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FAVELAS Giovanna Verrone O processo de favelização não é novo, porém o crescimento aconteceu no fenômeno de urbanização intenso que o País passou nos anos 50, quan- do os governos levaram uma grande quantidade de pessoas para os gran- des centros urbanos sem que houves- se um planejamento prévio. O processo de consolidação e au- mento das favelas no Brasil começou entre as décadas de 1940 e 1950, com a chegada de um segundo gran- de contingente de imigrantes atraí- dos pela expansão industrial do Bra- sil. Ao mesmo tempo, começou o êxodo rural, com centenas de brasi- leiros saindo do campo para tentar a vida na cidade grande. Sem dinhei- ro para comprar casa ou pagar alu- guel, essas pessoas se juntaram aos descendentes de antigos escravos e começaram a se instalar nas encostas de morros das grandes capitais, bem como viver em casarões transforma- dos em cortiços. Segundo o relatório da Organiza- ção das Nações Unidas (ONU), cer- ca de 11,6 milhões de brasileiros vi- vem em lugares considerados irregu- lares. A região Sudeste abriga 49,8% das favelas, sendo 23,2% das casas lo- calizadas no Estado de São Paulo. Na região do ABC paulista, 620 mil pes- soas vivem em “aglomerações subur- banas”, formando mais de 600 fave- las espalhadas nas cidades de Diade- ma, São Bernardo, Santo André e Mauá. São Caetano não possui fave- las, mas ali existem 122 cortiços. De acordo com dados de 2010 do IBGE, 88,3% das favelas no Brasil têm abastecimento de água, 67,3% possuem esgoto e 72,5% contam com energia elétrica. “A construção desor- denada de barracos faz com que a fa- vela se torne um lugar sem condições para abrigar serviços básicos funcio- nando plenamente, como calçamen- to, postes de iluminação e saneamen- to básico”, comenta Claudete Pagot- to, professora de Ciências Sociais da Universidade Metodista de São Pau- lo. De acordo com a pesquisadora, quem mora na favela gostaria de vi- ver em outro local. “É o tipo de mo- radia que a população de baixa ren- da consegue bancar com o salário que recebe e muitas vezes é o lugar mais próximo do trabalho”, afirma. PROGRAMAS SOCIAIS Desde 2007, por meio do Progra- ma de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo federal já destinou mais de R$ 20 bilhões para projetos que visam a melhorias em favelas e moradias em áreas de risco, investin- do em sistemas de saneamento bási- co, prevenção de desabamentos, ur- banização de assentamentos precários e programas como o Minha Casa, Minha Vida, que entregou mais de 900 mil moradias. Algumas Organizações Não Go- vernamentais também atuam na luta contra a desigualdade na moradia, como o programa TETO, que desde 1997 procura ajudar pessoas caren- tes com programas sociais. “O TETO trabalha em sistema de mu- tirão para arrecadar verba para a compra de material de construção. Depois, todos ajudam na construção da casa dos membros da ONG. Nosso principal objetivo é o desen- volvimento comunitário para que o lar seja o primeiro passo para uma mudança de vida”, afirma Daniella Dolme, diretora de Comunicação da organização. Mais de 11 milhões de pes- soas vivem em favelas ou lo- cais irregulares no País. É co- mo se a população inteira da ci- dade de São Paulo vivesse nes- te tipo de habitação. Apesar de a Constituição brasileira afir- mar que moradia é um direito social, isso não se reflete na realidade dessa fatia conside- rável de brasileiros. Nesta edição do Espaço Cida- dania você conhece um pouco mais sobre como se deu o pro- cesso de favelização no Brasil, como vivem essas pessoas, quais iniciativas estão sendo de- senvolvidas pelo poder público, iniciativa privada e organizações sociais e o que ainda precisa ser feito para mudar essa realidade. Uma das matérias traz como exemplo a Vila São Pedro, em São Bernardo do Campo, no ABC pau- lista, que existe desde os anos de 1980 e teve a população multi- plicada em mais de 100 vezes. Somente após a formação de um conselho popular e a busca de direitos na Justiça algumas melhorias foram possíveis. O Espaço Cidadania também ou- viu a socióloga e coordenadora do curso de Ciências Sociais da Uni- versidade Metodista de São Pau- lo, professora Lucieneida Praun, que analisa, entre outros aspec- tos, a forma como ocorre o convívio social nesses ambientes e aponta a falta de emprego e a desigual- dade social como dois fatores que acabam por gerar as favelas. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, e o fato de tantas pessoas não terem acesso a moradia digna é reflexo disso. Entender como se dá esse proces- so, conhecer iniciativas que bus- quem revertê-lo e tomar parte de- las é um ato de cidadania, já que direta ou indiretamente é um pro- blema que diz respeito a todos nós. Boa leitura! Prof. Dr. Marcio de Moraes Reitor EDITORIAL Universidade Metodista de São Paulo Ano 9 número 102 Outubro de 2012 Favela do Bairro do Montanhão, em São Bernardo do Campo, uma das 600 da região do ABC paulista Favelas abrigam 6% da população brasileira Segundo IBGE um quarto da população do ABC vive em condições precárias Maristela Caretta

Espaço Cidadania - Outubro/2012

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Nesta edição do Espaço Cidadania você conhece um pouco mais sobre como se deu o processo de favelização no Brasil, como vivem essas pessoas, quais iniciativas estão sendo desenvolvidas pelo poder público, iniciativa privada e organizações sociais e o que ainda precisa ser feito para mudar essa realidade.

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Page 1: Espaço Cidadania - Outubro/2012

FAVELAS

Giovanna Verrone

O processo de favelização não éno vo, porém o crescimento acon teceuno fenômeno de urbanização in tensoque o País passou nos anos 50, quan -do os governos le va ram uma gran dequan tidade de pesso as para os gran- des centros urbanos sem que hou ves -se um planejamento pré vio.

O processo de consolidação e au -men to das favelas no Brasil começouen tre as décadas de 1940 e 1950,com a chegada de um segundo gran -de con tingente de imigrantes atraí-dos pe l a expansão industrial do Bra -sil. Ao mesmo tempo, começou oêxo do ru ral, com centenas de bra si-leiros sain do do campo para tentar avida na cidade grande. Sem dinhei -ro para com prar casa ou pagar alu- guel, essas pes soas se juntaram aosdes cenden tes de antigos escravos ecomeçaram a se ins talar nas encostasde morros das gran des capitais, bemcomo vi ver em ca sarões transforma-dos em cor tiços.

Segundo o relatório da Or ga ni za -ção das Nações Unidas (ONU), cer -ca de 11,6 milhões de brasileiros vi -vem em lugares considerados irregu-

la res. A região Sudeste abriga 49,8%das favelas, sendo 23,2% das casas lo -ca lizadas no Estado de São Paulo. Nare gião do ABC paulista, 620 mil pes-soas vi vem em “aglomerações subur- ba nas”, formando mais de 600 fa ve- las es palhadas nas cidades de Dia de -ma, São Bernardo, Santo André eMauá. São Caetano não possui fave-las, mas ali existem 122 cortiços.

De acordo com dados de 2010 doIBGE, 88,3% das favelas no Brasiltêm abastecimento de água, 67,3%pos suem esgoto e 72,5% contam comene r gia elétrica. “A construção desor- denada de barracos faz com que a fa - vela se torne um lugar sem con di çõespara abrigar serviços básicos fun cio-nando plenamente, como cal ça men -to, postes de iluminação e sa nea men -to bá sico”, comenta Claudete Pa got -to, pro fessora de Ciências So ciais daUniversidade Metodista de São Pau -lo. De acordo com a pes qui sa do ra,quem mora na favela gostaria de vi -ver em outro local. “É o tipo de mo - ra dia que a população de baixa ren -da conse gue bancar com o salárioque recebe e muitas vezes é o lugarmais próximo do trabalho”, afirma.

PROGRAMAS SOCIAISDesde 2007, por meio do Pro gra -

ma de Aceleração do Crescimento(PAC), o governo federal já destinoumais de R$ 20 bilhões para projetosque visam a melhorias em favelas emo radias em áreas de risco, in ves tin -do em sistemas de sa neamento bá si -co, prevenção de de sa bamentos, ur -ba nização de assentamentos pre cá riose programas como o Minha Ca sa,Mi nha Vida, que entregou mais de900 mil moradias.

Algumas Organizações Não Go -ver namentais também atuam na lutacontra a desigualdade na moradia,co mo o programa TETO, que desde1997 procura ajudar pessoas caren- tes com programas sociais. “OTETO trabalha em sistema de mu -tirão para arrecadar verba para acompra de ma terial de construção.Depois, todos aju dam na construçãoda casa dos mem bros da ONG.Nosso principal ob jetivo é o desen-volvimento comuni tário para que olar seja o primeiro passo para umamudança de vida”, afirma DaniellaDolme, diretora de Comunicação daorganização.

Mais de 11 milhões de pes-soas vi vem em favelas ou lo-cais irre gu lares no País. É co -mo se a po pu lação inteira da ci- da de de São Paulo vivesse nes -te tipo de ha bi tação. Apesar dea Constituição bra sileira afir- mar que moradia é um direi toso cial, isso não se refle te narea lidade dessa fatia con si de- rá vel de brasileiros. Nesta edição do Espaço Ci da-

da nia você conhece um poucomais sobre como se deu o pro- ces so de favelização no Brasil,co mo vivem essas pessoas,quais iniciativas estão sendo de-sen volvidas pelo poder público,ini ciativa privada e organizaçõesso ciais e o que ainda precisa serfei to para mudar essa realidade. Uma das matérias traz como

exemplo a Vila São Pedro, em SãoBernardo do Campo, no ABC pau- lis ta, que existe desde os anos de1980 e teve a população multi-pli cada em mais de 100 vezes.Somente após a formação de umconselho popular e a bus ca dedi reitos na Justiça algumasme lho rias foram possíveis. O Espaço Cidadania também ou-

viu a socióloga e coordenadora docur so de Ciências Sociais da Uni- ver sidade Metodista de São Pau -lo, professora Lucieneida Praun,que analisa, entre outros as pec-tos, a forma como ocorre o con vívioso cial nesses ambien tes e apontaa falta de emprego e a desigual-da de social como dois fatores queacabam por gerar as favelas.O Brasil é um dos países mais

de siguais do mundo, e o fato detan tas pessoas não terem aces soa moradia digna é reflexo dis so.En tender como se dá esse pro ces -so, conhecer iniciativas que bus- quem revertê-lo e tomar parte de-las é um ato de cidadania, já quedi reta ou indiretamente é um pro- ble ma que diz respeito a todos nós.

Boa leitura!

Prof. Dr. Marcio de MoraesReitor

EDITORIAL

Universidade Metodista de São Paulo • Ano 9 • número 102 • Outubro de 2012

Favela do Bairro do Montanhão, em São Bernardo do Campo, uma das 600 da região do ABC paulista

Favelas abrigam 6%da população brasileira

Segundo IBGE um quarto da população do ABC vive em condições precárias

Maristela Caretta

Page 2: Espaço Cidadania - Outubro/2012

Gustavo Carneiro

Considerada a maior favela deSão Bernardo do Campo, a Vila SãoPedro tem cerca de 65 mil habitantese circunda bairros de classe média daci dade, como Baeta Neves e Nova Pe -trópolis. Apesar de enfrentar proble-mas em diversos setores, a Vila SãoPe dro oferece um variado e forte co -mércio local e também se destaca pelapro ximidade com a região central dacidade, fator que auxilia o comércioe a mobilidade urbana.

De acordo com o presidente doConselho Popular da Vila São Pedro,Ro naldo Silva Barrence, a comuni da -de começou a se formar nos anos1980 com um grupo de 600 pessoas.O local, considerado um bairro pelos

mo radores, possui cerca de 220 ruas,das quais 188 asfaltadas, além de cre- ches, escolas e uma Unidade dePron to Atendimento (UPA). Du ran -te qua se três décadas, os mo ra do resjá so fre ram bastante, principalmen tecom ris cos de desabamentos nas ca -sas cons truídas em vielas e em áreasde ris co.

Barrence conta que, entre 1999 e2000, aconteceram algumas mortesno local. “Na época o poder públiconão tinha interesse em fazer obras quenos ajudariam a acabar com esse pro- ble ma”, diz. O presidente do Conse - lho explica que a comunidade só con -se guiu reverter essa situação quan doos mo radores se organiza ram pa raformar o Conselho Popular. “Reu ni -mos representantes para ir até o fó -

rum on de o juiz deliberou que o po - der mu ni cipal poderia fazer as obrasna Vila São Pedro”. Damião Pe rei raCon rado, um dos mo radores maisantigos da Vila, conta que nada veiofácil. “Sem pre fizemos as coisas commuita luta. Tan to a pavimenta ção dasruas, quan to a creche, só fo ram obti-das graças a ações judiciais”, diz.

O caráter pró-ativo da populaçãoda Vila São Pedro virou tema de fil -me. Em 2010, o documentário “VilaSão Pedro e sua Gente” foi exibidopelo cineasta baiano José Milton dosSantos, um ex-morador da Vila. Em22 minutos, os habitantes da comu-ni dade, personagens da própria his tó- ria, contam sobre como é morar na -que le local e falam das mudanças ob -ser vadas ao longo dos anos.

Crescimento da Vila São P leva melhorias a m

Qualidade de vida da população aumenta com a chegada da Unidade de Pronto Atend

FÉ E CIDADANIA

Inauguração da Unidade de Pronto Atendimento da Vila São Pedro em 2011

A Fé nas favelasMargarida Ri- bei ro, professorade Teologia Pas-toral - Desenvol- vi mento Comu-ni tário, Liturgiae Ministério Pas -

toral da Universidade Metodista deSão Paulo, fala sobre a relação entrea fé e as favelas.

Qual o envolvimento da Igreja nasfavelas?‘A Igreja deve estar onde o povo está’,portanto, a Igreja deve estar pre sentetambém nas favelas. E em meio aosdesafios que se apresentam a Igrejatem a oportunidade de e xer cer a suamissão ‘como comunidade a serviçodo povo’, especialmente nos projetossociais. Há Igrejas que jun tamentecom as pessoas que mo ram nas fa-velas promovem cursos de noções deinformática, reforço esco lar e atémesmo colaboram na cons tru ção debibliotecas populares. Há ou tras quesobem os morros e ajudam na cria-ção de hortas comuni tá rias; mesmoem meio às dificuldades de acesso àágua, as pessoas se orga nizam res-ponsabilizando as diferen tes famí-lias que diariamente le vam a águautilizando baldes e su bin do os íngre-mes barrancos. Diversas atuações.E como diz uma parte do cântico Queestou fazendo se sou cris tão? “não sóa alma do mal salvar também o cor -po ressuscitar.” Ou seja, anunciar aboa nova do Evange lho e atuar emprol da vida digna pa ra o ser huma no.Como as pessoas que vivem em fa-velas se relacionam com a fé?As pessoas que vivem nas favelastêm uma fé incomensurável, admirá -vel. Elas são solidárias, criativas etêm uma alegria contagiante, apesardas dificuldades enfrentadas no seuco tidiano.Qual a mensagem do cristianismopa ra quem vive em situação derisco?Há diversas situações. Especialmen -te em meio às dificuldades decor-ren tes de enchentes, e outros “sinis-tros”, as igre jas se unem indepen-den temente de cre do religioso emprol de ações que dig nificam o serhumano, e partilham mensagens deesperança e paz, na luta pela justiçae vida dig na.

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ENTREVISTA

Da viela para o asfaltoO processo de favelização está na desigualdade social

Pedro, em SBC, oradores

dimento e a pavimentação da maioria das ruas

GabrielaRodrigues

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

LivrosEvangélicos e periferia urbana em São Paulo e Rio de Janeiro:estudos de sociologia e antropologia urbanasDario Paulo Barrera Rivera, Editora CRV, 296 páginas.

Escudado em pesquisas de campo, entrevistas nas áreas periféricase favelas do Rio e de São Paulo, o livro revela toda uma complexidadede articulações entre a condição de morador de periferia e a per-tença/preferência pentecostal. Veja entrevista com o autor:http://bit.ly/PRohTf.

Breve História das FavelasLuis Kehl, Editora Claridade, 112 páginas

Além do lixo, do esgoto a céu aberto e das crianças doentes, nesta obraa favela é descrita como um local onde as pessoas são capazes de so-breviver às adver sidades e, dentro de seu contexto, ainda prover for-mas estruturadas de susten tabilidade, resistência e de felicidade.

Filme5 X Favela - Agora Por Nós Mesmos (2010)Diretores: Cacau Amaral, Cadu Barcelos, Luciana Bezerra, Manaíra Carneiro, Ro-

drigo Felha, Wagner Novais, Luciano Vidigal. Trailer: http://bit.ly/RWzuUW

Este filme é formado por cinco histórias independentes entre si, cô-micas e trá gi cas, que refletem as múltiplas faces do cotidiano dos mo-radores das favelas e fogem dos estereótipos violentos que costumamser associados à vida nas comunidades.

ONGHabitat para a humanidade - Brasilwww.habitatbrasil.org.brArticula e apoia o desenvolvimento de comunidades, por meio deações de construção, reforma e melhoria de unidades habitacionais,regularização urbanística e fundiária de assentamentos.

Maristela Caretta

GIOVANNA VERRONE

Vivemos num país onde a vista dape ri fe ria contrasta com os bairros es tru-tu ra dos. A socióloga Lucieneida Praun épro fessora e coordenadora do curso deCiên cias Sociais na Universidade Me to- dis ta de São Paulo e morou por 12 anosna favela Vila Homero Thon, em SantoAn dré. Ela fala sobre os problemas des -se ti po de moradia e possíveis soluçõespa ra acabar com as favelas.Espaço Cidadania: Qual é a defini-

ção para a palavra favela?Luci Praun: No ponto de vista socio ló-

gi c o, nós podemos considerar a favelaco mo um conjunto de moradias em con- di ções de precariedade, tanto do pontode vista da habitação, mas também dascon dições de infraestrutura. Nesse con-tex to se engloba tudo: saneamento, ele- tri cidade, transporte e o acesso a ser vi- ços básicos como saúde e educação. Espaço Cidadania: Quais os proble-

mas sociais encontrados nas favelas?Luci Praun: Primeiro é o próprio pre-

con ceito com quem vive na favela. Algu -mas empresas não contratam pessoasque moram nesses locais. Segun do, é afal ta de urbanização, ruas estrei tas, queim pede a passagem do ca minhão do li -xo. Muitas vezes o correio também nãoche ga nos barracos, as pessoas preci- sam ir nas casas da ave nida principalbus car as corres pon dências. Além disso,ess es locais aca bam virando um espa -ço on de o trá fico de drogas funciona li-vre me n te, pois até a geografia das fa-velas au xi lia como esconderijo. Outroprobl e ma é a ação da polícia, que cos- tu ma ser violenta, sem fazer distin çãoen tre moradores e bandidos. Espaço Cidadania: Como funciona o

convívio social nas favelas?Luci Praun: Como os barracos são

mui to pequenos, os moradores ficampou co tempo dentro das casas e aca- bam se confraternizando mais na vizi- nhan ça – ao entrar em uma comuni da -de, é bastante comum ver muita gen tecir culando na rua. A vida se faz no es-pa ço aberto e a fronteira entre o pri va -do e o público fica tênue. Por um la do,is so cria laços entre as pessoas, maspor outro, há o incômodo da falta depri vacidade.Espaço Cidadania: Qual é a solução

pa ra acabar com o crescimento desseti po de moradia?Luci Praun: Tem que ter emprego. A de -

si gualdade social gera a favelização.Quem mora na favela não gosta de mo rarlá, mas não há outra alternativa se não vi-ver na rua. Um salário mí nimo va le poucomais de 600 reais, en quanto um aluguelestá por volta de 700 reais. Muitas vezesocupar um terreno vazio é a saída.Espaço Cidadania: Como transformar

as favelas já existentes em locais dig-nos de se viver?Luci Praun: A favela é fruto da desi-

gual dade social, então qualquer po lí ticaque leve em consideração acabar comes se tipo de local significa atacar o pro- ble ma da desigualdade social por com-ple to. Entretanto, quando se fala em ur-ba nizar uma comunidade, ou remover osmo radores para outro lugar, nor malmen -te o que se vê é a retirada da quela po pu-la ção para outra parte da cidade por queaquela área se valo ri zou demais. Al gunspro jetos de mo ra dia popular são vá lidos,mas outros pre cisam ser revistos. Os pré-dios que se erguem nos terre nos antesocu pados por barracos são ex tremamentepre cários, com materiais de baixa qua li-da de e os apartamentos são mi núsculos.É preciso pensar em co mo tirar as pes-soas do barraco, desde que se ja de umama neira decente e res pei to sa.

Page 4: Espaço Cidadania - Outubro/2012

Espaço Cidadania é uma publicação mensal do Instituto Metodista de Ensino Su pe rior. Tiragem: 3.000 exemplares

Conselho Diretor: Paulo Roberto Lima Bruhn (Presidente), Nelson Custodio Ferr (Vice – Presidente), Aureo Lidio

Moreira Ribeiro, Kátia Santos, Augusto Campos De Rezende, Carlos Alberto Ribeiro, Osvaldo Elias de Almeida, Marcos

Sptizer, Ademir Aires Clavel, Oscar Francisco Alves, Regina Magna Araujo (Suplente), Valdecir Barreros (Suplente).

Diretor Geral/Reitor: Marcio de Mo ra es. Diretor de Comunicação: Paulo Roberto Sal les Gar cia. Coordenação

Editorial: Gerência de Comu ni ca ção do IMS e Agência de Comunicação da Fa cul dade de Comu nica ção Conselho

Editorial: Clovis Pinto de Cas tro (pre sidente), Elena Al ves Sil va, Lu iz Roberto Al ves, Paulo Ro ber to Sal les Gar cia, Dag -

mar Sil va Pin to de Cas tro, Paulo Bes sa da Sil va, Ni ca nor Lopes, Léia de Souza. Re dação: Giovanna Verrone, Gustavo

Carneiro (alunos da Facul dade de Co mu nicação). Edição: Alexandra Martin (MTb 26.264) e Israel Bumajny (MTb

60.545)

Projeto Gráfico e Editoração Ele trô ni ca: Tim bre Consultoria em Marca e Design.

Redação: Rua Alfeu Tavares, 149 • Edi fí cio Ró • Rud ge Ramos • 09640-000 • São Ber nar do do Cam po • SP

Telefone: (11) 4366-5599 E-mail: [email protected] Versão Online: www.metodista.br/cidadania

Os textos podem ser reproduzidos, des de que ci tada a fon te e seus autores.

Gustavo Carneiro

É comum a associação de favelasa notícias sobre o crescimento da de - sigualdade social e ao tráfico de dro -gas, criando um estigma pejorati voentre os moradores, como se a co mu- nidade inteira vivesse em função des - se tipo de atividade. Felizmente, exis -tem centenas de iniciativas que in se-rem a população em ações educati vase culturais.

Um exemplo é a proposta daONG “Favela é Isso Aí”, que co me- çou em 2004, com uma pesquisa daan tropóloga Clarice Libânio. Em seues tudo, Clarice produziu um guia cul-tu ral das vilas e favelas de Belo Ho -ri zonte, onde cadastrou 740 gruposcul turais nas comunidades da capital

mi neira. “Mapeei cerca de 7 mil artis-tas atuantes nas áreas de música, dan -ça, teatro, artes plásticas, literatura ede mais manifestações artísticas”, con -ta. Segundo a antropóloga, hoje aONG já tem estúdio comunitáriopró prio, com nove CDs gravados.

Além do projeto artístico, a ONGcon ta também com uma parceriacom a Rádio Inconfidência, onde pro-gra mas de rádio de 15 minutos sãovei culados aos sábados à tarde, commú sicas e poesias produzidas pelosmo radores das favelas de Belo Ho ri -zon te. Outros projetos relacionadosin cluem o “Banco de Memória”, on -de são feitas as pesquisas sociais e cul-tu rais; o “Vendo ou Troco”, que in -cen tiva o desenvolvimento do comér-cio local; o “Prosa e Poesia no Mor -

ro”, que é a editora especializada emlan çamentos de textos de moradoresdas comunidades; e o “Núcleo de Au -dio visual”, que elabora vídeos para osar tistas assessorados pela entidade,pro move oficinas de desenho anima -do e documentário para adolescentes.

Ainda em Belo Horizonte, uma bi -blio teca comunitária também está dis- ponível aos moradores do Bairro Jar -dim Leblon. O Projeto Biblioteca Co -mu nitária começou com uma coo pe ra- tiva de catadores de lixo que se pa ra-vam os livros que seriam descartadose os colocavam à disposição da comu-ni dade. “O espaço nos ajuda mui topor que é o único lugar em que adul- tos e crianças podem ter acesso a livrosno bairro”, afirma Gláucia Ma laquiasda Cruz, responsável pelo local.

AGÊNCIA DE NOTÍCIASDAS FAVELAS

No Rio de Janeiro, outra inicia-ti va que também ajuda as co mu ni- da des carentes é a “ANF – Agên ciade No tícias das Favelas”, a primeiraagên cia de notícias de fa velas domun do, que atua na di vul gação dein formações diá rias das favelas nosite (www.anf.org.br) e de traba- lhos artísticos por meio da produ-ção de um jornal impresso bimes-tral. Para Ma ria na Koury, res pon-sá vel pelo proje to, esse tipo deação é importante pa ra que haja ade mocratização da in for mação dasfa velas, que ganham voz pró pria,sem intermediários.

Iniciativas levam cultura para dentro das favelasBiblioteca comunitária, jornais e divulgação de músicos e poetas valorizam manifestações

artísticas dos moradores de comunidades em Minas Gerais e no Rio de Janeiro

Jéssica Rodrigues

Garotos jogam futebol na Favela do Bairro do Montanhão, em São Bernardo do Campo