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ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PÂMELA ANTUNES BELLON Síntese do biovidro e sua caracterização. Lorena 2012

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA UNIVERSIDADE DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2012/MEQ12040.pdf · Provérbios. RESUMO Bellon, P. A. Síntese do biovidro e sua caracterização

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ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PÂMELA ANTUNES BELLON

Síntese do biovidro e sua caracterização.

Lorena

2012

PÂMELA ANTUNES BELLON

Síntese do biovidro e sua caracterização.

Monografia apresentada como requisito para a

conclusão de Graduação do Curso de Engenharia

Química.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Vernilli Júnior

Lorena

Outubro, 2012

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Assessoria de Documentação e Informação

Escola de Engenharia de Lorena

Bellon, Pâmela Antunes Síntese do biovidro e sua caracterização / Pâmela Antunes Bellon; orientador Fernando Vernilli Júnior – Lorena, 2012.

59f. Monografia apresentada como requisito para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia Química. Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo.

1. Biomateriais 2. Biovidro 3. Fluorescência de raios X

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Narbal e Fátima,

que com dedicação e muito esforço, me deram todo o

apoio para eu ser quem sou e alcançar meus objetivos.

AGRADECIMENTOS

À Deus, pela existência, sabedoria, direção, compreensão, força e por me

capacitar para eu estar aqui realizando mais um sonho. Meu Senhor muito

obrigada.

À minha família pelo apoio indiscutível para que essa caminhada fosse realizada,

ela foi dura e difícil, mas está acabando graças a Deus e a vocês. E iremos

começar uma próxima muito em breve, não fiquem bravos.

Ao Prof. Dr. Fernando Vernilli Júnior, pela orientação e oportunidade de conhecer

um pouco da Ciência, com essa experiência pude crescer e amadurecer um

pouco mais.

À Escola de Engenharia de Lorena (EEL), pela oportunidade de realizar o Curso

de Gradução em Engenharia Química.

Enfim, à todas as pessoas que fizeram parte desta caminhada direta ou

indiretamente, me auxiliando a subir mais um degrau em minha vida.

“... Feliz o homem que acha sabedoria, e o

homem que adquire o conhecimento; porque

melhor é o lucro que ela dá do que o da prata,

e melhor a sua renda do que o ouro mais fino.

Mais preciosa é do que pérolas, e tudo o que

podes desejar não é comparável a ela.”

Provérbios

RESUMO

Bellon, P. A. Síntese do biovidro e sua caracterização. 2012. 59p. Monografia –

Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena/SP, 2012.

Com o objetivo de criar novos materiais que possam substituir partes danificadas

de um organismo, a ciência dos materiais avança cada dia mais. Os dias atuais

acabam cobrando esses estudos, com o aumento da expectativa de vida e os

avanços tecnológicos. Para um material ser implantado ele tem que possuir

propriedades químicas e mecânicas semelhantes às do organismo, portanto ele

não pode causar nenhum dano ao organismo, pois perderia sua função. Materiais

que apresentam essas propriedades são chamados de biomateriais. O material

estudado neste trabalho é um material bioativo, ou seja, ele tem a capacidade de

interagir com o tecido ósseo através da formação de uma camada apatítica (HA),

entre a prótese e o tecido, promovendo uma ligação química rápida e durável. O

trabalho apresenta um processo para o desenvolvimento e caracterização de

biovidros bioativos referente ao sistema SiO2-CaO-Na2O-P2O5, visando o seu uso

como substitutos ósseos, enxertos, ou preenchendo poros de outros biomateriais

para facilitar o processo de osteocondução. Sua caracterização é de grande

importância para o estudo, porque através dela avalia-se as propriedades do

biovidro sintetizado, sua composição e bioatividade. Uma das técnicas que se

destaca na caracterização de biomateriais é a energia dispersiva de fluorescência

de raios X (ED-FRX), por ser uma análise rápida, não destrutiva, de preparação

simples e apresenta resultados com alta precisão e exatidão. O vidro obtido é um

material amorfo, sua composição está dentro da região de bioatividade,

apresentou biocompatibilidade e formação da camada apatítica. Assim, com os

resultados obtidos, pode-se concluir que o biovidro, do sistema SiO2-CaO-Na2O-

P2O5, pode ser usado para implantes, como material bioativo.

Palavras-chave: Biomateriais. Bioatividade. Biovidro. Caracterização.

Fluorescência de Raios X (FRX).

ABSTRACT

Bellon, P. A. Synthesis and characterization of bioglass. 2012. 59p.

Monograph - Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo,

Lorena/SP, 2012.

Aiming to create new materials that can replace damaged parts of an organism,

material science advances every day. Nowadays end charging these studies, with

increasing life expectancy and technological advances. For a material to be

implanted it has to possess chemical and mechanical properties similar to those of

the body, so it can not cause any hurt to the body, because would lose its function.

Materials with those properties are called biomaterials. The material studied in this

work is a bioactive material, in other words it has the capability of interacting with

the bone tissue by forming a layer HA, between the prosthesis and the tissue

promoting a chemical connection rapid and durable. The study presents a

procedure for the development and characterization of bioactive bioglasses

referring to the system SiO2-CaO-Na2O-P2O5, aiming their use as osseous

substitutes, grafts, or filling pores other biomaterials to facilitate the process of

osteoconduction. Its characterization is of great importance for the study, because

through it we evaluate the properties of synthesized bioglass, its composition and

bioactivity. One technique that stands out in the characterization of biomaterials is

the energy dispersive X-ray fluorescence (ED-XRF), because ED-XRF is a rapid

analysis, non-destructive, simple to prepare and presents results with high

precision and exactness. The glass got was an amorphous material, its

composition was within the region of bioactivity, it presented biocompatibility and

apatítica layer formation. Thus, with got results, we can conclude that bioglass, the

system SiO2-CaO-Na2O-P2O5, can be used for implants, such as bioactive

material.

Keywords: Biomaterials. Bioactivity. Bioglass. Characterization. X-Ray

Fluorescence (XRF).

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Mandíbula com três pedaços de conchas do mar implantadas. Este é o primeiro exemplo de um implante endosteal aloplástico realizado com êxito. ... 14

Figura 2.1 – Estrutura óssea esquematizada. ....................................................... 18 Figura 2.2 – Seção óssea, visualização do osso compacto e do osso esponjoso. .............................................................................................................................. 19 Figura 2.3 – Classificação dos materiais para implante relativamente à interação com o meio fisiológico. .......................................................................................... 23

Figura 2.4 – Representação do mecanismo de formação da Hidroxiapatita na superfície de um vidro bioativo do sistema SiO2-CaO-Na2O-P2O5. ....................... 28

Figura 2.5 – Diagrama ternário SiO2-CaO-Na2O mostrando a relação existente entre composição e índice de bioatividade ........................................................... 30

Figura 2.6 – Esquema ilustrativo da produção de fótons de fluorescência. (a) elétron sendo ejetado por um fóton incidente; (b) elétron em L3 preenchendo a

vacância em K e produzindo fóton de fluorescência contribuinte da linha K; (c) elétron em M5 preenchendo a vacância em L3, a diferença de energia dessas

duas camadas é equivalente a um fóton da linha L. ............................................ 34

Figura 2.7 – Representação esquemática fonte – amostra – detector para fluorescência de raios X. ....................................................................................... 35

Figura 2.8 – Efeito da Granulometria. ................................................................... 39

Figura 3.1 – Fluxograma das etapas da síntese do biovidro e sua caracterização. .............................................................................................................................. 44 Figura 3.2 – Fluxograma de preparação do biovidro. . .......................................... 45 Figura 3.3 – Evaporador rotativo utilizado para a obtenção do biovidro ............... 46 Figura 3.4 – Equipamento de Fluorescência de Raios X por Energia Dispersiva. 47 Figura 3.5 – Esquema do teste de biocompatibilidade. ........................................ 49 Figura 4.1 – Análise de DSC da mistura de reagentes. ........................................ 50 Figura 4.2 – Diagrama de Hench indicando onde está localizado o resultado do biovidro.. ............................................................................................................... 51 Figura 4.3 – Variação de massa das amostras após o teste. . ............................. 52 Figura 4.4 – Curva de calibração para elemento sódio. ........................................ 53

Figura 4.5 – Curva de calibração para elemento cálcio.. ...................................... 54

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Propriedades mecânicas do osso cortical e trabecular e de alguns biomateriais ........................................................................................................... 20 Tabela 2.2 - Aplicações químicas dos biomateriais. ............................................ 24 Tabela 2.3 - Comparação das soluções simuladoras com o plasma sanguíneo em (mol/L). .................................................................................................................. 26 Tabela 2.4 - Classificação das biocerâmicas. ...................................................... 29

Tabela 2.5 - Fontes de erros mais prováveis nas medidas analíticas. .................. 40

Tabela 3.1- Sequência dos reagentes a serem adicionados no preparo da solução SBF de acordo com Andrade. ............................................................................... 48

Tabela 4.1- Análise por ED-FRX do biovidro obtido. ............................................. 51

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 14

1.1. Justificativas ............................................................................................... 16

1.2. Objetivos .................................................................................................... 17

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 18

2.1. Conceitos e Propriedades do Tecido Ósseo .............................................. 18

2.2. Uso de Enxertos Ósseos ........................................................................... 20

2.3. Biomateriais ............................................................................................... 21

2.3.1. Bioatividade ........................................................................................ 25

2.3.2. Biocerâmicas ...................................................................................... 28

2.3.2.1. Biovidro ....................................................................................... 29

2.4. Técnicas de Caracterização ....................................................................... 31

2.5. Espectrometria de Fluorescência de Raios X ............................................ 32

2.5.1. Conceitos de Fluorescência de Raios X ............................................. 32

2.5.2. Dispersão dos Raios X ....................................................................... 35

2.5.3. Calibração ........................................................................................... 36

2.5.4. Análises Quali-Quantitativas ............................................................... 37

2.5.5. Preparação das Amostras .................................................................. 40

3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 44

3.1. Materiais .................................................................................................... 44

3.2. Métodos Experimentais .............................................................................. 45

3.2.1. Preparação do Biovidro ...................................................................... 45

3.2.2. Técnicas de Caracterização do Biovidro ............................................ 46

3.2.2.1. Análise Térmica ........................................................................... 46

3.2.2.2. Análise por Espectrometria de Fluorescência de Raios X (FRX) 47

3.2.2.3. Propriedades Biológicas .............................................................. 47

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 50

4.1. Caracterização do Biovidro ........................................................................ 50

4.1.1. Análise Térmica .................................................................................. 50

4.1.2. Análise de Fluorescência de Raios X por Energia Dispersiva (ED-FRX)

...................................................................................................................... 50

4.1.3. Teste de Biocompatibilidade (teste in vitro) ........................................ 52

4.1.3.1. Teste de Absorção Atômica da solução SBF ............................. 53

5. CONCLUSÕES ............................................................................................. 55

6. REFERÊNCIAS ............................................................................................ 56

14

1. INTRODUÇÃO

A aplicação de biomateriais acontece desde a pré-história, como prova a

descoberta de crânios com trepanações nas quais foram utilizadas placas de ouro

e prata, a aplicação de implantes dentários, e a utilização de fios de sutura,

descritas há milhares de anos (GUTIERRES, 2006).

O primeiro relato de um implante não orgânico enxertado em osso humano,

data de 600 d.C. Este implante, encontrado em Honduras em 1931, era uma

mandíbula no qual três fragmentos de concha do mar estavam no lugar dos

incisivos inferiores. Após investigações radiográficas foi concluído que, devido à

osteointegração entre o implante e o osso, o material havia sido implantado em

paciente vivo (PAIVA, 2005). A Figura 1.1 apresenta uma imagem desta

mandíbula.

Figura 1.1 - Mandíbula com três pedaços de conchas do mar implantadas. Este é o primeiro exemplo de um implante endosteal aloplástico realizado com êxito (PAIVA, 2005 apud RING, 1998).

Atualmente, essa busca por materiais capazes de reparar tecidos

lesionados sem causar danos ao indivíduo continua, estudos são realizados, não

apenas para reparar danos causados por acidentes ou para diminuir o transtorno

de uma deficiência como antigamente, mas também para auxiliar o aumento da

expectativa de vida.

Os constantes avanços obtidos pela medicina vêm conduzindo a um

evidente aumento da expectativa de vida da população mundial e,

consequentemente, estão proporcionando maior qualidade de vida às pessoas

que se encontram na “melhor idade”. Entretanto, o desgaste e a redução das

propriedades e atividades dos tecidos e órgãos que constituem o corpo humano

são processos inerentes ao envelhecimento dos seres vivos (DAGUANO, 2011).

Três fragmentos de

concha substituindo

incisivos inferiores

15

Outra situação importante para o uso dos biomateriais é que na realização

de um autoenxerto, nem sempre é possível retirar do próprio paciente a

quantidade de tecido necessária para restaurar a cavidade defeituosa e no caso

do homoenxerto e do xenoenxerto é grande o risco de contaminação pelo uso de

enxertos contaminados (MUNDSTOK, 2012). Tentando solucionar as situações

citadas acima, pesquisas na área de biomateriais estão sendo realizadas,

buscando o desenvolvimento de novas tecnologias e recursos para substituir os

biomateriais tradicionais. Biomateriais tradicionais são materiais que foram os

primeiros a serem utilizados como implantes, e por não terem sido desenvolvidos

para esse tipo de aplicação são reconhecidos pelo organismo como agentes

estranhos, causando reações indesejadas ao organismo como: algumas ligas de

titânio usadas em aplicações aeroespaciais. Os novos biomateriais, como o

biovidro, estudado neste trabalho, estão sendo desenvolvidos com o intuito de

serem usados como material biomédico para não causar nenhum dano ao

organismo.

A utilização clínica de vidros como biomaterial surgiu através do trabalho

pioneiro de Larry Hench na década de 60, com o desenvolvimento do Bioglass®

45S5. A principal característica diferenciadora deste material biocompatível é a

sua capacidade para promover uma rápida e durável ligação química, com a

formação de uma camada apatítica com o tecido ósseo, o que lhe valeu a

designação de vidro bioativo. Com o seu desenvolvimento, nasceu o conceito de

bioatividade e com isso, a aceleração da investigação realizada no campo dos

materiais para restauração óssea (DAGUANO, 2011).

Os biovidros, por apresentarem a propriedade bioativa, em alguns testes

mostraram-se bastante superiores aos outros materiais usados como implante

proporcionando a reparação total dos defeitos depois de implantados. Além disso,

apresentam uma grande vantagem: não precisam ser substituídos após a

implantação como é o caso dos implantes metálicos. Porém, a sua forma de

aplicação é muito importante. Quando implantado na forma de particulado pode

migrar através do sistema linfático e quando implantado na forma sólida pode não

ocorrer uma boa fixação do biovidro implantado com a matriz óssea (GUTIERRES

et al., 2006).

As biocerâmicas, como o biovidro, não são usadas apenas para reparação

de tecidos ósseos. Elas podem também ser usadas para reparar ou mesmo

16

substituir partes do sistema cardiovascular, especialmente válvulas cardíacas,

como também serem utilizadas de forma terapêutica, no tratamento de tumores

(SIQUEIRA e ZANOTTO, 2011).

O estudo de qualquer material leva à necessidade de desenvolver técnicas

de caracterização, e uma das técnicas que se destacam é a Espectrometria de

Fluorescência de Raios X (FRX). Essa técnica, que tem sua importância

determinando a composição do material e comprovando se um biomaterial foi

obtido, usa o método comparativo para obter seus resultados e análises,

comparando a amostra com curvas montadas através de padrões com valores de

concentrações conhecidas e específicas.

1.1. Justificativas

A necessidade de desenvolver materiais que substituem partes ósseas

sem prejudicar o indivíduo vem sendo cobrada há anos e muitos estudos estão

sendo realizados nessa área. Muitos materiais podem ter esse tipo de uso, porém

para serem empregados dessa forma, esses materiais precisam possuir

características compatíveis às dos organismos. Cerâmicas, metais, polímeros ou

suas combinações, são exemplos de materiais que podem ser usados para esse

fim.

Um aspecto de enorme importância para os biomateriais é a sua

biocompatibilidade, que é a capacidade de o material não apresentar nenhum

dano ao organismo depois de implantado. Os parâmetros que definem a

biocompatibilidade são difíceis de serem estabelecidos, pois estão ligados a

fatores subjetivos como a idade do paciente, estado de saúde, local de implante,

imunidade, etc. A resposta do organismo também depende das características do

próprio material, tais como composição, natureza, rugosidade e morfologia. Essas

características são controladas no projeto e na síntese do material (PAIVA, 2005).

17

1.2. Objetivos

Este trabalho tem como objetivo desenvolver um estudo sobre o biovidro

bioativo, baseado em um trabalho de iniciação científica desenvolvido durante a

graduação, que fez parte de uma Tese de Doutorado, Materiais

bioengenheirados: cerâmicas a base de alumina incorporadas com biovidro, Fábio

H. S. Reis, 2011.

Este estudo irá demonstrar a síntese do biovidro bioativo e sua

caracterização, descrever a técnica ED-FRX e mostrar seu uso e importância para

o estudo de biovidros.

Assim, podemos destacar alguns itens do estudo proposto:

Obter um vidro com características bioativas;

Identificar suas propriedades;

Determinar sua composição;

Avaliar ser comportamento biológico.

18

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Conceitos e Propriedades do Tecido Ósseo

A formação do tecido ósseo inicia-se na sétima semana embrionária e

continua se desenvolvendo, remodelando e desempenhando funções estruturais

e metabólicas pelo resto da vida do indivíduo. Suas funções incluem o suporte do

corpo e a proteção dos órgãos internos. Também funciona como alavancas

rígidas para a realização dos movimentos mediante uma ação muscular

(SHIMANO, 2006).

O tecido ósseo é composto por mais ou menos 30 % de colágeno, 5 % de

fibras não colagenosas, e os 65 % restantes compõem-se de mineral,

principalmente cristais de hidroxiapatita, Ca10(PO4)6(OH)2 (HA) (TEN CATE,

2001). A rigidez e resistência do osso estão relacionadas com a associação dos

cristais de hidroxiapatita com o colágeno. Se o osso for descalcificado, se torna

extremamente flexível, se o componente orgânico for retirado, se torna

extremamente frágil, porém ele ainda mantém sua forma original (REIS, 2011).

Na Figura 2.1 podemos visualizar a estrutura óssea.

Figura 2.1 – Estrutura óssea esquematizada (REIS, 2011 apud JUNQUEIRA, 2004).

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O osso apresenta uma estrutura lamelar, composta por uma malha de

lamelas concêntricas distribuídas ao redor de canais ramificadores (canais de

Havers) por onde passam os vasos nutrícios. Esses canais se comunicam com o

exterior ou com a medula óssea, quando ramificados, através de canais

conhecidos como canais de Volkmann. Essa estrutura é organizada nas formas

trabecular (esponjosa) e cortical (compacta) (TUREK, 1991).

A parte esponjosa do osso (trabecular) apresenta uma porosidade

interconectada entre 50 e 90 %. Essa parte apresenta maior atividade metabólica,

pois possui em sua superfície maior número de células por unidade de volume

que no osso cortical. A parte compacta do osso (cortical) é a região que suporta

as diferentes cargas e forças exercidas sobre o osso. Ela se encontra na parte

superficial dos ossos e sua função é revestir todos os ossos do nosso organismo

(MUNDSTOCK, 2010). A Figura 2.2 ilustra a seção óssea e a Tabela 2.1 mostras

as propriedades mecânicas do osso trabecular e cortical e de alguns biomateriais.

Figura 2.2 – Seção óssea, visualização do osso compacto e do osso esponjoso (REIS, 2011 apud JUNQUEIRA, 2004).

20

Tabela 2.1 - Propriedades mecânicas do osso cortical e trabecular e de alguns biomateriais (MUNDSTOK, 2010 e ASHBY, 2005).

Osso Resistência (MPa) Módulo de

Elasticidade, E (GPa) Compressão Tração Flexão Compacto

longitudinal 100 - 230 78 - 150 50 - 150 7 - 30

Compacto transversal

106 - 133 51 - 56 - -

Trabecular 2 - 12 - - 0,05 - 0,5 Aço Inox - 480 - 2240 - 189 – 210 Titânio - 300 - 1625 - 90 – 120

Vitrocerâmica - 62 - 177 - 64 – 110 Vidro a base

de sílica - 45 - 155 - 68 – 74

Silicone - 2,4 – 5,5 - 0,005 – 0,02

2.2. Uso de Enxertos Ósseos

A capacidade regenerativa do tecido ósseo é um mecanismo fascinante, no

entanto, em casos de perda ou dano extenso, essa propriedade pode ficar

limitada, alterando a fisiologia tecidual, não sendo mais possível a sua

regeneração natural (LUTOLF et al., 2003). Por esse motivo, várias estratégias

têm sido utilizadas na busca de desenvolver substitutos biológicos para restaurar,

manter ou melhorar a função de diversos tecidos, como o tecido ósseo.

Os enxertos ósseos podem ser classificados como autógenos, alógenos,

xenógenos e aloplásticos.

Os enxertos autógenos são aqueles retirados do próprio paciente, de uma

área chamada doadora, a fim de poder ser transferido a uma área receptora (local

de implantação do enxerto).

Os enxertos alógenos são aqueles obtidos dos tecidos ósseos de

indivíduos da mesma espécie do receptor; são processados em condições de

esterilidade e armazenados com várias formas e tamanhos nos bancos de ossos

humanos.

Os enxertos exógenos são obtidos de uma espécie diferente daquela onde

o material será utilizado, sendo mais comumente obtidos de bovinos e,

eventualmente, de suínos e caprinos. São produzidos a partir da porção

inorgânica do tecido ósseo, de origem animal.

Os enxertos aloplásticos, como as biocerâmicas, surgiram pela dificuldade

21

ou impossibilidade de se utilizar o enxerto autógeno, e alguns fatores como

desconforto pós-operatório, morbidade do sítio doador, limitação da quantidade

de enxerto e pela possibilidade de transmissão de doenças dos enxertos

alógenos ou autógenos.

A resposta obtida após implantação de um biomaterial (GUTIERRES,

2006), enxerto aloplástico, é a formação de um hematoma, com uma resposta de

tipo inflamatória com chamada de água e glicoproteínas, que revestem e aderem

ao implante.

Por quimiotactismo, numerosas células são recrutadas para o local (reação

de corpo estranho). Seguidamente, inicia-se a angiogénese, com a migração e

proliferação de células que irão formar uma rede de capilares que constituirá o

suporte vascular da zona de implante. Por fim, devido à ação de citoquinas e de

diversos fatores de crescimento vai ocorrer um processo de diferenciação das

células com a formação de matriz óssea e de osso imaturo.

A maturação e remodelação que encerram este processo salientam a

semelhança que existe com a fisiologia da formação do calo ósseo, subsequente

a uma fratura.

2.3. Biomateriais

A definição de biomateriais mais aceita atualmente é a da Conferência de

Consenso em Biomateriais para aplicações clínicas, 1982, a qual conceitua

biomaterial como “Toda substância (com exceção de drogas) ou combinação de

substâncias, de origem sintética ou natural, que durante um período de tempo

indeterminado é empregado como um todo ou parte integrante de um sistema

para tratamento, ampliação ou substituição de quaisquer tecidos, órgãos ou

funções corporais” (WILLIAMS, 1987).

Biomateriais devem apresentar propriedades especiais, as quais devem ser

adaptadas de acordo com a aplicação a que destinam. De forma geral, não

devem produzir qualquer resposta biológica adversa, local ou sistêmica, devem

ser resistentes à corrosão e ao desgaste (HENCH, 2005). Entretanto,

dependendo da sua aplicação diferentes pré-requisitos podem ser requeridos,

sendo em alguns casos, completamente opostos. Por exemplo, implantes ósseos

do tipo scaffold polimérico (implante que tem como objetivo desenvolver suportes

22

sintéticos ou utilizar arcabouços naturais) precisam ser biodegradáveis, pois serão

substituídos ao longo do tempo por tecido celular do próprio paciente. Já os

componentes de válvulas mecânicas cardíacas precisam ser materiais

bioestáveis, resistentes ao desgaste e não degradáveis, pois poderão ser usadas

por períodos de 20 anos ou mais (DAGUANO, 2011).

Existem alguns pré-requisitos que o biomaterial deve preencher e podem

ser divididos em quatro grupos (TEOH, 2004). Para resposta biológica aos

biomaterias, os dois primeiros pré-requisitos são fatores essenciais para o êxito

da aplicação do biomaterial no organismo.

- Biocompatibilidade: o implante deve resistir ao ataque dos sistemas

biológicos sem sofrer degradação ou perda de função e sem liberar substâncias

lesivas ao hospedeiro, ao mesmo tempo em que o hospedeiro não deve sofrer

problemas físicos ou químicos pela presença do material.

- Biofuncionalidade: propriedades físicas e mecânicas que permitem que

um biomaterial desempenhe a função planejada.

- Esterilização: o material deve ser apto a ser submetido à esterilização,

não afetando suas propriedades. Técnicas de esterilização incluem o uso de

radiação gama, de gás oxi-etileno e o processo de autoclavagem.

- Manufatura: o implante deve ser conformado na forma desejada, usando

métodos economicamente viáveis, sem comprometimento das propriedades do

material. Entretanto, esta última etapa é a que dificulta a produção real do

dispositivo médico.

Dependendo do tipo de material implantado no corpo do indivíduo, o tecido

local reage de forma diferente. O tipo de interação tecido-implante depende da

resposta do tecido à superfície do implante. Assim os biomateriais podem ser

classificados em, segundo Hench e Wilson:

- Inertes: materiais tolerados pelo organismo, mas em que a formação de

tecido envoltório fibroso é mínima, praticamente inexistente. O material não libera

nenhum tipo de componente ou, sendo mais realista, o faz em quantidades

mínimas. Os materiais bioinertes mais utilizados são alumina, zircônia, titânio,

ligas de titânio e carbono.

23

- Bioativos: materiais em que ocorrem ligações de natureza química entre

material e tecido ósseo (osteointegração). Em função da similaridade química

entre estes materiais e a parte mineral óssea, os tecidos ósseos se ligam a eles,

permitindo a osteocondução por meio do recobrimento por células ósseas. Os

principais materiais desta classe são os vidros e vitrocerâmicas à base de fosfatos

de cálcio, a hidroxiapatita e os compostos de fosfato de cálcio.

- Porosos: a fixação desse tipo de material ocorre através do crescimento

tissular para dentro de seus poros, com ligação mecânica, sendo conhecida por

fixação do tipo biológica. Exemplos: hidroxiapatita porosa, metais revestidos com

hidroxiapatita.

- Reabsorvíveis: após implantação, o biomaterial começa a se dissolver

(ser absorvido) e lentamente é substituído por tecido fibroso. Exemplos: ácido

poliláctico, polímeros biodegradáveis, sais de fosfato de cálcio.

A Figura 2.3 apresenta uma classificação dos materiais para implante

relativamente à interação com o meio fisiológico e a Tabela 2.2 mostra as

aplicações químicas dos biomateriais, suas vantagens e desvantagens.

Figura 2.3 - Classificação dos materiais para implante relativamente à interação com o meio fisiológico (REIS, 2011 apud WILLIAMS, 1987).

24

Tabela 2.2 – Aplicações químicas dos biomateriais (adaptado KAWACHI et al., 2000).

Biomaterial Vantagens Desvantagens Aplicações

Polímeros

Polietileno

PTFE

Poliéster

Poliuretano

PMMA

Silicone

Elasticidade, fácil

fabricação, baixa

densidade

Baixa resistência

mecânica,

degradação

dependente do

tempo

Suturas, artérias,

veias; maxilofacial

(nariz, orelha,

maxilar, mandíbula,

dente); cimento,

tendão artificial;

oftalmologia

Metais e Ligas

Aço inoxidável

Liga de titânio

Liga de cobalto-

cromo

Alto limite de

resistência, alta

resistência a

desgaste, energia

de deformação alta

Baixa

biocompatibilidade,

corrosão em meio

fisiológico, perda

das propriedades

mecânicas com

tecidos conectivos

moles, alta

densidade

Fixação ortopédica

(parafusos, pinos,

placas, fios, hastes);

implantes dentários

Cerâmicas e

Vidros

Alumina

Zircônia

Carbono

Fosfatos de cálcio

Porcelana

Vidros bioativos

Boa

biocompatibilidade,

resistência à

corrosão, inércia,

alta resistência à

compressão

Baixo limite de

resistência, baixa

resistência

mecânica, baixa

elasticidade, alta

densidade

Ossos, juntas,

dentes, válvulas,

tendões, vasos

sanguíneos e

traquéias artificiais

Compósitos

Fibra de carbono-

resina termofixa

Fibra de carbono-

termoplástico

Carbono-carbono

Fosfato de cálcio-

colágeno

Boa

biocompatibilidade,

inércia, resistência

à corrosão, alta

força de tensão

Material de

fabricação

incompatível

Válvula cardíaca

artificial (carbono ou

grafite pirolítico),

implantes de juntas

de joelho (fibra

carbono reforçada

com polietileno de

alta densidade

25

2.3.1. Bioatividade

Em 1967, Larry L. Hench foi desafiado a tentar resolver o problema de

milhares de soldados que voltavam da Guerra do Vietnã e estavam tendo braços

e pernas amputados, devido a implantes defeituosos. O cientista iniciou o trabalho

em 1969 e dois meses depois apresentou um vidro que se soldava tão bem aos

ossos e tecidos de ratos, que os pesquisadores não conseguiam separá-los.

Aparentemente o vidro que Hench havia desenvolvido atraía células ósseas. Em

1985, foi aprovada a utilização do Bioglass®, para substituir os ossos do ouvido

médio, restaurando a audição (DAGUANO, 2011). Hench havia descoberto uma

nova classe de materiais médicos, também conhecidos como bioativos.

Assim, Hench introduziu o conceito de bioatividade “um material que

retorna uma resposta específica na sua interface, resultando na formação de uma

ligação entre os tecidos e o material”.

A bioatividade foi verificada, pois o biovidro descoberto em contato com o

tecido ósseo e na presença de fluidos corpóreos possibilita em sua superfície, a

formação de uma camada apatítica que possui a mesma composição química e

mesma estrutura do tecido mineral dos ossos e dentes (COSTA, 2004). A

interface entre o implante bioativo e o osso é próximo do que ocorre naturalmente

entre ossos, tendões e ligamentos.

Os materiais bioativos representam uma classe de materiais que têm a

capacidade de formar uma ligação interfacial forte com o tecido vivo adjacente,

entretanto, o tempo para que esta ligação ocorra, o mecanismo da ligação, a

espessura da zona de ligação e as propriedades mecânicas desta camada

formada, vão variar para cada material (HENCH, 1991). Essa ligação interfacial

ocorre pela formação da hidroxiapatita (HA) que cresce como aglomerados

policristalinos, e fibrilas de colágeno são incorporadas dentro desses

aglomerados, vinculando a superfície inorgânica do implante aos constituintes

orgânicos do tecido (HENCH e WILSON, 1993).

Para separar os diferentes materiais bioativos, Hench e Wilson propuseram

duas classes de bioatividade: Osteoindutora (Classe A), e Osteocondutora

(Classe B). Os materiais osteoindutores são aqueles que aderem ao tecido duro e

mole, pois provocam respostas intracelular e extracelular, sendo que a intracelular

apresenta fatores que estimulam a diferenciação fenotípica em osteoblastos

26

(osteoindução), possibilitando a proliferação de tecido ósseo em sua superfície,

devido a um aumento da atividade destes osteoblastos. Já os osteocondutores

são os que aderem somente em osso, pois provocam apenas uma resposta

extracelular à sua superfície, ou seja, o implante simplesmente providencia uma

interface biocompatível, sobre a qual células responsáveis pela produção de

tecido ósseo consigam aderir, crescer e atravessar todo o material

(osteocondução).

A bioatividade do material pode ser verificada através de submersão do

material em soluções que simulem os fluidos corpóreos, ou seja, testes in vitro.

Atualmente, a solução mais usada em teste de verificação de bioatividade é a

SBF-K9 (Simulated Body Fluid), uma solução aquosa acelular e aproteica com

concentração iônica próxima à do plasma sanguíneo, desenvolvida por Kokubo e

Takadama, 2006. Na Tabela 2.3 podemos comparar as soluções simuladoras

mais utilizadas com o plasma sanguíneo.

Tabela 2.3 – Comparação das soluções simuladoras com o plasma sanguíneo em (mol/L) (MARQUES, 2003).

Na+ K+ Mg2+ Ca2+ Cl- HCO3- HPO4

2- SO42-

Plasma Sanguíneo 142,0 5,0 1,5 2,5 103,0 27,0 1,0 0,5

Kokubo (SBF-K9)* 142,0 5,0 1,5 2,5 147,8 4,2 1,0 0,5

Kokubo (SBF revisada)** 142,0 5,0 1,5 2,5 103,0 27,0 1,0 0,5

Ringer 133,5 5,0 2,6 1,0 142,2 2,4 1,14 -

Neuman 125,0 25,0 0,48 0,4 130,0 24,0 1,08 -

* Tampão utilizado: tris-(hidroximetil)aminometano/ácido clorídrico. ** Tampão utilizado: HEPES [2-(4-92-hidroxietil)-1-piperazinil ácido sulfônico

etano)]

Estudos para compreender a formação da camada de apatita sobre a

superfície do material existem muitos, porém o seu mecanismo ainda não está

definido. Esses mecanismos são considerados essenciais para desenvolver

materiais bioativos com novas funções físicas, químicas e biológicas.

As dificuldades para entender este mecanismo estão relacionadas com as

diferentes fases de fosfatos que podem ser precipitadas, dependendo de algumas

condições da solução, como concentração e pH. Para desenvolver estudos nesse

27

campo, é importante utilizar soluções simuladoras com composição variada, para

ser mais fácil entender o papel da composição química no processo de deposição

(ANDRADE, 1999).

Peitl et al explicam detalhadamente a bioatividade em cerâmicas vítreas do

sistema SiO2-Na2O-CaO-P2O5. A formação da camada de hidroxiapatita na

superfície de materiais bioativos acontece através de reações que ocorrem no

material e são mais rápidas quanto maior o nível de bioatividade. Estas reações

estão resumidas abaixo em cinco estágios. Na Figura 2.4 podemos visualizar

esses estágios:

Estágio I: Rápida troca de Na+ ou K+ com H+ ou H3O+ da solução,

Si-O-Na+ + H+ + OH- ⇒ Si-OH + Na+ (solução) + OH-

Estágio II: Perda da sílica solúvel na forma de Si(OH)4 para a solução que

é o resultado da quebra das ligações Si-O-Si e formação de Si-OH (silanóis) na

interface vidro solução:

2(Si-O-Si) + 2(OH) ⇒ Si-OH + OH-Si

Estágio III: Condensação e repolimerização da camada rica em SiO2 na

superfície que é esgotada em álcalis e cátions de alcalinos:

2(Si-OH) +2(OH-Si) ⇒ -Si-O-Si-O-Si-O-Si-O-

Estágio IV: Migração de grupos Ca2+ e PO4

3- para a superfície através da

camada rica em SiO2 formando um filme rico em CaO-P2O5 em cima da camada

rica em SiO2, seguido do crescimento de um filme amorfo rico em CaO-P2O5 pela

incorporação de cálcio solúvel e fosfato da solução.

Estágio V: Cristalização do filme amorfo de CaO-P2O5 pela incorporação de

OH-, CO32- da solução para formar uma camada mista de hidroxiapatita.

Strnad afirma que a camada de gel de fosfato de cálcio citada é

inicialmente amorfa e gradualmente (1 – 6 semanas) muda para uma camada

policristalina de apatita. Após a cristalização, a camada também incorpora

componentes orgânicos, como o colágeno, por exemplo.

A camada bioativa apresenta diferentes taxas de adesão do osso aos

implantes bioativos. Isto depende da composição química, fase vítrea,

solubilidade, etc. do enxerto.

A adesão dos vidros bioativos da Classe A é obtida pela liberação de Si na

forma de ácido silícico devido à troca de íons e dissolução, o que rapidamente

promove a formação da camada de sílica-gel que acelera a precipitação de

28

fosfato de cálcio amorfo que, por sua vez, cristaliza rapidamente a HA (1 – 10

horas em SBF-K9). Os biovidros da Classe B têm baixa ou nenhuma troca de íons

e/ou dissolução e somente formam HA acima de 100 horas em testes in vitro

(HENCH, 1994)

Após o estágio V, segundo Hench, ocorrem mais cinco etapas:

Etapa I: A adsorção de proteínas específicas na camada SiO2-HA;

Etapa II: Ação de macrófagos;

Etapa III: Adesão e diferenciação celular;

Etapa IV: Formação de matriz celular e;

Etapa V: Mineralização da matriz.

Figura 2.4 – Representação do mecanismo de formação da Hidroxiapatita na superfície de um vidro bioativo do sistema SiO2-CaO-Na2O-P2O5 (SIQUEIRA e ZANOTTO, 2011)

2.3.2. Biocerâmicas

Cerâmicas projetadas e fabricadas para reparar e reconstruir partes do

corpo danificadas ou doentes são chamadas biocerâmicas. Nos últimos quarenta

anos, novas cerâmicas estão sendo desenvolvidas para esse fim. As

biocerâmicas têm diversas composições e fases diferentes, as mais utilizadas são

as apatitas (estrutura policristalina) e os vidros (amorfos) e suas funções estão

relacionadas às fases presentes nos materiais (PAIVA, 2005).

As biocerâmicas tem seu uso restringido às regiões que não requerem

sustentação, pois apresentam baixa resistência mecânica. Uma forma de

29

contornar tal restrição é a utilização de metais revestidos com cerâmicas, que

permitem aliar as vantagens das biocerâmicas com a resistência do metal.

As biocerâmicas têm sido empregadas na forma densa e na forma porosa,

como indicado na Tabela 2.4. Apesar de o aumento da porosidade diminuir a

resistência mecânica do material isoladamente, a existência de poros com

dimensões adequadas pode favorecer o crescimento de tecido através deles,

fazendo com que ocorra um forte entrelaçamento do tecido com o implante,

aumentando, a resistência do material in vivo (KAWACHI et al., 2000).

Tabela 2.4 – Classificação das biocerâmicas (adaptada KAWACHI et al., 2000).

Tipo de

Biocerâmica Exemplos

Inertes Alumina

Porosas Aluminatos e

hidroxiapatita porosos

Bioativas Biovidros, hidroxiapatita e

vitro-cerâmicas

Reabsorvíveis Gesso e fosfato tricálcico

2.3.2.1. Biovidro

O biovidro é um tipo de material biocerâmico com uma variedade de

composições químicas. Como já dito anteriormente, foi descoberto e desenvolvido

por Larry Hench em 1969, sendo que somente em 1971, surgiram peças de

biovidro para aplicações em humanos (HENCH, 1991).

Hench verificou que os biovidros, mesmo com todas as suas vantagens

com relação à bioatividade, apresentavam dois problemas que afetavam sua

aplicação: primeiro, as superfícies serem cortantes, que é a característica dos

vidros e segundo, sua fragilidade.

Para contornar a questão da fragilidade alguns pesquisadores sugeriram a

cristalização do material, tornando-o mais resistente, no caso de uma peça

monolítica (COSTA, 2004). A combinação com materiais mais resistentes e a

variação estequiométrica dos óxidos permitiu o desenvolvimento de novos

materiais com inúmeras aplicações, observando que a capacidade de um vidro se

ligar ao tecido ósseo, sofrer biodegradação e formar uma camada apatítica

30

superficial, varia em função da sua composição e relação dos seus constituintes

(GUTIERRES, 2006).

Levando em conta apenas vidros e vitrocerâmicas bioativas, tem sido

observado na literatura que existe uma série de concentrações limitadas que

exibe alto índice de bioatividade. A relação entre composição e bioatividade para

vidros do sistema SiO2-CaO-Na2O-P2O5, obtidos pelo processo de

fusão/solidificação, é mostrada na Figura 2.5, segundo Siqueira e Zanotto, na qual

é assumida concentração constante de 6 % em massa de P2O5. No diagrama, as

delineações em cinza indicam o limite cinético e não o de equilíbrio de fases.

Figura 2.5 - Diagrama ternário SiO2-CaO-Na2O mostrando a relação existente entre composição e índice de bioatividade (adaptada SIQUEIRA e ZANOTTO, 2011).

Na região central do diagrama, designada pela letra E, se encontram as

composições dos vidros que exibem o índice de bioatividade mais elevado para

esse sistema. As composições que contêm de 52 a 60 % em massa de SiO2

apresentam taxas de ligação mais lentas com o tecido ósseo. Acima de 60 % de

SiO2 (região B), não há formação de ligação com o tecido, assumindo o material

comportamento bioinerte.

Até 1981, imaginava-se que somente o tecido ósseo podia interagir com os

materiais bioativos. Wilson et al. foram os primeiros a demonstrar que o Bioglass®

45S5 também exibia interação com o tecido conjuntivo, desde que a interface

estivesse imóvel. Posteriormente, esses autores ainda mostraram que apenas os

vidros com taxas rápidas de reação superficial são capazes de interagir com o

tecido conjuntivo, restringindo de maneira considerável as composições que

A = ligação com o tecido ósseo

B = não ocorre ligação com os tecidos (baixa reatividade)

C = não ocorre ligação com os tecidos (alta reatividade) D = não ocorre ligação com os tecidos (não forma vidro)

E = composição do Bioglass® 45S5

S = ligação com o tecido conjutivo

SiO2

CaO Na2O

6% P2O5

% P2O5 Variável

31

exibem essa propriedade, conforme pode ser observado no diagrama (região S).

Essa constatação serviu de base para o uso do Bioglass® 45S5 em

procedimentos cirúrgicos destinados à reconstituição da cadeia ossicular,

conhecido como ossiculoplastia, e também na sua aplicação para a preservação

do rebordo alveolar em pacientes submetidos à exodontia (extração dos dentes) e

posterior colocação de implantes.

O Bioglass® 45S5 foi a primeira composição comercial, e mais popular,

com porcentagem em massa de 24,5 % Na2O-24,4 % CaO-6 % P2O5-45 % SiO2 e

inicialmente, acreditava-se que P2O5 fosse necessário para a bioatividade, mas

depois verificou-se que P2O5 ajuda a nuclear (produzir) a fase de fosfato de cálcio

na superfície (SIQUEIRA e ZANOTTO, 2011).

Peitl et al demonstraram que no sistema SiO2-Na2O-CaO-P2O5, a

quantidade de P2O5 influencia positivamente na formação de hidroxiapatita (HA),

Ca10(PO4)6(OH)2, ou seja, na concentração de 6 % de P2O5 a formação foi mais

rápida (8 h) que na composição sem P2O5 (35 h).

Outro fator importante a ser considerado na obtenção do biovidro, quando

este for utilizado em pó, é o tamanho das partículas, para prevenir a sua migração

através do sistema linfático. Sabe-se agora que a utilização clínica de biovidros,

cujo tamanho oscila entre 90-710 μm de diâmetro, não origina os problemas de

migração que ocorrem com partículas menores (GUTIERRES, 2006).

2.4. Técnicas de Caracterização

Para selecionar adequadamente o material em estudo, é necessária sua

caracterização. A caracterização está relacionada com as propriedades do

mesmo, ou seja, cada material tem suas próprias características. Dependendo do

uso do material ou característica requerida poderá abranger a avaliação de

propriedades mecânicas, elétricas, bioatividade, imunogenicidade, eletrônicas,

magnéticas, ópticas, químicas, térmicas e até mesmo a combinação de duas ou

mais destas propriedades.

Uma caracterização microestrutural desejável envolve a determinação da

estrutura cristalina, composição química, quantidade, tamanho, forma e

distribuição das fases. A determinação da estrutura cristalina normalmente

envolve a utilização de técnicas de difração, tais como difração de raios X,

32

elétrons ou nêutrons. Para determinação da composição química das fases e

microrregiões são mais utilizadas as análises de raios X por comprimentos de

onda ou por dispersão de energia. A quantidade, tamanho, morfologia e

distribuição das fases e defeitos cristalinos são características estudadas com

auxílio de microscopia óptica (MO), eletrônica de varredura (MEV) e, eletrônica de

transmissão (MET).

Neste projeto foi dada ênfase na técnica de caracterização química

elementar por espectrometria de fluorescência de raios x por energia dispersiva

(ED-FRX), uma das técnicas mais usadas para determinar a composição dos

materiais, pois com esse tipo de análise podemos saber se ele se encontra na

região de bioatividade ou em qual delas, dentro do diagrama ternário do sistema

SiO2-Na2O-CaO-P2O5.

2.5. Espectrometria de Fluorescência de Raios X (FRX)

Espectrometria de fluorescência de raios X é um método analítico usado

para a determinação da composição química elementar de amostras quaisquer,

tanto orgânicas, como inorgânicas. Nesse método, a amostra pode estar nos

estados sólido, monolítico, líquido ou em solução, ou em pó.

Nessa técnica a excitação geralmente é provocada por irradiação da

amostra com um feixe de raios X proveniente de um tubo de raios X ou de uma

fonte radioativa. Assim, os elementos presentes na amostra são excitados pela

absorção do feixe primário e emitem suas próprias linhas características de

fluorescência de raios X. A fluorescência de raios X (FRX) é uma poderosa

ferramenta para determinações rápidas e quantitativas de todos os elementos,

excetos os mais leves. Além disso, a FRX é usada para a identificação qualitativa

dos elementos que possuem número atômico maior que o oxigênio (> 8) e é

frequentemente usada para análise elementar quantitativa e semiquantitativa

(Skoog, 2009).

Uma vantagem especial da FRX é que ela é não-destrutiva, ao contrário de

muitas outras técnicas elementar. Assim não é necessária uma grande

quantidade de amostra e sua preparação é simples e apresenta alta precisão, já

que seu amplo intervalo de análise alcança a faixa de ppm.

As análises quantitativas são feitas através de comparações com padrões

33

específicos, já as análises semiquantitativas também são realizadas através de

padrões, porém são usados padrões não específicos, que são uma excelente

ferramenta. O tempo de análise pode ser de segundos a 30 minutos, pois esse

tempo varia com o número de elementos, concentrações e valor de exatidão

requerida (RATTI, 2008).

2.5.1. Conceitos de Fluorescência de Raios X

O princípio da técnica é a irradiação da amostra por raios X primários

proveniente de uma lâmpada (tubo) com posterior emissão de raios X

secundários (fluorescentes). A absorção de raios X produz íons eletronicamente

excitados que retornam a seus estados fundamentais por transições envolvendo

elétrons de níveis de energia mais altos.

Quando um elemento de uma amostra é excitado, este tende a ejetar os

elétrons do interior dos níveis dos átomos, e como consequência disto, elétrons

dos níveis mais afastados realizam um salto quântico para preencher a vacância.

Cada transição eletrônica constitui uma perda de energia para o elétron, e esta

energia é emitida na forma de um fóton de raios X, de energia característica e

bem definida para cada elemento com intensidade proporcional à concentração. A

descrição acima pode ser observada pelo Figura 2.6. Assim, de modo resumido, a

análise por fluorescência de raios X consiste de três fases: excitação dos

elementos que constituem a amostra, dispersão dos raios X característicos

emitidos pela amostra e detecção desses raios X, caracterizando o elemento

(NASCIMENTO FILHO, 1999). Entretanto, os comprimentos de onda das linhas

de fluorescência são sempre um pouco maiores do que aqueles das arestas de

absorção correspondentes, porque a absorção remove o elétron do íon (isto é, a

ionização), enquanto a emissão são transições de um elétron de um nível de

energia mais alto do íon (Skoog, 2009).

34

Figura 2.6 – Esquema ilustrativo da produção de fótons de fluorescência. (a) elétron sendo ejetado por um fóton incidente; (b) elétron em L3 preenchendo a

vacância em K e produzindo fóton de fluorescência contribuinte da linha K; (c) elétron em M5 preenchendo a vacância em L3, a diferença de energia dessas

duas camadas é equivalente a um fóton da linha L (BELMONTE, 2005).

Uma fonte de raios X é um tubo sob alto vácuo no qual é montado um

catodo, consistindo de um filamento de tungstênio, e um anodo volumoso. O

anodo geralmente consiste de um bloco de cobre com um alvo metálico

depositado ou incrustado na superfície. Os materiais-alvo incluem metais como

tungstênio, crômio, cobre, molibdênio, ródio, escândio, prata, ferro e cobalto.

Separadamente, circuitos são usados para aquecer o filamento e acelerar

os elétrons para o alvo. O circuito aquecedor fornece o meio para controlar a

intensidade dos raios X emitidos, enquanto o potencial de aceleração determina

suas energias ou comprimentos de onda.

Os detectores dessa técnica normalmente funcionam como contadores de

fótons. Assim, pulsos individuais de carga são produzidos pela radiação, são

absorvidos pelo transdutor e, em seguida, são contados. A contagem de fótons

necessita tempos de resposta rápidos do transdutor e do processador de sinal

para que a chegada de fótons individuais possa ser detectada e registrada com

exatidão. Portanto para que isso ocorra não é possível aplicar feixes de

intensidade baixa, pois os pulsos de fótons começam a se sobrepor (Skoog,

2009).

35

2.5.2. Dispersão dos raios X

Um dos métodos usados na espectrometria de fluorescência de raios X é

a dispersão de energia (ED-FRX), também chamado de não dispersivo, ilustrados

esquematicamente na Figura 2.7.

Figura 2.7 - Representação esquemática fonte – amostra – detector para fluorescência de raios X (BELMONTE, 2005).

Um espectrômetro de raios x dispersivo de energia é composto por: uma

fonte policromática (tubo de raios X ou um material radioativo), um porta

amostras, um detector semicondutor e os alguns componentes eletrônicos

necessários à discriminação de energia.

Uma vantagem óbvia dos sistemas dispersivos de energia é a

simplicidade e a ausência de partes móveis para excitação e detecção do

espectrômetro. Além disso, não possuir colimadores e um cristal difrator, bem

como a proximidade entre o detector e a amostra, tem como resultado um

aumento da energia que chega ao detector de 100 vezes ou mais.

Em um instumento dispersivo de energia, todas as linhas dos raios X

emitidos são medidas simultaneamente. O aumento na sensibilidade e a melhora

na razão sinal/ruído resultam de métodos matemáticos. A principal desvantagem

dos sistemas dispersivos de energia em comparação aos espectrômetros com

cristal é sua baixa resolução em comprimentos de onda maiores do que 1 Ǻ. Por

outro lado, em comprimentos de onda menores, os sistemas de energia

dispersiva mostram uma maior resolução (Skoog, 2009).

36

2.5.3. Calibração

Nas calibrações são usados padrões internacionais ou secundários, muito

semelhantes às amostras a serem trabalhadas, com concentrações conhecidas,

pois essa técnica é comparativa. A quantidade de padrões a ser usado é

diretamente proporcional à faixa de concentração e variações de matriz, ou seja,

composição global da amostra que se quer cobrir. O uso de 10 a 20 padrões é um

número considerável, porém quanto maior a quantidade de padrões maior será a

confiabilidade da análise.

Os valores obtidos em contagens são plotados nas ordenadas, versus as

concentrações conhecidas, nas abcissas. Por aproximações matemáticas (ler

item 2.5.4. Análises Quali-Quantitativas), regressão linear, define a reta de

calibração. Os pontos obtidos normalmente estão muito próximos à reta, mesmo

antes de algum tipo de correção, porque os padrões escolhidos são de matriz

semelhante à da amostra. Pode acontecer de um ou outro ponto se afastar da

reta, portanto esse será o ponto que irá receber maior atenção em relação aos

demais, pois esse ponto está mostrando ou um erro de preparação daquele

padrão, ou algum outro tipo de erro que pode ocorrer na rotina, por diferença de

matriz ou interferências interelementares não esperadas, e jamais esse ponto

deve ser simplesmente excluído.

Um ponto abaixo da reta pode significar alta absorção da radiação, devido

à presença de elementos pesados que não constam no grupo que se pretende

determinar. Em pastilhas prensadas, pode ser efeito de granulometria, em ligas

metálicas pode ser devido a diferentes preparações entre os padrões e amostras.

Já um ponto acima da reta significa matriz mais leve do que as demais (Ratti,

2008).

Para a realização de uma calibração para análises quantitativas,

idealmente devem ser usados 2N+1 padrões, onde N corresponde ao número de

analitos a serem determinado. No entanto, nem sempre existe materiais de

referência em número suficiente disponível, e se existem nem sempre são

caracterizados para todos os elementos de interesse. Quando padrões

certificados são encontrados a análise é chamada de quantitativa e, muitas das

vezes, apresentam menor erro do que as análises semiquantitativas

(NASCIMENTO FILHO, 1999).

37

Os métodos ou programas de análises semiquantitativas usam cálculos de

parâmetros fundamentais e a sensibilidade instrumental. A sensibilidade

instrumental é conseguida com padrões uni ou multielementares, em contagens

por segundo versus massa (cps/0,1mg), e expressa a sensibilidade, o espectro do

tubo de raios X do equipamento, sistema óptico e contaminações do sistema.

Uma vez conseguida a sensibilidade instrumental, o recurso dos

parâmetros fundamentais (corrigindo efeitos de matriz e interelementares) permite

a calibração de um programa semiquantitativo. A partir desta calibração, a

quantificação de amostras desconhecidas fica completamente desvinculada de

padrões semelhantes às amostras, e dependente unicamente do equipamento

(RATTI, 2008).

2.5.4. Análises Quali-Quantitativas

Os instrumentos modernos de fluorescência de raios X são capazes de

realizar análises quantitativas de materiais complexos com precisão maior ou

igual àquela dos métodos químicos clássicos por via úmida. Entretanto, para obter

alta exatidão nessas análises, é necessário padrões de calibração, cuja

composição química e física seja a mais semelhante possível àquela amostra, ou

métodos adequados para compensar os efeitos matriz.

Para obter uma estimativa da concentração, nessa técnica, a seguinte

relação é utilizada:

Px = PsWx (Equação 2.1)

Onde Px é intensidade relativa da linha medida em relação ao número de

contagens para um período fixo e Wx é a fração em peso do elemento em estudo

na amostra. O fator Ps é a intensidade relativa da linha que poderia ser verificada

sob condições de contagem idênticas e se Wx fosse unitária. O valor de Ps é

determinado com a amostra de um elemento puro ou com uma amostra padrão

de composição conhecida.

O uso da Equação 2.1, descrita no parágrafo anterior, é apenas teórica,

pois leva a ideia de que a emissão da espécie de interesse não é afetada pela

presença de outros elementos na amostra que pode causar uma intensificação ou

uma diminuição da intensidade medida, gerando curvas acentuadas, chamado de

efeito matriz. Entretanto, esta incerteza é quase nula comparada àquela

38

associada à análise semiquantitativa por emissão óptica, onde são comuns erros

de ordens de grandeza.

É importante notar que os raios X produzidos no processo de fluorescência

são gerados não apenas dos átomos da superfície da amostra, mas também

pelos átomos logo abaixo da superfície. Assim, uma parte das radiações

(incidente e resultante), da fluorescência, atravessa uma camada significativa da

amostra, sendo que pode ocorrer absorção e espalhamento. A extensão pela qual

cada feixe é atenuado depende do coeficiente de absorção em massa do meio, o

qual é determinado pelos coeficientes de absorção de todos os elementos da

amostra.

Os efeitos de absorção pela matriz podem causar resultados diferentes

daqueles calculados pela Equação 2.1. Se, por exemplo, a matriz contém uma

quantidade significativa de um elemento que absorve o feixe incidente ou o feixe

emitido mais fortemente do que o elemento que está sendo determinado, Wx será

pequeno, porque Ps foi avaliado com um padrão no qual a absorção era pequena.

Por outro lado, se os elementos da matriz na amostra absorvem menos do que

aqueles presentes no padrão, resultam valores alto para Wx.

Um segundo efeito matriz, chamado de efeito de intensificação, pode

fornecer resultados maiores do que os esperados. Este comportamento aparece

quando a amostra contém um elemento cujo espectro característico de emissão é

excitado pelo feixe incidente, e esse espectro, por sua vez, causa uma excitação

secundária da linha analítica (Skoog, 2009).

A prensagem de pós e a exposição de peças metálicas ou cerâmicas à

fluorescência de raios X sofrem a influência da granulometria do pó ou da

rugosidade da superfície. Como regra geral, quanto mais fina a granulometria ou

mais polida a superfície, maior é a intensidade da radiação fluorescente, pois

granulometrias grosseiras farão com que existam "sombras" de uma partícula

sobre a outra. Em amostras nas quais diferentes espécies estão presentes, a

granulometria é importante também por questões de homogeneidade: a diferença

entre os tamanhos das partículas e a densidade das espécies levam a misturas

heterogêneas pontuais e, consequentemente, a erros na quantificação (RATTI,

2008). Como no caso da amostra da Figura 2.8.

39

Figura 2.8 – Efeito da Granulometria (RATTI, 2008).

Antes de qualquer análise é efetuada a calibração do instrumento para as

aplicações desejadas. A precisão analítica final e a exatidão das análises

dependem de vários fatores como a estabilidade instrumental, o procedimento de

calibração, a incerteza associada aos valores recomendados dos materiais de

referência usados para calibração do instrumento, a preparação da amostra e a

estratégia adotada para manter os resultados dentro de certos limites aceitáveis.

Mesmo com todos os cuidados a possibilidade de erros sérios não é

excluída, podendo gerar imprecisão e tendências, nas análises. É importante o

conhecimento dos tipos de erros porque eles possuem diferentes fontes,

correções e consequências para a interpretação dos dados.

A Tabela 2.5 apresenta as prováveis fontes de erros nas medidas

analíticas, conforme descrita por Kane.

Observar a heterogeneidade da granulometria na superfície que será analisada. Isso ocorre porque a amostra apresenta duas fases.

40

Tabela 2.5 – Fontes de erros mais prováveis nas medidas analíticas (KANE, 1997).

Incertezas associadas com a amostra

Amostra não apropriada para o propósito da medida

Amostra apropriada, mas instável durante o uso ou o armazenamento

Incerteza da amostra maior que o propósito da medida

Amostra não homogênea

Erros ao acaso

Repetibilidade da medida instrumental

Repetibilidade analítica

Erros pequenos

Erros de transcrição da massa e ou do sinal de registros analíticos

Erro de leitura do sinal analógico

Mau funcionamento do instrumento durante as medidas

Perda de amostra devido à ineficiência técnica

Erros analíticos

Desconhecimento dos fatores que influenciam a exatidão das medidas

Não correção ou correção incompleta dos efeitos matriz

Não correção ou correção incompleta de interferências espectrais

Separação ou pré-concentração incompleta do analito da sua matriz

Incertezas nos valores dos materiais de referência utilizados na

calibração

Aproximações e suposições incorporadas no processo de medida

Incertezas em massas, materiais volumétrico, etc...

Resolução instrumental insuficiente

Controle inadequado das condições ambientais

2.5.5. Preparação de amostras

A primeira etapa de qualquer análise é realizar um tratamento adequado à

amostra, tendo como objetivo sua preparação para os próximos passos da análise

(KRUG, 2004). A primeira questão a ser respondida é: Qual o propósito da

análise? E sua resposta é bem simples, pois a forma com que irá preparar a

amostra para análise depende de sua natureza, dos elementos a serem

41

determinados e suas respectivas concentrações, do método de análise, da

precisão e exatidão requeridas.

Assim, deixa-se claro que ocorrendo algum problema em relação à análise

química realizada, o problema, muitas das vezes, não está na técnica usada ou

no equipamento, e sim na forma errônea em que a amostra foi preparada. Para

que a amostragem tenha um significado, mais uma questão deve ser respondida:

O quanto a amostra deve ser representativa? Essa segunda questão começa pelo

tipo de análise que irá ser realizada, porque se a análise for quantitativa o nível de

precisão e exatidão requeridas, serão maiores.

Nas preparações, os erros mais comuns ocorrem por perdas e

contaminação nos vários processos da preparação e estocagem; moagem e

peneiramento, oxidação e redução, hidratação e desidratação também colaboram

(RATTI, 2008).

Embora amostras líquidas e gasosas possam ser analisadas, o estado

habitual em que as amostras são submetidas ao FRX é o sólido, por várias razões

de ordem prática:

- a técnica responde perfeitamente a amostras sólidas;

- evitam-se diluições que levam à perda de sensibilidade;

- por ser uma técnica não destrutiva, trabalhando-se sobre amostras

sólidas pode-se executar diferentes análises e repetições, bem como reutilizar

amostras e padrões secundários;

- a disponibilidade de padrões primários, sólidos e pós, é ampla e não há

consumo.

A forma mais simples de amostras é a amostra tal qual, isto é, sem

preparação alguma, da forma que a amostra chega ao laboratório. Alguns fatores

dificultam a utilização direta das amostras como o tamanho, heterogeneidade na

composição e a homogeneidade no tamanho da amostra. O maior problema é o

da heterogeneidade local, pois a penetração dos raios X no espécime é de

poucos microns e quando o espécime é heterogêneo o que é analisado não é

representativo do espécime como um todo.

Uma forma prática de preparar amostras é confeccionar uma pastilha de pó

compactado, nas dimensões adequadas ao equipamento. O empastilhamento de

42

pós é normalmente feito em uma cubeta de alumínio, de diâmetro de 24 ou 30

mm, com ou sem um substrato, dependendo da quantidade e da plasticidade da

amostra, sendo suficientes 15 a 25 ton para compactação, dependendo do

material. O substrato normalmente usado é o ácido bórico. Toda e qualquer

amostra em pó ou passível de moagem pode ser trabalhada desta forma, desde

que diferenças de granulometria e de matriz não sejam acentuadas.

No caso de baixa agregabilidade, algumas substâncias podem ser

adicionadas à amostra para melhor compactação, como o amido, celulose ou

ácido bórico. A adição de materiais ligantes causa uma diluição na amostra que

deve ser a mesma da curva de calibração. O ligante deve ser livre de elementos

contaminantes e não deve apresentar interferências nas análises.

Quando as amostras apresentam problemas como: suas partículas com

dureza muito variada podendo apresentar desvios em uma quantificação em

pastilha prensada, como também, o efeito matriz, ser tão frisado que a diluição

em substâncias sólidas de coeficiente de absorção alto, não seja o suficiente para

contornar as diferenças entre uma amostra e outra.

A solução desses problemas é fazer o uso de amostras fundidas,

empregando-se um fundente adequado, destruindo-se os grãos e diluindo-se as

amostras sendo o efeito matriz eliminado. As fusões não são feitas somente para

eliminar o efeito matriz, como também para incluir um padrão interno, sendo

seguramente homogêneas, às amostras. O padrão interno também é medido,

com os elementos a serem analisados, como meio de comparação para a

absorção de cada amostra, seguida de uma correção matemática simples.

O fundente tem a função de diminuir a temperatura de fusão da amostra e

o mais utilizado é o tetraborato de lítio misturado com o carbonato de lítio. Para a

confecção da amostra é utilizada a proporção 6:1 (sendo 6 partes de fundente e 1

de amostra). E ao guardar as pastilhas fundidas, é necessário cuidado, pois são

higroscópicas.

A fusão ocorre em um forno apropriado e normalmente em cadinhos de

platina. O material pode impregnar nas paredes do cadinho. Para isso não

acontecer algumas gotas de brometo de lítio são adicionadas antes da fusão. O

objetivo das fusões é reagir todos os compostos, adquirindo uma solução total

resfriada para obter um vidro, não cristalino, chamado de pérola.

As principais fontes de erros na preparação das amostras (e conservação

43

dos padrões) são devidas ao manuseio, incluindo distrações como:

- Contaminações com: poeira, material da amostra anterior, material dos

equipamentos;

- Perda de massa: perda de pequenas partículas (pós), material aderido

aos cadinhos ou equipamentos de preparação ou nas pesagens;

- Alterações na composição química: seja por perda de material ou

substâncias voláteis, seja por contaminação ou alteração por mudanças físicas ou

químicas na preparação;

- Superfície das amostras: uniformidade, impressões digitais, identidade

com padrões;

- Decaimento das contagens: higroscopia, oxidação superficial,

contaminação.

44

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Esse capítulo tem como propósito descrever as etapas para a síntese e

caracterização do biovidro. A Figura 3.1 mostra um fluxograma que resume o

processo utilizado nesse trabalho.

Figura 3.1 – Fluxograma das etapas da síntese do biovidro e sua caracterização.

3.1. Materiais

Os reagentes utilizados no desenvolvimento deste trabalho foram:

Ácido Fosfórico 98 %;

Bicarbonato de Sódio 99,7%;

Hidróxido de Cálcio 95%;

Óxido de Silício 99,9%.

45

3.2. Métodos Experimentais

3.2.1. Preparação do Biovidro

A composição adotada nesse trabalho foi o sistema descrito por Hench et

al, 1993, registrado como Bioglass® 45S5, cuja composição básica utiliza Na2O,

CaO, SiO2 e P2O5. A Figura 3.2 apresenta um fluxograma detalhando o processo

de obtenção do biovidro sintetizado neste trabalho.

Figura 3.2 Fluxograma de preparação do biovidro

Os reagentes foram pesados em balança analítica (± 0,0001 g) e

misturados em um moinho de atrito por 1 hora em rotação de 1500 rpm, utilizando

etanol como veículo e bolas de ZrO2-Y2O3 como meio de mistura. Finalizada a

homogeneização, a mistura foi levada a um evaporador rotativo (Figura 3.3) onde

foi seca e logo em seguida desaglomerada com o auxílio de um conjunto de

peneiras até malha mínima de 80 mesh.

46

O pó obtido foi fundido em uma mufla à temperatura de 1400 °C ao ar por 4

horas em um cadinho de platina. O resfriamento ocorreu com taxa de 10 °C/min

até a temperatura de 200 °C. Em seguida, novamente o material foi aquecido até

600 °C, por mais 2 horas, para sua completa cristalização. O resfriamento dessa

etapa também ocorreu com taxa de 10 °C/min, até temperatura ambiente. O vidro

obtido foi moído após resfriamento até temperatura ambiente.

Figura 3.3 – Evaporador rotativo utilizado para a obtenção do biovidro.

3.2.2. Técnicas de Caracterização do Biovidro

3.2.2.1. Análise Térmica

A definição usualmente aceita para análise térmica foi originalmente

proposta pelo Comitê de Nomenclatura da Confederação Internacional de

Análises Térmicas (ICTA) sendo, subsequentemente, adotada tanto pela União

Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), quanto pela Sociedade

Americana de Testes de Materiais (ASTM).

Análise térmica é um termo que abrange um grupo de técnicas nas quais

uma propriedade física ou química de uma substância, ou de seus produtos de

reação, é monitorada em função do tempo ou temperatura, enquanto a

temperatura da amostra, sob uma atmosfera específica, é submetida a uma

programação controlada.

A fim de definir a faixa de temperatura de decomposição, nucleação e

cristalização dos reagentes do biovidro, transformações envolvendo absorção e

47

evolução de calor foi realizada uma análise térmica por calorimetria exploratória

de varredura (DSC).

3.2.2.2. Análise por Espectrometria de Fluorescência de Raios X (FRX)

A análise realizada foi uma variante analítica da fluorescência de raios X,

que se baseia na dispersão de energia. Foi realizada análise semiquantitativa

com o intuito de determinar a composição do biovidro.

A amostra prensada foi preparada pesando em uma balança analítica 1

grama de bórax, borato de sódio, e 1 grama de biovidro. Ambos foram prensados

formando uma pastilha. Na Figura 3.4 mostra o equipamento de ED-FRX utilizado

para a análise.

Figura 3.4 – Equipamento de Fluorescência de Raios X por Energia Dispersiva.

3.2.2.3. Propriedades Biológicas

Para ser comprovada a bioatividade do biovidro produzido, foi realizado o

teste de biocompatibilidade. Nesse teste, corpos de prova com medidas pré-

determinadas são submersas em uma solução simuladora do fluido corpóreo

(SBF – Simulated Body Fluid) e depois é verificado se houve formação de uma

camada de hidroxiapatita que comprova a biocompatibilidade.

Para a confecção das amostras, o biovidro foi prensado na forma cilíndrica

48

com dimensões 9 mm de diâmetro e 10 mm de altura. As 12 amostras foram

tratadas à temperatura de 600 °C.

O preparo da solução do SBF é um processo delicado e sua metodologia

deve seguir uma sequência inflexível, apresentados na Tabela 3.1. Caso isso não

ocorra, pode haver precipitação de sais na solução, o que resulta em sua

inutilização. Assim, em um béquer utilizando 500 mL de água deionizada em

agitação, onde os reagentes foram adicionados obedecendo-se a seqüência

correta, sendo que o próximo reagente não foi adicionado enquanto o anterior não

tinha sido solubilizado totalmente. A temperatura foi mantida em 37 °C. O

conteúdo foi transferido a um balão volumétrico, o qual foi completado com água

deionizada até 1 L. Após agitação do balão o conteúdo foi passado para outro

frasco e conservado em geladeira.

Tabela 3.1 – Sequência dos reagentes a serem adicionados no preparo da solução SBF de acordo com Andrade (REIS, 2011 apud ANDRADE, 1999).

Reagentes Quantidade (g) para 1 L de solução

Cloreto de Sódio 15,95

Bicarbonato de Sódio 0,710

Fosfato dibásico de Sódio 0,545

Cloreto de Magnésio 0,615

Cloreto de Potássio 0,745

Cloreto de Cálcio 0,400

Sulfato de Cálcio 0,175

As amostras foram limpas, desengorduradas em equipamento de

ultrassom, lavadas com água deionizada e secas em uma estufa a 120 °C. Os

experimentos foram realizados em tubos de ensaios devidamente limpos e com

tampa.

Foram acrescentados 130 mL da solução SBF nos tubos, onde as

amostras foram amarradas por um fio de nylon, e submersas na solução de

acordo com a Figura 3.5. A quantidade de solução foi calculada de acordo com a

norma ISO 23317, ou seja, considerando a relação área superficial da amostra e

volume da solução. Em seguida, foram colocadas em estufa mantendo uma

temperatura constante de 37 °C. As amostras foram divididas em 4 grupos com 3

amostras cada, correspondentes a 7, 14, 21 e 28 dias de contato com a solução

SBF.

49

Figura 3.5 – Esquema do teste de biocompatibilidade (REIS, 2011).

A solução foi analisada por espectrofotômetro de absorção atômica para

avaliar as concentrações de cálcio e sódio na solução simuladora antes e após os

períodos de submersão.

50

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Caracterização do Biovidro

4.1.1. Análise Térmica

Primeiramente, antes da obtenção do biovidro, foi feita uma análise térmica

para caracterizar as faixas de temperatura para a decomposição, nucleação e

cristalização da mistura dos reagentes. A Figura 4.1 mostra o resultado da análise

por calorimetria exploratória diferencial (DSC).

Na Figura 4.1 pode-se observar uma região endotérmica, ou seja, onde os

reagentes se decompõem na faixa de 570 a 650 °C e mostra uma região

exotérmica, ou seja, onde ocorre a nucleação e a cristalização dos reagentes na

faixa de 1050 a 1150 °C.

Figura 4.1 – Análise de DSC da mistura de reagentes (REIS, 2011).

4.1.2. Análise de Fluorescência de Raios X por Energia Dispersiva (ED-FRX)

Essa análise foi realizada com o objetivo de determinar a composição do

biovidro sintetizado, tanto seus compostos, quanto suas quantidades. A Tabela

4.1 mostra o resultado obtido.

51

Tabela 4.1 – Análise por ED-FRX do biovidro obtido.

Substâncias % em massa

Na2O 12,1

CaO 20,2

SiO2 61,2

P2O5 6,2

Os resultados apresentados pela Tabela 4.1 mostram que o vidro

produzido realmente é um biovidro, pois sua composição está dentro da região de

bioatividade indicado pelo diagrama obtido nos estudos de Hench, como pode ser

verificado na Figura 4.2.

Pequenas diferenças em relação às porcentagens calculadas podem

ocorrer, pois os cálculos para fabricação do vidro não representam exatamente as

composições na prática. E também esses cálculos apenas consideram a forma

ideal de obtenção, não levando em conta fatores como mudanças no teor de

umidade presentes nas matérias-primas, perdas de massa devido ao transporte

ou perdas por volatilização durante a fusão.

Figura 4.2 – Diagrama de Hench indicando onde está localizado o resultado do

biovidro.

Resultado da amostra A = ligação com o tecido ósseo

B = não ocorre ligação com os tecidos (baixa reatividade)

C = não ocorre ligação com os tecidos (alta reatividade) D = não ocorre ligação com os tecidos (não forma vidro)

E = composição do Bioglass® 45S5

S = ligação com o tecido conjutivo

SiO2

CaO Na2O

6% P2O5

% P2O5 Variável

52

4.1.3. Teste de Biocompatibilidade (teste in vitro)

As amostras do biovidro submersas com o fluido simulador foram

examinadas para constatar a formação de hidroxiapatita. Essas amostras foram

pesadas antes e depois do teste. A Figura 4.3 mostra a grande perda de massa

da amostra que ficou submersa uma semana, provavelmente a amostra se

dissolveu na solução, porém isso não continua ocorrendo com as outras amostras

que permaneceram mais tempo na solução, isso mostra que a partir da segunda

semana de contato elas começam a ganhar massa, ou seja, hidroxiapatita

começa a ser formada.

Figura 4.3 – Variação de massa das amostras após o teste (REIS, 2011).

Per

da

de

mas

sa (

%)

Tempo (dias)

53

4.1.3.1. Teste de Absorção Atômica da solução SBF

Esse teste foi aplicado para acompanhar a variação de concentração dos

íons sódio e cálcio na solução SBF.

Para esse teste ser realizado, uma curva de calibração foi preparada, para

cada íon, utilizando padrões rastreáveis.

Todas as amostras do biovidro que ficaram submersas foram analisadas e

os resultados obtidos para o íon sódio encontram-se na Figura 4.4.

Figura 4.4 – Concentração obtida do íon sódio (REIS, 2011).

Na Figura 4.4 é possível observar que houve o aumento da concentração

do íon Sódio na solução simuladora, que pode ser explicado pelo fato de ocorrer

troca iônica deste íon pertencente ao biovidro com os íons H+ da solução.

Si-O-Na+ + H+ + OH- → SiOH+ + Na+ (solução) + OH-

O mesmo procedimento foi realizado para o íon cálcio e os resultados

obtidos encontram-se na Figura 4.5.

54

Figura 4.5 – Concentração obtida do íon cálcio (REIS, 2011).

A Figura 4.5 mostra a diminuição da concentração de íons cálcio da

solução simuladora, essa diminuição é mais acentuada após 14 dias. Isto pode

ser explicado, pois no início existe uma migração dos íons para a solução, quando

esta atinge a saturação, os íons cálcio começam a se depositar na superfície do

material resultando em uma diminuição da concentração deste íon na solução.

A formação de hidroxiapatita na superfície do vidro pode ser explicada pela

Figura 2.4 (citada no item 2.3.1 Bioatividade, página 28), que mostra as reações

entre o vidro e a solução SBF. Conforme exemplificado na figura, a concentração

do íon sódio aumenta na solução devido à troca iônica entre os íons presentes na

superfície do material com os íons H+ da solução. Nesta etapa ocorre à formação

de grupos silanol (Si−OH). Pode-se notar pelos resultados obtidos na análise de

absorção atômica que a concentração dos íons sódio aumentou e o peso da

amostra diminuiu na primeira semana. Já a concentração do íon cálcio teve um

decaimento com o tempo e seu peso não apresentou grandes variações, a partir

da segunda semana, porque depois da saturação da solução com os íons,

começou a ocorrer sua deposição na superfície do vidro, formando uma camada

de hidroxiapatita.

55

5. CONCLUSÕES

A rota adotada para obtenção do biovidro apresentou-se adequada.

A composição do biovidro sinterizado ficou dentro da região de ligação com

o tecido ósseo no diagrama proposto por Hench.

A técnica de análise elementar Espectrometria de Fluorescência de Raios

X por Energia Dispersiva mostrou-se adequada.

56

6. Referências

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