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 ENTENDENDO A DOR TORÁCICA Sudbrack SIMPÓSIO SOBRE DIAGNÓSTICO DE DOR TOCICA 28 Revista AMRIGS, Porto Alegre, 46 (1,2): 28-31, jan.-jun. 2002  Não é demais sublinhar que sendo o tórax um local vital, as dores toráci- cas virão sempre acompanhadas de um investimento emocional muito grande, onde paciente e familiares exigem do médico um diagnóstico rápido e um tratamento adequado. Para realizar um diagnóstico preci- so e rápido, além dos exames, o médi- co pode utilizar a semiologia da dor,  já no pr imeiro contato com o paciente, a fim de determinar a estrutura (visce- ral, músculo-esquelética, neuropáti- ca,...) que se encontra em sofrimento, sendo essa a proposta de nossa expla- nação. D OR NOCICEPTIV A VISCERAL A dor visceral difere das dores oriundas de outros tecidos, particu- larmente a pele. Distingue-se da dor cutânea, não somente por sua origem, mas também pelas respostas evoca- das e as sensações produzidas. A dor cutânea é bem localizada e pode ser reproduzida ao toque, ocasionando uma resposta motora reflexa rápida, afastando o estímulo desencade ante. A dor visceral é mal localizada, com uma origem que parece situar-se numa zona cutânea e freqüentemen- te nos tecidos vizinhos profundos (ex.: músculos). Além disso, a dor visceral ocasiona um estado de hipe- ralgesia da pele, dos tecidos profun- dos e respostas emocionais e autôno- mas intensas, assim como contrações musculares tônicas. Entendendo a dor torácica T o understand the chest pain GUILHERME SUDBRACK Médico Anestesiologista, Chefe do Centro de Diagnóstico e Tratamento da Dor do Hospi- tal São Lucas da PUC.  Endereço para correspondência: Guilherme Sudbrack Av. Ipiranga, 6690/609 90610-000 Porto Alegre, RS, Brasil Fone / Fax: (51) 3339-4727  S impósio sobre Diagnóstico de Dor T orácica Para entender a dor torácica, temos  primeiramente que reconhecer a difi- culdade em definir a dor. Segundo a Associação Internacional para o Estu- do da Dor (IASP), “a dor é uma expe- riência sensorial e emocional desagra- dável, associada a uma lesão tecidual  potencial ou real, ou d escrita nos ter- mos de uma tal lesão”. Esta definição, válida para todos os tipos de dores, quaisquer que sejam os mecanismos, causa ou duração, submeteu-se a um adendo concernente à dor crônica: “A dor crônica, definida por uma duração maior que três meses, altera a perso- nalidade do paciente, assim como sua vida familiar, social e profissional”. Analisando os termos da definição pro-  posta pela IASP podemos juntar o seguinte aforismo – “é dor aquilo que o paciente diz ser uma dor”, seja de origem somato-visceral, neuropática ou psicogênica. A dor, inicialmente interpretada como um sinal de alerta, tradução de que alguma coisa de diferente estava ameaçando o organismo, teve nas últi- mas décadas uma melhor compreen- são. Hoje, simplificando, podemos di- zer que a dor possui três mecanismos geradores: 1) excesso de nocicepção somato-visceral (86%), 2) disfunções neurológicas – dor neuropática ou desa- ferentada – alterações das vias nervosas que conduzem, modulam e interpretam a dor (12%), 3) psicogenéticas – oriun- das de alterações psicológ icas – mas res- sentidas no corpo, donde a insistên cia do  paciente nas poliinvestigações, a fim de descobrir a causa e assim solicitar todos os meios para erradicá-la. C ARACTERÍSTICAS DA DOR VISCERAL Estímulos adequados As estruturas cutâneas são inerva- das por receptores sensoriais: nocicep- tores de Sherrington, que só reagem aos estímulos dolorosos e os codifi- cam. Os estímulos apropriados (mecâ- nicos, térmicos, químicos) que ativam esses nociceptores cutâneos e provo- cam dor são bem conhecidos. Os que  provocam as dores viscerais são mal definidos, e não é certo que todas as vísceras são capazes de produzir dor. Inversamente às estruturas cutâneas, que são bastante homogêneas, as vís- ceras possuem estruturas e funções di- ferentes. As vísceras maciças, como o fígado, o pâncreas e o baço, são prati- camente insensíveis. Somente quando suas cápsulas são distendidas (como nos processos tumorais) ou que exista um processo inflamatório parenquima- toso é que aparece dor. A dor prove- niente de vísceras ocas (esôfago, estô- mago, vesícula, intestino, bexiga, etc.) está tipicamente associada a uma dis- tensão luminar, mas dependendo tam-  bém de um processo inflamatório. En- quanto na pele os nociceptores são bem conhecidos (mecanonociceptores, fi-  bras A delta e nociceptores polimodais fibras C), não existe prova formal de suas presenças nas vísceras. Todas as vísceras ocas são inervadas por recep- tores sensitivos que reagem à disten- são mecânica. Eles se repartem em dois grupos, segundo a resposta à disten- são: receptores com baixo limiar de

Entendendo a Dor Torácica

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Entendendo a Dor Torácica

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  • ENTENDENDO A DOR TORCICA Sudbrack SIMPSIO SOBRE DIAGNSTICO DE DOR TORCICA

    28 Revista AMRIGS, Porto Alegre, 46 (1,2): 28-31, jan.-jun. 2002

    No demais sublinhar que sendoo trax um local vital, as dores torci-cas viro sempre acompanhadas de uminvestimento emocional muito grande,onde paciente e familiares exigem domdico um diagnstico rpido e umtratamento adequado.

    Para realizar um diagnstico preci-so e rpido, alm dos exames, o mdi-co pode utilizar a semiologia da dor,j no primeiro contato com o paciente,a fim de determinar a estrutura (visce-ral, msculo-esqueltica, neuropti-ca,...) que se encontra em sofrimento,sendo essa a proposta de nossa expla-nao.

    D OR NOCICEPTIVAVISCERAL

    A dor visceral difere das doresoriundas de outros tecidos, particu-larmente a pele. Distingue-se da dorcutnea, no somente por sua origem,mas tambm pelas respostas evoca-das e as sensaes produzidas. A dorcutnea bem localizada e pode serreproduzida ao toque, ocasionandouma resposta motora reflexa rpida,afastando o estmulo desencadeante.A dor visceral mal localizada, comuma origem que parece situar-senuma zona cutnea e freqentemen-te nos tecidos vizinhos profundos(ex.: msculos). Alm disso, a dorvisceral ocasiona um estado de hipe-ralgesia da pele, dos tecidos profun-dos e respostas emocionais e autno-mas intensas, assim como contraesmusculares tnicas.

    Entendendo a dor torcicaTo understand the chest pain

    GUILHERME SUDBRACKMdico Anestesiologista, Chefe do Centro deDiagnstico e Tratamento da Dor do Hospi-tal So Lucas da PUC.

    Endereo para correspondncia:Guilherme SudbrackAv. Ipiranga, 6690/60990610-000 Porto Alegre, RS, BrasilFone / Fax: (51) 3339-4727

    Simpsio sobre Diagnstico de Dor Torcica

    Para entender a dor torcica, temosprimeiramente que reconhecer a difi-culdade em definir a dor. Segundo aAssociao Internacional para o Estu-do da Dor (IASP), a dor uma expe-rincia sensorial e emocional desagra-dvel, associada a uma leso tecidualpotencial ou real, ou descrita nos ter-mos de uma tal leso. Esta definio,vlida para todos os tipos de dores,quaisquer que sejam os mecanismos,causa ou durao, submeteu-se a umadendo concernente dor crnica: Ador crnica, definida por uma duraomaior que trs meses, altera a perso-nalidade do paciente, assim como suavida familiar, social e profissional.Analisando os termos da definio pro-posta pela IASP podemos juntar oseguinte aforismo dor aquilo queo paciente diz ser uma dor, seja deorigem somato-visceral, neuropticaou psicognica.

    A dor, inicialmente interpretadacomo um sinal de alerta, traduo deque alguma coisa de diferente estavaameaando o organismo, teve nas lti-mas dcadas uma melhor compreen-so. Hoje, simplificando, podemos di-zer que a dor possui trs mecanismosgeradores: 1) excesso de nociceposomato-visceral (86%), 2) disfunesneurolgicas dor neuroptica ou desa-ferentada alteraes das vias nervosasque conduzem, modulam e interpretama dor (12%), 3) psicogenticas oriun-das de alteraes psicolgicas mas res-sentidas no corpo, donde a insistncia dopaciente nas poliinvestigaes, a fimde descobrir a causa e assim solicitartodos os meios para erradic-la.

    C ARACTERSTICAS DADOR VISCERAL

    Estmulos adequados

    As estruturas cutneas so inerva-das por receptores sensoriais: nocicep-tores de Sherrington, que s reagemaos estmulos dolorosos e os codifi-cam. Os estmulos apropriados (mec-nicos, trmicos, qumicos) que ativamesses nociceptores cutneos e provo-cam dor so bem conhecidos. Os queprovocam as dores viscerais so maldefinidos, e no certo que todas asvsceras so capazes de produzir dor.Inversamente s estruturas cutneas,que so bastante homogneas, as vs-ceras possuem estruturas e funes di-ferentes. As vsceras macias, como ofgado, o pncreas e o bao, so prati-camente insensveis. Somente quandosuas cpsulas so distendidas (comonos processos tumorais) ou que existaum processo inflamatrio parenquima-toso que aparece dor. A dor prove-niente de vsceras ocas (esfago, est-mago, vescula, intestino, bexiga, etc.)est tipicamente associada a uma dis-tenso luminar, mas dependendo tam-bm de um processo inflamatrio. En-quanto na pele os nociceptores so bemconhecidos (mecanonociceptores, fi-bras A delta e nociceptores polimodaisfibras C), no existe prova formal desuas presenas nas vsceras. Todas asvsceras ocas so inervadas por recep-tores sensitivos que reagem disten-so mecnica. Eles se repartem em doisgrupos, segundo a resposta disten-so: receptores com baixo limiar de

  • ENTENDENDO A DOR TORCICA Sudbrack SIMPSIO SOBRE DIAGNSTICO DE DOR TORCICA

    Revista AMRIGS, Porto Alegre, 46 (1,2): 28-31, jan.-jun. 2002 29

    ativao (70%), que codificam as inten-sidades dos estmulos numa escala fisio-lgica, isto , reagem a distenses pr-ximas de 0 mmHg, respondendo a est-mulos dolorosos e no dolorosos. Os30% restantes possuem um limiar de res-posta elevado distenso e codificam osestmulos a partir do limiar doloroso.Essas fibras de limiar elevado respondemde forma muito parecida com os noci-ceptores cutneos. preciso dizer queos receptores das vsceras ocas, sejam debaixo ou alto limiar, respondem a outrosestmulos (qumicos e/ou trmicos),como os nociceptores cutneos tipo C.

    Localizao

    A dor visceral, contrariamente dorsomtica, basicamente difusa e dif-cil de ser localizada. Ela se situa fre-qentemente num local diferente daestrutura de origem, porque referidaou projetada em estruturas cutneas. Airradiao para a pele dificulta o diag-nstico topogrfico, tanto para o m-dico como ao paciente. Muitos so osfatores que dificultam a localizao deuma dor visceral. Primeiro, os nervosaferentes das vsceras para o sistemanervoso central so menos numerososque os da pele. Representam 2 a 15%de todos os nervos que chegam me-dula. Essa porcentagem no propor-cional ao nmero de neurnios espi-nhais que respondem a estmulos vis-cerais, estimado em 50 a 75%. Essadisparidade explicada pela distribui-o intramedular das aferentes visce-rais: atingem um nmero maior de mi-elmeros, que as aferentes cutneas.

    Segundo, as aferentes viscerais es-pinhais convergem para os mesmosneurnios de segunda ordem que asaferentes cutneas mais numerosas emenos dispersas. Isso quer dizer quetodos os neurnios de segunda ordemque recebem estmulos viscerais rece-bem tambm estmulos cutneos. In-versamente, todos os neurnios de se-gunda ordem que recebem estmuloscutneos no recebem obrigatoriamen-te estmulos viscerais. Por exemplo, amaioria ou quase a totalidade dos neu-rnios medulares torcicos que rece-

    bem estmulos cardacos recebem tam-bm influxos provindos da pele, ms-culos, articulaes,... do hemitrax es-querdo, mas tambm do brao, do es-fago e vescula. Por isso, uma dororiunda do esfago ou da vescula freqentemente confundida, pelo m-dico e doente, como uma dor cardaca.Da mesma maneira, os neurnios lom-bossacrais recebem, alm dos estmu-los do clon, da bexiga e dos genitais,aferentes da pele periumbilical e semdvida dos msculos. Logo, a locali-zao da dor visceral difcil, porque:1 as fibras viscerais aferentes sopouco numerosas e dispersas na me-dula; 2 a convergncia vscero-som-tica e vscero-visceral caractersticados neurnios espinhais que recebemestmulos viscerais.

    Respostas autnomas dorvisceral

    A dor visceral provoca, geralmen-te, reflexos autnomos e/ou motoresmais importantes do que os desenca-deados por uma dor cutnea. Existe umaumento do tnus muscular e modifi-caes da respirao, da freqnciacardaca e da presso arterial. Tambmse considera que a dor visceral acarre-ta respostas emocionais mais intensasdo que dor somtica.

    Hiperalgesia distncia

    A dor visceral est freqentementeassociada a um aumento da sensibilida-de cutnea na zona de irradiao e/ouprojeo. Este fato j era relatado h maisde 100 anos nos casos de angina do pei-to. Recentemente, foi comprovado ex-perimentalmente que uma hiperalgesiacutnea aparece aps um estmulo vis-ceral doloroso e que a mesma no diferedaquela associada s leses cutneas.

    Estmulos viscerais naturais

    Certos estmulos so conhecidospor ocasionarem dores, que so:

    distenso de vsceras ocas

    inflamao espasmo muscular trao dos mesos isquemia

    D OR NOCICEPTIVASOMTICA

    Esta dor o resultado da excitabi-lidade das terminaes nociceptivassomticas. O que pode ser realizadopor um estmulo sem leso tecidual(pinamento, belisco, descarga eltri-ca, ...), nesse caso, sem alterar o fun-cionamento das vias nociceptivas, pro-voca uma dor breve sem reao gene-ralizada importante, deixando apenasuma lembrana dolorosa, que na maio-ria das vezes serve como condiciona-mento educacional. Nas dores com le-so tecidual aguda (queimaduras, fra-turas, feridas operatrias, ...) ou crni-ca (cncer em evoluo, artrite, ...) apa-recem sinais de hiperalgesia que tra-duzem uma sensibilizao perifricaou central. Numa viso semiolgica,apesar das diferentes causas patolgi-cas, todas as dores nociceptivas som-ticas possuem certas caractersticascomuns:

    A dor localiza-se no foco da leso eaumenta de intensidade pela mobili-zao, trao ou presso do mesmo.

    A dor, quando muito intensa, seacompanha de fenmenos neurove-getativos e induz a uma insnia.

    O paciente encontra com facilida-de as palavras para descrever o as-pecto sensorial, pois todos se con-frontaram com dores somticas no-ciceptivas no decorrer de suas vidas.

    Elas aliviam satisfatoriamente comanalgsicos, centrais ou perifricos,desde que adaptados intensidade.

    So capazes de desaparecerem tran-sitoriamente com bloqueios anes-tsicos realizados no foco desenca-deante (teste teraputico).

    D OR NEUROPTICAResulta de uma alterao das vias

    nociceptivas consecutiva a uma leso

  • ENTENDENDO A DOR TORCICA Sudbrack SIMPSIO SOBRE DIAGNSTICO DE DOR TORCICA

    30 Revista AMRIGS, Porto Alegre, 46 (1,2): 28-31, jan.-jun. 2002

    e/ou irritao de qualquer um de seusconstituintes. Existem assim dores neu-ropticas devidas a uma leso/irritaodos nervos perifricos, cuja origempode ser traumtica, txica, metabli-ca, isqumica, imuno-alrgica, infec-ciosa.

    Essas mesmas causas podem afe-tar a medula espinhal ou os centrossuperiores, dando origem a dores neu-ropticas centrais. Na clnica, mesmoexistindo neurites de evoluo aguda(ex.: herpes zoster) e correspondam auma dor nociceptiva do nervo, a maio-ria das dores neuropticas possuemuma certa cronicidade. Certas caracte-rsticas semiolgicas evocam desde oprincpio uma dor neuroptica:

    A dor essencialmente ressentidano territrio do nervo em causa, oque chamamos de dor projetada.

    A dor, s vezes, pode ultrapassaresse territrio e se estender segun-do uma topografia em quadranteque segue a distribuio do siste-ma nervoso simptico.

    A palpao no local da leso ner-vosa, desde que possvel, provocasensaes anormais, s vezes pro-jetadas no territrio do nervo, tra-duzindo o clssico sinal de Tinel.

    As dores so contnuas e/ou asso-ciadas a crises paroxsticas espon-tneas ou provocadas pelos movi-mentos, o estresse, a fadiga, ...

    Os termos mais usados pelos pa-cientes so: ardncia, queimao,cibras, formigamento, descargaseltricas, choques, ... associados aum carter emocional intenso (fa-tigante, esgotamento, deprimente,enervante, angustiante, ...).

    A dor por desaferentao nervosadificilmente acorda o paciente noite, enquanto a dor vscero-som-tica desperta o paciente freqente-mente.

    O territrio doloroso pode ser lo-cal de sinais neurolgicos deficit-rios que testemunham o grau de le-so, indo da hipoestesia aneste-sia.

    Existe com freqncia uma alodi-nia (dor provocada por um estmu-

    lo sabidamente indolor) desenca-deada por estimulaes mecnicas,tteis, trmicas, ... normalmente nodolorosas.

    Podem responder aos estmulos re-petidos com hiperalgesia e hiperpa-tia, fazendo com que a dor perma-nea intensa mesmo aps o trmi-no dos mesmos.

    So praticamente insensveis aosanalgsicos habituais, mas respon-dem bem aos psicotrpicos, anti-convulsivantes e antagonistas dosaminocidos excitadores.

    D ORES PSICOGNICASCorrespondem a todas as dores res-

    sentidas e expressadas pelos pacientesque no podem ser explicadas por ne-nhuma leso ou disfuno orgnica.

    Devemos ter presente que patolo-gias raras, desconhecidas pelo mdi-co, que no aparecem nos exames com-plementares, assim como as patologiasqualificadas de funcionais (dores ab-dominais recorrentes, cefalias, ...) queentram no tpico de afeces psicos-somticas, podem ser a traduo deuma diminuio do limiar doloroso ouuma hiper-reao a um conflito emo-cional potencial.

    Numa autntica psicopatologia, asqueixas dolorosas fazem parte essen-cial:

    Do discurso histrico, que no falade seu corpo, mas atravs de seucorpo.

    Do hipocondraco, que se serve deseu corpo como possvel intruso emsua rea psquica.

    Do depressivo, cujo corpo doloro-so transmite a tristeza de sua vida.

    Pacientes com antecedentes demaus-tratos na infncia, com falha nar-csea, podem levar certos adultos a uti-lizar a dor como meio de relao. Umaboa orientao diagnstica de umaafeco dolorosa psicognica comeacom o paciente valorizando o aspectoemocional mais do que o aspecto sen-sorial.

    Situaes difceis ocorrem quandocoexiste uma leso orgnica e uma psi-copatologia latente que descompensaaps um evento traumtico.

    Todas as dores psicognicas queevocamos evoluem de maneira crni-ca, assim como nas dores neuropti-cas, e essa cronicidade, qualquer queseja a causa, possui uma interfernciana personalidade dos pacientes.

    Compete ao mdico entender as quei-xas separando o orgnico do emocional,evitando assim a angstia dos erros diag-nsticos e dos fracassos teraputicos, afim de bem encaminhar, acompanhare aliviar o sofrimento dos pacientescom alteraes psicopatolgicas.

    C ONCLUSOO clnico geral seguidamente con-

    frontado a dores torcicas, seja numcontexto de urgncia, seja em situaesatpicas. Essas queixas dolorosas notrax possuem um carter angustiantepara o paciente, que tem medo de umaameaa vital. A anlise semiolgicapermite estabelecer, na maioria dasvezes, um diagnstico, mas para isso necessrio um bom conhecimento dasdores, a fim de distinguir o que fun-cional e o que orgnico. Lembrar que:

    A distribuio das terminaes ner-vosas (nociceptores) desigual,numerosas a nvel cutneo, bastan-te numerosas nos tecidos profundose pouco numerosas ao nvel das vs-ceras.

    O miocrdio insensvel a uma pi-cada e que, durante uma isquemia,so os metablitos produzidos pelosofrimento celular que excitam osnociceptores repartidos de manei-ra esparsa ao longo dos vasos co-ronarianos, articos e carotdeos.

    Durante um espasmo de uma vs-cera oca, por exemplo, o esfago,insensvel a um estmulo localiza-do, o estiramento das fibras mus-culares subjacentes que provocama sensao dolorosa.

    Os msculos, as serosas pleurais epericrdicas so levemente insen-

  • ENTENDENDO A DOR TORCICA Sudbrack SIMPSIO SOBRE DIAGNSTICO DE DOR TORCICA

    Revista AMRIGS, Porto Alegre, 46 (1,2): 28-31, jan.-jun. 2002 31

    sveis a um estmulo localizado,mas bem sensveis aos estiramen-tos e reaes inflamatrias.

    A integrao cerebral da dor bemprecisa a nvel cutneo, mas perma-nece aproximativa para os rgosprofundos, tais como o corao,grandes vasos e esfago.

    As aferentes nervosas oriundas deuma vscera intratorcica se dirigema diversos segmentos medularesque recebem tambm informaesde outros rgos, fazendo com queo sofrimento de uma estrutura in-tratorcica possa ser ressentido forado trax e que rgos extratorcicospossam causar uma dor torcica.

    R EREFNCIASBIBLIOGRFICAS

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