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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE
Rio de Janeiro 2019
AS CONTRIBUIÇÕES DO EXÉRCITO RELACIONADAS À DEFESA, PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, A PARTIR DOS
GOVERNOS MILITARES -1964
Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE
AS CONTRIBUIÇÕES DO EXÉRCITO RELACIONADAS À DEFESA, PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS RECUROS NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, A PARTIR DOS
GOVERNOS MILITARES -1964
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.
Orientador: Cel Art MARCOS JOSÉ MARTINS COELHO
Rio de Janeiro 2019
D946c Duque, João Carlos
As contribuições do Exército relacionadas à defesa, preservação e
proteção dos recursos naturais da Amazônia Oriental, a partir dos governos militares – 1964. / João Carlos Duque. 一 2019. 58 f. : il ; 30 cm
Orientação: Marcos José Martins Coelho. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências
Militares) 一 Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019.
Bibliografia: fl 56-58. 1. Amazônia Oriental; 2.Ilícitos transnacionais; 3. Recursos
minerais; 4. Exército na Amazônia; 5. Garantia da Lei e da Ordem; 6. Geopolítica da Amazônia I. Título.
CDD 355.309811
Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE As contribuições do Exército relacionadas à defesa, preservação e proteção dos recursos naturais da Amazônia Oriental, a partir dos governos militares – 1964
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.
Aprovado em _____ de_______________ de________.
COMISSÃO AVALIADORA
_________________________________________________ Cel Art Marcos José Martins Coelho - Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_________________________________________________ TC Inf José Roberto de Vasconcellos Cruz- 1º Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_________________________________________________ Maj Cav Eduardo Schlup- 2º Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
À Deus por ter me dado saúde e
determinação para executar esta tarefa e a
minha amada esposa Ana Paula e meu filho
João Lucas, pelo apoio e compreensão
durante a execução deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Cel Coelho, meus sinceros agradecimentos pela dedicação e
paciência inferidas a minha pessoa durante a elaboração deste trabalho. Agradeço
pela orientação firme e objetiva, bem como pelas sugestões que facilitaram a
conclusão deste trabalho.
RESUMO
A Amazônia Oriental carrega consigo traços que a distingue das demais regiões brasileiras e da própria Amazônia Ocidental. Seu desenvolvimento não acompanhou a média nacional uma vez que, com inexpressivo parque industrial, grandes restrições de logística, produção energética e de serviços, manteve-se dependente de atividades primárias, situando-se à margem das prioridades e ações governamentais até meados do século passado. A partir de 1964, vivenciou significativa mudança de atitude governamental. Influenciada por pensamentos geopolíticos nacionalistas, os governos militares incluíram a Amazônia como uma área de interesse estratégico. Assim, a região passou a receber investimentos, voltados a sua integração e ocupação, e em um segundo momento, passou-se a incentivar e implementar grandes obras de infraestrutura voltadas para o aproveitamento de suas potencialidades mineral, energética e votadas para o agronegócio. Com o progresso, as questões sociais também foram potencializadas ao mesmo tempo em que ilícitos nacionais e transnacionais passaram a constituir o amplo e complexo espectro da fronteira amazônica. Dessa forma, atividades como garimpo, mineração e agricultura passaram a duelar interesses com questões indígenas e de preservação do meio ambiente; Somam-se ainda, o mapeamento das reservas minerais raras, o potencial de emprego da sua biodiversidade em contraponto com a sua dimensão e consequentemente dificuldade do Estado estabelecer meios eficazes de controle, proteção, coesão, segurança e coerção. Essa lacuna, tem sido comumente utilizada na construção de argumentos tendenciosos de autoridades e representantes de nações estrangeiras interessadas na universalização dessas riquezas em prol do “futuro da humanidade”. Neste contexto, o Exército Brasileiro é, historicamente, a única instituição nacional com capilaridade, capacidade operacional e aptidão necessárias a contribuir com a preservação das riquezas minerais e reforçar as agências de controle, preservação e monitoramento. Por meio de suas organizações militares exerce a presença do Estado, corrobora com a segurança de estruturas e reservas minerais estratégicas e auxilia, quando solicitado, em atividades subsidiárias de Garantia da Lei e da Ordem. Palavras-chave: Amazônia Oriental; Ilícitos transnacionais; recursos minerais; Exército na Amazônia; Garantia da Lei e da Ordem; Geopolítica da Amazônia.
ABSTRACT
The Eastern Amazon carries traits that distinguish it from other Brazilian regions and from the Western Amazon itself. Its development did not keep up with the national average since, with its inexpressive industrial park, major logistical, energy production and service constraints, it remained dependent on primary activities, and remained outside government priorities and actions until the middle of the last century. From 1964 onwards, he experienced a significant change in government attitude. Influenced by nationalist geopolitical thoughts, military governments included the Amazon as an area of strategic interest. Thus, the region began to receive investments, focused on its integration and occupation, and in a second moment, began to encourage and implement large infrastructure works aimed at harnessing its mineral, energy and agribusiness potential. With progress, social issues have also been potentiated as national and transnational illicit have become the broad and complex spectrum of the Amazonian frontier. Thus, activities such as mining, mining and agriculture began to duel interests with indigenous and environmental preservation issues; In addition, the mapping of rare mineral reserves, the potential employment of their biodiversity in contrast to their size and consequently the difficulty of the State to establish effective means of control, protection, cohesion, security and coercion. This gap has been commonly used in constructing biased arguments by foreign officials and representatives interested in universalizing these riches for the "future of humanity." In this context, the Brazilian Army is historically the only national institution with the necessary capillarity, operational capacity and aptitude to contribute to the preservation of mineral wealth and to strengthen control, preservation and monitoring agencies. Through its military organizations, it exercises the presence of the State, corroborates the security of strategic mineral structures and reserves and assists, upon request, in subsidiary Law and Order Guarantee activities.
Keywords: Eastern Amazon; Transnational illicit acts; mineral resources; Army in the Amazon; Guarantee of Law and Order; Geopolitics of the Amazon.
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
Figura 1 - Caracterização da Amazônia Oriental............................................. 12
Figura 2 – Levantamento de recursos minerais da Amazônia Oriental............ 25
Figura 3 –Demonstrativo dos modais de transporte na Amazônia Oriental...... 28
Figura 4 – Quadro Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas................... 30
Figura 5 – Distribuição das Terras Indígenas na Amazônia Oriental................ 32
Figura 6 – Focos de Tensão na Amazônia Oriental.......................................... 33
Figura 7 - Garimpos de ouro na Amazônia na década de 90............................ 34
Figura 8 - Estrutura do Comando Militar do Norte............................................. 40
Figura 9 - Estruturas Estratégicas terrestres..................................................... 43
Figura 10 - Subsistemas do SISFRON.............................................................. 44
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 11
1.1 PROBLEMA........................................................................................... 13
1.2 OBJETIVO............................................................................................. 14
1.2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................ 14
1.2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO.................................................................... 14
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO.............................................................. 15
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................ 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................. 18
2.1 TEORIAS CLÁSSICAS........................................................................... 19
2.2 O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO................................... 21
3 METODOLOGIA..................................................................................... 23
3.1 DINÂMICA DE PESQUISA..................................................................... 23
4 OS PRINCIPAIS RECURSOS MINERAIS E NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL E SUAS APLICAÇÕES ECONÔMICAS............................ 24
4.1 A ATIVIDADE MINERADORA................................................................. 24
4.2 QUESTÃO LOGÍSTICA........................................................................... 26
4.3 QUESTÃO ENERGÉTICA...................................................................... 29
5 PRINCIPAIS ATORES E QUESTÕES PRESENTES NA AMAZÔNIA ORIENTAL............................................................................................ 31
5.1 QUESTÃO INDÍGENA ........................................................................... 31
5.2 QUESTÃO DO GARIMPO NA AMAZÔNIA ORIENTAL.......................... 34
5.3 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA ORIENTAL............................ 35
5.4 QUESTÃO AMBIENTAL ......................................................................... 37
6 ESTRUTURA, PROJETOS E AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL ................................................................................................................39
6.1 O HISTÓRICO DA FORÇA MILITAR TERRESTRE NA AMAZÔNIA
ORIENTAL ................................................................................................................ 39
6.2 A ATUAL ESTRUTURA DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL.... 40
6.3 PROJETOS e AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL..... 42
6.3.1 O Projeto Estratégico PROTEGER.......................................................43
6.3.2 O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras – SISFRON.. 44
6.3.3 O Programa Calha Norte...................................................................... 45
6.3.4 Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM)............................................................................................................. 46
6.3.5 Sistema de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro (SiGAEB)..... 47
7 CONCLUSÃO.........................................................................................49
8 REFERÊNCIAS................................................................................... 56
11
1 INTRODUÇÃO
O tema da Amazônia tem sido estudado por pesquisadores, estadistas,
organizações e personalidades de todo o mundo. Ano pós ano, questões sobre sua
preservação ou exploração, ganham maior vulto potencializadas por cenários
prospectivos, em que se estima uma demanda cada vez maior por recursos naturais,
em detrimento da sua previsível escassez.
A Amazônia é caracterizada por ser um bioma que se estende por 8 (oito)
Estados Nação e mais a Guiana Francesa. No Brasil, a Região Amazônica
compreende seis estados da federação (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e
Roraima). No entanto, com o intuito de garantir a captação de incentivos fiscais e com
o propósito de promover o desenvolvimento regional, além dos estados supracitados,
foram incluídas parte dos estados do Mato Grosso, de Tocantins e do Maranhão,
totalizando cerca de 61% do território brasileiro e configurando o conceito de
Amazônia Legal.
A região como um todo reúne números expressivos: 5.029.322 km2 de área
(cerca de 58% do território nacional); faz fronteira com 7 países; considerada a maior
floresta tropical e o maior banco genético do mundo; possui riquíssima biodiversidade
(30% de todas as espécies vivas do planeta), uma das maiores bacias de água doce
do planeta (Bacia Amazônica, Aquíferos Alter do Chão e Guarani, reunindo 20% de
toda água doce do planeta) e com grande potencial energético (2/3 do planeta).
Destacam-se ainda, suas riquezas minerais (maior província mineral do mundo), as
quais muitas delas, ainda permanecem intactas.
Tamanha grandeza associada a constante e crescente demanda da sociedade
humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de
energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em um cenário dicotômico.
Segundo Bento (2017), aqueles que a detém, incumbe a preocupação com a
preservação da soberania sobre suas riquezas, exploração em benefício do
desenvolvimento social e econômico de suas populações; aos demais, verifica-se a
inquietação contínua e progressiva de atores governamentais e não governamentais,
em sua maioria estrangeiros, traduzida na forma de bandeiras voltadas para a
universalização e proteção dos recursos lá existentes.
O General de Exército Osvaldo de Jesus Ferreira (2013), primeiro comandante
do Comando Militar do Norte, responsável pela área que engloba a Amazônia Oriental,
12
objeto desta pesquisa, resumiu: “A Amazônia Brasileira é uma área de dados
superlativos em todos os sentidos”.
Verifica-se, nesse ínterim, o valor estratégico do acesso aos recursos naturais
e o seu vínculo com o conceito de defesa, bem como da necessidade de proteção. A
Política Nacional de Defesa (2016) abordou o tema ratificando que os recursos
naturais são parte integrante do patrimônio nacional, cuja defesa constitui-se em ato
de preservação dos próprios interesses nacionais e da soberania.
Em se tratando de valor estratégico, é mister destacar que a região foi e tem
sido objeto de estudo de grandes pensadores geopolíticos nacionais e teóricos
internacionais. Destaco no âmbito nacional os generais Golbery Silva e Mário
Travassos, precursores da geopolítica brasileira, os quais observaram e esmiuçaram
a importância e o valor geopolítico da região. Seus estudos formaram a base das
políticas nacionais contemporâneas implementadas a partir dos governos militares e
que fomentaram o desenvolvimento e integração da Região Amazônica, segundo
Becker (1993), até então praticamente ilhada do cenário nacional. Figura 1 – Caracterização da Amazônia Oriental1
Fonte: http://www.cmn.eb.mil.br/institucional.html, adaptado pelo autor, acessado em
09 de maio de 2019
A Figura 1, reitera as denominações e divisões da Amazônia Legal. Sua
denominação é um conceito moderno e de amplitude nacional, utilizado para definição
de políticas voltadas ao desenvolvimento da região. Esse conceito pode ser
desmembrado em outros dois mais antigos, porém ainda usados, através dos quais
as políticas aplicadas ao desenvolvimento regional amazônico foram concebidas:
13
Amazônia Ocidental e Oriental1 (foco deste trabalho). Essa subdivisão também foi
utilizada pelo Exército Brasileiro para delimitar atribuições dos grandes comandos
militares do Exército Brasileiro para defesa e proteção da soberania nacional, bem
como sua participação e contribuição para o desenvolvimento e progresso das regiões
em que estão sediados.
Do ponto de vista militar, cabe especial atenção ao seu enorme arco fronteiriço
e a proteção de áreas estratégicas, o que impôs ao Exército a instalação de dois
Comandos Militares de Área. Com responsabilidades distintas, o Comando Militar da
Amazônia (CMA) na porção ocidental, com missão precípua de fronteira; e o
Comando Militar do Norte (CMN) na porção oriental, foco deste trabalho, com a missão
de proteção da fronteira Norte e de recobrir militarmente as grandes vias de acesso e
estruturas estratégicas no interior da imensa área da Amazônica Oriental.
Nesse ínterim, verifica-se que, no âmbito da Amazônia Oriental, os desafios
possuem uma dinâmica que requer especial atenção da Força Terrestre: problemas
fundiários e ambientais na área de influência das BR 230 – Transamazônica e 163 –
Cuiabá/Santarém; questões relativas à colossal Província Mineral de Carajás e a
cobiça internacional por recursos naturais estratégicos; questão energética (presença
de grandes hidrelétricas) e sua importância para o desenvolvimento nacional;
questões das demarcações de terras indígenas; a presença de movimentos sociais
que se voltam contra decisões soberanas exigindo o emprego da Força, dentre outros.
Desta forma, constata-se que o estudo do tema é amplo, contemporâneo e
geoestratégico. Infere ao Estado a formulação de políticas voltadas para o
desenvolvimento e integração regional e impõe às Forças Armadas um estado de
prontidão, para que, em função das oportunidades e ameaças internas e externas
elencadas, promovam ações voltadas para a manutenção da soberania e o
desenvolvimento de tão expressiva faixa territorial.
1.1 PROBLEMA
Diante do cenário anteriormente elencado, é necessário destacar que, durante
1 A Amazônia Ocidental, de acordo com o decreto-lei 291, de 18 de fevereiro de 1967, abrange os seguintes estados: Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Já a Amazônia Oriental é definida por exclusão, restando ser constituída pelo Tocantins, Pará e Amapá e as áreas amazônicas do Maranhão.
14
o período dos Governos Militares, houve um alinhamento das estratégias política e
militar, traduzidas no direcionamento das expressões do poder para fomentar a
integração da Amazônia ao contexto nacional.
Essa “nova onda” voltada para a interiorização, ocupação e desenvolvimento,
teve como válvula motriz o Exército, Instituição Nacional presente e com atuação
efetiva em toda a Amazônia. Sua capilaridade tem permitido exercer, ao longo da
história do Brasil, sua missão de proteção de nossas fronteiras e riquezas e,
conjuntamente com as demais Instituições públicas e privadas, contribuir com o
desenvolvimento regional. Diante de tamanha responsabilidade, essa pesquisa se
depara com a seguinte questão problema:
Qual a atual contribuição do Exército Brasileiro, a partir de 1964, para as questões de proteção e defesa dos recursos naturais na Amazônia Oriental?
1.2 OBJETIVOS
Como forma de ajudar a elucidar o problema proposto, foi definido o objetivo
geral e três objetivos específicos.
1.2.1 Objetivo geral
Face ao aumento da cobiça internacional e a necessidade de fomentar o
desenvolvimento nacional, utilizando-se do banco de riquezas e potencialidades
existentes na Amazônia Oriental, quais foram as ações do Exército, a partir de 1964,
para garantia e manutenção da soberania sobre esse patrimônio? Ao responder essa
pergunta, esse trabalho encontrou o seguinte objetivo, conforme descrito a seguir:
Identificar as ações desenvolvidas pelo Exército relacionadas com a defesa e
proteção dos recursos naturais estratégicos da Amazônia Oriental, tendo como marco
temporal o período dos governos militares (1964).
1.2.2 Objetivos específicos
A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral deste trabalho foram
formulados alguns objetivos específicos a serem atingidos que permitiram o
encadeamento lógico do raciocínio descritivo apresentado neste estudo:
15
a. Identificar os pressupostos de Teorias Geopolíticas Clássicas e
Contemporâneas que possam influenciar os cenários que envolvem a região da
Amazônica Oriental.
b. Caracterizar a Amazônia Oriental, destacando suas possibilidades,
enfatizando as suas riquezas minerais estratégicas e seu potencial de exploração
econômica.
c. Apresentar as estruturas do Exército na Amazônia Oriental e suas ações
voltadas para a integração, defesa e proteção de nossas riquezas minerais, a partir
dos governos militares.
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
A delimitação no tempo (a partir dos governos militares) e espaço (Amazônia
Oriental) possui um caráter restritivo à amplitude do tema. Contudo, a intenção é
estabelecer um paralelo entre a Política Nacional e as Estratégias Militares definidas
à partir de 1964, e os seus reflexos para o desenvolvimento regional2.
Segundo Franchi (2013), a política de ocupação e adensamento militar tinha
múltiplos propósitos: aumentar a presença militar nas fronteiras (dissuasão);
estabelecer a presença do Estado no entorno de grandes jazidas minerais e estruturas
energéticas implementadas; fomentar o desenvolvimento regional através da
engenharia militar, com destaque para a construção de grandes obras de
infraestrutura voltadas para realização das ligações terrestres, fluviais e aéreas; conter
ideologias patrocinadas por países comunistas e focos de guerrilha que se instalaram
na região; e finalmente, integrar a Região Amazônica ao restante do território nacional.
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
A relevância desta proposta de pesquisa está evidenciada na constante
discussão do tema Amazônia no âmbito internacional. Dessa forma, a abordagem
nacional deve identificar-se com a preservação dos objetivos nacionais (soberania),
2 Como forma de ilustrar a mudança de atitude do Exército para com a região ressalta-se que, no primeiro ano do regime militar, 22 municípios amazônicos receberam algum tipo de Organização Militar permanente, sem contar os que já possuíam até então.
16
fazendo uso de suas Instituições Nacionais. Tal assertiva pode ser encontrada no
primeiro escalão de políticas públicas, através da Política Nacional de Defesa, 2016:
(...) A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de riquezas minerais e de biodiversidade, é foco da atenção internacional. A garantia da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira são dificultadas, entre outros fatores, pela baixa densidade demográfica e pelas longas distâncias. A vivificação das fronteiras, a proteção do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais são aspectos essenciais para o desenvolvimento e a integração da região O adensamento da presença do Estado, e em particular das Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras é condição relevante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia (PND, 2016, p 23, grifo nosso).
Da análise do texto, depreende-se a relevância nacional do desenvolvimento
da Amazônia e a concepção estratégica da atuação das Forças Armadas (FA) para a
consecução desse objetivo.
A despeito do texto destacar as FA como atores do processo, neste trabalho o
enfoque foi atribuído em torno das ações do Exército Brasileiro. Não desmerecendo a
importância das demais forças, a presença do Exército na Amazônia é mais
representativa, e principalmente a partir do Séc XIX, se tornou mais efetiva, atuando
nas diversas expressões do poder, como destaca Franchi: Chama a atenção o papel de apoio às atividades de colonização e desenvolvimento da região levado a cabo pelo Exército, embora sejam atividades subsidiárias e não a atividade-fim da instituição, que é a defesa. A continuidade, atesta a importância histórica de tais atividades, em paralelo com as atividades de defesa. Estas duas lógicas, a de defesa e a de suporte ao desenvolvimento da região, eram cooperativas e não concorrentes, e parecem ter orientado conjuntamente a dinâmica de implantação de organizações militares. (FRANCHI, 2013, grifo nosso)
Nos últimos seis anos, o Exército aumentou sua presença militar na região da
Amazônia Oriental (criação do Comando Militar do Norte em 2013). Uma outra
demonstração de prioridade pode ser abstraída do Plano Estratégico de
Reestruturação do Exército (2016-2019) com a efetivação da Brigada da Foz em
Macapá e a inclusão da Brigada da Transamazônica (sediada em Marabá), como
Força de Emprego Estratégico do Exército, aumentando ainda mais a expressão do
poder militar na região. (BRASIL, P.,2017)
Como contribuição de ordem prática, além do já descrito acima, observa-se um
grande número de estudos voltados para a Amazônia Ocidental e um pequeno
número de trabalhos que descrevam as peculiaridades da Amazônia Oriental,
exemplificadas por: abrigar as duas maiores hidrelétricas nacionais (Tucuruí e Belo
17
Monte) e outras tantas com potencial energético vital para a matriz energética
brasileira; possuir a maior jazida de minério de ferro do país (Carajás) e uma das
maiores reservas de minerais nobres e terras raras do mundo; compor o tronco
logístico por onde escoa boa parte da produção de grãos com destino a exportação
(por meio da BR 163 - porto de Santarém – Hidrovia do Amazonas), havendo a
possibilidade de aumento da capacidade de transporte por meio da hidrovia do
Tocantins; guardar potencial para o agronegócio e a exploração sustentável das
florestas existentes.
Por outro lado, a região também reúne uma lista de desafios que direta ou
indiretamente impactam no cumprimento da missão constitucional do Exército, quais
sejam: 1) a presença de muitas etnias silvícolas, as quais exercem pressão pela
demarcação de terras indígenas e seus reflexos para sua inclusão social bem como
para a soberania do país (possibilidade de reivindicações separatistas); 2) a
exploração do garimpo ilegal, a degradação social por ele provocada e a associação
com outros ilícitos transfronteiriços que implicam no uso da Força em missões
subsidiárias; 3) a existência de movimentos sociais com viés ideológico os quais se
utilizam de ações coordenadas voltadas para invasões de propriedade, depredação
de estruturas públicas e outras práticas subversivas para o alcance de seus objetivos,
evocando a necessidade de acompanhamento de inteligência e desencadeamento de
Operações de Garantia da Lei e da Ordem; 4) por fim, a questão ambiental, imposta
pela adesão do Brasil aos termos dos Tratados Internacionais, levam a Força ao
desencadeamento de inúmeras missões interagências voltadas para a preservação
ambiental e uma necessidade de adaptação organizacional voltada para a regulação
de seus campos de instrução e atividades de adestramento.
Assim, dentro deste escopo, verifica-se a importância da região no cenário
nacional e evidencia-se a participação efetiva do Exército em todos os campos do
poder, principalmente, no pós década de 60.
De tudo o que foi exposto, o trabalho enseja mostrar a sinergia existente nas
ações da componente militar na Amazônia Oriental, suas capacidades, possibilidades
e limitações para que, em conjunto com as outras expressões do poder nacional e
demais instituições público-privadas, possa fazer valer a vontade nacional de
desenvolver e integrar a região, além de explorar os recursos necessários para
posicionar o Brasil dentre os países mais importantes do globo.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para fins de fundamentação do trabalho no tocante ao assunto, foi realizada
uma pesquisa bibliográfica acerca das principais teorias geopolíticas que, de alguma
forma, influenciaram a estratégia de ocupação e integração da Amazônia ao território
brasileiro.
A construção do pensamento geopolítico no Brasil remonta o período imperial,
quando José Bonifácio de Andrada e Silva, ainda no século XIX, foi capaz de sugerir
a ideia de mudança da capital para o coração do Brasil, além de participar do processo
de compra do Acre da Bolívia, o que praticamente definiu os limites do Brasil atual.
Segundo Castro (1984),na vertente militar, organizou a ação contra os focos de
resistência à separação de Portugal, permitindo a manutenção do vasto território
conquistado em três séculos de colonização. Na origem da pátria, uma forte cisão com
nossas origens nacionais, muito provavelmente – como se deu na América espanhola
– teria dividido profundamente os brasileiros no nascedouro da nação, causando efeito
centrípeto sobre o território.
Criado o espírito Nacional, delimitadas as fronteiras e atenuados os
regionalismos no curso da história brasileira, o Brasil passou por vários ciclos de
desenvolvimento econômico calcados na produção agrícola e extração mineral. Com
os reflexos da crise econômica mundial (1929) e das duas grandes Guerras Mundiais,
o mundo foi reconfigurado e o Brasil passou a ser considerado também um ator
regional no contexto da América do Sul. (CASTRO, 1984). É oportuno destacar que o
pensamento geopolítico no Brasil, em meio a tantos conflitos e crises, passou a ser
discutido e organizado com mais frequência e profundidade no âmbito militar, com
destaque para o General Golbery do Couto e Silva e o coronel Mário Travassos.
Feita essa breve contextualização e aproximando do contexto histórico deste
trabalho, na década de 1950, estando os militares próximos do centro político
brasileiro, parte da produção de conhecimento dos geopolíticos brasileiros
supracitados começou a ser colocada em prática: interiorização da capital federal,
estabelecimento de ligações terrestres entre as regiões (política interna), e a
aproximação com países da América do Sul (Política Externa). (FRANCHI, 2013)
Assim, a partir de 1964, durante os governos militares, o Brasil iniciou um
esforço para integrar as regiões através de grandes obras de infraestrutura e
programas nacionais voltados para a ocupação de vazios populacionais e
19
desenvolvimento dessas áreas ainda não produtivas (Centro-oeste e Região
Amazônica).
Paralelo a isso, nos grandes centros, o desenvolvimentismo dado pela onda
de industrialização e transformação mostrou a necessidade de ampliar a capacidade
energética e de infraestrutura do país. Novos projetos de hidrelétricas, ferrovias e
rodovias foram implementados, fomentando a economia, a criação de empregos e
atraindo investimentos estrangeiros, fazendo com que o Brasil passasse de destaque
regional a um ator de relevância no plano internacional. (FRANCHI, 2013).
Com a Nova Ordem Mundial, o Estado Nação passa a dividir espaço com novos
atores supranacionais, não governamentais e questões de interesse internacional.
Neste contexto, novos geopolíticos passam a protagonizar os pensamentos que
conduzirão a nação para as próximas décadas, dentre os quais destacam-se: o
General Carlos de Meira Mattos e Therezinha de Castro. (FRANCHI, 2013).
Do acima exposto e identificadas algumas teorias que deram suporte a toda
essa transformação nacional, será feita uma abordagem das principais teorias e
pensamentos geopolíticos que influenciaram as políticas nacionais à partir de 1964,
bem como a influência delas em assuntos que remetem à região alvo, a soberania
brasileira sobre a Amazônia e seus recursos e as possibilidades de conflitos
envolvendo o tema.
2.1 TEORIAS CLÁSSICAS
A influência da Teoria Organicista de Ratzel foi generalizada sobre pensadores
brasileiros tais como Mário Travassos e Golbery do Couto e Silva. Para Ratzel, os
Estados eram organismos vivos que deviam ser pensados e geridos em íntima
conexão com o espaço onde estavam inseridos. Segundo ele, o que caracteriza um
Estado é a área “ocupada” por ele, ou seja, a não ocupação pode resultar na contração
do Estado. Em sua teoria, ele estabelece leis que favorecem o crescimento dos
estados, dentre as quais uma em especial faz um paralelo interessante com a situação
da Região Amazônica: (FRANCHI, 2013) "Em seu crescimento os Estados tendem a absorver valiosos setores políticos: litorais, leitos de rios, planícies, regiões ricas em recursos."RATZEL, apud in: FRANCHI, p. 22"
20
A Teoria do Poder Terrestre de Halford J. Mackinder, também influenciou o
pensador brasileiro Mário Travassos. No escopo da Teoria, Mackinder postula que
quem dominar a Eurásia (Heartland), seria capaz de acumular poder a ponto de
contrapor o poder marítimo. Mário Travassos adaptou essa teoria ao identificar um
possível Heartland sul americano, próximo ao que chamou de triângulo boliviano. Ao
estudar as bacias Platina e Amazônica e verificados os pontos de passagem da
Cordilheira dos Andes, Travassos percebeu a possibilidade de integração das duas
bacias com uma possível rota com saída para o Pacífico, atestando o valor geopolítico
desta região. É interessante ressaltar que as regiões da Amazônica Ocidental e
Oriental dividem a Bacia Amazônica, principal via de acesso ao triângulo boliviano.
Neste contexto, a instalação do poder militar nas margens dessa via de acesso que
corta o Brasil de Leste a Oeste pode ser justificada a luz dessa teoria.
Com a análise de Travassos sobre a importância das bacias e a possível
integração leste oeste sul-americana, é possível fazer um paralelo com a Teoria do
Poder Marítimo, de Alfred T. Mahan o qual define que "uma nação capaz de controlar
a planície marítima, por meio do poder naval, e que ao mesmo tempo consiga manter
uma grande marinha mercante, pode explorar as riquezas do mundo.” Desse ponto
de vista, a capilaridade da Bacia Amazônica com outros estados da América do Sul,
passa a ser um caso a ser aprofundado. Ainda dentro desse enfoque, a teoria reforça
a potencialidade da Bacia do Tocantins Araguaia no tocante ao seu aproveitamento
econômico.
Na visão de Mafra (2006), a Teoria do Poder Perceptível de Ray S. Cline
postula sobre a capacidade de um Estado fazer guerra, tendo como fatores
preponderantes a massa crítica (população e território), a capacidade econômica
(economia e riquezas) e a capacidade militar. Assim, a Região Amazônica tem grande
importância devido ao seu potencial econômico ainda não explorado. O General Meira
Mattos aprofundou sua análise e acabou contribuindo com a inclusão de mais um fator
a ser observado: o poder de persuasão, utilizado até os dias atuais pelo Exército na
forma da sua Estratégia da Dissuasão.
A Teoria da Incerteza ou Turbulência de Pierre Lellouche (1992) formulou um
cenário em que, com o término da Guerra Fria, os EUA não seriam capazes, como
potência hegemônica, de conduzir a nova Ordem Mundial, criando um espectro
generalizado de turbulência. Contudo, Mafra (2006) destaca que Lellouche excluiu o
Brasil dessa zona de turbulência e apontou essa exclusão como uma oportunidade
21
para o desenvolvimento, muito ligado a exploração de suas riquezas ainda não
exploradas na Amazônia.
Por fim, a teoria da Tríade é a que, atualmente, mais impacta a Região
Amazônica. Após o encontro de grandes empresários, representantes estatais e não
estatais (Clube do Roma), resultou na confecção de um relatório cujo o título escolhido
fora: “Os limites do crescimento”. o trabalho relatou o esgotamento dos recursos
naturais face ao crescimento desordenado do mundo. Mafra (2006) postulou a
necessidade de reorganização do mundo, no formato de três grandes empresas
multinacionais (bloco americano, europeu e asiático). Desde então, bandeiras de
preservação dos ecossistemas têm sido levantadas, narrativas de universalização de
áreas preservadas tem sido difundidas e proclamadas por personalidades em todo o
mundo. Estas ações vão de encontro a intenção brasileira de integrar e promover o
desenvolvimento da Amazônia.
2.2 O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO
O coronel Mário Travassos, autor das Obras: Aspectos Geográficos Sul-
americanos – 1931 e Projeção Continental do Brasil – 1938, postulou fruto da sua
análise do triângulo boliviano já citado nesse trabalho, algumas contribuições para a
Região Amazônica que já se materializaram (interiorização da capital federal, ligações
com o interior e seu povoamento) ou estão em vias de consecução (política de
articulação interna com a América Latina (transportes e corredores bi-oceânicos, e
ainda na Política Externa o conceito de que o Brasil assumiria o papel de articulador
da América do Sul por sua conformação territorial, extensão e número de fronteiras
terrestres projeção continental.
O General Golbery do Couto e Silva foi um dos formuladores da Doutrina de
Segurança Nacional (DSN) e ainda comandou o Serviço Nacional de Informações
(SNI). Como principais pressupostos de seus pensamentos geopolíticos destacam-se:
o povoamento da Amazônia (face ao vazio demográfico) e a ocupação das fronteiras, fruto da sua permeabilidade e devido ao vazio demográfico regional
também nos demais países fronteiriços. Destacava a necessidade de se realizar uma
manobra de integração geopolítica interna a partir da Calha do Rio Amazonas
com apoio no Centro-Oeste que deveria ser realizada em etapas. A última etapa
22
culminaria com a integração e o desenvolvimento da Amazônia. (SILVA, 1981)
(grifos nossos)
O General Carlos de Meira Mattos (1913-2007) iniciou seus escritos na década
de 1960. Em sua obra “Geopolítica e modernidade”, no ano de 2003, formulou as
diretrizes estratégicas da geopolítica brasileira: “interiorização, integração
territorial, fortalecimento da presença estratégica no Atlântico Sul, desenvolvimento econômico e social (da mais alta prioridade porque é o suporte indispensável das
três anteriores), segurança externa e interna. (grifos nossos)
Já Therezinha de Castro, geógrafa, única das pesquisadoras não militares,
abordou o tema amazônico de forma direta, sinalizando a necessidade de sua
ocupação geográfica e humana. Segundo a autora, com a Nova Ordem Mundial – se
é que existe ordem – decorrente do fim da ‘guerra fria’ e da bipolaridade nos apresenta
um quadro paradoxal. No campo político e militar há uma concentração de poder numa
única potência, ao passo que no campo econômico identificamos uma multipolaridade
onde mega potências econômicas de magnitude semelhante, por sua ação
catalisadora, atraem outros países para sua esfera de influência. (CASTRO, 1984)
Assim, segundo sua teoria, a Amazônia seria alvo de investidas de interesse
por parte das megapotências. Em sua obra, ela utiliza o paradoxo sobre a Região
Amazônica: “integrar para não entregar”. Essa teoria tem sido inserida nas políticas
de integração amazônica, em que o Exército protagonizou, a partir da década de 60
do século passado, diversos projetos estratégicos.
23
3. METODOLOGIA
A metodologia desenvolvida para solução do problema de pesquisa, foi
organizada com o objetivo de conduzir os procedimentos necessários para alcançar
os objetivos (geral e específicos) apresentados. Desta forma, pautando-se numa
sequência lógica, o mesmo foi estruturado da seguinte maneira: 1) Delimitação da
Pesquisa; 2) Concepção Metodológica; 3) Limitações do Método.
Essa pesquisa teve caráter qualitativo, uma vez que privilegiou a história e a
análise de documentos para a compreensão do papel do Exército na Amazônia
Oriental. Assim, seguindo a Taxionomia de Vergara (2009), adotou-se o enfoque
descritivo e explicativo, uma vez que foram evidenciadas as características da região
e população Amazônica que, por sua especificidade, demandou estudo para tornar
inteligível as peculiaridades, diferenças e potencialidades voltadas para o
desenvolvimento nacional.
Por fim, o trabalho se baseou na pesquisa documental e bibliográfica, uma vez
que foram estudadas publicações em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas de
acesso ao público em geral.
3.1 DINÂMICA DA PESQUISA
A dinâmica da pesquisa foi conduzida por meio de uma pesquisa bibliográfica,
pois baseou-se na fundamentação teórico-metodológica de investigação sobre os
assuntos relacionados a presença do Exército Brasileiro na Amazônia Oriental e as
questões que o envolvem, através de publicações existentes.
A metodologia em questão possui limitações, particularmente, quanto à
profundidade do estudo a ser realizado, pois não contemplou, dentre outros aspectos,
o estudo de campo e a entrevista com pessoas diretamente ligadas aos processos em
estudo. Porém, devido ao fato de se tratar de um trabalho de término de curso, a ser
realizado em aproximadamente seis meses, o método escolhido foi adequado e
possibilitou o alcance dos objetivos propostos no presente Projeto de Pesquisa.
24
4 OS PRINCIPAIS RECURSOS MINERAIS E NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL E SUAS APLICAÇÕES ECONÔMICAS
O acesso aos recursos naturais é um fator importante, dentro do conceito de
segurança, por permitir, exatamente como dispõe a Política Nacional de Defesa
(PND), que “a sociedade ou os indivíduos se [sintam,] livres de riscos, pressões ou
ameaças, inclusive de necessidades externas”, por permitir que gozem de direitos
fundamentais ligados à vida, ao trabalho e à saúde, dentre outros. Ademais, recursos
naturais são parte integrante do patrimônio nacional, cuja defesa constitui-se em ato
de preservação dos próprios interesses nacionais e da soberania (PADECEME,
2016).
A presença de unidades militares próximas aos locais de mineração, dos
principais modais de escoamento e das grandes estruturas de energia existentes na
Amazônia Oriental são estratégicas. Constituem a componente dissuasória voltadas
às ameaças internas e externas, favorecem atividades de inteligência, defesa e
proteção aproximada e permitem, através da utilização dos modais existentes, o fluxo
logístico operacional da Força. Grandes Projetos Estratégicos foram criados para dar
suporte às Organizações Militares fruto da destinação subsidiária de proteger estas
estruturas, bem como garantir o seu funcionamento. Estes projetos serão abordados
nos capítulos subsequentes.
4.1 A ATIVIDADE MINERADORA
As pesquisas da geologia no Brasil remontam o período imperial, quando os
portugueses e espanhóis faziam a corrida do ouro para acumulação de divisas e
fomento do mercantilismo. O mapa abaixo, com base nos dados do Serviço Geológico
do Brasil, adaptado pelo autor, mostra as potencialidades de extração de riquezas
minerais na região geográfica que compõe a Amazônia Oriental. Reúne o
conhecimento de um século de levantamentos geológicos no país e de cinco décadas
de pesquisas acadêmicas:
25
Figura 2 - Levantamento de recursos minerais da Amazônia Oriental
Fonte: http://www.cprm.gov.br/publique/Recursos-Minerais/Projetos-Especiais-e-Minerais-Estrategicos-203, acesso em 16 de março de 2019, modificado pelo autor
No Brasil, o estado do Pará é o segundo que mais recebe investimentos do
ramo, representando 21,93% do total. Em números, gera 287.882 de empregos
diretos e indiretos na cadeia produtiva local e responde por 20% do PIB paraense3.
Da análise dos dados do Geobank, em contraponto com os emitidos pelo
sindicato da mineração, verifica-se que o setor da mineração tem sido um dos
principais vetores de crescimento da Região Norte, especialmente no Pará, onde se
encontram as duas maiores jazidas da região: a de Oriximiná, que lavra bauxita, com
maior parte da produção destinada à exportação; e a de Serra dos Carajás, uma das
maiores do planeta e produz o minério de ferro mais puro do mundo.
Localizada, no sudeste do estado, Carajás concentra, ainda, uma diversidade
de outros minerais, quais sejam: manganês, cobre, bauxita, ouro, níquel, estanho e
3 Disponível em < http://simineral.org.br/mineracao/mineracao-para> acessado em 15/03/2019.
26
outros. Em 2015, 84,3% das exportações do Pará correspondiam às indústrias de
mineração e transformação mineral.
Tratando-se da questão mineral âmbito nacional, cabe destacar que, segundo
a Agência Nacional de Mineração (ANM) o minério de ferro é o “carro-chefe” da
indústria mineral brasileira, gerando 63% do valor total da produção nacional. Mas,
além do ferro, o Brasil é o maior exportador de nióbio (maior reserva), exporta
manganês, tantalita e bauxita (segundo maior exportador), grafite (terceiro maior
exportador) e rochas ornamentais (quarto maior exportador)4.
Nesse contexto, o Exército posicionou Organizações Militares (OM),
estrategicamente instaladas próximas aos locais de extração, e no curso dos modais
de transporte (ferroviário, rodoviário e hidroviário). No caso da Amazônia Oriental,
verifica-se as OM da 23a Brigada de Infantaria de Selva nas Localidades de Itaituba
(extração de ouro), Marabá (próximo a Carajás) e Santarém (bauxita), principais
regiões de extração.
Cabe destacar a atribuição subsidiária do Exército definida pela Lei 136, de 25
de agosto de 2010, conferindo poder de polícia (voltados para coerção de ilícitos
transfronteiriços) na faixa de fronteira. Assim, o monitoramento das fronteiras e de
possíveis violações da soberania de nossos recursos naturais (contrabando e
descaminho) e da biodiversidade da floresta Amazônica (biopirataria) passam a
compor o escopo de missões da Força.
Infere-se ainda que, devido a larga aplicação na indústria de defesa, a
segurança da inviolabilidade, da exploração e da importação de terras-raras e outros
metais, tem importância ainda maior, por se tratar de insumo destinados à atividade
bélica, tornando o seu controle, uma questão não só de soberania e mercado, mas
também de defesa nacional.
4.2 QUESTÃO LOGÍSTICA
A questão logística é fundamental para a integração nacional e base para o
desencadeamento de Operações Militares. No caso específico da Força Terrestre, os
modais de transporte fazem a ligação entre as Organizações Militares, constituem
eixos de suprimento e vias de acesso para o cumprimento de suas missões
4 Disponível em <http://www.anm.gov.br/acesso-a-informacao/estatisticas > acessado em 15/03/2019.
27
constitucionais, provendo mobilidade e permitindo flexibilidade para o deslocamento
de meios.
Na década de 60 do século passado, durante os governos militares, muitos
projetos foram desencadeados visando criar alternativas e possibilidades de
integração da região com o restante do país (BR-230, Ferrovia Carajás, BR-163). No
entanto, o esforço de duas décadas passou por uma verdadeira solução de
continuidade devido a difusão de interesses que levaram a não conclusão ou ao
sucateamento dos empreendimentos.
Atualmente, a Amazônia Oriental possui um déficit no setor que impacta não só
as demandas do Exército, como também a demanda de escoamento da produção
regional e nacional. A falta de conexão multimodal, a pequena e limitada malha
ferroviária e a precariedade da pavimentação das estradas contribuem para a
ineficiência logística e para o aumento do custo de produção.
Assim, uma maior exploração e integração das bacias amazônicas como meio
modal de transporte voltados para a logística regional poderiam ampliar as
capacidades e ligações necessárias ao desenvolvimento regional. O leito dos rios,
historicamente aproveitado pela população regional como meio de transporte,
passaria a ter um valor estratégico, devido ao potencial hidroviário das bacias do
Amazonas e Tocantins.
Segundo José Fernando Coura, Diretor-Presidente do Instituto Brasileiro de
Mineração (IBRAM), a questão da logística pode ser considerada um dos principais
gargalos do processo. O Brasil investe um baixo percentual de seu PIB em
infraestrutura: 2,1%, ante 7,3% da China, 6,2% do Chile e 5,6% da Índia.
O baixo investimento faz com que o País enfrente, atualmente, uma crise no
setor de transportes de cargas. Os principais problemas identificados foram: a) o baixo
volume de investimentos no setor; b) a elevada deterioração da rede viária; c) a
dificuldade de acesso aos portos, seja por via terrestre ou marítima; d) um modelo de
gestão já ultrapassado do setor de transportes e; e) a subutilização do sistema aquaviário nacional. A baixa qualidade da infraestrutura, lembrou ele, não só
encarece produtos, como afeta a capacidade da indústria nacional de se integrar às
cadeias globais de produção. 5 (grifo nosso).
5 Disponível em http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento/download/0373b58c-34b8-419c-92c0-f40d46907ad0, Forum de “Investimento e Gestão: desatando o nó logístico do País” 3o Ciclo – MINERAÇÃO – Governança e Logística: Gargalos e soluções. Acessado em 15/03/2019.
28
No caso específico da mineração, o transporte dos produtos da exploração
depende, sobretudo, do investimento em ferrovias (já que 75% da carga transportada
por trens é de minério de ferro) e nos modais marítimos (que fazem o escoamento de
quase 95% dos produtos que o Brasil exporta). Mas são justamente os portos e as
ferrovias apontados como a primeira e a terceira maiores dificuldades de infraestrutura
na opinião de industriais, conforme pesquisa do Fórum Nacional da Indústria realizada
em 2012. O autor aponta ainda que os projetos como a Hidrovia Tapajós-Teles Pires,
a rodovia BR-163, a duplicação da estrada Carajás e as ferrovias norte-sul e leste-
oeste são apostas na melhoria do sistema de transporte que impactarão no custo final
dos minérios brasileiros, todos com impacto direto na Amazônia Oriental.
Figura 3- Quadro demonstrativo dos modais de transporte na Região da
Amazônia Oriental
Disponível em http://web.antaq.gov.br/ Portal/pdf/palestras/Mar0728 SeminariointenBrasilFlanders.pdf modificado pelo autor. Acessado em 15/03/2019
A figura acima, representa um extrato dos modais existentes na região dos
Estados do Maranhão, Pará e Amapá. Dele, pode-se extrair a existência de uma
malha rodoviária precária e pouco integrada. Uma malha ferroviária vocacionada para
o transporte do minério para os portos de Santarém (PA), Itaqui e São Luiz (MA), não
havendo interligação com outras ferrovias direcionadas às outras regiões ou a outras
atividades econômicas. Já o modal hidroviário, muito utilizado para o transporte local,
29
em função da amplitude das bacias existentes, ainda é pouco utilizado para o
atendimento de grandes demandas, como por exemplo, no transporte de minérios,
uma vez que possui maior capacidade de carga e o fator custo mais compensatório.
Por outro lado, as hidrovias configuram o principal eixo modal da região. A
Hidrovia do Amazonas na porção Norte e a Hidrovia do Tocantins, no sentido Sul Norte
são ainda pouco exploradas no contexto estratégico por não haver uma interligação
multimodal a altura de suas capacidades. A hidrovia do Tocantins, fruto da
proximidade das áreas de extração de minério de ferro e bauxita possui grande valor
capital e com grande potencial para a execução de logística militar.
Segundo Alex Oliva, superintendente de navegação interior da Agência
Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ, a Hidrovia do Tocantins terá uma
extensão de 3770 quilômetros. Atualmente, o principal óbice para sua otimização e
operação encontra-se próximo a cidade de Marabá-PA, na existência de um Pedral
(Lourenço), o qual impede a navegação no período de secas. (ANTAQ, 2007) 6. Na
expressão militar, a existência do Pedral inviabiliza a ligação fluvial entre Marabá
(sede da 23a Bda inf Sl) e Tucuruí (sede 23o Esquadrão de Cavalaria de Selva). A
possibilidade do estabelecimento desta hidrovia, permitirá o desenvolvimento da
logística do sudeste paraense, permitindo integração, desenvolvimento e ligações
comerciais entre os estados da federação.
4.3 A QUESTÃO ENERGÉTICA
A questão energética é um tema estratégico para qualquer nação. A energia
garante o desenvolvimento e a operação dos parques industriais do país, bem como
tem sido foco de questionamentos quanto a sustentabilidade da sua fonte. O Brasil
possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, contando em sua maioria
com a energia proveniente das hidrelétricas sejam elas nacionais ou binacionais.
Assim, são considerados, do ponto de vista militar, acidentes capitais de
defesa. Nesse ínterim, a Amazônia Oriental é protagonista no cenário nacional. Nela
estão instaladas hidrelétricas com grande capacidade de geração que distribuem de
forma integrada, energia para boa parte do país.
6 Disponível em <http://web.antaq.gov.br/Portal/pdf/palestras/Mar0728SeminarioIntenBrasilFlanders. pdf> acessado em 15/03/2019
30
A Região Amazônica, como um todo, está entre os cinco maiores potenciais
hidrelétricos do mundo. O País tem 12% da água doce superficial do planeta e
condições adequadas para exploração. O potencial hidrelétrico é estimado em cerca
de 260 GW, dos quais 40 % estão localizados nas bacias hidrográficas da Região
Amazônica.
Figura 4 – Quadro Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas.
Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_usinas_hidrelétricas_do_Brasil> Acessado em 01/06/2019 – adaptado pelo autor
O Exército, de forma estratégica, possui Organizações Militares debruçadas
sob as principais estruturas hidrelétricas da região da Amazônia Oriental. Em Tucuruí-
PA está desdobrado o 23º Esquadrão de Cavalaria de Selva; Em Imperatriz, próximo
a Estreito- MA, está o 50º Batalhão de Infantaria de Selva; Em Altamira-PA, encontra-
se o 51º Batalhão de Infantaria de Selva, sob o qual cabe a responsabilidade pela
Usina de Belo Monte (a maior em capacidade de geração Nacional). Cumpre assim,
a estratégia da presença e, em conjunto com as agências do ramo energético,
garantem seu funcionamento e o desenvolvimento regional.
10.905,40; 9% 1696,98; 2%
104.780,62; 89%
Potencial Hidrelétrico integrado ao SIN em MW
Planejada Em construção Potencial instalado
60%11%
29%
Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas
Outras bacias
Bacia dos rios Araguaia-Tocantins
Bacia do rio Amazonas
31
5. PRINCIPAIS ATORES E QUESTÕES PRESENTES NA AMAZÔNIA ORIENTAL
A título de ambientação, e do que podemos observa até aqui, a Amazônia
Oriental, apresenta grande complexidade, tanto na dimensão física, quanto na
psicossocial, destacando-se ainda, pela presença de diversas estruturas estratégicas
(usinas hidrelétricas, províncias minerais, ferrovias e hidrovias de grande extensão,
portos de águas profundas), além de atores governamentais, não governamentais,
questões indígenas, ambientais, políticas dentre outras tantas que tornam a região um
cenário de constante mutação geopolítica.
5.1 QUESTÃO INDÍGENA
As questões indígenas no Brasil são reguladas pelo Conselho Nacional de
Política Indigenista – CNPI, criado em 2016, a quem cabe a responsabilidade pela
elaboração, acompanhamento e implementação de políticas públicas voltadas aos
povos indígenas, definindo prioridades e critérios para sua formulação. (FUNAI, 2019).
A população indígena em todo o Brasil definida pelo Censo Demográfico 2010
com base nas pessoas que se declararam indígenas no quesito cor ou raça e para os
residentes em Terras Indígenas que não se declararam, mas se consideraram
indígenas revelou que, das 896 mil pessoas que se declaravam ou se consideravam
indígenas, apenas 517 mil, ou 57,5 %, moravam em Terras Indígenas oficialmente
reconhecidas.
No que tange ao conceito de reserva indígena, segundo a Lei 6001/73 –
Estatuto do Índio e Decreto nº 1775/96: A União poderá estabelecer, em qualquer parte do território nacional, áreas destinadas a posse e ocupação pelos povos indígenas, onde possam viver e obter meios de subsistência, com direito ao usufruto e utilização das riquezas naturais, garantindo-se as condições de sua reprodução física e cultural.
A foto a seguir retrata a situação das terras indígenas na Amazônia Oriental.
As áreas amarelas representam as terras indígenas regularizadas; as em vermelho,
as homologadas; as em verde, as delimitadas; e as riscadas, são aquelas na condição
de declaradas. Em conjunto, representam cerca de 25% de toda área, para uma
população indígena de cerca de pouco mais de 200 mil índios declarados. (FUNAI,
2019)
32
Figura 5- Distribuição das Terras Indígenas na Amazônia Oriental
Disponível em <http://www.funai.gov.br/index.php/servicos/geoprocessamento. Recorte realizado pelo autor. Acesso em 20/03/2019
Do acima exposto, a questão indígena surge como um ator desestabilizador.
As áreas ocupadas, ou a eles atribuídas são disputadas por outros atores:
fazendeiros, garimpeiros, madeireiros. Os silvícolas argumentam lentidão no processo
de demarcação e a ineficiência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para defender
seu direito de exploração de suas terras, o que aumenta a tensão e o número de
conflitos. Os demais atores questionam as grandes áreas propostas (verdadeiros
latifúndios dedicados a uma população pequena), próximo ou sobre grandes reservas
minerais já levantadas.
Os governos nas últimas décadas, pressionados por pressões internacionais
de preservação da cultura indígena, iniciaram uma série de levantamentos e
homologações de terras indígenas por todo o Brasil, com destaque para a Região
Amazônica, têm gerado focos de tensão entre os vários seguimentos da sociedade
envolvidos e as instituições reguladoras do Estado.
A figura abaixo, concatena a interposição destes interesses e infere a
complexidade das relações existentes entre: a questão da mineração, a questão
indígena e a preservação das Unidades de Conservação.
33
Figura 6 - Focos de Tensão na Amazônia Oriental
Disponível em <http://www.funai.gov.br/index.php/servicos/geoprocessamento. Recorte realizado pelo autor. Acesso em 20/04/2019
Nesta conjuntura, o Exército tem sido reivindicado pelo Estado para cumprir
ações subsidiárias e ou compor forças tarefas interagências para administração dos
mesmos, o que implica no contínuo acompanhamento de inteligência e adequação
das operações militares para atuar neste cenário.
O desafio está relacionado à conscientização do índio para com o seu papel na
proteção dos recursos naturais existentes no interior de suas reservas, tornando-os
vetores do sistema de informação, voltados para dar o alerta quanto as atividades
ilegais que possam vir a ocorrer. Um outro ponto, de igual relevância, está em torna-
los imunes a ofertas capciosas de pessoas, organizações nacionais ou internacionais,
que em troca de favorecimentos, passam a explorar riquezas com o consentimento
dos nativos.
Assim, o Exército como Instituição Nacional, estimula a integração do índio em
suas fileiras, incorporando indígenas em seus quadros militares, os quais são
respeitados e aproveitados pelas suas habilidades e conhecimentos culturais. Um
outro ponto é a possibilidade do aproveitamento de serviços básicos, muitas das
vezes só ofertados pelas OM próximas às reservas, como saúde, educação, etc. Essa
aproximação estabelece vínculos de confiança mútua e contribui para o
desenvolvimento do sentimento de nacionalidade e pertencimento a sociedade
34
brasileira necessários para impedir a ação dolosa de terceiros que visam apenas o
acesso as suas riquezas naturais.
5.2 QUESTÃO DO GARIMPO NA AMAZÔNIA ORIENTAL
A questão do garimpo na Amazônia iniciou no final dos anos 70 do século
passado, patrocinado pelos governos militares (criação das Reservas Garimpeiras na
Amazônia), promovendo, assim, a migração de trabalhadores para o local, de forma
a “pagar a dívida externa”, aumentar reservas monetárias até então consumidas pelo
aumento do preço do petróleo, bem como interiorizar e ocupar a Região Amazônica.
Um dos garimpos mais famosos foi o de Serra Pelada, sendo a região do Pará e
Amapá as de melhores prospecções. (SILVA A, 1994)
Após anos de garimpagem e o término do ouro de aluvião, bem como a
proibição de extração utilizando-se de maquinário no Governo COLLOR (fruto do
alinhamento de percepções ambientais - ECO 92), muitos dos garimpos foram
abandonados, gerando um entorno de problemas sociais e impactos ambientais.
O impacto social tem potencial ainda mais destrutivo, uma vez que após
iniciado o garimpo (descoberta, ondas de imigração e relativa prosperidade
econômica), segue-se a exaustão do recurso mineral (material secundário),
emigração e decadência econômica regional. (SILVA A, 1994)
Figura 7- Garimpos de ouro na Amazônia na década de 90
Disponível em <http://mineralis.cetem.gov.br:8080/bitstream/cetem/1233/1/extracao-
ouro%20cap.11.pdf> Acessado em 20/03/2019
35
Fruto deste ciclo envolvendo as questões sociais e ilegais da atividades, o
garimpo se tornou uma questão de relevância para o Exército por potencializar outras
questões que implicam na sua missão constitucional e subsidiária já abordadas nesse
trabalho (LC 97 e 136)7, principalmente na região do Amapá (incluída na faixa de
fronteira). Um outro ponto a se destacar, é a coincidência ou proximidade com terras
indígenas, o que potencializa conflitos de interesses diversos e os ilícitos diretos e
indiretos provenientes da atividade garimpeira (contrabando, descaminho, crimes
ambientais).
5.3 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA ORIENTAL
Os movimentos sociais na Amazônia possuem raízes históricas ligadas à terra
e a religião. Do ponto de vista histórico, remete a política de interiorização adotada
pelos governos militares (obras de infraestrutura e projetos de colonização),
exemplificados pelo o anúncio da Operação Amazônia (1965), criação da
Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM, 1966) e no período
de 1969-1974, quando foi lançado o Plano de Integração Nacional (PIN), tendo a
Rodovia Transamazônica uma de suas pautas.
Nesse contexto, milhares de trabalhadores foram atraídos para a região em
função da expectativa de progresso e oportunidades, correlacionando a terra ao seu
sustento e tendo como intermediador estatal o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA). (LACERDA, 2013)
Com a perda da impulsão das ações do INCRA nas décadas de 70 e 80, e o
aumento das tensões entre grandes proprietários de terra, governo e desassistidos
pelos programas de governo referentes à terra, mineração e outras atividades sócio
econômicas, foi estimulado um processo de sindicalização e reuniões de lideranças
apoiadas por movimentos religiosos ligados `a Igreja Católica. O reconhecimento
desses movimentos como sendo de cunho social passou a ser legitimado na
Constituição de 1988. (LACERDA, 2013).
7 LC 97, de 9/06/1999, atribuiu por intermédio do seu Art. 15, dentre outras missões, o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, por iniciativa dos poderes constitucionais e por ato do Presidente da República, após esgotada as capacidades dos meios de segurança pública. Em 25/08/2010, a LC 136, por intermédio do seu Art 16-A, foi estabelecida atribuição subsidiária de poder de polícia para atuar na Faixa de Fronteira face a delitos transfronteiriços e ambientais.
36
A partir de 1990, algumas organizações (especialmente as da Amazônia) se
fortaleceram com relativa profusão de recursos e financiamentos internacionais, fruto
de acordos bilaterais obtidos no contexto da ECO-928, os quais recebiam recursos e
oriundos de diálogos internacionais. A partir de 2003, o fluxo de financiamentos se
reverteria, passando o governo brasileiro a funcionar como maior fonte de proventos
dos movimentos sociais. O Estado abandonou a condição de repressor das
mobilizações, para assumir papel de financiador de movimentos como Movimentos
dos Sem Terra (MST), Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB), dentre outros.
(LACERDA, 2013)
Neste contexto, os movimentos sociais passaram a ter conotação política e
figurar como currais eleitorais de políticos e partidos e elementos de manobra para
atingir objetivos políticos. Alguns mais organizados (MST) passaram a se armar para
seguidos enfrentamentos com a segurança de fazendeiros (como ocorrido em
Eldorado do Carajás, 1996), participação em bloqueios de estrada, depredação de
patrimônio público e outros crimes.
Um outro movimento de destaque na região da Amazônia Oriental é o
Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), atuante a mais de três décadas na
região de Tucuruí-PA e Altamira-PA (Belo Monte). Com narrativas embasadas em
indenizações devidas e não recebidas, promovem invasões nas Hidrelétricas,
articulam-se para manobras políticas e possuem histórico de enfrentamento com as
Forças de Segurança Pública.
Apesar destes eventos estarem direcionados a ações de segurança pública, o
histórico de emprego do Exército em operações de Garantia da Lei e da Ordem
constrói um ambiente de expectativa. Assim, cresce de importância o
acompanhamento por meio de atividades de inteligência para emprego em atividades
de Garantia da Lei e da Ordem, a presença militar e o adestramento de tropas voltadas
para a preservação de estruturas estratégicas (Invasão do Centro de Operações da
Usina Hidrelétrica de Tucuruí pelo MAB em 2010) e outras ações voltadas para
interoperabilidade dos órgãos de segurança pública.
8 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92, foi uma conferência de chefes de estado organizada pelas Nações Unidas e realizada de 3 a 14 de junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Seu objetivo foi debater os problemas ambientais mundiais.
37
5.4 QUESTÃO AMBIENTAL
A questão ambiental a partir das décadas de 1960 e 1970 ganhou retórica
mundial, voltada para conscientização da necessidade de preservação através da
elaboração de políticas específicas. O marco temporal no Brasil é a criação da
Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 1973, em função da Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em
1972. Ambos eventos deram reconhecimento político à questão ambiental.
(FRANCHI, 2013)
O relatório “Os Limites do Crescimento”, elaborado pelo Massachussetts
Instutute of Technology (MIT), por encomenda do Clube de Roma9, e sucessivas
declarações de chefes de estado, como presidente Francês François Mitterrand, em
que “ O Brasil deve aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia” e Nixon,
presidente dos EUA, o qual defendia a criação de um sistema que garantisse os
recursos naturais não renováveis para a humanidade, demonstram com clareza a
importância e relevância da questão ambiental, principalmente em função das
riquezas ambientais ainda não exploradas.
Em resposta a essas declarações, o tema ganhou novo enfoque na PND. Em
seu texto, não só reconhece a ambição internacional sobre a Amazônia, como projeta
sua intenção de usufruir dos recursos para sua integração e desenvolvimento,
utilizando-se de suas Forças Armadas como principal agente do Estado
correlacionado para esse fim: 3.4. A questão ambiental permanece como uma das preocupações da humanidade. Países detentores de grande biodiversidade, enormes reservas de recursos naturais e imensas áreas para serem incorporadas ao sistema produtivo podem tornar-se objeto de interesse internacional. (…) 5.4.A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de riquezas minerais e de biodiversidade, é foco da atenção internacional. A garantia da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira são dificultadas, entre outros fatores, pela baixa densidade demográfica e pelas longas distâncias. A vivificação das fronteiras, a proteção do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais são aspectos essenciais para o desenvolvimento e a integração da região. O adensamento da presença do Estado, e em
9 O Clube de Roma foi um grupo de pessoas ilustres que se reuniram para debater assuntos relacionados a política, economia internacional e , sobretudo, ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Tornou-se muito conhecido a partir de 1972, ano da publicação do relatório intitulado Os Limites do Crescimento, o qual relatava a necessidade preservação do meio ambiente para não comprometer as gerações futuras.
38
particular das Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras é condição relevante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. (PND, 2016)
Desde então, houve uma intensificação da preocupação ambiental aplicada às
Organizações Militares, nos campos de instrução e em decorrência dos exercícios de
adestramento. No plano externo, as operações interagências com o IBAMA e Instituto
Chico Mendes (ICMBIO) passaram a ser rotineiras na Amazônia Oriental face ao
avanço de madeireiros em áreas de proteção ambiental (Pará) e de biopirataria na
região do Amapá.
Assim, em 2017, o Ministério da Defesa lançou o Livro Verde de Defesa, com
o tema: "Defesa & Meio Ambiente – Preparo com Sustentabilidade". A publicação tem
o objetivo de divulgar e difundir as boas práticas de gestão ambiental adotadas pelas
Forças Armadas no interior das Organizações Militares e durante suas operações. As
orientações baseiam-se no cumprimento das atuais Leis Ambientais, dentre as quais
destacam-se: a promoção da educação ambiental para manutenção do equilíbrio
ecológico; preservação dos biomas inseridos em suas áreas patrimoniais;
implementação de energias sustentáveis; tratamento e destinação correta para
resíduos não degradáveis;
39
6. ESTRUTURA, PROJETOS E AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL
Segundo Gonçalves (2016), apesar das teorias geopolíticas favorecerem a
atenção para a Região Amazônica, as políticas brasileiras a colocaram na pauta
somente a partir da segunda metade do século XX (período coincidente com os
governos militares).
O Exército acompanhou essa letargia e só a partir de então, definiu estratégias
de ocupação e defesa da área, com a instalação do Comando Militar da Amazônia,
sediado em Belém (1956) e posteriormente transferido para Manaus (1969),
mostrando com a instalação de um grande comando, a mudança do pensamento
militar e da estratégia de projeção de poder.
6.1 O HISTÓRICO DA FORÇA MILITAR TERRESTRE NA AMAZÔNIA ORIENTAL
O Exército na Região Amazônica possui raízes históricas antigas. O Comando
Militar da Amazônia, criado na década de 50 do século passado e oriundo da 8a Região
Militar (1821) foi por muito tempo o Grande Comando enquadrante da Força Terrestre
na região.
Em 1984, o Exército criou o Sistema de Planejamento do Exército – SIPLEX, o
qual previa sua reestruturação por meio de Forças Tarefas (FT). A primeira delas foi
a FT 90, pela qual ocorreu um aumento significativo de efetivos e de unidades
militares, priorizando a região da Amazônia, a qual passou de 2 brigadas na década
de 80, para 5 brigadas na década de 90. Neste mesmo período, foi implantado no
Governo Sarney, o Programa Calha Norte, o qual tinha como premissa fortalecer a
presença nacional ao longo da fronteira amazônica, tida como ponto vulnerável do
território nacional, sendo instalados diversos Pelotões de Fronteira.
Os anos 2000, foram marcados pela implementação do Sistema de
monitoramento de Fronteiras - SISFRON, concebido por iniciativa do Comando do
Exército, em decorrência da aprovação da Estratégia Nacional de Defesa.
Já nessa última década, observadas as peculiaridades e diferenças
geopolíticas da Amazônia Oriental em contraponto com a Amazônia Ocidental houve
a divisão do CMA em dois comandos. Com a publicação do Decreto no 6.703, de
2008, que trata da Estratégia Nacional de Defesa (END), e seguindo seus
pressupostos de adensamento das forças no interior da Amazônia Oriental, o EB
40
criou, em 2013, o Comando Militar do Norte (CMN), com sede na foz do Amazonas,
na estratégica cidade de Belém, o que representou o reconhecimento da importância
de uma área cuja defesa e desenvolvimento são vitais para o fortalecimento nacional.
(GONÇALVES, 2016).
6.2 A ATUAL ESTRUTURA DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL
A estrutura militar na Amazônia Oriental, a partir de 2013, adquiriu uma cadeia
de comando própria, desvinculando-se do Comando Militar da Amazônia. Ao
Comando Militar do Norte foi atribuída a responsabilidade operacional, utilizando-se
da calda logística já existente e administrada pela 8ª Região Militar.
Figura 8 - Estrutura do Comando Militar do Norte
Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Northern_Military_Command_(Brazil), adaptado pelo autor. Acesso em 01/06/2019.
Sob a orientação do PEEx10 (2016-19), e seguindo a estratégia de Ampliação
da Capacidade Operacional da Força Terrestre, foi inaugurada em 2017, a 22ª Brigada
10 PEEx: Plano Estratégico do Exército 2016-2019. Possui como missão: Contribuir para a garantia da soberania nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses nacionais e cooperando com o desenvolvimento nacional e o bem-estar social. Para isto, preparar a Força Terrestre, mantendo-a em permanente estado de prontidão.
71
FRIEDMAN, George. The Geopolitics of Brazil: an emergent power struggles with geography. STRATFOR. Austin, 2012. Disponível em http://www.stratfor.com/sample/analysis/geopolitics-brazil-emergent-powers-struggle-geography. GÓES. Sinésio Sampaio. Navegantes, Bandeirantes e Diplomatas: aspectos da descoberta do continente, da penetração do território brasileiro extra-Tordesilhas e do estabelecimento das fronteiras da Amazônia. Brasília: IPRI. 1991. 200pHOLANDA, Sérgio Buarque. Visões do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: Folha de São Paulo. Série Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. 1999. 452p;JONES, Steven L. What is a fifth generation fighter aircraft. In The Conversation. Disponível em http://phys.org/pdf318069212.pdf. Último acesso em 21/02/15.MAGNOLI. Demétrio. O Corpo da Pátria: imaginação geográfica e política externa do Brasil (1808-1912). São Paulo: EditoraModerna/UNESP. 1997. 318p;MURRAY, Williamson; SINNREICH, Richard Hart; LACEY, James (Ed.). The shaping of grand strategy: policy, diplomacy, and war. Cambridge: Cambridge University Press, 2011. 294p;PAIVA, Luis Eduardo Rocha Paiva. O jogo de poder na faixa atlântica do Entorno Estratégico Nacional e seus reflexos para a Defesa e a Projeção do Brasil. 2013. 61p;TOSTA. Teorias Geopolíticas. Rio de Janeiro: BIBLIEX.1984. 103p
NOTAS[1] Para mais detalhes sugere-se MAGNOLI, Demétrio. O CORPO DA PÁTRIA: Imaginação Geográfica e Política Externa no Brasil (1808-1912) e HOLANDA, Sérgio Buarque de. VISÃO DO PARAÍSO: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil.[2] Termo geográfico usado por Halford Mackinder que se refere à área interior, ou central, de determinado território.[3] À exceção de Barcelos, que é sede de Batalhão de infantaria, todas as cidades citadas sediam brigadas (conjuntos de unidades de armas combinadas comandadas por oficial-genera l).[4] Os caças de 5ª geração são os que devem conter todas as seguintes tecnologias: empuxo vetorial, tecnologia furtiva (stealth), uso de materiais compósitos, supercruzeiro (obtenção de velocidades supersônicas sem uso de pós-combustores, radares e sensores avançados, aviônica integrada para melhorar a consciência situacional do piloto (JONES, 2014, p.2). [5] De acordo com o Decreto nº 8.635, de 12 de janeiro de 2016, o CMN tem jurisdição sobre os Estados do Pará, do Amapá e do Maranhão e a área do Bico do Papagaio, que compreende os municípios de Wanderlândia, Babaçulândia e Xambioá, todos pertencentes ao Estado do Tocantins.
[5]
41
de Infantaria de Selva, em Macapá, tendo como responsabilidades guarnecer as
fronteiras com a Guiana, a Guiana Francesa e o Suriname, e reforçar a presença
militar e capacidade operacional nos estados do Amapá, Norte do Pará e Maranhão.
Cabe ressaltar a existência do Pelotão Especial de Fronteira em Tiriós na
fronteira norte do estado do Pará e da Companhia de Elementos de Fronteira situada
em Clevelândia do Norte (Amapá). Estas Unidades destacadas, reforçam a estratégia
da presença nas fronteiras, promovem o desenvolvimento local, e funcionam como
vetores de dissuasão repelindo delitos transfronteiriços.
Neste contexto, é mister destacar que parte da área de responsabilidade da 22ª
Bda Inf Sl está vocacionada para a proteção da Faixa de Fronteira (150 km do limite
transfronteiriço), o que lhe enquadra no artigo 16-A da Lei Complementar 13611,
competindo-lhe poder de polícia contra crimes transfronteiriços e ambientais: “Art. 16-A. Cabe às Forças Armadas, além de outras ações pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas as competências exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, executando, dentre outras, as ações de: I - patrulhamento; II - revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves; e III - prisões em flagrante delito.
Já a 23ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Marabá, está alinhada
com a estratégia de aumento da capacidade de pronta resposta da Força Terrestre,
sendo transformada em Força de Emprego Estratégico, devendo reunir capacidades
para atuar em todo o território nacional, com prioridade para a Região Amazônica. Tal
condição reforça a concepção da estratégia militar voltada para a Amazônia Oriental
uma vez que essa situação lhe garante prioridade de recompletamento e
investimentos na modernização de seus materiais de emprego militar.
Possui uma estrutura quaternária, composta por quatro Batalhões de Infantaria,
sendo o 52º BIS unidade Força de Ação Rápida do Comando Militar do Norte. Possui
ainda, um Esquadrão de Cavalaria de Selva, além de toda a estrutura de comando,
controle e logística de uma brigada. O posicionamento estratégico das suas OM
particulariza a responsabilidade da 23ª Bda Inf Sl com as grandes estruturas
11 LC 136, de 25 de agosto de 2010. Altera a Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999, que “dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas”
42
estratégicas regionais: Usinas Hidrelétricas de Tucuruí, Estreito e Belo Monte;
Complexo Mineral de Carajás e Oriximiná; Rodovias 163 e 230 (Transamazônica);
Estrada de Ferro Carajás, etc.
Assim, se em um primeiro momento da história, a 23ª Bda Inf Sl tinha uma
concepção de presença e desenvolvimento regional voltado para interiorização do
Brasil junto a rodovia Transamazônica, verifica-se atualmente, uma vocação
prioritariamente dissuasória, com tropas capazes de atuar no ambiente operacional
de selva e, principalmente, concentrar, em curto espaço de tempo, um contingente
apto a atuar em qualquer área do território brasileiro.
Por fim, é mister destacar ainda, o papel do 8º Batalhão de Engenharia de
Construção, sediado em Santarém-PA, que a despeito de não estar vinculado ao
CMN, desenvolve ações na região, destacando-se atualmente pelas obras de
asfaltamento da BR-163 nas proximidades de Novo Progresso e Moraes de Almeida,
dentre outros serviços prestados como restauração de pontes e obras de mobilidade
na área da Amazônia Oriental.
6.3 OS PROJETOS e AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL
A Política Nacional de Defesa (PND/2016), em seu texto introdutório, atribui a
necessidade da nação conhecer, integrar e explorar suas riquezas, em especial as
existentes na Região Amazônica. Como já descrito no corpo deste estudo, a enorme
extensão territorial, a baixa densidade demográfica, as dificuldades relacionadas com
a logística, as questões sociais e indígenas acabam configurando-se óbices à
promoção da integração da região amazônica brasileira, bem como dificultando a
defesa do uso sustentável dos recursos ambientais, respeitando assim, a soberania
do país.
Dessa forma, as Forças Armadas procuram alinhamento com a PND e END,
na forma de manterem adequado preparo, doutrina e meios bem como desenvolver
as capacidades de proteção, dissuasão, pronta-resposta, coordenação e controle e
mobilidade estratégica. De uma forma bem pontual acerca da Região Amazônica, a
END orienta as FA a buscar a compatibilização com a Estratégia da Presença.
Partindo dessas premissas, o Exército tem procurado implementar ações e
projetos voltados para cumprir sua missão constitucional, bem como apoiar o
desenvolvimento local por meio de atividades subsidiárias.
43
6.3.1 O Projeto PROTEGER O Projeto PROTEGER foi concebido para desenvolver no Exército a
capacidade de proteção das estruturas estratégicas do território nacional, em
cooperação com outras agências, visando garantir a continuidade de serviços
especiais. Está integrado ao Sistema de Coordenação de Operações Terrestres
(Projeto SISCOT12) e pelo Projeto de Proteção Integrada13.
Figura 9 - Estruturas Estratégicas terrestres
Fonte: Revista Verde Oliva, Ago 2013.
No âmbito do Comando Militar do Norte, a guarnição de Belém estruturou um
Centro de Coordenação de Operações e recebeu um Centro de Coordenação de
Operações móvel, o qual fica destacado na Guarnição de Marabá (sede da 23ª Bda
Inf Sl, aos cuidados da 23ª Cia Com Sl), permitindo ligações de comando e obtenção,
em tempo real, da consciência situacional necessárias a tomada de decisão para
melhor emprego dos meios necessários a proteção das estruturas estratégicas.
Neste contexto, é mister destacar o papel da 23ª Bda Inf Sl na proteção de
estruturas estratégicas por meio de suas peças de manobra: Hidrelétrica de Tucuruí
(23º Esq C Sl); Hidrelétrica de Belo Monte (51º BIS); Hidrelétrica de Estreito – (50º
12 SISCOT: contemplam Centros de Coordenação de Operações (CCOp), fixos e móveis e o desenvolvimento de um software, denominado INTEGRADOR, que permitirá a integração dos diversos sistemas empregados no planejamento e coordenação de operações, destinados a ampliar a capacidade de planejamento, comando, controle e coordenação da Força Terrestre. 13 Disponível em: http://www.epex.eb.mil.br/index.php/proteger, acesso em 04/06/2019
44
BIS); BR-163 e Porto de Santarém (53º BIS); Complexo mineral de Carajás e Estrada
de Ferro Carajás (52º BIS). Cumpre ressaltar o emprego em missões subsidiárias
voltadas para calamidades sazonais como enchentes (apoio as populações atingidas),
combate a incêndios (em conjunto com as agências envolvidas), dentre outros.
6.3.2 O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras – SISFRON Trata-se de sistema de sensoriamento e de apoio à decisão em apoio ao
emprego operacional, atuando de forma integrada, cujo propósito é fortalecer a
presença e a capacidade de monitoramento e de ação do Estado na faixa de fronteira
terrestre14. Por meio de controle e atuação nas fronteiras terrestres, contribui para a
inviolabilidade do território nacional, redução dos problemas advindos da região
fronteiriça e fortalecimento da interoperabilidade, das operações interagências e da
cooperação regional.
O SISFRON permite integrar um coletivo de outros sistemas, formando uma
rede de subsistemas voltados a retroalimentação, segurança de dados e atuação,
quais sejam: sensoriamento (radares, sensores óticos e sinais eletromagnéticos);
apoio a decisão (CCOp); tecnologia da informação e comunicações (TIC); segurança
de informações e comunicações e defesa cibernética; simulação e capacitação;
logística; atuadores; monitoramento de fronteiras; centros regionais de integração.
Figura 10 - Subsistemas do SISFRON
Fonte: Revista Verde Oliva, Ago 2013
14 Disponível em: http://www.epex.eb.mil.br/index.php/sisfron, acesso em 04/06/2019
45
Como já relatado neste trabalho, a 22ª Bda Inf Sl, por meio do CFAP/34º BIS e
do PEF de TIRIÓS, a este subordinado, integra os diversos subsistemas supracitados,
com ênfase no monitoramento, produção de informações e atuação em ações de
defesa ou contra delitos transfronteiriços e ambientais na faixa de fronteira com
Guiana Francesa, Suriname e Guiana.
Assim, verifica-se que o SISFRON, além dos benefícios voltados para o
fomento da Base Industrial de Defesa e capacitação de recursos humanos, visa
proporcionar um aumento da segurança (tanto informacional, cibernética e de
inteligência), contribuir com a preservação ambiental (por meio do sensoriamento),
proteger a biodiversidade (evitando a biopirataria e a caça indiscriminada e predatória)
e colaborar com as populações indígenas (promovendo acesso a benefícios básicos
como saúde e educação), bem como de forma indireta garante uma maior integração
e melhoria da qualidade de vida da população local.
6.3.3 Programa Calha Norte
O Programa Calha Norte (PCN) foi criado em 1985, durante os governos
militares, fruto de uma análise geopolítica voltada para reagir à cobiça internacional
sobre as reservas minerais da Amazônia. Desde 1999 sob a coordenação do
Ministério da Defesa, o PCN promovido a ocupação e o desenvolvimento ordenado e
sustentável da região amazônica, abrangendo aproximadamente 390 municípios
distribuídos em oito estados.15.
Possui duas vertentes: uma civil e outra militar. A vertente civil do programa
atua na promoção do desenvolvimento regional, com a construção de estradas,
escolas, hospitais, portos, a implantação de rede elétrica urbana e rural, entre outros.
A vertente militar desempenha ações em prol do desenvolvimento sustentável
regional, ajustamento das unidades militares e da infraestrutura dos pelotões
especiais de fronteira, e manutenção da soberania e a integridade territorial nacional.
Sua concepção está alinhada com a END, voltada para o aumento da presença
do Exército na Amazônia. Assim, o Pelotão Especial de Fronteira de TIRIÓS foi
construído e mobiliado com recursos do PCN. Uma outra OM beneficiária do programa
é o CFAP/34º BIS por meio da Companhia de Elementos de Fronteira de Clevelândia
15 Disponível em: <https://www.defesa.gov.br/programas-sociais/programa-calha-norte>, acesso em 01/06/2019
46
(AP). Estes recursos têm grande relevância uma vez que viabilizam a aquisição de
materiais de emprego militar como embarcações, motores, combustíveis e outros
equipamentos utilizados no adestramento e Operações de Emprego: patrulhamento
de rios, reconhecimentos de fronteira e outras atividades militares voltadas a cumprir
as tarefas delimitadas pela LC 136.
6.3.4 Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM)
O CENSIPAM, foi criado em 2002 com objetivo de promover a proteção,
inclusão social e o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal, cujas ações
estão alinhadas, prioritariamente, na produção de inteligência tecnológica
(sensoriamento remoto), comunicações e técnicas avançadas de análise de dados. O
centro contempla, além das FA, de forma sinérgica e articulada, outros órgãos da
Administração Pública, como Polícia Federal, FUNAI, IBAMA, ABIN, ICMBio, entre
outros.
Alinhado com a END, em 2008, foi incluído o Sistema de Cartografia da
Amazônia, responsável por desencadear uma coleta sistemática de dados voltados
para o mapeamento econômico (recursos minerais, possibilidades de agronegócio),
ecológico (impactos ambientais; fauna e flora) e questões envolvendo a segurança de
fronteiras. Esta ferramenta dá suporte ao planejamento e amplifica a consciência
situacional necessária para a execução de operações militares voltadas para a
proteção dos recursos naturais.
Na região da Amazônia Oriental, está instalado o Centro Regional de Belém,
com responsabilidades de monitoramento dos Estados do Amapá, Pará, Tocantins e
a parcela do Maranhão. A coincidência no local da sede e na área de responsabilidade
favorece ao Comando Militar do Norte, a interoperabilidade, integração e sincronismo
das ações desencadeadas pelas FA, polícias e agências ambientais, dentre outros
usuários do sistema.
Esta integração pode ser ilustrada pelo desencadeamento das Operações
Ágata, na fronteira terrestre brasileira. Essas operações envolvem a participação de
12 ministérios e 20 agências governamentais16. Como parâmetro, entre 2011 e 2016,
16 https://www.defesa.gov.br/exercicios-e-operacoes/operacoes-conjuntas-1/operacao-agata, acessado em 05/05/2019
47
durante as operações de proteção ambiental em conjunto com o IBAMA e o ICMBio
ocorreram aproximadamente 287 inspeções17 .
As Operações Ágata integram o Plano Estratégico de Fronteiras (PEF) do
Governo Federal, criado para prevenir e reprimir a ação de criminosos na divisa do
Brasil com dez países sul-americanos. Assim, estão eixadas com a área de
responsabilidade da 22ª Brigada de Infantaria de Selva na faixa de fronteira, com a
realização de atividades tipo polícia no combate a delitos transfronteiriços e
ambientais.
6.3.5 Sistema de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro (SiGAEB) O tema de Gestão Ambiental é atual e tem sido explorado nacionalmente e
internacionalmente. O “Selo Verde” tem sido uma certificação almejada por muitas
organizações, agregando valor aos produtos e promovendo o prestígio de Instituições
e empresas que desenvolveram capacidades de produção dentro do conceito de
sustentabilidade. A ratificação de tratados internacionais pelo Brasil, no contexto da
Política Externa, relacionados a proteção ambiental, reforça a necessidade das
Organizações promoverem ações voltadas para essa nova conjuntura.
Alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa, o Exército por meio do seu
Plano Estratégico, no escopo do OEE número três que prevê a contribuição da Força
com o Desenvolvimento Sustentável e a Paz Social, definiu como ação estratégica,
promover o aperfeiçoamento do controle ambiental nas atividades militares. O
SiGAEB, criado por meio da Portaria nº55, de 31 de agosto de 2018, é a ferramenta
desenvolvida pela Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente (DPIMA), que
tem por missão promover a padronização das ações a serem desencadeadas pelas
Organizações Militares.
Inicialmente, as OM foram avaliadas segundo um “check list” constante de
quesitos ambientais, voltados a dimensionar e qualificar as demandas, dando suporte
a montagem de estratégias e quantificação de recursos necessários a pô-las em
prática (esta avaliação é anual e deve ser validada). Em uma segunda fase, estão
ocorrendo estágios de capacitação de profissionais no âmbito das OM (na modalidade
a distância) para atuarem como conformadores ambientais e assessores técnicos de
17 Dados de 2015
48
gestão ambiental. Desta forma, boas práticas têm sido observadas, consolidadas e
divulgadas pelo canal técnico e de comando18.
Como parte do Sistema, as Organizações Militares estão se adequando as
legislações vigentes, formulando seus Planos de Gestão Ambiental anualmente
atualizado após o diagnóstico ambiental realizado por meio de inspeções do escalão
superior. Dentro deste escopo, diversos programas têm sido implementados com a
finalidades de preservação ambiental, dos quais destacam-se: destinação correta de
resíduos, preservação de campos de instrução, recuperação de áreas degradadas,
implementação de fontes de energia limpa em substituição aos geradores movidos a
combustíveis fósseis, remoção de tanques subterrâneos, dentre outros.
Assim, o esforço do Exército está eixado com a modernização da Força,
substituição de procedimentos obsoletos, criação de uma mentalidade institucional de
proteção ambiental e de execução das atividades militares dentro do conceito de
sustentabilidade. Estas ações não só promovem uma melhoria na qualidade do
trabalho dentro das Organizações Militares, como contribuem na preservação dos
solos, dos afluentes e dos biomas que circundam as áreas sob administração militar.
18 Disponível em https://pt.calameo.com/read/00123820656f37b599c10, acessado em 05/05/2019
49
7. CONCLUSÃO
Em torno de todo o escopo deste trabalho, pode-se constatar a dimensão da
região oriental da Amazônia, seus fatores de força e fraqueza, e principalmente, o seu
imensurável potencial de contribuição para o desenvolvimento sustentável regional,
bem como de sua capacidade para maximizar o desenvolvimento nacional por meio
da exploração de suas riquezas, potencial mineral e energético. Pretende-se
concatenar argumentos que sustentem a solução do questionamento deste trabalho:
qual a atual contribuição do Exército Brasileiro, a partir de 1964, para as questões de
proteção e defesa dos recursos naturais na Amazônia Oriental?
Em função de sua importância estratégica e geopolítica da região, o Brasil
reconheceu a necessidade de integrar a região Norte ao restante do país, delegando
as Forças Armadas essa incumbência. Assim, a partir de meados da década de 50
do século passado, o Exército atribuiu grande prioridade à região, estabelecendo a
sede do CMA na cidade de Belém e meia década depois, a ativação do CMN. A
elevação da 23ª Bda Inf Sl como Força Estratégica do Exército (2011) e a implantação
da 22ª Bda Inf Sl (2016) na cidade de Macapá, corroboram ainda mais com a
percepção de relevância e importância da região no contexto de defesa e
desenvolvimento nacional.
Em síntese, verifica-se que o Exército Brasileiro tem contribuído de forma
transversal, no processo de desenvolvimento e integração da região, sem
comprometer sua missão precípua de defesa da pátria, garantia dos poderes
constitucionais, da lei e da ordem. Sua capacidade, capilaridade e amplitude de
atuação como instituição de Estado, estabelecem ligações que perpassam todos os
campos do poder.
No campo político é notório que a Amazônia Oriental engloba uma porção
territorial que perpassa limites de estados federativos do Brasil e até mesmo de outros
Estados Nação. Assim, o conflito de interesses políticos divergentes entre Estados,
partidos políticos e famílias tradicionais acabam dividindo os esforços necessários a
maior integração da região N aos demais centros de desenvolvimento e consumo do
país. Nesse sentido, o desdobramento do Grande Comando (Comando Militar do
Norte) e das Grandes Unidades (22ª Bda Inf Sl e 23ª Bda Inf Sl) militares distribuídas
50
próximas aos centros políticos, têm contribuído para atenuar distorções, acompanhar
seus desdobramentos, reforçar a integração e realizar a troca de percepções voltadas
para os assuntos de defesa junto ao alto escalão político estatal.
A insuficiência da malha viária associada a precariedade das existentes e a
falta de integração dos modais ferroviário e hidroviário, potencializam o isolamento
político e econômico da região e impactam diretamente no custo de produção e por
consequência no seu desenvolvimento. Nesse contexto, a despeito de não estar
subordinado ao CMN, a atuação do 8º Batalhão de Engenharia do Exército tem
contribuído para minimizar esses efeitos e facilitar essa integração.
O asfaltamento da BR-163 e sua ligação ao nó modal a ser estabelecido com
a hidrovia do Tocantins na cidade de Marabá-PA, materializam o uso das capacidades
do Exército na operacionalização da estratégia nacional de integração da região Norte
as demais regiões. É mister destacar que, em um país de dimensões continentais, a
melhoria e integração das estruturas estratégicas refletem diretamente na
manutenção da capacidade logística militar, permitindo adequada mobilização
estratégica para o emprego do poder militar.
No que tange à Política Externa, a Amazônia tem sido foco de interesses de
diversas outras nações, organizações, instituições internacionais e não
governamentais, as quais por vezes, ensejam interferir nas Políticas Nacionais para a
região. Estes atores questionam decisões soberanas voltadas para o aproveitamento
de suas riquezas, em função dos impactos ambientais, psicossociais e climáticos,
supostamente desencadeados pelo desenvolvimento regional. Estes apontamentos
formulados por teóricos geopolíticos e por autoridades das principais potências do
mundo, procuram justificar conceitos como: soberania relativa do Brasil para com a
região Amazônica e o da universalização por meio da narrativa de patrimônio da
humanidade.
Em contraponto a essa pressão internacional, geopolíticos brasileiros (em sua
maioria militares) difundiram pensamentos que serviram de base para a condução de
Políticas Públicas de integração da Amazônia ao restante do país, as quais ganharam
vulto, a partir dos governos militares e passaram a fundamentar as atuais Política
Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa. O lema “integrar para não
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entregar” de Therezinha de Castro e as concepções de Mário de Travassos e Meira
Mattos foram imprescindíveis para operacionalizar o planejamento e execução de
obras de infraestruturas de grande porte como as BR-236 (Transamazônica
integrando de L a W) e BR-153 e BR-163 (respectivamente, Belém-Brasília e Cuiabá-
Santarém), ferrovia N-S e a Hidrelétrica de Tucuruí-PA.
Embasados nesses pensadores, a Estratégia Nacional de Defesa coloca o
Exército como protagonista nas ações integração. A ocupação das fronteiras e regiões
estratégicas por meio de suas OM (presentes nos mais longínquos pontos da
Amazônia Oriental, nas terras indígenas e próximo às comunidades menos assistidas
pelo Estado), projetam poder militar, capacidades de atuação, emprego, logística e
ainda favorecem as operações de inteligência. Por meio de manobras militares,
exercícios, ações cívico sociais e operações de emprego subsidiário, mapeiam a
atuação de ONG e outras lideranças, estabelecem ligações com as instituições
públicas, privadas e com a sociedade.
Dessa forma, reforçam-se valores como o sentimento de nacionalidade e
patriotismo. O bom relacionamento das comunidades circunvizinhas às guarnições
militares, permite aumentar a coesão e a manutenção do espírito pátrio, bem como
contribuem para rechaçar propagandas e ideologias adversas aos interesses
nacionais, muitas das quais colocam em risco a soberania sobre nosso território e
nossas riquezas.
Quanto aos aspectos psicossociais, por se tratar de uma região de difícil acesso
e de recente ocupação, a Amazônia traz consigo um relativo atraso de
desenvolvimento, criando um ambiente propício ao surgimento questões conflituosas,
as quais são explorados tanto para embasar interesses políticos internos, como para
sustentar narrativas supranacionais.
Assim, problemáticas como a questão indígena, o garimpo ilegal, as invasões
de terras públicas e privadas fomentadas por estes movimentos sociais, partidários e
por vezes ideológicos, os ilícitos transnacionais e ambientais, dentre outros, passam
a se confrontar direta, indireta e até mesmo transversalmente com a missão do
Exército, uma vez que acabam promovendo instabilidade social, sensação de
insegurança e o surgimento de focos de tensão que impactam a administração do
Estado e desgastam a imagem do Brasil no contexto internacional.
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Em função da complexidade dos atores, o EB tem procurado desencadear
ações diretas, indiretas e transversais voltadas a minimizar os efeitos negativos
explorados por cada questão supracitada. Por meio de ações diretas, o Exército
planeja e executa operações militares destinadas ao monitoramento de ilícitos
fronteiriços na fronteira Norte, desativação de garimpos ilegais, GLO e etc. As
indiretas, também exercidas pelas estratégias da presença e dissuasão, estão
relacionadas a presença efetiva das Organizações Militares na região, as quais
reforçam os órgãos de segurança pública, muitas das vezes insipientes, melhorando
a sensação de segurança e minimizando narrativas e ataques ideológicos adversos.
Por fim, a transversalidade é materializada pela formação de centros urbanos,
comerciais e industriais potencializados pelo processo de formação dos núcleos e
vilas militares nas guarnições, além da assistência médico hospitalar e Operações de
ACISO promovidas no curso das ações diretas.
No campo econômico, o impacto sócio-econômico provocado pelas OM nas
guarnições em que foram instaladas (em especial as mais longínquas e de difícil
acesso), contribui com a ocupação territorial, a fundação de vilarejos, o
desenvolvimento de cidades e a integração regional necessárias a manutenção da
cadeia logística militar. Assim, com naturalidade, inicia-se um fluxo de demandas que
por sua vez atraem empresas, fomentam o comércio e o setor de serviços
interessados em participar da logística militar e prover facilidades para a família militar.
O equilíbrio nos campos do poder atingidos, corrobora com o estabelecimento de um
ambiente favorável ao desenvolvimento, menos vulnerável e capaz de gerar renda e
atrativos psicossociais.
No que tange a questão energética, foi verificado a grande participação da
Amazônia Oriental na produção de energia limpa oriundo das Hidrelétricas de Belo
Monte e Tucuruí, respectivamente segunda e terceira maiores produtoras de energia
do país, as quais somadas as outras hidrelétricas de menor porte, constituem parcela
considerável de toda energia produzida no Brasil. Há de se destacar a existência da
maior reserva de minério de ferro do país, situado em Carajás no estado do Pará,
garantindo autossuficiência e autonomia tanto para a indústria de transformação
nacional como para a captação de divisas por meio de sua exportação. Soma-se
ainda, a existência de reservas de outros minérios como ouro, bauxita, nióbio (maior
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reserva do mundo) e terras raras, os quais constituem uma das maiores reservas
minerais do mundo ainda pouco explorados.
O Exército contribui na defesa e proteção destas fontes de energia e recursos
estratégicos por intermédio do Projeto Proteger, destinado a desenvolver capacidades
para garantir a segurança e proteção de estruturas estratégicas existentes na região,
como hidrelétricas, reservas minerais estratégicas, portos, aeroportos, etc. Nesse
contexto, a 23ª Bda Inf Sl, além de possuir unidades próximas a estas estruturas
(hidrelétrica e eclusa de Tucuruí, Belo Monte, Complexo mineral de Carajás e etc),
coordena exercícios de adestramento voltados para refinar os planejamentos
operacionais de ocupação e garantia do funcionamento dessas estruturas.
Na campo científico-tecnológico, o Exército tem investido esforços para finalizar
a implantação do SISFRON. Utiliza-se ainda dos insumos do CENSIPAN para agregar
capacidades e melhorar o controle das fronteiras brasileiras através do uso de novas
tecnologias para detecção e análise de eventos ilícitos, dando maior abrangência e
velocidade na execução das operações militares na região.
O desenvolvimento e implantação de radares nacionais, SENTIR M20
(vigilância terrestre), e de defesa antiaérea de baixa e média altura (respectivamente
SABER M60 e M200), por intermédio do Centro Tecnológico do Exército, reforçam a
intenção do Exército em potencializar suas capacidades de vigilância através do
domínio científico-tecnológico em áreas sensíveis da defesa, permitindo por exemplo,
maior controle sobre crimes transfronteiriços e detecção de possíveis violações de
nossa fronteiras com oportunidade para o desencadeamento de ações operativas.
Feita essa correlação inicial da transversalidade do Exército nos quatro
primeiros campos do poder, e levando-se em consideração que o EB é um dos
principais protagonistas do Estado em atuação na região Amazônica, fruto de sua
missão precípua de defesa da pátria, na condução de ações subsidiárias e por meio
de sua presença e capilaridade nacional, verifica-se que, no campo militar, o
direcionamento das ações de proteção e defesa das riquezas amazônicas da
Amazônia Oriental se dá de forma direta.
A começar pela distribuição de suas Organizações Militares espalhadas ao
longo dos eixos dos rios Tapajós (53º BIS), Xingú (51º BIS), Tocantins (52º BIS e 23º
Esqd C Sl), Araguaia (50º BIS) e Amazonas (2º e 34º BIS), o que materializa o braço
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forte do EB na preparação e condução de operações militares voltadas para a defesa,
bem como estendem a mão amiga, ao conduzirem operações de papel social face as
populações dos municípios assolados por enchentes, epidemias e outras campanhas
assistenciais.
Quanto a proteção e defesa dos recursos naturais são expressivas as
contribuições da Instituição, potencializadas a partir de 2010, com a promulgação da
LC 136 a qual atribuiu respaldo jurídico para operações tipo polícia para as Forças
Armadas para coerção de delitos transfronteiriços e ambientais na faixa de fronteira.
Assim, em quase todo o território do Amapá, o 2º BIS e o Cmdo Fron 34º BIS
participam das Operações Ágata, as quais ocorrem periodicamente sob coordenação
do Ministério da Defesa, destinadas a coibir rotas de contrabando de animais,
biopirataria, garimpo e outros ilícitos.
A despeito de Operações temporárias, o Cmdo Fron 34º BIS ainda possui
encargos de fronteira, com elementos destacados em Clevelândia e Tiriós, e ainda,
integrando o SISFRON e coordenado pelo CENSIPAN, realizam o monitoramento
diário da fronteira com a Guiana Francesa e Suriname.
É necessário destacar que a ocorrência de ilícitos é facilitada não só pela
porosidade das fronteiras, mas pela falta de opção de trabalho face aos baixos
investimentos do Estado na região. Nesse ínterim, o Projeto Calha Norte, tem
destinado recursos para o fomento do desenvolvimento e defesa. O Exército não só
tem rocado contingentes de outros comandos para a Amazônia como também, por
intermédio dos Batalhões de Engenharia, assumido obras financiadas por este
programa.
Nas regiões interioranas da Amazônia Oriental, fora da cobertura legal da lei
supracitada, operações conjuntas do Exército em apoio as agências reguladoras
como IBAMA e ICMBIO, demonstram a integração das instituições seja na aplicação
de efetivos, cessão de materiais de uso exclusivo das FA, apoio logístico as atividades
operacionais e, principalmente, cooperações na área de inteligência voltadas para
identificação de lideranças, rotas de ilícitos e ações futuras dos envolvidos nos ilícitos
de natureza ambiental.
E ainda, valendo-se da sua cultura institucional de promover ações calcadas
em valores e no fiel cumprimento das normas legais, o Exército tem promovido uma
auditagem interna e sistêmica (SIGAEB) acerca do tratamento ambiental assegurado
as suas áreas patrimoniais e o descarte de resíduos, visando corrigir eventuais
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desajustes. Essa preocupação ganha proporções na Região Amazônica, uma vez que
as OM possuem significativas áreas patrimoniais e áreas sob administração militar.
Portanto, de tudo o que foi apresentado, verifica-se uma sinergia existente entre
o Exército e o ambiente operacional amazônico, materializada pela simbiose da
instituição com os anseios e expectativas da população. Acima de tudo, um
sentimento de pertencimento exaltado pelo soldado através de exteriorizações
evocadas em cada Corpo da Guarda, canções de TFM e formaturas de nossas OM:
“A selva nos une, Tudo pela Amazônia”, e/ou “Amazônia nos pertence!”.
Reverberação da motivação de cada integrante da instituição EB em proteger e
defender seu patrimônio de qualquer ameaça: seja interna ou externa. O compromisso
é ainda reforçado com a rotatividade de seus quadros e o interesse da Força de que
todos conheçam o ambiente operacional amazônico, propiciando a propagação dessa
narrativa patriota para todos os cantos desse país continente.
Por fim, é fator de motivação relembrar a mensagem do general Rodrigo Otávio:
“Árdua é a missão de desenvolver e integrar a Amazônia, muito mais difícil porém, foi
a de nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la”. Essa assertiva mostra o
desafio para o qual o Exército, em conjunto com a nação brasileira, deverá carrear
suas energias. De fato, o autor descreve as principais servidões (desenvolver, integrar
e manter), as quais devem nortear nossas políticas nacionais, nossas estratégias e,
principalmente, nossas percepções de nação brasileira para com a importância da
região para as gerações futuras.
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