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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CAMPUS DE ERECHIM ÊMILE JANE PICCOLI ENTRE A CEGUEIRA E A LUCIDEZ: ENSAIOS SOBRE O HOMEM DUPLICADO. ERECHIM 2011

ENTRE A CEGUEIRA E A LUCIDEZ: ENSAIOS … · consistente e que se caracterize por ser de caráter bibliográfico. Nasceu do desejo de uma estudante de entender um pouco ... valor

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – CAMPUS DE ERECHIM

ÊMILE JANE PICCOLI

ENTRE A CEGUEIRA E A LUCIDEZ: ENSAIOS SOBRE O

HOMEM DUPLICADO.

ERECHIM 2011

ÊMILE JANE PICCOLI

ENTRE A CEGUEIRA E A LUCIDEZ: ENSAIOS SOBRE O

HOMEM DUPLICADO.

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Letras, Departamento de Linguística, Letras e Artes da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. Orientadora: Profª. Dra. Lionira M. G. Komosinski

ERECHIM 2011

À Lindamara, minha mãe, por ter a coragem de ser quem é, a ousadia de sê-

lo propositalmente, e por incentivar-me, sempre, a fazer o mesmo.

Aos meus pequenos irmãos, Leonardo e Ana Laura, amores eternos na

efemeridade da existência...

Ao meu querido nono Luizinho, para sempre criança, que sorria com os olhos

e pensava com o coração...

Agradeço à turma de Letras/2008 da URI–

Campus de Erechim, da qual tenho

orgulho de fazer parte, por ser sinônimo

de amizade e solo fértil para construção

de conhecimentos.

“Por trás da luta entre opostos, segundo

certas normas, existe uma oculta

harmonia ou afinação, que é o mundo.”

(HERÁCLITO DE ÉFESO, século VI a.C.)

“Com seus princípios, quer-se tiranizar ou

justificar ou honrar ou insultar ou ocultar

seus hábitos: - é provável que dois

homens com princípios idênticos queiram

com eles algo fundamentalmente

diferente.”

(NIETZSCHE, 1884-1900)

“Será possível imaginar algo mais ridículo

do que essa miserável criatura, que nem

sequer é dona de si mesma, que está

exposta a todos os desastres e se

proclama senhora do universo?”

(MONTAIGNE, 1533-1592)

“Se o homem é formado pelas

circunstâncias, é preciso formar as

circunstâncias humanamente”.

(MARX, 1818-1883)

“[...] porque do chão só devemos querer o

alimento e aceitar a sepultura, nunca a

resignação."

(SARAMAGO, 1981)

RESUMO

A literatura como expressão do pensamento consciente, como lugar comum das questões sociais. É a essa atitude que José Saramago dedicou sua carreira a partir dos anos noventa: uma literatura engajada, profícua, na qual os romances Ensaio sobre a cegueira, Ensaio sobre a lucidez e O homem duplicado se encontram inseridos, sob uma perspectiva pós-moderna que, na concepção de Linda Hutcheon, é cúmplice e delatora do meio em que habita. E por estar envolvida no que pretende contestar, essa tarefa torna-se, por vezes, perigosa, posto que a iluminação mental através da consciência nem sempre seja bem quista nos sistemas sociais. Escrever como forma de expor pensamentos, compartilhar opiniões, ensaiar a existência: nisso consiste o valor da pós-modernidade, nisso se dá o conflito entre a cegueira e a lucidez.

Palavras – chave: Ensaio. Alegoria. Saramago. Hutcheon. Retrato.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................... 8

1. SARAMAGO: CIDADÃO DO MUNDO ............................................ 10

1.1 ERA UMA VEZ...SARAMAGO: .........................................................................10

1.2 PECULIARIDADES DA ESCRITA SARAMAGUIANA: DA ORALIDADE AO

COMPROMISSO SOCIAL.......................................................................................11

1.3 SOBRE A CEGUEIRA, A LUCIDEZ E O HOMEM DUPLICADO: RESUMOS ..13

1.3.1 Ensaio sobre a cegueira ..............................................................................13

1.3.2 Ensaio sobre a lucidez .................................................................................13

1.3.3 O homem duplicado .....................................................................................14

2. PÓS-MODERNIDADE .................................................................... 15

2.1 UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA .................................................................15

2.1.1 Pós-modernismo: desconstruindo pré-conceitos, buscando

esclarecimentos ....................................................................................................15

2.1.2 A escrita pós-moderna: indagações e inquietudes no limiar da

consciência ............................................................................................................18

2.2 ENSAIO: UMA FALA ESTRITAMENTE PESSOAL ...........................................20

2.2.1 O literal edificado em entrelinhas: alegoria, além dos limites da arte .....21

3. UM OLHAR ATENTO ...................................................................... 23

3.1 A VISÃO SARAMAGUIANA DO HOMEM PÓS-MODERNO: UM RETRATO

SOB PESRPECTIVAS PRÓPRIAS .........................................................................23

3.2 ENTRE A CEGUEIRA E A LUCIDEZ: ENSAIOS SOBRE O HOMEM

DUPLICADO ...........................................................................................................31

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 36

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INTRODUÇÃO

O estudo do comportamento do homem pós-moderno visa à

compreensão de sua mentalidade e a consequência de suas atitudes na formação

do meio social, principalmente no que concerne à construção de uma identidade que

se sobreponha à generalização.

Nesta pesquisa, pretende-se traçar um perfil literário deste homem pós-

moderno enquanto sujeito de ações e reações, a partir da visão de Saramago

retratada nos romances Ensaio sobre a cegueira, Ensaio sobre a lucidez e O homem

duplicado.

Para isso, conhecer o escritor e seu modo narrativo, esclarecer a ideia de

pós-moderno, com base na escritora Linda Hutcheon e no que o próprio autor dos

livros nos diz, definir um conceito de romance pós-moderno e sua função, falar sobre

o que são o ensaio e a alegoria e conceber a visão saramaguiana sobre a sociedade

pós-moderna faz-se imprescindível para que ocorra a construção de um trabalho

consistente e que se caracterize por ser de caráter bibliográfico.

Nasceu do desejo de uma estudante de entender um pouco sobre o

pensamento daquele que é, indiscutivelmente, um dos melhores escritores de nossa

Língua Portuguesa e, ainda assim, tão mal compreendido na maioria de suas

concepções. Embora não compartilhe cegamente de suas ideologias, posso afirmar

que, desde que tive contato com sua obra pela primeira vez, há dois anos, o modo

como entendo a literatura e sua função na sociedade, se é que de verdade a tem,

transformou-se.

E, sinceramente, espero que este trabalho, tendo sido como um divisor de

águas de meu pensamento, seja também, de certa forma, não só útil, mas

verdadeiramente esclarecedor na busca por entendimentos, por mínimos que sejam

destas três obras que considero tão importantes na formação de um caráter

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questionador, não no concernente a seu intuito pedagogizante, posto que ele não

exista, mas em seu caráter didático, como forma de despertar de consciências.

Sem nenhuma pretensão de ser autoridade no assunto, apresento um

pouco daquilo que entendo como relevante nesta minha busca por esclarecimentos,

conhecimentos e novos significados, apaixonada pela literatura que sou...

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1 SARAMAGO: CIDADÃO DO MUNDO.

1.1 ERA UMA VEZ... SARAMAGO.

“Aonde vai o escritor, vai o cidadão”, costumava dizer o português nascido

José de Sousa (1922 – 2010) e que, por intervenção de um destino caprichoso sob a

forma de um escrivão mal intencionado, também veio a chamar-se Saramago,

apelido de sua família na pequena Azinhaga, região do Alentejo, Golegã, onde

moravam, e que, por ironia, é o mesmo nome de uma erva ruim, que se alastra

facilmente e em abundância.

Assim ficou mundialmente conhecido, por ocasião da atribuição do prêmio

Nobel, em 1998: um escritor autodidata, um homem forjado pelas circunstâncias,

neto de camponeses e sem grandes ambições (era serralheiro mecânico).

Fez-se cidadão do mundo por meio de sua arte literária, cuja temática deu-se,

constantemente, nas entrelinhas históricas, tendo produção literária intensa ainda

que tardia (inicia a carreira propriamente dita aos cinquenta e três anos), mas,

indiscutivelmente, notória.

Saramago era um homem ético em sua simplicidade, de atitudes francas e

pensamento complexo, que buscava, por meio da escrita, seu trabalho, criar uma

consciência coletiva do ser e sua função social que para ele era, antes de tudo,

humanitária.

Ao longo de sua vida teve a mais variada gama de ocupações: foi do

tecnicismo para a glória artística e, como pessoa transparente que era, reconhecia

que esta sua formação profissional foi o que, de fato, moldou sua vocação, quando

dizia: “a inspiração é só o esqueleto de uma ideia; o trabalho e a disciplina são o que

formam o corpo desse esqueleto” (AGUILERA, 2010, p.204), complementando com

ironia, sua marca registrada, que “o escritor é um pobre-diabo que trabalha” (Id. Ibid,

p.210).

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Um ativista literário, ser comprometido com as causas da humanidade,

prezando o direito à liberdade de pensamento; José de Sousa Saramago, o neto de

Jerónimo Melrinho, criador de porcos e, a seu ver “a pessoa mais sábia que

conhecia”, tornou-se um dos maiores expoentes da literatura portuguesa

contemporânea e uma personalidade de grande influência no cenário mundial.

Palavras suas: “Embora eu não faça da literatura panfletos, nunca fiz,

qualquer leitor atento perceberá, numa leitura de um romance meu, o que é que eu

penso sobre o mundo, sobre a vida, sobre a sociedade.” (AGUILERA, 2010, p.208).

E é sobre o homem Saramago, sujeito de ações e reações sociais e sua

forma de escrever, ao mesmo tempo encantadora e pungente, que esta monografia

se pôs, modestamente, a tratar.

1.2 PECULIARIDADES DA ESCRITA SARAMAGUIANA: DA ORALIDADE AO

COMPROMISSO SOCIAL.

“Ninguém é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver

decidido dizê-las de determinado modo. E o estilo, decerto, é o que determina o

valor da prosa.” (SARTRE, 1999, p.22).

José Saramago, a partir de Levantado do Chão (1980), criou um estilo

notoriamente dotado de particularidades, concebendo a escrita como sendo algo

inerente da oralidade e, por isso mesmo, usando um tom de conversa que visava à

aproximação, no intuito de tornar a relação autor/obra/leitor uma relação de intensa

interação, de reciprocidade.

Prova disso é a ausência de preocupação com a pontuação, tal qual a

conhecemos e praticamos culturalmente, usando vírgulas e pontos como bem lhe

aprouvessem, conforme o sentido que queria dar ao que escrevia, mostrando que

seu “comportamento de escritor não se subordinou nunca a preceitos, a regras de

escola” (AGUILERA, 2010, p.198), fazendo com que o leitor esteja sempre atento.

“O leitor de meus livros deverá ler como se estivesse a ouvir dentro da sua cabeça

uma voz dizendo o que está escrito.” (Id. Ibid, p.327).

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Essa oralidade estilística acrescenta fluidez ao texto, pois segundo Saramago

dizia: “A fala compõe-se de sons e pausas – nada mais” (AGUILERA, 2010, p.238),

fazendo conexões com a música, ao proferir

O que tento é conduzir meu relato como se fosse uma orquestra. [...] não é uma soma de palavras, é uma integração, como o som que uma orquestra produz, no qual podes identificar de onde vem cada um, a sensação de diversidade, ao mesmo tempo em que aquilo é uma unidade. (AGUILERA, 2010, p. 237-238).

José, certa feita, disse que “o escritor é um homem de seu tempo ou não”,

que apenas transforma seu trabalho “em ação política ou omissão” (AGUILERA,

2010, p.192), querendo com isto dizer que a literatura, a seu modo, não passa de

um trabalho como outro qualquer, sujeito à disciplina, pois para ele escrever não era

só inspiração, mas verdadeira labuta, propensa à rotina, embora, indiscutivelmente,

reconhecesse que quem escreve não está isento de apresentar em seu discurso as

ideologias que regem sua própria existência, pois pessoa e escritor são, a seu ver,

indissociáveis.

Saramago acreditava que a literatura não tinha função social obrigatória ainda

que, por vezes, excedesse a arte. Segundo sua concepção, a mesma, sozinha, não

seria fator de transformação da sociedade, antes seu reflexo, agindo como

denúncia, nunca doutrina, pois supunha que “nada do que entra em um livro vem de

outro lugar que não seja este mundo” (AGUILERA, 2010, p.182), e que o papel de

sujeito atuante, compromissado, cabe unicamente à pessoa que é o escritor,

inserida nesta mesma sociedade, a qual influenciará sua vida real.

Então a literatura seria um eterno faz de conta, algo estranho ao seu autor?

Obviamente, não. O que de verdade ela nos traz, segundo o que Saramago

acreditava, é a oportunidade de pensar e repensar uma realidade que é múltipla e,

nem sempre, justa. Em uma de suas entrevistas (AGUILERA, 2010, p.186), José,

citando Kafka, a quem muito admirava, dá-lhe razão quando este dizia que não era

válido escrever algo, se esta escrita não tivesse a mesma “função de um machado,

rompendo o mar gelado da consciência, cheio de superstições e preconceitos,” os

quais atravancam o progresso social.

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Se “as palavras trazem a sabedoria do vivido” (AGUILERA, 2010, p.189), ser

escritor não é meramente contar histórias, “é mais uma atitude perante a vida, uma

intervenção” (Id, Ibid, p. 191), pois “o livro é como um espelho, o que mais se

aproxima do que somos - e provavelmente é a expressão mais fiel àquilo que somos

em cada momento (...)” (Id. Ibid, p.199).

Assim sendo, tomaremos conhecimento sobre os livros dos quais trata este

trabalho monográfico, comprovando a „teoria do espelho‟ saramaguiana, mostrando

que Ensaio sobre a cegueira, Ensaio sobre a lucidez e O homem duplicado somos

todos nós, em algum momento da nossa história, aqui especificamente, referente

àquilo que se denomina o pós-modernismo.

1.3 SOBRE A CEGUEIRA, A LUCIDEZ E O HOMEM DUPLICADO: RESUMOS.

1.3.1 Ensaio sobre a cegueira.

Um dia normal na cidade. Os carros parados numa esquina esperam o sinal mudar. A luz verde acende-se, mas um dos carros não se move. Em meio às buzinas enfurecidas e à gente que bate nos vidros, percebe-se o movimento da boca do motorista, formando duas palavras: Estou cego. Assim começa o romance de José Saramago. A „treva branca‟ que acomete esse primeiro cego vai se espalhar incontrolavelmente pela cidade e, em breve, uma multidão de cegos precisará aprender a viver de novo, em quarentena. E, de fato, o que se verá é a redução da humanidade às necessidades e afetos mais básicos, um progressivo obscurecimento e correspondente iluminação das qualidades e dos terrores do homem. „Parece uma parábola‟, comenta alguém no romance; mas sua força, como nas melhores parábolas, vem precisamente do realismo e da descrição, no limite do inominável. (Arthur Nestrovski, orelha do livro Ensaio sobre a cegueira, Companhia das Letras, 2004).

1.3.2 Ensaio sobre a lucidez.

Num país qualquer, num dia chuvoso, poucos eleitores compareceram para votar, durante a manhã. As autoridades eleitorais, preocupadas, chegaram a supor que haveria uma abstenção gigantesca. À tarde, quase no encerramento da votação, centenas de milhares de eleitores compareceram aos locais de votação. Formaram-se filas quilométricas, e tudo pareceu normal. Mas, para desespero das autoridades eleitorais, houve quase

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setenta por cento de votos em branco. Uma catástrofe. Evidentemente que as instituições, partidos políticos e autoridades, haviam perdido a credibilidade da população. O voto em branco fora uma manifestação inocente, um desabafo, a indignação pelo descalabro praticado por políticos pertencentes aos partidos da direita, da esquerda e do meio. Políticos de partidos diferentes, mas de atuações iguais, usufruindo de privilégios que afrontavam a população. Os eleitores estavam cansados, revoltados. Os governantes, sentindo-se ameaçados, trataram de agir em nome da ordem, perseguindo, prendendo, maltratando, eliminando. Alguns que viveram os horrores da cegueira branca, novamente sofreram. Os governantes, preocupados em salvar a própria pele, em garantir o poder, não perceberam que a cegueira branca de outrora, demonstrativo de que há muito o homem estava cego, tinha paralelo com o voto branco de agora, indicativo de que a população não perdera a lucidez. Estranhamente, não houve uma mobilização para o facto. A partir daqui desenvolve-se a trama do livro: o governo e as autoridades deixam a cidade entregue a si própria, abandonando-a e isolando-a. Acabarão por entrar em cena os mesmos personagens da obra Ensaio sobre a cegueira, pelo que se aconselha o leitor a fazer uma leitura desta obra antes de proceder à leitura de Ensaio sobre a Lucidez. Neste livro, Saramago desenvolve uma crítica mordaz às instituições do poder político: sob a democracia podem estar vetores de natureza autoritária - lúcido é quem os enxerga. (Wikipédia, a enciclopédia livre)

1.3.3 O homem duplicado.

O professor de história Tertuliano Máximo Afonso descobre, certo dia, que é um homem duplicado. Ao assistir a um vídeo, ele se reconhece em outro corpo, idêntico ao dele próprio: um dos atores do filme é seu sósia. Os desdobramentos dessa história são imprevisíveis. Mas o romance de José Saramago, esclareça-se logo, não tem nada a ver com clonagem ou outras experiências de laboratório. O que está em jogo é a perda da identidade numa sociedade que cultiva o individualismo e, paradoxalmente, estabelece padrões estreitos de conduta e de aparência. Em O homem duplicado, Saramago constrói uma ficção extraordinária, apoiada numa questão extremamente atual e inquietante: a perda do eu no mundo globalizado. (O homem duplicado, contracapa, Companhia das Letras/Companhia de Bolso, 2008)

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2. PÓS-MODERNIDADE

2.1 UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA:

2.1.1 Pós-modernismo: desconstruindo pré-conceitos, buscando

esclarecimentos.

Em uma época de grande progresso tecnológico, final do século XIX e início

do XX, quando a ciência pensava ter encontrado todas as respostas possíveis e

muitas pessoas desfrutavam confortavelmente das maravilhas do mundo moderno,

um acontecimento bombástico abala a comodidade geral: Hiroshima explode e, com

ela, toda uma geração. A Segunda Grande Guerra, seguindo uma trilha que vinha

sendo traçada desde a Primeira (1914-1918), destruiu os sonhos do mundo,

dilacerou almas, minou promessas de futuro; 1945 ficou marcado pelo estigma do

horror: a morte da esperança. Walter Benjamin (apud Bauman, 1997, p. 21) disse

da modernidade, que ela nasceu sob o signo do suicídio; Freud (Id. Ibid), que ela foi

dirigida por Tânatos – o instinto da morte.

O niilismo recai sobre a humanidade e tudo que dela advém retrata este

estado de torpor em que se afunda o ser humano. O estilo de vida moderno,

comprovadamente nocivo, passa a ser questionado: os valores antes tidos como

certos, culturalmente aceitos, não mais suprem as necessidades do mundo. Para

Granni Vattini (apud LIMA, 2004), a humanidade encerra a Era da Modernidade

quando percebe que não mais poderia depositar esperanças na Razão, vendo que o

setor do progresso é perpassado pelo jogo de interesses do mercado financeiro. E

aqui ocorre o „choque‟ do positivismo: a razão não é mais absoluta.

O indivíduo pós-moderno caracteriza-se por ser dinâmico em relação ao seu

status quo, porém, quando se trata de si mesmo como ser humano, a apatia se faz

presente na forma de insensibilidade, pois, além de carregar em seu DNA cultural o

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individualismo modernista, acrescenta a ele o narcisismo característico da pós-

modernidade.

Em vista disso, formou-se uma nova sociedade, que se viu reduzida ao papel

de mera consumidora. O apelo estético, visual, fomenta a necessidade de ter que se

alastra sobre as pessoas, fazendo com que o mundo real se desmaterialize no afã

da estetização, da compra de imagens. Cria-se um mundo virtual, onde as fronteiras

não mais existem, onde os comportamentos individuais se pautam na coletividade,

baseados no senso comum que, para Hutcheon (1991, p.26), não passa de “pura

ideologia de um grupo dominante”, disseminada pelo mass media. Para Baudrillard

(apud HUTCHEON, 1991, p.280), o mass media criou o simulacro, a destruição total

do significado, um mundo que se desfaz da realidade até que não mais se perceba

parte integrante dela.

Linda Hutcheon discorda de Baudrillard, pois para ela, é justamente aí que se

dá o valor da arte pós-moderna, “ao contestar este processo de simulacrização”

(1991, p.280), não apenas em atitudes de negação ou lástima, mas como forma de

problematização, ou seja, tomando conhecimento sobre “a distinção entre os

acontecimentos do passado que realmente ocorreu e os fatos por cujo intermédio

proporcionamos sentido a esse passado” (Id. Ibid, p.281).

A essa atitude de indagar sobre as ações humanas e suas consequências

históricas, sociais e culturais é que se pode parcialmente denominar o pós-

modernismo. Uma reação à disseminação de condutas impostas, um repúdio ao

falso discurso globalizado, esse mundo pós-guerra, formado a partir dos anos 60,

não mais aceita seus grilhões dourados.

Nas palavras de Umberto Eco

A resposta pós-moderna ao moderno consiste em reconhecer que o passado, como não pode ser realmente destruído, porque sua destruição conduz ao silêncio [a descoberta do modernismo], precisa ser reavaliado: mas com ironia, e não com inocência. (ECO, 1983, p. 67 apud HUTCHEON, 1988, p. 124).

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Segundo Linda Hutcheon (1991), “o pós-modernismo é um fenômeno

contraditório, que usa e abusa, instala e depois subverte os próprios conceitos que

desafia (...)”, sendo “deliberadamente histórico e inevitavelmente político”. Assim, o

que de novo nos traz a vertente pós-moderna, ironicamente, é a presença do

passado, mas não de forma nostálgica ou pesarosa e sim, como uma releitura crítica

desse mesmo passado que é indissociável do presente em que vivemos, posto que

o antecede e direciona.

Lima (2004, p. 2) afirma que

A idéia de "pós-modernismo" surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década de 1930, uma geração antes de seu aparecimento na Inglaterra ou nos EUA. Perry Anderson, conhecido pelos seus estudos dos fenômenos culturais e políticos contemporâneos, em "As Origens da Pós-Modernidade" (1999), conta que foi um amigo de Unamuno e Ortega, Frederico de Onís, que imprimiu o termo pela primeira vez, embora descrevendo um refluxo conservador dentro do próprio modernismo. Mas coube ao filósofo francês Jean-François Lyotard, com a publicação "A Condição Pós-Moderna" (1979), a expansão do uso do conceito. Em sua origem, pós-modernismo significava a perda da historicidade e o fim da "grande narrativa" - o que no campo estético significou o fim de uma tradição de mudança e ruptura, o apagamento da fronteira entre alta cultura e da cultura de massa e a prática da apropriação e da citação de obras do passado.

A partir disso, o termo pós-moderno é aplicado, inicialmente, na arquitetura,

quando do acontecimento da Bienal de Veneza, em 1980, sendo que, dali em diante,

espalha-se pelas demais manifestações artísticas, como a pintura e a narrativa

ficcional histórica, sempre como sinônimo de reflexão crítica, ou seja, pensando o

passado como parte integrante do agora, como seu fator condicional.

Hutcheon (1987, p.13), considera que no pós-modernismo “seus debates

demonstram [...] uma força problematizadora em nossa cultura atual: ele levanta

questões sobre o senso comum e o „natural‟, mas nunca oferece respostas que

ultrapassem o provisório e o que é contextualmente determinado (e limitado)”.

18

E é neste caráter provisório que muitos estudiosos se baseiam, ao questionar

o valor da arte pós-moderna. Linda Hutcheon, em sua Poética do Pós-modernismo,

cita Andreas Huyssen, quando este afirma que o mesmo deve ser “resguardado

contra seus defensores e detratores” (apud Hutcheon, 1991, p.11), pois para ela, é

um fenômeno que deve ser avaliado em sua duplicidade: a de cúmplice e delator de

um sistema no qual está plenamente inserido, posto que “tudo que ele pode fazer é

questionar a partir de dentro” (Id. Ibid, p.15), já que o prefixo pós, em si só,

pressupõe “incorporar aquilo que pretende contestar” (Id. Ibid, p.19).

“Eu sei bem do que eu estou fugindo, mas não o que eu estou buscando.”

Esta frase é atribuída a Montaigne, famoso ensaísta do século XVI, e representa

muito bem a indagação pós-moderna, principalmente no que concerne a uma

definição do que seja esta vertente histórica ou filosófica, e de qual seja sua função

na sociedade.

2.1.2 A escrita pós-moderna: indagações e inquietudes no limiar da

consciência.

Aguilera considera que Saramago concebia o romance como sendo

Um lugar literário que, ultrapassando os limites do gênero, mostra-se capaz de incorporar, de forma convulsa, a poesia, o drama, a filosofia, a ciência, a ética... Uma espécie de grande recipiente que aspira – com certa dose de idealismo – à expressão total. (AGUILERA, 2010, p.245).

Sendo assim, é válido afirmar que o escritor-cidadão fazia de sua arte literária

o lugar comum das vicissitudes mundanas, procurando tornar conhecidas suas

opiniões acerca do que lhe conviesse. Mais ainda, se necessário o fosse, pois

acreditava que o papel do escritor, em tudo quanto lhe compete, era trazer à luz não

só as suas ideias, como também a sua indignação perante os fatos que se

apresentam. Uma atitude bastante pós-moderna, pois do meio para o meio se dão

suas reflexões.

19

Saramago acreditava que o narrador separado do autor é um mito, pois “só o

Autor exerce função narrativa real na obra de ficção” (LOPES, 2010, p.216),

demonstrando que os discursos encontrados em suas obras não são outra coisa

senão um retrato dele mesmo, de suas ideias e concepções. “Em substância, eu sou

a matéria do que escrevo” (AGUILERA, 2010, p.206).

Costumava dizer: “No romance pode confluir tudo, a filosofia, a arte, o direito,

tudo, inclusive a ciência. O romance como uma suma, o romance como um lugar de

pensamento.” (AGUILERA, 2010, p. 249). Acreditando que este “tudo, é uma

tentativa de compreender o mundo. Que consiga ou não, é outra coisa.” (Id. Ibid, p.

249)”.

Linda Hutcheon (1991) considera que, numa perspectiva pós-moderna, a

relação com a literatura vai muito além de mera decodificação/recepção de

conteúdos: o autor, o leitor e o contexto da obra são sempre levados em conta. Por

isso, o romance pós-moderno caracteriza-se por ser uma metaficção, pois

transcende a si mesmo no processo de leitura e nas repercussões que gera.

Umberto Eco (apud HUTCHEON, 1991, p.118), sugere que “o pós-

modernismo nasce no momento em que descobrimos que o mundo não tem nenhum

centro fixo”, significando que começamos os questionamentos quando não temos

mais em que nos apegar no processo de autoilusão.

Saramago declarou

Nós ainda somos descendentes do Iluminismo, da Enciclopédia, dos valores da Revolução Francesa, que durante dois séculos foram referências. Acabamos de atravessar uma ponte e na margem já não há lugares duradouros. Isto não é fatalismo e nada se processa em linha reta: ao mesmo tempo em que isto acontece sente-se uma necessidade de voltar atrás, uma insatisfação, sobretudo dos jovens, perante um Mundo que já não oferece nada, só vende! (LOPES, 2010, p.148).

Assim, segundo me parece, o romance dito pós-moderno cumpre com a

acepção do termo, principalmente no que concerne à questão da constante

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indagação geradora da tomada de consciência, principalmente no que tange aos

valores morais que regem uma sociedade e são a mola propulsora da vida que

pulsa. Estar ciente já é o primeiro passo rumo a atitudes de mudança.

Ainda, algo que me parece calhar bem na descrição de um escritor engajado,

envolvido, questionador, enfim, pós-moderno, de acordo com o também escritor

francês Jean–Paul Sartre, quando se referia à imagem que a sociedade faz de

alguém com sua profissão:

O escritor lhe apresenta a sua imagem e a intima assumi-la ou então a transformar-se. E de qualquer modo ela muda; perde o equilíbrio que a ignorância lhe proporcionava, oscila entre a vergonha e o cinismo, pratica a má-fé; assim, o escritor dá à sociedade uma consciência infeliz, e por isso se coloca em perpétuo antagonismo com as forças conservadoras, mantedoras do equilíbrio que ele tende a romper. (SARTRE, 1999, p.65)

2.2. ENSAIO: UMA FALA ESTRITAMENTE PESSOAL.

“Não escrevo livros para contar histórias, só. No fundo, provavelmente eu não

seja um romancista. Sou um ensaísta, sou alguém que escreve ensaios com

personagens.” (AGUILERA, 2010, p. 247).

Segundo a Wikipédia, a palavra Ensaio vem do latim “exagiu(m)”, significando

a „ação de pensar‟, caracterizando-se por ser

Um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo idéias, críticas e reflexões éticas e filosóficas a respeito de certo tema, consistindo também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, religioso, etc.), sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas, de caráter científico. Assume a forma livre e assistemática, sem um estilo definido. Por essa razão, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset o definiu como "a ciência sem prova explícita". (Wikipédia)

21

O escritor e filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) difundiu o

termo ao escrever seus essais, em 1580. Com seus escritos quis dizer que os

mesmos eram tentativas, simples esboços literários (significado original do termo

francês "essai"), que obtinham seu mérito na mistura de instinto com experiência,

sendo que o vivido era exposto como forma de compartilhar sentimentos,

concepções, ideologias. (Wikipédia)

José Saramago fez desta ação de pensar uma ideologia para viver. Quando

assumia publicamente sua postura de constante questionador da realidade social, o

escritor declarava: “O pensamento não pode jamais ser autista” (AGUILERA, 2010,

p.153) e ainda, sobre sua atitude como escritor:

Sou um romancista que não quer nem saberia limitar-se a contar uma história, por muito interessante que fosse. Preciso de mostrar todas as conexões possíveis, as próximas e as distantes, de modo que o leitor compreenda que, estando a falar de um elefante, por exemplo, estou a falar da vida humana. É a atitude do ensaísta. Deste ponto de vista, não vejo qualquer contradição entre romance e ensaio. (Id. Ibid, p. 318).

2.2.1 O literal edificado em entrelinhas: alegoria, além dos limites da arte.

“A alegoria se instala mais duravelmente onde o efêmero e o eterno

coexistem intimamente.” (BENJAMIN, 1984). “Uma metáfora isolada indica apenas

uma maneira figurada de falar; mas se a metáfora é contínua, seguida, revela a

intenção segura de falar também de outras coisas além do enunciado” (TODOROV,

1992).

A escrita saramaguiana pode ser considerada uma alegoria, posto que esteja

sempre propensa a livres interpretações por parte de quem a lê, sendo que

Saramago considera que: “Precisamos, pois, voltar à alegoria, para acentuar aquilo

que, em condições normais, não necessitaria mais do que a exposição do fato

22

simples [...]” (AGUILERA, 2010, p.239), encontrando-se nela uma abertura na qual a

relação autor/leitor se desenvolve. “O leitor também escreve o livro quando lhe

penetra o sentido, o interroga” (Id. Ibid, p.326). E é na apreensão do sentido que se

encontra nas entrelinhas que a alegoria se dá.

No entendimento do que se quis dizer, muito além do que realmente com

palavras escritas se disse, é que consiste o verdadeiro processo de interação e

cumprimento da função literária que se proclame pós-moderna. Uma escrita que

transcenda os limites do papel, criatura que supere seu criador, assim é a alegoria,

fina percepção do mundo, muito mais que mera representação simbólica.

Segundo a Wikipédia, a etimologia da palavra alegoria: Allos (outro) e

agoreuein (falar em público) nos remete à ideia de falas que literalmente indicam

uma coisa, quando na verdade expressam outra, trazendo à público o seu

significado implícito. Segundo Benjamin (1984) “a alegoria floresce no terreno do

desmoronamento da tradição”, e este falar uma coisa significando outra, nada mais

é do que a desmistificação da atemporalidade.

Como dizia o próprio Saramago: “A alegoria chega quando descrever a

realidade já não serve” (AGUILERA, 2010, p.297).

23

3. UM OLHAR ATENTO

3.1 A VISÃO SARAMAGUIANA DO HOMEM PÓS-MODERNO: UM RETRATO SOB

PERSPECTIVAS PRÓPRIAS.

Saramago caracteriza a sua produção literária entre os anos 1990 e 2004

como sendo de caráter nitidamente pós-moderno, “sobretudo a partir de Ensaio

Sobre a Cegueira (1995). Existe, pois, um processo reflexivo ligado à pós-

modernidade e um questionamento.” (LOPES, 2010, p. 147).

Sobre a escrita deste livro, se manifestaria

[...] Cegos. O aprendiz pensou: Estamos cegos, e sentou-se a escrever o "Ensaio sobre a Cegueira" para recordar a quem o viesse a ler que usamos perversamente a razão quando humilhamos a vida, que a dignidade do ser humano é todos os dias insultada pelos poderosos do nosso mundo, que a mentira universal tomou o lugar das verdades plurais, que o homem deixou de respeitar-se a si mesmo quando perdeu o respeito que devia ao seu semelhante. [...] (SARAMAGO, 1998. Excerto do discurso Prêmio Nobel)

Lopes (2010), no tocante aos ensaios sobre a Cegueira e a Lucidez, fala

sobre o que seriam as “alegorias distópicas saramaguianas”. Para este crítico, são

os frutos de um sujeito definitivamente descontente com a sociedade cuja carga

cultural herdou, mas em cujas entrelinhas históricas e sociais se vê impelido a

penetrar, de forma reflexiva, a fim de provocar a quebra do marasmo intelectual e,

por que não dizer, do desinteresse humano em que se dão os processos de

formação de sua estrutura. Saramago faz desta distopia ou lugar ruim o eixo do

enredo, o centro de suas indagações.

24

Ensaio sobre a cegueira não se pretende parcial, apenas quer olhar a realidade cara a cara [...] vem a dizer que nós não estamos, e não estivemos nunca, a formar humanamente as circunstâncias para que estas, humanizadas, formassem um outro tipo de homem. É aonde eu quero chegar. (AGUILERA, 2010, p.296)

A intenção de apresentar a cegueira branca como uma alegoria da perda da

razão, se faz evidente, quando declara

[...] chegado agora a estes dias, os meus e os do Mundo, vejo-me diante de duas possibilidades: ou a razão, no homem, não faz senão dormir e engendrar monstros, ou o homem, sendo indubitavelmente um animal entre os animais, é, também, o mais irracional entre todos eles. (LOPES, 2010, p.147).

Saramago propunha que somente a perda da razão explicaria a cegueira

moral que deturpe nossa visão, aqui não condizente à faculdade de ver, mas sim,

relacionada à responsabilidade que o enxergar além das aparências acarreta, como

mostra a epígrafe “Se podes olhar, vê. “Se podes ver, repara”, que, em se tratando

do escritor, resume muito bem a sua intenção ao escrever a obra.

José acreditava que neste romance “[...] O mundo está todo aqui dentro [...]”.

(SARAMAGO, 1995, p.102), sendo possível, por seu intermédio, traçar uma imagem

da forma como vivemos: intolerante, exploradora, cruel, indiferente e cínica, onde a

bondade é quase inexistente e os interesses individuais se sobrepõem aos coletivos

“O meu romance reflete o horror contemporâneo, não é mais duro do que a

realidade que o cerca” (AGUILERA, 2010, p.298).

25

Desconfiança das boas intenções:

“[...] O zelo pareceu de repente suspeito ao cego, evidentemente, não iria deixar

entrar em casa uma pessoa desconhecida que, no fim de contas, bem poderia

estar a tramar, naquele preciso momento, como haveria de reduzir, atar e

amordaçar o infeliz cego sem defesa, para depois deitar a mão ao que

encontrasse de valor [...]” (p.15)

Preocupação em manter as aparências:

“[...] Espera-me aqui, se algum vizinho aparecer fala-lhe com naturalidade [...]

escusamos de estar já a dar notícia da nossa vida [...]”. (p.19)

Interesse disfarçado de generosidade:

“[...] no fim das contas, [...] não é assim tão grande a diferença entre ajudar um cego

para depois o roubar e cuidar de uma velhice caduca tatebitate com o olho posto na

herança. [...]”. (p.25)

Indiferença perante os infortúnios alheios:

“[...] O polícia, em tom que seria sarcástico se não fosse simplesmente grosseiro,

quis saber, depois de lhe ter perguntado onde morava, se ela dispunha de dinheiro

para o táxi [...]”. (p.36)

“[...] Nesse caso o que você deverá fazer é chamar um médico, um médico

autêntico, retorquiu o funcionário, e, encantado com o seu próprio espírito, desligou

o telefone [...]‟. (p.40)

“[...] Agora só falta decidir onde os iremos meter [...] Nesse caso, resta o manicômio

[...]”. (p.46)

Agir sem pensar nas consequências:

“[...] Estimulado pelo perfume que se desprendia dela e pela recente ereção, decidiu

usar as mãos com maior proveito, uma acariciando-lhe a nuca por baixo dos

cabelos, a outra, direta e sem cerimônias, apalpando-lhe o seio. [...] então a rapariga

26

jogou com força a perna atrás, [...] o salto do sapato [...] foi espetar-se na coxa do

ladrão [...]”,(p.57)

Atitude autoindulgente:

“[...] Se estou agora nesta situação, argumentou ele, não foi por lhe ter roubado o

carro, mas por ter ido acompanhá-lo a casa [...]”. (p.78)

Crueldade e frieza:

“[...] Isto o melhor era deixá-los morrer à fome, morrendo o bicho acabava-se a

peçanha [...]”.(p.89)

“[...] sobretudo o mal que, como todo o mundo sabe, sempre foi o mais fácil de fazer

[...]”.(p.90)

Animalização do ser humano:

“[...] sabia que estava sujo, sujo como não se lembrava de ter estado alguma vez na

vida. Há muitas maneiras de tornar-se animal, pensou, e esta é a primeira delas.[...]”.

(p.97)

“[...] principiaram a ouvir-se uns suspiros, [...] uns gritinhos primeiro abafados[...] ia

transformando em grito, em ronco [...] Porcos, são como porcos[...]”. (p.98)

Ensaio sobre a cegueira age como questionador da realidade que se

apresenta constantemente afligida pela questão: é possível continuar concebendo a

vida na atual situação, onde a humilhação costuma ser “o pão desgraçado de cada

dia”? (AGUILERA, 2010, p.298).

Saramago considera que até o primeiro Ensaio havia “se preocupado com a

estátua somente” e, depois disso, “passou a se preocupar com a pedra”

(AGUILERA, 2010, p.3010). A afirmação alude ao fato de que a partir desta sua

publicação pode-se claramente fazer uma divisão na temática de seus romances

que, até 1990, faziam a linha histórica e passaram, então, a preocupar-se com a

27

sociedade, com o comportamento individual dos seres humanos e as suas

repercussões coletivas.

“[...] É como se eu me apercebe-se, a partir do Ensaio, que as minhas

preocupações passaram a ser outras. [...] Não penso que estou a escrever livros

melhores do que antes. Não tem a ver com qualidade, mas com intenção.[...]”

(AGUILERA, 2010, p.307), trazendo à tona a ideia de que estava cansado da

crueldade mundana. “Com Ensaio sobre a cegueira, passei a escrever de forma

mais atenta” (AGUILERA, 2010, p.311).

Igualmente, ao escrever Ensaio sobre a lucidez, dá continuidade à temática

do comportamento humano, agora fazendo-se presente no veto à falsa democracia

em que vivemos, em forma de voto em branco, reconhecendo que o mesmo “é um

romance fundamentalmente político” (AGUILERA, 2010, p.312).

Talvez, o que o tenha motivado a escrever este romance tenha surgido da

seguinte indagação a que se submetia constantemente: “E a democracia, esse

milenário invento de uns atenienses ingênuos para quem ela significaria, nas

circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão

consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? (SARAMAGO, 2002).

O voto em branco alude à também cegueira branca, fazendo a diferenciação

de que, no primeiro, a brancura se relaciona ao ganho da razão (expressa pela

lucidez), enquanto que na segunda, era sinônimo de falta de compreensão,

nitidamente proporcionando um jogo de claro-escuro. Este livro “no fundo, é um livro

sobre a razão de Estado, ou as razões de Estado” (AGUILERA, 2010, p.317).

O escritor-cidadão incita à questão: e se, espontânea e conscientemente, a

parcela populacional votante invalidasse uma eleição, fazendo uso do voto em

branco? E se fôssemos capazes de conviver em uma sociedade plenamente

organizada, sem influências políticas ou partidárias? E se tivéssemos êxito neste

intento?

28

“[...] sou um cidadão como outro qualquer, manifesto-me como e quando entenda, e

muito mais agora que já não é mais necessário pedir autorização. [...]”. (p.137)

“[...] como cidadãos livres, entramos e saímos à hora que nos apetece, não temos

de dar explicações a ninguém sobre as razões dos nossos atos [...]”. (p.22)

“[...] se entramos pela vereda dos subterfúgios e pelo atalho dos arranjinhos por

baixo da mesa iremos direitos ao caos e à dissolução das consciências [...]” (p. 26).

“[...] a população da capital [...] saberá exercer seu dever cívico com a dignidade [...]”

(p.27)

Esta obra suscita muitas questões relativas ao livre-arbítrio, gerando certo

desconforto, que por sua vez, levanta dúvidas que nos levam a questionamentos,

proporcionando a quebra de padrões, alargando horizontes.

Assim como no primeiro Ensaio, a mulher do médico conduz a história,

embora seja apenas mais uma eleitora, e é por meio dela que obtemos a percepção

de que a lucidez, sob a forma de indagações, trava uma batalha com a fragilidade da

democracia, fazendo-nos pensar sobre as consequências de nossos atos.

Saramago explicita

29

Em O homem duplicado, nos deparamos com a perda da identidade como

sendo consequência direta das atitudes de uma sociedade que prega padrões

egoístas de convivência.

“[...] rendeu-se à fraqueza de ânimo ordinariamente conhecida por depressão. [...]”.

(p.7)

“[...] O que por aí mais se vê, a ponto de já não causar surpresa, é pessoas a

sofrerem com paciência o miudinho escrutínio da solidão [...]”. (p.8)

“[...] tudo me cansa e aborrece, esta maldita rotina, [...] este marcar passo. [...]”.

(p.10)

“[...] É a carreira e o trabalho que me têm a mim, não eu a eles [...]”. (p.11)

“[...] Não gosto de mim mesmo, provavelmente é este o problema. [...]”. (p.12)

“[...] por indiferença, por alheamento, por preguiça de ter de escolher [...]”. (12)

“[...] o que é em pensamento não conta [...]”. (p.16)

“[...] O melhor caminho para uma desculpabilização universal é chegar a conclusão

de que, porque toda a gente tem culpas, ninguém é culpado. [...]” São os problemas

do mundo [...]. (p.34)

“[...] matou-a sua fraqueza moral [...]”. (p.266)

O professor de história Tertuliano Máximo Afonso representa o estigma do

niilismo que acomete os seres humanos pós-modernos, e que faz com que o

sentimento de impotência tome conta da existência. Este „eu‟ que se descobre

„outro‟ e não mais sabe se definir passa a questionar o valor da sua permanência no

mundo até então, sendo conduzido a uma assimilação de caráter que visa a uma

eliminação do „erro‟, mas que o leva a caminhos desconhecidos e perigosos, no

desvendamento da identidade que se sobreponha à „cópia‟.

30

Encontram-se também padrões de comportamento pós-moderno a respeito:

Da profissão:

“[...] vê-a ele desde há muito tempo como uma fadiga sem sentido e um começo

sem fim. [...]”. (p.7)

“[...] os últimos exercícios de seus alunos, que deverá ler com atenção e corrigir

sempre que atentem perigosamente contra as verdades ensinadas ou se permitam

excessivas liberdades de interpretação [...]”. (p.13)

“[...] A história que ensina [...] tem uma enorme quantidade de rabos de fora, alguns

ainda remexendo [...]”. (p.13)

Da falta de coragem:

„[...] tanto é o que precisamos de lançar culpas a algo distante quando o que nos

faltou foi a coragem de encarar o que estava na nossa frente [...]”. (p.8)

Da postura fatalista:

“[...] assim é a puta da vida, sempre nos acaba [...]. (p.15)

“[...] achou que não deveria contrariar o destino [...]”. (p.15)

“[...] semelhanças é o que não falta no mundo [...]”. (p.21)

Do culto à imagem:

“[...] Mas as aparências [...] não é raro que se neguem a si mesmas [...]”. (p.16)

31

Das obrigações:

“[...] Ao cabo de quatro páginas adormeceu serenamente, sinal de que tinha sido

perdoado [...]”. (p.180)

Sobre este livro, Saramago apontou

O que eu quero examinar, no fundo, é o tema do „outro‟. Se o „outro‟ é como eu, e o „outro‟ tem todo o direito de ser como eu, me pergunto: até que ponto eu quero que esse outro entre e usurpe o meu espaço? Nesta história, o „outro‟ tem um significado que nunca antes teve. Atualmente, no mundo, entre „eu‟ e o „outro‟ há distâncias, e essas distâncias não são possíveis de superar e por isso cada vez menos o ser humano pode chegar a um acordo. A nossa vida é composta de uns 95 por cento que são obra dos demais. [...] vivemos em um caos e não há ordem aparente que nos governe. A ideia-chave do livro é que o caos é um tipo de ordem a ser decifrada. [...] proponho que o leitor investigue a ordem que há nos caos. (AGUILERA, 2010, p.317).

3.2 ENTRE A CEGUEIRA E A LUCIDEZ: ENSAIOS SOBRE O HOMEM

DUPLICADO.

A partir de Ensaio sobre a cegueira, Saramago assume o compromisso de

denunciar a condição social do ser humano, como também o faz nas obras Ensaio

sobre a lucidez e O homem duplicado. Obras estas que proporcionam uma aguçada

reflexão sobre os valores que regem a sociedade pós-moderna, completando-se e

traçando um perfil literário desta mentalidade, pois como costumava dizer: “Somos

muito mais filhos do tempo em que nascemos e vivemos do que do lugar em que

nascemos.” (AGUILERA, 2010, p.)

Fazendo uso de seu talento em construir alegorias, José, ao longo das três

narrativas, nos brindou com o espetáculo proporcionado pelo romance enquanto

espaço de constantes indagações, reflexões e conjecturas. No esmiuçar de nossos

conflitos morais, sociais ou políticos, arquitetou um plano de estudo comportamental,

32

que nos leva ao reconhecimento daquilo que somos nas mais variadas formas e

atitudes.

Sua forma digressiva de escrita proporciona uma visão holística das

situações, a qual resultará em um julgamento lúcido sobre as mesmas e sua

influência no cotidiano individual e, principalmente, coletivo.

Sabe-se que os significados que atribuímos aos acontecimentos provêm de

nossas experiências pessoais, forjadas no âmbito social. A leitura crítica da

sociedade pressupõe a compreensão e a interpretação do que se vê; mais do que

meramente decodificar símbolos, acarreta a apreensão de significados implícitos no

contexto que levem em conta que os textos reproduzem práticas sociais que são

reflexos do mundo em que vivemos e que, por vezes, passam despercebidos pelo

leitor cujo olhar é, ainda, superficial.

Segundo Vygotsky (1989), o homem se constitui na e pela linguagem, ou

seja, é na interação com outros sujeitos que formas de pensar são construídas por

meio da assimilação do saber da comunidade em que se insere, sendo que a

relação homem/mundo é uma relação de mediação, na qual existem elementos que

auxiliam a atividade humana de compreensão. Dentre eles, encontra-se a literatura.

Os livros dos quais trata este trabalho monográfico se enquadram no que,

particularmente, considero como um retrato saramaguiano da sociedade pós-

moderna, por tudo que este termo signifique, por todas as explicações que forneça,

por todas as situações que esmiúce. Uma sociedade carente de garantias, mas que,

ao mesmo tempo em que sofre de inseguranças, se autoafirma, corajosa e

tolamente, independente.

O que de verdade a leitura destes livros nos traz é a fina percepção de que

sempre existe algo que se possa fazer, embora a mudança seja, obviamente, um ato

volitivo, e neste caso, teria de ser um ato de vontade coletiva, que almejasse o bem

comum.

33

Quanto a isso, o próprio Saramago nos deixa sua opinião: “eu sou bastante

cético, porque penso que os seres humanos não aprendem nada das experiências

que fazem”. (AGUILERA, 2010, p.298), culminando: “talvez a história do homem seja

um longuíssimo movimento que nos leve à humanização. [...] talvez se possa chegar

um dia, e isto é a utopia máxima, em que o ser humano respeite o ser humano.” (Id.

Ibid).

Uma profusão de „outros‟ que habitam dentro do „eu‟, que vivenciam conflitos

existenciais, sociais e morais, e que precisam aprender a conviver muito mais do

que a sobreviver, este é o retrato saramaguiano da sociedade dita pós-moderna.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar este trabalho monográfico, tenho a certeza de que para José

Saramago a literatura era uma fonte de constantes questionamentos, meio e fim de

todas as causas, e que o escritor tem papel fundamental numa perspectiva de

percepção das entrelinhas históricas, posto que a história seja o nós em contínuas

mudanças, caleidoscópio de sensações.

Escrever sobre a condição humana requer um vastíssimo conhecimento das

várias teorias que regem o nosso pensamento, fio condutor da existência, ao longo

de um tempo que se traveste em atemporal. Saramago possuía esta característica,

agora imortalizada em seu espólio literário.

A meu ver, como admiradora e questionadora de sua escrita, que me

considero, as obras neste trabalho citadas pertencem ao que de melhor o escritor

Saramago produziu, pois as mesmas falam de um assunto que a todos deveria

interessar: a própria sociedade na qual estamos inseridos e onde não devemos viver

marginalizados, ignorantes de nossa situação.

Muito do que precisava ser dito no concernente ao assunto abordado ficou

por dizer, embora tenha tentado expor os fatos de forma a não prejudicar o

entendimento do trabalho a que me propus. De maneira geral, penso ter atingido os

objetivos que tinha ao iniciar esta pesquisa.

Como ser humano, mulher, estudante, futura professora que sou, sinto-me

compelida a dizer, dos sentimentos que a literatura saramaguiana me desperta, que

são os mais contraditórios e deliciosamente inquietantes possíveis. O tipo de

sentimento que faz realmente pensar, genuinamente se importar e sinceramente

querer intervir.

O que este menino do Alentejo metamorfoseado em cidadão do mundo nos

legou, em termos de ideias, é de valor inestimável. Sua urgência ao compartilhar da

indignação para com aqueles que considerava, assim como a si mesmo, co-

responsáveis pela situação mundial, mostrava-se na generosidade com que

35

expunha, por meio de sua escrita essencialmente humana, seu pensamento

indiscutivelmente inquieto.

Agitador do plano da consciência, irônico, sagaz, sensível, fraterno,

inteligente, humano: assim era José Saramago. Sua obra eterniza um sujeito de

qualidades admiráveis que, na tranqüila simplicidade de sua essência, foi

protagonista de tempestuosa intervenção.

Termino, fazendo minhas as palavras do grande escritor: “Perdoai-me se vos

pareceu pouco isto que para mim é tudo.”

36

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