30
Entre 1857 e 1869, L.C.F. Förster (1797- 1863), entre outros, conduziu uma ampla reforma urbana em Viena, esta baseada principalmente na demolição das antigas muralhas da cidade e construção da Ringstrasse, uma rua circular ligando novas e modernas instituições políticas e culturais. Núcleo medieval de Viena

Entre 1857 e 1869, L.C.F. Förster (1797- 1863), entre ... Ben –Houses of ... e sendo tombado patrimônio da humanidade. Familistério de Guise (1859) O inglês James S. Buckingham

Embed Size (px)

Citation preview

Entre 1857 e 1869, L.C.F. Förster (1797-1863), entre outros,

conduziu uma ampla reforma urbana em Viena, esta baseada principalmente na

demolição das antigas muralhas da cidade e

construção da Ringstrasse, uma rua

circular ligando novas e modernas instituições políticas e culturais.

Núcleo medievalde Viena

Em Barcelona, Ildefons Cerdà (1815-76) propôs um plano de expansão urbana (Eixample), de forte caráter estrutural, baseado em uma inovadora

proposta de distribuição e ocupação de quadras por espaços públicos, implementada entre 1859 e 1870.

Em Londres, as reformas urbanas acompanharam todos os prósperos anos

do reinado da Rainha Vitória, entre 1837 e 1901.

O Parlamento britânico, cujos edifícios foram

construídos entre 1840 e 1852, chegou a ter

encerradas as suas atividades devido ao

mau-cheiro do rio Tâmisa, o que levou a medidas

urgentes de saneamento.Big Ben – Houses of Parliament

(1840/52, Londres GB)C. Barry (1795-1860) &

A. W. N. Pugin (1812-52)

Em 1863, iniciaram-se as operações do primeiro

Metropolitan Railway e, em 1870, construiu-se o conjunto do Peabody Buildings, destinado a

abrigar pobres.

O sistema ferroviário e metroviário londrino foi

complementado por uma ampla rede de bondes e

ônibus, permitindo a expansão dos bairros e a

concentração de empregos terciários na velha City.

Passageiros da 3a. Classe (1870)Gustave Doré (1832-83)

Peabody

Buildings (1870)

Em 1889, formou-se o LONDON COUNTY COUNCIL –LCC, responsável pela criação dos primeiros

conjuntos proletários de moradia (os boroughs), iniciados a partir de 1891, em contraposição aos

subúrbios burgueses de habitação individual, o que ampliou em extensão a capital britânica.

Socialismo Utópico

No século XIX, diante da situação crítica das cidades industriais, surgiram várias obras

hipotéticas, de cunho essencialmente utópico, que se propunham como soluções urbanas.

Propostas por generalistas – historiadores, economistas e políticos –, a maioria desses modelos acreditava no restabelecimento da

“ordem”, abandonando-se a cidade e voltando-se a viver nostalgicamente no campo.

A importância desses pré-urbanistas ou

socialistas utópicosestava no fato de que,

pela primeira vez na História, tinha-se uma

visão integrada do significado que havia

entre as relações sociais e as questões da estruturação física dos espaços urbanos.

Robert Owen(1771-1858)

Comte de Saint-Simon(1760-1825)

Jean-BaptisteGodin (1817-88)

Apesar de algumas tentativas de aplicação

prática, tais modelos não passaram de utopia,

inclusive por proporem a intervenção não só na

distribuição de riquezas dentro da sociedade,

como também na vida em família, por exemplo, com a divisão por sexo e idade.

Falanstério (1829)Charles Fourier (1772-1837)

Desavenças entreicarianos

Além disso, acreditava-se que a iniciativa partiria do próprio

empresariado; ou se defendia a destruição

das máquinas, o abandono da indústria

e o retorno às atividades agrícolas

(CHOAY, 1998), o que gerava duas categorias de PRÉ-URBANISMO:

PROGRESSISMO: que se voltava para o futuro, aceitando a industrialização como chave dos tempos modernos, em uma atitude descritiva;

CULTURALISMO:que se voltava ao passado, negando a indústria e apontando a máquina como fator causador do desaparecimento de um “mundo melhor”.

Pré-Urbanismo Progressista

Claude Henri de Rouvroy, o Comte de Saint-Simon

(1760- 1825), escreveu uma série de textos entre 1807 e

1821, em que previa uma nova sociedade, somente formada por cientistas e industriais; resultado do

avanço futuro da ciência, o qual promoveria uma

mudança político-social, além da moral e da religião.

Reunião desaintsimonianos

Embora abolindo a propriedade privada, seu modelo mantinha a idéia

de uma sociedade totalmente hierarquizada,

que funcionaria como uma imensa fábrica.

Mesmo de concepção anti-igualitária e

antidemocrática, o SAINTSIMONISMO defendia um “novo

cristianismo” que teria como imperativos a

fraternidade e a justiça social.

Engenheiros

Artistas e Cientistas

Trabalhadores Responsáveis

pela execução dos inventos

Diretores de Indústria e Produção

Robert Owen (1771-1858)foi um empresário galês

que elaborou um sistema baseado na cooperação

mútua e na autogestão de bens, em Uma nova visão da sociedade (1813), que

defendia a idéia de se reconstruir o ambiente

urbano a serviço do homem, antes de se pensar em qualquer

vantagem econômica ou política.

Algodoeira deNew Lanark, Escócia

Owen imaginou um modelo de convivência de 300 a 2.000 pessoas, em que moradias comunais seriam agrupadas ao redor de um grande espaço aberto e

ajardinado. Ao lado, ficariam a fábrica e as oficinas; e, além de uma estrada, um cinturão agrícola

circundaria todo o conjunto. Em 1824, fundou a colônia de NEW HARMONY, em Indiana EUA.

Charles Fourier (1772-1837)foi um comerciante francês

que, em O novo mundo industrial e societário

(1829), entre outras obras, desenvolveu a cidade ideal LA FALANGE, que deveria ser implantada em anéis

concêntricos, partindo de um núcleo comercial e

administrativo, circundado pela área industrial e esta,

por sua vez, pelo setor agrícola.

La Falange (1829)

Prevista para 1.600 pessoas, sua comunidade pode ser definida como um modelo de habitação coletiva

– o PHALANSTÈRE ou “palácio social” –, junto a oficinas-modelo e construções rurais-tipo, que

funcionaria segundo um sistema filosófico-político que previa um estado de harmonia universal,

alcançado pela satisfação de „paixões‟ naturais.

Modelo do Falanstério (1829)Charles Fourier (1772-1837)

Jean-Baptiste André Godin (1817-88) foi um fabricante de fogões e aquecedores, que em

1859 implantou em Guise, França, uma

oficina metalúrgica que, diversamente da vida comunitária e caráter agrícola do modelo de

Fourier, optou pelo regate da vida familiar e

serviços que facilitassem a convivência social,

priorizando a indústria. Jean-BaptisteAndré Godin

(1817-88)

O FAMILISTÈRE de Guise era uma redução do modelo

fourierista composta por um edifício igualmente

formado por três blocos fechados, mas com pátios menores e cobertos por

vidros, desempenhando as funções das rues

intérieures.

De cooperativa de operários, transformou-se em sociedade anônima em 1968, hoje com 300 famílias

e sendo tombado patrimônio da humanidade.

Familistériode Guise (1859)

O inglês James S. Buckingham (1786-1855)publicou em 1849 Males

nacionais e medidas práticas com um plano de uma cidade-modelo, em que propunha um

novo modelo de cidade a ser repetido em série

para combater o desemprego britânico,

onde priorizava a ordem, o espaço e a higiene :

VICTORIA, depois rebatizada de QUEEN.

Destinada a abrigar 10.000 pessoas, VICTORIA seria

um quadrado de uma milha de lado, com casas

dispostas em 7 fileiras concêntricas: no centro

ficaria a classe alta, enquanto os operários viveriam na periferia, próximos às fábricas.

Os estilos das edificações seguiriam a diferença entre

as classes e estavam previstos todos os tipos de serviço social, além de uma torre de 300 pés de altura,

que iluminaria toda a cidade da praça central.

Plano de Victoria (1849)James Silk Buckingham

(1786-1855)

Etienne Cabet (1788-1856)lançou em 1842 Viagem à Icaria, onde apresentava

uma nação utópica dividida em 100 províncias, cada

qual com 10 distritos municipais e estes com uma

capital projetada em seu centro.

Uma dela, ICARIA, seria uma metrópole, dividida por

um rio retilíneo, com uma ilha no meio, formada por

uma retícula de ruas amplas e quarteirões com 15 casas

iguais, rodeada por dois anéis concêntricos de boulevares e jardins. Etienne Cabet (1788-1856)

Acreditando na propriedade comunal, na divisão eqüitativa do produto do trabalho e na uniformização

da vestimenta, Cabet mudou-se para os EUA, em 1848, fundando uma colônia em NAUVOO, Illinois, com 500 imigrantes. Houve brigas e desavenças,

mas a colônia conseguiu resistir até 1855.

Etienne Cabet

(1788-1856)

Pierre-Joseph Proudhon (1809-63) foi o francês

precursor do ANARQUISMOou comunismo libertário; um movimento ideológico

baseado na rejeição à autoridade e exigência da

liberdade.

Para ele, a posse individual da propriedade era a

garantia essencial para a existência da sociedade livre, mas sem excessos,

defendendo a luta contra o passadismo, a

racionalização das formas de comportamento e o papel da indústria na nova cidade.

Pré-Urbanismo Culturalista

Karl Marx (1818-83) & Friedrich Engels (1828-

95) foram os pensadores alemães que procuraram passar o socialismo da

utopia à ciência, criticando os utopistas

socialistas em seu Manifesto Comunista

(1848), acusando-os de não proporem meios

adequados para alcançar a sociedade ideal. Karl Marx

(1818-83)

FriedrichEngels

(1828-95)

Os escritos de Marx & Engels introduziram reivindicações futuras, como a supressão da

oposição entre campo e cidade e o fim da propriedade privada e do trabalho assalariado; e, embora aquém do dinamismo da realidade,

suas ações tiveram importante papel na tomada de consciência política pelo proletariado.

Fundaram o COMUNISMO CIENTÍFICO, que consiste na realização daqueles objetivos no

marco histórico concreto (material). Negaram-se porém a profetizar acerca da futura sociedade comunista ou a estabelecer modelos de utopia.

John Ruskin (1819-1900)foi um escritor e esteta

inglês que escreveu, entre 1848 e 1871, uma série de livros, em que defendia o

resgate da Idade Média, que considerava mais autêntica

que a Renascença.

Atacando a máquina, a causa principal da

“degenerescência” da arte de seu tempo; apoiou o artesanato, propondo

iniciar a reforma do sistema socioeconômico a partir da

renovação das artes plásticas.

John Ruskin(1819-1900)

O maior discípulo de Ruskin, William

Morris(1834-96) foi um artista e ativista inglês que contribuiu para a renovação das artes

decorativas a partir de sua ação prática em

defesa do artesanato, lutando contra a

ausência de sentido de unidade artística.

Através de sua firma, fundada em 1861,

impulsionou o chamado ARTS & CRAFTS

MOVEMENT.

WilliamMorris

(1834-96)

Brother Rabbit

wallpaper

(1882)

Os participantes do Arts & Crafts chegaram à conclusão de que era quase impossível que a produção artística artesanal fosse barata, pois

somente seria possível baixar preços à custa da desvalorização da vida e do trabalho humano.

Mesmo assim contribuíram para um design mais unitário e funcional, prenunciando o MODERNO.

Marigoldwallpaper (1875)William Morris(1834-96)

Newplace House(1897, Surrey GB)Charles F. A. Voysey(1857-1941)

C.R. Ashbee(1863-1942)Crafts

Conclusão

As rápidas transformações decorrentes do industrialismo levaram uma nova e inédita condição às cidades ocidentais, as quais

passaram a ser alvo da inquietação científica que basicamente originou os estudos urbanos.

Durante todo o século XIX, tanto modelos utópicos de sociedades e cidades ideais como

ações práticas que envolveram legislações específicas e grandes reformas urbanas

antecederam o URBANISMO MODERNO.

Já em meados do século XIX, os

urbanistas foram convocados a solucionar os

problemas da cidade industrial, tanto na

Europa como nos EUA, resultando em modelos

urbanos, o que fez nascer a partir daí uma série de experiências

de serviram de base ao PLANEJAMENTO

URBANO moderno.

Expansão de Paris(Sécs. XVI-XX)

BibliografiaBENÉVOLO, L. História da arquitetura moderna. 3a. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.

_____. As origens da urbanística moderna. Lisboa: Presença, 1994. 172p.

CHOAY, F. O urbanismo: utopias e realidade. São Paulo: Perspectiva, Col. Estudos, n. 67, 1998.

GOITIA, F. C. Breve história do urbanismo. 4a. ed. Lisboa: Presença, 1996.

GUIMARÃES, P. P. Configuração urbana: evolução, avaliação, planejamento e urbanização. São Paulo: ProLivros, , 2004.

HAROUEL, J. L. História do urbanismo. 2a. ed. Campinas: Papirus, Col. Ofício de Arte e Forma, 1998.