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Inflação controlada,é hora de Ir às comprasf
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r SBens&SERVIÇOS
cOnSumO
Revista da Federação do comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul – número 60 / ABRIL 2010
Entrevista maurIcIo de sousa, o paI da turma da mônIca, fala de sua carreIra e negócIos
dInhEIRO
GEStãO
Quando pedir ajuda externa
esconderam as moedas
EXPE
DIEN
TE
Publicação mensal do sistema Fecomércio-rs Federação do
comércio de bens e de serviços do estado do rio Grande do sul
Rua Alberto Bins, 665 – 11º andar – Centro
CEP 90030-142 – Porto Alegre/RS – Brasil
Fone: (51) 3286-5677/3284-2184 – Fax: (51) 3286-2143
www.fecomercio-rs.org.br – [email protected]
Presidente: Moacyr Schukster
vice-Presidentes: Antônio Trevisan, Flávio José Gomes, Ivo José Zaffari, João
Oscar Aurélio, Joarez Miguel Venço, Jorge Ludwig Wagner, Júlio Ricardo Mottin,
Luiz Antônio Baptistella, Luiz Caldas Milano, Luiz Carlos Bohn, Manuel Suárez,
Nelson Lídio Nunes, Olmiro Lautert Walendorff, Renato Turk Faria
e Zildo De Marchi
vice-Presidentes reGionais: Cezar Augusto Gehm, Cláudia Mara Rosa,
Francisco Franceschi, Hélio José Boeck, Ibrahim Mahmud, Joel Vieira Dadda,
Leonides Freddi, Níssio Eskenazi, Ricardo Tapia da Silva, Sérgio José Abreu Neves
e Sérgio Luiz Rossi
diretoria: Airton Floriani, Alécio Lângaro Ughini, André Arthur K. Dieffenthaler,
André Luis K. Piccoli, André Luiz Roncatto, Arnildo Eckhardt, Arno Gleisner, Ary
Costa de Souza, Carmen Flores, Celso Canísio Müller, Derli Neckel, Edson Luis
da Cunha, Eugênio Arend, Fábio Norberto Emmel, Francisco Amaral, Gerson
Jacques Müller, Gilberto Cremonese, Hélio Berneira, Hildo Luiz Cossio, Ildemar
José Bressan, Ildoíno Pauletto, Isabel Cristina Vidal Ineu, Itamar Tadeu Barbosa da
Silva, Ivanir Gasparin, Ivar Ullrich, Jair Luiz Guadagnin, João F. Micelli Vieira, Joel
Carlos Köbe, Jorge Rubem D. Schaidhauer, José Nivaldo da Rosa, Jovino Antônio
Demari, Jovir P. Zambenedetti, Júlio César M. Nascimento, Jurema Pesente e Silva,
Leonardo Schreiner, Levino Luiz Crestani, Liones Bittencourt, Lúcio Gaiger, Luis
Fernando Dalé, Luiz Alberto Rigo, Luiz Carlos Dallepiane, Luiz Eduardo Kothe, Luiz
Henrique Hartmann, Luiz Roque Schwertner, Marco Aurélio Ferreira,
Maria Cecília Pozza, Marice Guidugli, Milton Gomes Ribeiro, Olmar João Pletsch,
Paulo Anselmo C. Coelho, Paulo Antônio Vianna, Paulo Ganzer, Paulo Renato
Beck, Paulo Roberto Kopschina, Paulo Saul Trindade de Souza, Régis Feldmann,
Renzo Antonioli, Ricardo Murillo, Ricardo Pedro Klein, Roberto Segabinazzi,
Rogério Fonseca, Rui Antônio Santos, Silvio Henrique Fröhlich, Sírio Sandri, Susana
Fogliatto, Tien Fu Liu, Valdo Dutra Nunes, Walter Seewald e Zalmir Fava
Conselho Fiscal: Rudolfo José Müssnich, Celso Ladislau Kassick, José Vilásio
Figueiredo, Darci Alves Pereira, Sérgio Roberto H. Corrêa, Ernani Wild
Conselho Editorial: Antonio Trevisan, Derly Cunha Fialho, Everton Dalla Vecchia,
Ivo José Zaffari, José Paulo da Rosa, Luiz Carlos Bohn, Manuel Suárez, Moacyr
Schukster, Renato Turk Faria e Zildo De Marchi
assessoria de comunicação: Aline Guterres, Camila Barth, Caroline Santos,
Catiúcia Ruas, Fernanda Borba, Fernanda Romagnoli, Liziane de Castro
e Simone Barañano
coordenação editorial: Simone Barañano
edição: Fernanda Reche (MTb 9474) e Svendla Chaves (MTb 9698)
rePortaGem: Bianca Alighieri, Francine de Souza, Marianna Senderowicz,
Patrícia Campello,Tatiana Gappmayer
colaboração: Clarice Passos, Edgar Vasques, Moacyr Scliar, Priscilla Ávila,
Yeda Crusius
revisão: Flávio Dotti Cesa
edição de arte: Silvio Ribeiro
Foto de caPa: Getty Images
tiraGem: 25,5 mil exemplares
imPressão: Pallotti
É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte.
Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do veículo.
sumárIo
opinião
agenda 06palavra do presidente 07notícias & negócios 08dinheiro 12guia de gestão 14
17entrevista 18trabalho 22meio ambiente 24saiba mais 32tecnologia 34gestão
excelência 39chile
moda
turismo 44visão econômica 46glossário 47visão política
crônica
48
50
mais & menos 49
36
4042
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60
&sErVIÇosbens
0518entrevista
Histórias Para toda a vida
Há 50 anos, Mauricio de Sousa deu vida a uma turma
que sobrevive no imaginário dos mais velhos e aguça a
curiosidade das novas gerações
34
uPGrade bem ProGramado
Antes de trocar os computadores é importante
sistematizar as rotinas de produção da empresa
para escolher o equipamento mais adequado tecnologia
26de onde viemos
e Para onde vamos?Quem viveu os anos da hiperinflação sabe
o valor que o dinheiro tem. As mudanças
na vida e no comportamento dos
brasileiros com a criação do Plano Real
mercado
12
o sumiço das moedas e cédulas
A falta de moedas e cédulas de pequeno valor é um
problema diário na vida dos comerciantes. Para evitá-lo, a
dica é gerenciar o caixa e manter uma reserva financeira Dinheiro
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6006A G E N D A abril / maio
28/04Fashion Way
Primeiro dia do evento, que conta com apoio do Senac. No estaciona-mento do Canoas Shopping. Informa-ções (51) 3415-5100 ou www.canoasshopping.com.br
29/0410° Fenegócios
Evento vai até 02/05 no Parque de Exposição Dr. Lauro Dornelles, em Alegrete
1o/05cultura
Primeiro dia do 5º Festival Palco Giratório Sesc/Porto Alegre. Evento vai até o dia 31/05 com apresentações em diversos pontos da cidade
03/05saúde
Inauguração da Unidade Sesc de Saúde Preventiva em Cachoeira do Sul. Informações: www.sesc-rs.com.br/saudesesc
04/05institucional
Inauguração das novas instalaçõesdo Balcão Sesc/Senac Palmeira das Missões
13/05música
Vai até o dia 15/05 a 1ª Mostra Sesc de Música Gaúcha, São Borja
21/05bem-estar
Último dia para usufruir das massagens gratuitas no Senac Santa Cruz do Sul
26/05dia do desaFio 2010
No Estado, o evento é promovido pelo Sesc em centenas de cidades gaúchas.
24/04artes cênicas
A turnê do espetáculo teatral “A Comédia dos Erros” estende-se até 30/04. Em Passo Fundo, Santa Cruz do Sul, Lajeado, Santa Maria e Erechim
25/04mostra casa da saúde sesc
Último dia das atividades em Cara-zinho. Informações: www.sesc-rs.com.br/saudesesc
26/04inauguração senac comunidade
Na Escola Estadual Júlio de Castilhos, na capital. Informações: (51) 3211-3579
27/04Fiema
Senac participa com Ateliê Culinário, até 30/04 no Parque de Eventos Fundaparque, em Bento Gonçalves
18/048o beauty Fest
Primeiro dia do evento, no Parque do Imigrante, em Lajeado. Informações: (51) 3478-4644 ou www.beautyfest.com.br
* mais inFormações sobre as atividades culturais do sesc-rs estão no site WWW.sesc-rs.com.br/artesesc
19/04história
Encerramento da Exposição Sesc/Senac 60 anos, no Senac Erechim
20/04espetáculo teatral
Fim da turnê da peça “Doidas e San-tas”, com Cissa Guimarães, promo- vida pelo Arte Sesc. Confira no site www.sesc-rs.com.br/artesesc os locais de apresentação
23/04espetáculos
Início da turnê dos espetáculos “A Julieta e o Romeu”, “Medida por Me-dida”, “A Devolução Industrial”, “As Bufa”, em várias cidades do Estado. Uma promoção do Arte Sesc durante todo o mês de maio
15/04TeATro e TreinAmenTo
Senac traz para Lajeado a peça lúdica Os Su-perprofissionais do Atendimento, no Clube Tiro
e Caça. Mais informações: (51) 3748-4644
Palavra do Presidente
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Moacyr SchuksterPresidente do Sistema Fecomércio-RS
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O significado da palavra italiana “penti-mento” nos remete à sincronia do cená-rio econômico brasileiro passado e suas mazelas decorrentes. Pentimento pode designar repetência, correção ou reapare-cimento, numa pintura, de um desenho que havia sido pintado por cima. Signifi-ca dizer que por trás da imagem retratada é possível identificar outra arte feita an-teriormente. É o que podemos dizer que acontece com a “imagem” que a maioria das pessoas vê do mundo atual, já que muitos desconhecem a origem do que vivenciamos e qual a verdadeira história econômica da nação.
Quem hoje tem 25 anos, se olhasse pra trás talvez não visse um cenário tão boni-to. A inflação começou a ser debelada a partir do Plano Real, em 1994, numa ten-tativa – meritória, deve-se dizer – de con-ter o tão exacerbado aumento de preços. O câmbio instável, à época, fez com que o dólar chegasse a valer R$ 4,00. E é aí que entra a analogia com a palavra pentimen-to, pois é mais comum a maioria da po-pulação, sobretudo os mais jovens, olhar apenas para a primeira imagem, essa que está diante dos nossos olhos hoje, sem lembrar que, por trás disso tudo, passa-mos por alguns apertos.
Quem recorda do tempo em que produ-tos fabricados no exterior eram um luxo nos lares brasileiros? Houve um confisco,
sem aviso prévio, de parte dos rendimen-tos e o Governo só liberou os valores em 18 meses. Um alvoroço generalizado. Mesmo nós, experientes e calejados, te-mos dificuldade de imaginar que houve um tempo em que, no período de duas semanas, um produto poderia simples-mente dobrar de preço.
Se todas essas mudanças nos parecem positivas, é preciso estar atentos aos ris-cos que elas comportaram. Quem abriu seu empreendimento na década de 1980, teve que aprender a se reinventar. Não foi à toa que o comércio varejista aprendeu a conviver com a inflação. Não havia outra escolha!
Mas o tempo passou e a situação mudou. Para mantermos os negócios saudáveis e sempre em desenvolvimento, é preciso entender que nenhum tempo ou situação dura para sempre.
Mudaram os consumidores e os lares, po-rém, mais importante: mudou a mentali-dade do brasileiro. Hoje nosso mercado está mais evoluído e regulado. Em vista da firme condução da política monetária brasileira, temos mais segurança nos ne-gócios e em nossa vida pessoal, podendo controlar nossas rédeas para a construção de um futuro ainda mais promissor.
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Correntistas ganham aliado Entrou no ar na primeira semana de abril o site Sac dos Bancos
(www.sacbancos.com.br), uma nova ferramenta que irá auxiliar o
consumidor a exigir qualidade nos Serviços de Atendimento de
bancos. O objetivo é monitorar a implantação das medidas definidas
pelo governo para garantir qualidade no atendimento às solicitações
do cliente. O
serviço não irá
resolver questões
individuais, pois a
proposta é reunir
os problemas
enfrentados pelos
clientes no quesito
atendimento e
a partir disso
produzir relatórios que serão usados para identificar as falhas e
gerar regras de conduta para evitá-las. Todos os bancos filiados à
Federação Brasileira de Bancos (Febraban), instituição responsável
pela iniciativa, participam.
Nela nós confiamosA Porto Seguro encabeça a lista brasileira da
pesquisa “Além da Confiança: Envolvendo
Consumidores em um Mundo Pós-
Recessão”, feita pela Millward Brown do
Brasil. O objetivo do estudo exclusivo,
realizado em 22 países, é apontar o
índice de confiança e recomendação das
marcas junto aos consumidores. No topo
do ranking americano ficou a gigante do
e-commerce, Amazon. “Os resultados
indicam que as marcas presentes neste
ranking possuem um vínculo sólido com
o consumidor e probabilidade sete vezes
superior de serem consideradas na hora da
compra”, explica Silvia Quintanilha, vice-
presidente de atendimento da Millward
Brown do Brasil.
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Mesa Brasil Porto Alegre tem novas instalaçõesEm parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, o Programa Mesa
Brasil Sesc inaugurou suas novas instalações na capital gaúcha.
Localizado na rua João Inácio, 247, no bairro Navegantes, o
novo prédio contempla a estrutura da Unidade Operacional
Sesc Comunidade. Passam a funcionar no espaço as atividades
do Programa Mesa Brasil e Envolva-se.
A nova sede possui duas salas para realização de ações
educativas na área de nutrição e estímulo à geração de trabalho
e renda, dois depósitos de alimentos e produtos, além de área administrativa. A inauguração (foto) aconteceu no dia 29 de
março com a presença do presidente do Sistema Fecomércio-RS, Moacyr Schukster; do diretor do Sesc/RS, Everton Dalla
Vecchia; do secretário de Esportes, Recreação e Lazer de Porto Alegre, João Bosco Vaz; do secretário de Produção, Indústria
e Comércio de Porto Alegre, Idenir Cecchin, além de representantes da Fecomércio-RS e autoridades.
Público prestigia evento do Senac Lajeado Mais de mil pessoas assistiram à peça teatral
Os Superprofissionais do Atendimento, evento
promovido pela Escola de Educação Profissional
Senac Lajeado. Passado na cidade fictícia de
“Empresopólis”, o espetáculo utilizou bom humor
e descontração para falar sobre os desafios do
atendimento. Quatro divertidos profissionais se
revezam para descobrir as falhas que estão levando
os clientes para a concorrência. Pela primeira vez
em Lajeado, a peça uniu teatro com treinamento
organizacional e capacitou, de forma lúdica, as
1.200 pessoas presentes que lotaram o auditório
do Clube Tiro e Caça.
Anuário revela finanças dos municípiosA receita dos municípios brasileiros teve o seu melhor desempenho
dos últimos dez anos em 2008, quando cresceu 15,2%.
O resultado consta do anuário MultiCidades produzido pela Frente
Nacional de Prefeitos e divulgado no início de março. Além de
apresentar um panorama geral das finanças municipais, a publicação
traz também informações sobre investimentos em saúde, educação,
despesas, arrecadações, entre outros. Com recursos extras de R$
35 bilhões, o total da receita municipal chegou a R$ 264,85 bilhões,
valor que representou 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacio-
nal de 2008. Por meio do anuário é possível identificar o potencial
gerador de receita que cada taxa municipal ou tributo tem.
Uma América urbanaQuatro em cada cinco latino-americanos vivem em cidades,
contribuindo para que a região compreendida pela América
Latina e Caribe seja a mais urbana do mundo. A constatação
está no relatório sobre o Estado das Cidades da América Latina
e do Caribe elaborado pela Organização das Nações Unidas e
divulgado durante o Fórum Urbano Mundial 5. O êxodo rural, em
função das dificuldades de acesso a serviços básicos no campo, e
a insegurança das cidades do interior foram apontados como os
principais motivos para esse acelerado crescimento urbano. Além
dessas informações, o relatório quantifica as desigualdades sociais
em comparação com renda e emprego. Segundo Cecília Martínez
Leal, coordenadora do projeto, o objetivo central do relatório é
informar ministros e governos locais sobre os problemas urbanos,
em busca de um desenvolvimento sustentável.
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Nova classificação hoteleira em debateDesde o mês de fevereiro, o Ministério do
Turismo realizou uma série de encontros pelo
país com o objetivo de debater o projeto de
criação de uma nova matriz de classificação
hoteleira. O primeiro encontro aconteceu
em Porto Alegre e sem o apoio das principais
entidades do setor. Seus representantes
afirmam que a classificação impede a livre
iniciativa comercial, além de trazer ônus para
os empresários, que terão que custear as
auditorias. Eles defendem que a seleção dos
melhores é feita pelo próprio mercado, pelo
próprio turista. Do outro lado, o Ministério do
Turismo afirma que a proposta é enquadrar a
hotelaria brasileira nos padrões internacionais
de turismo, oferecendo garantias aos turistas.
Ainda segundo o órgão federal, os princípios
norteadores do trabalho são: consistência,
transparência, legalidade, simplicidade,
agregação de valor, imparcialidade, melhoria
contínua e flexibilidade. Os próximos
encontros estão agendados para 15 e 16/4,
em Ouro Preto, para Hotel Histórico; dias 26
e 27/4, em Tibau do Sul (RN), para Pousada;
dias 3 e 4/5, em Vitória (ES), para Flat e; dias 6
e 7/4, em Manaus, para Hotel de Selva.
Comunicação conscienteBrasileiros ainda não valorizam produtos de empresas ambiental-
mente responsáveis. A constatação é do “Dossiê de Consumo
Sustentável”, feito pelo Portal Unomarketing, em parceria com a
revista Ideia Socioambiental, a MOB Consult e a Market Analisys.
Segundo o estudo, para 35% dos brasileiros o fator decisivo de
compra é o preço; diferentemente, nos Estados Unidos e Ocea-
nia, 55% do público prefere produtos de empresas socialmente
responsáveis. No Brasil, apenas 9% dos entrevistados mostraram-
se preocupados com o comportamento socioambiental do
fabricante; outros fatores como características funcionais (19%),
confiança na marca (16%) e disponibilidade (13%) são citados.
A íntegra do Dossiê de Consumo Consciente está disponível para
download no Portal Unomarketing (www.unomarketing.com.br),
na sala temática sobre o mesmo assunto.Sh
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Sesc-RS inicia a 5ª edição do Palco GiratórioO V Festival Palco Giratório Sesc/POA, promovido pelo Arte
Sesc – Cultura por toda parte, acontecerá tradicionalmente
no próximo mês de maio. Este ano, o evento conta com 38
espetáculos de grupos teatrais de várias regiões do país; além
de lançamentos de livros, oficinas, workshops e musicais que
refletem a diversidade cultural do evento. Nesta edição, o
Sesc/RS traz grandes nomes do teatro como os diretores
Eugenio Barba e Antunes Filho; atores da nova geração como
Sergio Marone, Maria Maya, Daniela Galli e Rodrigo Nogueira,
com o espetáculo “Play – sobre sexo, mentiras e videotape”;
e Dani de Barros com a peça “Ele Precisa Começar”. Mais
informações sobre o evento podem ser obtidas no site www.
sesc-rs.com.br/palcogiratorio.
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& GE Ó IC O S& NPós-graduação EAD Senac com inscrições abertasEstão abertas as inscrições para os cursos
de Pós-Gradução da Unidade Senac
Educação a Distância. São ofertados oito
cursos com aulas se iniciando nos meses
de abril, maio e junho. Especialização em
Gestão Cultural, Especialização em Gestão
da Segurança de Alimentos e Especializa-
ção em Educação a Distância começam
suas aulas no dia 24 de abril. Especialização
em Gestão Educacional, Especialização
em Governança de TI e Especialização em
Educação Ambiental têm início dia 22 de
maio, e Especialização em Gestão de Varejo e Especialização em Artes Visu-
ais: Cultura e Criação, com início dia 19 de junho. As inscrições podem ser
feitas no site www.senacead.com.br. Mais informações por meio do telefone
(51) 3284-1990 e pelo e-mail [email protected].
Anac regula direitos dos passageiros
Entra em vigor em junho a Resolução nº141 da
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que
trata da assistência devida ao passageiro por
problemas gerados pelas companhias aéreas.
A nova regulamentação incidirá sobre duas
situações corriqueiras nos aeroportos brasileiros:
voos atrasados ou cancelados e situações de
preterição (quando o passageiro é impedido de
embarcar por necessidade de troca de aeronave
ou overbooking). A principal mudança está na
redução do prazo que a companhia tem para
prestar assistência ao passageiro. Antes, os
clientes só tinham seus direitos atendidos após
quatro horas do horário marcado para o voo.
Com a Resolução essa assistência passa a ser
gradual de acordo com o tempo de espera.
inheiroD
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6012
pergunta “posso ficar devendo?” já é uma rotina para clientes de estabelecimentos comerciais. Os preços que bra dos, disseminados com as populares lojas de R$ 1,99 e também consequentes de mercadorias que nem sempre ganham tarifas arredondadas, vêm aumentando a dificuldade de se encontrar no mercado moedas de R$ 0,01, R$ 0,05 e R$ 0,10.
Segundo a assessoria de imprensa do Banco Central do Brasil (BC), a dificuldade não está na quantidade de dinheiro em circulação, mas sim no fato de muitas pessoas esquecerem os trocados em gavetas ou bolsos. Em razão disso, o BC calcula que mais de 50% do total das moedas metálicas produzidas estão fora do mercado, dificultando a vida de quem precisa ter troco em caixa. No caso das cédulas, muitas acabam recolhidas por danos como rasgos, riscos, remendos ou ainda por serem grampeadas.
Só no ano passado, 2 bilhões de moedas foram fabricadas, com maior volume para as de R$ 1,00, de R$ 0,10 e de R$ 0,05. Mesmo assim, o problema continua se repetindo. A falta desses valores, inclusive, fez o empresário Carlos Alberto Schroder Stahl passar trabalho. Sócio do Armazém da Esquina, padaria e confeitaria instalada há 16 anos em Porto Alegre, ele conta que inúmeras vezes ficou sem ter como dar o troco exato e acabou assumindo o prejuízo para não afastar o consumidor. “Optamos por puxar a conta
A
O sumiçO das moedas e cédulasEsquecidas nos bolsos ou guardadas nos cofrinhos, moedas e cédulas de pequeno valor
pouco circulam no mercado. Gerenciar o caixa e contar com uma reserva financeira
são medidas que evitam possíveis perdas provocadas pela falta de troco
para baixo, até um número redondo, para facilitar a operação.”
A prática também é adotada pelo presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia da capital (Sindpoa), José de Jesus Santos, proprietário do restaurante Corcovado, no centro da cidade. Estabelecido na região há quatro décadas, Santos comenta que orienta seus funcionários a receber o preço menor em vez de ficar devendo para o cliente. “Se a conta ficou em R$ 4,97, a recomendação é cobrar R$ 4,95”, exemplifica. O presidente do Sindipoa acrescenta que nunca é oferecida a alternativa de complementar o troco com balas, chicletes ou outro produto, pois o Código de Defesa do Consumidor estabelece que a pessoa deve pagar apenas por aquilo que comprou ou consumiu. “Esse artigo não é específico sobre a conduta, mas por analogia, fica claro que não é permitido substituir o dinheiro por um item não solicitado.”
Lucia Simon
carlos alberto Stahl, sócio do armazém da Esquina, criou uma rede de apoio para não ficar sem troco
Luci
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Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 13
A popularização dos valesrefeição e dos cartões de débito e crédito ajudou a reduzir os problemas com a procura por trocados. Porém implicou mais custos paras os estabelecimentos, que precisam arcar com as taxas de equipamentos e manutenção. “Antes, aproximadamente 95% do meu público pagava em dinheiro. Hoje, esse índice caiu para 30%, diminuindo o fluxo de caixa”, relata o presidente do Sindpoa. Com isso, faltam recursos para negociar com os fornecedores vantagens nos pagamentos à vista. Segundo Santos, os valores dos cartões e vales levam cerca de 20 dias para serem recebidos. “Mas para os consumidores é bom, pois não precisam andar com o dinheiro vivo.”
COntatO estratégiCODepois de muito sufoco, o dono do
Armazém da Esquina passou a manter uma reserva de dinheiro trocado na própria padaria ou na conta corrente do banco, o que permite sacar rapidamente quando necessário. Entretanto, mesmo pertencendo a uma mesma instituição por mais de dez anos e possuir uma agência próxima ao negócio facilitem
esse processo, Stahl não fica apenas com essas opções. O empresário montou uma rede de contatos que pode ser acionada em casos de emergência. “Nosso fornecedor de gelo é um deles. Como circula pela cidade e os pagamentos são realizados à vista, ele reúne muitas moedas”, salienta. Santos utiliza o mecanismo quando o banco não dispõe do montante de que precisa. Ele aposta ainda em outros empreendimentos que trabalham com valores pequenos, como lotéricas e bancas de jornais, para conseguir troco.
O comportamento das pessoas com o dinheiro também contribui para a falta de determinadas moedas em circulação. O presidente do Sindpoa ressalta que são poucas as que param para pro
curar os centavos ou que têm o hábito de andar com eles à mão. “Os consumidores de mais idade ou crianças tendem a guardar as cédulas ou moedas em casa”, completa. No Armazém da Esquina, Stahl possui clientes que uma vez por ano chegam com suas economias. Um deles já apareceu com cerca de R$ 500 em moedas de R$ 1,00.
Um contratempo enfrentado pelos dois empresários está relacionado ao fato de ambos venderem seus produtos, principalmente, através da pesagem. O restaurante de Santos oferece as opções de bufê livre e a quilo. Neste último, os preços acabam sendo sempre quebrados. A mesma realidade é enfrentada na padaria de Stahl, onde cerca de 90% da mercadoria é comercializada dessa maneira. Por isso, contar com troco tornase tão importante. O período mais crítico para ele é durante o final de semana, quando as agências bancárias não abrem. Com a lição que os anos de experiência trouxeram, ele inicia na quintafeira a preparação para sábado e domingo. “Nesses dias o movimento é grande e preciso ter condições de atender a todos.”
os cartões de crédito e débito facilitaram a vida do empresário José de Jesus Santos, mas trouxeram mais custos
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60
uia de GestãoG14
Investimentos na readequação da imagem ou dos produtos e serviços têm como alvo o
aumento da rentabilidade e o reforço da marca junto aos clientes. Mudanças desse nível,
entretanto, podem também favorecer o entusiasmo de toda a equipe
quandorenovar os negócios
s empresas precisam ter fôle-go para acompanhar as constantes mu-danças dos consumidores. Estar atento às novidades pode gerar inquietação so-bre a necessidade de adequar o negócio para aumentar os lucros e a participa-ção no seu segmento de mercado. As alterações podem ser traduzidas em um reposicionamento da companhia, na modificação da marca ou até mesmo na transformação do ambiente interno. A multiplicidade de opções leva o admi-nistrador a se perguntar se o momen-to e os motivos para isso são os certos e quando colocar a ação em prática, questionamentos esses desencadeados principalmente pela busca por melhores resultados e crescimento, que ocorrem, em geral, entre o quinto e o sétimo ano de operação. Isso após a consolidação comercial e operacional, salienta o di-retor da DPS Gestão Empresarial, Neri
Prates. Ele acrescenta que as vantagens incluem maior competitividade, novos desafios, atualização e dinamismo para o empreendimento.
A Mas quando vale a pena renovar a empresa? A professora de Gestão Em-presarial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Maria Cândida Torres, aponta que os indicadores de desempenho são uma ferramenta eficaz para avaliar se o negócio continua no rumo certo. En-tretanto, muitos empresários acham a medida uma perda de tempo e acabam
TexTo: TaTiana Gappmayer
Dentro de seu reposicionamento, a renova Lavanderia industrial decidiu rejuvenescer e modernizar o logotipo
antiga
atual
DivuLGação/mS2
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 15
calculando a performance apenas pelo lucro, que, apesar de essencial para a sobrevivência, não deve ser o único parâmetro. Maria Cândida defende que o gestor precisa verificar sua pre-sença física e financeira no mercado, seus processos (se ele inova, moderni-za, o retrabalho, o que gera de valor para o cliente) e a satisfação de seus consumidores e colaboradores. Juntos, esses critérios podem auxiliar a decidir se é chegada a hora de ajustes. Uma pesquisa apurada do setor, analisando potencialidades e oportunidades mer-cadológicas e as sinergias e forças que a empresa possui para aproveitá-las, também deve ser considerada. “Impor-tante ter foco no cliente, que sempre muda, para identificar as novas chan-ces”, reforça.
Foi o que aconteceu com a Coope-rativa Vinícola Garibaldi, no município de mesmo nome da Serra gaúcha. No mercado desde a década de 1930, a
companhia vivenciou diversas modifi-cações para atender às demandas que surgiram na sociedade, como a procura por itens mais saudáveis. Nessa linha, além dos vinhos e espumantes, passou a fabricar sucos de uva integral, em 2004 (já existiam os sucos adoçados). “O consumidor queria produtos sem açú-car e tivemos que nos adaptar”, explica o gerente comercial, Vanderlei Pramio. Nesse contexto, será lançado entre abril e maio um vinho frisante com uma graduação alcoólica menor, tendência que vem ganhando espaço na Europa. O retorno das iniciativas tem sido posi-tivo e pode ser medido pela elevação do faturamento: só em 2009, as vendas do suco de uva integral avançaram 45%. A previsão é de que a capacidade de produção da bebida salte de 1,4 milhão de litros anualmente para mais de 4 mi-lhões de litros. Para isso, serão destina-dos R$ 5 milhões em uma nova linha de fabricação ainda em 2010.
Contudo, não é apenas na reade-quação dos produtos que a vinícola tem investido nesses 80 anos. Várias mudanças foram promovidas nos rótu-los das bebidas, com o intuito de mos-trar a evolução da cadeia vitivinícola e transmitir a mensagem de moderniza-ção e qualidade pela qual vem passan-do a empresa. “Com isso fortalecemos a marca nos espumantes, vinculando o nome à cidade, conhecida como a capi-tal nacional do produto.”
MArcA quE rEvElAA renovação pode vir por meio de
uma identidade visual diferenciada, que represente uma nova fase ou repo-sicionamento da companhia ou ainda redimensione seus significados. Maria Cândida, da FGV, frisa que a marca precisa traduzir o negócio central da empresa. “Tem que questionar se ela é o seu empreendimento”, acredita. O re-sultado vem por meio da percepção do cliente, que começa a ver a instituição de outra forma, o que pode aumentar a participação no mercado pela maior compreensão dos seus atributos.
A Renova Lavanderia Industrial escolheu 2010, quando completa 20 anos, para lançar seu novo logotipo. A medida integra o projeto de reposi-cionamento da companhia, que tem matriz em Cachoeirinha. Além do ser-viço de lavanderia, loca equipamentos de proteção individual (EPIs) e vende produtos para higiene pessoal, tapetes e toalhas. O presidente do empreen-dimento, Joarez Venço, afirma que a alteração da identidade visual faz par-te do processo de rejuvenescimento da marca. “Ela foi simplificada e ganhou
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60
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tipografia mais moderna e outras cores. O símbolo, que originalmente repre-sentava a reciclagem, agora se trans-formou no Ciclo Renova, um elemento de apoio que revela visualmente toda nossa atuação.”
Venço detalha que o logotipo se-gue os planos traçados para o futuro da instituição. O objetivo era refletir movimento, segurança, modernidade, solidez, confiança e sustentabilida-de. A necessidade identificada era a de repassar a constante evolução da Renova. Em breve, um novo site será apresentado com a mesma orientação. O presidente relata que em tecnologia e identidade foram investidos mais de R$ 6 milhões.
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Mesma decisão foi adotada pela Al-deia, empresa de estratégias de comuni-cação digital, de Porto Alegre. Ao longo dos 14 anos no mercado, foram realizadas pequenas atualizações no logotipo. Em 2009, depois de assumir a identidade de agência de internet, chegou o momento
de expressar a etapa na qual se encontrava a companhia. “Hoje, pensamos o digital integrado ao modelo de ati-vidade do cliente. Além de inovação, tecnologia e criati-vidade, nosso objetivo é en-tregar relevância. Esse ciclo é tão marcante que justificou a remodelação da marca”, descreve a gestora de Plane-jamento, Melissa Lesnovski. Para ela, a mudança é uma metáfora visual e conceitual
que define a visão sobre a equipe e o ne-gócio. Eles queriam ser percebidos como uma organização que explora novos ca-minhos e descobre possibilidades.
Melissa comenta que o retorno veio no aumento dos contatos qualificados para solicitação de serviços e do valor médio cobrado pelos projetos. Cresceu ainda a motivação do grupo e o senso de identidade da empresa como um todo. “Assim como as manifestações positivas
de parceiros sobre a percepção da nos-sa atuação.” O reposicionamento levou também à mudança do endereço digital de: aldeiainternet.com.br para aldeia.biz. A intenção era deixar claro que o foco é o negócio do cliente, seja na internet ou em outro meio digital. Melissa revela que o ambiente interno está sendo gra-dualmente remodelado, com adequação cromática e replanejamento de layout dos setores. “A alteração da marca foi o catalisador para tornarmos realida-de planos antigos, como o trabalho em grupos integrados e a criação de espaços descontraídos para reuniões informais.”
MudAnçA plAnEjAdAO diretor da DPS, Neri Prates, res-
salta que as modificações devem ser tra-balhadas com os funcionários, para que sejam envolvidos no processo e estejam receptivos e preparados para elas. Eles devem ter clareza dos propósitos e obje-tivos e uma liderança para a condução dos trabalhos em busca dos resultados. Para iniciar a renovação, o empresário deve definir os métodos, a coordenação, o plano de ação e os itens de controle para monitoramento dos desempenhos. Sobre os investimentos, Prates afirma que nem sempre o retorno ocorre rapi-damente. “Para isso, os recursos neces-sários devem ser planejados visando ao sucesso de médio prazo.” A professora da FGV acrescenta que as mudanças devem ser graduais, sem traumas e res-peitando a cultura e os valores da com-panhia. Ela reforça que a gestão deve ser focada em pessoas e resultados. “Mais do que faturamento, o empreendedor tem que pensar no futuro do seu negócio, na realização do seu sonho.”
Criação de linha de sucos de uva integral foi a aposta da Garibaldi para atender à nova demanda dos consumidores
antiga
atual
remodelação da marca da aldeia representa visual e conceitualmente os negócios empresa
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Nada como a prática rotineira da demo-cracia para estabelecer os devidos contornos da política. O mundo não acaba após cada eleição. Nem começa depois dela, apesar de alguns eleitos poderem achar que sim, que o mundo começa com a eleição deles. Vencer um pleito não é uma revolução, nem governar é um ato revolucionário diário. A democracia deve ser entendida com a serenidade das coisas normais. O Brasil da estabilidade dá claros si-nais de estar assimilando os processos eleitorais como elemento vital da vida política e da cida-dania. É claro que cada pleito envolve riscos. De um lado, existe o risco de se conceder poder a quem desdenha a democracia ou se vale de seus instrumentos para agir contra os valores em que ela se fundamenta. De outro, existe o risco de se conceder poder a quem vai mal gerir os recursos públicos e o patrimônio do Estado. São riscos que as instituições e o próprio ato de governar encarregam os cidadãos de perceber, e se o sistema político e institucional for madu-ro, de contrapor e anular.
A cidadania corresponde à dimensão polí-tica da pessoa humana, constituindo-se na par-te da nossa natureza que nos induz ao interesse pelo bem comum. É através dessa dimensão que podemos e devemos, não raro, agir contra o interesse próprio em vista do que é melhor para todos. Quando o eleitor desconhece isso,
o corporativismo passa a ser a força política dominante. Quando são os governos que o desconhecem, tem-se o patrimonialismo como forma de gestão e o populismo como forma de relação. Esses são os elementos sempre pre-sentes nas decisões eleitorais, principalmente quando a democracia começa a se tornar uma experiência rotineira.
Chego a este momento do nosso governo com a convicção fortalecida de que agimos em plena concordância com o código de ética que nos inspira na vida pública. Agimos dentro das regras do jogo democrático preservando e valo-rizando as instituições e as liberdades públicas. Gerimos com rigor os recursos públicos. Saímos de uma situação de déficit crescente com inves-timento zero para uma situação de déficit zero com investimento crescente. Fomos protagonis-tas do papel que o momento histórico nos pro-pôs. Nos limites do ordenamento jurídico e do interesse público, não cedemos às pressões dos radicais nem às tentações do populismo. Re-sistimos ao ataque descabido dos inimigos do desenvolvimento e da democracia, defenden-do o nosso Estado e governando para todos.
Vejo particularmente o ano político de 2010 como o ano para discutir um projeto que acredite que o Rio Grande do Sul tem, além do seu presente, um grande futuro. O ano é, portanto, muito bom.
2 010, um ano para decidir o futuro que queremos
“A cidadania corresponde à dimensão política da pessoa humana, constituindo-se
na parte da nossa natureza que nos induz ao interesse pelo bem comum.”
E N T R E V I S T AFOTOS: LÚCIA SIMON
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Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 19Quando surgiu no artista o espírito empreendedor? Como a Turma da Mônica virou negócio?
MAurICIO Tudo começou quando passei a seguir o que meu pai disse, logo no início de minha carreira: “Se gosta do que está fazendo, use o período da manhã para desenhar e a tarde para administrar sua profissão”.
Histórias para a
vIdA TOdA
E N T R E V I S T A
Hoje, você tem uma grande equipe de profissionais que auxilia na produção das revistinhas. Em que momento você percebeu que precisava de ajuda?
MAurICIO Sabia que não poderia so-breviver de quadrinhos se publicasse apenas em um jornal. Eu recebia algo como R$ 1 de cada jornal por cada tira. Tinha que distribuir para outras
publicações e crescer. Quando, então, consegui publicar as tiras em vários jornais, junto ao desejo de lançar uma revista em banca, percebi que não poderia fazer isso sozinho e tive que ter ajuda de uma equipe, que formei aos poucos. Assim como você, muitos empresários são obrigados a deixar de realizar a atividade
FOTOS: LÚCIA SIMON
Incentivado pelo pai, Mauricio de Sousa acreditou em seus desenhos. dos esboços
nasceu a dupla Franjinha e seu cachorro Bidu, os precursores de uma turma que há 50
anos é parte da família brasileira. com talento para as artes e para a gestão, o desenhista
consolidou o mercado dos gibis genuinamente brasileiros. Assim, agradando a gerações, a
Turma da Mônica chega ao século 21 como uma das mais fortes marcas licenciadas do país
Entrevista
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6020
que deu início ao negócio para gerenciá-lo. Como você lidou com essa transição?
MAurICIO Realmente deixei de fazer o que mais gosto: desenhar, para dedicar muito do meu tempo à administração do estúdio, dos negócios. Mas isso é temporário. Ainda vou encontrar um modo de desenhar de novo. Afinal, desenhista não se aposenta.
Como não ser repetitivo quando se lida com as mesmas ferramentas de trabalho por décadas?
MAurICIO Não há um dia igual ao outro. Com ou sem ferramentas. você é proprietário de uma das marcas mais fortes do Brasil. Que tipo de atitudes empresariais são necessárias para manter em alta uma marca por tanto tempo como a Turma da Mônica?
MAurICIO Cuidados e carinho na produ-ção e depois para com o público. Sua marca é utilizada em diversos segmentos, não sendo apenas relacionada
aos gibis. Em algum momento houve a ameaça da perda de foco? Como manter os negócios coesos?
MAurICIO A partir dos quadrinhos nossos negócios e interesses se espraiam com o mesmo cuidado por diversas plata-formas de comunicação. Isso não é sair do foco. É abrir o facho de luz. Quais são os cuidados que você toma na hora de licenciar a imagem da Turma da Mônica para uma empresa? Como acompanhar esse processo para não deixar que se manche a imagem da marca? MAurICIO Testamos, inclusive pesso-almente, cada produto que nos é enviado para pedido de licenciamento. E procuramos trabalhar com empresas com histórico de competência e respei-to ao consumidor. Nosso contrato com a Unilever (extrato de tomate Elefan-te), por exemplo, é o de maior tempo em licenciamento no mundo. No mercado editorial brasileiro é muito comum encontrarmos quadrinhos estrangeiros. Como a empresa dribla essa concorrência internacional?
MAurICIO Os quadrinhos estrangeiros chegam ao Brasil com custos baixos pois já foram pagos no seu país de ori-gem. Dessa forma, os artistas brasileiros não conseguem um preço justo para viver de seu trabalho. Em meu caso par-ticular, só consegui quebrar essa barreira montando minha própria distribuidora para jornais no Brasil. Agora inicio o mesmo trabalho com desenhos anima-dos, para o mercado internacional.
“cRIANçA é IguAl EM quAlquER lugAR do MuNdo.
é cuRIoSA E goSTA dE BRINcAR. ”
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 21
Nem sempre é fácil atuar junto ao público infantil... que cuidados a Mauricio de Sousa Produções toma, nesse sentido? Existem princípios ou diretrizes para a comunicação com a molecada?
MAuríCIO Criança é igual em qualquer lugar do mundo. É curiosa e gosta de brincar. Precisa disso para entender melhor o mundo que as espera. Se pudermos continuar falando a linguagem delas, como fazemos, estaremos em dia com a comunicação. você sempre escreveu para crianças; entretanto elas não são as mesmas do início da sua carreira. Como seu estúdio se adaptou às crianças do século 21?
MAurICIO Uso boa parte de meu tempo conversando com meus leitores pessoalmente ou através do Twitter, Orkut, e-mail e todo canal de comunicação possível. Atendo muitas sugestões que surgem nesse caminho. Felizmente hoje a tecnologia nos facilita essa sintonia. você tem a fama de ser muito exigente. Como essa característica contribuiu para o sucesso da Turma da Mônica? Em algum momento ela atrapalhou? MAurICIO Ser exigente nunca atrapalha. Basta não exigir o impossível. depois de 50 anos, o trabalho ainda lhe diverte? Qual parte dele?
MAurICIO O trabalho não é parte. Deve ser um todo, para nos divertir.
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Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6022
m janeiro deste ano a Previ-dência Social colocou em prática a Lei nº 10.666/2003, instituindo o Fator Acidentário de Prevenção (FAP) como critério definidor do percentual a ser pago pelas empresas por meio do Segu-ro Acidente de Trabalho (SAT). O FAP consiste em um fator multiplicador, que varia de 0,5 (cinco décimos) a 2 (dois inteiros), a ser aplicado à respectiva alí-quota do Seguro Acidente de Trabalho, conforme os Riscos Ambientais de Tra-balho (RAT), que é de 1% (baixo), 2% (médio) e 3% (alto). Isso significa que quanto mais acidentes de trabalho que vão se transformar em benefícios junto ao INSS uma empresa tiver, maior será sua alíquota, podendo aumentar em 100% ou, em situação contrária, ter um desconto de 50%. Em resumo, as novas alíquotas do SAT variam de acordo com o FAP, uma metodologia que passa a in-dividualizar as empresas cujas alíquotas serão diferenciadas.
“A proposta do FAP é fazer com que a contribuição do SAT seja uma contrar-relação de proteção, oferecendo garan-tia de um bom ambiente de trabalho. E o FAP vem trazer uma regulação dessa proteção que as empresas dão para o ambiente. Ele é uma previsão legal que varia a alíquota do SAT de acordo com o desempenho da empresa em relação a essa proteção”, explica Marcelo Caetano, chefe do Serviço de Administração de Informação do Segurado, da Previdência Social, em Salvador. Caetano reforça que o Seguro Acidente de Trabalho é uma ga-rantia constitucional para o trabalhador e que obriga a empresa a contribuir, no universo da seguridade social, com uma alíquota para garantir o benefício previ-denciário de acidente de trabalho.
Assim, essa nova metodologia exige dos estabelecimentos cuidados redobra-dos quanto à segurança no ambiente de trabalho e também fora dele, pois em muitos casos os acidentes durante o per-
E
Mais segurança, menos impostos para pagarAlgumas incertezas e opacidades ainda envolvem o Fator Acidentário de Prevenção
(FAP) – critério que define a alíquota a ser aplicada no SAT. Entretanto, uma coisa é
certa: ele retoma a questão das condições de segurança dos ambientes de trabalho
curso também são considerados nessa conta. Em cartilha divulgada entre os seus associados, o Sistema Fecomércio-RS alerta as empresas dos mais variados setores, pois essa alteração no cálculo da alíquota poderá acarretar sérias diver-gências sobre o que se refere ao conceito do que realmente seja considerado como acidente de trabalho. A instituição pede ao governo que conceda mais informa-ções a respeito do novo cálculo e mais transparência quanto à metodologia es-tipulada. A Fecomércio-RS instrui sindi-catos ou empresas que não concordarem com o novo enquadramento no grau de risco (RAT) das atividades econômicas de sua subclasse CNAE a impugnar o enquadramento, buscando judicialmen-te aquele que entendam ser o correto.
O cálculODigamos que uma empresa identifi-
cada na alíquota de 3%, ou seja, de alto risco, tem um desempenho favorável no
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 23
que tange a segurança do trabalho e seu FAP é de 0,5. Para que ela saiba qual o percentual sobre o Seguro Acidente de Trabalho, precisa multiplicar o seu FAP, no caso 0,5, pelo sua alíquota de 3%; o resultado é de 1,5%. Logo, por conta de um excelente trabalho de prevenção de acidente a empresa foi beneficiada com um desconto de 50%. No caso in-verso, se essa mesma empresa tem alto índice de morbidade, seu FAP será de 2 e, consequentemente, sua alíquota pas-sa de 3% para 6% – uma majoração de 100%. Calcula-se o FAP com base em indicador de desempenho da empre-sa, a partir dos índices de frequência, gravidade e custos. Vale destacar que o resultado do Fator Acidentário de Pre-venção de cada empresa será publicado sempre no mês de setembro.
Todos os empregadores pessoas jurí-dicas ou equiparados a pessoas jurídicas
fonte: ministério da previdência social
lucia simon
frequência Nº de Acidentes (CAT’s) + Benefícios Acidentários
Gravidade Pesos diferenciados: Morte (50);
Invalidez (30); Aux. Doença / Acidente (10)
custo Auxilio Doença / Acidente + projeções da Morte, Invalidez e Auxilio Acidente.
cálculo do fap
finalidade do fator acidentário de prevenção (fap)Redução do Seguro Acidente de Trabalho (SAT) em até 50% para as
empresas que investem em políticas para o trabalho decente – prevenção de
acidente de trabalho
Incentivar a prática do trabalho decente junto a empregados e empregadores
– Comissão Tripartite de Saúde e Segurança no Trabalho
Aumento da alíquota de contribuição do SAT em até 100% para as empresas
que resistem na implantação de práticas e ações do trabalho decente e não
cumprem as normas de saúde e segurança no trabalho
que tenham empregado, não importan-do o porte, são obrigados a pagar o Se-guro Acidente de Trabalho. Entretanto, ressalta Caetano, as empresas optantes
pelo Simples estão isentas do SAT, as-sim como de outros pagamentos, con-forme substituição tributária a que está sujeita a categoria.
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Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6024
uita gente ouve falar a res-peito, mas nem todos entendem o que significam os cada vez mais populares créditos de carbono. Assim como o nome indica, eles funcionam como uma moeda global.
Quando uma empresa consegue re-duzir a emissão de gases que provocam o efeito estufa e o aquecimento global, ela é creditada por isso. Um crédito de carbono vale uma tonelada de CO2 (dióxido de carbono) que deixou de ser produzido – e uma tabela de equivalên-cia determina os créditos em função de outros gases reduzidos. O setor eco-nômico que mais está envolvido nessa questão é a indústria, em função das peculiaridades de suas atividades.
Os créditos obtidos podem ser ven-didos no mercado internacional para empresas ou países que não consigam cumprir as metas de redução de emis-são de gases poluentes. Considerados commodities, os créditos de carbono têm
preços estabelecidos internacionalmen-te. Com os créditos, ganham as empre-sas que reduziram a emissão – e tam-bém aquelas que ainda não conseguem alternativas mais limpas de produção, mas que podem, com os créditos, man-ter seus negócios em ação.
Diferentemente de iniciativas para neutralizar a emissão, como o plantio de árvores em áreas degradadas, nesse caso o objetivo é a compensação. Na prática, o mercado de carbono permite que países mais poluidores incentivem
M
cuidadocom o carbonoEnquanto as nações trabalham para estabelecer normas e metas para a redução
do efeito estufa e do aquecimento global, empresas de todo o mundo atuam de
forma a neutralizar os efeitos dos gases poluentes nas ações cotidianas
outros a diminuírem suas emissões em troca de investimentos financeiros, o que, se bem organizado, tende a gerar benefícios para todos os envolvidos.
As metas de redução ganharam atenção desde o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 e ratificado em 2004. Por meio dele, ficou definido que as na-ções industrializadas deveriam diminuir, até 2012, cerca de 5,2% do montante de poluição apurado em 1990. Para não interferir no desenvolvimento econômi-co, ficou estabelecida a possibilidade de que países ricos pudessem investir em nações que desenvolvessem tecnologias limpas mediante a fixação de um valor para cada tonelada de carbono que dei-xasse de ser lançada na atmosfera. Esse processo foi denominado MDL (Me-canismo de Desenvolvimento Limpo). “O instrumento dá flexibilidade para o cumprimento das metas sem prejudicar o desenvolvimento de ninguém”, avalia Marcelo Theoto Rocha, sócio fundador
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Neto, do Brazilian Carbon Bureau, destaca a importância das calculadoras online
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 25
da Fábrica Éthica Brasil – Consultoria em Sustentabilidade, de São Paulo.
O Brasil tem papel fundamental nes-se contexto. Primeira nação do mundo a aprovar um projeto de MDL, através do programa NovaGerar, do aterro sanitário de Nova Iguaçu (RJ), hoje é a terceira em número de atividades relacionadas ao tema – são 443 projetos em proces-so de validação e registrados, segundo cálculos do Ministério de Ciência e Tec-nologia, que representam quase 8% do total do planeta. O primeiro lugar está com a China, que possui 1.212 projetos, e o segundo com a Índia, que tem 987. “No entanto, vale lembrar que a matriz energética desses países é o carvão mi-neral, bem mais poluidor do que a matriz hídrica do Brasil”, destaca Rocha.
Por se tratar de um processo com-plexo, oneroso e de lenta aprovação,
o mercado de carbono brasileiro acaba concentrado em grandes empreendi-mentos. Contudo, Rocha lembra que pequenos empreendedores têm juntado esforços para ganhar escalas em projetos de MDL, o que já vem provocando re-sultados positivos na suinocultura – sis-temas de biodigestores permitem que o gás metano liberado na fermentação do dejeto do suíno, que muitas vezes era descartado diretamente na natureza, seja queimado e se transforme em gás carbônico, 20 vezes menos poluente.
“Temos o caso da Sadia, em que são as cooperativas que participam do projeto de redução de carbono”, acres-centa Julio Tocalino Neto, diretor do Brazilian Carbon Bureau (BCB). De acordo com ele, pequenas empresas também podem contribuir com o meio ambiente através da modificação de
metodologias industriais, ou seja, uti-lizando novas matrizes de energias que sejam menos poluentes.
ao alcance de todosA emissão de gases poluentes, no
entanto, não se restringe à indústria. No Brasil, por exemplo, a maior parte dos gases lançados na atmosfera vem de queimadas e desmatamento. Os veícu-los automotores têm importante papel na poluição urbana. E refrigeradores e condicionadores de ar também dão sua contribuição para o efeito estufa.
Frente a tantas possibilidades po-luentes, o que as empresas podem fa-zer? Para começar, uma ferramenta gratuita e disponível pela internet pode ajudar cada indivíduo ou empresa a ter noção de quanta poluição gera por dia, semana ou mês. Para fazer a estimativa, as calculadoras online de emissões de gases consideram fatores como quanti-dade de lixo gerado, número de eletro-eletrônicos em uso, quantidade de gás consumida e quilometragem rodada em veículos movidos a diferentes tipos de combustível. “Ao saber mais ou menos quanta poluição está gerando, o cida-dão começa a tomar mais cuidado com suas ações, evitando, por exemplo, o desperdício de energia e água”, explica o diretor do BCB. “Elas podem não ser exatas, mas fazem um ótimo trabalho de conscientização ao apresentar o im-pacto de cada um”, acrescenta Rocha.
Segundo ele, se uma empresa está cogitando reduzir suas emissões, pode fazer um cálculo inicial via internet e depois realizar um estudo mais comple-to para criar sua própria metodologia ou se adequar a um projeto.
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TexTo: Francine desoux
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segunda metade da década de 1960 no Brasil foi marcada por investimentos em infraestrutura. O período conhecido como Milagre Econômico assegurou o crescimento do país. Só não se sabia ainda o alto custo que a geração seguinte pagaria por este desenvolvimento. Em 40 anos – entre 1968 e 2008 – a porcentagem da inflação acumu-lada no Brasil foi de 970 trilhões. Uma das causas para esse alto custo está no fato de a expansão brasileira ter sido, em boa parte, financiada atra-vés de endividamento no exterior.
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O milagre econômico da segunda metade da década de 1960 jogou
o Brasil em um ninho de dragões nos anos 80, de onde o Plano Real
o resgatou a partir de 1994. Desde então, muita coisa mudou na
economia nacional e na casa dos brasileiros
onsumoC
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6028
“Remarcações de preços
e grandes compras fazem
parte do passado.”
Eduardo RagasolPresidente da Nielsen Brasil
divulGação/FGv
De acordo com Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto de pesquisas Data Popular, na história recente do Bra-sil existem quatro momentos-chave. O primeiro momento começou com Collor, quando o Brasil abriu o comércio para o mercado internacional; o segundo foi o Plano Real, quando de fato se passou a ter controle da inflação. No final de 2003 houve um terceiro momento que foi o aumento real do salário mínimo, ou seja, se passou a ter uma política gover-namental de aumento do salário mínimo acima da inflação e, portanto, o aumen-to do poder de compra da população de baixa renda. Em 2005/2006 houve o quarto movimento, com a ampliação do crédito consignado.
A abertura da economia começou com Collor e a partir da década de 90
ficou ainda maior. Antes só existiam produtos e produtores brasileiros, que ditavam a regra de preços. Com a con-corrência dos importados, há maior disputa pelo mercado, levando à queda de preços, especialmente em momentos como o que o país está vivendo agora, em que há a valorização da moeda bara-teando as importações. Para o consumi-dor, as portas do país abertas significam preços mais em conta. Concorrentes im-portados mais baratos fazem com que os similares brasileiros abaixem os preços.
“A entrada das multinacionais rede-senhou a economia brasileira”, assegura Maria Andréia Lameiras, economista do Ipea. Antes, elucida, existiam gran-des empresas nacionais que contro-lavam o mercado. A partir dessa con-corrência internacional, os negócios daqui precisaram se adequar, reduzin-do custos, melhorando a produção e a produtividade, para concorrer com importados a preços mais competitivos. Na época da hiperinflação o mercado era praticamente fechado e, por isso, não havia o ganho dos importados. O que conseguia chegar ao país tinha uma taxa de importação tão alta que não ge-rava nenhum benefício.
O FANTASMA DO DRAGÃOMaria Andréia explica que a infla-
ção – chamada na época de dragão – é causada por vários motivos, entre eles, a emissão desenfreada de moedas e o crescimento da demanda de consumo que não é suprida pela oferta. O presi-dente João Figueiredo (1979-1985) rea-lizou a indexação da economia, fazendo com que os reajustes de preços ocorres-sem conforme índices de variação dos
“O fim da inflação garante
mais dinheiro para gastar,
aumento do crédito e geração
de emprego, que faz com que
a população de baixa renda
consuma ainda mais.”
Renato MeirellesSócio-diretor do Data Popular
divulGação/daTa popular
preços. E para compensar este aumento foram emitidas mais moe das, montan-do assim o cenário ideal para inflação. Como resultado, o Brasil quebrou duas vezes, em 1983 e 87.
Entre 1986 e 1994 foram lançados seis planos econômicos, “com exceção do Real, todos sem sucesso porque eram calcados no tabelamento de pre-ços”, salienta Maria Andréia.
A economista do Ipea esclarece que outras forças na economia faziam com que esses planos não dessem certo, pois não tratavam um outro problema exis-tente no Brasil, a inércia inflacionária.
O Plano Real, em 1994, tratava também dessa questão. O governo
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 29
criou uma moeda de conversão, a an-tiga URV – Unidade Real de Valor, e fez o câmbio dos preços e salários para dólar, gerando assim paridade. E de-pois da URV migrou-se para o Real. “Quando foi feita essa conversão, atra-vés da URV, era como se começasse um processo novo sem carregar nada de inflação”, afirma Maria Andréia.
Segundo André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), no período de implantação do Real, apesar de não haver hiperinflação, a economia nacional ainda vivia grande inércia inflacionária. Não havia como fazer planejamento adequado de fi-nanças pessoais e essa inflação corroía mais o salário da classe de baixa renda, aqueles que tinham menos acesso ao setor financeiro para buscar algum re-fúgio e proteger seu patrimônio. “Era um processo perverso mesmo, que em-pobrecia a camada da população me-nos privilegiada.”
Braz destaca que esse imposto in-flacionário foi por terra a partir do Pla-no Real, quando o país passou a viver um novo capítulo da história inflacio-nária. Esse capítulo passou por vários ajustes, enfrentando algumas pressões, mas em geral a economia brasileira mostrou que os fundamentos foram suficientes para não corromper o pro-cesso iniciado em 1994.
Renato Meirelles, do Data Popular, usa a seguinte parábola para explicar os anos de inflação: “O cidadão recebia seu salário como sendo um cubo de gelo enorme debaixo de um sol de 40°C. Ele pegava esse cubo, que ia derretendo, e saía correndo; a cada segundo debaixo do sol o salário valia menos. Entrava no
da do poder de compra. “A pessoa recebia seu salário e 15 dias depois ele valia a metade; isso afetava mais a população de baixa renda.” Por outro lado, o principal ganho com a estabilidade é a manuten-ção do poder aquisitivo das pessoas, em seguida vem a chance de programação de gastos. “Se não quiser comprar hoje, se sabe que amanhã o preço não estará mui-to diferente. Assim, é possível planejar os gastos com consumo”, acrescenta.
SEM PRESSA PARA GASTARCom o fim da inflação surgiram
algumas novidades. Renato Meirelles,
primeiro supermercado, achava a moci-nha que estava remarcando os preços, segurava-a com um braço e ia enchen-do o carrinho com o outro, fazendo a tal da compra do mês que já, pratica-mente, não existia mais.”
Conforme Meirelles, os cidadãos fa-ziam a compra do mês porque não exis-tia nenhuma aplicação financeira que rendesse mais do que estocar alimentos. “Naquela época as casas eram construí-das com a despensa, que nada mais é do que um cofre de comida.”
Para Maria Andréia, do Ipea, o pri-meiro dano causado pelo dragão é a per-
onsumoC
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6030
do Data Popular, destaca a entrada da população das classes C, D e E no mer-cado consumidor. “Antes era impossível para esta camada da população comprar qualquer coisa além de alimentos.”
Na opinião de Meirelles, a grande mudança no comportamento do consu-midor é que ele passou a poder escolher e pensar em longo prazo. “A inflação impede o sonho de longo prazo; com-prar um carro em 72 vezes, um aparta-mento em 30 anos, parcelar a compra de um computador em 24 vezes era algo inimaginável para a população de baixa renda. Escolher qual era o melhor item também, em função da pressão do tempo.” A partir do momento em que a população passou a poder escolher e pensar a longo prazo, ela se tornou mais exigente, o que impactou diretamente na forma de comprar e na exigência de qualidade dos produtos.
Completando seu centenário neste ano, a Salim Kalil, empresa de vestuá-rio de Bagé, conhece bem os diversos momentos da economia nacional e sentiu na pele a mudança de compor-tamento. “Na época da inflação se ti-nha visão muito imediatista. O pessoal queria comprar para aproveitar o pre-ço antes que subisse, era basicamente esse o enfoque do consumidor. Talvez mais do que qualidade e atendimento, mais do que qualquer coisa, era um afã de comprar antes de o preço subir”, afirma Ricardo Nocchi Kalil, diretor da Salim Kalil. E hoje, segundo o dire-tor, é exatamente o contrário. “O con-sumidor busca atendimento melhor e produto com a qualidade sintonizada com o preço.”
O presidente da Nielsen Brasil, Eduardo Ragasol, considera que a prin-cipal diferença entre os compradores da inflação e os de hoje está no maior poder aquisitivo atual. “Nas classes sociais mais baixas, por exemplo, não sobrava muito para compras de indul-gência, como produtos supérfluos, pois a renda ia toda para o abastecimento principal da casa.”
A estabilidade trouxe a expan-são das linhas de crédito, sobretudo ao consumidor, e a multiplicidade de modalidades de tomar empréstimo. “A taxa de juros brasileira é muito ele-vada, o que coíbe alguns tomadores, inclusive empresários desejosos de ex-pandir seus negócios”, lamenta André Braz, economista da FGV.
A tomada de crédito, gerada ime-diatamente após o fim da inflação, pos-sibilitou que o consumidor antecipasse suas compras. “Ao antecipar o consumo
se gera emprego agora. Dessa forma, se entra num círculo virtuoso em que o crédito é um dos principais impulsiona-dores”, diz Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. Para ele, o aumento do emprego formal foi um dos principais causadores do aumento de crédito.
INFlAçÃO NA EMPRESASobreviver à inflação também não
foi tarefa fácil para empresários. As empresas buscavam refúgio no mer-cado financeiro. Havia sempre uma negociação de prazos para pagamen-to, por exemplo. “Principalmente supermerca dos, que compravam a mercadoria hoje e negociavam o maior prazo possível. Assim, vendiam a mer-cadoria, transformavam em dinheiro
“A taxa de juros brasileira é
muito elevada, o que coíbe
alguns tomadores, inclusive
empresários a fim de expandir
seus negócios.”
André BrazEconomista da Fundação Getulio Vargas
divulGação/ivone perez
“Para o setor produtivo e a
economia como um todo,
ninguém ganha com a inflação.”
Maria Andréia LameirasEconomista do Ipea.
divulGação/ipea
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 31
Michelle Perez, 23 anos, agente de
viagens, de Porto Alegre
MP Mensalmente procuro reservar
uma parte do que ganho, mas não
estipulo nenhum valor específico,
economizo conforme sobra.
MP Praticamente todas à vista; não
tenho cartão de crédito. Quando
preciso de crédito, utilizo o cartão do
meu namorado.
MP Vou várias vezes ao mês,
praticamente compro por dia,
conforme a necessidade para a
refeição.
MP Quando era mais nova comprava
por impulso. Hoje só compro
conforme a necessidade e faço
pesquisas antes, visito diferentes lojas.
cara ou coroaVinte anos após a hiperinflação uma nova geração chegou ao mercado
consumidor. Sem a lembrança da remarcação de preços, hábitos de consumo
mostram que as duas gerações não são tão diferentes assim.
Beatriz Planicka Kuhn, 64 anos,
aposentada, de São leopoldo
BP Faço poupança no banco e em casa.
Mesmo nos anos de inflação, procurava
economizar, apesar de que, na época,
a poupança bancária era uma grande
ilusão. Os rendimentos nem chegavam
em nossas mãos e já desvalorizavam.
BP Por causa das altas taxas de juros,
compro sempre à vista. Parece pouco,
mas no final das prestações a gente
paga por dois produtos.
BP Hoje vou ao mercado várias vezes
por semana, nunca tive o hábito de
fazer rancho. Apesar de que quando
havia inflação era obrigada a comprar
em maior quantidade.
BP Nunca comprei por impulso.
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ivo p
esso
al
arqu
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al
e aplicavam no mercado para tentar ganhar com a especulação financei-ra”, explica Braz, da FGV, salientando ainda que os negócios saudáveis, que tinham suas receitas garantidas, ex-ploravam esse mecanismo de mercado para auferir ganhos maiores.
Conforme o economista, os em-preendimentos que iam mal e neces-sitavam de crédito de fato precisavam fazer o planejamento na ponta do lápis ou poderiam ser engolidos pela bola de neve. “Quem dependia de mercado financeiro para tomar empréstimos se sujeitava a taxa de juros muito eleva-da, principalmente porque a inflação podia ser qualquer índice no final do mês.”
“Acredito que a situação econômi-ca das empresas não se altera muito com o tempo. A maneira como são administradas e como se adaptam às novas situações é que faz com que elas se mantenham numa situação boa ou não”, pondera Ricardo Kalil, afirman-do ainda que é preciso aprender a lidar com as características de cada época, fazendo com que a empresa se mante-nha saudável.
Para o diretor da Salim Kalil, de Bagé, a inflação representava um cus-to alto para as lojas, até pela dificulda-de de reposição com custo compatível. Hoje não existe mais esse problema; por outro lado, a competição em ter-mos de qualidade e atendimento é muito maior. “As características do ne-gócio mudaram muito, hoje o foco está no giro, na novidade. Antes os produ-tos permaneciam por mais tempo da mesma forma, não tinha essa mudança de moda tão rápida quanto tem hoje.”
Faz algum tipo de economia, como poupança, por exemplo?
em geral, as compras são feitas à vista ou a prazo?
no supermercado, costuma comprar em grandes quantidades ou via várias vezes por mês?
Tem o hábito de comprar por impulso ou reflete antes de cada decisão?
aiba maisS
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6032
{Para evitar o ressecamento dos olhos, causado pelo ar-condicionado,
recomenda-se o aumento do número de piscadas. E o uso de lubrificantes
oculares, sempre sob supervisão médica, três ou quatro vezes ao dia
A iluminação do ambiente de trabalho deve ser homogênea e controlada, não
havendo variação da iluminação que incida na tela do computador, na mesa e
nos utensílios de trabalho ou interfira no campo visual do trabalhador
O olhar do usuário do computador deve estar ligeiramente voltado para baixo,
entre 15° a 25°. Assim a pálpebra protegerá boa parte da superfície ocular,
diminuindo sua exposição e melhorando a lubrificação dos olhos.
Recomenda-se que, a cada 50 ou 60 minutos, o usuário de computador pare
por 5 minutos. Dirija o olhar para um local distante, através de uma janela, por
exemplo. Assim a musculatura ocular também poderá trabalhar, evitando a
fadiga dos olhos
p e r f i l
l a b o r a l
Desconforto visualDe um lado, toda facilidade que o computador
pode fornecer seja para o entretenimento, para
os estudos ou para o trabalho. Do outro, a
consequência de horas na frente da máquina: o
surgimento da Síndrome de Visão de Compu-
tador. Os sintomas: olhos irritados, vermelhos,
coceira, olhos secos ou lacrimejamento, fadiga,
sensibilidade à luz, sensação de peso nas pál-
pebras ou da fronte, dificuldade em conseguir
foco, enxaquecas, dores lombares e espasmos
musculares. Confira as dicas de prevenção do
oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do
Instituto de Moléstias Oculares.
i m a g i n a s ó !
Impressos em 3DImagine poder trans-
formar um projeto
digital em uma peça
física, ou seja, ma-
terializar uma ideia.
Esse procedimento,
que até pouco tem-
po era impensável, já
é realidade por meio
das impressoras 3D.
Em poucas horas é
possível testar o design de produtos antes de serem
enviados à manufatura. A tecnologia revoluciona
o trabalho de várias áreas: médicos podem fazer
simulações de próteses; engenheiros ou arquitetos
podem reduzir para alguns dias a finalização de uma
maquete de um grande empreendimento, por exem-
plo. Em Porto Alegre a novidade chega por meio
da aquisição da impressora 3D ZPrinter 310 Plus,
trazida pela Dom Design.
Divu
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Mapeamento dos empreendedoresMesmo com toda oferta de salários e oportunidade de crescimento, uma
parte significativa dos profissionais mais brilhantes do país ainda sonha com
o negócio próprio. A percepção é de Marcos Piccini, Sócio-Diretor da Picci-
ni & Fumis Consulting and Management. Para compreender essa discrepân-
cia, Piccini analisa os três tipos de empreendedores existentes no Brasil: os
sem oportunidade, os oportunistas e os que “pensam grande”.
Empreendedores sem oportunidade: são aqueles que por não terem chan-
ce no mercado de trabalho acabam encontrando no empreendedorismo a
única solução digna de sobrevivência. “Pouco qualificados, muitos fracassam
ou gerem o negócio com o único objetivo de sobreviver, causando assim
pouco impacto econômico”, explica Piccini.
Empreendedores oportunistas: possuem geralmente qualificação e
ambição superiores, mas encaram a atitude empreendedora como uma
“tacada de sorte”. O oportunista não está preocupado em construir
um negócio duradouro e o seu vínculo é puramente financeiro – com
o objetivo de extrair o maior valor possível daquela oportunidade em
curtíssimo espaço de tempo.
Empreendedores que pensam grande: são indivíduos realmente diferencia-
dos, não necessariamente pela sua qualificação, mas essencialmente pelo
seu caráter e comportamento. Carregam consigo uma enorme ambição e
entendem o valor de construir algo sólido e sustentável.
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 33
e m t e m p o
De olho na legislaçãoÉ crime e falta de respeito com o consu-
midor comercializar mercadorias “impró-
prias ao consumo”. A expressão está na
Lei nº 8.137/90 e, apesar da sua abran-
gência, se refere a produtos cujos prazos
de validade estejam vencidos.
O termo se refere também a alimentos
deteriorados, alterados, adulterados,
avariados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, peri-
gosos ou em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição
ou apresentação. “É dever do empresário
fiscalizar o preparo e a qualidade dos pro-
dutos a serem comercializados, retirando
de venda aqueles que possam, de qual-
quer forma, violar a relação de consumo”,
adverte a advogada Marina Nascimbem
Bechtejew, do escritório Novoa Prado
Consultoria Jurídica.
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Refeição monitoradaCuriosos para saber como as pessoas se comportam durante as refeições, especialistas
da universidade holandesa de Wageningen montaram uma espécie de restaurante
laboratório. Lá dentro, câmeras monitoram cada passo dos clientes: como eles entram
no restaurante, que tipo de comida chama sua atenção, se sempre escolhem a mesma
mesa para se sentar e quanta comida eles jogam fora. O objetivo do restaurante do
futuro é encontrar respostas para perguntas do tipo “as pessoas comem mais saladas
quando estão perto de plantas?”, “uma luz romântica faz com que os consumidores
demorem mais para comer?” e “um serviço ruim faz com que as pessoas não gostem
de seu almoço?”. Outro fato inusitado dentro do laboratório é a forma de pagamento:
o próprio usuário digita no computador o que consumiu, eliminando a necessidade
de funcionários no caixa. Aqueles que desejarem comer no local têm de assinar um
documento para consentir a filmagem durante o almoço.
p e s q u i s a
Faltam líderes preparados
Uma pesquisa avaliou 1.200 executivos de 18 empresas com faturamento conjunto de 1,3 bilhão de dólares, sobre suas competências e habilidades – e o resultado é assustador. Menos de 15% dos líderes avaliados possuem potencial para receber mais responsabilidade ou promoção vertical de imediato. E menos de 50% possuem potencial para receber mais responsabilidade ou promoção vertical no horizonte de tempo de até 5 anos. Não menos preocupante é a constatação de que menos de 30% das posições de liderança apresentaram sucessores prontos. O estudo foi feito pela Kienbaum e conclui que o desafio das empresas no século 21 será criar uma força competitiva com base em seu quadro de líderes.
Rede social empresarialNo ar desde o final do ano passado e criado
por um grupo de jovens empreendedores de
Campinas (SP), o site Empreendemia (www.
empreendemia.com.br) busca conectar empre-
sários e fomentar novos negócios. Além de ser
uma rede social, é também uma plataforma de
negócios onde empresas podem se relacionar,
acertar novos contatos e trocar cartões de for-
ma fácil e intuitiva. O Empreendemia funciona
como um espaço em que empresas podem facilmente expor seus serviços e produ-
tos. Por meio de uma interface amigável, é possível criar rapidamente uma página para
a empresa e já entrar em contato com possíveis clientes e fornecedores. É possível
também trocar cartões virtuais e convidar outras empresas para participar da rede.
ecnologiaT
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6034
ssim como qualquer outro utensílio de trabalho, os computadores possuem uma vida útil e periodicamen-te precisam ser substituídos ou conser-tados. No entanto, nem sempre é fácil identificar o melhor momento para esse procedimento, visto que muitas vezes ele demanda investimentos altos e dedicação para escolher o melhor equipamento.
Não existe um prazo para manuten-ção ou troca, pois cada empresa utiliza seus equipamentos para uma finalidade específica. “É pertinente avaliar quando a máquina não atende mais às necessidades do usuário, ou seja, apresenta lentidão, dificuldade de acesso às pastas e de nave-gação de internet”, aponta Juarez Lopes Fortes, sócio-gerente da Rastek Soluções em Informática, de Porto Alegre.
Contudo, antes de pensar em trocar de máquina podem-se realizar alguns procedimentos para evitar maiores cus-tos. “É importante verificar se o pro-
blema não se trata apenas de falhas no sistema operacional, o que pode ser feito com ajuda de um suporte especializado.” Diagnosticando problemas dessa ordem, é possível efetivar um upgrade – troca de peças que aumentem a capacidade do computador.
Se esse não for o caso, e um conserto demandar investimentos similares aos de um equipamento novo, é hora de anali-
A
Upgradebem calculado Nem sempre a troca é a única saída para problemas nos computadores. Mas se a solução
for adquirir novos equipamentos, alguns cuidados podem evitar gastos desnecessários,
como a compra de máquinas com configuração muito completa sem necessidade
sar as reais necessidades de uso. “Em um escritório de design, quem utiliza pro-gramas de edição de imagens deve ter máquinas com configurações superiores, incluindo placa de vídeo dedicada, bom processador e memória. Já a secretária, que só utiliza programas básicos e nave-gação de internet, não precisa de uma máquina com configuração tão comple-ta”, exemplifica o especialista.
de mesa oU portátil?Com a popularização dos compu-
tadores, o preço já não assusta mais quem se interessa por esse tipo de in-vestimento, o que exige atenção extra nas configurações. “Devem-se analisar itens como marca, capacidade, valor e, principalmente, a durabilidade estimada, tendo em vista os programas já existentes e aqueles que estão por chegar”, sugere Fortes. Para decidir entre computadores de mesa (desktops) ou portáteis (note-
TexTo: Marianna Senderowicz
Fortes: “É pertinente avaliar quando a máquina não atende mais às necessidades do usuário”
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 35
books), devem ser ponderados os bene-fícios de ambos. “As vantagens de se tra-balhar com notebook são a mobilidade, a economia do espaço na mesa e até mes-mo a estética, que para alguns usuários é importante. Já o desktop ainda apresenta custos inferiores, manutenção mais fácil e barata, uso de monitores maiores e maior possibilidade de upgrade.”
Além dessas considerações, é preciso dar uma folga para a memória do equi-pamento, que também é responsável pela performance do computador. “Se o sistema operacional escolhido requisitar no mínimo 1GB de memória, compre um computador com pelo menos 2GB para que todos os outros aplicativos a serem utilizados rodem sem problemas.” Quan-to ao HD, a escolha dependerá da neces-sidade de armazenamento de arquivos. “Se a empresa utiliza um servidor e faz o
armazenamento dos arquivos centraliza-dos nele, é desnecessário um HD de alta capacidade de armazenamento”, lembra o sócio da Rastek. Outro ponto funda-mental a ser considerado é a garantia. “Quando se compra uma máquina mon-tada pela loja, a garantia é geralmente
dicasAntes de efetuar a troca de um computador, solicite avaliação de um especialista,
pois muitas vezes um upgrade pode resolver o problema
Geralmente, o tamanho do HD não impacta diretamente na performance dos
computadores, sendo o principal componente a placa mãe
Se houver desejo de trocar todos os computadores da empresa, mas a verba não
for suficiente, priorize setores estratégicos
O descarte dos computadores antigos deve ser feito com responsabilidade para
evitar acúmulo de lixo eletrônico. Entre as alternativas está a doação para entidades
carentes que fomentam a inclusão digital. Quando não existe aproveitamento para o
material, empresas especializadas podem ser contratadas para fazer o recolhimento
FonTe: Juarez ForTeS
de um ano para o computador de uma forma integral, mas existem peças in-ternas que podem ter garantia superior, como o HD (de 1 a 5 anos) e a memória (que pode ter garantia até vitalícia).”
Comprado oU alUgado?Apesar de ainda não ser uma cultura
entre empresas brasileiras, já está dispo-nível em nosso mercado o “empréstimo” de computadores e softwares em caso de contratações de serviços de internet. Por esse sistema, companhias pagam uma mensalidade e têm acesso a equipamen-tos de última geração com manutenção assegurada. “A empresa deve estudar os motivos de terceirizar uma infraestrutu-ra já existente e se essa troca gerará um ganho efetivo”, previne Fortes. Entre os benefícios está o menor investimento em curto prazo e as vantagens fiscais, pois a locação de equipamentos pode ser deduzida do Imposto de Renda em despesas. Contudo, o contrato deve ser claro quanto aos prazos para substitui-ção de máquinas com problemas, pois nesses casos o cliente não pode interferir na manutenção.
FoToS: Lucia SiMon
estãoG
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6036
da gestão, que, apesar de proporcionar maior agilidade e confiança na tomada de decisões, afeta negativamente as rela-ções interpessoais no ambiente corpora-tivo e acaba prejudicando o desempenho financeiro e as perspectivas do negócio.
Muitos empreendedores encaram a administração profissional como uma necessidade restrita às grandes corporações, o que pode ser fatal para a continuidade no mercado. “É neces-sário que os administradores avaliem o cenário em que a sua empresa está inse-rida e respondam como querem que os seus negócios estejam amanhã e o que podem fazer para chegar lá”, pondera Ricardo Hirschmann Almeida, diretor da Background Consultoria em RH, de Porto Alegre.
Mesmo que uma empresa seja com-posta por apenas duas pessoas, é preci-so que cada uma saiba o seu papel na organização para evitar conflitos. Pode
A
compartilhando a administração dos negócios
parecer uma regra simples, mas já se trata de uma forma de profissionalizar a gestão. “O básico de uma administra-ção profissional está em estabelecer os norteadores do negócio, assim como a cultura do empreendimento e o papel de cada integrante”, explica a psicó-loga Mariana Lucas Uebel, diretora da Equilibrium Gestão de Pessoas, de Porto Alegre. Em estabelecimentos de maior porte, é aí que entra a definição de Missão, Visão e Valores, para que todos entendam a essência do negócio. “O tamanho da empresa definirá se a modernização será mais ou menos com-plexa”, explica.
Uma comunicação interna eficiente faz parte do processo, afinal, é por meio dela que os itens anteriores conseguem ser difundidos. Conforme a consultora, informações abertas ajudam a reduzir resistências entre funcionários e ges-tores. “Todos os integrantes devem ser
Em qualquer setor e independentemente de seu porte, uma empresa precisa ter
gestão formal para prosperar. Saber o que isso significa e como a transição deve
ser feita é essencial para assegurar bons resultados
o mesmo tempo em que mais de 80% das empresas brasileiras são familiares, apenas 30% conseguem che-gar à segunda geração. A principal causa dessa estatística está na informalidade
Para Mariana Uebel, o tamanho da empresa definirá a complexidade da modernização
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Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 37
apresentados às regras internas e aos objetivos, assim como cada setor deve ter bem claro seu funcionamento.” Os planos de carreira e de salário também precisam ser predefinidos e divulgados. “Todos devem saber quem é quem na empresa, o que nem sempre acontece em organizações familiares”, aponta Mariana, lembrando que parentes cos-tumam ter um tratamento diferenciado mesmo que ocupando posições hierár-quicas equivalentes às de outros fun-cionários, principalmente no que diz respeito ao acesso à diretoria. “Em um mundo cada vez mais competitivo, re-ter talentos envolve políticas claras de perspectivas de crescimento, pois um
bom profissional não tolera tratamen-tos diferenciados e não profissionais.”
profissionalismo não significa rigidez
Outro erro gerencial está em con-fundir profissionalismo com rigor em excesso. “Muitos empreendedores ain-da conduzem a gestão de seus negócios dentro de uma visão conservadora, apresentando resistência em partilhar o poder e correr riscos decorrentes de mudanças”, aponta Almeida. No en-tanto, ele lembra que, para que as mu-danças ocorram na velocidade necessá-ria e com comprometimento de todos, as organizações precisam ter lideranças
bem diferentes dos dirigentes do pas-sado. “Somente empresas com equipes diferenciadas e líderes inspiradores vão sobressair em um mercado cada vez mais globalizado e competitivo.”
Mariana concorda e ressalta que um ambiente saudável pode exigir jus-tamente o oposto de rigidez. “Às vezes, profissionalizar a gestão significa flexi-bilizar regras e repensar proibições.” Da mesma forma, ela destaca a importância de rever o veto ao uso de redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook. “Em algumas atribuições, esses sistemas cos-tumam gerar excelentes resultados. Além disso, profissionais de talento não perdem tempo fazendo mau uso dessas ferramen-
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Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6038
tas e não aguentam ficar muito tempo em empresas cheias de restrições.”
transição assistidaPor se tratar de uma reformulação de
cultura, nem sempre a adequação geren-cial ocorre de forma natural. Conforme Almeida, muitos gestores temem que as suas lideranças não estejam preparadas para assumir maiores responsabilidades e tomar decisões corporativas que até então eram quase que exclusivas da cú-pula corporativa. “O grande desafio está em garantir o ritmo acelerado de cres-cimento sem destruir valores, crenças e a força da marca conquistada ao longo da existência da empresa”, pondera. Se-gundo ele, existem inúmeros exemplos de empreendimentos líderes de mercado sem apresentar uma gestão formalizada, mas todos podem estar correndo riscos, porque o mercado está cada vez mais profissionalizado.
O processo de formalização pode le-var de meses a anos e, mesmo bem tra-balhado, não tem garantia de sucesso.
benefícios da profissionalizaçãoVeja algumas vantagens da gestão
profissionalizada
Fim do paternalismo
Maior clareza nos procedimentos
corporativos
Definição dos papéis dentro
da organização
Plano de carreira e de salários
bem definido
Maior respeito entre colegas
Mais chance de continuidade do negócio
fontEs: Mariana UEbEl E ricarDo alMEiDa
“A profissionalização deve começar de cima para baixo, pois se os gestores não quiserem efetivamente a mudança, ela não vai acontecer”, previne Mariana, da Equilibrium. Segundo a psicóloga, não basta vontade para que se tenha uma transição eficiente: é preciso um trabalho conhecido como gestão da mudança. “Se uma pessoa acha que o trabalho vai bem como está, não acei-ta que isso seja alterado do dia para a noite. É preciso uma sensibilização em equipe para que haja essa compreen-
são, apresentando os objetivos da transformação e reduzindo ansie-dades.” Geralmente esse processo é feito com uma consultoria de RH, mas dependendo do nível de complexidade e do porte da em-presa pode ser feito internamente. Mesmo assim, cerca de 70% das solicitações feitas à Equilibrium não chegam até o fim porque, além de envolverem investimento financeiro, exigem um envolvi-mento emocional muito grande. “Estar preparado para as modifi-cações é mais importante do que apenas mudar. Muitas empresas só
aceitam que precisam mudar quando já é tarde demais, já perderam mercado e agora precisam correr atrás do prejuí-zo”, elucida Almeida.
forcinha extraUma alternativa às resistências pode
ser a busca por especialistas externos. Na visão de Mariana, a vantagem está em ti-rar das mãos dos donos algumas decisões que talvez eles não estivessem prontos para acatar. “Um olhar de fora pode tra-zer mais maturidade”, acrescenta.
Desde abril de 2007, a joalheria Natan, fundada há mais de 50 anos e composta por 11 lojas em diversos es-tados do país, aderiu a uma adminis-tração terceirizada com o objetivo de profissionalizar o negócio. Até então, a venda anual totalizava R$ 18 milhões, sendo que no mesmo ano da mudança esse valor saltou para R$ 38 milhões. Em 2008, o número subiu para R$ 48 milhões, e em 2009, as vendas chega-ram a R$ 53 milhões. “O trabalho foi surpreendente. Conseguiram posicio-nar a família e ajustá-la no que mais pode ajudar a empresa, implementaram as melhores técnicas de gestão e cuida-ram de nossa empresa como fosse deles mesmos”, conta Sergio Kimelblat, filho de Natan Kimelblat, que comanda o estilo da joalheria. Este ano, um novo gestor da consultoria externa assumiu a direção e deve cumprir a meta de man-ter o crescimento de vendas de quase 200%. O diretor anterior, que ficou no cargo por três anos, segue no Conselho Executivo da companhia, que se reúne mensalmente e é composto por filhos e netos do fundador e por três executivos terceirizados.
DivUlgação/backgroUnD consUltoria
segundo almeida, a transição não pode destruir valores e crenças já conquistadas
xcelênciaE
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 39
xcelência na gestão é um con-ceito que remete quase que de imediato às empresas privadas. São normas, ISOs e critérios que, aplicados ao cotidiano dos empreendimentos, lhes garantem agilidade nos processos internos e exter-nos, conferindo aumento da produtivi-dade, credibilidade e ganhos de capital. Essa política de boa gerência, entretan-to, já é parte também das instituições patronais. Em 2008 a Confederação Nacional do Comércio (CNC) colocou em prática o Segs, Sistema de Excelên-cia em Gestão Sindical – desenvolvido com base nos fundamentos do Prêmio Nacional de Qualidade (PQN).
Entre os objetivos do Segs estão: per-mitir a identificação do grau de desen-volvimento das entidades sindicais em aspectos como associativismo, represen-tatividade, estrutura diretiva, gestão fi-nanceira e produtos e serviços oferecidos; capacitar os líderes em práticas gerenciais de reconhecida excelência, que possibili-tem incrementar a atuação dos sindicatos e federações do comércio de bens, servi-
ços e turismo; proporcionar o crescimen-to individual dos líderes e executivos sindicais e, consequentemente, das en-tidades e das empresas representadas.
Hoje, 679 sindicatos e federações aplicam no seu dia a dia os preceitos do Segs, nos quatro cantos do país. No Rio Grande do Sul são 93 entidades, e entre elas está o Sindilojas Erechim, que adota o sistema desde a sua criação. “A proposta do Segs veio ao encontro do que nós queríamos no âmbito da gestão da entidade, e os associados entenderam isso logo no primeiro momento”, destaca Francisco José Franceschi (foto), presi-dente do Sindilojas de Erechim.
A experiênciA de erechimSegundo Franceschi, a organização
dos processos internos foi fundamental até mesmo para resgatar a história da entidade, uma vez que permitiu mais eficácia no registro das ações do sindi-cato. “Hoje as organizações de nossos documentos seguem um fluxo normal, houve uma padronização, uma siste-
E
critérios para gestão sindical
matização das nossas atividades. Todos os nossos colaboradores sabem o que acontece internamente. Ninguém fica perdido”, destaca.
No que tange a gestão, o presidente do Sindilojas de Erechim frisa a agilida-de na comunicação: é possível acom-panhar passo a passo a execução de um projeto e divulgar para associados e so-ciedade as atividades da entidade. “Por meio do Segs sistematizamos nossos projetos e sabemos onde vamos, como vamos e aonde estão as oportunidades. Estamos, agora, atentos aos sinais do tempo”, frisa.
Criado em 2008, o Segs propõe uma metodologia de gestão da excelência sindical baseada
nos fundamentos do Prêmio Nacional de Qualidade. São critérios que auxiliam as entidades
a organizar seus processos, gerando comunicação eficaz e credibilidade
divulgação/fecomércio-rs
hileC
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 6040
onhecido pela qualidade de seus vinhos e pela riqueza mineral de suas terras, o Chile esteve nas manche-tes no começo de 2010 não por suas belezas, mas pelos estragos provocados pelo terremoto que assolou a nação em fevereiro e atingiu mais de 2 milhões de pessoas. O ano é de expectativa e de recuperação para o país, que conta com uma economia estável, inflação controlada e reservas de US$ 25 bilhões para se reestruturar. “O Chile é top na América Latina, um dos mais inseridos no processo de globalização e referência no exterior quando se fala na região”, salienta o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Antonio Carlos Fraquelli.
A nação vinha em um movimento contínuo de desenvolvimento por ter priorizado a estabilidade. “Em 2006, o PIB naquele país cresceu 4,6%; em 2007, 4,7%. Em 2008, com a crise mundial, o desempenho caiu para 3,2% e em 2009,
para -1,7%.” Antes do tremor, a previ-são era de uma retomada, com o índice ficando em torno de 3% neste ano. En-tretanto, novas estimativas serão feitas levando em consideração a realidade atual. Hoje, o PIB chileno é de aproxi-madamente US$ 150 bilhões, sendo que US$ 30 bilhões é a soma dos prejuízos causados pelo terremoto. Mesmo dian-te desse cenário, Fraquelli afirma que o país conta com a boa vontade política internacional para reerguer a infraestru-tura local e continua um mercado inte-ressante para os brasileiros. “Por ter con-dições de lidar com a instabilidade, ele torna-se um lugar para o qual se pode direcionar os investimentos.”
O cobre é um dos principais pro-dutos de exportação chilenos – repre-sentando 30% do total –, assim como vinhos e celulose (no Estado, a chilena CMPC adquiriu recentemente a unida-de da Aracruz, localizada no município de Guaíba). “O país oferece boas opor-
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Top daAmérica Latina
tunidades de negócios para os brasilei-ros”, reforça o diretor do Conselho de Comércio Exterior da Fecomércio-RS, Arno Gleisner. Ele relata que a própria recuperação da nação pode abrir novos nichos de atuação para os empresários.
Conforme Gleisner, a peculiaridade de ser um dos dois países sul-america-nos que não fazem fronteira com o Bra-sil – o outro é o Equador – impõe certas dificuldades logísticas, principalmente para as cargas rodoviárias, que preci-sam passar por São Borja e Uruguaiana. Isso por causa das condições climáticas
Economia estável e altos índices de desenvolvimento fazem do
Chile importante parceiro comercial do Brasil, mesmo após os
danos causados pelo terremoto que abalou aquele país neste ano
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Fraquelli, da Fee, acredita que mercado chileno continua interessante para o Brasil
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que muitas vezes impedem o acesso às estradas na área da Cordilheira dos Andes. “Contudo, isso não é um limi-tador para as relações comerciais, pois existem linhas regulares de navegação.” Em 2009, o volume de exportações bra-sileiras para o Chile e do Chile para o Brasil ficou bem próximo, na faixa dos US$ 2,6 bilhões. Entre os artigos mais vendidos pelo Brasil estão óleos brutos de petróleo e veículos para transporte. Já o Chile enviou para nosso país prin-cipalmente salmão, metanol e fio de cobre refinado.
desTino cerToCom uma população de aproxima-
damente 16 milhões e um dos mais altos índices de desenvolvimento humano e de qualidade de vida da América Latina, o Chile atrai os brasileiros não só por sua economia estabilizada. O país é um im-portante destino turístico, que conquista por sua gastronomia, cultura, paisagem
natural e ainda por sua literatura. Terra de Pablo Neruda e Isabel Allende, a na-ção tem em seus 4,3 mil quilômetros de comprimento e cerca de 175 quilômetros de largura um clima variado: do frio e da neve do Vale Nevado e da Cordilheira dos Andes ao seco do Deserto do Ataca-ma, o mais árido do mundo. O contraste entre as regiões revela a diversidade que marca a região.
O vinho é um dos produtos mais apreciados por quem visita o Chile. As principais uvas utilizadas na sua fabrica-ção são a Cabernet Sauvignon e a Car-menère. Na culinária, os pratos à base de frutos do mar são destaque nos cardápios. Para os turistas, além de poder esquiar ou caminhar por áreas desérticas, com gêi-seres e piscinas de água quente em pleno Atacama, ou visitar os moais na Ilha da Páscoa, a capital Santiago mostra o lado urbano da nação. Mais do que uma opção para os investimentos, o país é uma alter-nativa para o lazer.
Dez principais itens mais
importados pelo chile do Brasil
Óleos brutos de petróleo
Veículos para transporte
Carroçarias para veículos transporte
Chassis com motor para veículos
Terminais portáteis para telefonia móvel
Tratores rodoviários
Outros aviões a turboélice
Transformador de dielétrico líquido
Outros polietilenos
Laminados, ferro e aço
Produtos importados pelo Brasil do chile
Catodos de cobre refinado
Sulfetos de minérios de cobre
Salmões do Pacífico
Fio de cobre refinado
Metanol
Nitrato de sódio potássico
Outros vinhos
Caixas de marcha para veículos
Salmões do Atlântico
Esferas forjadas/estampadas de ferro/aço
para moinhos
relação comercial
volume de exportação do Brasil para o chile2008 – US$ 4,791 bilhões
2009 – US$ 2,656 bilhões
volume de importação brasileira do chile2008 – US$ 3,951 bilhões
2009 – US$ 2,615 bilhões
Total de exportações do Brasil2009 – US$ 152,994 bilhões
2008 – US$ 197,942 bilhões
Total de importações do Brasil2009 – US$ 127,647 bilhões
2008 – US$ 172,984 bilhões
FonTe: minisTério Do DesenvolvimenTo, inDúsTriA e comércio
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cada Páscoa os fabricantes de chocolate surpreendem seus clien-tes mais famintos com novos sabores e formatos de ovos, fazendo da ida ao su-permercado um verdadeiro passeio no paraíso. E o que poderia ser melhor do que “vestir” essa delícia? Esse foi o mote
do desfile de roupas de chocolate, proeza realizada pelas equipes de Moda e Gas-tronomia do Senac-RS, sob a supervisão do coordenador de moda da instituição, Márcio Weiss, e apresentada durante a Chocofest 2010, em Gramado, na Serra gaúcha. O estímulo, conta Weiss, veio da organização do evento: “Recebemos o convite e aceitamos o desafio”.
inspiração francesaQuando recebeu a proposta da
Chocofest, Weiss havia recentemente chegado do 15º Salon du Chocolat, em Paris, onde encontrou algumas refe-rências, pois durante o evento francês houve um concurso de roupas de cho-colate. Já no Brasil, o mais próximo da ideia foram roupas feitas com chocolate e parafina, o que inviabilizava a degusta-ção das roupas. “Nós queríamos que as peças fossem comestíveis”, conta o coor-
A
Deliciosodesfile de chocolateDesfilando com a primeira coleção de roupas de chocolate no Brasil, o Senac-RS
ganha visibilidade nacional e mostra que vencer um desafio é a porta para a inovação.
Apresentadas na Chocofest 2010, as peças encantaram os olhos e deram água na boca
denador. É nesse momento que o Núcleo de Moda do Senac-RS recorre à expertise do seu núcleo de Gastronomia.
O desafio era ter um chocolate co-mestível, maleável e que resistisse o máximo de tempo possível ao calor do corpo dos modelos e do local do desfile. A solução foi substituir a manteiga de cacau por uma gordura vinda da Ma-lásia, que conservava o sabor do cho-colate e era mais maleável. Estima-se que foram utilizados mais de 20 quilos de chocolate na confecção das roupas. “Era um desejo meu unir moda e gas-tronomia. Em Milão, por exemplo, isso já acontece. As duas especialidades tro-cam experiências de cores e formas.”
As peças são únicas e guardadas sobre refrigeração nos intervalos entre os desfiles, exigindo apenas alguns reto-ques, já que os modelos podiam degus-tar as roupas na passarela.
Feitos com chocolateCom uma barra de chocolate na mão,
criatividade e alguns moldes é possível
viver no mundo onde tudo em que se
toca é de chocolate. No Festival do
Chocolate, que aconteceu em março,
em Portugal, o desafio foi esculpir as
maravilhas do mundo: o Coliseu de
Roma, a Muralha da China, Chichen
Itza, Taj Mahal, Petra. No site
www.festivalchocolate.cm-obidos.pt é
possível conferir a delicadeza das peças.
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 43
o conceitoA coleção de roupas de chocolate é
composta de 14 peças combináveis, que podem virar 50 outras. São saias, corpe-tes, bermudas, coletes e acessórios. Até um vestido de noiva foi confeccionado com a iguaria. “Busquei criar roupas conceituais, que chamassem a atenção pela modelagem, pelo aspecto visual”, revela Weiss, responsável pelo design das peças, que foram confeccionadas pe-las docentes do Senac Novo Hamburgo. Não bastavam serem feitas de chocolate, tinham também que ser belas.
Como o contato direto com o cor-po faria as peças derreterem, foi preciso utilizar moldes de metal ou têxtil que
receberam banhos de chocolate. Foram tules, rendas e outros tecidos banhados na iguaria. A gordura da Malásia per-mitiu, por exemplo, que o vazado das rendas não fosse preenchido, preser-vando a natureza do material.
Além do coordenador, outras 20 pessoas foram responsáveis pela realiza-ção do primeiro desfile de coleção com-pleta de chocolate. Um acontecimento inédito no Brasil.
a inovaçãoAlém de encher os olhos e de dar
água na boca, o projeto rendeu visibilida-de nacional ao Senac-RS e mostrou que pesquisa, profissionalismo e boa vontade
são ingredientes fundamentais para sair dos padrões e inovar. “O brasileiro tem um potencial criativo enorme e explorá-lo é o caminho para a moda nacional”, observa. Ainda de acordo com Weiss, essa experiência exemplifica a preocupa-ção que o profissional de moda que deseja se destacar no mercado deve ir além do básico e ser criativo e inovador. Tamanho foi o sucesso do evento, que novos convi-tes já surgiram. No dia 9 de abril o desfile foi apresentado durante o maior evento de moda do Rio Grande do Sul, o Donna Fashion Iguatemi. A coleção foi convidade para participar da 1ª Expo Chocolate, em São Paulo, no mês de julho; e tam-bém no Salon du Chocolat, em Paris.
OtO Maciel
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em só de frio vive o turismo na Serra gaúcha, nem só de sol vivem as praias do litoral. As belezas dessas localidades podem ser aproveitadas o ano inteiro. É por isso que – sabedoras do potencial turísticos de suas regiões – prefeituras locais, em conjunto com secretarias, realizam uma série de ações em busca do turista fora de época. Uma das principais alternativas para essa captação é o turismo de negócio, que agrega conhecimento e renda para a re-gião. De olho nesse crescente mercado, a Secretaria de Turismo de Caxias do Sul iniciou um extenso planejamento para atrair ao município e às redonde-zas o turista de eventos.
Nos primeiros meses do ano a cida-de sediou o Salão Gaúcho de Turismo e a 1ª etapa do Circuito Banco do Brasil de vôlei, por exemplo. Eventos que ocu-param quase 70% dos hotéis e pousa-das em um período onde o litoral reina.
Para os dias de frio, que por si só já são um grande atrativo turístico, o municí-pio espera casa lotada em mais de 90%, e para tanto, sua agenda está repleta de grandes eventos como a Feira Interna-cional da Dança, a Feira Internacional do Artesanato e o Intercom; além de eventos culturais de valorização das tradições gaúcha e italiana. “Em 2010 não há uma semana sem que haja um evento”, reforça o secretário de turismo de Caxias do Sul, Jailson Barbosa. Sina-lização, pavimentação e reforma de ins-talações são algumas das ações realizadas na cidade para receber com excelência.
Além dA serrA e do mArLocalizada no extremo norte do
Estado a simpática cidade de Iraí (foto)mostra que o turismo no Rio Grande do Sul vai além da serra e do litoral. Reco-nhecida nacionalmente pelas fontes de água mineral e pelo tratamento com
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em buscAdo turista fora de época
lama medicinal, a cidade tem o Balne-ário Osvaldo Cruz como seu principal atrativo turístico. Entre os serviços ofere-cidos pelo balneário estão atividades que vão desde a simples ingestão de águas minerais até serviços de hidromassagem e ducha escocesa. É possível citar os banhos de piscinas, realizados de forma coletiva com temperatura de 36,5°C; os banhos aquecidos em cabine individu-al; a ducha escocesa, que é um jato de água quente, arrematado por um jato de água fria. E a partir desta tempora-da o balneário passou a disponibilizar serviços como vinhoterapia, banho de ervas, esfoliação corporal, chocolatera-pia, massoterapia e lamaterapia.
Iraí conta ainda com a “Prainha”, uma praia natural em pedras nas mar-gens do rio Uruguai. É um local propício para pescarias, prática de esqui aquáti-co, caiaque, provas de motonáutica e de jet-ski, competição a remo e pas-
Por meio de planejamentos e trabalhos pontuais, prefeituras e secretarias buscam
fomentar o turismo no Estado durante todo o ano. Turismo de negócios, eventos
culturais e valorização de riquezas naturais são algumas das estratégias adotadas
Bens & Serv iços / Abril 2010 / Edição 60 45
seios de barco. “O turismo é o segundo maior gerador de emprego e renda do município, e quanto mais investirmos, a população contará com mais confor-to, emprego e oportunidades”, destaca o prefeito de Iraí, Mário Antonio Coe-lho da Silva. Assim como as demais re- giões do Estado, Iraí também investe em eventos para fomentar o turismo. Para este ano estão programadas a Fes-ta da Polenta, a 8ª Festa da Laranja e o Baile do Ridículo, por exemplo.
Seja na contramão dos destinos de alta temporada ou no caminho da esta-ção, é importante destacar o potencial turístico do Estado e a perspicácia das secretarias municipais em realizar tra-balhos que fomentem o setor e gerem emprego e renda o ano inteiro. Como forma de acompanhar essa tendência, o Sesc-RS lança sua Temporada de Férias Outono/Inverno 2010. Confira no qua-dro os principais pacotes promocionais.
Ivo Lo
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viagens que cabem no bolsoQuem disse que praia só se curte no verão? A calmaria do mar pode ser apreciada em
agradáveis momentos de lazer durante todo o ano. E a Serra gaúcha pode ser reduto
de férias para todo mundo. Partindo dessa ideia o Sesc abre sua Temporada de Férias
outono/inverno 2010 com promoções especiais para os comerciários gaúchos. Entre
as novidades estão os pacotes para os Hotéis Sesc Gramado e Torres, que estão com
diárias a partir de R$ 13 por pessoa com pensão completa para trabalhadores do
comércio de bens, serviços e turismo com renda de até dois salários mínimos. Ainda
para o litoral, a instituição está oferecendo pacotes turísticos, de domingo a sexta-feira,
com a inclusão de transporte e city tour, além das refeições – café da manhã, almoço
e jantar. A Temporada de Férias Sesc Outono/Inverno 2010 vai até o dia 28 de
novembro. Confira quais as promoções para este ano e obtenha mais informações nas
unidades Sesc ou no site www.sesc-rs.com.br/temporadadeferias.
oportunidade 1Hotéis sesc Gramado e Torresvalor: diárias de R$ 13 para comerciários com renda de até dois salários mínimos;
diárias de R$ 30 para comerciários com renda superior a dois salários mínimos
o que inclui: pensão completa (café da manhã, almoço e jantar)
Período: Hotel Sesc Gramado - domingo a sexta-feira; Hotel Sesc Torres - domingo a
sexta-feira e de sexta-feira a domingo
oportunidade 2Pacotes com traslado para Torresvalor: pacote de R$ 100 por pessoa para trabalhadores com renda de até dois salários
mínimos e seus dependentes; pacote por R$ 165 por pessoa para trabalhadores com
renda de superior a dois salários mínimos e seus dependentes
o que inclui: pensão completa, transporte e city tour
Período: Confira no site do Sesc a tabela completa, indicando o período de saída de
cada cidade onde há Unidades Operacionais
Marcelo PortugalConsultor econômico da Fecomércio-RS
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Em resposta à crise econômica internacio-nal, os Bancos Centrais de todo o mundo redu-ziram fortemente suas taxas de juros básicas. No Brasil não foi diferente. Nosso Banco Cen-tral reduziu a taxa Selic para 8,75% ao ano, o que, considerando uma inflação estimada em torno dos 5% para este ano, gera uma Selic real de 3,5% ao ano.
Superada a crise financeira e econômica, os Bancos Centrais de todo o mundo já começa-ram a discutir uma “estratégia de saída” para essa política monetária fortemente expansio-nista. Ao longo dos próximos meses observa-remos o início das elevações de taxas de juros em muitos países. Naqueles onde a recupera-ção econômica tem se mostrado muito lenta e a inflação está totalmente sob controle, como parece ser o caso dos países da zona do euro, a elevação dos juros básicos poderá ser adiada para o próximo ano. No caso de países onde a recuperação econômica já mostra alguns sinais positivos e a taxa de inflação começa a se ele-var, como é o caso dos Estados Unidos, é pro-vável que alguma elevação dos juros comece a ocorrer ao longo do segundo semestre.
Em outros países, cujas economias se recu-peraram mais rapidamente da crise econômica, como é o caso do Brasil, a elevação da taxa de juros é iminente. A economia brasileira deverá
crescer acima de 5% em 2010 e nossa taxa de inflação se acelerou bastante nos últimos me-ses, superando a meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Nessa conjuntura, uma elevação da taxa de juros, provavelmente a partir do final de abril, parece ser inevitável.
A boa notícia parece ser que, ao contrário do que ocorria no passado, a dose de juros necessá-ria para trazer a taxa de inflação para a meta de 4,5% não deverá ser muito grande. Estima-se que uma taxa de juros entre 11,25% e 12% será suficiente para corrigir nossos desequilíbrios in-flacionários. A Selic real caiu de 25% ao ano na segunda metade dos anos 90, para cerca de 10% ao ano entre 2000 e 2008, e deverá ficar agora próxima dos 7% ao ano.
As condições de estabilidade macroeconô-mica do país já produziram efeitos positivos no que diz respeito à redução da Selic real. Falta agora um esforço maior de reformas microe-conômicas no sentido de reduzir mais rapida-mente os juros reais para os tomadores finais de crédito, para quem a Selic real é apenas uma miragem. Precisamos de mais competição no sistema bancário e menor pressão de deman-da de crédito por parte da dívida pública para aliviar o bolso das pessoas físicas e jurídicas que precisam de crédito no Brasil.
E stratégia de Saída: a inevitável elevação dos juros
“A elevação da Selic é iminente, mas a boa notícia é que o aumento
esperado ao longo do ano é relativamente modesto”
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asta abrir a página de indica-dores econômicos em um jornal diário para perceber que não é fácil trafegar neste terreno. Calculados a partir de diferentes metodologias, setores e perí-odos, os índices de preços – conhecidos como índices de inflação – são também utilizados para fins diversos. Embora mais jovens que o decano IGP, elabo-rado pela Fundação Getulio Vargas desde a década de 1940, os indicadores do IBGE ganharam força nos seus 30 anos de existência. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o Índice Nacional de Preços ao Consumi-dor Amplo (IPCA) integram o Sistema Nacional de Índices de Preços ao Con-sumidor (SNIPC). Ambos são definidos a partir do levantamento junto a esta-belecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionárias de serviços públicos e domicílios.
usos diferenciados“O que difere os índices é o públi-
co abrangido: o IPCA mede o custo de vida das famílias de 1 a 40 salários mí-
nimos e os INPC de 1 a 6 salários míni-mos”, explica Irene Machado, gerente do SNIPC. Além disso, no INPC só são consideradas famílias cujo chefe seja as-salariado – enquanto o IPCA serve para estabelecer diretrizes para a economia nacional, o INPC desempenha um papel importante nas questões salariais.
“O IPCA é usado pelo Banco Central para inferir a meta da inflação. E o INPC vai mostrar a variação de preço das famí-lias de baixa renda.” Irene lembra que, dentro das políticas governamentais, os dois índices são utilizados para com-preender como está o comportamento do consumidor, já que a metodologia se propõe a acompanhar a variação de pre-ços de um conjunto de produtos e servi-ços consumidos pelas famílias.
Coletadas entre os dias 1º e 30 do mês de referência, as informações se re-ferem a nove áreas metropolitanas (Be-lém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), além do Dis-trito Federal e da cidade de Goiânia. São avaliados produtos preestabeleci-
B
os preços e as metas da inflação
dos e os preços para compra à vista. Os índices regionais são agregados e dão origem ao indicador nacional.
Para o estabelecimento de padrões de pesquisa, o SNIPC realiza levantamen-tos básicos, sempre atualizadas. Aí estão a Pesquisa de Orçamentos Familiares (2002/2003), que definiu as estruturas de ponderação das populações-objetivo; a Pesquisa de Locais de Compra (1988), responsável pelo cadastro de informan-tes da pesquisa; e a Pesquisa de Especi-ficação de Produtos e Serviços, realizada localmente na época de implantação de cada uma das regiões.
Os índices do IBGE começaram a ser medidos em janeiro de 1979, no Rio de Janeiro; a última capital a integrar a pesquisa foi Goiânia, em 1991. Porto Alegre fez parte já do segundo grupo, em junho de 1979. Segundo o IBGE, a série Brasil encontra-se disponível a partir de setembro de 1981. Além dos dois índices mensais, indexadores específicos (como o quinzenal IPCA-15, divulgado desde 2000 no site do IBGE) também são ela-borados pela instituição.
Mensalmente o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula a
variação dos preços ao consumidor no mercado nacional. Um destes índices,
o IPCA, é utilizado pelo Banco Central para definir as metas da inflação
Rodrigo GiacometCientista político do Sistema Fecomércio-RS
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Eleições são marcadas por debates. Não apenas aqueles televisionados, em que se reú-nem os candidatos para uma conversa televisio-nada, mas também pelos temas que dominam as pautas jornalísticas e as conversas informais durante o período eleitoral. Um dos objetivos de um candidato é pautar essa agenda de deba-tes, fazendo com que eles aconteçam em torno de assuntos que lhe sejam favoráveis.
Durante alguns anos, o principal tema de-batido nas eleições presidenciais (diretas ou in-diretas) foi a inflação. Estratégias para contê-la foram amplamente discutidas nas eleições de 1984 e de 1989, resultando em planos eco-nômicos que inauguraram as gestões de José Sarney e Fernando Collor. Em 1994, na eleição de Fernando Henrique Cardoso, o tema foi o mesmo, com a diferença de que o Plano Real já estava em fase de implementação.
Nos anos em que há a possibilidade da ree-leição, o caráter plebiscitário do processo elei-toral impõe o debate acerca da continuidade, ou não, de um governo. Foi o caso das eleições de 1998 e 2006. Em 2002, com a inflação con-tida, mas com índices de desemprego preocu-pantes, o principal tema foi o da geração de um ciclo de desenvolvimento que pudesse gerar emprego e renda para população.
Portanto, no momento em que vivencia-mos os preparativos para as eleições de 2010, surgem expectativas a respeito dos temas que dominarão a campanha eleitoral. Sobre esse assunto é possível arriscar um palpite: a candidatura governista procurará pautar as eleições em torno da comparação entre os governos Lula e FHC, enquanto que a candidatura de oposição fará restrições aos aumentos do gasto público no período Lula. Nenhuma das candidaturas fará críticas vee-mentes ao atual governo, que goza de recor-des nos índices de aprovação popular, e todas se posicionarão como a escolha ideal para o período “pós-Lula”.
Independentemente de qual será o tema dominante em 2010, é possível afirmar que o nível dos debates será melhor do que em eleições anteriores. De 1984 para cá, com a expansão dos meios de comunicação, ficou mais fácil ao cidadão fiscalizar as contas go-vernamentais. Com o fim dos debates pauta-dos pela inflação, abre-se a possibilidade para que temas orçamentários sejam discutidos, e aos poucos, a jovem democracia brasileira ca-minha para discussões de bom nível. O bom debate, em política, passa pela discussão do destino dos recursos públicos.
O bom debate
“Nenhuma das candidaturas fará críticas veementes ao atual governo, que
goza de recordes nos índices de aprovação popular”
Bens & Serviços / Abril 2010 / Edição 60 49
Mais Menos&Almoço bArAto A Sodexo Motivation Solutions
divulgou pesquisa realizada pela
Associação das Empresas de
Refeição e Alimentação Convênio
para o Trabalhador (Assert), que
revela que os gaúchos investem
para almoçar diariamente – a menor
média brasileira. No país, o ticket
médio ficou em R$ 18,20
42%
Atrás dA telonASegundo pesquisa da Reuters
conduzida pela Ipsos,
dos 24 mil adultos
entrevistados em 23 países
concordam com a afirmação
de que “os filmes são
minha fuga do mundo real
– eu vejo o maior número
possível e com a maior
frequência possível”. No
Brasil, 47% concordam com
a afirmação
R$ 15,40
notA eletrônicALevantamento da Serasa Experian
estima que
das 240 mil empresas que teriam de
emitir Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) a
partir de 1º de abril ainda não estavam
prontas 10 dias antes do prazo
85%
contrAtAções Ouvindo 150 empresas no Brasil a
Grant Thornton International revelou
que o país foi um dos que apresentaram
melhor desempenho no nível de
emprego na América Latina em 2009: o
número de empregos cresceu
11%
1º de AbrilA data é engraçada, a notícia não:
no dia 1º de abril o Impostômetro
chegou à marca de
em impostos arrecadados pelos governos
brasileiros em 2010. Conforme o
Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário (IBPT), essa marca é 14,5%
maior que em 2009
R$ 300 bilhões
dispAridAdePesquisa realizada pela Bain & Company
demonstrou que em
das empresas a alta administração não
implantou a paridade entre homens
e mulheres como prioridade visível
e declarada, e 80% das empresas
não alocaram recursos nem fizeram
investimentos adequados para este fim
75%
mulher brAsileirASegundo dados da ferramenta Target
Group Index, do Ibope Mídia, entre as
mulheres que foram às compras nos 30
dias anteriores,
declararam ter comprado roupas
femininas, 60% calçados, 43%
roupas para homens e 39% roupas para
crianças e bebês
78%
Monika Henkel/stock.xcHng
lAtA velhALevantamento da prefeitura de São Paulo
divulgado pelo G1 revelou
que, entre 2005 e fevereiro de 2010,
foram recolhidos
veículos abandonados na capital paulista,
em uma média de 40 veículos por mês
consórcio de serviçosSegundo a Associação Brasileira de Admi-
nistradoras de Consórcios, o consórcio de
serviços, autorizado para comercialização
há pouco mais de um ano, registrou uma
evolução de 9,5% entre janeiro e fevereiro
deste ano, saltando de
para 4,6 mil participantes ativos. A maior
escolha esteve por conta do setor de
saúde e estética, com 33,2%
4,2 mil
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No final de março foi anunciada mais uma megafusão no mercado brasileiro, unindo a ca-deia de lojas Insinuante e Ricardo Eletro numa nova corporação, a Máquina de Vendas. Nome sugestivo, mas que não tem, convenhamos, o charme de Insinuante, fundada em 1959, pelo pernambucano Antenor Liberal Batista – que, ao menos na escolha da denominação para seu estabelecimento, foi mesmo bem liberal. Se com o nome Antenor pretendia que a empre-sa se insinuasse junto aos consumidores, con-seguiu-o plenamente: trata-se da maior rede varejista do Nordeste, com faturamento anual superior a 200 milhões.
Como as pessoas escolhem os nomes de seus estabelecimentos? Provavelmente da mes ma maneira como escolhem os nomes dos filhos: querem homenagear alguém, querem um nome sonoro, ou, muitas vezes, querem ser originais. E nomes originais não faltam nesta área. Por exemplo, nos Estados Unidos existe uma empresa de transportes de móveis chamada “Sofa so good”, um trocadilho com a expressão “So far, so good”, que significa “até aqui tudo bem”. E uma lanchonete que é a “Marquis de Salade” (lembrando o Mar-quês de Sade), uma loja de bicicleta que é a “Cycloanalysis” (trocadilho com “Psycho-analysis”). No Brasil, temos uma loja que é a Toldos Dias, uma creperia que se chama Crepe Diem (trocadilho com Carpe Diem, expressão latina que quer dizer algo como aproveite o dia, o momento); uma padaria
que atende pelo nome de Pão, Pão, Queijo, Queijo. E o que me dizem do Restaurante Santo Gostinho?
Mas, a julgar pelo que nos diz o site Ma-ringa.com, o lugar com os nomes de estabe-lecimentos mais pitorescos deve ser Maringá (PR). Vejam só alguns exemplos: “Pet Shop Uau-Q-Mia”, “Bar Tôa Tôa”, “Bar Baridade”, “Costurando Gostoso” (loja de máquinas de costura), “Fome Zero Lanches” (esta deve ter o apoio do presidente Lula), “Bar Buda”, “Bar Guilha” (quase braguilha...), “Bar Bão di Goli”, “Bar Akikinoisbebi e Comi”, “Bar Vem Que Eu Guento”, “Bar Merindus” (um óbvio trocadi-lho com o Bamerindus), “Motel Se Q Sabe”, “Açougue Extouro” (para os ex-touros não é bem um estouro), “Restaurante Ponto G” (e onde é que fica o mítico ponto G?), “Saindo do Trabalho Bar” (este homenageia um tra-dicional costume dos brasileiros), “Papelaria Tempapel” (se não tivesse papel, seria papela-ria?), “Bar Bantes”, “Pizzaria e Borracharia O Rato q Ri (ri de quê?)”, “Moto Taxi Seu Creys-son”, “Assim Assados” (esse é mesmo criativo), “Churrasqueiras Andróide” (homenagem à ficção científica), “Salão Kixiki Cabeleireiros”, “Churrascaria Boi que Berra” (mas adianta o boi berrar?), “Dotim Dotoso” (essa distribui-dora de doces certamente pensa no público infantil...) e, por último, mas não menos glo-rioso, a “Madeireira Cara de Pau”. Se nome de estabelecimento desse dinheiro não faltariam bilionários no país.
Os estabelecimentos comerciais e seus nomes
Beto
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