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ESPAÇO SOCIALISTA Publicação Revolucionária Marxista de Debates Ano X - N° 45 setembro-outubro de 2011 Contribuição: R$ 1,00 A CRISE DO ENDIVIDAMENTO DOS ESTADOS UNIDOS pág. 4 ENDIVIDAMENTO E CRISE SOCIAL NA EUROPA pág. 6 UM POSSÍVEL E NOVO MOMENTO HISTÓRICO MUNDIAL? pág. 8 O ROCK ERROU: DE WOODSTOCK AO ROCK IN RIO pág. 11 PROBLEMAS NO CRESCIMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA pág. 2 AS MUDANÇAS NO TRABALHO DIÁRIO DO PROFESSOR pág. 9

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ESPAÇOSOCIALISTA Publicação Revolucionária Marxista de DebatesAno X - N° 45 setembro-outubro de 2011

Contribuição: R$ 1,00

A CRISE DO ENDIVIDAMENTO DOSESTADOS UNIDOS

pág. 4

ENDIVIDAMENTO E CRISE SOCIALNA EUROPA

pág. 6

UM POSSÍVEL E NOVO MOMENTOHISTÓRICO MUNDIAL?

pág. 8

O ROCK ERROU: DEWOODSTOCK AO ROCK IN RIO

pág. 11

PROBLEMAS NO CRESCIMENTODA ECONOMIA BRASILEIRA

pág. 2

AS MUDANÇAS NO TRABALHODIÁRIO DO PROFESSOR

pág. 9

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Já alertamos em outras edições queo atual crescimento da economiabrasileira é muito problemático, poisbaseia-se em fatores conflitantes e quepreparam uma crise maior num prazonão muito distante:

a) endividamento cada vez maiordas famílias, das empresas e doEstado. O consumo atual é em grandemedida baseado no crédito (leia-seendividamento). Se o endividamentoparasse de crescer, o país cairiaimediatamente em recessão. Isso porquenão há mercado de consumo interno realque sustente a atual expansão. Esse nãoé um problema do Brasil, mas mundial.

Cada empresa, em competição comas demais, necessita aumentar aomáximo a exploração sobre os seustrabalhadores, reduzindo custos com amão de obra. Mas ao fazerem isso,inevitavelmente provocam aestagnação/redução dos mercadosconsumidores reais de que o própriocapital necessita para absorver a massacrescente de mercadorias produzidas.

A tendência geral é de capacidadesde produção cada vez maiores versusmercados consumidores reais emcontração. A única forma de remediaressa situação, e apenas por um certotempo, é o recurso ao crédito. Os paísescentrais já fizeram isso (com asconsequências conhecidas) e agorarecomendam a mesma estratégia paraos países dominados, os chamados“emergentes”.

No Brasil, o endividamento jáultrapassou os 50% do PIB e continuacrescendo rapidamente. Preocupado, ogoverno tem adotado medidas parafrear o ritmo desse endividamentomassivo, mas não tem como resolveresse problema, pois a hipertrofia docrédito tornou-se um componenteorgânico, necessário, nas váriaseconomias do mundo.

O Estado tem sido o credor maior,embora seja ironicamente o maiorendividado (ver dados abaixo). A grandemassa de dólares que tem entrado no país,desde a irrupção da crise também

financia o crescimento desse bolo.A maioria desse capital externo

busca rendimentos, segurança e liquidez(possibilidade de resgate rápido dasaplicações). Daí sua preferência pelostítulos da Dívida Pública brasileira eempréstimos junto aos bancos, mediantegarantias sólidas de pagamento. Umaoutra parte é investida em projetosprodutivos que têm recebido amplasgarantias por parte do Estado, como asobras do PAC ou indústrias com isenção

quase total de impostos.b) Outro elemento que tem mantido

a economia em crescimento é aexportação das chamadascommodities (matérias-primas ealimentos). Encaixa-se aí a exploraçãodo Pré-Sal. Esse setor tem passado porum boom, aproveitando-se dos altospreços dessas mercadorias no mercadomundial. Mas esse fator é fortementedependente do mercado externo e podesofrer recuos, a partir dos sinais dediminuição do crescimento da economiamundial, já visíveis.

c) Há também os investimentosno setor de serviços com a realizaçãoda Copa e das Olimpíadas, mas osefeitos de crescimento trazidos por essesmegaeventos são temporários. Alémdisso, não compensam de forma algumao investimento feito pelo Estado naconstrução de estádios e estruturas paraa sua realização.

d) Porém, o fator mais

importante e ao mesmo tempo maisencoberto nesse processo tem sidoo constante ataque sobre ostrabalhadores, com a imposição demais tarefas, ritmos e jornadasextenuantes de trabalho, além das perdasprovocadas pela inflação crescente.

A burguesia procura de todas asformas aumentar a exploração sobre ostrabalhadores de conjunto. Esse ataquepermanente não poderia ser impostosem a colaboração dos partidos ecentrais governistas, que a partir dogoverno, mas também no interior dosvários movimentos e entidades,defendem e apóiam a ideologiaburguesa de que para os trabalhadoresterem migalhas, os patrões têm queganhar bilhões. Dizem que a única formade gerar empregos e melhores saláriosé dando todas as condições para ocapital se valorizar. Ao cumprir essepapel de gerente dos interesses do capital,as burocracias do PT, CUT, CTB eForça Sindical buscam assegurar para siuma parte maior de poder e privilégios.

Mas a realidade vai mostrando sinaisde que as coisas não são como queremnos fazer acreditar. Por mais quetenham acumulado lucros nesses anosde crescimento, agora a burguesia e oEstado mostram seus dentes de raivaao menor movimento de reivindicaçãodos trabalhadores, querendo impedir detodas as formas que tenham ao menosuma parte dos salários ou direitosrecuperados.

Acirram o discurso defendendo maiscortes nos investimentos sociais, reformastrabalhista e previdenciária, tudo para quesobre mais dinheiro para a burguesiaatravés de isenções de impostos,empréstimos e obras de interesses dosempresários, enfim, intensificam osataques aos trabalhadores.

O ENDURECIMENTO DA PATRONAL E DOREGIME COMO UM TODO

Desde o início do governo Dilma,já se fazem notar problemas edesequilíbrios no modelo econômicovigente no país. Ao mesmo tempo, a

Problemas no crescimento da economiabrasileira

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postura da burguesia e do governo é deum maior endurecimento contra ostrabalhadores e suas lutas. Isso ficoupatente no tratamento dado às grevesdos transportes, dos professores e dosbombeiros, para citar apenas algumas.Foram reprimidas com dureza pelosgovernos e com intervenção dostribunais no sentido de derrotar/inviabilizar esses movimentos.

A partir de agora, tudo aponta parauma situação ainda mais polarizada, apartir das oscilações da economiamundial nas últimas semanas e quesinalizam a possibilidade de umaestagnação ou recessão mundial numprazo menor do que se previa.

No Brasil, temos visto a redução docrescimento industrial e da geração deempregos. Em julho, foram gerados140.563 empregos, número 22,6%menor do que o verificado no mesmomês do ano passado. O número tambémé 35% inferior ao registrado em junhopassado, quando foram geradas 215.393mil vagas. (http://www1.folha.uol.com.br).

A Dívida Pública (interna e externa)segue aumentando. Mesmo o governotendo cortado R$ 50 bilhões noorçamento no início deste ano, a dívidapública federal reconhecida oficialmentesubiu 6,55%, atingindo R$ 1,8 trilhão(http://www.correio24horas.com.br).Por trás desse crescimento da Dívida estáo pagamento de 78,2 bilhões de jurosaos agiotas só no primeiro semestre. Opagamento desses juros, somado aosaportes do tesouro ao BNDES levou oEstado a se endividar ainda mais.

Outro sinal das dificuldadescrescentes na economia foi a criação pelogoverno de um pacote de R$25 bilhõesem obras, isenções e empréstimos aosempresários. Até 2016 estão mantidasas isenções de IPI sobre os automóveis.

Com isso, concretiza-se o queadvertíamos no jornais anteriores, deque o governo já vem realizando areforma tributária aos poucos ao tornar

irreversíveis as isenções de impostos aosempresários e ao mesmo tempoapresentá-las como a única forma demanter a produção e os empregos.

Para atender a essa política geral, estácirculando na Câmara dos Deputadoso PLP 549/09, projeto que na práticacongela os salários, aposentadorias epensões da União por dez anos,ignorando todas as perdas acumuladas.

Por consequência, neste segundosemestre as lutas e campanhas salariaisserão mais duras que as do ano passado.É fundamental trabalhar com essecenário para buscar formas de unidadee mobilização à altura dos desafios, casocontrário os trabalhadores podemsofrer grandes derrotas, pois tanto apatronal quanto o governo vão tentarmanter e até aprofundar o padrão deexploração vigente, a fim de garantir alucratividade exigida pelo sistema.

IMPULSIONAR AS LUTAS, ACONSCIÊNCIA E A ORGANIZAÇÃO DOS

TRABALHADORESEvidentemente, trata-se de

impulsionar a fundo as campanhassalariais e todos os tipos de luta porcondições de trabalho, aumento dosalário mínimo, pelo investimento de10% do PIB na Educação e também aslutas de setores precarizados e dajuventude, que sofrem um nível altíssimode exploração e opressão.

Nesse sentido, são válidas eimportantes as iniciativas como a recenteJornada de Lutas e a Marcha a Brasíliarealizada em agosto, como uma ação parajuntar movimentos e sindicatos e mostrarforça frente ao governo, retomando umapolítica de unidade dos movimentos.

Mas a participação socialista nessaslutas deve estar a serviço de um objetivomaior: o de formar uma nova consciênciae organismos de base sustentáveis, ajudara classe a formar a sua subjetividade, demodo que esta possa acumular emconsciência e organização, ganhando ouperdendo as lutas imediatas.

Nesse contexto, é preciso todo umtrabalho de crítica e denúncia, umaverdadeira campanha de massas querevele e explique aos trabalhadores osvários aspectos problemáticos domodelo de exploração montado noBrasil, aspectos escondidos pela mídiaburguesa.

É preciso frisar que esse modelo

econômico pode até propiciar algunsganhos momentâneos para uma parte dostrabalhadores, mas ao mesmo tempo estáagravando os problemas estruturais quelogo trarão consequências cruéis para aclasse trabalhadora como um todo.

Infelizmente, as centrais e blocos deesquerda como a CSP- Conlutas(hegemonizada pelo PSTU) e aIntersindical (pelo PSOL), de formageral, limitam-se a uma atuaçãoimediatista e fragmentária, que combateaspectos parciais da realidade, mas nãoa sua totalidade. Além disso, pecam aocair no economicismo.

Um exemplo está no Relatório daReunião da Coordenação da Conlutasde 5,6 e 7 de agosto em BH, em queapresenta o lema para as campanhassalariais do 2º semestre: “Se o Brasil cresceu,trabalhador quer o seu!”

O problema desse lema é que neleestá subentendido que: “desde que otrabalhador leve o seu, está tudo bemcom o crescimento do Brasil”. Ou seja,não questiona o ritmo da exploração, aintensificação do trabalho, a piora dascondições de trabalho, etc. E maisprofundamente, esse lemaimplicitamente admite que não haverianada de errado com o projeto em cursono país, aplicado pela burguesia, ogoverno e a burocracia, desde que ostrabalhadores tivessem uma parte maior.Omite-se em relação à divisão de classesna sociedade, ou seja, ao fato de que ostrabalhadores e os patrões têm interessesopostos, pois não questiona o lucro doscapitalistas e o trabalho assalariado.

Esse tipo de atuação limitada poucocontribui para elevar o nível deconsciência dos trabalhadores,deixando-os à mercê da ideologiaburguesa. Por responsabilidade de suasdireções majoritárias (PSTU e PSOL),têm faltado esse trabalho mais políticoe ideológico junto aos trabalhadores.Isso se expressa no fato de que não temhavido materiais sistemáticos da centralpara serem distribuídos nas fábricas,universidades e estações. Não há umtrabalho com carros de som nos bairros,cartazes, campanhas pela internet,etc.

Defendemos uma atuação quecombine o impulso às lutas imediatascom a luta constante pela construção edesenvolvimento da consciênciasocialista da classe trabalhadora e de seusorganismos de luta!

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UNIDADE DEVE SER PARA LUTAR E PELABASE!

Essa concepção traz também oproblema de que embora todos falemem unidade, cada corrente só aceita aunidade sob sua direção, e não comouma necessidade prática para a luta ereorganização da classe trabalhadora,uma necessidade não apenas para lutarpelos interesses imediatos, massobretudo para que os trabalhadorespossam construir seus organismos deluta e apresentar ao conjunto dosexplorados e oprimidos uma alternativade poder e de sociedade.

Sem essa visão mais profunda,temos visto a esquerda se debater e sedigladiar sem conseguir se unificar nemsequer em nível de vanguarda, comomostrou-se com a falência doCONCLAT em 2010. A politização e aunidade pela base é uma necessidadetambém para que as lutas possam terchance de vencer a barreira montada emconjunto pela burguesia, governo edireções burocráticas da CUT, ForçaSindical e CTB.

Mas a unidade deve ser para somar,não para enfraquecer e confundir. Épreciso apostar na construção de umaidentidade classista da esquerda junto aostrabalhadores pois hoje em dia há muitaconfusão, fruto de todas as traições que

houve por parte do PT e da CUT eCTB. Esse assunto é polêmico poistemos visto cada vez mais o PSTUpropor fóruns, campanhas e até chapascom setores governistas. Isso tem levadoa uma confusão junto aos ativistas pois,se estamos em lados opostos, comopodemos ficar o tempo todo chamandoeles para participar juntos em fóruns,campanhas e chapas?

De fato, temos várias reservasquanto à forma genérica e permanentecom que o PSTU faz esse chamado àunidade com setores pelegos egovernistas. Entendemos que o critérioobjetivo para qualquer unidade de açãodeve ser o da luta concreta. Se houversituações em que setores governistas –por pressão de suas bases – estejamefetivamente (não apenas no discurso)encaminhando lutas, então a unidade énecessária e produtiva, desde que, aomesmo tempo, se mantenha totalindependência política frente a eles. Masse esses setores não estiverem de fatoencaminhando lutas, apenas discursos,declarações gerais de intenções, aomesmo tempo em que têm uma práticacontrária de jogar contra as lutas, entãoé um erro insistir, como tem feito oPSTU, em fóruns ou unidades artificiaise superestruturais com setoresgovernistas (CUT, CTB) em nome de

reivindicações e bandeiras genéricas.Essa política genérica e permanente

de unidade-quase-frente com setoresgovernistas gera confusão junto à classetrabalhadora e só ajuda à própriaburocracia, pois dá um verniz deesquerda a essas direções burocráticas epró-patronais que usam isso paraposarem de esquerda e com issocumprir melhor o papel de desviar oumesmo impedir que as lutas ocorramde fato.

É preciso cada vez mais demarcarum campo próprio dos trabalhadores,apostar a fundo na unidade com ossetores de luta e antigovernistas nosentido de construir uma alternativapolítica e de poder dos trabalhadorespara o país.

Além disso a unidade que devemospriorizar e desenvolver deve ser aunidade cada vez mais pela base, indoalém das próprias correntes organizadas,incorporando também os váriosativistas independentes. Nesse sentido,reafirmamos a proposta de que tanto aCSP-Conlutas quanto a Intersindicalconvoquem e organizem um EncontroNacional de Ativistas para discutir eaprovar um calendário de lutas, umprograma mínimo unitário e retomar adiscussão sobre uma Nova Central deluta dos trabalhadores.

A VOTAÇÃO DO TETO DA DÍVIDA NOSESTADOS UNIDOS

No final de julho e início de agosto,o mundo acompanhou o constrangedorespetáculo da maior potência mundial,os Estados Unidos, enfrentando sériasdificuldades para pagar suas dívidas decurto prazo. Foi preciso uma autorizaçãodo congresso para que o governopudesse aumentar o limite deendividamento para mais de 100% doPIB (Produto Interno Bruto, total dosprodutos e serviços produzidos pelopaís em um ano, hoje em torno de US$14 trilhões). Ou seja, o governo emitiumais títulos (mais dívida) comvencimento no futuro, para conseguirpagar os títulos da dívida passada,

próximos de vencer. Na prática, issosignifica que os Estados Unidos nãoconseguiram pagar suas dívidas, poistiveram que aumentar o limite do“cheque especial”. Ou seja, o problemafoi apenas jogado para frente, comosempre.

O expediente de aumentarindefinidamente o endividamento épraticamente uma rotina para todos osEstados capitalistas, desde quando foidesenvolvido em meados do séculoXX, como forma de superar a GrandeDepressão dos anos 1930 (juntamentecom a guerra). A novidade no casopresente foi a extrema dificuldade doprocesso de negociação da autorização.O congresso de maioria republicana

impôs umviolento desgaste àadministração Obama,erodindo o que restava da suapopularidade. Para aprovar oaumento do endividamento, ocongresso exigiu colossais cortes noorçamento como garantia de que ogoverno equilibrará suas contas,afetando especialmente os serviçospúblicos. Naturalmente, os republicanosbuscaram excluir os gastos militares (US$739 bilhões por ano) da lista de cortes etambém impediram que o governoaumentasse os impostos dos ricos.

AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO ACORDOOs cortes no orçamento (US$ 2,7

A crise do endividamento nosEstados Unidos

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trilhões) vão afetar pesadamente a classetrabalhadora estadunidense, que jáconvive com alto desemprego (o índiceoficial é de 9,2%, mas o desempregooculto por desalento, trabalho parcial,etc., deve elevar essa taxa a quase odobro) e queda nos salários e benefícios.Serão brutalmente reduzidas as despesascom as aposentadorias, as pensões paraidosos e deficientes, o segurodesemprego, os subsídios agrícolas, aalimentação para os indigentes, aassistência médica (Medicare e Medicaid,programas que atendem mais de 50milhões de idosos e pobres), osprogramas habitacionais e os serviçospúblicos em geral, cujos funcionários,desde professores a bombeiros, estãosendo demitidos em massa nos estadose municípios, gestando uma verdadeirahecatombe social. Enquanto isso, oslucros bilionários dos banqueiros eespeculadores estão sendo garantidospelo governo Obama.

As consequências futuras do atualcorte de gastos vão apenas agravar umcenário econômico já bastantedeteriorado. Os números da economiadivulgados em meados do anoreferentes ao PIB, emprego, salários,consumo, investimento, etc., mostramque a chamada “recuperação” iniciadaem 2009, quando houve crescimento de3,9% do PIB apesar do altodesemprego, está se transformando emuma estagnação em torno de 1,5%, semrecuperação do emprego (“Sharp fall inconsumer spending, manufacturing inUS”, WSWS, 03.08.2011). Tornou-serotina revisar para baixo os números doPIB dos semestres passados, mostrandoque aquilo que havia sido divulgadocomo crescimento era pura maquiagempara animar os mercados.

O MERCADO CONTINUA INSATISFEITOMesmo que o aumento do teto

tenha sido afinal aprovado no congresso,o estrago no mercado financeiro jáestava feito. A Standard & Poor’s,agência de classificação de risco (queelabora uma espécie de “ranking” daconfiabilidade e lucratividade de todosos papéis públicos e privados emnegociação nos mercados financeiros),rebaixou a nota dos títulos públicosestadunidenses. Segundo a S&P, oscortes no orçamento teriam que serde até US$ 4 trilhões para satisfazer o

mercado, de quem a agência se arvoraem representante. Por mais que oscritérios da S&P e das outras agênciasMoodys e Fitch sejam arbitrários ou nomínimo pouco transparentes, essasinstituições possuem um podergigantesco num mundo cada vez maiscontrolado pelo mercado financeiro. Orebaixamento dos títulos estadunidensesestá sendo comparado à quebra dopadrão dólar-ouro em 1971, quando ogoverno Nixon assumiu que não tinhaouro suficiente para lastrear o dólar.Agora, o governo assume que não temdólares suficientes para pagar seustítulos...

O simples temor de que os EstadosUnidos dessem um calote em sua dívidaprovocou um pequeno terremoto nasfinanças internacionais e ressuscitou osfantasmas de uma volta à recessão. Issofez as bolsas de valores do mundo inteirocaírem nas semanas seguintes. O Bankof America, maior banco comercial dosEstados Unidos, viu suas ações caírem20% (ALAI, 08/08/2011). Índicescomo o Dow Jones, NASDAQ e S&P500 experimentaram as piores quedasdesde 2008. Esse fenômeno revela ograu de artificialidade em que se movea economia capitalista atual.

A ARTIFICIALIDADE DO CAPITALISMOAo contrário do que dizem os

economistas vulgares (burgueses), nãoexiste separação entre “economia real”e “economia virtual”. A dificuldade dosistema para realizar a mais valia (que égerada na esfera da produção, ou seja,na “economia real”) tem sidocontornada por mecanismos artificiaisde geração de capital fictício na esferada circulação, através da especulaçãocom papéis (como se fosse possívelgerar valor a partir do dinheiro, e não ocontrário). O “andaime” que sustentaesse capital fictício é precisamente odólar. Os banqueiros e especuladores

confiam que o governo estadunidensesempre estará lá para socorrê-los comcaminhões de dólares. Uma recenteauditoria descobriu que, desde 2007,início da crise financeira, até meados de2010, 16 trilhões de dólares foramemitidos apenas pelo FED (BancoCentral estadunidense) para resgatar osespeculadores. Ou seja, o FED, que éuma instituição independente dogoverno, contraiu uma dívida maior doque a dívida do governo da União e opróprio PIB do país! (Atilio Borón, Correioda Cidadania, 03 de Agosto de 2011)

O governo absorveu para si, diretaou indiretamente, as dívidas dosespeculadores privados, transformando-os em títulos da dívida pública. Os títulosdo tesouro estadunidense sãoconsiderados o investimento maisseguro do mundo, exatamente porque,até agora em 2011, nunca na história secogitou na possibilidade de um calote.Os pacotes de salvamento desde a crisede 2008-2009 foram justamente o quefez aumentar tremendamente oendividamento público, que levou à atualcrise. Se os títulos estadunidensesperdessem valor, por conta dapossibilidade de calote, isso arrastariajunto o valor do dólar, pois o lastro damoeda estadunidense é a confiança emque o governo do país sempre pagarásuas dívidas.

A economia mundial temfuncionado, ao menos na última década,com base em uma dinâmica que tem seueixo no comércio internacional emdireção aos Estados Unidos. A produçãode mercadorias está mundializada empaíses como a China, que exportam paraos Estados Unidos e recebempagamento em dólar. Os paísesexportadores acumulam reservas emdólar e adquirem títulos do governoestadunidense, ou seja, emprestamdinheiro ao governo estadunidense para

que continue rolando suas dívidas. Cercade metade dos títulos da dívida estãoem poder de bancos centraisestrangeiros, cuja procura mantém essa“mercadoria” apreciada e o valor dodólar elevado. Com isso, o consumidorestadunidense pode continuarcomprando mercadorias produzidas naChina e pagando com um dólar aindaforte, e assim sucessivamente. Apossibilidade de ruptura nesse circuito,com o não pagamento dos títulos da

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“Panic on the streets of London! Panic on thestreets of Birmingham!”The Smiths, “Panic”

A atual crise de endividamento dasgrandes potências imperialistas estásendo tratada pela imprensa burguesacomo uma espécie de acidenteinesperado, como se tivesse surgido donada. Essa desorientação é proposital,pois para explicar realmente o fenômenoseria preciso admitir a existência dedefeitos fatais do capitalismo e a vigênciade sua crise estrutural. A crise doendividamento não é um acidente, masuma consequência direta das medidasque foram tomadas para enfrentar acrise anterior, em 2008. Todos osgovernos europeus, já altamenteendividados, gastaram trilhões dedólares para salvar os bancos e demaisespeculadores da falência. Agora, ospróprios governos estão à beira dafalência. E para pagar suas contas, sãoobrigados a cortar gastos, o que afeta avida de suas populações. Asconsequências desses cortes têm sidovistas na forma de uma onda de

protestos e greves em vários países, etambém sob formas mais inesperadas,como os violentos tumultos naInglaterra.

Nem sequer havia sido contornadoo problema dos países da periferiaeuropéia, como a Grécia (pacote de 110bilhões de euros para evitar o calote emmaio) e veio à tona a situação da Itália, a3ª maior economia da zona do euro,com PIB equivalente a 18% do total dobloco e 120% de endividamento (sómenor do que o da Grécia). Não hádinheiro suficiente para resgatar umaeconomia do tamanho da Itália. Naúltima hora o governo Berlusconiimprovisou uma reforma constitucionalcomprometendo o governo a honrarsuas dívidas com o mercado, masmesmo isso não foi suficiente. Os bancosfranceses e alemães, que possuemcentenas de bilhões em títulos italianos,espanhóis e de outros países altamenteendividados, se aproximaramperigosamente de um colapso ao estiloLehman Brothers. Os índices das bolsaseuropéias, assim como osestadunidenses, também caíramseguidamente no início de agosto, ora apretexto da dívida italiana, depois daBélgica, e assim sucessivamente. Adivulgação dos números globais daeconomia (crescimento quase zero doPIB em vários países, como a própriaFrança) não ajudou nada. Vários paíseschegaram a impor uma suspensãotemporária da negociação de papéis decurto prazo (“short selling”) pelos

bancos, numa tentativa desesperada deimpedir as quedas no mercado.

A SOCIALIZAÇÃO DOS PREJUÍZOSHá muito tempo o limite de

endividamento de 60% do PIB e déficitde 3% para países participantes dosistema do euro tornou-se uma ficção.Praticamente todos os governoseuropeus, dos maiores aos menores,descumpriam esses limites, o que seagravou drasticamente com a escalada depacotes para salvar seus bancos e reativarsuas economias desde 2008. Em funçãodesse alto endividamento, os governos devários países europeus só conseguemvender novos títulos oferecendo taxas dejuros cada vez maiores. Isso faz com queaumente a dívida e diminua o prazo depagamento, apontando para o momentoinevitável do calote.

Para evitar o calote, entram em cenainstituições como o FMI, o BancoCentral Europeu e a própria UniãoEuropéia, que fornecem pacotes deempréstimos para que os paísesendividados paguem suas dívidas decurto prazo. Em troca, esses governosprecisam aprovar cortes nos gastospúblicos, aumento de impostos,privatização do patrimônio estatal eataques aos serviços públicos (saúde,educação, etc.), às aposentadorias, aosdireitos trabalhistas, etc. Em outraspalavras, os trabalhadores são forçadosa sofrer para que os seus governoscontinuem pagando os banqueiros.

As medidas de redução de gastos

dívida pelos Estados Unidos, teria umefeito em cadeia, com a desvalorizaçãodos títulos de dívida em poder doscredores, e também a desvalorização dopróprio dólar, a cessação das exportaçõespara os Estados Unidos, a queda docomércio mundial, uma nova recessão oumesmo uma depressão mundial.

O ENDIVIDAMENTO E A CRISEESTRUTURAL DO CAPITAL

Esse risco foi momentaneamenteafastado com a aprovação do aumentodo teto da dívida pelo congresso. Maso fato de que o risco permanece ésuficiente para provocar nervosismo no

mercado. O capitalismo atual não podefuncionar sem a expectativa dacontinuidade dos lucros fáceis epredatórios da especulação. Assim, acrise do endividamento pode levar aoque os economistas chamam de duplomergulho numa nova recessão. Naverdade, o conjunto da economiamundial não chegou a se recuperar darecessão iniciada em 2008. A retomadado crescimento e dos lucros em algunsnúcleos capitalistas, como os própriosEstados Unidos e a Alemanha, ao longode 2009 e 2010, empalidece diante dopano de fundo de estagnação no restantedo mundo e de importantes

contradições, como o desemprego e oempobrecimento nos Estados Unidos.

Isso comprova a existência daquiloque chamamos de crise estrutural docapital, ou seja, a vigência de um períodohistórico em que as crises periódicas sãocada vez mais agudas, os períodos derecuperação mais curtos e insuficientes,e problemas cada vez maiores seacumulam para o futuro. Cada vez maisse torna claro que a defesa das condiçõesde vida dos trabalhadores passa poruma luta contra o sistema capitalistacomo um todo, e sua substituição poruma sociedade socialista livre daexploração e da alienação.

Endividamento e crise social na Europa

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públicos contribuem para diminuir oconsumo e desacelerar ainda mais aeconomia, diminuindo também aarrecadação de impostos econsequentemente a própriapossibilidade de seguir pagando a dívida,num círculo vicioso. A crise da dívidaeuropéia está sendo comparada com acrise da dívida latino-americana do iníciodos anos 80, que levou à chamada“década perdida” sem crescimentoeconômico, e só terminou com orefinanciamento da dívida sob a formade novos títulos denominados emdólares (“Plano Brady”, de autoria doentão secretário do tesouroestadunidense), em 1989. Isso abriu ocaminho para os programas de ajusteneoliberais da década de 1990, pois acondição dos credores para aceitar osnovos títulos era que os paísesendividados abrissem suas economias aocomércio internacional, privatizassemempresas públicas e retirassem asproteções trabalhistas.

AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DA CRISE:O EXEMPLO INGLÊS

A divisão entre os países maispoderosos e os mais fracos se aprofundano interior da Europa. Cada governo,motivado por questões de sobrevivênciapolítica imediata, tenta jogar sobre osoutros países o ônus da crise. Nomomento em que seria mais urgente aunidade política européia, as burguesiasnacionais de cada país entram num“salve-se quem puder”, com os maisfortes, como Alemanha e França,depauperando os mais pobres, como aGrécia, Portugal, Irlanda, Espanha e atéItália, impondo ajustes brutais contra suaspopulações, para garantir o pagamentodesses países aos seus bancos.

A Inglaterra não faz parte da zonado euro, mas sofre com baixocrescimento (previsão de 1,4% em 2011– UOL, 14/08/11), alto endividamento(US$ 2 trilhões, ou 70% do PIB e déficitfiscal de 11%, agência Carta Maior – Uol,

13/08/11) e desemprego de 7,7%(http://www.statistics.gov.uk), segundoo índice oficial. A resposta do governodo primeiro-ministro conservadorDavid Cameron foi um pacote de cortenos gastos públicos de US$ 130 bilhõesaté 2015 (Carta Maior, 13/08/11),distribuídos entre os vários setores dosserviços públicos.

Em fins de 2010, o governo inglêsaumentou as taxas de matrículas dasuniversidades públicas, o que na ocasiãojá provocou uma onda massiva deprotestos estudantis. Nos primeirosmeses de 2011 houve o fechamento deespaços de lazer para a juventude, comoparte de um pacote de cortes nos gastossociais, que afetaram várias outras áreasdo serviço público. Os jovens convivemcom uma altíssima taxa de desemprego– de um total de 2,48 milhões dedesempregados, cerca de 963 mil sãojovens com menos de 25 anos de idade(traduzido de http://www.guardian.co.uk) –, combinadacom a tentação do consumo estimuladapela publicidade onipresente, e com abrutalidade policial desses tempos de“guerra ao terror” (que já vitimou obrasileiro Jean Charles de Menezes, em2005). Esses ingredientes somaram-separa produzir uma verdadeira bombarelógio social, que fatalmente explodiria.

A brutalidade policial acaboufazendo mais uma vítima fatal em 2011.Na sexta-feira 5 de agosto a polícia inglesaassassinou um jovem chamado MarkDuggan, um cidadão inglês negro, nobairro multiétnico de Tottenham, emLondres, por motivos que permanecematé agora inexplicados. Isso resultou numaonda de saques, depredações e incêndios,que tomou conta da capital Londres evárias outras cidades inglesas, comoBirmingham, Liverpool e Manchester.Esse fenômeno é semelhante ao queaconteceu em Paris em novembro de2005 e Atenas em dezembro de 2008,quando o assassinato de jovens pobrespela polícia provocou uma revolta dajuventude em geral. Os jovens inglesessaquearam lojas de eletrônicos,depredaram e incendiaram prédios eautomóveis, e enfrentaram a políciadurante quatro noites. Houve milhares deprisões, centenas de feridos e 5 mortes,até que a situação voltasse ao controle dasautoridades.

Ao contrário do que a imprensa diz,

não se trata de vandâlos, mas de jovensprotestando contra a situação precária aque estão submetidos cotidianamente. Aviolência policial, com um forteconteúdo racista, tem sido constante emLondres. Segundo David Karvala, de1998 até 2010 foram 333 mortes dejovens que estavam sob tutela da polícia.De 1967 até 2001 foram por volta de1000 mortes. De todos esses casos sóum policial foi condenado. A essasituação soma-se o fato de que najuventude da Inglaterra 20% dos jovensde 16 a 24 anos estão desempregados.Entre os negros esses índices são de 50%.

A NECESSIDADE DE UMA ALTERNATIVASOCIALISTA

O governo Cameron e a mídiaburguesa trataram os acontecimentoscomo uma súbita onda de criminalidade,como se se tratasse de simples roubo evandalismo. Um gigantesco efetivopolicial foi mobilizado e discursos ferozesforam proferidos em defesa dasegurança, da ordem e da propriedade.Isso não passa de uma tentativadesesperada de tapar o sol com a peneira.A crise social não é um “privilégio” daperiferia da Europa, pois afeta umgigante global como a própria Inglaterra.Por mais que os funcionários da burguesiano Estado e na mídia se neguem aadmitir, os tumultos de rua têm sim umimportante significado político.

As ações dos jovens ingleses,mesmo que não apontem diretamentepara uma luta política contra o Estado(como era o caso especialmente dosjovens atenienses em 2008), revelamuma série de componentes ideológicos:frustração com as promessas nãocumpridas de prosperidade (desejo deconsumo); ódio contra o Estado e suasinstituições, especialmente a polícia;desprezo para com a lei e a propriedade;disposição de luta; e coragem paraenfrentar a autoridade.

Tudo isso precisa ser conduzidopara as causas corretas: contra os cortesnos gastos sociais; contra o pagamentoda dívida aos banqueiros eespeculadores; por emprego, salário eserviços públicos para todos; contra oEstado e suas instituições autoritárias eanti-populares. Só essa luta pode levar aum avanço de consciência que permitaprojetar a superação do capitalismo e aconstrução de uma sociedade socialista.

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Nas Resoluções da Conferência2011 do Espaço Socialista (disponívelno site) já destacávamos que havia umanova situação política mundial cujoelemento central era a diversidade delutas envolvendo milhõesde trabalhadores em várias partes domundo, principalmente, a partir doprocesso de luta contra as ditaduras dospaíses do Norte da África.

Essa situação é de grandeimportância, pois ao desenvolver-sepodemos chegar a uma mudança nacorrelação de forças entre as classessociais.

Ao termos vários paísesenvolvidos há um salto de qualidade naluta devido à interferência na políticainterna de cada país e à própria relaçãocom e entre os imperialismos. Ou seja,cria-se um campo mais hostil para apermanente necessidade expansionistado imperialismo.

A partir dos últimos acontecimentosna Europa (Grécia, Londres, M15 naEspanha), América Latina (Chile), Norteda África (Síria) e Ásia (Índia) é possívelafirmarmos que essasituação desenvolveu-se aindamais, principalmente por considerarmosque agora temos em cena setores doproletariado de países centrais.

Outro aspecto importante dessanova situação política é a divergênciapública entre setores do imperialismo eo enfraquecimento político dosgovernos dos países envolvidos nessasmobilizações. Esse é o caso de Obamanos Estados Unidos, Zapatero naEspanha e Piñera no Chile, este com osíndices mais baixos de popularidade dasúltimas décadas.

O FUNDAMENTO DA NOVA SITUAÇÃOPOLÍTICA MUNDIAL ESTÁ NA CRISE

ECONÔMICAOutra questão que havíamos

ressaltado diz respeito à durabilidade dacrise que se iniciou em 2008 e que, apesar

de alguns elementos contraditórios (caberessaltar a Lei do DesenvolvimentoDesigual e Combinado) como asrealidades de Brasil e Argentina, faz-sepresente. Economias poderosas – comoa alemã e a estadunidense – queapresentavam uma pequenarecuperação, com os novos dadosmostram que há uma inversão em cursoe indicam que, na melhor das hipóteses,a economia mundial caminhará para umaestagnação.

Além de estabelecer outracorrelação de forças na luta de classes, aatual crise econômica nos faz percebera necessidade de intensificarmos a lutapara mantermos direitos, contra odesemprego e pela sobrevivência.Também escancara as fissuras entre asforças burguesas e demonstra como sãocapazes de fazer qualquer negócio paracontinuarem lucrando.

Nos Estados Unidos a fissura entredemocratas e republicanos sobre o quefazer para solucionar a crise de dívidaprovocou a instabilidade nas bolsas devalores de todo o mundo (veja matérianeste jornal). Na Europa os debates doBanco Central Europeu sobre as medidaspara conter a crise dos “PIGS” (Portugal,Irlanda, Grécia e Espanha) demonstramcomo cada governo endivida o Estadopara salvar bancos e empresas, isto é, osinteresses da burguesia.

A intensificação de importantesmobilizações demonstra como aexploração é mundial e como a luta doproletariado deve ser internacional: Asfantásticas mobilizações populares noEgito e no Iêmen; as greves gerais naGrécia; a luta dos estudantes em unidadecom a classe operária por ensino públicono Chile; a luta de professores e demaistrabalhadores contra o corte de verbasem Wisconsin nos Estados Unidos; ainédita e gigantesca mobilização emIsrael, os jovens de periferia queiluminaram as noites em protesto aoassassinato de um jovem negro em

Londres na Inglaterra, principal aliadoestadunidense na Europa e asmanifestações contra a corrupção naÍndia.

Todas essas mobilizações trazem asmarcas da dura realidade vivida pelostrabalhadores, vítimas das artimanhas daburguesia para manter-se no poder. Aoquerer a riqueza -produzida com nossosuor- em suas mãos procura retirarnossos empregos, salários, direitos e avida de muitos. Esse é o resultado dacrise econômica que se alastra – compicos – há três anos.

Dessas mobilizações podemosdestacar três características: a) tem comocausa as crises econômica e social que sealastram; b) acontecem também nocoração do sistema capitalista; c) emgeral os sujeitos políticos são setorespopulares e juvenis, o que quer dizer que,pelo menos por enquanto, a classeoperária, com exceção da Grécia e Egito,não se colocou como protagonista desseprocesso.

Como podemos observar aintensificação da exploração é necessáriapara conter a crise, que é global etambém envolve os países centrais.Dessa forma, o ataque aos direitos dostrabalhadores, o que leva a umempobrecimento da classe, ocorre emtodos os países e nesse momento oelemento qualitativo está no fato de queele ocorre também nos países centraisdo capitalismo. O diferencial nessemomento é que, devido a circunstânciashistóricas, paulatinamente ostrabalhadores e explorados passam aresistir e não mais aceitar os ditames docapital e os abusos da burguesia.

As crises no sistema capitalista

Passadas décadas de “neoliberalismo”, décadasque insinuavam um sono eterno de capitalismo,o mundo aos poucos acorda. Mas acorda comoum corpo que, apesar de anestesiado e de aindanão saber lidar habilmente com os própriosmovimentos, tenta se mexer

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surgem da dificuldade da burguesia emalcançar satisfatoriamente certa taxa delucro. Consequentemente adota medidasque buscam aumentar a extração demais-valia relativa (desenvolvimentotecnológico, por exemplo) ou absoluta(prolongamento da jornada de trabalho,por exemplo) e tentar retomar as antigastaxas de lucro. Dessa forma, propõesoluções para a crise que aumentem aapropriação do trabalho que não é pago,mas é executado pelo trabalhador naprodução.

Os capitalistas sabem que se nãoconseguirem impor sobre ostrabalhadores mudanças e ajustes naprodução não irão conseguir encontrarnenhuma saída mais duradoura. Portanto,criar condições para continuar lucrandosem deixar cair sua taxa de lucro é decisivopara a burguesia, ou seja, a imposição dascontra-tendências (exploração sobre aclasse trabalhadora) à queda da taxa delucro é, portanto, decisiva.

Em termos políticos o resultado dacrise econômica também é perverso. Énecessário para a burguesia manter aclasse trabalhadora desmobilizada edesmoralizada (por isso tantas críticas adeterminadas categoriasprofissionais). Quando se mobiliza éextremamente importante que sejaderrotada (com o não atendimento dasreivindicações ou com a repressão,prisão e/ou morte dos ativistas).

Aumentar o teto da dívida doEstado, reduzir os gastos públicos epolíticas para disputar o mercadomundial somente empurram ascontradições para frente, mas nãoresolvem o problema da crise. Comoos lucros resultantes de taxas de juros,os juros para pagamento das dívidas (ea própria dívida pública) e o incentivoestatal para o crédito dependem, ao fim,da criação de valor, podemos dizer quea sorte dos capitalistas para superar maisessa crise se localiza primeiro naprodução, com espaço de criação devalor, de acordo com Marx, e segundono resultado da luta de classes.Repetimos: a solução da crise – tendoem conta os interesses do capital - passapela possibilidade dos capitalistasgarantirem uma produção com altastaxas de lucro.

Isto é, a burguesia adota políticaspara reduzir salários, retirar direitos(garantidos pelo Estado ou pelas

empresas) e aumentar o desemprego(por consequência, o exército industrialde reserva) o que empobrece quemconsome (alvo para realização do lucro)e retira do universo de consumo umaparcela considerável da populaçãomundial. Mas, ao mesmo tempo procuramanter os níveis de produção e de seuslucros.

Essa contradição entre ter queproduzir ou ser o produtor da riquezae não poder, minimamente, consumirpode levar o proletariado mundial a nãoaceitar o funcionamento injusto dasociedade. As últimas mobilizaçõesindicam que há uma importanteresistência dos trabalhadores àsdesigualdades sociais. Issoevidentemente é um dos mais sériosobstáculos para o capital. Portanto, éextremamente necessário uma forterepressão do Estado burguês paracontê-las.

DIREITOS RETIRADOS DOSTRABALHADORES

O desfecho da luta política é,portanto, decisivo, pois o que está emjogo, em última instância, é asobrevivência do capitalismo enquantosistema social. A atenção de todos osgovernos está voltada para a aplicaçãodas medidas de retiradas de direitos.

Se verificarmos rapidamente, hádireitos que estão sob a mira da burguesiaem todo o mundo: fim ou restriçõesdrásticas da aposentadoria e daseguridade social; fim da estabilidade noemprego; fim do custeio por parte doEstado de serviços básicos como Saúdee Educação públicas; retirada de direitostrabalhistas; constante desvalorização dossalários (que pode ser medida pelodistanciamento entre valorização dosalário e aumento da produtividade) euma crescente formação de um exércitoindustrial de reserva mundial com oaumento do desemprego.

Dessa forma, não podemos tratarapenas da maldade de um ou outrogoverno, mas de uma política global quevisa satisfazer as necessidades das grandescorporações que submetem a vida aosinteresses econômicos.

Políticos e empresários enfrentam oproblema global com uma políticaglobal. O Estado contribui com oscapitalistas destinando parte importantedo orçamento público, inclusive dos

impostos retirados de nossos holerites,para pagamento dos custos dafinanceirização, para a realização deobras e serviços de interesse das grandesempreiteiras e para apoiar determinadossetores da burguesia, como a indústriabélica. Para isso desenvolve tambémperversos mecanismos ideológicos quebuscam justificar esse modelo desociedade.

Assim, podemos perceber que acrise empurra a burguesia para a retiradade direitos dos trabalhadores, mas ostrabalhadores resistem e lutam. Forma-se dessa maneira uma caldeira quepoderá explodir a qualquer momento.Esse é o elemento central desse novomomento da luta de classes.

As burguesias e os imperialistassabem que a combinação de criseeconômica com a luta de trabalhadorespode colocar em xeque todo omecanismo de funcionamento docapitalismo. Por isso deter esse ascensoe retomar o controle da situação é oprincipal desafio para os capitalistas nopróximo período.

Essa nova situação política mundialtem vários pontos frágeis (ausência doproletariado industrial, um nível deconsciência de classe muito baixo, etc.),mas é, sem dúvida, um importantemomento para a solidariedade entre ostrabalhadores em luta. Além disso, abrepossibilidades, inéditas nas últimasdécadas, para a esquerda revolucionáriaagitar as bandeiras do socialismorevolucionário.

Num cenário de aprofundamentoda crise o desenvolvimento daconsciência dos trabalhadores é decisivo,pois significa a possibilidade de que aclasse operária apresente uma saída paraa crise a partir dos interesses enecessidades dos trabalhadores eexplorados.

√ Solidariedade e apoio aostrabalhadores em luta no mundo! Pelainternacionalização e unidade na luta daclasse trabalhadora!

√ Abaixo os vários governosespalhados pelo mundo que adotampráticas fascistas contra os trabalhadores!

√ Contra o assassinato de ativistaspromovidos pela burguesia!

√ Contra repressão aos movimentossociais e políticos!

√ Pela libertação dos jovens inglesese chilenos!

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A escola pública apresenta em seufuncionamento diário e no papel quedeve cumprir a necessidade objetiva dereprodução do contexto social, políticoe econômico do qual está inserido e quevai além da realidade local.

Essa realidade, nada animadora, docotidiano escolar que submete aformação dos alunos à hierarquizaçãoinjusta do mundo do trabalho contaainda com a escassez de recursosfinanceiros e técnicos para umfuncionamento diário descente, poisalém de faltar ainda funcionários,professores, merenda e etc., o quefavorece o caos e a violência, transformaprofessores e estudantes em merosreprodutores da ordem social vigente.

Observar a intrínseca relação entrea crise ideológica de nossos dias com otrabalho prático diário do professor nasescolas estaduais do estado de São Paulotorna-se necessário.

AS CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS ESOCIAIS DO PROFESSOR

O professor, bem como osindivíduos de um modo geral, carregaconsigo determinadas característicashumanas, as quais Lefebvre dimensionabem: “O humano é um fato: o pensamento, oconhecimento, a razão e tambémcertos sentimentos, tais como aamizade, o amor, a coragem, osentimento de responsabilidade, osentimento de dignidade(...)” (Lefebvre, in: Marxismo, p.38)

Essas característicasinterferem na consciênciacotidiana do professor, queao longo da história foiresponsabilizado pelainserção de valores moraise sociais na vida daspessoas, sendo ao mesmotempo pressionado paraser o exemplo e oresponsável pelo

estabelecimento da harmonia social entreos indivíduos. Além disso, a relaçãohistórica entre religião e Educaçãotambém reforçou essa função dada aoprofessor ao longo dos tempos.

A IMPORTÂNCIA POLÍTICA DOPROFESSOR

O papel histórico cumprido peloprofessor permitiu que adquirisse certorespeito perante a sociedade e, de algummodo, tivesse uma influência políticaexpressiva, sobretudo, nas comunidadesperiféricas.

Isso fez com que as reivindicaçõesdos professores caminhassem lado alado com a luta por melhores condiçõesde vida dos trabalhadores (por direitossociais: saúde, moradia, educação,transporte coletivo de qualidade etc.),sobretudo, nos anos 1980.

O USO DAS CARACTERÍSTICASINDIVIDUAIS E SOCIAIS CONTRA OS

PROFESSORESO governo do estado de São Paulo,

através das sucessivas gestões do PSDB,mas que também não é diferente dosgovernos do PT, PMDB, DEM, PSD,PV etc., passou a utilizar-se dascaracterísticas profissionais dos

professores para intensificar o trabalho,principalmente durante esse período decrise econômica. Além disso, com adescaracterização política e pedagógicado papel exercido pelos professores nointerior das escolas implementou umprojeto pedagógico alheio à classetrabalhadora e totalmente adaptado àrealidade da desigualdade social.

Sob o argumento de que as mudançasaplicadas no sistema educacionalimplicam em mais horas de trabalho emaior qualidade, a Secretaria de Educaçãodo Estado de São Paulo, explora osesforços, a capacidade de adaptação, abondade, a coragem, o amor, a amizade,o sentimento de responsabilidade e dedignidade do professor para impor“pedagogias” e projetos.

Com a precarização do trabalho doprofessor – (contratos temporários, faltade direitos trabalhistas como férias ouférias parceladas, FGTS, 13º, direito decátedra, etc.); fragmentação dos horáriosde intervalos; cobrança para queexecutem tarefas que têm peso político-pedagógico secundário (Diários deClasse com anotações que nada têm aver com a rotina diária da sala de aula,mas enquadrado nas exigênciasburocráticas das Diretorias de Ensino);

imposição de materialdidático (Caderno doA l u n o ) ;acompanhamento dosintervalos dos alunos;digitação de notas efrequência dos alunos semcomputadores suficientesnas escolas, etc. –aumenta-se a exploraçãodo trabalho docente a fimde reduzir gastos com aEducação.

Essas medidas visamarrancar o professor desua natureza real político-social-histórico através dodomínio de sua vida

As mudanças no trabalho diário do professor daescola pública e as consequências políticas e

pedagógicas IRACI LACERDA E CLÁUDIO SANTANA

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prática no dia a dia da escola. Isso tudose completa ainda com a introdução deONGs, parcerias com empresáriose banqueiros com o intuito de favoreceruma parcela da burguesia paulista.

A NATURALIZAÇÃO DA COBRANÇA E DAPRESSÃO NO INTERIOR DAS ESCOLAS

O governo do estado de São Paulo,através de seu secretário de Educação,fala em diálogo com os professores ede respeito aos espaços democráticosnas escolas. No entanto, quanto mais sediz isso menos encontramos democraciano interior das escolas.

A pressão para que os professoresexecutem todas as determinações semnenhum questionamento é muito intensa.Qualquer recusa e simplesquestionamento são tratados como faltade compromisso, falta de vontade, deresponsabilidade e são tachados comoaqueles que não sabem trabalhar. Busca-se com isso que o professor sejaconformado e obediente.

Torna-se normal, no interior dasescolas estaduais de São Paulo, acobrança e a pressão por parte desupervisores de ensino, diretores,coordenadores pedagógicos e atémesmo de alguns colegas professoresque passam a agir de modoindividualizado em relação aosproblemas estruturais e a melhoressalários e condições de trabalho.

Dessa forma, a liberdade e odiferente são sufocados com a busca dasubmissão, da servidão, doempobrecimento intelectual e dentro dasregras oficiais, ou seja, tudo que éalternativo não pode ser feito ou testado.

Por outro lado, quanto mais o

professor assume tarefas que fogem deseu papel político-pedagógico, mais setorna escravo, refém do atual sistemaeducacional, mais perde a sua liberdadede inovar, de tentar o diferente, deexercer a profissão, de pensar e agirintelectualmente.

Com tudo isso se procuradesconfigurar a profissão (paradesmobilizar e desmoralizar) na medidaem que reforça a política dedesvalorização e contribui para perda daidentidade, algo tão defendido em outrascategorias de trabalhadores.

A LUTA DOS PROFESSORES É TAMBÉM ALUTA DOS TRABALHADORES E SEUS

FILHOS!Portanto, não podemos dizer que o

professor é culpado pela situação daEducação pública. Diante da crise dealternativa ideológica e da pressão nointerior das escolas, os professores estãolançados à própria sorte, mas muitosresistem a tudo isso.

Nesse sentido, os sindicatos, nãoapenas dos profissionais da Educação,mas de trabalhadores de um modo geral,devem pautar em seus materiais e emsuas discussões internas, o tema daEducação pública, pois são os filhos dostrabalhadores que estudam na escolapública.

É necessário também desenvolveruma campanha de valorização dacarreira e dos direitos sociais doprofessor, devendo envolver, sobretudo,as centrais sindicais de esquerda(Intersindical e CSP-Conlutas) e ossindicatos de suas bases.

O sindicato dos professores/APEOESP e as subsedes regionais

devem empenhar-se na elaboração deoutdoors, mensagens na mídia, cartasabertas, faixas, uso de carro de som,utilização das novas ferramentas decomunicação como as redes sociais a fimde denunciar os reais problemas da escolapública (violência, falta de investimento,corte de direitos como parcelamento deférias) e reivindicar a aplicação de 10%do PIB na Educação pública; a aplicaçãode 1/3 da jornada para preparação deaulas e correção de avaliações; salárioinicial base DIEESE, etc.

Portanto, a discussão sobre aqualidade do ensino público deve iralém da esfera de atuação dosprofessores. Os trabalhadores de ummodo geral precisam participar conosconessa luta, pois o ensino público devetratar e defender exclusivamente osinteresses da classe trabalhadora.

Precisamos construir e fortalecer osvínculos coletivos no interior das escolasa partir de demandas concretas,realizando reuniões e atividades quediscutam formas de resistência e quebusquem ao mesmo tempo uma relaçãoconstrutiva com pais e alunos.

Essa relação com os pais e alunosdeve fortalecer a participação dostrabalhadores nos órgãos colegiadosdentro das escolas (Conselho de Escola,APM e Grêmio Estudantil).

Por fim, é importantedesenvolvermos continuamente entrenós e a comunidade escolar a consciênciada possibilidade de construção de umaoutra sociedade, fraterna e semdesigualdades sociais em que a Educaçãosirva para desenvolver as potencialidadeshumanas e favorecer o que cada um temde melhor!

O rock errou: de Woodstock ao Rock in RioDANIEL MENEZES

Entre os dias 23 de setembro e 2 de outubro aconteceno Rio de Janeiro o “Rock in Rio”, que se propagandeiacomo “o maior festival de música e entretenimento domundo”. A edição de 2011 é a 4ª que acontece no Brasil(depois daquelas de 1985, 1991 e 2001), mas é a 10ª no total,pois houve outras seis edições, sendo quatro em Portugal(2004, 2006, 2008 e 2010) e duas na Espanha (2008 e 2010).Ou seja, já tivemos várias vezes o “Rock in Rio” fora do Rio,pois se trata de uma franquia, uma marca comercial. Os

Meus heróis morreram de overdose! Meus inimigos estão no poder! Cazuza, “Ideologia”

organizadores do festival assumem o seucaráter comercial sem o menorconstrangimento: “o Rock in Riosempre buscou o pioneirismo em seumodelo de negócios” (http://www.rockinrio.com.br/pt/rock-in-rio).

O pioneirismo talvez esteja emcolocar Cláudia Leitte, Ivete Sangalo eRihana num festival de rock(curiosamente, ninguém pensa emconvidar o Metallica para o carnaval...).Grande contraste com o festival original,de 1985, que teve como atrações nomesde peso como AC/DC, Iron Maiden,Ozzy Osbourne, Queen, Scorpions,White Snake e Yes. Mas o maiorcontraste está no fato de que em 1985 opaís e sua juventude comemoravam ofim da ditadura, com esperanças nademocracia, e Cazuza cantava:“Ideologia! Eu quero uma para viver!”

Em se tratando de ideologia, o“Rock in Rio” 2011 reproduz o motedos anos anteriores: “Por um MundoMelhor”, para dar a entender que nãose trata de simples comércio e sim deum evento “engajado” em alguma“causa”. E os organizadores explicamque estão “visando uma atuaçãosustentável e socialmente responsável”,para deixar todos com a consciênciatranquila de que os jovens estãopreocupados com o futuro do planeta.Mas ninguém questiona o que significana prática esse mundo melhor, poisbasta propagar vagas preocupaçõesecológicas e filantrópicas. Na essência,trata-se de uma celebração do mundotal como ele é hoje, de uma vidadespolitizada, apática, indiferente,consumista, imediatista, conservadora,ignorante, subjetivamente pobre,alcoólatra, drogadita, sexualmentemiserável.

Como o mundo pode ser melhorsem a abolição do capitalismo, daexploração, da alienação, da opressão,do Estado, da guerra, da violência, dopreconceito, da miséria, da fome, dasdoenças, da ignorância, em que vive amaioria da humanidade?

Se o “Rock in Rio” 2011 é umapatética imitação do festival de 1985, quedizer então da comparação com o

lendário Woodstock? Até hojeconsiderado o maior festival de rock dahistória, Woodstock aconteceu entre osdias 15 e 18 de agosto de 1969 na árearural do estado de Nova York, entre ascidades de Bethel e Woodstock.Inicialmente, o festival também foiprojetado como evento comercial, poistambém foram vendidos quase 200 milingressos. Entretanto, com a aproximaçãodo evento, 500 mil pessoas ocuparam olocal, transformando-o num festivalgratuito e numa gigantesca celebração dosideais da juventude daquela época, a paze o amor. Entre os mais conhecidosapresentaram-se Joan Baez, Santana,Grateful Dead, Creedence ClearwaterRevival, Janis Joplin, The Who, JeffersonAirplane, Joe Cocker, Crosby, Stills, Nash& Young, e por último, num históricoato de encerramento e de protesto, JimiHendrix, que tocou o hino nacionalestadunidense na guitarra, entremeandoo som de bombas caindo no Vietnã.

Para os mais puristas, Woodstock jáera uma deturpação da contracultura, cujaverdadeira celebração aconteceu doisanos antes, no ainda mais lendário festivalde Monterey, na Califórnia, entre 16 e 18de junho de 1967, com apresentaçõessimplesmente antológicas de The Mamas& the Papas, Jefferson Airplane, JanisJoplin então vivendo seu auge, The Whoquebrando o palco e Jimi Hendrixliteralmente tocando fogo na guitarra.

Mais importante do que determinarquem foi melhor, Woodstock ouMonterey, o fundamental é que ajuventude daquela época, assim comoseguia os astros do rock nos shows efestivais, seguia Che Guevara e as lutasdo 3º mundo, seguia os pacifistas nosprotestos contra a guerra do Vietnã, seguiaos Panteras Negras na luta pelos direitoscivis dos negros, seguia as militantesfeministas, seguia os homossexuais deStonewall.

A juventude queria mudar omundo e lutava para isso, mudandosua própria vida, negando-se aaceitar o mundo do capitalismoconsumista (e em escala mundial,negando também o “socialismo”dos Estados burocráticos da URSS

e satélites, vide a primavera de Praga em1968). O sexo, drogas e rock n’ roll nãoera apenas marketing, era uma aposta realnum mundo mais humano. “Faça amor,não faça guerra” era uma palavra deordem revolucionária naqueles dias deGuerra Fria e luta contra a repressãosexual. É por isso que a música e os artistasdaquela época permanecem cultuados atéhoje, pois o que cantavam tinha coerênciacom o que viviam.

A contracultura acabounaufragando, e o rock errou, perdeu suaessência. O rock não é o gesto de tocarguitarra com um cabelo ou roupadiferente (coisa que qualquer bonecomontado pela indústria musical podeimitar, vide os Restart e coisas do tipo),o rock é uma atitude perante a vida, oque tem sido raro no meio artístico.

Mas isso pode mudar, pois os jovensde todo o mundo continuam aspirandoa uma vida autêntica. Novas geraçõesse levantam hoje na Europa e nos paísesárabes, indignados, à procura dos novosChe Guevaras e dos novos Jimi Hendrix,e como Cazuza, à espera de umaideologia, que ponha fim à crise daalternativa socialista, e construa, pela lutae pelo amor, um mundo realmentemelhor, um mundo socialista!

PS. 1 Woodstock também viroufranquia, pois outras duas edições tãoinsignificantes quanto os “Rock in Rio”fabricados em série aconteceram em1994 e 1999.

PS. 2 “O rock errou” é o nome deuma música e de um disco de 1986 docantor Lobão, que aliás, infelizmente,também errou, pois hoje em dia setransformou em mais um aderente damoda reacionária (entre outras coisas,defendendo a ditadura militar), sob opretexto de ser contra o politicamentecorreto, numa atitude completamentesensacionalista e sem princípios

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