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Curso de Comunicação em Mídias Digitais - UFPB Teorias da Comunicação em Mídias Digitais Prof. Nadja Carvalho Período: 2011-2 ENTREVISTA COM LADISLAU DOWBOR ECONOMIA DA CULTURA ECONOMIA DA CULTURA DIGITAL DIGITAL Emanuel Limeira - 11026651 Ricardo Araújo - 11026373 JOÃO PESSOA, 09/12/2011

ENTREVISTA COM LADISLAU DOWBOR - ECONOMIA DA CULTURA DIGITAL

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Diariamente milhões de pessoas em todo o mundo acessam a internet e imergem no mundo virtual do ciberespaço. Um universo onde bilhões de informações orbitam em torno de uma nuvem ainda indecifrável de luzes que materializam vídeos, hipertextos e sons, e que nas últimas décadas vem transformando, manipulando, moldando e reconstruindo o pensamento humano na Terra, principalmente na forma de agir e representar a sua cultura - que tem deixado de ser meramente física, objetiva e humana, para apresentar-se de forma digital, alinhavada em bytes e conexões elétricas.

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Curso de Comunicação em Mídias Digitais - UFPB Teorias da Comunicação em Mídias Digitais Prof. Nadja Carvalho Período: 2011-2

ENTREVISTA COM LADISLAU DOWBOR

ECONOMIA DA CULTURA ECONOMIA DA CULTURA

DIGITALDIGITAL

Emanuel Limeira - 11026651

Ricardo Araújo - 11026373

JOÃO PESSOA, 09/12/2011

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1. INTRODUÇÃO

Diariamente milhões de pessoas em todo o mundo acessam a internet e imergem no mundo

virtual do ciberespaço. Um universo onde bilhões de informações orbitam em torno de uma

nuvem ainda indecifrável de luzes que materializam vídeos, hipertextos e sons, e que nas últimas

décadas vem transformando, manipulando, moldando e reconstruindo o pensamento humano na

Terra, principalmente na forma de agir e representar a sua cultura - que tem deixado de ser

meramente física, objetiva e humana, para apresentar-se de forma digital, alinhavada em bytes e

conexões elétricas.

Este trabalho busca compreender o contexto da cultura digital e questiona: o que pensadores,

intelectuais, gente comum, pensam a respeito da cultural digital? Quais os efeitos que essa

cultura influencia na reconstrução da economia dos países, transformando-a em uma economia

"digital"?

O presente estudo foi buscar as respostas no livro Cultural Digital (Azougue Editorial, 2009),

uma coletânea de 20 entrevistas realizadas em grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de

Janeiro, Salvador e Brasília, que expressa uma mostra, bastante representativa, do pensamento

contemporâneo brasileiro sobre a cultura digital.

Representantes do governo, do mercado, da sociedade civil organizada, da academia, todos, em

letras e conceitos, discorrem abertamente nas páginas do livro sobre as mutações em curso no

universo da Cultura Digital, cada vez mais amplas, mais próximas da vida cotidiana de toda a

população.

O estudo baseou-se na leitura analítica de um textos do livro, especificamente do capítulo

intitulado "Economia da Cultura Digital", que publica uma entrevista concedida pelo economia e

professor Ladislau Dowbor.

A entrevista em estudo foi concedida pelo economista Ladislau Dowbor, Formado em Economia

Política pela Universidade de Lausanne, na Suíça, e atual professor titular do departamento de

pós-graduação da Pontífícia Universidade Católica de São Paulo. Segundo DOWBOR, "estamos

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acostumados a um modelo econômico em que você produz bens físicos pelo mercado, vende,

recebe dinheiro e produz mais bens. É a economia do século passado. Hoje estamos nos

deslocando para uma economia onde a produção física tem muito menos importância no

processo de valoração" (2009, p.58).

Os trabalhos de Dowbor tem mostrado que o mundo, especialmente o Brasil, não precisa

caminhar inexoravelmente para a degradação social e ambiental apenas para satisfazer interesses

de uma oligarquia econômica incapaz de avaliar seus atos mesmo em relação a seus próprios

negócios.

Em sua entrevista, o economista defende um modelo de economia de acesso livre à informação,

quebrando os conceitos de que as obras culturais, sem elas literárias ou artísticas, sejam

disponibilizadas, generalizando o conhecimento para o enriquecimento de toda a humanidade.

"Quem já fez pesquisa, quem trabalha em universidade, quem trabalha até em pesquisas em

empresas, coisas assim, sabe que essa visão de trancar tudo em copyrigth e patentes

simplesmente está trancando o conhecimento em cubículos". (DOWBOR, 2009, p.58).

Este estudo também pesquisou sites, blogs e revistas sobre o assunto e resumiu, em apresentação

presencial, os conceitos defendidos por Dowbor e as transformações que o mundo vem sobre

desde a implantação da cultural digital na sociedade brasileira e em outros países do planeta.

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2. ENTREVISTA COM LADISLAU DOWBOR?

2.1 Biografia do entrevistado

Ladislau Dowbor, formado em economia política pela Universidade de Lausanne, Suiça; Doutor

em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, Polônia

(1976). Atualmente é professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, nas áreas de economia e administração. Continua com o

trabalho de consultoria para diversas agencias das Nações Unidas, governos e municípios, bem

como do Senac. Atua como Conselheiro na Fundação Abrinq, Instituto Polis e outras

instituições.

A sua área principal de atuação é o ensino e organização de sistemas de planejamento. Nos anos

1970, foi professor de finanças públicas na Universidade de Coimbra. A convite do ministro

Vasco Cabral, tornou-se coordenador técnico do Ministério de Planejamento da Guiné-Bissau

(1977-81).

Foi consultor do Secretário Geral da ONU, na área de Assuntos Políticos Especiais (1980-81).

Dirigiu vários projetos de organização de sistemas de gestão econômica, na qualidade de

Assessor Técnico Principal de projetos das Nações Unidas, em particular na Guiné Equatorial e

na Nicaragua. É consultor de vários governos, particularmente para a organização de sistemas

descentralizados de gestão econômica e social (Costa Rica, Equador, Africa do Sul).

No período 1989-92 foi Secretário de Negócios Extraordinários da Prefeitura de São Paulo,

respondendo em particular pelas áreas de meio ambiente e de relações internacionais.

É autor e co-autor de cerca de 40 livros, e de numerosos artigos. Destacam-se os livros

"Formação do Terceiro Mundo", Brasiliense, 15 edições; "O que é capital?", Brasiliense, 10

edições; "Aspectos econômicos da Educação", Ática, 2 edições; "Introdução ao Planejamento

Municipal", Brasiliense; o seu livro sobre a economia brasileira, "Formação do Capitalismo

Dependente no Brasil", foi publicado na Polônia, na França e em Portugal, além da edição

brasileira pela Brasiliense. O livro está esgotado, mas texto completo encontra-se disponível

nesta página.

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Em 1994 publicou "O que é Poder Local?", pela Brasiliense; "Informática e os Novos Espaços

do Conhecimento", São Paulo em Perspectiva, SEADE 1994, bem como Descentralização e

Governabilidade, na Revista do Serviço Público, ENAP, Brasilia, Jan/Jul 1994, também

publicado na Latin American Perspectives, California, Jan. 1998. Urban Children in Distress:

practical guidelines for local action pela revista Development: Journal of the Society for

International Development, 1996:I, Oxford, Cambridge 1996

O seu ensaio sobre Educação, Tecnologia e Desenvolvimento foi publicado em 1995 na

coletânea coordenada por Lúcia Bruno "Educação e Trabalho no Capitalismo Contemporâneo",

pela editora Atlas. Em 1996 publicou Da Globalização ao Poder Local: a Nova Hierarquia dos

Espaços na coletânea "A Reinvenção do Futuro", editada pela Cortez. Em 1998 foram publicados

Os Desafios da Globalização, coletânea organizada com Octavio Ianni, Paulo Rezende e outros,

e A Reprodução Social, estudo de sistemas de gestão social, ambos pela Vozes. Em 2001

publicou O Mosaico Partido: a economia além das equações bem como a coletânea Desafios da

Comunicação (org.) e Democracia Econômica (2008), também pela Editora Vozes.

2.2 Principais aspectos da entrevista

Impacto Cultural

Passamos da cultura que precisava de um intermediário para uma cultura que cria informação,

conhecimento, aplicações, blogs, lojas online e todo o ambiente online. A relação com a música,

dança, cinema, artes em geral muda completamente. Antes assistíamos sentado no sofá, agora

somos agentes criadores de cultura. Não necessitando de um grande intermediário que escolhe o

que assistimos ou não.

Deslocamento Econômico ou Democracia Econômica

No mercado tradicional ou off-line o ciclo de produção e distribuição é produção, venda, recebe

dinheiro e produz mais. O conhecimento é o elemento de valor de um produto. Quando o

conhecimento é a base do valor que a gente produz, mais toda a humanidade enriquece.

Vendi por esse tanto e mais um valor, isso gera o meu lucro. Isso a gente entende. E quando o

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valor é um bem cultural? O desafio é o deslocamento da remuneração. Pegue as grandes editoras

que dizem: “Não se disponibilizar online, a gente vai perder dinheiro.” As instituições é que têm

que se adaptar às novas tecnologias, e não tentar impedir o acesso.

Esse deslocamento provoca a mudança de um processo de cruzamento de criatividade

interculturais, interpessoais, interdisciplinar, precisa do meio online, da palavra-chave é o que

definem o campo de pesquisa e acessar informações. Diversas áreas e diversos enfoques criados.

Contradições do Modelo do Século Passado

Nas editoras, há brigas entre o administrativo, o jurídico e o editorial, que complicam a situação

de disponibilizar no meio online. Há a necessidade de mudanças. O que é mais importante? A

disponibilização dos textos para as pessoas poderem ler, o autor estar protegido porque ele que

criou as ideias ou o esforço das editoras para distribuir os livros?

A Produção na Cultura Digital

Diversos signos da cultura se veem desmaterializados. Transformamos matéria em sinais

magnéticos, em bits. Com isso há possibilidade absolutamente infinita de estocagem. Além de

serem públicas, ninguém é dono delas. A base tecnológica é uma base social, diferente de um

bem físico que tem que ser comprado a matéria prima que se torna o produto final. Essa

desmaterialização torna possível a conectividade planetária de todo conhecimento acumulado.

Os diversos atores vão se inserir nesse contexto. O essencial é que o conhecimento não está mais

apenas na minha cabeça (eu, como professor). Como a cultura muda, a educação vai ter que

mudar. Matéria-prima é conhecimento nas suas diversas formas.

Remuneração do Conhecimento

A cronologia da relação com o conhecimento está se deslocando e exige que certas pessoas não

se vejam obrigadas, para sobreviver, a aprender apertar certos tipos de parafuso e passar a vida

apertando esse tipo de parafuso.

O problema da cultura se desloca: nós estamos mais do que na hora de colocar na mesa a redução

da jornada de trabalho que se produz no mundo: 60 trilhões de dólares de bens e serviços ao ano.

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O que a gente produz é amplamente suficiente para todo mundo viver de maneira tranquila e com

dignidade.

Livre Acesso

Eles tentam cristalizar interesses e, com isso, tendem a atrasar os processos. De outra maneira, é

claro que a força da transformação tende a prevalecer. Trabalho colaborativo é muito mais

interessante que o travar o conhecimento.

O deslocamento básico, radical, que é o que se estuda como economia criativa, é que uma vez

que você gastou o investimento de criar um produto, a utilização desse conhecimento é gratuita.

Não é um bem físico, que tem que ter propriedade. Produção é uma coisa, circulação desse ser

gratuito e planetário.

Intermédio Financeiros

Quando você vai para a Suíça, ao invés de você ter um profissional perdendo tempo vigiando

uma pilha de jornais para vender a um preço ridículo, existem umas caixinhas na rua e você pega

o jornal e deposita o dinheiro.

Se alguém faz um bom serviço, não exige nada, você acaba contribuindo com algumas coisa.

Nós temos esse sentimento da reciprocidade nas pessoas. São processos colaborativos. Se

sairmos do pagamento extorsivo, por exemplo, das telefônicas, do cheque especial, enfim, de um

conjunto de elementos que nos faz correr o tempo todo atrás de dinheiro, as pessoas não se

preocuparam em pagar por um serviço pertinente.

Sociedade Competitiva x Colaborativa

O digital potencializa e fortalece uma sociedade colaborativa. O fato é que a circulação se tornou

gratuita. Mas ainda temos resquícios da visão do século passado dos pedágios. No caso do

conhecimento circular de graça, é um processo cultural, um processo civilizatório. A evolução

para a sociedade do conhecimento não garante, mas abre a possibilidade de sociedade muito

mais democrática.

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Cultura Digital

O que tem de novo na era digital é que antigamente se dizia que um município muito pequeno

não era viável culturalmente, não dá para viver, porque é muito isolado, sem interação. Na era

digital, essa questão não existe mais.

Intermediário

Quem impede o processo é o atravessador. Um cara que não produz, mas que vive de cobrar

pedágio em cima da produção dos outros. O que ocorre é um processo de desintermediação.

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3. PESQUISA COMPLEMENTAR

3.1 Bibliográfica

DOWBOR, Ladislau. Democracia Econômica, 2010. Disponível em: <http://

dowbor.org/10demoecovozes3.doc>. Acesso em: 10 dez. 2011.

3.2 Internet

1. http://dowbor.org/

2. http://dowbor.org/sobreld.asp

3. http://www.sebrae.com.br/setor/cultura-e-entretenimento/o-setor/economia-criativa

4. http://www.garimpodesolucoes.com.br/downloads/ebook_br.pdf

5. http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/trampo/2010/07/12/253645-economia-criativa-

saiba-o-que-e-e-como-voce-pode-se-dar-bem-com-ela

6. http://mundoconectado.net/noticias/1044/

7. http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI177613-17180,00-

MENINO+DE+OITO+ANOS+GANHA+DINHEIRO+COM+CRIACAO+DE+APL

ICATIVOS+PARA+IPHONE+E.html

8. http://exame.abril.com.br/pme/noticias/aos-16-anos-britanico-ganha-us-1-mi-

empresa-online-587649

9. http://exame.abril.com.br/pme/startups/noticias/garoto-de-12-anos-cria-startup-e-

surpreende-em-palestra-do-ted

10. http://www.cartacapital.com.br/politica/o-brasil-de-ladislau-dowbor/

11. http://www.youtube.com/watch?v=szNSCklQnWY

12. http://www.youtube.com/watch?v=k_FqC61S0oc

13. http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ehDAP1OQ9Zw

14. http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=Ld0imSXkShA

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4. PRODUÇÃO DE VÍDEO, PAINEL E OUTROS

Para o seminário foram produzidos o trabalho escrito e a apresentação em PowerPoint.

5. BIBLIOGRAFIA

SAVAZONI, Rodrigo e COHN, Sergio (org.). Cultura digital.br. Rio de Janeiro: Beco do

Azougue, 2009.

VALLIAS, André. Arte e tecnologia. In: SAVAZONI, Rodrigo e COHN, Sergio (org.). Cultura

digital.br. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009.

VALLIAS, André. Arte e tecnologia. Disponível em: www.culturadigital.br Acesso em:

13/nov./2010

6. ANEXOS

Imagem capturado do YouTube, com Ladislau Dowbor, abordando a Educação e Tecnologia.