Entrevista Olavo de Carvalho

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  • 7/29/2019 Entrevista Olavo de Carvalho

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    Entrevista Olavo de Carvalho

    Cruzada anti-idiotas

    O filsofo que quer salvar voc da estultice

    MARCO RODRIGO ALMEIDARESUMO Novo livro de Olavo de Carvalho, que rene ensaios publicadosem jornais e revistas, tornou-se um best-seller quase instantneo. Ementrevista, o filsofo radicado nos EUA analisa criticamente tanto aesquerda brasileira como uma parte da "direita nascente", que ele diz seremformadas e formadoras de idiotas.

    O mnimo que todo mundo precisa saber para no ser um idiota no tomnimo assim. Ao menos na viso de Olavo de Carvalho, ela engloba quase200 textos, espalhados por 616 pginas. Abarca uma mirade de temas--como histria, democracia, religio, cincia, linguagem, educao, guerra(mas no s). Todo esse material, publicado originalmente pelo filsofo em

    jornais e revistas entre 1997 e 2013, agora reunido em "O Mnimo queVoc Precisa Saber para No Ser um Idiota" [Record; 616 pgs.; R$ 51,90].

    Felipe Moura Brasil foi responsvel pela seleo do material. "E agora oreparto com voc, leitor, na esperana de que tambm se afaste da condiode bichinho e se eleve altura dos anjos", escreve o jornalista naempolgada apresentao do volume.

    Apontar um idiota, reconhece o livro, tarefa fcil. Mais difcil no s-lo,nem fazer papel de um. Na nada modesta cruzada de livrar o leitor de todaforma de idiotice, o volume elege como alvo principal o pensamento deesquerda que considera hegemnico no pas.

    Dispara contra polticos e intelectuais (tambm sobra munio para a"direita nascente"), artistas, o MST, o movimento gay e as recentesmanifestaes no pas. O autor destas parcas linhas tambm leva seuquinho de farpas.

    Olavo de Carvalho um dos principais representantes do pensamento

    conservador no Brasil. Publicou diversos livros ("O Imbecil Coletivo", "OFuturo do Pensamento Brasileiro") e criou o site Mdia sem Mscaras(www.midia semmascara.org).

    Seus textos e aulas on-line tm conquistado um pblico fiel ao longo dosanos. O novo livro vendeu em apenas uma semana, segundo a editoraRecord, 10 mil exemplares. Dos Estados Unidos, onde vive desde 2005,Olavo de Carvalho concedeu Folha a seguinte entrevista por e-mail.

    Folha - O ttulo do livro um tanto provocativo, at mesmo para atrair

    o leitor. Mas no seria pouco filosfico chamar de "idiota" quem no

    compartilha certas ideias?

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    Olavo de Carvalho - Ningum ali chamado de idiota por "nocompartilhar certas ideias", e sim por pretender julgar o que no conhece,

    por ignorar informaes elementares indispensveis e obrigatrias na suaprpria rea de estudo ou de atuao intelectual.

    Nesse sentido, creio ter demonstrado meticulosamente, neste e em outroslivros, que alguns dos principais lderes intelectuais da esquerda brasileira,assim como uns quantos da direita nascente, so realmente idiotas efabricantes de idiotas.

    O sr. comenta que a normalidade democrtica a concorrncia

    "efetiva, livre, aberta, legal e ordenada" entre direita e esquerda. Mas

    tambm que todo esquerdista "mau, sem exceo". Como possvel

    equilibrar esses dois aspectos?

    Depende do que voc chama de esquerda. H uma esquerda que aceitaconcorrer democraticamente com a direita, sair do poder quando perde aseleies e continuar disputando cargos normalmente sem quebrar as regrasdo jogo. O Partido Trabalhista ingls assim. Nosso antigo PTB era assim.Disputavam o poder, mas sabiam que, sem uma oposio de direita,

    perderiam sua razo de ser.

    H uma segunda esquerda que deseja suprimir a direita pela matana dosseus representantes reais ou imaginrios. Esta governa Cuba, a China, aCoreia do Norte etc., assim como governou a URSS e os pases satlites.

    H uma terceira esquerda que, aliada da segunda, diverge dela emestratgia: pretende conquistar primeiro a hegemonia, de modo que, nostermos de Antonio Gramsci, o seu partido se torne "um poder onipresente einvisvel, como um mandamento divino ou um imperativo categrico"; e,em seguida, tendo controlado a sociedade por completo, apossar-se doEstado quando j no haja nem mesmo a possibilidade remota de umaoposio de direita. S a vir um toque de violncia, para dar acabamento obra-prima.

    A existncia da primeira esquerda essencial ao processo democrtico. A

    segunda e a terceira devem ser expulsas da poltica e dos canais de culturaporque sua essncia mesma a supresso de todas as oposies pelaviolncia ou pela fraude e porque se infiltram na primeira esquerda,corrompendo-a e prostituindo-a.

    Ningum pode apoiar esse tipo de esquerda por "boa inteno". Voc j viualgum militante dessa esquerda sonhar em implantar o socialismo e depoisir para casa e viver como um humilde operrio do paraso socialista? Eununca vi.

    Cada militante se imagina um futuro primeiro-ministro ou chefe da polciapoltica. Quando matam, para conquistar o direito de matar mais, de

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    matar legalmente. So porcos selvagens --sem ofensa aos mimososanimais.

    O sr. argumenta que o brasileiro maciamente conservador, mas

    desprovido de representao poltica. Por que no temos polticos e

    partidos que tomem tal bandeira?J est respondido na pergunta anterior. O mtodo da "ocupao deespaos" realizou no Brasil o ideal gramsciano de fazer com que todomundo nas classes falantes seja de esquerda mesmo sem sab-lo, de modoque toda ideia que parea "de direita" j seja vista, instintivamente, sobuma tica deformante e caluniosa, com chances mnimas ou nulas deargumentar em defesa prpria.

    Suas prprias perguntas ilustram o sucesso dessa operao no Brasil. Vocpode no ser um militante de esquerda, mas raciocina como se fosse,porque na atmosfera mental criada pela hegemonia esquerdista isso anica maneira "normal" de pensar, s vezes a nica maneira conhecida.

    Por isso, voc, ao formular as perguntas, fala em nome dos meus crticos deesquerda, como se eles, e no o pblico que gosta do que escrevo, fossemos juzes abalizados aos quais devo satisfaes.

    Suas ideias podem ser consideradas de direita?

    Algumas sim, outras no. Nem tudo no mundo cabe numa dessascategorias. Voc no viu a turma da direita enfezada cair de paus e pedras

    em cima de mim quando afirmei que homossexualismo no doena nem"antinatural"? ridculo tomar uma posio ideolgica primeiro e depois

    julgar tudo com base nela por mero automatismo, embora no Brasil de hojeisso seja obrigatrio.

    Em quais pontos suas ideias podem ser classificadas de direita e em

    quais no?

    No tenho a menor ideia, nem me interessa. O coeficiente de esquerdismoou direitismo est antes nos olhos do observador e varia conforme aspocas e os lugares.

    S gente muito estpida --isto , a esquerda brasileira praticamente inteira--imagina que direita e esquerda so categorias metafsicas imutveis, achave suprema para a catalogao de todos os pensamentos.

    Outros, principalmente na direita, dizem que direita e esquerda no existemmais, o que tambm uma bobagem, porque basta uma corrente seautodefinir como "de esquerda" para que todos os que se opem a ela

    passem a ser julgados como se fossem a "direita", querendo ou no. Aesquerda define-se a si mesma e define seu adversrio, por menos que este

    se encaixe objetivamente na definio.

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    Nos EUA, alinho-me nitidamente direita, porque ela existe como agentehistrico, definida e autoconsciente, mas no Brasil essas coisas so umaconfuso dos diabos na qual prefiro no me meter. O sr. Lula no foi, namesma semana, homenageado no Frum Econmico de Davos por sua

    adeso ao capitalismo e no Foro de So Paulo por sua fidelidade aocomunismo?

    A ltima moda na esquerda nacional cultuar o russo Alexandre Duguin,que o suprassumo do reacionarismo, enquanto na "direita liberal" muitosadoram abortismo e casamento gay, pontos essenciais da estratgiaesquerdista. Prefiro manter distncia da direita brasileira, seja isso l o quefor.

    No captulo sobre o golpe de 64, o senhor diz que Castelo Branco foi

    "um grande presidente", e Mdici, "o melhor administrador que j

    tivemos". Comenta ainda que est na hora de repensar o governomilitar. Qual sua opinio hoje?

    No Brasil de hoje no se pode louvar um mrito especfico e limitado semque imediatamente a plateia idiota transforme isso numa adeso completa eincondicional. Neste pas, as pessoas, mesmo com algo que chamam de"formao universitria", s sabem louvar ou condenar em bloco, perderamtotalmente o senso das comparaes, das propores e das nuances. Isso efeito de 30 anos de deseducao.

    Os mritos dos governos militares no campo econmico, administrativo edas obras pblicas so bvios e, comparativamente, bem superiores a tudoo que veio depois. Ao mesmo tempo, esses governos destruram a classe

    poltica, infantilizaram os eleitores e, por timidez caipira de entrar naguerra ideolgica ostensiva, preferiram matar comunistas no poro (emboraem doses incomparavelmente menores do que os prprios comunistasmatavam em Cuba ou no Camboja) em vez de mover uma campanha deesclarecimento popular sobre os horrores do comunismo. Tudo isso foi umamisria.

    Foi o que eu sempre disse, mas, hoje em dia, se voc reconhece umapontinha de mrito em algum, j o transformam em devoto partidrio dele.No distinguem nem mesmo entre aplaudir um governo enquanto ele estno poder e tentar avali-lo com algum senso de objetividade histricadepois de extinto, mesmo se voc, como foi o meu caso, o combateuenquanto durou. O fanatismo idiota tornou-se obrigatrio. disso que omeu livro fala.

    O sr. bastante crtico ao movimento gay. No acredita que ele foi o

    responsvel por conquistas importantes?

    No comeo, quando lutava apenas contra a discriminao e a violnciaanti-homossexual, esse movimento parecia bom e necessrio. Mas isso foi

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    s a fachada, a camuflagem do que viria depois: um projeto de dominaototal que probe crticas e no descansar enquanto no banir a religio daface da Terra ou criar em lugar dela uma pseudorreligio binica, dcil ssuas exigncias.

    O que o sr. pensa sobre o projeto da cura gay?Ningum pede ajuda a um psiclogo para livrar-se de uma condutaindesejada se capaz de control-la pessoalmente ou se no querabandon-la de maneira alguma. Quando algum vai a uma terapia com o

    propsito de livrar-se do homossexualismo, porque no o vivencia comouma tendncia natural da sua pessoa, e sim como uma compulso neurticaque o escraviza.

    bem diferente de algum que homossexual porque quer, ou de algumque deixou de ser homossexual porque quis e teve foras para isso. Proibiro tratamento de uma compulso torn-la obrigatria, fazer de umsintoma neurtico um valor protegido pelo Estado. uma ideia criada por

    psicopatas e aplaudida por histricos.

    O sr. apoiou a invaso do Iraque em 2003. Nos anos seguintes, vrios

    abusos e atrocidades dos soldados americanos foram divulgados.

    Acredita que, no saldo geral, a guerra foi positiva?

    No apoiei a invaso do Iraque. De incio fui contra. Foi s depois, quandoos americanos comearam a exumar os cadveres das vtimas de Saddam

    Hussein e viram que eram mais de 300 mil, que comecei a achar que aguerra era moralmente justificvel.

    Das tais "atrocidades americanas", a maioria pura invencionice, e asgenunas, inevitveis em qualquer guerra, nem de longe se comparam aoque Saddam Hussein fez contra o seu prprio povo em tempo de paz.

    A guerra, em si, foi positiva do ponto de vista moral, mas a tentativa deforar o Iraque a adotar uma democracia de tipo ocidental foi ridcula esuicida. A primeira Guerra do Golfo foi bem-sucedida porque se limitou smetas militares, sem sonhos "neocons" de reformar o mundo.

    E como o sr. avalia as recentes manifestaes em cidades do Brasil?

    Tudo comeou como uma tentativa de golpe, planejada pelo Foro de SoPaulo [coalizo de partidos de esquerda latino-americanos] e pelo governofederal para fazer um "upgrade" no processo revolucionrio nacional,

    passando da fase de "transio" para a da implantao do socialismo"stricto sensu".

    Isso inclua, como foi bem provado, o uso de gente treinada em guerrilhaurbana para espalhar a violncia e o medo e lanar as culpas na "direita".

    Aconteceu que os planejadores perderam o controle da coisa quando todauma massa alheia esquerda saiu s ruas, e eles decidiram voltar atrs e

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    esperar por uma chance melhor. Isso foi tudo. No h um s lder daesquerda que no saiba que foi exatamente isso.