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O M e n s a g e i r O d e s a n t O a n t ô n i O
abril d e 2013 35O M e n s a g e i r O d e s a n t O a n t ô n i O
abril de 201334
Paixão de
Paixão deMadalena!
Jesus!
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O M e n s a g e i r O d e s a n t O a n t ô n i O
abril de 2013 35O M e n s a g e i r O d e s a n t O a n t ô n i O
abril de 201334
uando Jesus entregou Seu espírito ao Pai, Madalena estava aos pés da cruz vivencian-do a Paixão do Mestre amado! (cf. Jo 19,25-30). Na manhã do primeiro dia da semana, ela
foi ao sepulcro e o encontrou vazio. Apavorada, correu e relatou o fato aos discípulos, os quais foram ao túmulo, constataram o fato e voltaram para casa. Maria, no entan-to, continuou lá, do lado de fora, no jardim, chorando. Olhou para dentro do túmulo e viu dois anjos. Conversou com eles e com Jesus, que a chamou pelo nome: “Maria!” Ela O reconheceu. Queria tocá-Lo, mas Ele a impediu, ordenando-lhe que fosse anunciar aos seus que Ele volta-ria para Deus. Maria Madalena saiu correndo novamente,
para dizer aos discípulos: “Eu vi o Senhor” (Jo 20,1-18). O fim da Paixão parecia próximo. Uma rica simbologia evidencia o encontro de paixão entre Madalena e Jesus, no caminho, em um jardim e em um túmulo, na cruz e na noite, na pedra e nos discípulos, no aroma e nas flores, no choro e no toque, nos anjos e no eterno retorno.
Paixão, amor e sofrimento misturam-se nessa poesia da comunidade joanina que poderá ter se inspirado na passagem do livro Cânticos dos Cânticos (cf. Ct 3,1-5), o mais belo canto de amor da Bíblia. Esquema literário e simbologias se entrelaçam. O texto de Cântico descreve extasiado: “Em meu leito, pela noite, procurei o amado da minha alma. Procurei-o e não o encontrei! Vou levantar-me, vou rondar pela cidade,
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abril d e 2013 37O M e n s a g e i r O d e s a n t O a n t ô n i O
abril de 201336
Frei Jacir deFreitas Faria, OFM
Escritor e mestre emCiências Bíblicas pelo
Pontifício InstitutoBíblico de Roma
www.bibliaeapocrifos.com.br Arqu
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E N T E N D E N D O A B Í B L I A
Jesus morreu na cruzpor amor aos Seus. Quer
expressão maior de amor que essa? Mas o amor não para aí;
ele está em toda parte e é preciso encontrá-lo A saudade só termina
quando o coração se sente possuído pelo amor eterno, que não morre mais.
E a saudade deixa de ser a morte, pois o amado passa a viver eternamente e sempre
viverá, ainda que ausente
O M e n s a g e i r O d e s a n t O a n t ô n i O
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pelas ruas, pelas praças, procurando o amado da minha alma... Procurei-o e não o encontrei. Encontraram-me os guardas que rondavam a cidade: ‘Vistes o amado da minha alma?’ Passando por eles, contudo, encontrei o ama-do da minha alma. Agarrei-o e não vou soltá--lo, até leva-lo à casa da minha mãe, ao quarto da que me levou em seu seio. Filhas de Jerusalém, pelas cervas e gazelas do cam-po, eu vos conjuro; não desperteis, não acordeis o amor, até que ele o queira!”
Nesse belíssimo poema do amor, encon-tramos vários símbolos que expressam o encanto, a paixão de duas pessoas que se amam em profundidade no âmago do ser, no leito e na noite, na cidade e nas ruas, nas praças e nos guardas, no agarrar e soltar, na casa da mãe e no quarto, nas filhas de Jeru-salém e nas cervas e gazelas do campo.
Na força poética desses símbolos, eclo-de o amor, um misto de paixão e de res-surreição de duas mulheres amadas, a mulher de Cântico dos Cânticos e a do Evangelho, a Madalena1.
Cruz: simboliza a morte violenta. É o fim de tudo. É a não vida. Maria Madalena, aos pés da cruz, contemplava o seu amado morto. Ela queria retê-lo com vida, mas não lhe era pos-sível tal envergadura. A solução parecia ser a de morrer com ele. Maria sabia que seu amado não podia morrer. Ele precisava viver para sempre. Por isso, ela não parou na cruz, mas saiu a caminho, em busca do amado. Ela que-ria encontrá-lo em outro lugar que não fosse a cruz. A amada de Cânticos faz o mesmo. Em seu leito, pela noite, ela procurava pela amado.
Leito e Cruz: lugares onde repousam os que amam em profundidade. Jesus morreu na cruz por amor aos Seus. Quer expressão maior de amor que essa? Mas o amor não para aí; ele está em toda parte e é preciso encontrá-lo.
Caminho: é o agir, o fazer de alguém que não para na morte, pois a vida é vida a caminho. Qual outra Maria de Cântico dos Cânticos 3,1-5, Madalena saiu à procura de seu amado. Coisa não muito comum em tempos antigos. A pressa pelo caminho de Maria Madalena e da mulher de Cânticos dos Cânticos expressava o desejo incomensurá-vel de trazer de volta o amado que se foi. É impossível não caminhar quando se sabe que, no final da jornada, o amado estará à
espera da paixão que nunca morreu. A mulher de Cântico é toda mulher tolhida de ter a seu lado o amor de sua vida. Conforme os costumes de Israel, a mulher não podia escolher o marido.
o vazio da noite: é o triste e tenebro-so caminhar noturno do vazio deixado por aquele que se foi ou que não se pode ter, porque as regras morais não o permitem.
no Caminho, anjos e guardas: a mulher de Cânticos encontrou guardas pela rua; Madalena encontrou anjos no túmulo. Em ambos os textos, ocorreu um diálogo com esses personagens. O diálogo simboliza o vazio da amada que procura seu amado. Os anjos representam a presença eterna e terna de Deus. Os guardas noturnos são personagens típicos da poesia popular sobre o amor. A
pergunta aos guardas não precisa de resposta. É como afirmar: “Vocês não viram o meu amado. Eu preciso buscá-lo sempre. Essa é a minha sina. É o caminho de todos que amam”. Uma estrada por mais velha e batida que seja não será sempre a mesma na trajetória do amor. Um caminho se faz caminhando.
o túmuLo: é o vazio, o nada, o silên-cio. É cada um de nós morto com aquele que jaz eternamente. É o vazio existencial mesclado com o desejo de trazer de volta aquele que amamos. É um amontoado de pedras que guarda o amor de minha vida.
Perto de um túmuLo, um jardim; na Cidade, uma Praça: lugares de pro-cura do amado. Com certeza, o amor vive entre as flores da praça ou em um túmulo acariciado por um jardim.
no jardim e na Praça, fLores: símbolos da gratidão, do desejo e da saudade do amado que partiu. Nas flores, o fim da saudade, o deixar o amado partir. As lágrimas por alguém que morreu se cristalizam nas flores de um túmulo. Essas flores não mur-cham nunca, pois elas vivem dentro de quem ficou. A vida é assim. Chega um momento que não é mais possível chorar pelo ente querido. Ai de nós se as flores não existissem para catalisar as relações humanas no momento da partida. As flores expressam o fim da saudade.
Com as fLores, a saudade: vontade de ver e de reencontrar o amado. A sauda-de é quase como a morte. Ela é tão forte que só quem a experimentou de verdade sabe quanto ela dói. Ter saudade é o mesmo que buscar no mais profundo de nós as lembranças do amado. E essa tarefa parece não terminar. Para alguns, é infindável. Ela só termina quando o coração se sente pos-suído pelo amor eterno, que não morre mais. E esse sentimento deixa de ser a morte, pois o amado passa a viver eterna-mente e sempre viverá, ainda que ausente.
no enContro Com amado, o desejo de toCá-Lo e agarrá-Lo: vontade de possuir para sempre o amado. É corporei-dade sem limites. Maria Madalena queria tocar Jesus. A Maria de Cânticos queria agarrar e não soltar nunca seu amado. Foi difícil encontrá-lo. O amor é assim: provi-sório e ilimitado.
voLtar Para a Casa do Pai e da mãe: um amor vivido em profundidade tem sua origem em Deus, que é pai e mãe. A amada de Cântico precisa voltar ao berço do seu amor, a casa de sua mãe. Jesus disse para Maria Madalena: “Vá e diga aos apóstolos,
seus companheiros de caminhada, que eu volto para a casa de meu Pai. Seja você força na caminhada deles. E eles estarão com você no caminho do amor” (cf. Jo 20,17-18). Nesse momento, ela compreende que Jesus vive dentro dela. Não há mais o que procurar a não ser ela mesma. Isso é ressurreição!
na Partida, um adeus: é ficar com Deus, o amado que vive eternamente no eter-no mistério da procura. No adeus, está sempre um desejo de reencontrar e, ao mesmo tempo, a certeza do encontro definitivo da vida em Deus, em Jesus, que não morre mais. Maria Madalena foi dizer aos seus que Jesus vivia eternamente. Ele não morreu. O amor é eterno.
no adeus, a eterna ressurrei-ção: Maria Madalena partiu para anunciar a Pedro e aos apóstolos que Jesus havia ressuscitado. Pedro encontrou-se com Maria Madalena, de quem recebeu o anúncio da ressurreição. Nesse encontro, houve uma surpresa: “A fiel rocha de Pedro se esmiga-lhou como areia, mas a fé de Maria é ver-dadeiramente rocha (...). A parte masculina do amor revelou-se em energia, forte é a feminilidade. O sol do amor masculino se põe na morte, o sol do amor feminino le-vanta-se na ressurreição”2.
reFerências bibliOgráFicas
1 FARIA, Jacir de Freitas. As origens apócrifas do cristianismo: comentário aos evangelhos de Maria Madalena e Tomé. 2. ed. São Pau-lo: Paulinas, 2004. p. 36-41.
2 MERESKOVSKIJ, Dimitri. Morte e ressurrei-ção. In: SEBASTIANI, Lílian. Maria Mada-lena: de personagem do evangelho a mito de pecadora redimida. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 211.
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