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 O ENSINO E AS PESQUISAS DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO ÂMBITO DO SUS

Ensino Pesquisa Farmaceutica Sus 1ed

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O ENSINO E AS PESQUISAS DA ATENO FARMACUTICA NO MBITO DO SUS

MINISTRIO DA SADE Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos

O ENSINO E AS PESQUISAS DA ATENO FARMACUTICA NO MBITO DO SUSANAIS DO 1 FRUM NACIONAL DE ENSINO E PESQUISA DA ATENO FARMACUTICA NO MBITO DO SUS A UNIVERSIDADE CONSTRUINDO O FARMACUTICO GENERALISTA PARA O SUS

Srie B. Textos Bsicos de Sade

Braslia, DF, 2007

2007 Ministrio da Sade. Todos os direitos reservados. permitida a reproduo parcial ou total dessa obra, desde que citada a fonte e que no seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens dessa obra da rea tcnica. A coleo institucional do Ministrio da Sade pode ser acessada, na ntegra, na Biblioteca Virtual em Sade do Ministrio da Sade: http: //www.saude.gov.br/bvs Srie B. Textos Bsicos de Sade Tiragem: 1 edio 2007 3.000 exemplares Elaborao, edio e distribuio: MINISTRIO DA SADE Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos Coordenao-Geral de Acompanhamento, Monitoramento e Avaliao da Qualidade de Produtos e Servios Farmacuticos Endereo: Esplanada dos Ministrios, Bloco G, Edifcio Sede, 8. andar, sala 804 CEP 70058-900 Braslia, DF E-mail: [email protected] Home page: http: //www.saude.gov.br Colaborao e Reviso do Texto: Tatiane Cristina Marques (EERP/ USP) Apoio: Organizao Pan-Americana da Sade Organizao Mundial da Sade Organizao: Divaldo Pereira de Lyra Jnior Produo editorial: Projeto grfico, diagramao: All Type Assessoria Editorial Ltda Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Ficha Catalogrfica Brasil. Ministrio da Sade. Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos. Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos. O ensino e as pesquisas da ateno farmacutica no mbito do SUS / Ministrio da Sade, Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos, Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos. Braslia : Ministrio da Sade, 2007. 107 p.: il. (Srie B. Textos Bsicos de Sade) ISBN 978-85-334-1403-7 1. Assistncia Farmacutica. 2. Sistema nico de Sade. 3. Sade Pblica. 4.Gesto em Sade. I. Ttulo. II. Srie. NLM WA 100Catalogao na fonte Coordenao-Geral de Documentao e Informao Editora MS OS 2007/0383

Ttulos para indexao: Em ingls: Educational and Research in Pharmaceutical Care in the Scope of SUS Em Espanhol: Enseanza e Investigacin de la Atencin Farmacutica en el mbito del SUS

Sumrio

Introduo Prioridades Estratgicas do SUS: Realidade e Desafios A Construo do Edital MCT-CNPq/MS-SCTIE-DAF n 54/2005 O Processo de Seleo: Expectativas e Responsabilidade Social, no mbito do SUS Panorama Sobre a Educao Superior na rea de Farmcia no Brasil Consolidando as Pesquisas com Assistncia Farmacutica no Pas O Desenvolvimento e Perspectivas de Pesquisas com Ateno Farmacutica no Brasil A Universidade Concebendo o Farmacutico Generalista para o Sistema nico de Sade SUS: As necessidades do gestor estadual da Assistncia Farmacutica Estudos de Impacto como Instrumentos Cientficos para Demonstrar o Valor da Ateno Farmacutica Avaliao de Resultados Clnicos e o Impacto para a Sade do Paciente Resultados Humansticos em Ateno Farmacutica A Avaliao dos Resultados Econmicos e o Impacto para o Profissional e para o Sistema de Sade Resumos dos Projetos Aprovados no Edital MCT-CNPq/MS-SCTIE-DAF n 54/2005 Avaliao do Frum Nacional de Ensino e Pesquisa da Ateno Farmacutica no mbito do SUS: Viso dos Participantes Anexos

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55 63 69 73 79 83 97 103

IntroduoDivaldo Pereira de Lyra Jnior Manoel Roberto da Cruz Santos2

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Farmacutico, Doutor em Cincias Farmacuticas, Professor do Curso de Farmcia da Universidade Federal de Sergipe, Consultor Tcnico do Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos do Ministrio da Sade. Farmacutico, Superintendente de Ateno Especializada e Gesto de Tecnologia da Secretaria de Estado da Sade do Rio de Janeiro.

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Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos/MS

A Ateno Farmacutica surgiu a partir do aprofundamento da prtica Farmcia Clnica, com a insero de um componente fortemente humanstico. Essa nova filosofia de prtica farmacutica focada diretamente no usurio e no nos medicamentos propriamente ditos. De acordo com Hepler e Strand (1990), a Ateno Farmacutica o acompanhamento farmacoteraputico documentado do paciente, com o propsito de alcanar resultados especficos que melhorem a sua qualidade de vida. Em 1993, a Organizao Mundial da Sade (OMS) entendeu que a Ateno Farmacutica tem papel essencial na ateno sanitria da comunidade, no que tange a garantir uma farmacoterapia efetiva e a promoo da sade. Desde ento, esta prtica tem se desenvolvido em diversos pases. Entretanto, devido ao ainda limitado acesso Ateno Farmacutica, os nveis de morbimortalidade associados ao uso dos medicamentos no param de crescer em todo o mundo (CIPOLLE; STRAND; MORLEY, 2000; CERuLLI, 2001). De acordo com a reviso da literatura Pharmaceutical Care: 10 aos, realizada na dcada de 90, foram publicados e posteriormente indexados nas fontes secundrias mais utilizadas um total de 2.510 trabalhos com a palavra-chave pharmaceutical care. Dentre os pases que mais contriburam na produo de trabalhos apareceram os EuA com 1.894, Reino unido com 139, Holanda com 107, Canad com 92, Alemanha com 61, Espanha com 40, entre outros (LLIMS; FAuS; MARTIN, 2001). De acordo com o Comit de Consenso (2002), uma pesquisa que comprove o impacto da Ateno Farmacutica deve ter um desenho adequado demonstrando toda a amplitude da prtica por meio dos resultados econmicos, clnicos e humansticos obtidos. Todavia, as investigaes no tm destacado o impacto da Ateno Farmacutica sobre os resultados na sade dos pacientes (GARCIA, 2001). Tal situao est ligada s limitaes dos desenhos de pesquisa utilizados e natureza das intervenes farmacuticas estudadas, que enfatizam principalmente os resultados associados resoluo dos PRM (CERuLLI, 2001; WESTERLuND; ALMARSDTTIR; MELANDER, 1999). No Brasil, a Ateno Farmacutica foi introduzida com diferentes vertentes e compreenses no pas, muitas vezes sem diretrizes tcnicas sistematizadas e sem levar em conta as suas caractersticas e do seu sistema de sade. Assim, a Ateno Farmacutica vem assumindo crescente importncia nas discusses dos rumos e perspectivas da profisso, principalmente a partir dos ltimos cinco anos. Diante do exposto, farmacuticos e outras instituies representativas de sade e da categoria, tendo frente a Organizao Pan-Americana da Sade (Opas) e o Ministrio da Sade, iniciaram um processo de discusso sobre as diversidades dos conceitos e da prtica profissional. Assim, foi organizada uma oficina de trabalho para a apresentao de experincias e reflexes sobre o tema, em 2001, na cidade de Fortaleza (CE), sendo que o processo foi complementado por mais duas reunies em Braslia. Todo o processo, bem como as recomendaes e propostas de estratgias, foram sintetizados no relatrio Promoo da Ateno Farmacutica no Brasil: trilhando caminhos (JARAMILO et al., 2001). Em seguida, foi lanada a proposta do Consenso Brasileiro de Ateno Farmacutica em 2002, fruto de um processo de construo coletiva de profissionais, rgos representativos sanitrios e da classe farmacutica (IvAMA et al., 2002). Na Conferncia Nacional de Medicamentos e Assistncia Farmacutica (2003) foram apresentadas 26 propostas para introduo e regulamentao da Ateno Farmacutica no SuS,

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demonstrando o seu carter universal e sua aplicabilidade em reas essenciais, como: Tuberculose, Hansenase, Hipertenso, Diabetes, DST/AIDS, Planejamento Familiar, Sade da Criana e Sade Mental. Muito embora a introduo desse novo modelo de prtica venha sendo estimulada nos ltimos anos no pas, ainda so necessrias mudanas substanciais nos servios farmacuticos prestados aos usurios do SuS, sobretudo no que concerne formao dos farmacuticos para o novo modelo de prtica e o fomento das pesquisas em Ateno Farmacutica que ainda incipiente. Diante do exposto, o Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos (DAF) tem se proposto a priorizar as aes de incentivo Ateno Farmacutica, como resposta s propostas da Conferncia Nacional de Medicamentos e Assistncia Farmacutica (2003) e por considerar a rea essencial para o cuidado de usurios e o uso racional dos medicamentos. Em setembro de 2005, o DAF, junto ao Departamento de Cincia e Tecnologia (Decit) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), lanou o Edital n 054/2005 que visou contribuir para a produo do conhecimento cientfico na rea de Assistncia Farmacutica, de forma a aprimorar a sua gesto no mbito do SuS e promover a ampliao do acesso da populao a medicamentos de qualidade e seu uso racional. O referido edital pode ser considerado um marco histrico, pois abriu as portas do fomento pesquisa no pas para a rea de Ateno Farmacutica, contribuindo para o desenvolvimento de novas metodologias adaptadas realidade nacional, assim como para a avaliao da eficcia e efetividade de projetos em andamento. Como conseqncia, foram aprovados 11 projetos de pesquisa (15% do total de projetos aprovados no edital), de dez diferentes estados, e abrangendo todas as regies do pas. Para referendar os resultados e reafirmar o interesse no desenvolvimento desse novo modelo de prtica profissional, o DAF promoveu nos dias 20 e 21 de fevereiro de 2006, em Braslia, o 1 Frum de Ensino e Pesquisa em Ateno Farmacutica, no mbito do SUS. Esse evento teve como metas: dar conhecimento e formao aos aprovados no Edital MCT-CNPq/MS-SCTIEDECIT-DAF n 54/2005, sobre as reas essenciais para implementao da Ateno Farmacutica, no mbito do SuS; promover o intercmbio entre os pesquisadores, no sentido de formar uma rede nacional de investigao na rea e discutir aspectos metodolgicos relevantes para a avaliao do impacto da Ateno Farmacutica e a sua consolidao como prtica, nas citadas reas essenciais.

Pblico-Alvo Pesquisadores que tiveram projetos aprovados na rea de Ateno Farmacutica, no Edital MCT-CNPq/MS-SCTIE-DECIT-DAF n 54/2005, e outros investigadores que tm desenvolvido trabalhos cientficos na rea.

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ProgramaoDATA 20/2 ATIVIDADE Abertura - Secretrio de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos/MS - Secretrio de Gesto Estratgica e Participativa/MS - Diretor do Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos (DAF/ SCTIE/MS) - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) Mesa-Redonda A importncia do Edital MCT-CNPq/MS-SCTIE-DECIT-DAF n 54/2005, como marco histrico para o desenvolvimento da Ateno Farmacutica no Brasil Coordenador da mesa: Manoel Santos (DAF/ SCTIE/ MS) Debatedores: - Dirceu Brs Barbano (DAF/MS) Prioridades estratgicas do SUS: realidade e desafios - Marcos Tolentino da Silva (DECIT//SCTIE/MS) Construo da proposta do Edital - Divaldo Lyra Jr. (DAF/SCTIE/MS) O processo de seleo: expectativas e responsabilidade social, no mbito do SUS Almoo HORRIO 9h 9h50

10h 12h

12h 14h

Mesa-Redonda A pesquisa como instrumento resolutivo para as necessidades do 14h 15h50 SUS e do uso racional dos medicamentos Coordenador da mesa: Divaldo Lyra Jr. (DAF/ SCTIE/ MS) Debatedores: - Eloir Paulo Schenkel (UFSC) Panorama das pesquisas em Cincias Farmacuticas no Brasil - Cludia Osrio de Castro (Fiocruz) Consolidando as pesquisas com Assistncia Farmacutica no pas - Divaldo Lyra Jr. (DAF/SCTIE/MS) Desenvolvimento e perspectivas das Pesquisas com Ateno Farmacutica no Brasil Mesa-Redonda A universidade concebendo o farmacutico generalista para o SUS Coordenador da mesa: Nelson Silva (DAF/ SCTIE/ MS) Debatedores: - Adriana Ivama (Anvisa/ Opas) A necessidade e as dificuldades de implantao do currculo generalista no Brasil - Jos Miguel Nascimento (SSSC) As expectativas dos gestores quanto ao farmacutico generalista 16h 17h30

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DATA 21/2

ATIVIDADE Mesa-Redonda A importncia de estudos de impacto em Ateno Farmacutica, no mbito do SUS Coordenador da mesa: Nelson Silva (DAF/ SCTIE/ MS) Debatedores: - Lisiane Ev (Ufop) Os estudos de impacto como instrumentos cientficos para demonstrar o valor da Ateno Farmacutica - Mauro Castro (UFRGS) A avaliao dos resultados clnicos e o impacto para a sade do paciente - Djenane Oliveira (UFMG) Resultados humansticos em Ateno Farmacutica - Leonardo Pereira (USP) Avaliao dos resultados econmicos e o impacto para o profissional e para o sistema de sade Almoo Mesa-Redonda Apresentao e discusso dos trabalhos da rea de Ateno Farmacutica aprovados no Edital MCT-CNPq/MS-SCTIE-DECIT-DAF n 54/2005 Coordenador da mesa: Nelson Silva (DAF/ SCTIE/ MS) Debatedores: - Pablo de Moura Santos (UFBA) - Dayani Galato (Unisul) - Djenane Ramalho de Oliveira (UFMG) - Suzana Virtuoso (Unioeste) - Jos Carlos da Silva Rocha (UFPA) - Nilva Maria R. R. S. Passos (Unaerp) - Maria de Ftima Oliveira (UFC) - Mauro Silveira de Castro (UFRGS) - Selma Rodrigues de Castilho (UFF) - Vnia dos Santos (USP/RP) Discusso Encerramento Manoel Roberto da Cruz Santos (DAF/SCTIE/MS)

HORRIO 9h 12h

12h 14h 14h 15h50

16h 17h30 17h40

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RefernciasCERuLLI, J. The role of the community pharmacist in identifying, preventing and resolving drug-related problems. Medscape Pharmacists, New York, v. 2, n. 2, p. 1-5, feb. 2001. CIPOLLE, R. J.; STRAND, L. M.; MORLEY, P. C. El ejercicio de la atencin farmacutica. Madrid: Mc Graw Hill, 2000. 352p. COMIT DE CONSENSO. Segundo Consenso de Granada sobre problemas relacionados com medicamentos. Ars. Pharmaceutica, Granada, v. 43, n. 3-4, p. 175-84, jul./ dez. 2002. CONFERNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS E ASSISTNCIA FARMACuTICA, 1., 2003, Braslia. Relatrio final... Braslia: Ministrio da Sade, 2003. 68p. GARCIA, A. I. Atencin farmacutica, estdios sobre uso de medicamentos y otros. Revista Espaola de Salud Pblica, [S.l.], v. 75, n. 4, p. 285-90, 2001. HEPLER, C. D.; STRAND, L. M. Oportunities and Responsabilities in Pharmaceutical Care. American Journal of Hospital Pharmacy, Bethesda, v. 47, p. 533-43, mar.1990. IvAMA, A. M. et al. Consenso brasileiro de ateno farmacutica: proposta. Braslia: Organizao Pan-Americana da Sade, 2002. 24 p. JARAMILLO, N. M. et al. Ateno Farmacutica no Brasil: trilhando caminhos. Relatrio de Oficina de Trabalho. Fortaleza: Organizao Pan-americana da Sade, 2001. 25p. LLIMS, F. F.; FAuS, M. J.; MARTIN, C. M. Anlisis de la literatura sobre Pharmaceutical Care: 10 aos. Granada: universidad de Granada, 2001. 20 p. ORGANIZACIN MuNDIAL DE LA SALuD (OMS). El papel del farmacutico en el sistema atencin de la salud: Declaracin de Tokio. Genebra: OMS, 1993. 37 p. WESTERLuND, T.; ALMARSDTTIR, A. B.; MELANDER, A. Drug-related problems and pharmacy interventions in community practice. The International Journal of Pharmacy Practice, London, v. 7, p. 40-50, mar. 1999.

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Prioridades Estratgicas do SUS: Realidade e DesafiosDivaldo Pereira de Lyra Jnior Tatiane Cristiane Marques2

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Farmacutico, Doutor em Cincias Farmacuticas, Professor do Curso de Farmcia da Universidade Federal de Sergipe, Consultor Tcnico do Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos do Ministrio da Sade. Farmacutica, Mestranda pela Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto USP, So Paulo.

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Nas ltimas dcadas, o pas vem conquistando importantes mudanas no campo da sade, que comearam com a criao e regulamentao do Sistema nico de Sade (SuS). Essas mudanas vm ocorrendo sobre os pilares da universalizao, da integralidade, da descentralizao e da participao popular. O SuS representa uma das maiores conquistas do povo brasileiro do final do sculo XX. No Brasil, a situao se repete e os medicamentos so os principais causadores de intoxicao desde 1996 (SISTEMA NACIONAL DE INFORMAES TXICO-FARMACOLGICAS, 2002). Alm disso, o envelhecimento da populao brasileira tende a proporcionar, nas prximas dcadas, desafios cada vez maiores aos servios de sade, particularmente porque os idosos constituem 50% dos multiusurios de frmacos (MOSEGuI et al., 1999). Entretanto, h uma carncia quase absoluta de estudos independentes na rea de utilizao de medicamentos no pas. Nesse contexto, a Poltica Nacional de Medicamentos (PNM), como parte essencial da Poltica Nacional de Sade, constitui um instrumento fundamental para a efetiva implementao de aes capazes de promover a melhora das condies da assistncia sade da populao (BRASIL, 1999). Sendo assim, a PNM estabeleceu as diretrizes, prioridades e responsabilidades da Assistncia Farmacutica para os gestores federal, estadual e municipal do SuS, dentre as quais, a promoo do uso racional dos medicamentos. Essa diretriz tem como meta o processo de educao do usurio acerca dos riscos da automedicao, da interrupo do tratamento ou troca dos medicamentos prescritos, bem como, quanto necessidade da orientao especfica na utilizao dos frmacos controlados e de alto custo. Para tanto, necessrio viabilizar o planejamento de prticas focadas na ateno ao paciente e promover a formao de recursos humanos envolvidos na utilizao dos medicamentos, com nfase especial para o profissional farmacutico. Baseado nessa premissa, o atual governo brasileiro assumiu alguns compromissos no mbito do SuS para promover a melhoria das condies da assistncia sade da populao. Dentre esses compromissos destaca-se: Ampliar e qualificar o acesso aos medicamentos; Racionalizar e ampliar o financiamento da Assistncia Farmacutica Pblica; Incentivar a produo pblica de medicamentos; Incorporar e desenvolver tecnologias estratgicas; Fortalecer os mecanismos para regulao e monitorao do mercado de insumos e produtos estratgicos para a sade; Qualificar os servios de assistncia farmacutica visando ao uso racional dos medicamentos.

O SuS engloba estabelecimentos pblicos e o setor privado de prestao de servios, inclui desde unidades de ateno bsica at centros hospitalares de alta complexidade. A importncia e o volume dos servios prestados pelo setor pblico de sade no Brasil podem ser verificados, por exemplo, no montante de atividades desenvolvidas do qual constam a realizao de 2,3 milhes de partos, 8 mil transplantes de rgos, 12 milhes de internaes/ ano, 1 bilho de procedimentos de Ateno Bsica e 143 milhes de procedimentos de alta complexidade. Nesse contexto, o uso irracional e desnecessrio de medicamentos e o estmulo automedicao, presentes na sociedade brasileira, so fatores que promovem um aumento na demanda por medicamentos, requerendo, necessariamente, a promoo do seu uso racional. Mudanas no

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quadro de morbimortalidade tm levado a uma transformao no modelo de ateno prestada, de modo a conferir prioridade ao carter preventivo das aes de promoo, proteo e recuperao da sade. Sob esse enfoque, a poltica de medicamentos assume um papel fundamental nessa transformao. Em 2003 foi criada, no Ministrio da Sade, a Secretaria de Cincia e Tecnologia e Insumos Estratgicos (SCTIE) que incorporou as funes da extinta Secretaria de Polticas de Sade, que atuava na formulao de polticas de sade e atividades no mbito da ateno bsica. A criao da SCTIE-MS (BRASIL, 2003a) teve como objetivo: Formular, implementar e avaliar a Poltica Nacional de Cincia e Tecnologia em Sade; Articular a ao do Ministrio da Sade com organizaes da sociedade, visando ao desenvolvimento cientfico e tecnolgico em sade; Formular, implementar e avaliar a Poltica Nacional de Assistncia Farmacutica e a Poltica Nacional de Medicamentos, incluindo hemoderivados, vacinas, imunobiolgicos e outros insumos; Estabelecer mtodos e mecanismos para a anlise da viabilidade econmico-sanitria de empreendimentos em sade; Participar da formulao e implementao das aes de regulao do mercado com vistas ao aprimoramento da Poltica Nacional de Sade.

Com a Secretaria, tambm foi criado o Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos (DAF) que substituiu a Gerncia Tcnica de Assistncia Farmacutica (GTAF), existente entre 2000 e 2003. vale ressaltar que at 2000, a Assistncia Farmacutica no fazia parte da estrutura organizacional do Ministrio da Sade, funcionando como uma Assessoria Tcnica, ligada diretamente ao Secretrio de Polticas de Sade. Desde sua fundao, o DAF tem coordenado a execuo e a consolidao das diretrizes e prioridades da Poltica Nacional de Medicamentos, alm de formular Polticas Farmacuticas que facilitem a melhoria do acesso, fortalecimento da gesto, qualificao dos servios e dos recursos humanos e a promoo do uso racional. Fundamentado nessas prioridades, no mesmo ano foi criada a Cmara de Regulao do Mercado de Medicamentos (CMED) composta por representantes dos Ministrios da Sade, Fazenda, Justia e Casa Civil. A CMED foi concebida para acompanhar os nmeros do mercado, criar polticas de regulao, alm de evitar e coibir excessos em relao a preos. Ao contrrio da antiga Camed, extinta em junho de 2003, que s tinha poderes para responsabilizar os laboratrios, a nova CMED tem atribuies mais abrangentes para deliberar sobre preos e para elaborar diretrizes de regulao do setor, podendo responsabilizar todos os atores do setor farmacutico: a indstria, o atacado e o varejo. Na vigncia da antiga Cmara, o trabalho desenvolvido limitava-se anlise e aprovao dos preos dos medicamentos que eram lanados no mercado, a fixar os limites para os reajustes de preos e a instaurar processos administrativos contra laboratrios em casos de desobedincia legislao. Atualmente, a Lei n 10.742/2003 (BRASIL, 2003b), alm de haver propiciado CMED o fortalecimento dessas atribuies, permitiu o avano em diversos outros pontos, tais como: a possibilidade de articular a regulao econmica com a sanitria, formar um conselho de ministros presidido pelo Ministro da Sade e com o Comit Executivo presidido pelo SCTIEMS, autorizar a comercializao de novos medicamentos definindo preos de entrada no mercado, bem como, estabelecer o desconto mnimo obrigatrio para compra pblica.

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Entre 2003 e 2006, o governo brasileiro fez um investimento total de R$ 250 milhes na modernizao e ampliao da capacidade instalada e de produo dos Laboratrios Farmacuticos Oficiais. No ano de 2005, por exemplo, foi adquirida um nova unidade de produo de medicamentos no Rio de Janeiro ligada Fiocruz, pelo valor de R$ 18 milhes. Alm disso, foi criada a Rede Brasileira de Produo Pblica de Medicamentos, para organizar e articular a produo dos 16 laboratrios pblicos. O Ministrio da Sade tambm tomou medidas que fomentassem acordos de cooperao internacional. Tais medidas foram e so fundamentais para a regulao do mercado e a garantia do acesso, como por exemplo: o acordo de Cooperao com Cuba, possibilitando a produo do Interferon Alfa e da Eritropoetina que esto sendo distribudos no sistema pblico at a autonomia na produo em 2008, com a plataforma para a produo de Interferon Peguilado e Interferon Beta, assim como, o acordo bilateral Brasil / Argentina que j teve o protocolo de Intenes assinado e que visa instalao de fbrica de medicamentos binacional. Em 2004, o Ministrio da Sade em colaborao com o Ministrio da Cincia e Tecnologia e Ministrio da Educao (MCT) realizaram a 2.a Conferncia Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade que contou com a participao de cerca de 15 mil representantes, com o objetivo de definir e aprovar a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade, como uma estratgia da reformulao do papel do MS no ordenamento do esforo nacional de pesquisa em sade. No evento, pesquisadores comprometidos com as estratgias estabelecidas no documento Promoo da Ateno Farmacutica no Brasil: trilhando caminhos estiveram presentes e garantiram a incluso da Ateno Farmacutica como tema de pesquisa na Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em sade. No final do ano de 2005, alicerado na Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade, foi lanado o Edital MCT-CNPq/MS-SCTIE-DAF n 54/2005 que buscou pela primeira vez financiar, acompanhar e avaliar pesquisas, de produo de conhecimento na rea de Assistncia Farmacutica. Para isso, foram destinados R$ 4 milhes, a serem alocados em pesquisas sobre: organizao, gesto e prtica da Assistncia Farmacutica; e qualificao de medicamentos: processos e produtos. Na primeira estavam inclusas as pesquisas na rea da Ateno Farmacutica, com a elaborao de metodologias, bem como a avaliao da sua eficcia e efetividade no Sistema nico de Sade em mbito nacional. A insero da Ateno Farmacutica pode ser entendida a partir do princpio da eqidade do SuS, ou seja, os usurios que necessitam de maiores cuidados farmacoteraputicos devem ser acompanhados por um profissional qualificado, a fim de resolver e prevenir problemas relacionados aos medicamentos reais e potenciais. De acordo com o relatrio final da 1.a Conferncia Nacional de Medicamentos e Assistncia Farmacutica (2003), tais cuidados devem prioritariamente empregados em reas como: Tuberculose, Hansenase, Hipertenso, Diabetes, DST/AIDS, Planejamento Familiar, Sade da Criana e Sade Mental. importante ressaltar que essas reas tm impacto direto nos gastos do Ministrio da Sade com medicamentos que, por sua vez, aumentaram 75% nos ltimos anos, passando de R$ 2,4 bilhes, em 2002, para R$ 4,2 bilhes, em 2005 (FELIPE, 2005). Alm disso, os medicamentos vm ocupando uma parcela cada vez maior nos gastos do Ministrio da Sade e estima-se que em 2006 chegue a representar 11,2% do oramento. Ante o exposto, a Ateno Farmacutica tambm pode ser entendida como uma estratgia para a promoo do uso racional dos medicamentos, pois aes preventivas que visem reduzir a morbimortalidade relacionada aos

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medicamentos, podem transferir recursos diretos (medicamentos, cuidados de profissionais de sade) e indiretos (custo da internao, equipamentos de sade, etc.) que seriam utilizados em medidas curativas, para o cuidado a outros usurios do SuS, como por exemplo, na ateno bsica. Com base nessa premissa, o DAF/ MS est investindo na qualificao da Assistncia Farmacutica, mais especificamente na rea de Ateno Farmacutica, por meio da educao continuada, com o apoio ao Curso de Mestrado Profissionalizante em Gesto da Assistncia Farmacutica da universidade Federal do Rio Grande do Sul (1 turma finalizada em setembro/2005, com a formao de 15 mestres, sendo uma dissertao com Ateno Farmacutica); aos Cursos de Especializao em Gesto Pblica em Assistncia Farmacutica e Gesto em Farmcia Hospitalar, em parceria com universidade de Braslia (unB); e de Cursos de Atualizao (40 horas) sobre Gesto da Assistncia Farmacutica, Gesto de Compras Pblicas e Ateno Farmacutica. Alm disso, outras medidas para promoo do uso racional de medicamentos vm sendo tomadas como: a instituio da Comisso Multidisciplinar de Reviso da Rename (Comare); a qualificao do programa de medicamentos excepcionais; publicaes de boletins em parceria com Opas/OMS e da segunda edio do manual O Trabalho dos Agentes Comunitrios de Sade na Promoo do Uso Correto de Medicamentos; desenvolvimento de Protocolos Clnicos e Diretrizes Teraputicas para Medicamentos Excepcionais; processo de Incorporao de Tecnologias (Acordo Brasil-Cuba); desenvolvimento e aprovao da Poltica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterpicos e elaborao da Rename Fito. No SuS h prioridades estratgicas que j alcanam avanos importantes, como a promoo do uso racional dos medicamentos to enfatizado, mas tambm h muitos desafios como: a organizao da gesto da aquisio e distribuio, a grande concentrao por patentes, o desconhecimento da prevalncia e incidncia das doenas que acometem a populao brasileira, a indisponibilidade de evidncias cientficas de alguns medicamentos, a presso dos usurios, produtores e do Poder Judicirio por alguns medicamentos, assim como a estrutura para anlise sobre a incorporao de novas tecnologias em sade. Alm disso, com a aprovao da Portaria n 698, de 30 de maro de 2006, foi iniciado um processo de re-organizao do custeio do SuS, incluindo as aes, responsabilidades e os servios farmacuticos na ateno bsica. Sem dvida, ainda h muito a se fazer, mas avanos importantes j foram alcanados e a aprovao do Edital 54 lana um novo desafio que demonstrar que a Ateno Farmacutica pode ser uma estratgia vivel para o cuidado ao usurio de medicamentos no SuS. Por isso, discutir pesquisa nessa rea pode contribuir fortemente para a efetiva promoo do uso racional dos medicamentos no Brasil.

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RefernciasBRASIL. Decreto n 4.726, de 9 de junho de 2003. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comisso e das Funes Gratificadas do Ministrio da Sade, e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 10 jun. 2003a. ______. Lei n 10.742, de 6 de outubro de 2003. Define normas de regulao para o setor farmacutico, cria a Cmara de Regulao do Mercado de Medicamentos CMED e altera a Lei no 6.360, de 23 de setembro de 1976, e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Poder Executivo, Braslia, DF, 7 out. 2003b. ______. Ministrio da Sade. Poltica nacional de medicamentos. Braslia, 1999, 39 p. CONFERNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS E ASSISTNCIA FARMACuTICA, 1., 2003, Braslia. Relatrio final... Braslia: Ministrio da Sade, 2003. 68p. FELIPE, J. S. Acesso aos medicamentos primordial. Revista da Indstria Farmacutica, [S.l.], n. 10, p. 30-5, 2005. MOSEGuI, G. B. G. et al. Avaliao da qualidade do uso de medicamentos em idosos. Revista de Sade Pblica, So Paulo, v. 33, n. 5, p. 437-44, 1999. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAES TXICO-FARMACOLGICAS (SINITOX). Estatstica anual de casos de intoxicao e envenenamento: Brasil, 2001. Rio de Janeiro: Fundao Oswaldo Cruz/ Centro de Informaes Cientfica e Tecnolgica, 2002.

A Construo do Edital MCT-CNPq/ MS-SCTIE-DAF n 54/2005Marcus Tolentino

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Farmacutico, Consultor Tcnico do Departamento de Cincia e Tecnologia da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos do Ministrio da Sade.

Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos/MS

No Brasil, poucas polticas pblicas podem ser consideradas verdadeiras polticas de Estado, no sentido de terem o respaldo permanente da maior parte dos trs poderes e dos trs nveis de organizao poltica do Pas. O Sistema nico de Sade (SuS), ferramenta bsica da poltica de sade brasileira e principal produto da Reforma Sanitria, talvez seja, dentre poucas, a que mais adere a uma definio estrita de poltica de Estado. Dentre as competncias do SuS, destaca-se o incremento do desenvolvimento cientfico e tecnolgico em sua rea de atuao. A produo e a apropriao de conhecimentos que contribuam para a reduo das desigualdades sociais em sade, em consonncia com o controle social, so responsveis por desvendar a aplicao prtica da pesquisa nos princpios de universalidade, integralidade e eqidade do sistema. A interveno do Estado no financiamento de pesquisa em sade revela uma estratgia consoante com as polticas de sade, considerando que existem: falhas de mercado, que impem dificuldade de acesso a tecnologias mdicas por falta de recursos financeiros, ocasionando diminuio da eqidade; falhas da cincia, que revelam as doenas no solucionadas pela cincia; falhas na sade, onde o setor pblico no assume as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovao para doenas sem tratamento; e carncia no desenvolvimento tecnolgico, j que ocorre escassez de centros de excelncia, profissionais e instituies que atendam s exigncias reguladoras, alm da dimenso participativa da pesquisa (limitada a grupos convencionais).

Alguns campos da pesquisa em sade podem resultar em melhorias na qualidade de vida da populao. Estrategicamente, eles so delimitados em aqueles que visam avanar no conhecimento e aqueles que visam ao uso prtico, gerando quatro possibilidades: 1) pesquisa bsica (fundamental) que avana o conhecimento sem interesse na sua aplicao; 2) pesquisa aplicada com interesse apenas no uso prtico sem preocupao no avano do conhecimento; 3) pesquisa que visa sistematizar fenmenos particulares, como observado em um catlogo de especialidades farmacuticas; e 4) pesquisa estratgica, em que so avanadas as fronteiras do conhecimento e possibilitadas as aplicaes prticas. As tendncias atuais em pesquisa em sade so que seja mais estratgica e que seja dada maior nfase inovao e desenvolvimento tecnolgico, e menos em pesquisa fundamental. Cabe destacar o desenvolvimento de um novo paradigma na cincia biolgica alm da prtica da pesquisa baseada em hipteses: a pesquisa-descoberta em que novas abordagens da biologia molecular permitem o desenvolvimento de novos produtos. Para contribuir com que o desenvolvimento nacional se faa de modo sustentvel, e considerando que a sade constitui-se em um fator de desenvolvimento econmico, o incentivo a pesquisas estratgicas que visem introduo de um novo produto, servio ou processo no mercado como a reorientao da Assistncia Farmacutica , provavelmente se ajustar s necessidades econmicas, sociais, culturais e polticas do Pas, alm de poder resultar em melhora na sade da populao.

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O ensino e as pesquisas da ateno farmacutica no mbito do SUS

A pesquisa emoldurada como ao de sade na promoo do acesso da populao aos medicamentos e seu uso racional, subsidia a reorientao da Assistncia Farmacutica, no (re) conhecimento das relaes Poltica de Sade/Poltica de Medicamentos, Poltica de Medicamentos/ Assistncia Farmacutica e Assistncia Farmacutica/usurio. Esta cincia, alm de auxiliar a estruturao organizacional das atividades relacionadas com o medicamento, permite identificar as necessidades de infra-estrutura (rea fsica, equipamentos e recursos humanos) nos diferentes nveis de gesto. A Assistncia Farmacutica orientada pela pesquisa em sade permite, de modo indireto, nortear algumas Polticas Setoriais, como as de Cincia, Tecnologia & Inovao e de formao de recursos humanos, com o objetivo de promover o acesso e o uso racional de medicamentos. Como destacado na 1 Conferncia Nacional de Medicamentos e Assistncia Farmacutica (2005), o uso desta ao visando impactar o processo de utilizao de medicamentos auxilia a efetivao do acesso, da qualidade e da humanizao da Assistncia Farmacutica dentro de um contexto social que privilegia os medicamentos como bens de consumo mais do que instrumentos teraputicos. Aliado a esse processo, a 12 Conferncia Nacional de Sade (2004) identifica a pesquisa como insumo estratgico no processo de aumento da eqidade no cuidado sade da populao, e define como diretriz a elaborao, implementao e acompanhamento da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade. A realizao da 2 Conferncia Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade (2005), aliado a 24 conferncias estaduais e 307 conferncias regionais e municipais, alm de ter permitido priorizar as linhas temticas de financiamento de pesquisa pelo sistema de sade, frente aos recursos finitos, tambm instrumentalizou o SuS com a Poltica Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade. A identificao de lacunas na produo de conhecimento e na formao de recursos humanos permitiu mapear as seguintes contribuies para a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade: o desenvolvimento da produo de insumos estratgicos para a sade; a integrao do uso de plantas medicinais e fitoterpicos no SuS; o desenvolvimento de produtos farmacuticos; a qualidade dos produtos farmacuticos; a qualidade dos servios farmacuticos; os estudos de utilizao de medicamentos e farmacoepidemiologia; a farmacovigilncia; o uso racional e educao em sade; a ateno farmacutica; e a organizao da Assistncia Farmacutica. Para aproximar os objetivos da pesquisa em sade com os objetivos da Poltica Nacional de Sade, alguns eixos condutores da Poltica Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade pautam todo o processo de financiamento pblico de pesquisa em sade, a saber: extensividade capacidade de intervir nos vrios pontos da cadeia do conhecimento; inclusividade insero dos produtores, financiadores e usurios na produo tcnicocientfica; seletividade capacidade de induo; complementaridade entre as lgicas de induo e espontaneidade; competitividade forma de seleo dos projetos tcnicos e cientficos; mrito relativo qualidade dos projetos; relevncia social, sanitria e econmica carter de utilidade dos conhecimentos produzidos; responsabilidade gestora com regulao governamental; presena do controle social.

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A relao Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade/Poltica Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao em Sade prope um novo paradigma para a elaborao de polticas pblicas de sade. A poltica que define o processo estatal de regulao, de operacionalizao e de relacionamento com o usurio, pode ser subsidiada pela pesquisa alm das informaes usuais das condies de sade da populao. Favoravelmente, esse paradigma permite que a pesquisa (re) identifique a relao do sistema de sade com o usurio sobre as suas preferncias frente a condies diversas de sade, contribuindo para a realimentao do modelo. Cabe destacar que o processo de gerao do conhecimento dentro da sociedade cria uma srie de conseqncias complexas entre o pesquisador e a sociedade em um paradigma tico social. Isso reflete o compromisso social do pesquisador com a gerao do conhecimento e sua aplicao na reduo das desigualdades. A verso aprovada da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade na Subagenda de Assistncia Farmacutica reflete diretamente as linhas temticas apresentadas no Edital publicado em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) do Ministrio da Cincia e Tecnologia. Quase que classicamente, os temas se dividiram em: desenvolvimento e avaliao de farmoqumicos e medicamentos; e avaliao de polticas, programas e servios.

Diversos elementos subsidiam o incentivo ao desenvolvimento e avaliao de farmoqumicos e medicamentos, como: o desequilbrio entre as competncias para as atividades de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovao na cadeia produtiva farmacutica; a orientao difusa dos investimentos com pouca ou nenhuma seletividade; a gesto incipiente da propriedade intelectual; a desarticulao entre o SuS e o sistema de inovaes; e a falta de uma poltica clara e de mecanismos adequados de induo na transferncia do conhecimento cientfico para o setor produtivo. A pesquisa em Ateno Farmacutica, objeto desta publicao, subtpico do tema avaliao de polticas, programas e servios, da Subagenda Assistncia Farmacutica, gerou uma certa expectativa gestora na produo de conhecimentos em algumas reas de concentrao, como: investigao das prticas de prescrio; padres de uso de medicamentos; monitoramento das reaes adversas; funo de orientador do farmacutico; uso da informtica em farmcia; anlises econmicas do uso de medicamentos; legislao; abuso e uso irracional de medicamentos; e avaliao das atitudes, comportamentos, responsabilidades, preocupaes, tica, funes, conhecimentos e competncias do farmacutico na proviso da terapia medicamentosa. vale ressaltar que o intuito do incentivo pesquisa em Ateno Farmacutica com recursos pblicos de melhorar o processo de tomada de deciso para a promoo do uso racional de medicamentos. No entanto, o Ministrio da Sade no tem, efetivamente, uma ferramenta capaz de executar as aes de Cincia & Tecnologia. Para que o Departamento de Cincia e Tecnologia da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgico possa executar o seu oramento de fomento pesquisa, foi necessrio um termo de cooperao tcnica entre os ministros da Sade e da Cincia e Tecnologia, que gerou portarias autorizando a transferncia de oramento do Fundo Nacional de Sade para os rgos governamentais de fomento pesquisa (CNPq e Financiadora de Estudos e Projetos/Finep).

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O ensino e as pesquisas da ateno farmacutica no mbito do SUS

uma anlise preliminar das aes de fomento realizadas pelos rgos governamentais revela: a existncia da baixa capacidade de induo para definir prioridades de pesquisa; a escassez de mecanismos de coordenao adequados entre as mltiplas estncias de fomento; a incipiente articulao entre as aes de fomento em Cincia, Tecnologia & Inovao e a poltica de sade (baixa capacidade de transferncia de conhecimento novo para os sistemas e servios de sade); e os mecanismos incipientes de competitividade e de visibilidade no financiamento de projetos de pesquisa na rea da Sade.

Os recursos alocados na construo do Edital MCT-CNPq/MS-SCTIE-DECIT-DAF n 54/2005 foram oriundos do Departamento de Cincia e Tecnologia da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos. Para a sua execuo foi elaborada uma oficina de construo do edital, em agosto de 2005, em que participaram Adriana Mitsue Ivama (Anvisa/ Opas); Alice Bricola (PuCC/unicamp); Allan Kardec de Lima (CNPq/MCT); Belmiro Salles (CNPq/MCT); Cludia Cunha (DAF/SCTIE/MS); Dirceu Barbano (DAF/SCTIE/MS); Edvaldo B. de S (DES/SCTIE/MS); Jos Seixas Loureno (DECIT/SCTIE/MS); Manoel Roberto da Cruz Santos (DAF/SCTIE/MS); Marco vinicius Chaud (unesp-Araraquara); Marcus Tolentino (DECIT/SCTIE/MS); Marge Tenrio (DECIT/SCTIE/MS); Nelly Marin (Opas/OMS); Sofia Daher (CNPq/MCT) e Terezinha J. Andreoli Pinto (FCF-uSP). O Edital teve como objetivo contribuir com a produo do conhecimento cientfico na rea de Assitncia Farmacutica, de forma a aprimorar a sua gesto no mbito do Sistema nico de Sade e promover a ampliao do acesso da populao a medicamentos de qualidade e seu uso racional e contemplou duas linhas temticas de apoio envolvendo Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento, a saber:

Organizao, Gesto e Prtica da Assistncia Farmacutica Desenvolvimento de instrumentos e indicadores de avaliao de processos de organizao e gesto da assistncia farmacutica polticas, programas e servios, em todos os nveis de ateno em sade; Elaborao de metodologia para o desenvolvimento da ateno farmacutica: educao em sade, orientao farmacutica, dispensao, atendimento farmacutico, acompanhamento/seguimento farmacoteraputico de pacientes e notificao de reaes adversas e de queixas tcnicas de medicamentos; Avaliao da eficcia e efetividade da ateno farmacutica e de programas do uso racional de medicamentos no Sistema nico de Sade em mbito nacional; e estudo de utilizao de medicamentos, compreendendo aqueles de dispensao em carter excepcional e/ou de baixa segurana no Sistema nico de Sade em mbito nacional.

2 Qualificao de Medicamentos: Processos e Produtos Novas aplicaes e otimizao teraputica de frmacos j existentes; Desenvolvimento de novas formulaes; Controle fsico-qumico e biolgico de produtos e processos; e

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Avaliao da eficcia teraputica de medicamentos com nfase para equivalncia farmacutica e bioequivalncia.

Com relao aos recursos, as propostas aprovadas foram financiadas com recursos no valor global de at R$ 4 milhes, divididos em quatro faixas, conforme a tabela a seguir:FAIXA I II III IV V VALOR MXIMO SOLICITADO POR PROJETO EM R$ 300.000,00 200.000,00 100.000,00 50.000,00 20.000,00 RECURSOS MXIMOS EM R$ DESTINADOS PARA FAIXA 1.500.000,00 1.000.000,00 800.000,00 500.000,00 200.000,00

Para minimizar a lacuna entre o resultado da pesquisa e sua aplicabilidade na gesto das polticas pblicas, sugerem-se alguns indicadores que permitam a avaliao e acompanhamento das pesquisas financiadas em sade, e a promoo da transparncia e eficcia do sistema de gesto de fomento, atravs de: Identificao dos produtos obtidos; proporo de produtos obtidos; externalidades com a execuo da pesquisa ou projeto de desenvolvimento tecnolgico; Identificao dos resultados e recomendaes; proporo de pesquisas ou projetos de desenvolvimento tecnolgico com resultados e recomendaes claramente definidos; proporo de pesquisas cujos objetivos e produtos esto relacionados com as prioridades da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade; produo de produtos com registro de patentes; tipo de produo resultante da pesquisa ou projeto de desenvolvimento tecnolgico financiado.

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RefernciasBARROS, J. A. C. Polticas farmacuticas: a servio dos interesses da Sade? Braslia: unesco, 2004. BRASIL. Ministrio da Sade. Portaria n 171, de 13 de maio de 2005. Aprova Plano de Trabalho de apoio s aes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico. Dirio Oficial da Unio, Poder Executivo, Braslia, DF, 23 maio 2005. Seo 1, p. 30. ______. Ministrio da Cincia e Tecnologia; Ministrio da Sade. Edital MCT-CNPq/MSSCTIE-DECIT-DAF n 54/2005. Seleo pblica de propostas para apoio s atividades de pesquisa direcionadas ao estudo de Assistncia Farmacutica. Braslia: CNPq, 2005. ______. Ministrio da Sade. Secretaria de Polticas da Sade. Departamento de Ateno Bsica. Gerncia Tcnica de Assistncia Farmacutica. Assistncia Farmacutica: instrues tcnicas para sua organizao. Braslia: Ministrio da Sade, 2001. ______. Ministrio da Sade. Secretaria de Polticas de Sade. Departamento de Ateno Bsica. Poltica Nacional de Medicamentos. Braslia: Ministrio da Sade, 2001. CONFERNCIA NACIONAL DE SADE, 12., 2003, Braslia. Relatrio final: 12 Conferncia Nacional de Sade: Conferncia Srgio Arouca: Braslia, 7 a 11 de dezembro de 2003. Braslia: Ministrio da Sade, 2004. CONFERNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS E ASSISTNCIA FARMACuTICA, 2005, Braslia. Relatrio final: efetivando o acesso, a qualidade e a humanizao na assistncia farmacutica, com controle social. Braslia: Ministrio da Sade, 2005. CONFERNCIA NACIONAL DE CINCIA, TECNOLOGIA E INOvAO EM SADE, 2., 2004, Braslia. Anais... Braslia: Ministrio da Sade, 2005. ELIAS, F. T. S.; SOuZA, L. E. P. F. Sistema de Informao para Monitoramento de Pesquisa no Ministrio da Sade. 2003. Dissertao (Mestrado em Sade Coletiva)Instituto de Sade Coletiva, universidade Federal da Bahia, Bahia, 2003. IvAMA, A. M. et al (Org.). O papel do farmacutico no sistema de ateno sade: boas prticas em farmcia em ambientes comunitrios e hospitalares. Braslia: Organizao Pan-Americana da Sade, 2004. MARIN, N. et al (Org.). Assistncia Farmacutica para gerentes municipais. Rio de Janeiro: OPAS/OMS, 2003. SCHENKEL, E. P. et al. Assistncia Farmacutica. In: BRASIL. Ministrio da Sade. Sade no Brasil Contribuies para a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa. Braslia: Ministrio da Sade, 2004. SOCIEDADE BRASILEIRA DE vIGILNCIA DE MEDICAMENTOS. Accin Internacional para la Salud Amrica Latina y El Caribe. O que uso racional de medicamentos? So Paulo: Sobravime, 2001.

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O Processo de Seleo: Expectativas e Responsabilidade Social, no mbito do SUSDivaldo Pereira de Lyra Jnior

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Farmacutico, Doutor em Cincias Farmacuticas, Professor do Curso de Farmcia da Universidade Federal de Sergipe, Consultor Tcnico do Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos do Ministrio da Sade.

Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos/MS

Nos ltimos 50 anos, os medicamentos aumentaram a expectativa de vida de 46,5 anos em 1950, para 65,2 anos em 2002, alcanando 78 anos, nas mulheres que vivem pases desenvolvidos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003). Todavia, a m utilizao desses medicamentos tem demonstrado ser extremamente nociva vida humana. Atualmente, os problemas relacionados aos medicamentos (PRM) so reconhecidos como fatores de risco para a sade em todo o mundo (LLIMS; FAuS, 2003). Nos EuA, por exemplo, os erros na utilizao dos medicamentos contriburam para a morte de mais de 7.000 pacientes dentro e fora dos hospitais (KOHN; CORRIGAN; DONALDSON, 1999). No mesmo pas, os custos com as doenas associadas aos PRM triplicaram nos ltimos anos, ultrapassando os uS$ 177 bilhes (ERNST; GRIZZLE, 2001). Nesse contexto, a Ateno Farmacutica uma nova filosofia de prtica que surgiu em contraposio ao modelo vigente, focando diretamente no cuidado ao usurio e no apenas nos medicamentos. Muito embora esta nova prtica venha assumindo crescente importncia nas discusses dos rumos e perspectivas da profisso, os estudos sobre intervenes farmacuticas so escassos e limitados aos pases de economia avanada (ROMANO-LIEBER et al., 2002). Ademais, devido ao ainda limitado acesso Ateno Farmacutica, os nveis de morbimortalidade associados ao uso dos medicamentos no param de crescer (ERNST; GRIZZLE, 2001; LLIMS et al., 2005). No Brasil, h uma carncia quase absoluta de estudos sobre morbimortalidade relacionada aos medicamentos. Entretanto, levantamentos afirmam que os medicamentos ocupam a primeira posio entre os causadores de intoxicaes, desde 1996 (SISTEMA NACIONAL DE INFORMAES TXICO-FARMACOLGICAS, 2002). Este dado preocupante no que se refere aos agravos de sade da populao e tambm gera reflexos sobre os custos inerentes s aes desenvolvidas no SuS (JARAMILLO et al., 2001). Em um cenrio globalizado de mudanas significantes nos sistemas de ateno sanitria, apoiar aes que visem ao desenvolvimento da pesquisa e da prtica imprescindvel para a promoo da sade e o uso racional dos medicamentos. A Poltica Nacional de Medicamentos (PNM), como parte essencial da Poltica Nacional de Sade, constitui um instrumento fundamental para a efetiva implementao de aes capazes de promover a melhora das condies da assistncia sade da populao (BRASIL, 1999). Mais ainda, o propsito precpuo da PNM o de garantir a necessria segurana, eficcia e qualidade dos medicamentos, a promoo do uso racional e o acesso da populao queles considerados essenciais. Na PNM h diretrizes prioritrias, estabelecidas para os gestores do SuS que devem ser alcanadas, como: a reorientao da Assistncia Farmacutica e a promoo do uso racional dos medicamentos. Alm disso, o princpio da eqidade do SuS afirma que quem precisa de mais cuidados deve receber mais cuidados. Baseado nesses pressupostos, a introduo da Ateno Farmacutica no SuS deve ser incentivada como uma estratgia relevante para prevenir e resolver a morbimortalidade relacionada aos medicamentos, bem como promover a sade. No Brasil, o advento do Edital MCT-CNPq/MS-SCTIE-DECIT-DAF n 54/2005, como conseqncia de aes inovadoras do DAF, foi um passo fundamental para proporcionar medidas viveis que vislumbrem a reduo desse importante problema de sade pblica que a morbimortalidade relacionada aos medicamentos e estimular as pesquisas nos servios farmacu-

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O ensino e as pesquisas da ateno farmacutica no mbito do SUS

ticos no sistema de sade brasileiro. Nesse sentido, foi includo no Edital, pela primeira vez na histria do pas, a Organizao, gesto e prtica da Assistncia Farmacutica que por sua vez, constou de subtemas como: indicadores da qualidade e gesto em Assistncia Farmacutica, Ateno Farmacutica, estudo de utilizao de medicamentos e uso racional dos medicamentos. Assim, foram submetidos 217 projetos das cinco regies do pas. Em termos de distribuio por estado, a maior parte das propostas veio da Regio Sudeste do pas (41%), em segundo lugar veio a Regio Sul (31%). A Regio Nordeste mandou 17% dos projetos, enquanto que o Centro-Oeste 6% e o Norte 5%. Do total de propostas recebidas pela Comisso Cientfica do CNPq, 27 trataram da temtica Ateno Farmacutica, assim distribudas (Quadro 1):

Quadro 1. Distribuio dos projetos enviados por regio, estado, nmero e tipo de Instituio de Ensino Superior (IES)REGIO Sudeste Sul Nordeste Norte Centro-Oeste ESTADOS ES,MG, RJ,SP PR,SC,RS CE,PB, SE, BA AM, PA DF, MS NMERO PROJETOS 12 6 4 3 2 IES PBLICA 8 4 3 3 1 IES PRIVADA 4 2 1 0 1

Dessas propostas, nenhuma disputou na faixa dos R$ 300.000,00, mas quatro competiram na dos R$ 200.000,00, quatro na dos R$ 100.000,00, dez na dos R$ 50.000,00 e nove na dos R$ 20.000,00. Durante o processo de avaliao e seleo, o Comit Temtico buscou dar iguais oportunidades s duas linhas de apoio. vale ressaltar o empenho, a seriedade e a disponibilidade do Comit Temtico formado pelos professores doutores Cludia Maria Oliveira Simes (uFSC), Eli de Souza Garcia (Fiocruz), rika Rosa Maria Kedor (uSP), George Gonzalez Ortega (uFRGS), Nereide Stela Santos Magalhes (uFPE) e Rui Oliveira Macedo (uFPB) de incentivar o desenvolvimento com essa nova rea de pesquisa. O Comit foi assessorado pelo representante do CNPq, Allan Kardec de Lima, do Decit/MS, Marcos Tolentino Silva e do DAF/MS, Dr. Divaldo Pereira de Lyra Jnior. Embora nenhum dos membros do comit fosse da rea de Assistncia Farmacutica, os critrios estabelecidos pelo Comit de Avaliao foi uniforme, possibilitando chances iguais s propostas de ambas as reas. Quanto aos projetos, foi observada certa falta de experincia na submisso de propostas relacionadas aplicao do estudo no SuS e ao tipo de itens solicitados para financiamento, alm disso, muitos dos coordenadores no tinham ligao com as reas solicitadas. Logo, muitos cortes foram feitos, principalmente, no que concerne a recursos de informtica (datashow, notebooks), reformas estruturais dos servios, material bibliogrfico e passagens (considerado contrapartida da instituio onde seria realizado o projeto), bem como a fotocpias e ao pagamento de terceiros, o que poca no era financiado pelo CNPq.

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Ao final do processo que durou trs dias (22 a 24/11/2005), foram aprovadas 74 propostas com a prioridade um (P1) e uma com a prioridade dois (P2). Destes 44 (58%) foram aprovados na linha temtica I (Organizao, gesto e prtica da Assistncia Farmacutica), com recursos financeiros distribudos na ordem de R$ 1.745.553,73, e 30 (42%) da linha temtica II (Qualificao de medicamentos: processos e produtos), com o montante distribudo de R$ 2.254.446,27. A inverso dos nmeros (maiores recursos e menor nmero de projetos aprovados) ocorreu em funo da segunda linha temtica requerer equipamentos especficos e na maioria das vezes muito caros. A distribuio de projetos aprovados por faixa de recursos financeiros pleiteada est apresentada no Quadro 2 a seguir:

Quadro 2. Distribuio total de projetos aprovados no edital por faixa de recursos financeiros pleiteadosFAIXA 1 2 3 4 5n=74

NMERO DE PROJETOS APROVADOS POR FAIXA 9 12 12 17 24

VALOR MXIMO SOLICITADO POR PROJETO EM R$ 300.000,00 200.000,00 100.000,00 50.000,00 20.000,00

Das propostas aprovadas na linha temtica I (Organizao, gesto e prtica da Assistncia Farmacutica), 11 (14%) foram aprovados especificamente na subtemtica Ateno Farmacutica, os quais foram assim distribudos, segundo faixa de valor mximo solicitado (Quadro 3):

Quadro 3. Distribuio dos projetos submetidos e aprovados por faixa de valor mximo solicitado em R$FAIXA 1 2 3 4 5n=11

NMERO DE PROJETOS POR FAIXA SUBMETIDOS 0 4 4 10 9 APROVADOS 0 3 1 4 3

VALOR MXIMO SOLICITADO POR PROJETO EM R$ 300.000,00 200.000,00 100.000,00 50.000,00 20.000,00

Dos 11 projetos aprovados no Edital, foram contempladas instituies de dez diferentes estados, abrangendo todas as regies do pas (Quadro 4):

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O ensino e as pesquisas da ateno farmacutica no mbito do SUS

Quadro 4. Distribuio dos projetos aprovados por coordenador e instituio de ensinoCOORDENADOR lvaro A.S. Cruz Filho Dayani Galato PROJETOS DE ATENO FARMACUTICA APROVADOS Projeto de implantao da Ateno Farmacutica na asma grave em farmcia ambulatorial de um hospital universitrio Implantao de um servio de Ateno Farmacutica em um ambiente multiprofissional de atendimento ambulatorial Estratgia Sade da Famlia e a prtica da Ateno Farmacutica: construindo uma abordagem integral sade das pessoas Melhorando a aderncia em pacientes adultos com diabetes. Estratgias para reduzir as discrepncias INSTITUIO UFBA Unisul

Djenane Ramalho de Oliveira

UFMG

Jorge Juarez Teixeira

Unioeste

Jos Carlos da S. Rocha

Desenvolvimento de metodologia para implantao do servio de Ateno Farmacutica em pacientes asmticos e portadores UFPA de SIDA no Hospital Universitrio Joo de Barros Barreto Ateno Farmacutica dispensada a pacientes portadores de artrite reumatide assistidos no Centro Clinico Electro Bonini/ Unaerp, atravs do SUS Implementao de um servio de Ateno Farmacutica ao paciente chagsico do Estado do Cear Avaliao do impacto de mtodos de Ateno Farmacutica em pacientes hipertensos no-controlados Intervenes farmacuticas para preveno e correo de problemas com a utilizao de medicamentos Implantao do Programa de Ateno Farmacutica em Farmcias da Secretaria Municipal de Sade de Ribeiro Preto SP Unaerp

Lucenir M. Silva

Maria de Ftima Oliveira Mauro Silveira de Castro Selma R. Castilho

UFC UFRGS UFF

Vnia dos Santos

USP/RP

A partir dos resultados apresentados foi possvel observar no processo de seleo: a falta de entendimento de alguns pesquisadores quanto realidade do SuS; envio de um grande nmero de projetos em pesquisa bsica; grande dificuldade de alguns pesquisadores de diferenciar relevantes conceitos, como Assistncia e Ateno Farmacutica, e mtodos; muitas pesquisas propondo cursos de capacitao para a prtica de servios farmacuticos; poucos trabalhos nas reas essenciais: hipertenso, diabetes, DST/aids, sade mental, tuberculose, hansenase, planejamento familiar e sade da criana; a aprovao de apenas dois trabalhos relacionado ao uso de medicamentos por idosos e um nico sobre medicamentos de alto custo foram aprovados, a aprovao de um nico estudo multicntrico e apenas um estudo de avaliao do impacto da Ateno Farmacutica, em resultados clnicos. Tais dados remetem a muitas reflexes a serem feitas e de novas atitudes a serem tomadas ante a submisso de futuros editais especficos nessa rea. Diante do exposto, o edital pode ser considerado um marco histrico, pois abriu as portas do fomento pesquisa no pas para a rea de Ateno Farmacutica, contribuindo para o desenvolvimento de novas metodologias adaptadas realidade nacional, assim como, para a avaliao da eficcia e efetividade de projetos em andamento.

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RefernciasBRASIL. Ministrio da Sade. Poltica nacional de medicamentos. Braslia: Ministrio da Sade, 1999. 39 p. ERNST, F. R.; GRIZZLE, A. J. Drug-related morbidity and mortality: updating the cost-ofillness model. Journal of American Pharmaceutical Association, [S.l.], v. 41, p. 192-9, 2001. JARAMILLO, N. M. et al. Ateno Farmacutica no Brasil: trilhando caminhos. Relatrio de Oficina de Trabalho. Fortaleza: Organizao Pan-Americana da Sade, 2001. 25 p. KOHN, L. T.; CORRIGAN, J. M.; DONALDSON, M. S. (Ed.). Institute of Medicine Report: To Err Is Human: building a safer health system. Washington, DC: National Academy Press, 1999. Disponvel em: . LLIMOS, F. F. et al. Evolucin del concepto de problemas relacionados con medicamentos: resultados como el centro del nuevo paradigma. Seguimiento Farmacoteraputico, [S.l.], v. 3, n. 4, p. 167-88, 2005. LLIMS, F. F.; FAuS, M. J. Importance of medicine-related problems as risk factors. The Lancet, [S.l.], v. 362, n. 11, p. 1239, 2003. ROMANO-LIEBER, N. S. et al. Reviso dos estudos de interveno do farmacutico no uso de medicamentos por pacientes idosos. Cadernos de Sade Pblica, [S.l.], v. 18, n. 6, p. 1499-507, 2002. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAES TXICO-FARMACOLGICAS (SINITOX). Estatstica anual de casos de intoxicao e envenenamento: Brasil, 2000. Rio de Janeiro: Fundao Oswaldo Cruz/ Centro de Informaes Cientfica e Tecnolgica, 2002. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). The World Health Report 2003: Shaping the future. Geneve: WHO, 2003.

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Panorama Sobre a Educao Superior na rea de Farmcia no BrasilEloir Paulo Schenkel Armando da Silva Cunha Junior2

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Farmacutico, Doutor em Farmcia, Professor do Departamento de Cincias Farmacuticas da Universidade Federal de Santa Catarina. Doutorado em Sciences Pharmaceutiques (Frana), Professor do Departamento Produtos farmacuticos, Faculdade de Farmcia, Universidade Federal de Minas Gerais.

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A presente contribuio sobre a educao na rea farmacutica no Brasil est baseada em dois documentos: Assistncia Farmacutica (SCHENKEL et al., 2004) e Educao Farmacutica em nvel de ps-graduao no Brasil (SCHENKEL et al., 2006). Em relao ao ensino de graduao, os dados so oriundos do Cadastro Nacional da Educao Superior Inep/MEC; em relao ao ensino de ps-graduao, os dados so oriundos dos documentos da Capes, relativos rea de Farmcia. Nesta abordagem so apresentados dados sobre a evoluo do nmero de cursos de graduao e de ps-graduao e uma discusso sobre os problemas que retardaram a evoluo do sistema de ps-graduao e pesquisa na rea farmacutica.

Evoluo do nmero de cursos de graduao e ps-graduao Os primeiros cursos de nvel superior em Farmcia no Brasil surgiram no sculo XIX, especificamente no Rio de Janeiro, em Salvador, em Ouro Preto, em So Paulo e em Porto Alegre. A criao de cursos ocorreu de forma lenta at 1990, fato ilustrado pela tabela 1.

Tabela 1. Evoluo do nmero de cursos de graduao e de programas de ps-graduao em Farmcia no BrasilCURSOS E PROGRAMAS EM CINCIAS FARMACUTICAS Cursos de graduao Programas de ps-graduao 75 26 4 29 8 5 55 10 200 167 18 2005 210 26

Fonte: Cadastro Nacional da Educao Superior Inep/MEC; os dados referentes aos cursos de ps-graduao dos documentos de rea, divulgados poca aos programas de ps-graduao.

A partir de 1997, ocorreu um crescimento acelerado, resultando em um nmero de cursos de graduao desproporcional, no apenas em relao aos existentes em outros pases, mas tambm em relao dimenso do sistema de formao em nvel de ps-graduao. A vigncia da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (BRASIL, 1996), a partir de 1997, determinou a existncia dos processos de autorizao e reconhecimento dos cursos de graduao, outorgando autonomia s universidades para a criao e extino de cursos. At aquele ano, era necessria, antes da aprovao de novos cursos pelo Ministrio da Educao, a avaliao quanto necessidade social do curso pelos Conselhos Estaduais e Nacional de Sade, em atendimento ao Decreto n 1.303, de 1994. Em 1997, essa exigncia foi modificada pelo Decreto n 2.207, de 15/4/97 (BRASIL, 1997a), que restringe a exigncia dessa avaliao quanto necessidade social, aos cursos de Medicina, Odontologia e Psicologia. Alm disso, o processo de abertura de novos cursos fortemente determinado pelo artigo 6 deste mesmo Decreto n 2.207, que outorga autonomia aos centros universitrios para a criao e extino de cursos, e pela Portaria n 752, de 2/7/97 (BRASIL, 1997b), que autoriza as universidades a criar cursos fora de sede. Note-se que entre 1997 e 2000 foram criados 49 centros universitrios e apenas sete universidades! Para se ter uma idia da amplitude da expanso ocorrida a partir de 1997, os dados de 2001 indicam um crescimento, em trs anos, de 86% no nmero de cursos existentes e de 75% no nmero de vagas, em relao a 1998.

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2 A evoluo tardia da ps-graduao na rea de Farmcia no Brasil Embora os cursos de graduao em Farmcia tenham sido criados em faculdades isoladas, que posteriormente originaram diversas instituies de ensino superior e universidades, que hoje as abrigam, semelhante papel precursor no ocorreu na ps-graduao. Pelo contrrio, diferentemente de outras reas do conhecimento, como a veterinria e a Qumica, o crescimento de cursos na ps-graduao em Cincias Farmacuticas ocorreu de forma mais lenta, conforme ilustrado na Tabela 2.

Tabela 2. Evoluo dos cursos de ps-graduao nas reas de Farmcia, Qumica e Veterinria no perodo de 1975 a 2001ANO 1975 1985 1990 2001 2004 FARMCIA M/D 4/0 7/1 9/3 17/8 19/10 QUMICA M/D 17/9 25/12 33/18 44/32 45/29 VETERINRIA M/D 7/0 15/4 23/6 27/18 32/18

Fonte: Documentos de rea, disponveis em ou publicados no Boletim Informativo da Capes, Infocapes e, no caso da Qumica, de dados publicados por Gama et al. 2003.

So bastante complexas as razes para a evoluo tardia da ps-graduao na rea. Alguns importantes fatores, sem a pretenso de uma anlise detalhada, so destacados a seguir. a) A reforma universitria a reforma do ensino superior, ocorrida no pas ao final da dcada de 60, teve um enorme impacto nas Instituies de Ensino Superior na rea da Farmcia, tendo ocorrido, na maior parte das instituies uma diviso dos quadros docentes com migrao, de modo geral, dos docentes atuantes em disciplinas bsicas, direcionadas predominantemente para a pesquisa, das faculdades para os institutos de Cincias Bsicas. Permaneceram nas Faculdades de Farmcias principalmente os docentes vinculados s disciplinas especificamente profissionalizantes, muitos dos quais sem dedicao exclusiva e voltados principalmente para o exerccio profissional propriamente dito, do que produo de conhecimento na rea. b) A inexistncia de uma sociedade cientfica as sociedades cientficas exercem papel importante na organizao das reas e no dilogo com outros segmentos, atuando como interlocutores credenciados, por exemplo, nas discusses sobre as polticas educacionais e de cincia e tecnologia. Apesar da existncia de algumas sociedades cientficas relacionadas com subreas das cincias farmacuticas, apenas em 2006 foi viabilizada a criao de uma sociedade cientfica com a abrangncia necessria, a Associao Brasileira de Cincias Farmacuticas (ABCF). A ausncia de uma sociedade, em nosso entendimento, teve conseqncias importantes, relacionadas com a visibilidade na comunidade acadmica. Por exemplo, nos congressos da Sociedade Brasileira para o Progresso das Cincias (SBPC), os trabalhos relacionados rea eram e so, ainda, apresentados de forma dispersa, nas sees organizadas por outras sociedades cientficas. c) A representao da rea junto a Capes e CNPq at incio da dcada passada, os pesquisadores em cincias farmacuticas eram avaliados na Capes, junto com a Qumica e no CNPq

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junto Medicina, o que certamente causava dificuldades, na medida em que a sistemtica de avaliao pelo pares, de forma geral estabelecida na comunidade cientfica, no ocorria de regra, na rea farmacutica. O estabelecimento de um comit prprio para a rea de Farmcia na Capes ocorreu em 1993 e foi importante para a expanso da ps-graduao na rea, conforme apontado a seguir. A representao da rea de Cincias Farmacuticas junto ao CNPq foi estabelecida apenas em 1995, inicialmente por intermdio da participao de um membro da comunidade junto ao Comit de Medicina, que passou a ser denominado Comit Assessor de Medicina e Farmcia (CA-MD). A evoluo da produo intelectual, fato relacionado com o crescimento do sistema de ps-graduao na rea (conforme documentos de rea, disponveis em ), bem como aumento expressivo na demanda por auxlios financeiros e bolsas de produtividade em pesquisa conduziram, em um primeiro momento, ampliao da participao no Comit Assessor de Medicina e Farmcia (CA-MD) em 2003, que passou a contar com dois representantes e, finalmente, em 2004, ao estabelecimento do Comit Assessor de Farmcia (CA-FR), reivindicao histrica dos pesquisadores da rea.

3 A configurao atual do sistema de ps-graduao em Farmcia Na dcada passada, o estabelecimento de um comit prprio para a rea de Farmcia na Capes exerceu um papel catalisador para a expanso da ps-graduao na rea, com o crescimento do nmero de programas de ps-graduao e o incio da atuao de alguns deles em nvel de doutorado. Na dcada de 90 foram criados cinco programas, entre os anos 2000 e 2004 outros cinco e em 2005 sete novos programas (Tabela 3). O elevado nmero de novos programas em 2005 decorrente, em parte, do desdobramento de um programa que contava em 2004 com cerca de 50 orientadores (uSP-RP) e da aprovao de programas que estavam em processo de anlise, com alguma diligncia a ser atendida. Mesmo assim, trata-se de uma expanso marcante e que deve ser analisada frente ao aumento das demandas sociais, incluso da rea de Frmacos e Medicamentos entre as prioridades da Poltica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior, e mesmo frente ao crescimento do nmero de cursos em nvel de graduao. Esses fatos provocaram um aumento acentuado na demanda de profissionais com maior qualificao e necessidades ampliadas das Instituies de Ensino Superior em relao a docentes com a qualificao nos nveis de mestrado e doutorado.

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Tabela 3. Programas de ps-graduao em Cincias Farmacuticas, ao final de 2005INSTITUIO UFRGS USP-SP USP-SP USP-SP UFPE USP-SP UFPB USP-RP UFRJ UFSM UNESP UFMG UFSC UNESP UEM UFC UFPR UEM EFOA UFRN UNIVALI USP-RP USP-RP UFGO UCGO PROGRAMA Cincias Farmacuticas Anlises Clnicas Toxicologia e Anlises Toxicolgicas Tecnologia Bioqumico-Farmacutica Cincias Farmacuticas Frmacos e Medicamentos Produtos Naturais e Sintticos Bioativos Frmacos e Medicamentos Cincias Farmacuticas Cincias Farmacuticas Cincias Farmacuticas Cincias Farmacuticas Farmacia Anlises Clnicas Cincias Farmacuticas Farmcia Clnica Farmcia Anlises clnicas Cincias Farmacuticas Cincias Farmacuticas Cincias Farmacuticas Toxicologia Biocincias Aplicadas Farmcia Cincias Farmacuticas Gesto, Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Farmacutica INCIO MESTRADO / DOUTORADO 1970 / 1992 (profissionalizante em 2002) 1972 / 1989 1972 / 1978 1973 / 1999 1976 / 2002 1978 / 1987 1978 / 1998 1988 / 1998 1994 / 1994 / 1997 / 2005 1998 / 2002 1999 / 2005 2000 / 2001 2000 / 2005 2001 / 2001 / 2003 2005 2005 2005 2005 / 2005 2005 / 2005 2005 Profissionalizante, 2005

Fonte: documento de rea, disponvel em

4 Desafios para a rea de Cincias Farmacuticas Em uma caracterizao panormica do sistema formador para a rea farmacutica, cabe destacar a insuficincia na formao de recursos humanos para o sistema de sade. A constatao da desarticulao entre o sistema de sade e o sistema formador, originou em perodo recente

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a redefinio de diretrizes curriculares para todos os cursos de graduao na rea de Sade. A implementao dessas diretrizes, no entanto, no se dar apenas por meio da formulao de recomendaes, mas requer a concomitncia de fomento e a incluso dessa perspectiva nas instncias de avaliao, bem como direcionamento do sistema de formao em nvel de psgraduao no mesmo sentido. Especificamente em relao rea farmacutica, o reconhecimento da importncia estratgica das aes relacionadas com a utilizao dos medicamentos para a efetividade dos servios de sade levou a propostas de redefinio da atuao dos profissionais da sade em muitos pases, especialmente dos profissionais farmacuticos, e formulao do conceito de Ateno Farmacutica, entendida como um elemento da prtica farmacutica (ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SADE, 2002). No Brasil, as reflexes sobre o tema conduziram ao conceito de Assistncia Farmacutica, de amplitude maior, j que articula o conjunto de aes necessrias para assegurar o acesso e o uso racional de medicamentos. Em relao ao tema central deste 1 Frum Nacional de Ensino e Pesquisa em Ateno Farmacutica, evidenciou-se a necessidade de formao diferenciada e de investigaes cientficas relacionadas com a Assistncia Farmacutica e a Ateno Farmacutica no pas. Neste contexto, cabe destacar que a Assistncia Farmacutica tambm passou a ser considerada um campo de investigao, entendida pelo conjunto dos programas de ps-graduao em Cincias Farmacuticas, por meio de sucessivas reunies realizadas entre 2000 e 2005, como uma subrea, no mbito das Cincias Farmacuticas, envolvendo as especialidades: Ateno Farmacutica; Educao Farmacutica; Farmcia Clnica; Farmcia Hospitalar; Farmacoeconomia; Farmacoepidemiologia; Farmacovigilncia e Gesto em Assistncia Farmacutica. Ao mesmo tempo em que se ressalta a importncia da redefinio de subreas de conhecimento, necessrio destacar a insuficincia no pas de investigaes no mbito da assistncia farmacutica, sendo imprescindvel apontar para a importncia de ampliar a formao de recursos humanos qualificados para a atividade de pesquisa nesse campo de conhecimento. Em suma, ao mesmo tempo em se constata um crescimento expressivo do sistema de psgraduao na rea farmacutica, importante registrar a ampliao da demanda decorrente tanto da necessidade de profissionais de alta qualificao, para atuao no segmento industrial, como de profissionais para atuao de forma diferenciada no segmento de servios, especificamente relacionados com a Assistncia Farmacutica. Adicionalmente, existe uma clara demanda derivada da expanso de cursos superiores na rea, a qual teve um crescimento exponencial nos ltimos anos. Finalmente, cabe chamar a ateno para o fato que a ao da ps-graduao tem sido essencial para o desenvolvimento da atividade de pesquisa cientfica e tecnolgica na sociedade brasileira e a formao por intermdio da pesquisa, realizada nesse mbito, tem conseqncias importantes na formao dos docentes que iro, por sua vez, ter papel relevante na formao dos profissionais que iro atuar no sistema de sade.

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RefernciasBRASIL. Decreto n 2.207, de 15 de abril de 1997. Regulamenta, para o Sistema Federal de Ensino, as disposies contidas nos arts. 19, 20, 45, 46 e 1, 52, pargrafo nico, 54 e 88 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Poder Executivo, Braslia, DF, 16 abr. 1997a. ______. Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. Dirio Oficial da Unio, Poder Executivo, Braslia, DF, 23 dez. 1996. ______. Portaria n 752, de 2 de julho de 1997. Dispe sobre a autorizao para funcionamento de cursos fora de sede em universidades. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 3 jul. 1997b. COMISSO DE ESPECIALISTAS DO ENSINO DE FARMCIA. Indicadores de reas de conhecimento: descrio da rea de Farmcia, Documento 4. Braslia: SESu-MEC, 1996. GAMA, A. A. S.; CADORE, S.; FERREIRA, v. F. Avaliao dos programas de Ps-Graduao em Qumica no Brasil: verso 2002. Qumica Nova, [S.l.], v. 26, n. 4, p. 618-24, 2003. ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SADE (OPAS). Ateno Farmacutica no Brasil: trilhando caminhos; relatrio 20012002. Braslia, 2002. SCHENKEL, E. P. et al. Assistncia farmacutica. In: BRASIL. Ministrio da Sade. Sade no Brasil: contribuies para a Agenda de Prioridades de Pesquisa. Braslia: Ministrio da Sade, 2004. SCHENKEL, E. P. et al. Educao Farmacutica em nvel de Ps-Graduao no Brasil. R.B.P.G., Braslia, v. 3, n. 6, p. 175-192 dez. 2006.

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Consolidando as Pesquisas com Assistncia Farmacutica no PasClaudia Garcia Serpa Osorio de Castro Elaine Silva Miranda2

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Farmacutica (UFRJ), Mestre em Cincias Farmacuticas (UFRJ), Doutora em Sade da Criana (Fiocruz). Pesquisadora do Ncleo de Assistncia Farmacutica, Centro Colaborador da Opas/ OMS em Polticas Farmacuticas NAF/DCB, Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca, Fundao Oswaldo Cruz. Farmacutica (UFRJ), Mestre em Sade Pblica (Fiocruz). Pesquisadora do Ncleo de Assistncia Farmacutica, Centro Colaborador da Opas/OMS em Polticas Farmacuticas NAF/DCB, Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca, Fundao Oswaldo Cruz.

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luz do recente avano na rea da pesquisa em Assistncia Farmacutica no Brasil, representado pela formulao e divulgao do Edital 054/2005 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), abordou-se o tema proposto de sorte a contemplar apresentao e discusso de quatro tpicos principais: a Assistncia Farmacutica como campo de pesquisa no Brasil, exemplos de trabalhos recentes de mbito nacional, os trabalhos contemplados pelo Edital 054/05 do CNPq e a importncia do monitoramento e avaliao dos projetos vencedores. Entende-se que o volume e a qualidade das publicaes em Assistncia Farmacutica no pas possam representar o desenvolvimento dessa rea temtica. Pesquisa feita por Magarinos-Torres, buscando nas bases Medline e Lilacs at janeiro de 2005, evidenciou apenas 30 trabalhos no Brasil. Ocorre que, em termos de busca, o termo Assistncia Farmacutica, ainda traz problemas. A Bireme indexa(va)-o por servios farmacuticos, traduo livre e inadequada do espanhol servicios farmacuticos e do ingls pharmaceutical services. No entanto, nem toda a bibliografia disponvel em peridicos indexados est atrelada ao termo assistncia farmacutica. Busca em algumas revistas da rea de sade coletiva no Brasil, de 1999 a 2005, mostrou 20 artigos cujos contedos enquadravam-se na temtica da Assistncia Farmacutica. Ainda que seja uma rea em desenvolvimento, a relativamente reduzida publicao estaria tambm ligada falta de revistas direcionadas especificamente para a temtica. Como os mecanismos de busca esto ligados a bancos que congregam revistas indexadas (aliando qualidade editorial/peer review regularidade de publicao e consistncia temtica), publicaes novas ou ainda no consolidadas, muitas vezes freqentes na rea no tm seus artigos resgatados e difundidos e seus autores lidos. No mbito nacional, o campo da avaliao tem congregado recentes e amplas pesquisas na rea da Assistncia Farmacutica. Exemplos so o Diagnstico da Farmcia Hospitalar no Brasil (2002-2003), a Avaliao das Polticas Farmacuticas no Brasil (OMS) (2003-2004), nas fases I e II e a Avaliao da Dispensao de Antiretrovirais (ARv) e Medicamentos para Infeces Oportunistas (MIO) para Pessoas vivendo com HIv/aids (PvHA). Todos foram estudos grandes, envolvendo gestores, academia, associaes de classe. Todos se caracterizaram, tambm, por serem trabalhos de relativa complexidade no planejamento, na metodologia, na coleta e na anlise dos dados, possibilitando a produo de resultados importantes para o setor e motivando desdobramentos para a formulao e avaliao de polticas pblicas. So estudos que fornecem informao indireta sobre o grau de maturidade das pesquisas na rea, apontando tanto para subtemticas onde h carncia de informao quanto para possibilidades metodolgicas j desenvolvidas e outras a explorar. Dos mais de 200 projetos encaminhados para julgamento no mbito do Edital 054, 74 foram selecionados para financiamento. Os projetos se distriburam da seguinte forma: 6 na rea da cincia experimental, 2 voltados especificamente para produo, 18 relacionados tecnologia farmacutica, destacando-se controle de qualidade, farmacotcnica e biofarmcia, 3 projetos voltados para a gesto, 16 para farmacoepidemiologia e 8 para questes relacionadas ao uso racional de medicamentos, 9 projetos na rea de Ateno Farmacutica, 6 projetos concernentes a estudos de farmacologia clnica, 5 projetos voltados para avaliao da Assistncia Farmacutica e 1 que no foi possvel classificar, de acordo com as informaes disponveis no site do CNPq. No entanto, todos os projetos sofreram constrangimentos oramentrios, que variaram, em mdia, de 40 a 50%. Estima-se que algumas dificuldades tenham surgido pela novidade da

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rea sob anlise, a Assistncia Farmacutica, e suas especificidades, na viso do CNPq. Neste momento, pesquisadores se perguntam como dar seguimento a seus projetos, na vigncia de cortes e restries que redundam em impossibilidade de fazer frente tanto aos custos dos projetos como alocao, ainda que temporria e pontual, de pessoal tcnico especializado para desempenhar etapas constitutivas dos trabalhos. Nesse momento surge a certeza da parceria fiel do DAF/SCTIE/MS, co-responsveis nesse caminho, como promotores da iniciativa e partcipes das dificuldades, para dar suporte conduo dos trabalhos vencedores. Tendo em vista que este o primeiro edital do CNPq especificamente direcionado rea, com a proposta concreta de trazer fomento, h que se dar grande importncia consecuo dos projetos, que devem sofrer monitorao e avaliao por parte do Ministrio da Sade. A implicao que os resultados individuais tenham conseqncias sobre toda a rea de pesquisa em AF. A discusso, portanto, interessa a todos. uma vez que h tambm constrangimentos a enfrentar, o monitoramento se configura como ajuda inestimvel e orientadora, essencial para alcance de conquistas futuras. preciso planejar com os recursos disponveis, cumprir prazos e metas estabelecidos, dar ateno s dificuldades, buscando solues eficientes, inovando e aproveitando as oportunidades no desenvolvimento dos trabalhos. H sempre uma escolha tcnica para cada situao. essencial que os trabalhos sejam terminados resolutivamente. Esse desfecho coletivo necessrio para que, no futuro, outras oportunidades de fomento sejam oferecidas, para que exeramos maior influncia nos rgos de fomento quanto s nossas necessidades e para que o campo de pesquisas em AF seja consolidado. Todos compartilhamos a responsabilidade da transformao do nosso campo de trabalho, de rea marginal para central da pesquisa nas cincias da sade.

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O Desenvolvimento e Perspectivas de Pesquisas com Ateno Farmacutica no BrasilDivaldo Pereira de Lyra Jnior

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Farmacutico, Doutor em Cincias Farmacuticas, Professor do Curso de Farmcia da Universidade Federal de Sergipe, Consultor Tcnico do Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos do Ministrio da Sade.

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Como citado no captulo anterior, a morbimortalidade relacionada aos medicamentos um relevante problema de sade pblica. Em 1989, por exemplo, cerca de 10% das admisses hospitalares nos Estados unidos foram causadas por medicamentos, sendo que metade poderia ser prevenida (MANASSE JNIOR, 1989). Em um cenrio globalizado de mudanas significantes nos sistemas de ateno sanitria, a Ateno Farmacutica foi definida como sendo: proviso responsvel da farmacoterapia, visando alcanar resultados teraputicos definidos na sade e qualidade de vida da populao (HEPLER; STRAND, 1990). Essa filosofia de prtica se baseia em trs pilares: a viso humanstica, a prtica focada no paciente e o atendimento integral das necessidades do paciente. Embora Hepler e Strand (1990) tenham proposto juntos o conceito de Ateno Farmacutica mais disseminado no mundo, os mesmos seguiram dois modelos de prtica diferentes. Hepler e seus colaboradores por sua vez, trabalharam com a avaliao integral dos usurios, enfatizando o cuidado de enfermidades crnicas. Para tanto, foi desenvolvida a metodologia denominada Therapeutic Outcomes Monitoring (TOM) (GRAINGER-ROuSSEAu et al., 1997). A primeira investigao usou a asma como piloto, obtendo resultados importantes e acima do esperado, com boa aceitao por parte dos farmacuticos e mdicos envolvidos, apesar disso, foi difcil manter os pacientes nas ltimas fases do estudo. De qualquer modo, a investigao serviu como base para outros estudos subseqentes realizados na Europa, com resultados clnicos e humansticos favorveis (HERBORG et al., 2001a, 2001b; SCHuLTZ et al., 2000; NARHI et al., 2000; JCOME; GARCA, 2003) e um estudo de meta-anlise projetado (EuROTOM ASMA). Strand e seus colaboradores desenvolveram e utilizam o Pharmacists Workup of Drug Therapy (PWDT), processo racional e sistemtico de tomada de deciso, em que as necessidades dos pacientes, com relao farmacoterapia, so abordadas e documentadas de maneira sistemtica e global (TOMECHKO; MORLEY; STRAND, 1996). A partir de ento, o grupo elaborou um projeto de investigao orientado para a prtica na farmcia comunitria, denominado Minnesota Pharmaceutical Care Project (CIPOLLE; STRAND; MORLEY, 2000; STRAND, 1997). Esta foi a primeira pesquisa sobre o impacto da AtenFar que se tem conhecimento, demonstrando a melhora no nmero de PRM e a relao custo-benefcio favorvel em 14.357 pacientes, entre os anos de 1993 e 1999 (CIPOLLE; STRAND; MORLEY, 2000). Como conseqncia, 82% dos pacientes alcanaram resultados positivos e houve uma economia de uS$ 144.000,00. Posteriormente, entre 2000 e 2003, foi utilizada uma nova metodologia de documentao chamada de Assurance Pharmaceutical System que possibilitou a melhora de 88% dos 16.132 problemas de sade, apresentados por 2.985 pacientes. No estudo, a resoluo de 5.166 PRM, ou seja, de 32% dos problemas de sade encontrados, levou economia de aproximadamente uS$ 1,15 milho, com gastos em sade (STRAND et al., 2004). Concomitantemente, a Pharmaceutical Care Network Europe (PCNE) tem desenvolvido estudos multicntricos desde 1994, com o propsito de implantar a AtenFar na Europa e de demonstrar o seu valor como prtica profissional. Neste sentido, foi realizado um estudo em sete pases, demonstrando que a proviso da AtenFar a um grupo de idosos levou ao maior controle das doenas crnicas, ao aumento da qualidade de vida e do nvel de satisfao desses usurios e reduo dos custos ligados sade (BERNSTEN et al., 2001). Desde 1999, o PCNE tem investido na validao de uma classificao de PRM, bem como, no desenvolvimento de instrumentos e dos processos utilizados na prtica, no ensino e na pesquisa da AtenFar (vAN

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O ensino e as pesquisas da ateno farmacutica no mbito do SUS

MILL et al., 2004). Alm disso, organizar em fevereiro de 2007, a 5th PCNE Working Conference cujo tema ser: ultrapassando as barreiras da pesquisa em Ateno Farmacutica. De acordo com a reviso da literatura Pharmaceutical Care: 10 aos, na dcada de 90, foram publicados e posteriormente indexados nas fontes secundrias mais utilizadas um total de 2.510 trabalhos com a palavra-chave pharmaceutical care. Dentre os pases que mais contriburam na produo de trabalhos apareceram os EuA com 1.894, Reino unido com 139, Holanda com 107, Canad com 92, Alemanha com 61, Espanha com 40, entre outros (LLIMS; FAuS; MARTIN, 2001). Tais dados foram confirmados em uma reviso sistemtica posterior em revistas biomdicas sobre a investigao em Ateno Farmacutica realizado de junho de 1999 a junho de 2004 (MAYORAL; FERNNDEZ; RuBIO, 2005). Em um panorama de aumento progressivo do nmero de publicaes, alguns autores colocaram em questo a qualidade das pesquisas com Ateno Farmacutica (MAYORAL; FERNNDEZ; RuBIO, 2005; NAHATA, 2000; KENNIE; SCHuSTER; EINARSON, 1998). Segundo a literatura preciso investir em desenhos mais estruturados que descrevam melhor as intervenes farmacuticas e que enfoquem, sobretudo, no impacto da AtenFar (MAYORAL; FERNNDEZ; RuBIO, 2005; KENNIE; SCHuSTER; EINARSON, 1998; HOLDFORD; SMITH, 1997). Segundo esses autores, os outcomes so os resultados finais dos servios de cuidado sade, ou seja, funcionam como indicadores de qualidade e de valor, para prticas como a AtenFar. A demonstrao do valor da prtica essencial para sua afirmao enquanto estratgia efetiva de promoo do uso racional dos medicamentos, junto aos gestores de sade (STRAND et al., 2004; POSEY, 2003). Baseado nesses pressupostos foi unnime a recorrncia da literatura ao paradigma SPO (sigla inglesa de estrutura, processo e resultado), proposto por Donabedian (1980). Esse paradigma tem sido muito usado para analisar a qualidade dos servios de ateno sade e mais recentemente, foi adaptado Ateno Farmacutica (COMIT DO CONSENSO, 2002). Embora, nos ltimos anos, as investigaes tenham sido centradas na estrutura e nos processos de ateno, no houve destaque para o impacto sobre os resultados na sade dos pacientes (GARCIA, 2001). Tal situao est ligada s limitaes dos desenhos de pesquisa utilizados e natureza das intervenes farmacuticas estudadas, que enfatizam unicamente os resultados associados resoluo dos PRM (CERuLLI, 2001; WESTERLuND; ALMARSDTTIR; MELANDER, 1999). Partindo dessa constatao, foi sugerido que um estudo com desenho adequado para medida de impacto da Ateno Farmacutica deveria associar os modelos SPO e ECHO (COMIT DO CONSENSO, 2002). O modelo ECHO foi desenvolvido por Kozma, Reeder e Schulz (1993) ao examinar a prtica profissional e concluir que para avaliar a qualidade das suas intervenes, os farmacuticos no deveriam analisar separadamente os resultados econmicos, clnicos e humansticos obtidos, mas todos juntos. Tal afirmao ganhou ainda mais fora a partir da crescente demanda por intervenes farmacuticas, tendo em vista a reduo dos altos custos da ateno sade (KOZMA, 1995). Assim, os resultados clnicos efetivos esto associados mortalidade, morbidade (enfermos curados ou controlados), melhora na sade, entre outros. Os humansticos esto centrados na qualidade de vida, qualidade de vida ligada sade, satisfao com as intervenes farmacuticas, entre outros. O terceiro grupo diz respeito aos resultados econmicos que so medidos em termos de monetrios. As aplicaes desses resultados, todavia, so limitadas, pois difcil medir o custo das melhoras em sade. Por isso, podem ser expressos em aperfeioamento dos servios sanitrios, tecnologias, medicamentos, etc.

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Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos/MS

Na literatura, o entendimento sobre a importncia de estudos de impacto j notado e est em processo evolutivo. Na Espanha, por exemplo, foi realizada uma pesquisa com em pacientes coronarianos (TOMCOR) que visou comparar os efeitos da AtenFar em relao ao modelo tradicional. Os resultados clnicos evidenciaram uma diminuio da taxa anual de novos infartos no grupo de investigao e menor utilizao dos servios de sade. Alm disso, foi identificada melhora da qualidade de vida,