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Ensino de Astronomia: a parceria entre a Divisão de Astrofísica/INPE & Decolar K. M. G. Silva 1 , T. S. N. Pinto 1 , A. M. Zodi 1 , D. F. A. Bessada 1 , A. Bernui 2 , I. S. Ferreira 3 , J. C. T. Galvez 1 , K. M. Godoi 4 , E. Martioli 1 , O. D. Miranda 1 , M. Okada 5 , W. D. Paiva 4 , E. S. Pereira 1 , P. F. Polido 1 , B. H. G. Rodrigues 1 , C. V. Rodrigues 1 , M. O. C. Salinas 3 , S. O. Santos 4 , T. Monfredini 1 , C. G. Targon 1 , J. W. S. Vilas-Boas 1 1 Divisão de Astrofísica - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (DAS/INPE), 2 Instituto de Ciências Exatas - Universidade Federal de Itajubá (ICE/UNIFEI), 3 Instituto de Física - Universidade de Brasília (IF/UnB), 4 Programa Decolar - Secretaria da Educação de São José dos Campos, 5 Miniobservatório Astronômico - INPE {karleyne, tereza.satiko, anazodi}@das.inpe.br Resumo Neste trabalho apresentamos as atividades realizadas na parceria entre o Programa Decolar e a Divisão de Astrofí- sica/INPE no desenvolvimento de atividades de astronomia para alunos do ensino fundamental de escolas públicas de São José dos Campos - SP. São descritas as atividades de- senvolvidas e exemplos de resultados alcançados. A cons- tante demanda da atividade por parte dos alunos garante a continuidade deste programa pelo terceiro ano consecu- tivo, proporcionando a interação direta entre alunos da rede pública e estudantes e pesquisadores em astronomia. 1. Introdução O Programa Decolar [1], implementado pela Prefeitura de São José dos Campos, proporciona aos alunos da Rede de Ensino Municipal o desenvolvimento da capacidade e do talento por meio de atividades realizadas fora do ho- rário regular das aulas. As atividades acontecem com a participação de voluntários reconhecidos na comunidade e também de instituições parceiras (universidades, institutos, comércio, indústrias, escolas, entre outras). A Divisão de Astrofísica/INPE, desde 2008, é uma das instituições cola- boradoras no grupo de interesse em astronomia, atuando através da participação de professores voluntários: os pes- quisadores e estudantes da pós-graduação em astrofísica. De acordo com Langhi & Nardi (2009) [2], este é um tipo de atividade de popularização da ciência que é realizada fora do ambiente escolar e que se preocupa com as necessida- des e expectativas do seu público alvo. Desta forma, estru- turamos nossas atividades para que as crianças e adoles- centes aprendam de maneira lúdica e com recursos multi- mídia conceitos básicos de física como, por exemplo, leis de conservação, passando por aspectos físicos do sistema solar, das estrelas e da Galáxia, até a introdução de concei- tos cosmológicos. Essas atividades são complementadas com sessões de observação do céu no Miniobservatório Astronômico do INPE. 2. Metodologia Os assuntos abordados nos três anos estão detalha- dos na Tabela 1. Cada professor desenvolveu sua aula e materiais de apoio pensando em atingir seu pú- blico, estudantes do ensino fundamental II (do 6 ao 9 ano), com a utilização de recursos como material mul- timídia, simuladores de experimentos físicos e materi- ais diversos, sempre visando estimular a experimentação para a assimilação do conceito (astro)físico. As ativida- des de observação tiveram o suporte de material e da equipe do Miniobservatório Astronômico do INPE [3]. Tabela 1: Assuntos abordados. Tema Assuntos abordados Sistema solar O sistema solar, meteoros, esfericidade da Terra Sistema solar em escala de tamanho Lua e Terra Crateras de impacto, fases da Lua, translação da Terra e as estações do Ano Sol Estrutura e atividade solar Estrelas Formação e morte, estrelas binárias Galáxias Via Láctea e outras galáxias Cosmologia Início e expansão do Universo Física básica O espectro eletromagnético, sistemas de coordena- das, sistemas de medidas Leis Fundamentais da física: conservação de energia e momentum (incluindo rotação), gravidade, órbitas, emissão de ondas de rádio e suas aplicações Atividades Observação do Sol, medição de crateras observacionais lunares, observação do céu noturno. Construção de um rádio para ouvir o som do Sol e de Júpiter Outros A ciência e a ficção científica Sondas espaciais e montagem de modelos de algumas sondas Os materiais utilizados em algumas das aulas podem ser encontrados no link abaixo: http://decolar-astronomia.blogspot.com/ 3. Resultados Dentre as várias aulas oferecidas durante o curso, selecio- namos dois exemplos que serão detalhados a seguir. 3.1 Aula sobre o Sol Os assuntos da aula sobre o Sol foram: fenômenos rela- cionados à rotação da Terra, como o dia e a noite e os fu- sos horários, a atividade solar e sua emissão em diferentes comprimentos de onda. Antes de iniciar a aula foi pedido aos estudantes que fizessem um desenho do sistema Sol - Terra, como uma forma de conhecer as pré concepções deles sobre estes objetos e sua interação. Todos os de- senhos puderam ser agrupados em categorias, que estão exemplificadas na Figura 1 a seguir. Figura 1: Desenhos da categoria (a) têm o Sol e a Terra em escala, na categoria (b) eles também aparecem em escala, mas o Sol aparece apenas parcialmente. Na categoria (c) não há a preocupação com escala e em (d) aparecem ór- bitas e até outros planetas do Sistema Solar. Na categoria (e) os desenhos são únicos e os mais variados possíveis. Aqui vale mencionar que na semana anterior à realização da aula a mídia (televisão) veiculou o first light de um novo instrumento dedicado à observação do Sol, o Solar Dyna- mics Observatory que havia captado uma erupção de fila- mento [4]. Essa imagem apareceu em alguns dos dese- nhos; em dois desenhos o Sol e a Terra tinham ’carinhas’, em outro o aluno ao invés de desenhar o Sol desenhou sua representação do ciclo triplo-α, e um terceiro aluno prefe- riu escrever um texto. A rotação da Terra foi apresentada com o uso de um globo terrestre e uma fonte de luz. Os estudantes perceberam uma faixa sobre o globo onde não havia iluminação total nem escuridão total, e questionaram o que acontecia ali. Eles conseguiram associar essa região à transição entre a tarde e a noite e concluíram que o anoi- tecer não ocorre instantaneamente. A seguir eles pintaram uma ilustração do Sistema Sol - Terra visto a partir de cima, considerando agora a iluminação do globo como tinham visto na demonstração. A maioria pintou corretamente a parte iluminada com azul e verde e a parte da noite com lápis preto ou marrom. Alguns resultados diferentes foram: a parte de noite é muito pequena ou o limite entre o dia e a noite acompanhou o contorno dos continentes. Muitas ou- tras perguntas interessantes surgiram durante a aula, por exemplo: na face do Sol que não está voltada para a Terra é noite também? As manchas solares são ’buracos’ no Sol? Como o Sol faz para brilhar, ele é uma bola de fogo? Como o Sol consegue ficar parado no centro do Sistema Solar? Existe água ou vida no Sol/nas estrelas? Concluímos que a demonstração de fenômenos relacionados ao Sol tanto por imagens quanto por objetos fortaleceu os conhecimen- tos de alguns dos estudantes sobre esse tema, e ajudou a modificar pré concepções de outros, que passaram a com- preender, por exemplo, que o Sol é uma estrela e, de certa forma, a mais importante para a vida na Terra. 3.2 Aula sobre o espectro eletromagnético A aula sobre o espectro eletromagnético foi dividida em uma parte expositiva e outra experimental. A parte expo- sitiva foi preparada no sentido de associar o tema a con- ceitos concretos, usando muitas atividades e figuras. Os alunos demonstraram que tinham pouco conhecimento so- bre o tema da aula. Na parte experimental foi realizada uma demonstração com barbantes e água para que os es- tudantes visualizassem o que é uma onda, explicando-se em seguida que a luz também é uma onda, e que toda onda possui certas propriedades. Na atividade “Qual a frequência?” [5] os estudantes foram divididos em grupos que deveriam montar um modelo simplificado do espectro da luz visível, determinando a relação entre comprimento de onda e frequência (c = ν × λ). Foi ressaltado que a pro- posta desta atividade era principalmente instigar o espírito investigativo que move o trabalho de um cientista, e que o erro faz parte da experimentação. Somente um grupo não conseguiu concluir o resultado desta atividade pois erraram durante a coleta de dados. Uma parte dessa atividade está descrita e ilustrada na figura 2. Foram exibidas figuras de aparelhos de micro-ondas, antenas, câmera infravermelha, máquina de bronzeamento artificial, etc. e quando questi- onados sobre a relação desses objetos com a luz, os es- tudantes foram capazes de responder que eles produziam outros tipos de luz. A aula foi finalizada com imagens do Sol e da Galáxia em diferentes comprimentos de onda. Figura 2: Experimento realizado com bobina de calcula- dora (1,5 m de comprimento) entre dois lápis. Mede-se um metro e marcam-se 2 traços transversais para o iní- cio e a chegada, além de três linhas paralelas nas cores vermelho, verde e violeta divididas a cada 14, 10, e 8 cm, respectivamente (cada cor representa uma onda da luz vi- sível, e cada traço representa um comprimento de onda da sua respectiva cor). A experiência consiste em girar o lápis do lado esquerdo, cronometrando o tempo necessário para rolar toda a fita do início à chegada. Um estudante crono- metra o tempo e outros três contam quantos comprimentos de onda de cada cor passam pela janela durante aquele tempo, enquanto um quinto estudante toma nota dos resul- tados. 4. Conclusão Devido à ótima recepção das atividades por parte dos estu- dantes, a parceria entre o programa Decolar e a Divisão de Astrofísica do INPE é renovada anualmente desde 2008. No segundo semestre deste ano os alunos retornarão ao instituto para uma nova série de aulas. A participação dos estudantes nas áreas temáticas, entre elas a astronomia, é voluntária, e muitos retornam para essa atividade em se- mestres consecutivos. Consideramos que isso reflete o bom desempenho dos professores (pesquisadores e estu- dantes de pós-graduação). Os relatos desses professores após as aulas mostraram que a experiência proporcionou vivências de docência muitas vezes inéditas devido à faixa etária dos estudantes. O interesse natural desses alunos pela área temática é um fator incentivador para os profes- sores, pois eles têm um interesse mais acentuado nos con- teúdos propostos. Isso se reflete nas avaliações positivas dos professores em relação ao desempenho dos estudan- tes, ressaltando que “são interessados e espertos, pois fa- zem muitas perguntas fundamentais”. Um fator incentiva- dor extra pode ser visto na Figura 3. Figura 3: Recordação da visita de uma turma ao Miniob- servatório. 5. Agradecimentos Agradecemos ao Miniobservatório pela disponibilização dos telescópios e do espaço para atividades de observa- ção e também ao suporte das estagiárias Camila Cassia de Souza e Thais Maldonado Rabelo. Ao SGC/INPE pelo espaço disponibilizado e pelas atividades de abertura do curso. À Sônia M. de Oliveira Moraes, pelo apoio durante todas as atividades. Referências [1] http://www.sjc.sp.gov.br/sme/decolar/index.asp, último acesso em 26 de Agosto de 2010. [2] LANGHI, Rodolfo; NARDI, Roberto. Ensino da astronomia no Brasil: educação formal, informal, não formal e divulga- ção científica. Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo, v. 31, n. 4, Dec. 2009 . [3] http://www.das.inpe.br/Miniobservatorio/, último acesso em 26 de Agosto de 2010. [4] http://sdo.gsfc.nasa.gov/assets/img/firstlight/movies/prominence20100330_sm.mov, último acesso em 25 de Agosto de 2010. [5] http://imagine.gsfc.nasa.gov/docs/teachers/lessons/roygbiv/roygbiv.html, último acesso em 30 de Agosto de 2010. XXXV Reunião Anual da SAB, 07-12 Setembro 2010, Passa Quatro/MG, Brasil

Ensino de Astronomia: a parceria entre a ... - DAS/INPE · nhos; em dois desenhos o Sol e a Terra tinham ’carinhas’, ... Isso se reflete nas avaliações positivas dos professores

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Ensino de Astronomia: a parceria entre a Divisão de

Astrofísica/INPE & DecolarK. M. G. Silva1, T. S. N. Pinto1, A. M. Zodi1, D. F. A. Bessada1, A. Bernui2, I. S. Ferreira3, J. C. T.Galvez1, K. M. Godoi4, E. Martioli1, O. D. Miranda1, M. Okada5, W. D. Paiva4, E. S. Pereira1, P. F.Polido1, B. H. G. Rodrigues1, C. V. Rodrigues1, M. O. C. Salinas3, S. O. Santos4, T. Monfredini1,

C. G. Targon1, J. W. S. Vilas-Boas1

1Divisão de Astrofísica - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (DAS/INPE), 2Instituto deCiências Exatas - Universidade Federal de Itajubá (ICE/UNIFEI), 3Instituto de Física - Universidade

de Brasília (IF/UnB), 4Programa Decolar - Secretaria da Educação de São José dos Campos,5Miniobservatório Astronômico - INPE

{karleyne, tereza.satiko, anazodi}@das.inpe.br

Resumo

Neste trabalho apresentamos as atividades realizadas naparceria entre o Programa Decolar e a Divisão de Astrofí-sica/INPE no desenvolvimento de atividades de astronomiapara alunos do ensino fundamental de escolas públicas deSão José dos Campos - SP. São descritas as atividades de-senvolvidas e exemplos de resultados alcançados. A cons-tante demanda da atividade por parte dos alunos garantea continuidade deste programa pelo terceiro ano consecu-tivo, proporcionando a interação direta entre alunos da redepública e estudantes e pesquisadores em astronomia.

1. Introdução

O Programa Decolar [1], implementado pela Prefeitura deSão José dos Campos, proporciona aos alunos da Redede Ensino Municipal o desenvolvimento da capacidade edo talento por meio de atividades realizadas fora do ho-rário regular das aulas. As atividades acontecem com aparticipação de voluntários reconhecidos na comunidade etambém de instituições parceiras (universidades, institutos,comércio, indústrias, escolas, entre outras). A Divisão deAstrofísica/INPE, desde 2008, é uma das instituições cola-boradoras no grupo de interesse em astronomia, atuandoatravés da participação de professores voluntários: os pes-quisadores e estudantes da pós-graduação em astrofísica.De acordo com Langhi & Nardi (2009) [2], este é um tipo deatividade de popularização da ciência que é realizada forado ambiente escolar e que se preocupa com as necessida-des e expectativas do seu público alvo. Desta forma, estru-turamos nossas atividades para que as crianças e adoles-centes aprendam de maneira lúdica e com recursos multi-mídia conceitos básicos de física como, por exemplo, leisde conservação, passando por aspectos físicos do sistemasolar, das estrelas e da Galáxia, até a introdução de concei-tos cosmológicos. Essas atividades são complementadascom sessões de observação do céu no MiniobservatórioAstronômico do INPE.

2. Metodologia

Os assuntos abordados nos três anos estão detalha-dos na Tabela 1. Cada professor desenvolveu suaaula e materiais de apoio pensando em atingir seu pú-blico, estudantes do ensino fundamental II (do 6◦ ao 9◦

ano), com a utilização de recursos como material mul-timídia, simuladores de experimentos físicos e materi-ais diversos, sempre visando estimular a experimentaçãopara a assimilação do conceito (astro)físico. As ativida-des de observação tiveram o suporte de material e daequipe do Miniobservatório Astronômico do INPE [3].

Tabela 1: Assuntos abordados.

Tema Assuntos abordados

Sistema solar O sistema solar, meteoros, esfericidade da TerraSistema solar em escala de tamanho

Lua e Terra Crateras de impacto, fases da Lua, translaçãoda Terra e as estações do Ano

Sol Estrutura e atividade solarEstrelas Formação e morte, estrelas bináriasGaláxias Via Láctea e outras galáxiasCosmologia Início e expansão do Universo

Física básica

O espectro eletromagnético, sistemas de coordena-das, sistemas de medidasLeis Fundamentais da física: conservação de energiae momentum (incluindo rotação), gravidade, órbitas,emissão de ondas de rádio e suas aplicações

AtividadesObservação do Sol, medição de crateras

observacionaislunares, observação do céu noturno.Construção de um rádio para ouvir o som do Sole de Júpiter

OutrosA ciência e a ficção científicaSondas espaciais e montagem de modelos dealgumas sondas

Os materiais utilizados em algumas das aulas podem serencontrados no link abaixo:

http://decolar-astronomia.blogspot.com/

3. Resultados

Dentre as várias aulas oferecidas durante o curso, selecio-namos dois exemplos que serão detalhados a seguir.

3.1 Aula sobre o SolOs assuntos da aula sobre o Sol foram: fenômenos rela-cionados à rotação da Terra, como o dia e a noite e os fu-sos horários, a atividade solar e sua emissão em diferentescomprimentos de onda. Antes de iniciar a aula foi pedidoaos estudantes que fizessem um desenho do sistema Sol- Terra, como uma forma de conhecer as pré concepçõesdeles sobre estes objetos e sua interação. Todos os de-senhos puderam ser agrupados em categorias, que estãoexemplificadas na Figura 1 a seguir.

Figura 1: Desenhos da categoria (a) têm o Sol e a Terra emescala, na categoria (b) eles também aparecem em escala,mas o Sol aparece apenas parcialmente. Na categoria (c)não há a preocupação com escala e em (d) aparecem ór-bitas e até outros planetas do Sistema Solar. Na categoria(e) os desenhos são únicos e os mais variados possíveis.

Aqui vale mencionar que na semana anterior à realizaçãoda aula a mídia (televisão) veiculou o first light de um novoinstrumento dedicado à observação do Sol, o Solar Dyna-mics Observatory que havia captado uma erupção de fila-mento [4]. Essa imagem apareceu em alguns dos dese-nhos; em dois desenhos o Sol e a Terra tinham ’carinhas’,em outro o aluno ao invés de desenhar o Sol desenhou suarepresentação do ciclo triplo-α, e um terceiro aluno prefe-riu escrever um texto. A rotação da Terra foi apresentadacom o uso de um globo terrestre e uma fonte de luz. Osestudantes perceberam uma faixa sobre o globo onde nãohavia iluminação total nem escuridão total, e questionaramo que acontecia ali. Eles conseguiram associar essa regiãoà transição entre a tarde e a noite e concluíram que o anoi-tecer não ocorre instantaneamente. A seguir eles pintaramuma ilustração do Sistema Sol - Terra visto a partir de cima,considerando agora a iluminação do globo como tinhamvisto na demonstração. A maioria pintou corretamente aparte iluminada com azul e verde e a parte da noite comlápis preto ou marrom. Alguns resultados diferentes foram:a parte de noite é muito pequena ou o limite entre o dia e anoite acompanhou o contorno dos continentes. Muitas ou-tras perguntas interessantes surgiram durante a aula, porexemplo: na face do Sol que não está voltada para a Terra énoite também? As manchas solares são ’buracos’ no Sol?Como o Sol faz para brilhar, ele é uma bola de fogo? Comoo Sol consegue ficar parado no centro do Sistema Solar?Existe água ou vida no Sol/nas estrelas? Concluímos quea demonstração de fenômenos relacionados ao Sol tantopor imagens quanto por objetos fortaleceu os conhecimen-tos de alguns dos estudantes sobre esse tema, e ajudou amodificar pré concepções de outros, que passaram a com-preender, por exemplo, que o Sol é uma estrela e, de certaforma, a mais importante para a vida na Terra.

3.2 Aula sobre o espectro eletromagnéticoA aula sobre o espectro eletromagnético foi dividida emuma parte expositiva e outra experimental. A parte expo-sitiva foi preparada no sentido de associar o tema a con-ceitos concretos, usando muitas atividades e figuras. Osalunos demonstraram que tinham pouco conhecimento so-bre o tema da aula. Na parte experimental foi realizadauma demonstração com barbantes e água para que os es-tudantes visualizassem o que é uma onda, explicando-seem seguida que a luz também é uma onda, e que todaonda possui certas propriedades. Na atividade “Qual afrequência?” [5] os estudantes foram divididos em gruposque deveriam montar um modelo simplificado do espectroda luz visível, determinando a relação entre comprimentode onda e frequência (c = ν × λ). Foi ressaltado que a pro-posta desta atividade era principalmente instigar o espíritoinvestigativo que move o trabalho de um cientista, e que oerro faz parte da experimentação. Somente um grupo nãoconseguiu concluir o resultado desta atividade pois erraramdurante a coleta de dados. Uma parte dessa atividade estádescrita e ilustrada na figura 2. Foram exibidas figuras deaparelhos de micro-ondas, antenas, câmera infravermelha,máquina de bronzeamento artificial, etc. e quando questi-onados sobre a relação desses objetos com a luz, os es-tudantes foram capazes de responder que eles produziam

outros tipos de luz. A aula foi finalizada com imagens doSol e da Galáxia em diferentes comprimentos de onda.

Figura 2: Experimento realizado com bobina de calcula-dora (1,5 m de comprimento) entre dois lápis. Mede-seum metro e marcam-se 2 traços transversais para o iní-cio e a chegada, além de três linhas paralelas nas coresvermelho, verde e violeta divididas a cada 14, 10, e 8 cm,respectivamente (cada cor representa uma onda da luz vi-sível, e cada traço representa um comprimento de onda dasua respectiva cor). A experiência consiste em girar o lápisdo lado esquerdo, cronometrando o tempo necessário pararolar toda a fita do início à chegada. Um estudante crono-metra o tempo e outros três contam quantos comprimentosde onda de cada cor passam pela janela durante aqueletempo, enquanto um quinto estudante toma nota dos resul-tados.

4. Conclusão

Devido à ótima recepção das atividades por parte dos estu-dantes, a parceria entre o programa Decolar e a Divisão deAstrofísica do INPE é renovada anualmente desde 2008.No segundo semestre deste ano os alunos retornarão aoinstituto para uma nova série de aulas. A participação dosestudantes nas áreas temáticas, entre elas a astronomia, évoluntária, e muitos retornam para essa atividade em se-mestres consecutivos. Consideramos que isso reflete obom desempenho dos professores (pesquisadores e estu-dantes de pós-graduação). Os relatos desses professoresapós as aulas mostraram que a experiência proporcionouvivências de docência muitas vezes inéditas devido à faixaetária dos estudantes. O interesse natural desses alunospela área temática é um fator incentivador para os profes-sores, pois eles têm um interesse mais acentuado nos con-teúdos propostos. Isso se reflete nas avaliações positivasdos professores em relação ao desempenho dos estudan-tes, ressaltando que “são interessados e espertos, pois fa-zem muitas perguntas fundamentais”. Um fator incentiva-dor extra pode ser visto na Figura 3.

Figura 3: Recordação da visita de uma turma ao Miniob-servatório.

5. Agradecimentos

Agradecemos ao Miniobservatório pela disponibilizaçãodos telescópios e do espaço para atividades de observa-ção e também ao suporte das estagiárias Camila Cassiade Souza e Thais Maldonado Rabelo. Ao SGC/INPE peloespaço disponibilizado e pelas atividades de abertura docurso. À Sônia M. de Oliveira Moraes, pelo apoio durantetodas as atividades.

Referências

[1] http://www.sjc.sp.gov.br/sme/decolar/index.asp, último acesso em 26 de Agosto de 2010.

[2] LANGHI, Rodolfo; NARDI, Roberto. Ensino da astronomia no Brasil: educação formal, informal, não formal e divulga-ção científica. Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo, v. 31, n. 4, Dec. 2009 .

[3] http://www.das.inpe.br/Miniobservatorio/, último acesso em 26 de Agosto de 2010.

[4] http://sdo.gsfc.nasa.gov/assets/img/firstlight/movies/prominence20100330_sm.mov, último acesso em 25 deAgosto de 2010.

[5] http://imagine.gsfc.nasa.gov/docs/teachers/lessons/roygbiv/roygbiv.html, último acesso em 30 de Agosto de 2010.

XXXV Reunião Anual da SAB, 07-12 Setembro 2010, Passa Quatro/MG, Brasil