, p. 397-407, 2003.
REPORTER BRASIL. Expansão do Dendê na Amazônia Brasileira: elementos para uma análise dos impáctos sobre a agricultura familiar no nordeste do Pará. 2013. Disponível em http://reporterbrasil.org.br/documentos/Dende2013.pdf. Acessado na data 23/01/2014.
SANTOS, MILTON. Por Um Geografia Nova: da Crítica a Geogrfia a Geografia Crítica/ Estado e Espaço: o Estado-Nação como Unidade Geográfica de Estudo. São Paulo: Edusp, 6. ed., p. 221-234, 2004.
_______________ Economia Espacial: Críticas e Alternativas. São Paulo: Edusp, 2. ed., 2003.
SANTOS, MILTON; SILVEIRA, M. L. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI / Cap. XIV: Uma ordem espacial: a economia política do território. Rio de Janeiro: Record, 5. ed., 2003.
SILVEIRA, M. L. A Região e a Invenção da Viabilidade do Território. Org. MariaAdelia de Souza / Território Brasileiro: Usos e Abusos, cap. 24. Campinas: Edições Territorial, p. 408-416, 2003.