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Erich Fromm e a Renovação da Psicanálise Nildo Viana Erich Fromm é um dos psicanalistas mais populares do mundo e, ao mesmo tempo, um dos menos considerados nos meios acadêmicos. A sua popularidade pode ser vista em suas inúmeras obras publicadas e reeditas em vários países. A imagem negativa que ele possui nos meios acadêmicos se deve, por um lado, a algumas afirmações e concepções, e, por outro, sua própria popularidade, o que provoca um preconceito acadêmico de uma elite intelectual que quer um distanciamento em relação ao “grande público”. Fromm nasceu na Alemanha e foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, que mais tarde se tornaria conhecida como Escola de Frankfurt, ao lado de Karl Korsch e vários outros pesquisadores, que depois passou a ser identificada com os nomes de Theodor Adorno,

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Erich Fromm e a Renovação da Psicanálise

Nildo Viana

   Erich Fromm é um dos psicanalistas mais populares do mundo e, ao mesmo tempo, um dos menos considerados nos meios acadêmicos. A sua popularidade pode ser vista em suas inúmeras obras publicadas e reeditas em vários países. A imagem negativa que ele possui nos meios acadêmicos se deve, por um lado, a algumas afirmações e concepções, e, por outro, sua própria popularidade, o que provoca um preconceito acadêmico de uma elite intelectual que quer um distanciamento em relação ao “grande público”.

Fromm nasceu na Alemanha e foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, que mais tarde se tornaria conhecida como Escola de Frankfurt, ao lado de Karl Korsch e vários outros pesquisadores, que depois passou a ser identificada com os nomes de Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin e Herbert Marcuse. Fromm participou da pesquisa sobre “a personalidade autoritária” que fez a previsão da ascensão do nazismo. As primeiras obras de Fromm são marcadas por um freudismo ortodoxo (Dobrenkov, 1978) e depois ele se torna um dos principais representantes do que se convencionou chamar “neofreudismo”. “revisionismo”, “freudo-marxismo”, “culturalismo”, entre outras expressões. Embora Fromm fosse colocado junto com os demais “revisionistas”, “culturalistas” e “freudo-marxistas”, ele ao mesmo tempo em que se aproximava de várias teses culturalistas de Karen Horney, Suliwan e outros, bem como do freudo-marxismo de Reich, para citar apenas alguns nomes, ele também se diferenciava e assumia uma posição distinta em vários aspectos.

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Após a ascensão do nazismo, Fromm, tal como muitos intelectuais de sua época, abandona a Alemanha e vai para os Estados Unidos. Neste país ele irá produzir suas obras mais conhecidas e importantes, se tornando um dos grandes nomes da psicanálise a nível mundial. A sua trilogia composta pelos livros A Análise do Homem; O Medo à Liberdade e Psicanálise da Sociedade Contemporânea se tornou uma das mais importantes do século 20 para a psicanálise. Sua tentativa de unir psicanálise e marxismo também foi importante e foi expresso mais explicitamente em suas obras Meu Encontro com Marx e Freud e A Crise da Psicanálise. Os seus estudos sobre variadas questões (aldeia camponesa, destrutividade humana, história da psicanálise, pensamento de Marx, pensamento de Freud, religião, amor, contos de fada, etc.) possuem um fio condutor que perpassa toda a sua obra. A base do seu pensamento é um humanismo radical que se inspira fundamentalmente nas teses de Marx e Freud.

Fromm parte da idéia de natureza humana para unir Marx e Freud e elaborar sua concepção de psicanálise. Em O Conceito Marxista do Homem, Fromm abre a discussão em torno da alienação e da natureza humana exposta nos Manuscritos de Paris, escrito por Marx, o que será desenvolvido em outras obras. A sociedade de classes produz a alienação e esta é uma negação da natureza humana.

“Deu-nos Marx uma definição da ‘essência da natureza humana’, da ‘natureza do homem em geral’? Deu, sim. Nos Manuscritos Filosóficos, Marx define o caráter específico dos seres humanos como ‘atividade livre e consciente’, em contraste com a natureza do animal, que ‘não distingue a atividade de si próprio... e é a sua atividade’. Em seus escritos posteriores, embora tenha abandonado o conceito de ‘caráter da espécie’, a ênfase continua sendo a mesma: a atividade como característica da natureza não-mutilada e não-fragmentada do homem. Em O Capital, Marx define o homem como um ‘animal social’, criticando a definição de Aristóteles do homem como ‘animal político’ como sendo ‘tão característica da antiga sociedade clássica quanto a definição de Franklin do homem como ‘animal fabricante de ferramentas’ é característica do reino ianque’. A psicologia de Marx, assim como sua filosofia, é uma teoria da atividade humana e concordo inteiramente com a opinião de que a maneira mais adequada para descrever a definição de homem de Marx é a de um ser de práxis (...) (Fromm, 1977, p. 63).

Fromm critica aqueles que deformaram o pensamento de Marx, transformando-o num economicista e empobrecendo o seu pensamento, e também critica Freud e sua concepção de homem como ser fechado e movido pelas forças da autopreservação e instintos sexuais (Fromm, 1977). As críticas de Fromm a Freud (1977; 1980) abrem espaço para ele partir da concepção de natureza humana em Marx e assim apresentar uma renovação da psicanálise num sentido freudo-marxista, indo além de várias outras tentativas neste sentido, tais como a de Osborn (1966), Reich (1973), entre outros. Ele se afasta da concepção biologista de natureza humana expressa por Freud e retoma a concepção de Marx (De La Fuente, 1989), entendendo a produtividade – termo que se presta a equívocos, como veremos adiante – como característica fundamental da natureza humana (Fromm, 1978).

Sem dúvida, é a partir desta concepção de natureza humana que emerge o seu humanismo e que vai estar presente na sua concepção de ética, de psicanálise, de marxismo e de socialismo. É também a base da renovação da psicanálise empreendida

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por Fromm. É por isso que Fromm irá revalorar a cultura e as relações sociais para explicar o ser humano e seu psiquismo. O modelo biologista de Freud é criticado, incluindo sua concepção da existência de um “instinto de morte” (Fromm, 1975). Fromm explica o ser humano como potencialmente bom, e somente em condições adversas pode desenvolver uma potencialidade secundária, tornando-se mau (Fromm, 1965).

Uma de suas teses mais interessantes é a do caráter social. Fromm encontra alguns tipos de caráter social que podem ser divididos naqueles que possuem orientação produtiva e naqueles que possuem orientação improdutiva. As orientações improdutivas são a receptiva, a exploradora, a acumulativa e a mercantil e as produtivas são reduzidas a uma só, que é a do ser humano que manifesta a essência humana, que realiza a produtividade (Fromm, 1978). Ao contrário de Freud, cuja base fundamental do caráter estaria nos vários tipos de organização da libido, Fromm pensa o caráter social a partir da relação da pessoa com o mundo que, no curso de sua vida, ocorre através do processo de adquirir e assimilar coisas e na relação com as demais pessoas e consigo mesmo, o que significa que é social. A função do caráter social é moldar os indivíduos no sentido de agir na direção exigida pela sociedade. O caráter social produz o desejo de agir no sentido que a sociedade exige e produz no indivíduo a satisfação ao agir de acordo com as exigências da cultura e assim realiza uma mediação entre o modo de produção e as idéias dominantes em uma determinada sociedade (Fromm, 1979).

As orientações de caráter improdutivas são as seguintes: a) receptiva, a pessoa pensa que tudo que é bom está fora dela e espera receber tudo de uma fonte exterior, sendo que o fundamental nesta orientação é ser amado e não amar; b) exploradora, a pessoa também pensa que o bem está no exterior, mas busca tomá-lo por meio da astúcia ou da força; c) acumulativa, as pessoas com esta orientação, ao contrário das anteriores, não tem fé no mundo exterior e sua meta é acumular e poupar, sendo que gastar é visto como uma ameaça; d) a orientação mercantil passa a predominar na sociedade moderna e está intimamente ligada com a expansão mercantil e o capitalismo, sendo produto da mercantilização das relações sociais e domina o indivíduo na sociedade capitalista, que “se sente ao mesmo tempo como o vendedor e a mercadoria a ser vendida no mercado”; “sua auto-estima depende de condições que escapam ao seu controle. Se ele tiver sucesso, será ‘valioso’; se não, imprestável, o que gera a luta constante pelo sucesso”. A orientação mercantil é a predominante na sociedade moderna e é o que gera a opção pelo ter ao invés do ser (Fromm, 1987; Fromm, 1992). Estas orientações de caráter podem se mesclar num indivíduo concreto e o tipo de caráter predominante nos indivíduos é um produto social.

A orientação de caráter produtivo aponta para um ser humano que se relaciona de forma produtiva com o mundo e com as pessoas, desenvolvendo o amor e o pensamento produtivos, que se manifestam na ética humanista. O amor produtivo não é possessivo e nem se reduz ao amor sexual. O amor produtivo tem sua base na produtividade e é o amor autêntico, que tem como exemplo máximo o amor materno e é marcado pelo desvelo, responsabilidade, respeito e conhecimento (Fromm, 1978). É por isso que o amor produtivo é desintegrado na sociedade capitalista contemporânea (Fromm, 1990).

O pensamento produtivo não é aquele que espera tudo do exterior – solicitando e esperando recebê-lo dos outros, como na orientação receptiva, ou tomando e plagiando como no caso da orientação exploradora. Também não é uma fortaleza que se isola e se

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poupa como na orientação acumulativa ou, ainda, um mero valor de troca utilizado para conquistar o sucesso e por isso segue as modas, tal como na orientação mercantil. O pensamento produtivo é aquele que possui interesse e reage ao seu “objeto”, e, ao mesmo tempo, o respeita, buscando compreendê-lo, a vê-lo como realmente é, tendo também uma visão total e não fragmentária dele. Fromm opõe consciência humanista e consciência autoritária:

“A consciência humanista é a expressão do interesse próprio e integridade, ao passo que a consciência autoritária preocupa-se com a obediência, abnegação e dever do homem ou com seu ‘ajustamento social’. A meta da consciência humanista são a produtividade e, portanto, a felicidade, posto que esta é o concomitante necessário da vida produtiva. Prejudicar a si mesmo tornando-se um instrumento de outros, não importando quão dignos esses aparentem ser, ser ‘desprendido’, infeliz, resignado, desencorajado, opõe-se aos reclamos da consciência da pessoa; qualquer violação da integridade e o funcionamento adequado de nossa personalidade – tanto no que se refere ao pensamento quanto a ação e mesmo a assuntos como preferência de alimentos ou comportamento sexual – são uma intervenção contra a consciência da pessoa” (Fromm, 1978, p. 140).

Estas são as bases da ética humanista e da psicanálise de Erich Fromm. Sua discussão sobre orientação de caráter será fundamental para sua “psicologia do nazismo”, na qual Fromm busca explicar a emergência da barbárie nazista. Ele explica tal emergência a partir das condições sociais da Alemanha e do processo de crise que atingiu sobremaneira a classe média, que perdeu status com a ascensão da classe operária e a tentativa de revolução proletária, e teve prejuízos financeiros com a crise alemã e ainda teve a família – “o último baluarte da segurança da classe média” – sido solapada que a redução da autoridade do pai e o declínio da moralidade desta classe. Estes acontecimentos proporcionaram um uma grande “montante de frustração social”, que acabou se convertendo em uma fonte importante do nazismo. O sentimento de impotência, angústia e isolamento e a destrutividade que lhe acompanha ao lado do ressentimento dos camponeses diante de seus credores urbanos constituem a base humana que não foi a causa do nazismo, mas sem a qual ele não poderia ter sido criado e se tornado vitorioso. Fromm retoma um dos princípios metodológicos fundamentais do marxismo ao reivindicar a necessidade de uma análise da totalidade das relações sociais, incluindo não apenas as condições econômicas e políticas, mas também as psicológicas. Fromm lembra que o papel das classes proprietárias (junkers semifalidos e a classe capitalista) é fundamental e sem o apoio destas o nazismo jamais teria sido vitorioso, mas o seu foco é as condições psicológicas e não as condições econômicas e políticas, tal como o financiamento do nazismo pelas grandes empresas capitalistas.

“Vimos, pois, que certas mudanças socioeconômicas, sobretudo a decadência da classe média e o poder crescente do capital monopolista, tiveram profundo efeito psicológico. Estes efeitos foram acentuados ou sistematizados por uma ideologia política – tal como o haviam sido por ideologias religiosas no século XVI, – e as forças psíquicas assim despertadas passaram a agir em sentido oposto aos dos interesses econômicos originais daquela classe. O nazismo ressuscitou psicologicamente a classe média inferior, ao mesmo tempo que participava da demolição de sua antiga posição socioeconômica. Ele mobilizou suas energias emocionais para convertê-las em uma força importante na luta pelas metas econômicas e políticas do imperialismo alemão” (Fromm, 1981, p. 176).

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Fromm acrescenta outros elementos, tal como a estrutura da personalidade de Hitler e o sadismo e masoquismo que formam os impulsos básicos a serviço do nazismo, sendo que o sadismo foi amplamente utilizado pelos líderes, mas também por amplas camadas da população contra judeus e comunistas, entre outros grupos sociais perseguidos. O masoquismo é o seu complemento e atinge as massas, fundamentalmente, convertidas ao caso de defender um “governo forte”. A orientação de caráter autoritária é predominante e aliada com a orientação de caráter receptiva, que se complementam.

A psicanálise humanista de Fromm vai além da tipologia do caráter e suas influências na sociedade e no processo histórico, pois ele irá questionar as próprias bases da sociedade moderna, anti-humanista e mercantil. Fromm faz em uma de suas principais obras, Psicanálise da Sociedade Contemporânea, uma extensa análise do homem no capitalismo, discutindo novamente a questão do caráter social e os processos sociais gerados pelo capitalismo que terá grande influencia sobre ele, tal como a quantificação/abstratificação, a alienação, a burocratização e mercantilização. Fromm coloca estes processos sociais mostrando que até mesmo as organizações surgidas das lutas dos trabalhadores, como partidos e sindicatos, se tornam organizações burocráticas. Sua crítica da democracia moderna surge neste contexto:

“Na realidade, o funcionamento da máquina política em um país democrático não difere essencialmente do procedimento que se segue no mercado de mercadorias. Os partidos políticos não são muito diferentes das grandes empresas comerciais, e os políticos profissionais se esforçam por vender seus artigos ao público. Seu método se assemelha cada vez mais ao da publicidade a alta pressão” (Fromm, 1976, p. 185).

É neste contexto que Fromm irá abordar os efeitos destas relações sociais sobre a saúde mental. Assim, ele abre espaço para questionar a idéia de normalidade. A normalidade é uma idéia que o indivíduo deve se submeter ao que é considerado norma em determinada cultura. A questão que Fromm coloca é que a qualificação de anormalidade está na dependência de uma concepção de normalidade que é a adaptação do indivíduo a determinadas relações sociais, mas que é preciso saber se tais relações são saudáveis. Se tais relações sociais não são saudáveis, então a adaptação a elas não significa que o indivíduo seja saudável mentalmente, mas, ao contrário, significa que ele compartilha com a maioria uma mesma “doença psíquica”. Nesse tipo de sociedade, o indivíduo considerado socialmente anormal é mais saudável mentalmente (“normal”, num sentido mais amplo) do que outros. Segundo Fromm:

“O que é muito enganoso no tocante ao estado mental dos indivíduos de uma sociedade é a ‘validação consensual’ de seus conceitos. Supõe-se, ingenuamente, que o fato de a maioria das criaturas compartilhar certas idéias e sentimentos prove a validez dessas idéias e sentimentos. Nada está mais afastado da verdade. A validação consensual não tem, como tal, qualquer impacto sobre a razão ou saúde mental. Assim como existe uma ‘folie à deux’, existe uma ‘folie à millions’. O fato de milhões de criaturas compartilharem os mesmos vícios não os transforma em virtudes, o fato de elas praticarem os mesmos erros não os transforma em verdades e o fato de milhões de criaturas compartilharem a mesma forma de patologia mental não torna essas criaturas mentalmente sadias” (Fromm, 1976, p. 28),

Após sua crítica da sociedade contemporânea, Fromm apresenta sua proposta de um socialismo humanista, no qual o ser humano poderia realizar sua natureza humana.

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Após criticar o “socialismo real” – que ele denominou “capitalismo de Estado” em sua obra Conceito Marxista do Homem e posteriormente como socialismo em Psicanálise da Sociedade Contemporânea – ele propõe o “socialismo comunitário humanista”, como modelo alternativo de socialismo, bem distinto do modelo soviético, cujo foco seria as relações sociais e não a questão da propriedade e no qual o trabalho empregaria o capital e não o contrário (Fromm, 1976; 1984b).

Este breve resumo das idéias básicas de Fromm é muito incompleto e incipiente. Seria necessário acrescentar suas incursões sobre “linguagem simbólica”, os sonhos (Fromm, 1983), sobre o inconsciente social (Fromm, 1984a; Viana, 2002), a tecnologia (Fromm, 1984c), a religião (Fromm, 1966 e outras obras), a destrutividade (Fromm, 1975), entre várias outras. Também não é possível expor os debates e críticas que foram endereçadas a Fromm, especialmente a de Marcuse, Lucien Sève, Dobrenkov. Porém, uma avaliação geral da obra de Fromm é fundamental, mesmo que breve e incompleta.

Um dos principais méritos de Fromm foi a sua crítica da sociedade capitalista e ao processo de desumanização que ela provoca. A sua percepção da burocratização e da mercantilização, que já havia sido feita por outros antes dele, mas que ele forneceu uma análise psicanalítica, é outro mérito de sua obra. A valoração das idéias e do psiquismo para explicar os fenômenos sociais, tal como o caso do nazismo, também merece ser ressaltado, entre outros.

Porém, sua obra também tem pontos problemáticos, pois ao superar o biologismo de Freud, Fromm acaba caindo no culturalismo e retira do conceito de inconsciente (e do termo derivado inconsciente social) a base biológica e acaba ofuscando a radicalidade do conceito. Ao incluir o psiquismo na análise das relações sociais e dar um passo no sentido de uma percepção mais ampla da realidade, concebida como totalidade, acaba se limitando ao excluir da análise os aspectos vitais, “biológicos”, e sua concepção culturalista se torna problemática devido a isto. Outro limite se encontra em seu humanismo abstrato, pois parte de uma concepção correta de natureza humana, mas que não chega a perceber a questão fundamental das classes sociais e das lutas de classes e por isso sua ética humanista também se revela limitada, tal como sua proposta de mudança social. Fromm atribui ao indivíduo uma tarefa hercúlea e muitas vezes cai ingenuamente em receitas de solução individual numa sociedade repressiva. Isso lhe valerá a crítica correta de Marcuse, que o compara com as receitas do “poder do pensamento positivo” (Marcuse, 1986) e certamente este é um dos motivos da popularidade de Fromm e de seu sucesso no mercado editorial. No entanto, se neste aspecto a crítica de Marcuse foi correta, nos demais é permeada por equívocos, inclusive em torno da palavra produtividade, que ele interpreta no sentido oferecido pela ciência econômica e não no sentido amplo oferecido por Fromm (Viana, 2008).

Parte dos equívocos de Fromm é de origem metodológica, já que lhe falta um maior domínio do método dialético e do materialismo histórico. Sua interpretação de Marx também se revela problemática em alguns aspectos, tal como no que se refere ao conceito de alienação e concepção de socialismo, por se basear apenas nas obras mais conhecidas de Marx. A sua defesa da totalidade é limitada devido ao problema que ele mesmo identificou várias vezes: a especialização. Por ser psicanalista, embora erudito e que adentrava sobre questões culturais, sociais, políticas e econômicas, o fazia de forma bastante restrita nos dois últimos domínios. Sua análise política e econômica era marcada por equívocos devido a pouca profundidade que ela manifestava. As soluções

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apresentadas por Fromm, tal como o seu “socialismo comunitário”, que não conseguiu ir além das relações de produção capitalistas, apenas mudando a relação entre trabalho e capital ao invés de aboli-la, mostra novamente sua limitação metodológica e na compreensão das relações sociais e de produção. Sua concepção de socialismo se revela um capitalismo reformado, democrático e redistributivo, muito distante da proposta de Marx do “autogoverno dos produtores”, da autogestão social.

Porém, não é possível desconsiderar as contribuições de Fromm e que ele, mesmo com seus equívocos, é uma referência fundamental para analisar a sociedade contemporânea e um dos grandes intelectuais do século 20. Ele também foi um dos principais responsáveis pela renovação da psicanálise, promovendo a percepção da necessidade de incluir as relações sociais e a cultura na busca de compreensão dos fenômenos psíquicos, o que era uma necessidade teórica e, apesar de seus exageros neste sentido, foi um antídoto para os exageros que iam no sentido contrário e abriu novas perspectivas para a psicanálise.

Referências

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FROMM, Erich. Anatomia da Destrutividade Humana. Rio de Janeiro, Zahar, 1975.

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FROMM, Erich. O Coração do Homem. Rio de Janeiro, Zahar, 1965.

FROMM, Erich. O Medo à Liberdade. 13ª edição, Rio de Janeiro, Zahar, 1981.

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FROMM, Erich. Psicanálise da Sociedade Contemporânea. 8ª edição, Rio de Janeiro, Zahar, 1976.

FROMM, Erich. Psicanálise e Religião. Rio de Janeiro, Livro Ibero-Americano, 1966.

FROMM, Erich. Ter ou Ser? 4ª edição, Rio de Janeiro, Guanabara, 1987.

MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização. Uma Interpretação Filosófica do Pensamento de Freud. 8a Edição, Rio de Janeiro, Guanabara, 1986.

OSBORN, Reuben. Psicanálise e Marxismo. Rio de Janeiro, Zahar, 1966.

REICH, Wilhelm. Materialismo Dialético e Psicanálise. Lisboa, Presença, 1973.

VIANA, Nildo. Inconsciente Coletivo e Materialismo Histórico. Goiânia, Edições Germinal, 2002.

VIANA, Nildo. Universo Psíquico e Reprodução do Capital. Ensaios Freudo-Marxistas. São Paulo, Escuta, 2008.

__________________________Artigo publicado originalmente em:VIANA, Nildo. Erich Fromm e a Renovação da Psicanálise. Revista Espaço Livre, Vol. 4, num. 08, jul-dez./2009.

rich Fromm  formou-se em Psicologia e Sociologia na Universidade de Heidelberg, onde também se doutorou, completando sua formação na Universidade de Munique – Doutorado em Filosofia – e no Instituto Psicanalítico de Berlim, se especializando em Psicanálise. Nascido em Frankfurt, em 1900, emigrou para os Estados Unidos quando Hitler subiu ao poder, instituindo o Nazismo.

Na América, Fromm desenvolveu amplamente sua carreira, sempre provocando polêmicas com sua linha de pensamento e sua terapêutica, que unia a Psicanálise com a teoria marxista, integrando fatores sócio-econômicos aos tradicionais mecanismos de tratamento das neuroses. Segundo o psicanalista, o homem é o produto de princípios culturais e biológicos. Assim, ele desafia os preceitos freudianos, que destacam somente a esfera do inconsciente.

Além de clinicar, ele também atuava como professor universitário nos EUA e no México. Suas obras abordam continuamente as questões ligadas à violência, aos regimes totalitários, à alienação social, ao humanismo. Seu ponto de vista humanista cativou profissionais do campo da Sociologia, da Filosofia e da Teologia.

Erich Fromm sempre se insurgiu contra o mecanicismo que impregna as relações sociais e econômicas do mundo contemporâneo, regido por um capitalismo desumano e cruel. Influenciado profundamente pela obra de Karl Marx, ele faz uma analogia entre os conceitos marxistas e os freudianos, tentando estabelecer entre ambos uma relação dialética, à procura de uma síntese destas idéias. Ele privilegia, porém, a teoria de Marx, valendo-se de Freud apenas para completar alguns pontos não explicados pelo

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marxismo. Este pensador gera, assim, uma espécie de humanismo espiritual, social e também dialético.

Segundo Erich Fromm, o indivíduo cultivou interiormente sentimentos de desamparo e solidão, pois perdeu o contato com sua dimensão mais humana, deixou de ampliar suas virtudes, e assim tornou-se incapaz de interagir com os mesmos aspectos essenciais das outras pessoas. É a este processo que ele chama de alienação social, oculta por trás das personas de cada um, mas mesmo assim capaz de exercer um impacto sinistro sobre a Humanidade.

Ao mesmo tempo em que o homem avança materialmente, ele se aparta cada vez mais dos outros seres, é o que Erich Fromm expõe em sua obra Medo da Liberdade. Desta forma, a liberdade tão almejada torna-se uma armadilha assustadora da qual ele tenta fugir através da conquista de recursos financeiros e da guerra pelo poder, por meio de uma passividade absoluta diante do autoritarismo, ou ainda pelas vias do conformismo social. Assim, o homem pode fingir que possui alguma coisa, ou que é propriedade de alguém, pois desta maneira sente que não está sozinho. O psicanalista acredita que a aceitação do outro e de seu tesouro interior, a prática da solidariedade e do trabalho em conjunto, o exercício da fraternidade e a instituição do conforto social podem oferecer à Humanidade uma saída viável para esta trágica situação criada pelo próprio Homem.Erich Fromm morre em Muralto, na Suíça, a 18 de março de 1980.

Erich FrommErich Fromm (23 de março de 1900 - 18 de março de 1980), psicanalista estadunidense.

Encontrados 17 pensamentos de Erich Fromm

A maior parte das pessoas vê no problema do amor, em primeiro lugar, o problema de ser amado, e não o problema da própria capacidade de amar.

Erich Fromm

O perigo do passado era que os homens se tornassem escravos. O perigo do futuro é que os homens se tornem autómatos.

Erich Fromm

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A ânsia de poder não é originada da força, mas da fraqueza.

Erich Fromm

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A principal tarefa na vida de um homem é a de dar nascimento a si próprio.

Erich Fromm

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A principal missão do homem, na vida, é dar luz a si mesmo e tornar-se aquilo que ele é potencialmente.

Erich Fromm

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A ânsia pelo poder não se origina da força, e sim da fraqueza.

Erich Fromm

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Ter esperanças é uma condição essencial de ser humano.

Erich Fromm

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A principal tarefa do ser humano nesta vida é dar a luz a si mesmo.

Erich Fromm

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Somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade:solidão, ansiedade, depressão, destruição, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar.

Erich Fromm

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Saber significa ver a realidade em sua nudez.

Erich Fromm

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Valioso e bom é tudo aquilo que contribui para o maior desdobramento das faculadades específicas do homem e que favorece a vida.Negativo ou mau é tudo que estrangula a vida e paralisa a atividade do homem (...)Vencer sua propia cobiça,amar seu próximo,o conhecimento da verdade(diferente do conhecimento não crítico dos fatos)São as metas comuns a todos os sistemas humanistas filosóficos.

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Na medida em que aumentam seus poderes, o homem se torna cada vez mais pobre.

Erich Fromm

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O amor é uma atividade, não um afeto passivo; é um ato de firmeza, não de fraqueza... é propriamente dar, e não receber.

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O amor imaturo diz: eu te amo porque preciso de ti.O amor maturo diz: eu preciso de ti porque te amo

Erich Fromm

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O amor é a última e real necessidade do ser humano.

Erich Fromm

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"Você tem que parar para mudar de direção."

Erich Fromm

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O passo mais importante para chegar a concentrar-se é aprender a estar sozinho consigo mesmo.

Erich Fromm

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ábado, 21 de março de 2009

ERICH FROMM E A ARTE DE AMAR

por Thintosecco

Psicanalista alemão radicado nos Estados Unidos em 1938, Erich Fromm buscou expandir o campo de estudo da psicologia, aproximando-a da sociologia. Nesse esforço,

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tentou conciliar as doutrinas aparentemente muito distintas de Sigmund Freud e Karl Marx.

Fromm não apenas desenvolveu um maior entendimento acerca dos processos que influenciam o indivíduo a partir de seu meio social, como utilizou conhecimentos da psicologia para explicar os fenômenos sociais. Chegou à conclusão que os processos neuróticos não são exclusivos dos indivíduos, mas acometem os grupos e até mesmo a sociedade como um todo.

Dedicou um de seus livros especialmente a este tema: Psicanálise da Sociedade Contemporânea, que é uma de suas obras principais, ao lado de Análise do Homem e O Medo à Liberdade.

A propósito de O Medo à Liberdade - e não "O Medo E A Liberdade" como consta erroneamente em vários sites na

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rede, passando uma idéia equivocada de seu conteúdo - trata-se da obra escrita em 1941 e que o tornou famoso, na qual analisa os mecanismos patológicos da mente humana capazes de manifestarem-se em grupos sociais gerando o autoritarismo e até mesmo o totalitarismo. Nesse livro, portanto, Fromm tentou entender e explicar como seu país natal abraçou a loucura do regime nazista, do qual ele mesmo fugira em 38.

A principal missão do homem, na vida, é dar luz a si mesmo e tornar-se aquilo que ele é

potencialmente. (em Análise do Homem)

Se o trabalho de Erich Fromm tivesse ficado por aí, já seria muito. Mas ele fez mais. Seu trabalho não foi dirigido apenas ao mundo acadêmico, mas procurou em seus livros utilizar uma linguagem mais acessível ao público leigo.

Escreveu também livros pequenos e simples (embora

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também importantes) e de fácil acesso, entre os quais destacam-se Ter ou Ser? e A Arte de Amar, sendo que especialmente este último tornou-se bastante popular entre os anos 60 e 80. Saiba então, se você encontrar esta obra na estante da casa de alguém, que não se trata de mais um livro de auto-ajuda entre tantos (embora seja também isso), mas que é um trabalho sério, apesar da exposição simples. E por todos esses motivos, muito recomendada.

A maior parte das pessoas vê no problema do amor, em primeiro lugar, o problema de ser amado, e não o problema da própria capacidade de amar. (em A Arte de Amar)

Fromm é considerado um pensador utópico, já que criticava a sociedade capitalista em que vivia - sobretudo com referência à questão do consumismo, especialmente abordado em Ter ou Ser? - e nutria ideais de mudança. Em resposta a esse crítica argumentava que a atitude sadia de um indivíduo, ao constatar que algo não está bem em si ou no seu meio, é de tentar mudar o status quo. A atitude contrária seria um sintoma de neurose.

A história da humanidade é a história da busca da individuação e da aspiração de liberdade. A busca da liberdade não é um processo metafísico, é a resultante necessária do processo de individuação e da expansão da cultura. Os sistemas autoritários não podem extinguir as condições que dão lugar à individuação, nem exterminar a busca da liberdade que surge nestas condições. (extraído de O Medo à Liberdade)

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Conheci o Fromm de uma maneira muito simples. O livro Análise do Homem sempre esteve na estante da minha mãe, desde que me lembro, bem ao lado de O Profeta, do Gibran Kalil Gibran. Pelo menos até o dia em que eu tive curiosidade de lê-lo.

Mais tarde, na minha fase mais rebelde, me interessei em ler Psicanálise da Sociedade Contemporânea. Nerd tem cada uma, não é mesmo?

em dúvida, é a partir desta concepção de natureza humana que emerge o seu humanismo e que vai estar presente na sua concepção de ética, de psicanálise, de marxismo e de socialismo. É também a base da renovação da psicanálise empreendida por Fromm. É por isso que Fromm irá revalorar a cultura e as relações sociais para explicar o ser humano e seu psiquismo. O modelo biologista de Freud é criticado, incluindo sua concepção da existência de um "instinto de morte" (Fromm, 1975). Fromm explica o ser humano como potencialmente bom, e somente em condições adversas pode desenvolver uma potencialidade secundária, tornando-se mau (Fromm, 1965).

Uma de suas teses mais interessantes é a do caráter social. Fromm encontra alguns tipos de caráter social que podem ser divididos entre aqueles que possuem orientação produtiva e aqueles que possuem orientação improdutiva. As orientações improdutivas são a receptiva, a exploradora, a acumulativa e a mercantil e as produtivas são reduzidas a uma só, que é a do ser humano que manifesta a essência humana, que realiza a produtividade (Fromm, 1978). Ao contrário de Freud, cuja base fundamental do caráter estaria nos vários tipos de organização da libido, Fromm pensa o caráter social a partir da relação da pessoa com o mundo que, no curso de sua vida, ocorre por meio do processo de adquirir e assimilar coisas e na relação com as demais pessoas e consigo mesmo, o que significa que é social. A função do caráter social é moldar os indivíduos no sentido de agir na direção exigida pela sociedade. O caráter social produz o desejo de agir no sentido de que a sociedade exige e produz no indivíduo a satisfação ao agir de acordo com as exigências da cultura e assim realiza uma mediação entre o modo de produção e as idéias dominantes em uma determinada sociedade (Fromm, 1979).

As orientações de caráter improdutivas são as seguintes: a) receptiva: a pessoa pensa que tudo que é bom está fora dela e espera receber tudo de uma fonte exterior, sendo que o fundamental nesta orientação é ser amado e não amar; b) exploradora: a pessoa também pensa que o bem está no exterior, mas busca tomá-lo por meio da astúcia ou da força; c) acumulativa: as pessoas com esta orientação, ao contrário das anteriores, não têm fé no mundo exterior e sua meta é acumular e poupar, sendo que gastar é visto como uma ameaça; d) a orientação mercantil passa a predominar na sociedade moderna e está intimamente ligada à expansão mercantil e o capitalismo, sendo produto da mercantilização das relações sociais e dominando o indivíduo na sociedade capitalista, que "se sente ao mesmo tempo como o vendedor e a mercadoria a ser vendida no mercado"; "sua auto-estima depende de condições que escapam ao seu controle. Se ele

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tiver sucesso, será "valioso"; se não, imprestável, o que gera a luta constante pelo sucesso". A orientação mercantil é a predominante na sociedade moderna e é o que gera a opção pelo ter ao invés do ser (Fromm, 1987; Fromm, 1992). Estas orientações de caráter podem se mesclar num indivíduo concreto e o tipo de caráter predominante nos indivíduos é um produto social.

A orientação de caráter produtivo aponta para um ser humano que se relaciona de forma produtiva com o mundo e com as pessoas, desenvolvendo o amor e o pensamento produtivos, que se manifestam na ética humanista. O amor produtivo não é possessivo e nem se reduz ao amor sexual. O amor produtivo tem sua base na produtividade e é o amor autêntico, que tem como exemplo máximo o amor materno e é marcado pelo desvelo, responsabilidade, respeito e conhecimento (Fromm, 1978). É por isso que o amor produtivo é desintegrado na sociedade capitalista contemporânea (Fromm, 1990).

Amor materno: exemplo máximo do amor produtivo.

O pensamento produtivo não é aquele que espera tudo do exterior – solicitando e esperando recebê-lo dos outros, como na orientação receptiva, ou tomando e plagiando como no caso da orientação exploradora. Também não é uma fortaleza que se isola e se poupa como na orientação acumulativa ou, ainda, um mero valor de troca utilizado para conquistar o sucesso e por isso segue as modas, tal como na orientação mercantil. O pensamento produtivo é aquele que possui interesse e reage ao seu "objeto", e, ao mesmo tempo, o respeita, buscando compreendê-lo, a vê-lo como realmente é, tendo também uma visão total e não fragmentária dele. Fromm opõe consciência humanista e consciência autoritária:

"A consciência humanista é a expressão do interesse próprio e integridade, ao passo que a consciência autoritária preocupa-se com a obediência, abnegação e dever do homem ou com seu "ajustamento social". A meta da consciência humanista são a produtividade e, portanto, a felicidade, posto que esta é o concomitante necessário da vida produtiva. Prejudicar a si mesmo tornando-se um instrumento de outros, não importando quão dignos esses aparentem ser, ser "desprendido", infeliz, resignado, desencorajado, opõe-se aos reclamos da consciência da pessoa; qualquer violação da integridade e o funcionamento adequado de nossa personalidade – tanto no que se refere ao pensamento quanto a ação e mesmo a assuntos como preferência de alimentos ou comportamento sexual – são uma intervenção contra a consciência da pessoa" (Fromm, 1978, p. 140).

Estas são as bases da ética humanista e da psicanálise de Erich Fromm. Sua discussão sobre orientação de caráter será fundamental para sua "psicologia do nazismo", na qual Fromm busca explicar a emergência da barbárie nazista. Ele explica tal emergência a

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partir das condições sociais da Alemanha e do processo de crise que atingiu sobremaneira a classe média, que perdeu status com a ascensão da classe operária e a tentativa de revolução proletária, e teve prejuízos financeiros com a crise alemã e ainda teve a família – "o último baluarte da segurança da classe média" – sido solapada com a redução da autoridade do pai e o declínio da moralidade desta classe. Estes acontecimentos proporcionaram um grande "montante de frustração social", que acabou se convertendo em uma fonte importante do nazismo. O sentimento de impotência, angústia e isolamento e a destrutividade que o acompanha ao lado do ressentimento dos camponeses diante de seus credores urbanos constituem a base humana que não foi a causa do nazismo, mas sem a qual ele não poderia ter sido criado e se tornado vitorioso. Fromm retoma um dos princípios metodológicos fundamentais do marxismo ao reivindicar a necessidade de uma análise da totalidade das relações sociais, incluindo não apenas as condições econômicas e políticas, mas também as psicológicas. Fromm lembra que o papel das classes proprietárias (junkers semifalidos e a classe capitalista) é fundamental e sem o apoio destas o nazismo jamais teria sido vitorioso, mas o seu foco é as condições psicológicas e não as condições econômicas e políticas, tal como o financiamento do nazismo pelas grandes empresas capitalistas.

Holocausto: exemplo da destrutividade humana.

"Vimos, pois, que certas mudanças socioeconômicas, sobretudo a decadência da classe média e o poder crescente do capital monopolista, tiveram profundo efeito psicológico. Estes efeitos foram acentuados ou sistematizados por uma ideologia política – tal como o haviam sido por ideologias religiosas no século XVI, – e as forças psíquicas assim despertadas passaram a agir em sentido oposto aos dos interesses econômicos originais daquela classe. O nazismo ressuscitou psicologicamente a classe média inferior, ao mesmo tempo que participava da demolição de sua antiga posição socioeconômica. Ele mobilizou suas energias emocionais para convertê-las em uma força importante na luta pelas metas econômicas e políticas do imperialismo alemão" (Fromm, 1981, p. 176).

Fromm acrescenta outros elementos, tal como a estrutura da personalidade de Hitler e o sadismo e masoquismo que formam os impulsos básicos a serviço do nazismo, sendo que o sadismo foi amplamente utilizado pelos líderes, mas também por amplas camadas da população contra judeus e comunistas, entre outros grupos sociais perseguidos. O masoquismo é o seu complemento e atinge as massas, fundamentalmente, convertidas ao caso de defender um "governo forte". A orientação de caráter autoritária é predominante e aliada com a orientação de caráter receptiva, que se complementam.

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A psicanálise humanista de Fromm vai além da tipologia do caráter e suas influências na sociedade e no processo histórico, pois ele irá questionar as próprias bases da sociedade moderna, anti-humanista e mercantil. Fromm faz em uma de suas principais obras, Psicanálise da Sociedade Contemporânea, uma extensa análise do homem no capitalismo, discutindo novamente a questão do caráter social e os processos sociais gerados pelo capitalismo que terá grande influencia sobre ele, tal como a quantificação/abstratificação, a alienação, a burocratização e mercantilização.

Capitalismo igual alienação, burocratização e mercantilização.

Fromm coloca estes processos sociais mostrando que até mesmo as organizações surgidas das lutas dos trabalhadores, como partidos e sindicatos, se tornam organizações burocráticas. Sua crítica da democracia moderna surge neste contexto:

"Na realidade, o funcionamento da máquina política em um país democrático não difere essencialmente do procedimento que se segue no mercado de mercadorias. Os partidos políticos não são muito diferentes das grandes empresas comerciais, e os políticos profissionais se esforçam por vender seus artigos ao público. Seu método se assemelha cada vez mais ao da publicidade a alta pressão" (Fromm, 1976, p. 185).

É neste contexto que Fromm irá abordar os efeitos destas relações sociais sobre a saúde mental. Assim, ele abre espaço para questionar a idéia de normalidade. A normalidade é uma idéia que o indivíduo deve se submeter ao que é considerado norma em determinada cultura. A questão que Fromm coloca é que a qualificação de anormalidade está na dependência de uma concepção de normalidade que é a adaptação do indivíduo a determinadas relações sociais, mas que é preciso saber se tais relações são saudáveis. Se tais relações sociais não são saudáveis, então a adaptação a elas não significa que o indivíduo seja saudável mentalmente, mas, ao contrário, significa que ele compartilha com a maioria uma mesma "doença psíquica". Nesse tipo de sociedade, o indivíduo considerado socialmente anormal é mais saudável mentalmente ("normal", num sentido mais amplo) do que outros. Segundo Fromm:

"O que é muito enganoso no tocante ao estado mental dos indivíduos de uma sociedade é a "validação consensual" de seus conceitos. Supõe-se, ingenuamente, que o fato de a maioria das criaturas compartilhar certas idéias e sentimentos prove a validez dessas idéias e sentimentos. Nada está mais afastado da verdade. A validação consensual não tem, como tal, qualquer impacto sobre a razão ou saúde mental. Assim como existe uma "folie à deux", existe uma "folie à millions". O fato de milhões de criaturas compartilharem os mesmos vícios não os transforma em virtudes, o fato de elas praticarem os mesmos erros não os transforma em verdades e o fato de milhões de

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criaturas compartilharem a mesma forma de patologia mental não torna essas criaturas mentalmente sadias" (Fromm, 1976, p. 28).

Após sua crítica da sociedade contemporânea, Fromm apresenta sua proposta de um socialismo humanista, no qual o ser humano poderia realizar sua natureza humana. Após criticar o "socialismo real" – que ele denominou "capitalismo de Estado" em sua obra Conceito Marxista do Homem e posteriormente como socialismo em Psicanálise da Sociedade Contemporânea – ele propõe o "socialismo comunitário humanista", como modelo alternativo de socialismo, bem distinto do modelo soviético, cujo foco seria as relações sociais e não a questão da propriedade e no qual o trabalho empregaria o capital e não o contrário (Fromm, 1976; 1984b).

Este breve resumo das idéias básicas de Fromm é muito incompleto e incipiente. Seria necessário acrescentar suas incursões sobre "linguagem simbólica", os sonhos (Fromm, 1983), sobre o inconsciente social (Fromm, 1984a; Viana, 2002), a tecnologia (Fromm, 1984c), a religião (Fromm, 1966 e outras obras), a destrutividade (Fromm, 1975), entre várias outras. Também não é possível expor os debates e críticas que foram endereçadas a Fromm, especialmente a de Marcuse, Lucien Sève, Dobrenkov. Porém, uma avaliação geral da obra de Fromm é fundamental, mesmo que breve e incompleta.

Um dos principais méritos de Fromm foi a sua crítica da sociedade capitalista e ao processo de desumanização que ela provoca. A sua percepção da burocratização e da mercantilização, que já havia sido feita por outros antes dele, mas que ele forneceu uma análise psicanalítica, é outro mérito de sua obra. A valoração das idéias e do psiquismo para explicar os fenômenos sociais, tal como o caso do nazismo, também merece ser ressaltado, entre outros.

Porém, sua obra também tem pontos problemáticos, pois ao superar o biologismo de Freud, Fromm acaba caindo no culturalismo e retira do conceito de inconsciente (e do termo derivado inconsciente social) a base biológica e acaba ofuscando a radicalidade do conceito. Ao incluir o psiquismo na análise das relações sociais e dar um passo no sentido de uma percepção mais ampla da realidade, concebida como totalidade, acaba se limitando ao excluir da análise os aspectos vitais, "biológicos", e sua concepção culturalista se torna problemática devido a isto. Outro limite se encontra em seu humanismo abstrato, pois parte de uma concepção correta de natureza humana, mas que não chega a perceber a questão fundamental das classes sociais e das lutas de classes e por isso sua ética humanista também se revela limitada, tal como sua proposta de mudança social. Fromm atribui ao indivíduo uma tarefa hercúlea e muitas vezes cai ingenuamente em receitas de solução individual numa sociedade repressiva. Isso lhe valerá a crítica correta de Marcuse, que o compara com as receitas do "poder do pensamento positivo" (Marcuse, 1986) e certamente este é um dos motivos da popularidade de Fromm e de seu sucesso no mercado editorial. No entanto, se neste aspecto a crítica de Marcuse foi correta, nos demais é permeada por equívocos, inclusive em torno da palavra produtividade, que ele interpreta no sentido oferecido pela ciência econômica e não no sentido amplo oferecido por Fromm (Viana, 2008).

Parte dos equívocos de Fromm é de origem metodológica, já que lhe falta um maior domínio do método dialético e do materialismo histórico. Sua interpretação de Marx também se revela problemática em alguns aspectos, tal como no que se refere ao conceito de alienação e concepção de socialismo, por se basear apenas nas obras mais

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conhecidas de Marx. A sua defesa da totalidade é limitada devido ao problema que ele mesmo identificou várias vezes: a especialização. Por ser psicanalista, embora erudito e que adentrava sobre questões culturais, sociais, políticas e econômicas, o fazia de forma bastante restrita nos dois últimos domínios. Sua análise política e econômica era marcada por equívocos devido a pouca profundidade que ela manifestava.

Freud: abordagem biologista.

As soluções apresentadas por Fromm, tal como o seu "socialismo comunitário", que não conseguiu ir além das relações de produção capitalistas, apenas mudando a relação entre trabalho e capital ao invés de aboli-la, mostra novamente sua limitação metodológica e na compreensão das relações sociais e de produção. Sua concepção de socialismo se revela um capitalismo reformado, democrático e redistributivo, muito distante da proposta de Marx do "autogoverno dos produtores", da autogestão social.

Porém, não é possível desconsiderar as contribuições de Fromm e que ele, mesmo com seus equívocos, é uma referência fundamental para analisar a sociedade contemporânea e um dos grandes intelectuais do século 20. Ele também foi um dos principais responsáveis pela renovação da psicanálise, promovendo a percepção da necessidade de incluir as relações sociais e a cultura na busca de compreensão dos fenômenos psíquicos, o que era uma necessidade teórica e, apesar de seus exageros neste sentido, foi um antídoto para os exageros que iam no sentido contrário e abriu novas perspectivas para a psicanálise.

Referências

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MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização. Uma Interpretação Filosófica do Pensamento de Freud. 8a Edição, Rio de Janeiro, Guanabara, 1986.

OSBORN, Reuben. Psicanálise e Marxismo. Rio de Janeiro, Zahar, 1966.

REICH, Wilhelm. Materialismo Dialético e Psicanálise. Lisboa, Presença, 1973.

VIANA, Nildo. Inconsciente Coletivo e Materialismo Histórico. Goiânia, Edições Germinal, 2002.

VIANA, Nildo. Universo Psíquico e Reprodução do Capital. Ensaios Freudo-Marxistas. São Paulo - Escuta, 2008.

 

Autor:

Nildo Viana

nildoviana[arroba]terra.com.br

Professor da UEG; Doutor em Sociologia pela UnB; Pós-Doutorando em Psicologia da Educação pela PUC-SP; autor dos livros Senso Comum, Representações Sociais e

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Representações Cotidianas (Bauru, Edusc, 2008); Heróis e Super-Heróis no Mundo dos Quadrinhos (Rio de Janeiro, Achiamé, 2005); Manifesto Autogestionário (Rio de Janeiro, Achiamé, 2008), A Esfera Artística (Porto Alegre, Zouk, 2007), Introdução à Sociologia (Belo Horizonte, Autêntica, 2006), entre outras. Nazismo: exemplo da destrutividade humana, um das preocupações do humanista Fromm.

Fonte: Site da UEG; site Tita Ferreira

Erich Fromm é um dos psicanalistas mais populares do mundo e, ao mesmo tempo, um dos menos considerados nos meios acadêmicos. A sua popularidade pode ser vista em suas inúmeras obras publicadas e reeditadas em vários países. A imagem negativa que ele possui nos meios acadêmicos se deve, por um lado, a algumas de suas afirmações e concepções e, por outro, à sua própria popularidade, que provoca um preconceito acadêmico de uma elite intelectual que quer um distanciamento em relação ao "grande público".

Erich Fromm: síntese entre Freud e Marx.

Fromm nasceu na Alemanha e foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, que mais tarde se tornaria conhecido como Escola de Frankfurt, ao lado de Karl Korsch e vários outros pesquisadores, que depois passou a ser identificada com os nomes de Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin e Herbert Marcuse. Fromm participou da pesquisa sobre "a personalidade autoritária", que previu a ascensão do nazismo. As primeiras obras de Fromm são marcadas por um freudismo ortodoxo (Dobrenkov, 1978); depois, ele se torna um dos principais representantes do que se convencionou chamar "neofreudismo", "revisionismo", "freudo-marxismo" e "culturalismo" dentre outras expressões. Embora Fromm fosse colocado junto com os demais "revisionistas", "culturalistas" e "freudo-marxistas", ele ao mesmo tempo em que se aproximava de várias teses culturalistas de Karen Horney, Suliwan e outros, bem como do freudo-marxismo de Reich, para citar apenas alguns nomes, também se diferenciava e assumia uma posição distinta em vários aspectos.

Após a ascensão do nazismo, Fromm, tal como muitos intelectuais de sua época, abandona a Alemanha e vai para os Estados Unidos. Neste país ele irá produzir suas obras mais conhecidas e importantes, se tornando um dos grandes nomes da psicanálise a nível mundial. A sua trilogia composta pelos livros A Análise do Homem; O Medo à Liberdade e Psicanálise da Sociedade Contemporânea se tornou uma das mais importantes do século 20 para a psicanálise. Sua tentativa de unir psicanálise e marxismo também foi importante e foi expressa mais explicitamente em suas obras Meu Encontro com Marx e Freud e A Crise da Psicanálise. Os seus estudos sobre variadas questões (aldeia camponesa, destrutividade humana, história da psicanálise, pensamento

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de Marx, pensamento de Freud, religião, amor, contos de fada, etc.) possuem um fio condutor que perpassa toda a sua obra. A base do seu pensamento é um humanismo radical que se inspira fundamentalmente nas teses de Marx e Freud.

Fromm parte da idéia de natureza humana para unir Marx e Freud e elaborar sua concepção de psicanálise. Em O Conceito Marxista do Homem, Fromm abre a discussão em torno da alienação e da natureza humana exposta nos Manuscritos de Paris, escritos por Marx, o que será desenvolvido em outras obras. A sociedade de classes produz a alienação e esta é uma negação da natureza humana.

"Deu-nos Marx uma definição da "essência da natureza humana", da "natureza do homem em geral"? Deu, sim. Nos Manuscritos Filosóficos, Marx define o caráter específico dos seres humanos como "atividade livre e consciente", em contraste com a natureza do animal, que "não distingue a atividade de si próprio... e é a sua atividade". Em seus escritos posteriores, embora tenha abandonado o conceito de "caráter da espécie", a ênfase continua sendo a mesma: a atividade como característica da natureza não-mutilada e não-fragmentada do homem. Em O Capital, Marx define o homem como um "animal social", criticando a definição de Aristóteles do homem como "animal político" como sendo "tão característica da antiga sociedade clássica quanto a definição de Franklin do homem como "animal fabricante de ferramentas" é característica do reino ianque". A psicologia de Marx, assim como sua filosofia, é uma teoria da atividade humana e concordo inteiramente com a opinião de que a maneira mais adequada para descrever a definição de homem de Marx é a de um ser de práxis (...) (Fromm, 1977, p. 63).

Fromm critica aqueles que deformaram o pensamento de Marx, transformando-o num economicista e empobrecendo o seu pensamento e também critica Freud e sua concepção de homem como ser fechado e movido pelas forças da autopreservação e instintos sexuais (Fromm, 1977). As críticas de Fromm a Freud (1977; 1980) abrem espaço para ele partir da concepção de natureza humana em Marx e assim apresentar uma renovação da psicanálise num sentido freudo-marxista, indo além de várias outras tentativas neste sentido, tais como a de Osborn (1966), Reich (1973), entre outros. Ele se afasta da concepção biologista de natureza humana expressa por Freud e retoma a concepção de Marx (De La Fuente, 1989), entendendo a produtividade – termo que se presta a equívocos, como veremos adiante – como característica fundamental da natureza humana (Fromm, 1978).

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Índice[esconder]

1 Vida 2 Obra e Impacto

o 2.1 Humanismo normativo 2.1.1 Moldagem do indivíduo pela sociedade 2.1.2 Falhas predeterminadas pela cultura 2.1.3 Influência intrafamiliar

o 2.2 A situação humana o 2.3 As necessidades básicas da alma humana

2.3.1 Experimentação da identidade por individualidade ou conformidade

2.3.2 Ligação através de amor ou narcisismo 2.3.3 Transcendência por criatividade ou por destruição 2.3.4 Raízes por irmandade ou incesto

o 2.4 A situação humana no capitalismo pós-moderno 2.4.1 A mudança do caráter social

o 2.5 O ser humano alienado – Problemáticas psicossociais no contexto do caráter social estabelecido

2.5.1 O humano como grandeza abstrata 3 Obras principais 4 Ligações externas

[editar] Vida

Erich Fromm teve sua ascendência em uma família judia extremamente religiosa, da qual se originaram diversos rabinos. Ele mesmo desejava originalmente seguir este caminho. Cresceu em Frankfurt, onde inicialmente estudou direito, mudando depois ao estudo da sociologia em Heidelberg, doutorando-se lá em 1922 junto a Albert Weber sobre lei judaica. Até 1925 ele teve além disto aulas de talmude com o rabino Rabinkow. Em 1926 ele se casou com a psicanalista Frieda Reichmann. No fim dos anos 20, Fromm começou sua formação psicanalítica no Instituto de Psicanálise de Berlim junto a um aluno de Freud que não era médico, o jurista Hanns Sachs. Neste período, ele e sua esposa desistiram de seu estilo de vida judeu ortodoxo. A partir de 1929, Fromm atuou como analista leigo, por não possuir formaçao médica.

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Placa em frente à casa de Fromm, Bayerischer Platz, 1 em Berlim Schöneberg

Desde 1930 ele foi diretor do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt (Frankfurter Institut für Sozialforschung). Ao mesmo tempo ele pertenceu ao grupo de psicanalistas marxistas ao redor de Wilhelm Reich e Otto Fenichel e contribuiu com a formação do marxismo freudiano com algumas publicações. Em 1931, ele se separou de Frieda Reichmann, mas continuou mantendo relações de amizade com ela (separação apenas em 1942).

Depois da tomada do poder por Hitler, Fromm mudou-se para Genebra, emigrando em maio de 1934 para os Estados Unidos, onde trabalhou na Columbia University de Nova Iorque.

No fim de 1939, após diversos conflitos, ele se desligou do Instituto de Pesquisas Sociais, depois de ter sido um dos seus mais importantes colaboradores por muitos anos. Em maio de 1940 ele se tornou cidadão americano. Em 1944 casou-se com a imigrante alemã-judia Henny Gurland.

Em 1950, Fromm se mudou para a cidade do México e lecionou na Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Após a inesperada morte de sua esposa Henny em 1952, casou-se com a americana Annis Freeman.

A partir de 1957, ele filia-se ao movimento pacifista americano. Pessoalmente, sempre representara um socialismo humanista e democrático. Em 1965, recebeu méritos; Em 1974 mudou-se para Muralto (Tessin, Suíça).

[editar] Obra e Impacto

[editar] Humanismo normativo

Ainda nos anos 1950, a maioria dos sociológos seguia o chamado relativismo sociológico: Estavam convencidos de que o ser humano era praticamente totalmente maleável e que poderia viver em quase todas condições. Disto, concluíam duas coisas:

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Uma sociedade que em princípio funcionasse, seria saudável; As doenças psíquicas eram uma conseqüência de erros no indivíduo; os doentes

psíquicos não teriam sido suficientemente capazes de se adaptar.

Fromm defendia frente a essa tese um humanismo normativo: O ser humano tem, segundo Fromm, não apenas necessidades básicas físicas, mas também necessidades básicas psíquicas, enraizados em sua existência.

Disto é possível concluir que para a saúde psíquica do ser humano existem critérios que podem ser ou promovidos ou oprimidos por um dado sistema social. O estado de saúde de uma sociedade pode, portanto, ser examinado.

Realmente, o ser humano pode viver sob diversas condições, mas se estas forem contrárias a sua natureza humana, ele reage a elas, ou mudando as relações existentes, ou abdicando de suas faculdades humanas condicionadas à razão, por assim dizer, distanciando-se, tornando-se apático.

[editar] Moldagem do indivíduo pela sociedade

Fromm pergunta-se, "como é possível, que o poder dominante em uma sociedade realmente seja tão efetivo, como a história nos mostra" (citações de Theoretische Entwürfe über Autorität und Familie“, 1936) .

De uma lado o poder externo é "um componente essencial para a conclusão da conformação e subjugação da massa sob tal autoridade". Por outro lado, a sociedade não poderia funcionar somente "através do medo dos meios físicos de exerção de poder" (alusão ao Nazismo).

Fromm desenvolve a partir deste ponto, em modificação crítica ao trabalho de Freud, a teoria do caráter autoritário: "O poder externo da sociedade confronta-se com a criança crescida numa família através dos pais e (...) especialmente através do pai. O pai é, em relação ao filho o primeiro veiculador da autoridade social, não sendo, em relação ao conteúdo, seu modelo, mas sim sua cópia. "

Assim, Fromm prescinde da visão freudiana da formação da psiqué e especialmente do superego do pequeno círculo da família e deduz tal formação do superego do poder externo da sociedade, que autoriza o pai a erigir o superego do filho. Inversamente, para Fromm as autoridades sociais possuem da mesma maneira sempre qualidades de superego, vide por exemplo o discurso dos soberanos ou de políticos que tomam crianças em seus braços.

[editar] Falhas predeterminadas pela cultura

Um ser humano sofre de algum tipo de falha, se lhe falta uma característica que é tida como especificamente humana. Supondo-se, por exemplo, que a espontaneidade é um objetivo que todo ser deve alcançar, então sofre de uma falha o ser que não consegue exteriorizar-se bem e é totalmente não espontâneo, falha esta que pode ser percebida como uma neurose. Como é possível promover ou reprimir certas necessidades básicas humanas, é da mesma maneira possível que certas falhas sejam produzidas pela cultura. Agora, como a maioria dos indivíduos de uma sociedade sofre de certas imperfeições,

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essas são vistas como normalidade e o indivíduo as coloca inclusive como seus objetivos, para não ser um outsider (marginalizado):

”Aquilo que o indivíduo perde de riqueza interior e de sentimento real de felicidade é compensado pela segurança dada pelo sentimento de pertinência ao restante da humanidade tal como percebida por ele.”

Este sentimento de pertinência impede em nível decisivo o desenvolvimento da imperfeição em uma neurose realmente percebida. Além deste fato, a sociedade oferece diversos “antídotos” que impedem o irromper de uma doença. Fromm cita neste contexto os “opiáceos culturais”, como televisão, rádio ou eventos esportivos. Ao negar-se abruptamente às pessoas o acesso a esses opiáceos por um longo tempo, seria observável o surgimento de doenças psíquicas rapidamente em forma de ataques nervosos ou pânico.

[editar] Influência intrafamiliar

A forte influência do indivíduo pela sociedade define automaticamente as condições familiares e constrói conseqüentemente em intensidade descisiva o clima dentro da família. A troca tão próxima de emoções entre pais e filhos representa como conseqüência para a influência social:

1. Por um lado a família torna-se a principal instituição para a continuidade de existência da sociedade. Para garantir essa continuidade, determinadas exigências como pontualidade, ordem, capacidade de adaptação não apenas seguidos, mas como estuturas de caráter independentes e, conseqüentemente, interiorizados como vontade própria. O assim chamado caráter social reflete-se nos pais e é por isto repassado aos filhos.

1. Por outro lado, a problemática já existente dos pais relacionada ao ambiente externo é desta maneira veiculada aos filhos. Como a individualidade se cristaliza das interações com as pessoas do círculo de relações, pode-se ver a formação da criança como um caminho de fora para dentro. Se estas pessoas do círculo de relações se sentem de certa maneira inseguros ou sofrem devido às condições existentes na sociedade, isto se transmite ao self da criança. Do mesmo modo, os pais passam aos filhos as imperfeições e as maneiras de compensá-las através dos opiáceos. Maneiras doentias de viver são como conseqüência trabalhados como normalidade.

[editar] A situação humana

Os animais vivem em harmonia total com a natureza. Eles vivem em codições que aceitam como dadas e com as quais eles podem lidar. Em contraposição com os animais, desenvolveu-se no homem a capacidade de transcender seu ambiente, através da razão que lhe foi dada e com isso extrapolar a realidade que o cerca. Ele se elevou sobre a natureza e pode em certa medida recriá-la e dominá-la. Este seu dom dos mais elevados é ao mesmo tempo sua danação. Em palavras bem claras, ele deixa-se descrever como anomalia da natureza, pois no ser humano “a vida (...) tomou consciência de si”. Ele passa não somente a saber da aleatoriedade de sua existência, mas também da limitação de sua vida. Apesar de ainda ser parte da natureza, ele é igualmente saído dela e a harmonia entre ambos está para sempre perdida. Através desta

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consciência surge no ser humano um enorme sentimento de desamparo e fraqueza. Tem que viver e tomar decisões e todo passo em outra direção causa-lhe assombro, pois deixam-se estados já conhecidos e conseqüentemente mais seguros. O maior problema do ser é a sua pura existência (veja-se, relativamente a este ponto, igualmente o ser em si de Jean Paul Sartre). A vida humana é dominada por uma polaridade intransponível entre regressão e progressão: De um lado, a ânsia pela harmonia perdida com a natureza, que governou anteriormente em sua existência animal. De outro lado, o esforço por alcançar uma existência humana que corresponda a suas capacidades condicionadas à razão e lhe promete a solução do problema de sua existência. Este estado o leva a uma busca contínua por harmonia e impossibilita o existir estático. Estando as necessidades animais satisfeitas (fome, sono, sexo, etc), emergem as necessidades humanas no primeiro plano: ”Todas as paixões e buscas humanas são tentativas de encontrar uma resposta a sua existência ou, igualmente, poderia-se dizer que são tentativas de escapar ao adoecimento da alma.”

[editar] As necessidades básicas da alma humana

Pelo papel especial do homem em relação à natureza, que o condena a uma certa falta de pátria, é especialmente importante para o homem encontrar um caminho, orientar-se no mundo e assim entrar em uma nova relação com ele. Todas paixões humanas servem no fim das contas ao propósito de diminuir a apatridia. As necessidades básicas humanas são de natureza puramente psicológica e resultam do todo da personalidade humana e de sua prática de vida empírica. Em contraposição à libido de Freud, elas não têm origem física. Para satisfazer a suas necessidades há em princípio duas possibilidades abertas ao homem, pois ele não é, do ponto de vista humanístico, bom ou mau. A existência humana esconde em si ambos caminhos como possibilidade do desenvolvimento. Sentimentos antagônicos como amor e ódio não são então grandezas que existem independentemente, mas sim têm de ser vistas como respostas à mesma pergunta. A diferença está apenas em que apenas o primeiro leva à felicidade. A seguir, as necessidades básicas humanas são apresentadas brevemente.

[editar] Experimentação da identidade por individualidade ou conformidade

Sentir-se como um “eu”, portanto como ser separado de seu ambiente, não é apenas um problema filosófico, mas uma importante premissa de saúde da alma. Como o homem deve viver independentemente e sem raízes naturais, ele tem de ser capaz de formar uma imagem de si. Neste ponto está a premissa para toda e qualquer transcendência, pois apenas desta maneira o homem pode experimentar-se como sujeito de suas ações e estar consciente de seu ser autônomo. A necessidade da experimentação de uma identidade é tão essencial, que isto por vezes é expressado em forma de conformidade exacerbada, pela qual o ser está preparado até mesmo a dar sua vida, apenas para agir de acordo ao grupo e, desta forma, receber um sentimento de identidade. A experimentação de identidade só pode ser desta maneira sempre ilusória.

[editar] Ligação através de amor ou narcisismo

Unir-se a outros seres serve ao indivíduo como meio mais importante para poder regular a aleatoriedade e solidão de sua existência. Desenvolver um sentimento de ligação em relação a si e a outros é, por esta razão, não somente uma necessidade básica humana, mas premissa para a saúde da alma. A mais alta realização é oferecida, nesta direção,

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pelo amor: Ele é o único caminho, “através do qual é possível unificar-se com o mundo e, concomitantemente, adquirir um sentimento de integridade e individualidade.” No amor, o ser se une a outro ser, mantendo apesar disto, concomitantemente, a integridade de seu self, portanto sua separação. O amor entre dois seres em parceria acontece em uma renovação constante entre separação e união. Adicionalmente, o egoísmo do indivíduo existe em tão pequeno grau que as necessidades do outro são sentidas como tão importantes quanto as necessidades do próprio ser. O amor surge em contraposição ao narcisismo secundário: Neste, o indivíduo não é capaz de superar o narcisismo infantil, através do qual o ambiente ainda é utilizado apenas como meio de satisfazer as próprias necessidades. Os narcisistas têm a tendência de desenvolver uma ligação com seu ambiente através do exercício de poder sobre ele. Através deste mecanismo, eles somente conseguem construir certa unidade enquanto toda e qualquer integração autêntica seja destruída. Um outro caminho para unir-se com o mundo é oferecido pela possibilidade de subjugar-se a um grupo, a um Deus, etc. Por este outro mecanismo, o indivíduo supera o sentimento de isolação e sente-se parte de um grande poder, com qual se uniu.

[editar] Transcendência por criatividade ou por destruição

O ser possui razão e imaginação e essas características tornam impossível um papel puramente passivo no mundo. Ao tomar ele mesmo um papel de criador, ele pode superar sua aleatoriedade e existência de criatura. Quem confronta sua produção com cuidado e amor, pode transcender a si e a seu ambiente. Também na destruição, o self se deixa transcender, porém a destruição sempre é a alternativa menor de criação, para pessoas que não foram capazes de transcender seu self. Apenas a produção criativa pode levar à felicidade, enquanto a destruição tem em si o sofrimento, acima de tudo para o próprio destruidor.

[editar] Raízes por irmandade ou incesto

Para superar a perda das raízes naturais, o homem necessita novas raízes humanas, para poder se reencontrar no mundo. Neste sentido, a relação entre mãe e filho oferece o mais alto grau de enraizamento. A profundidade do sentimento de segurança, calor e proteção é aqui tão forte que mesmo na idade adulta existe ainda uma ânsia por ele. No fim das contas, o estado, a igreja, o grupo, possibilitam um sentimento de enraizamento na idade adulta do indivíduo, de forma que este se sente parte de uma unidade, ao invés de um indivíduo isolado. O corte do cordão umbilical é um processo assustador, mas certamente necessário para a humanização individual. Somente deste modo é possível ao ser humano realizar progressos e desenvolver-se. Em contraposição a Freud, Fromm interpreta a ligação materna em um nível emocional ao invés de sexual. Neste contexto, o tabu do incesto é dotado de um significado totalmente novo, pois não apenas proíbe um apetite sexual por um dos pais, mas também a persistência no campo protetor materno, que impossibilitaria um desenvolvimento cultural.

[editar] A situação humana no capitalismo pós-moderno

[editar] A mudança do caráter social

No desenvolvimento da humanidade não houve talvez nunca uma medida maior de liberdade que na sociedade ocidental atual. As pessoas vivem em conforto material, têm

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muito tempo livre e têm à sua disposição um grande leque de escolhas profissionais e estilos de vida. Com o aumento da prosperidade, porém, os problemas psicossociais aumentaram igualmente. O caráter social prescreve ao indivíduo certas estruturas de pensamento e de comportamento. Estas são absorvidas pela maioria dos membros da sociedade como valores e normas e garantem, deste modo, o sobrevivência da cultura. Enquanto há um século o ser econômico era direcionado a caracteres como explorar os outros pelo maior lucro possível e não temer qualquer concorrência, parecem ganhar hoje significado cada vez mais importante características como a capacidade de trabalho em equipe e a conformidade. Apesar da responsabilidade individual ser fortemente enfatizada, espera-se, ao mesmo tempo, devido ao rápido desenvolvimento técnico, que as pessoas sejam altamente flexíveis. Se outrora havia autoridades explícitas, contra as quais se poderia levantar (o rei, o chefe), hoje não há qualquer fonte de poder personificada. Todo o poder parece ter-se despersonalizado e é no máximo compreensível como mercado anônimo, para cuja influência valem as leis da oferta e procura e conseqüentemente ninguém pode ser responsabilizado. Da anonimidade que continua a persistir mecanicamente surge a atitude esperada de fazer aquilo que todos os outros fazem. A perda de individualidade e identidade leva ao mais alto grau de conformidade, o que é extremamente notável em nossa sociedade. Indiferentemente de cada um ter certo grau de inteligência ou não, ter uma posição social elevada ou não, a maioria parece ter o mesmo ritmo de vida: Vêm os mesmos filmes e programas, lêem os mesmos jornais e livros. Como a busca pelo lucro máximo deu lugar ao desejo de um salário regular, todos trabalham em um mesmo ritmo. Acima de tudo, as pessoas produzem e consomem, sem fazer perguntas e parecem querer realmente evitar aprender sobre incidentes, origens e paralelos. Em lugar da consciência individual, a busca pela máxima adaptação e de reconhecimento disto por outros é que aparece. A civilização moderna parece não satisfazer às profundas necessidades do homem e com sua demasiadamente grande parcela de liberdade individual e prosperidade antes causando um sentimento de uma monotonia intensa e desorientação. As pessoas da sociedade atual não precisam mais lutar por liberdade política ou sexual; não estão mais em perigo de tornar-se escravos, mas sim, robôs.

[editar] O ser humano alienado – Problemáticas psicossociais no contexto do caráter social estabelecido

No século XIX, Hegel e Marx definem um ser alienado de si mesmo, se ”o próprio ato lhe é uma força alheia e oposta que o escraviza, ao invés de ele mesmo o controlar” [2]. A alienação do ser em relação a si próprio, às suas ações e através disto ao seu ambiente tornou-se um problema central na sociedade moderna. A seguir, considera-se a situação do indivíduo sob este aspecto.

[editar] O humano como grandeza abstrata

O ser é visto na sociedade atual e mundo econômico principalmente como partícula impessoal ao invés de personalidade individual. Indiferentemente se na empresa ou no mundo do consumo, ele se tornou uma grandeza abstrata que pode ser expressa em números e, por conseguinte, calculada. Um bom exemplo é o burocrata típico. Para ele, as pessoas, sobre cujo destino ele provavelmente decide, existem somente como objetos e números sobre um papel. Isto lhe possibilita tomar decisões sobre elas, sem empatia ou sentimentos interpessoais como simpatia ou antipatia. Algo similar ocorre com o grande empresário, que com uma assinatura pode despedir 100 pessoas, sem nunca tê-

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las conhecido e sem saber sobre suas condições de vida. Apenas é decisivo, se elas cumprem ou não com as condições da empresa. Uma causa decisiva para a abstração do ser é a busca pela máxima eficiência, que é tão característica no capitalismo. Sobretudo através do crescimento contínuo de grandes empresas e o desaparecimento de empresas menores ligado a isto, o indivíduo é avaliado principalmente por seu “valor de mercado” e pode ser trocado arbitrariamente como o parafuso estragado de uma máquina.

[editar] Obras principais

Escape from Freedom (também conhecido como The Fear of Freedom), 1941 Man for Himself: An Inquiry into the Psychology of Ethics, 1947 Psychoanalysis and Religion, 1950 The Forgotten Language: the Understanding of Dreams, Fairy Tales and Myths, 1951 The Sane Society, 1955 The Art of Loving (A arte de amar), 1956 Sigmund Freud's Mission: an analysis of his personality and influence, 1959 Let Man Prevail: a Socialist Manifest and Program, 1960 Zen Buddhism and Psychoanalysis with D.T. Suzuki and Richard de Martino, 1960 May Man Prevail? An inquiry to the Facts and Fictions of Foreign Policy, 1961 Marx's Concept of Man, 1961 Beyond the Chains of Illusion: my Encounter with Marx and Freud, 1962 The Dogma of Christ and Other Essays on Religion, Psychology, and Culture (O dogma

de Cristo), 1963 The Heart of Man: its Genius for Good and Evil, 1964 You Shall Be as Gods, 1966 The Revolution of Hope: Toward a Humanized Technology (A Revolução da Esperança),

1968 The Crisis of Psychoanalysis: Essays on Freud, Marx, and Social Psychology, 1970 Social Character in a Mexican Village (com Michael Maccoby), 1970 The Anatomy of Human Destructiveness, 1973 To Have or to Be, 1976 The Working Class in Weimar Germany (análise psicossocial feita na década de 1930),

1984 For the Love of Life, 1986 The Art of Being, editado por Rainer Funk, 1989