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O agregador do marketing. 6 Fevereiro de 2011 www.briefing.pt Entrevista “Acho que não há nada mais eficaz do que um evento. Por isso dizemos que um evento não é um momento é um movimento, pois faz perdurar o objectivo a que se propõe”, afirma Pedro Rodrigues, 42 anos, coordenador executivo da Desafio Global Ativism – Corporate Events Ramon de Melo Evento é o mais eficaz Pedro Rodrigues, coordenador executivo Desafio Global Ativism Briefing | A Ativism, de que faz parte a Desafio Global, foi consi- derada uma das melhores empre- sas para se trabalhar em Portugal. Quer dizer que é bom líder, fácil de aturar? Pedro Rodrigues | Esse prémio, de que nos orgulhamos, é um bocadi- nho o reflexo do ambiente que se vive cá dentro: criatividade, motiva- ção das pessoas, empenho. A re- Cristina Arvelos jornalista muneração não é tudo. A motivação para virmos trabalhar passa também pelo ambiente de trabalho, pelo tipo de envolvimento das pessoas nos projectos, pela responsabilidade e autonomia das equipas. Orgulhamo- -nos de ter esse ambiente. Briefing | Há muitas regras na Ati- vism? PR | Já houve. Hoje em dia as únicas regras são as que têm como con- sequência uma salutar convivência para uma melhor concretização da actividade do dia-a-dia. Vou dar um exemplo: fazemos cerca de duzen- tos eventos por ano, cada um dá ori- gem a mil fotografias. Não se podem arquivar todas. Seleccionam-se 20 de cada evento. Há regras que não restringem a capacidade e criativida- de das pessoas.

Entrevista com Pedro Rodrigues

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Entrevista com Pedro Rodrigues

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Page 1: Entrevista com Pedro Rodrigues

O agregador do marketing.6 Fevereiro de 2011

www.briefing.ptEntrevista

“Acho que não há nada mais eficaz do que um evento. Por isso dizemos que um evento não é um momento é um movimento, pois faz perdurar o objectivo a que se propõe”, afirma Pedro Rodrigues, 42 anos, coordenador executivo da Desafio Global Ativism – Corporate Events

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Evento é o mais eficazPedro Rodrigues, coordenador executivo Desafio Global Ativism

Briefing | A Ativism, de que faz parte a Desafio Global, foi consi-derada uma das melhores empre-sas para se trabalhar em Portugal. Quer dizer que é bom líder, fácil de aturar?Pedro Rodrigues | Esse prémio, de que nos orgulhamos, é um bocadi-nho o reflexo do ambiente que se vive cá dentro: criatividade, motiva-ção das pessoas, empenho. A re-

Cristina Arvelosjornalista

muneração não é tudo. A motivação para virmos trabalhar passa também pelo ambiente de trabalho, pelo tipo de envolvimento das pessoas nos projectos, pela responsabilidade e autonomia das equipas. Orgulhamo--nos de ter esse ambiente.

Briefing | Há muitas regras na Ati-vism? PR | Já houve. Hoje em dia as únicas

regras são as que têm como con-sequência uma salutar convivência para uma melhor concretização da actividade do dia-a-dia. Vou dar um exemplo: fazemos cerca de duzen-tos eventos por ano, cada um dá ori-gem a mil fotografias. Não se podem arquivar todas. Seleccionam-se 20 de cada evento. Há regras que não restringem a capacidade e criativida-de das pessoas.

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O agregador do marketing.

www.briefing.pt Entrevista

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“A remuneração não é tudo. A motivação

para virmos trabalhar passa também

pelo ambiente de trabalho, pelo tipo de envolvimento das pessoas nos projectos, pela

responsabilidade e autonomia das

equipas. Orgulhamo- -nos de ter esse

ambiente”

“Nunca tenho o meio- -termo. Sou sempre

assim: ou oito ou 80. Ou gosto ou não gosto. Ou centralizo

ou delego”

Briefing | Aprende-se a liderar?PR | Estou à frente da Desafio Glo-bal desde o primeiro dia: 1 de Abril de 2001. Durante este tempo, entre outras coisas, aprendi a delegar. E consigo delegar. Nunca tenho o meio-termo. Sou sempre assim: ou oito ou 80. Ou gosto ou não gosto. Ou centralizo ou delego. Quando a Desafio Global nasceu contavam-se pelos dedos das mãos as pes-soas que cá trabalhavam. Hoje em dia são oito equipas de gestão de eventos, cada equipa tem um líder e eu tenho a coordenação dessas equipas. A liderança acontece na-turalmente, até porque as equipas são autónomas.

Briefing | As pessoas não são nú-meros na Desafio Global?PR | Acreditamos que as pessoas não são números. São cores. Eu sou azul. Tem a ver com a nossa reestru-turação interna. Cada equipa corres-ponde a uma cor.

Briefing | Quantos prémios já ga-nhou a Desafio Global?PR | Não tenho uma ideia concreta, mas cerca de cem, entre os nacio-nais e os ibéricos. Os prémios são um enorme estímulo. Pensarmos que, efectivamente, ganhamos lá fora prémios a concorrentes que fizeram eventos com orçamentos muito superiores aos nossos, é um reconhecimento do que se está a fa-zer em Portugal. É uma prova de que se está a fazer o melhor com menos recursos. Briefing | Mas a Desafio Global tem a fama de só trabalhar com orçamentos altos…PR | É um estigma, com o qual não concordo. Muitas vezes quando estamos a concurso, é fácil a uma empresa, menos habilitada do que nós ,esquecer-se de orçamentar al-gumas coisas, facto que tem como consequência um orçamento mais baixo.

Briefing | Um bom orçamento é essencial para um bom evento?PR | Hoje em dia, o essencial é o equilíbrio. Geralmente o cliente pede um Ferrari, mas só tem bud-get para um Mini. É no equilíbrio

entre o que se quer fazer e o que se consegue fazer, que está a rela-ção certa para o sucesso.

Briefing | Tem sentido os efeitos da crise?PR | Na área dos eventos, sempre se viveu em crise. Há uns anos, os eventos eram o parente pobre da co-municação. Hoje em dia já não é tan-to assim, mas a verdade é que esta área nunca viveu em tempos de va-cas gordas. Há muitos anos que es-tamos habituados a fazer muito com pouco dinheiro. A situação agravou-se um bocado desde há dois anos. Mas o que acontece é que as coisas são cada vez mais desafiantes: é preciso fazer mais com menos. Briefing | De todos os prémios re-cebidos, qual teve um sabor mais especial?PR | Cada prémio tem uma história. Mas os que gostamos mais de ga-nhar são os que têm uma história de sacrifício e inovação. São even-tos reconhecidos como inovadores na sua área e que implicam risco. O evento Dream Circle que criámos para a Samsung é um bom exemplo disso.

Briefing | O que a levou a criar a Desafio Global?PR | Comecei a trabalhar muito cedo. Tive sete anos a tirar Marketing no IADE, que é um curso de três anos. Fui fazendo o curso a prestações. Estou ligado à organização de even-tos desde os 19 anos. Interessei-me por esta área, porque não queria ir para as áreas tradicionais do Direito ou Gestão.

Briefing | Qual é o principal desa-fio... da Desafio Global em 2011?PR | Continuar a crescer, fazer even-tos de qualidade, mais eventos se possível. Em 2010 passámos os duzentos eventos. Queremos mais e com sucesso.

Briefing | Já aconteceu não correr bem ou você é perfeito?PR | Sou quase perfeito…

Briefing | Nunca se deixa ir abai-xo?PR | Acho que nunca. É uma área

“Na área dos eventos, sempre se viveu em crise. Há uns anos, os eventos eram o parente pobre da comunicação. Hoje

em dia já não é tanto assim, mas a verdade é que esta área nunca viveu em

tempos de vacas gordas”

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O agregador do marketing.8 Fevereiro de 2011

www.briefing.ptEntrevista

“Hoje em dia, o essencial é o

equilíbrio. Geralmente o cliente pede um

ferrari, mas só tem budget para um Mini. é no equilíbrio entre o que se quer fazer

e o que se consegue fazer, que está a

relação certa para o sucesso”

“Hoje em dia, tudo é eventos. Qualquer pavilhão multiusos é um pavilhão de eventos, qualquer

feira é uma feira de eventos. Claramente há aqui uma fronteira em que ninguém sabe

o que é um evento. Ou seja: já nem

sabemos se receber amigos em casa para

jantar é também um evento…”

de pressão. Costumamos dizer que stress não, pois não é saudável. Mas um evento é um acto em tempo real. Não há nada para fazer pausa.

Briefing | Os eventos não estão a tornar-se banais?PR | Hoje em dia, tudo é even-tos. Qualquer pavilhão multiu-sos é um pavilhão de eventos, qualquer feira é uma feira de eventos. Claramente há aqui uma fronteira em que ninguém sabe o que é um evento. Ou seja: já nem sabemos se rece-ber amigos em casa para jantar é também um evento …

Briefing | Se puser no facebook…PR | …É isso. Mas há também uma evolução em relação aos conteúdos, à área da responsabilidade social. Todos os momentos do evento, des-de o convite à sua concretização, devem passar uma mensagem. E há o outro lado: em que há pessoas que acham que é sexy vir trabalhar para a área dos eventos…

Briefing | Para depois aparecerem nas revistas cor-de-rosa, cheias de plásticas…PR | Por isso é que é fantástico ter uma coisa que se chama De-safio Global Corporate Events. Porque esses eventos não são os nossos. Sabemos fazer se for preciso, mas não é isso que que-remos. Nós trabalhamos onde os outros se divertem. Estamos ha-bituados a marcas, a consistên-cia, a mensagem.

Briefing | A Gala dos Globos de Ouro que já organizou é um evento?PR | É um evento e é também um conteúdo televisivo, com tudo o que isso implica. E por ser televisivo ain-da nos coloca mais pressão. O con-certo da Mariza que fizemos no ano passado na barragem do Alqueva é um exemplo disso.

Briefing | Que eventos está a pre-parar?PR | Há uns anos, o evento era ge-rido a um ano de distância. Hoje é cada vez mais gerido a curto prazo, duas semanas antes. Neste

momento estamos a fechar uma série de projectos, mas com esta maneira de se fazerem coisas, não tenho mais nada a dizer.

Briefing | Já lhe chamaram guru. Acha-se um guru?PR | Não. Sinto-me lisonjeado, mas não gosto, não cultivo, nem alimen-to esse tipo de classificações. De alguma forma pode ser um reflexo do papel pioneiro que não eu, mas a Desafio Global tem tido no mercado. E voltamos à questão dos prémios como reconhecimento, que nos co-loca como uma referência a nível na-cional e ibérico na área de eventos.

Briefing | fica danado quando não ganha prémios?PR | Danado é uma expressão muito forte. Fico triste. Mas percebo por-que não os ganhamos, sobretudo quando essa questão se coloca a nível europeu.

Briefing | Está muita gente a fugir para outros mercados, nomeada-mente o brasileiro e o angolano. Esse também é um objectivo da Desafio Global?PR | Temos estado nesses merca-dos nos últimos anos sempre que os nossos clientes portugueses as-sim o solicitam. É-nos fácil desen-volver um projecto cá, que depois é implementado nesses países. Mas se tiverem reunidas as condições para estarmos nesses mercados de outra maneira, é óbvio que diremos que sim.

Briefing | 2011 será um bom ano para os eventos?PR | 2011 perspectiva-se como um ano bom, fruto dos sinais que temos. Não sei se há uma retoma, mas noto que há alguma serenidade e acalmia do mercado.

Briefing | Os eventos vieram rou-bar espaço à publicidade dita tra-dicional?PR | Espero que sim. Sou suspeito. Acho que não há nada mais eficaz do que um evento. Por isso dizemos que um evento não é um momento é um movimento, pois faz perdurar o objectivo a que se propõe.

Briefing | Se tivesse que fazer um evento para se retratar o que ia buscar?PR | O que fazemos ao longo do ano, eventos de responsabilidade social. Apadrinhamos algumas causas des-de a primeira hora. São eventos em que não somos remunerados, mas são aqueles em que nos realizamos mais, pois são aqueles em que nos encontramos e onde podemos con-tribuir para a sociedade. Briefing | Considerando-o o Luís Paixão Martins dos eventos, quem é o seu António Cunha Vaz?PR | Na área dos eventos há alguma dificuldade em identificar os con-correntes. Acredito que a Desafio Global é a melhor e a maior empresa de organização de eventos em Por-tugal. Se não acreditasse nisso, não estaríamos aqui.

Pedro nasceu em Lisboa, é casado e tem três filhos, com 22, 12 e 10 anos. Mima muito a família, também como forma de a compensar do tempo livre que muitas vezes não consegue ter. É um magro “com barriga”, que come e bebe bem todos os dias. Frequenta o Olivier e o Solar dos Presuntos e garante que “a sua sopa de tomate e o seu arroz de atum, com refogado e ovo e tudo a que tem direito são uma especialidade”. Praticou parapente e só desistiu depois de vários acidentes. Tem uma paixão pela música de Kate Bush, página no facebook e o blog www.blogdoseventos.com. Diz-se vaidoso e tímido. Assim: “Sou bipolar. Sou muito tímido em determinadas circunstâncias e excessivamente frontal noutras. Sou ainda obsessivo e compulsivo com os detalhes”.

Arroz de atum, parapente e bipolarPERfIL

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em www.briefing.pt