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Ensaio sobre Economia Local Por volta do início do século XX, a economia de pompéu, como a de outros pequenos municípios da época, era predominantemente agropecuária. A cidade nasceu em uma parada de tropas, em uma estrada que ligava pitangui até o rio de janeiro, antiga capital da colônia e posteriormente centro político do novo império. Os produtores rurais da época não tinham visão de investimento em propriedades, no máximo desbravavam terrenos nativos para formar áreas de plantio. Essas áreas eram, em sua maioria, localizadas nas "baixadas", como assim são chamadas as planícies que margeiam mananciais. Esses mananciais transbordam de seu leito por ocasião de fortes chuvas e trazem consigo grande quantidade de minerais e matéria orgânica, que são depositados nessas baixadas sucessivamente ao passar dos anos, contribuindo para um aumento natural na fertilidade desses solos, bem como para o aumento de sua umidade natural. Como na época não existiam os fertilizantes artificais, os produtores se viam forçados a fazerem seus plantios exclusivamente nessas baixadas, sob pena de não conseguirem produtividade alguma fora dessas áreas. Daí surgiu a denominação "terra de cultura". Nessa época os plantios eram feitos apenas no "período das águas", já que o país não dispunha de técnicas de irrigação que são comuns nos dias de hoje. As lavouras eram predominantemente feijão, arroz e milho, em que os dois primeiros para alimentação humana e o último para alimentação animal. A dinâmica produtiva era basicamente a seguinte: os três alimentos citados acima eram a base da produção rural, que alimentavam tanto a mão de obra rural quanto os animais, sendo o excedente vendido. A pecuária era composta por bovinos de corte e leite, suínos e galinhas. Como não existiam meios de refrigeração, do leite se fazia queijo manteiga, que tem uma perecibilidade menor que o leite "in natura". Esses derivados eram comercializados nos centros

Ensaio Sobre Desenvolvimento Local

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Ensaio realizado para estimular o debate sobre o entrave ao desenvolvimento local gerado pelas normas de vigilância sanitária brasileiras, baseada no modelo americano.

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Ensaio sobre Economia LocalPor volta do incio do sculo XX, a economia de pompu, como a de outros pequenos municpios da poca, era predominantemente agropecuria. A cidade nasceu em uma parada de tropas, em uma estrada que ligava pitangui at o rio de janeiro, antiga capital da colnia e posteriormente centro poltico do novo imprio.Os produtores rurais da poca no tinham viso de investimento em propriedades, no mximo desbravavam terrenos nativos para formar reas de plantio. Essas reas eram, em sua maioria, localizadas nas "baixadas", como assim so chamadas as plancies que margeiam mananciais. Esses mananciais transbordam de seu leito por ocasio de fortes chuvas e trazem consigo grande quantidade de minerais e matria orgnica, que so depositados nessas baixadas sucessivamente ao passar dos anos, contribuindo para um aumento natural na fertilidade desses solos, bem como para o aumento de sua umidade natural. Como na poca no existiam os fertilizantes artificais, os produtores se viam forados a fazerem seus plantios exclusivamente nessas baixadas, sob pena de no conseguirem produtividade alguma fora dessas reas. Da surgiu a denominao "terra de cultura".Nessa poca os plantios eram feitos apenas no "perodo das guas", j que o pas no dispunha de tcnicas de irrigao que so comuns nos dias de hoje. As lavouras eram predominantemente feijo, arroz e milho, em que os dois primeiros para alimentao humana e o ltimo para alimentao animal.A dinmica produtiva era basicamente a seguinte: os trs alimentos citados acima eram a base da produo rural, que alimentavam tanto a mo de obra rural quanto os animais, sendo o excedente vendido. A pecuria era composta por bovinos de corte e leite, sunos e galinhas. Como no existiam meios de refrigerao, do leite se fazia queijo manteiga, que tem uma perecibilidade menor que o leite "in natura". Esses derivados eram comercializados nos centros urbanos circunvizinhos em perodos semanais e quinzenais. Na ocasio da ida aos lugarejos para venda de produtos, retornava-se com os demais mantimentos que eram necessrios, que na poca era basicamente sal e querosene, para tempero e iluminao. Peas de vesturio eram duradouras naquela poca e cada pessoa no possua mais que dois ou trs ternos.Da nasceu a resistncia de alguns produtores, mais velhos, de promoverem investimentos em sua propriedade, pois na cultura em que foram criados esse tipo de coisa no existia.O surgimentos das primeiras cooperativas veio a superar um "problema" que era o dificultoso trabalho de transformao de leite em dervidos. A partir da, os caminhes buscavam o leite diariamente nas fazendas e transportava at a cooperativa, que refrigerava o leite para que no estragasse antes de chegar aos plos industriais. Essa dinmica foi a contra mo do desenvolvimento da atividade agropecuria, pois antes a agregao de valor era feitas nas prprias fazendas e os produtos eram comercializados localmente, em um mercado justo e saudvel. Com o advento das indstrias de laticnios, os produtos "in natura" eram transportados por grandes distncias at os grandes centros, onde sofriam processos industriais e retornavam para o seu local de origem em forma de produtos enlatados. A agregao de valor se dava nas maiores cidades, prejudicando o desenvolvimento dos lugarejos. H de se levar em conta o grande desprendimento de energia que se d durante o transporte, que resultou em um crculo vicioso de transporte rodovirio de produtos para as capitais e interior, em uma dinmica completamente insustentvel, onerosa e socialmente injusta.Aliado a esse processo predatrio, vieram as polticas governamentais de controle da sanidade dos produtos, que baseadas no sistema americano, baixaram normas de proteo sanitria que no leva em conta simplesmente a inocuidade (higiene) do produto mas sim o aspecto construtivo do local onde ocorria o processo de industrializao dos produtos de origem animal. Diferente da europa, onde os queijos e embutidos mais caros do mundo so produzidos em cavernas de pedra e expostos a fungos e bactrias que promovem uma melhoria no aroma e paladar dos produtos, o modelo americano prega que os ambientes de manuseio de alimentos devem ser construdos com paredes vedadas por azulejos especficos, as mesas devem ser de ao inox e as plantas industriais devem ser construdas em locais com isolamento de outras atividades. Parece que as pessoas que editaram essas normas se esqueceram de que desde os primrdios a relao entre os homens e os microorganismos estabeleceu processos de ajuda mtua, at proque h mais bactrias em um estmago humano do que seres vivos na crosta terrestre.Para retomar o desenvolvimento endgeno preciso rever alguns conceitos e estabelecer normas que privilegiem os pequenos negcios rurais, na forma de assistncia tcnica que facilite a produo em pequena escala. Hoje os rgos fiscalizadores so embudos de uma postura punitiva ao invs de adotar procedimentos de apoio aos produtores nos processos de indutrializao de seus produtos, prestando assistncia aos mesmos e promovendo uma fiscalizao educativa ao invs de punitiva, mudando a ordem de um mercado onde s os grandes sobrevivem.Da mesma forma, os cidados devem incluir em seus hbitos alimentares o consumo de produtos locais. As padarias esto caindo em desuso, pois os consumidores compram biscoitos indutrializados por grandes grupos, em fbricas localizadas nas capitais, em detrimento do pozinho da padaria, produzido com mo de obra local. Indo mais fundo, dando preferncia ao consumo dos derivados do polvilho, oriundo da mandioca, como o po de queijo, biscoito frito, etc, fortalece a produo da mandioca, produto puramente nacional, ao passo que os biscoitos industrializados so produzidos com a farinha de trigo, que em sua maior parte importada de pases como argentina e uruguai. Sobre a farinha de trigo aidna pesa o glten, protena sem funo que se acumula no organismo e que causa intolerncia em muitas pessoas.Para reverter esse processo predatrio que culminou com a existncia de grandes cidades insustentveis necessrio uma mudana geral de postura, onde o poder pblico deve reconhecer seu papel como promotor de normas que provilegiem os pequenos negcios. Tambm necessria uma grande conscientizao do cidado sobre a origem dos produtos consumidos e a vantagem em se consumir produtores de origem local.Fernando Alan 06/02/14