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ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014 EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA DO RIO DOCE G Gr ru up po o r re ea al l i i z za a d de es sc ci i d da a d de e 1 16 60 0 k km m n no o R Ri i o o D Do oc ce e e e f f a az z d di i a ag gn nó ós st t i i c co o c ci i e en nt t í í f f i i c co o a ao o l l o on ng go o d do o s se eu u l l e ei i t t o o. . E Ex xp pe ed di i ç çã ão o s sa ai i u u d de e B Ba ai i x xo o G Gu ua an nd du u e e n na av ve eg go ou u a at t é é a a f f o oz z n no o O Oc ce ea an no o A At t l l â ân nt t i i c co o, , e em m R Re eg gê ên nc ci i a a, , L Li i n nh ha ar re es s AMARELO NARDOTTO LAÉRCIO FIGNARELLI AMARELO NARDOTTO LAÉRCIO FIGNARELLI

ESPECIAL - Instituto Jones dos Santos Nevesno censo demográfico do IBG (007) abaciahidrográficadoio Docebanha22municípiossendo 6nospíritoSanto e0localiza-dosemMinasGerais distribuídona

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ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

EXPEDIÇÃO CIENTÍFICADO RIO DOCE

GGGrrruuupppooo rrreeeaaallliiizzzaaa dddeeesssccciiidddaaa dddeee111666000 kkkmmm nnnooo RRRiiiooo DDDoooccceee eee fffaaazzzdddiiiaaagggnnnóóóssstttiiicccooo ccciiieeennntttííífffiiicccooo aaaooo

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2 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

POR ONDE PASSOU A EXPEDIÇÃO DO RIO DOCE

Expedição marca lutapara preservar o Rio Doce

DURANTE SETE DIAS, ONZE BARCOS NAVEGARAM PELO RIO DOCE E PASSARAM POR

AIMORÉS, BAIXO GUANDU, MASCARENHAS, ITAPINA, COLATINA E LINHARES

LAÉRCIO FIGNARELLI

UNIDOS. A equipe que navegou pelo Rio Doce é formada por pesquisadores, pescadores e jornalistas. Expedição colheu amostras e conversou com a população ribeirinha

A falta de água tem assolado vários Es-tadosbrasileiros,eoEspíritoSantoéumadas regiõesquemais temsofridopelacri-sehídrica.ORioDoce,quebanhaonossoEstado eMinas Gerais, afunda desde de-zembro, quando essas áreas foram casti-gadas pelas enchentes, na pior seca dosúltimos 70 anos. É uma seca histórica,que foi ocasionada, principalmente, pelainterferência humana.O especialista em solos Marco An-

tônio deCarvalho diz que vivemos umdos períodos mais críticos do Rio Do-ce. “Só temos água quando chove, eprecisamos mudar esse parâmetro”,

explica Carvalho.Todoessecenário foipresenciadopela

equipe que participou da ExpediçãoCientífica do Rio Doce. Antes mesmo doinício, os participantes já carregavamuma grande expectativa em relação àpaisagem que encontrariam durante opercursoporáguasdocescapixabasemi-neiras. Mesmo com tanta beleza e histó-ria,oalertaaotérminodaexpediçãoéumsó: o Rio Doce pede socorro!Os pesquisados analisaram o solo, a

fauna e a flora, alémda água e, atravésde entrevistas, avaliaram como é a re-lação das pessoas comoque ainda lhes

resta para usufruir daquilo que o rioainda pode oferecer. Nossa excursãopelas águas nos levou aAimorés (MG),Baixo Guandu, Itapina, Mascarenhas,Colatina e Linhares, em um percursode 160 quilômetros.Os professores do Instituto Federal do

Espírito Santo/Campus de Colatina(IFES) apoiaram o trabalho através dasanálises do ecossistema do rio. A PolíciaAmbiental realizou fiscalizações nos lo-cais onde foram encontradas redes depescaeorientouospescadoressobreota-manho da rede permitida por lei para apesca na região.

Os pescadores Esportivos de Colatina,membrosdaAssociaçãodePescadoresEs-portivos de Colatina (Apesc), mostraramtodaasuaexperiênciadenavegaçãoemre-lação ao Doce, que é ummodo carinhosocomo eles chamam o rio. Além da orien-tação em relação aosmelhores locais paraa navegação, eles ainda animaram nossaexpedição com histórias de pescador e nopreparo de umbomchurrasco.Equipes do Corpo de Bombeiros de

Colatina revezaram-seduranteaexpe-dição. Eles ainda aproveitaram o mo-mento para fazer jus à fama de bonsmergulhadores e fizeram belas ima-gens subaquáticas.A empresa Manabi, representada por

um analista de sua equipe, acompanhoua expedição e fez registros importantesda vida no Rio Doce. As informações se-rão usadas para o desenvolvimento deprogramas de preservação ambiental.O trabalho não foi fácil. A equipe pas-

sou por desventuras e precisou dormirem barracas, àsmargens do rio. Alémdeter que enfrentar frio, chuva, sol e ventoscom areia.Mas, se não fosse isso, não te-ríamos história pra contar. E não é histó-ria de pescador não, viu!Foi uma semana de trabalho intenso,

mas que valeu a penapara cadamembroda expedição. No último dia, os barcosencalharam quando chegavam a Regên-cia. Todos tiveramdeunir forças para se-guir viagem e chegar ao destino final.O coordenador-geral da expedição,

Abrahão Alexandre Elesbon, contoucomlágrimasnosolhosque“sim,épos-sível salvaroRioDoce”. “Todaaequipeestá de parabéns, fizemos um belíssi-mo trabalho que vai resultar emumes-tudo para mostrar às autoridades e àsociedade a real situação do rio. Esse éo primeiro passo para salvarmos o queainda resta do rio, e nós vamos conse-guir”, frisou Elesbon.As informações coletadas durante a

expedição serão utilizadas para elaborarumlivrocontendoodiagnósticocomple-to a respeito da atual situaçãodoRioDo-ce, compublicação prevista para dezem-bro. O livro será entregue aos governa-dores dos Estados de Minas Gerais e doEspíritoSanto, e tambémserãodistribuí-dos nas escolas capixabas.

Cadernoespecial

EXPEDIÇÃO CIENTÍFICADO RIO DOCE

EDITORA DE CADERNOS ESPECIAIS: Marcelle Secchin ([email protected]); EDITOR: Aglisson Lopes; TEXTOS: Késia Moura; FOTOS: Laércio Fignarelli, Amarelo Nardotto e Eduardo Segatto; DIAGRAMAÇÃO: AlessandraMoreira; DIRETOR EXECUTIVO DE MÍDIA IMPRESSA E DIGITAL: Álvaro Moura; DIRETOR DE JORNALISMO: Abdo Chequer; EDITOR-CHEFE: André Hees; DIRETOR COMERCIAL: Fábio Ruschi; DIRETOR DE MERCADO LEITOR E LOGÍSTICA: RanieriAguiar; GERENTE COMERCIAL: José César Leite; GERENTE DE MARKETING: Leandro Vicentini. CORRESPONDÊNCIAS: Jornal A Gazeta, Rua Chafic Murad, 902, Monte Belo, Vitória, ES, CEP: 29053-315.

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16 DE NOVEMBRO DE 2014 ESPECIAL 3Expedição científica do Rio Doce

Sinal verde para a preservação

RESGATE. As duas fotos mostram otrabalho de recuperação da matapróxima ao Instituto Terra, em Ai-morés, em um período de 10 anos

2013

AIMORÉS DIVIDE ATENÇÕES ENTRE A HIDRELÉTRICA QUE CORTA O RIO

DOCE E O TRABALHO DE REFLORESTAMENTO DO INSTITUTO TERRA

2001

Aimorés foi o ponto de partida da expedi-ção. Nossa primeira parada ainda por terrafoi no acolhedor Instituto Terra, onde pas-samos a noite e saímos para BaixoGuandubem cedo. O Instituto Terra já foi uma fa-zenda de gado da família do renomado fo-tógrafo brasileiro Sebastião Salgado. JuntodesuaesposaLéliaDeluizWanick,eleteveainciativa de transformar a fazenda em umlocal de preservação, hoje reconhecido co-moReserva Particular de PatrimônioNatu-ral.SituadanacidademineiradeAimorés,oinstitutodesenvolveinúmerosprojetoscomobjetivo de devolver à natureza o que dé-cadas dedegradação ambiental destruiu.Empoucomais de dez anos de atuação

doInstitutoTerra,maisdesetemilhectaresdeáreasdegradadas estãoemprocessoderecuperaçãonaregião.Alémdisso,maisdequatro milhões de mudas de espécies deMata Atlântica foram produzidas em seuviveiro para abastecer tanto os plantios nafazendaquantoosprojetosde restauraçãoque desenvolve na região, incluindo o re-florestamento domata ciliar doRioDoce.Aantigafazendadegado,antescomple-

tamente degradada, hoje abrigauma floresta rica emdiversidade.ApósasaídadeAimorés, fomosdecarro

até o porto de BaixoGuandu. De lá, segui-mosnavegandoparaosentornosdasusinashidrelétricasdeAimorésedeMascarenhas.Equipes de pesquisadores fizeram análiseda água, solo, fauna e flora no local.

OSTRILHOSQUECORTAMORIOA história de Baixo Guandu está direta-

mente ligada ao pioneirismo quemarcou ocomeço do século XX na região do Vale doRio Doce. Os trilhos do primeiro trem che-garam em 1907, e somente a partir daí asatividadeseconômicasforamintensificadas.Amadeira abundante era retirada de BaixoGuandue levadapelos comboios àCapital.A vegetação original do município é

predominante de Mata Atlântica. Atual-

mente BaixoGuandu temo comércio e amineração de pedras ornamentais comoprincipais fontes de renda.AlémdopróprioRioDoce,omunicípioé

cortado por um de seus afluentes, o RioGuandu, sendo a regiãodo Vale do Rio Doce bemsuscetível a enchentes,tanto pela comum ocu-pação de locais impró-prios quanto pelo com-

portamento natural de sua hi-drografia.QuemmoraàsmargensdoRio

Doceutilizao localparapescare recla-mada seca edabaixa quantidadedepei-xe no local. O pescador João Tomar, 71anos,dizqueemumanooriodesceucin-cometros, causando tristezaepreocupa-ção em todos os moradores. “Pesco aquihá 12 anos e trabalhei na construção dabarragemdeSantoAntôniodoRioDoce,emAimorés. Pesco às vezes, apenas paraconsumo próprio. Já peguei piau-açu,carpa, piau branco, mas ultimamente opeixesumiu.Issoéconsequênciadonível

da água que baixou demais. Lá em cimada barragem tem peixe demais, só queeles não conseguem descer. Esse é nossomaior problema na região”, conclui.Questionados sobre as questões des-

tacadas pelos pescadores que alegamque após a construção da usina, o níveldaáguabaixouequeháescassezdepei-xes, representantes da Usina Hidrelé-tricadeAimorés informaramqueopro-cesso de geração de energia por hidre-létricas é realizado de forma limpa, on-de a água utilizada não se perde, poisretornaao leitodoriosemqualquervio-laçãodepadrões legais vigentes. Acres-centaram, ainda, que o baixo nível doRio Doce, observado no ano de 2014, éresultado de uma das maiores secas re-gistradasnosúltimosdezanos,quevemacontecendo de maneira subsequentenos últimos anos.A Usina de Aimorés está localizada

nomédio Rio Doce, divisa dos estadosdeMinasGerais e Espírito Santo, ocu-pando as áreas dos municípios minei-ros de Aimorés, Itueta e Resplendor.

DIVERSIDADE. Preguiças, aves, onças, além de uma grande variedade de flora, fazem parte da riqueza natural preservada com o auxílio do Instituto Terra, criado a partir de iniciativa do fotógrafo Sebastião Salgado

FOTOS: ACERVO/INSTITUTO TERRA

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4 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

A vida começa aqui ...nas nascentes

A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOCE ESTÁ SITUADA NA REGIÃO SUDESTE DO BRASIL. POSSUI, NO TOTAL 84 MIL

QUILÔMETROS QUADRADOS, DOS QUAIS 86% ESTÃO EM MINAS GERAIS E O RESTANTE, 14%, NO ESPÍRITO SANTO

NATUREZA: Nascente do RioSão José, em Mantenópolis, umdos afluentes do Rio Doce nolado capixaba

A bacia do Rio Doce é formada porrios e cursos-d’água, incluindo o pró-prio rio principal, que possui uma ex-tensãode897quilômetros.Combaseno censo demográfico do IBGE(2007), a bacia hidrográfica do RioDoce banha 228 municípios, sendo26 no Espírito Santo e 202 localiza-dos em Minas Gerais, distribuído nazona urbana e rural.NaBaciadoRioDoceexistem3,6mil

indústrias e uma população de três mi-lhõesdehabitantes.Antesdeserpovoa-da, grande parte de sua extensão eramargeadapor florestas, comárvoresde

até 35metros de altura, e a maior biodi-versidadedaTerra, queeraaMataAtlân-tica, estava preservada.

EXPEDIÇÕESDesde a colonização do Brasil, oRio

Doce já era explorado através das ex-pedições. Na época, elas navegavamatrás de riquezas. Nos dias atuais, gru-pos descem o rio para, através de ex-pedições de diagnóstico, buscaremunir dados para salvar o que restou doRio Doce.Aexemplodessas expedições, pode-

mos contar que, dentro da história, o

Falta de proteção começanas nascentes do rio

VOCÊ SABIA?De acordo com o Artigo 20, parágrafo III

da Constituição Federal: “São bens da

União: [...]III. os lagos, rios e quaisquer

correntes de água em terrenos de seu

domínio, ou que banhe mais de um

Estado, que sirvam de limites com outros

países, ou se estendam a território

estrangeiro ou dele provenha, bem como

os territórios marginais e as praias

fluviais; VIII. os potencias de energia

hidráulica”.

AsnascentesdoRioDoceestãodivididasentre os Estados deMinas Gerais e o Es-pírito Santo. Elas vivem a saga de abas-tecer e matar a sede das cidades e sus-tentam hidrelétricas. No entanto, o re-torno que se tem em relação à sua pre-servaçãoépequenapertodaexploraçãoque o rio sofre.Afaltadeinteressepelasnascenteséní-

tida no discurso dos órgãos oficiais demeioambiente.DeacordocomaAgênciaNacional das Águas (ANA), “as questõesreferentesàságuassubterrâneas(nascen-tes e poços) são competência dos Esta-

dos”.Masaolongodadescidaenasvisitasfeitasàsnascentes, não foramobservadasações de preservação em seus entornos.Alémdisso, o rio ainda precisa sobre-

viveràmineração,desmatamento,asso-reamentoepoluiçãoqueelesofreaolon-go de sua calha.ORioDocenascenaSerradaMantiquei-

ra, com o nome de Rio Piranga. Sua nas-cente ficana fazendaMorrodoQueimado,nomunicípio de Ressaquinha. Nomunicí-pio de Ponte Nova, onde o Rio Piranga seencontra com o Rio do Carmo, que desdeOuro Preto e vem serpenteando entre os

morros,elepassaasechamarRioDoce.Es-saregiãoéchamadadeAltoRioDoce.Éne-laqueoriovaiseavolumandoàmedidaquerecebe seus afluentes Rios Casca, Matipó,

Sacramento e,mais aonorte, Piracicaba.ORioDocedeságuanoOceanoAtlân-

tico, no município de Linhares (ES), nodistrito deRegência. A fozdoRioDoce éum delta. O braço norte está seco, e obraço sul, antes navegável, está tomadopor grandes bancos de areias.De acordo com o Engenheiro Civil,

Francisco Helmer Lopes, morador deColatina e conhecedor do Rio Doce, omanejo da água do rio deveria ser feitocommuito mais cuidado. “Hoje, as ma-zelas, crisesedefeitosestãoassociadasàpercepção de que temos que ganhar aqualquer preço, ter progresso e geraremprego. Para atender a toda essa de-manda e continuar preservando, preci-samos de um modelo para que a popu-laçãoutilize produtos comdependênciamenor de água e que seja economica-mente viável,” concluiu Francisco.

NASCENTES

Uma nascente, também conhecida como

olho-d’água, mina-d’água, fio-d’água,

cabeceira e fonte, nada mais é que o

aparecimento, na superfície do terreno,

de um lençol subterrâneo, dando origem

a cursos-d’água. As nascentes são fontes

de água que surgem em determinados

locais da superfície do solo e são

facilmente encontradas no meio rural.

dia 13 de dezembro de 1501 foi umdiamarcanteequemudaria todaahistóriadopovo que viveu e vive àsmargens doDoce. Nessa data, a primeira expedi-ção abriu caminhos para a exploraçãode ouro e pedras preciosas na região.CumprindoordensdaCoroaPortugue-sa, uma esquadra foi convocada paradescer a costa brasileira, doNorte parao Sul, em busca de riquezas. No litoraldo Espírito Santo os portugueses avis-taram a mancha das águas de um riotingido pelo azul doOceano Atlântico.Acabavam de descobrir o Rio Doce, nasua foz.

AMARELO NARDOTTO

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5 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

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6 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

Ele pode desaparecerDEPOIS DAS CHUVAS DE DEZEMBRO, RIO DOCE SOFRE UMA DE

SUAS PIORES SECAS DOS ÚLTIMOS 70 ANOS

INDÚSTRIA. A Produção de energia elétrica por meio das usinas de Aimorés (foto) e Mascarenhas estão entre as riquezas geradas pelo rio. Porém, problemas como assoreamento e poluição prejudicam as comunidades

Durante séculos, o Rio Doce recebeu in-vestimentos nacionais, internacionais eatualmente conta com inúmeras empre-sas instaladas ao seu redor.É notório que esses investimentos fo-

ram fundamentais para o desenvolvi-mento das cidades localizadas ao redordo rio. Porém, a degradação que o leitovem sofrendo, consequência da explora-çãodas suas riquezasnaturais semretor-no por anos, merece atenção.Sofrendo impactos desde os garim-

pos de Minas Gerais até o descarte delixoao longodeseucurso,o rio, apósasenchentes de dezembro, sofre agorauma das piores secas dos últimos 70anos. O rio está com uma parcela sig-nificativa assoreada, e todos os dias háregistrodedesmatamento.Essadegra-dação também deve-se, especifica-mente, ao crescimento desordenadodas cidades ao seu redor, e também nafalta de proteção das suas nascentes,vegetação, flora, fauna e do leito, emtodos os seus aspectos.Ospescadoresquevivemdapescano

Rio Doce reclamam da falta de peixe enão sabem o que fazer, caso a maté-ria-prima venha a faltar. O pescadorEder Simões, morador de Itapina, dizque o peixe está acabando. “Há quatroanos a gente via o peixe bater aqui ao

longo de todo o rio. A depredação aca-bou com tudo. Esse peixe desse tama-nho (mostrando um dourado pescadona hora), é quase ummilagre hoje. An-tes a gente voltava para casa como bar-co cheio, agora, passo odia inteiro parapegar um ou dois peixes”, lamenta opescador.

ECONOMIAORio Doce, em sua dimensão, é um

dosprincipais rios doEspírito Santo e,por sua extensão, e também por ba-nhar muitas cidades, representa umaparcela considerável no PIB capixaba.Hoje, em média, a economia gerada apartir da exploração direta do Rio Do-ce gera cerca de 15% do PIB de todo oEstado, por ano.

Curso-d’águajá foi fontede riquezas

CURIOSIDADE

Em maio de 1753, “O bispo de Mariana, a

pedido do Rei, redigiu uma pastoral

condenando o descaminho de ouro como

pecado especial, cuja absolvição ficaria a

reserva exclusiva do bisco”. Waldermar

Almeida Barbosa. História de Minas.

A influênciadoRioDoce sobre a econo-miacapixabanãocomeçouagora, e simdurante as navegações da Coroa Portu-guesa,porvoltade1501,nosalboresdanossa colonização, quando três carave-las saíram de Portugal a mando de D.Manoel para reconhecer o valor e a ex-tensão das “novas terras”. De acordocomashistórias dos livros, eles navega-ram durante três meses e percorreramdo Rio Grande do Norte até São Paulo.Nãosesabeaocertoquemcomandavaaexpedição, mas não há dúvidas, deacordo com relatos históricos, de queAmérico Vespúcio estava na tripulação

e procurava pedras preciosas.Apósexpediçõesfrustradasporfaltade

conhecimento da região e por perdas dehomens,porvoltade1572,SebastiãoFer-nandes Tourinho, conceituado habitantedaCapitania de Porto Seguro e aparenta-docomoodonatário, reuniu400homenspara subir oRioDoceembuscadepedraspreciosas. Essa primeira expedição oficialregistrada com entrada pelo Rio Doce foidescrita porGabriel Soares de Souza, emNotíciasdoBrasil (1587),que indicouumtrajetode380 léguaspeloRioDoce (maisde 2.000 km) pelos Rios Doce, Mandi(Guandu) eCeci (Suaçuí).Segundo Soares, Tourinho encontrou

“umaserraquasetodadecristalmuitofino,a qual cria em si muitas esmeraldas e pe-drasazuis”. Isso foi obastantepara se criara lenda da Serra da Esmeralda e da LagoaVapabuçu.Essasinformaçõesmotivaramogovernador geral do Brasil, Luis de Brito eAlmeida, a enviar, a partir de 1574, outrasexpedições embuscadepedras preciosas.

LAMENTO. O pescador Eder Simões conta que no rio havia fartura de peixe. "Hoje tem muito pouco", diz

Exploração Mineral Granito

Industriais Alimentos, bebidas, álcool, têxtil, turismo, móveis e atividadesligadas ao petróleo

Pecuária Leite e corte

Agricultura Cana de açúcar, cacau, café, produtos hortifrutigranjeiros e mandioca

Silvicultura Eucaliptos

Produção de Energia Elétrica Potência instalada 181,5mw

Fonte: Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Esse é a fonte do box de economia)

PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO RIO DOCE

FOTOS: LAÉRCIO FIGNARELLI

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7 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

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8 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

Os desafios e os problemasEXPEDIÇÃO DETECTA ÁREAS BASTANTE DEGRADADAS AO LONGO DO TRECHO

CAPIXABA, MAS TAMBÉM REGIÕES COM BONS NÍVEIS DE QUALIDADE DA ÁGUA

CENAS: vista do Rio Doce captada durante a expedição. Às margens, o gado pastando é algo bastante comum entre os municípios de Colatina e Linhares. Os trechos impactados pelo assoreamento chamam a atenção. Moradores

MARCO CARVALHO, professor

“A cada ano a quantidadede areia no rio aumenta”

PAULO VITOR CHER, biólogo

“Em São Silvano nãoachamos nenhum animal”

Oprofessor do campus do Instituto Fe-deral do Espírito Santo em Colatina edoutor em solo,MarcoAntônio deCar-valho,destacouquesoloquemargeiaoRio Doce é dividido em silte e argila.Quandochoveeasmargensdos rioses-tãodesmatadas,aargilaé levadapeloea areia que é pesada fica no rio.“A cada ano que passa, a quantidade

deareiadentrodorioaumenta.Duranteesse trabalhoavistamosao longodocur-sodeáguaváriasáreaserodidasporcon-ta de falta de vegetação e mata ciliar.Sendo assim, as ações devem ser toma-

das em conjunto eas medidas devemser adotadas emcaráter urgente,senãoaareiavaito-martodoorio.Orioqueanteseraperenejáestáquase semiperene.ORioDocees-tá se tornando um rio que só tem águadurante a chuva. Faço um pedido e umalerta: temos que deixar a água infiltrarpara abastecer o lençol freático e abas-tecer suas nascentes e afluentes. É essaáguaque abastece o rio quandonão temchuva”, alerta o especialista.

No Córrego São Silvano, em Colatina,não foi feitamedidadevazãopordificul-dades de acesso e problemas com a qua-lidade da água.Neste ponto foi monitorada a pior qua-

lidadedaáguadetodosospontosvisitados,tendo seus níveis de oxigênio dissolvidoigual a zero. Por ser uma bacia em grandeparteurbana,pode-seaferirqueomaiorim-pactoambientalnocórregoSãoSilvanosejaolançamentodeefluentes,domésticosein-dustriais, innaturanocurso-d'água. Por teruma pequena carga hídrica, estes lança-mentos impossibilitamoprocesso de auto-

depuração(recuperaçãodesuascaracterís-ticas naturais) do mesmo. As espécies quevivemnosriosdependemdissoparamantera evolução e reproduçãoda espécie.O biólogo Paulo Vitor Cher aponta que,

“dependendo da espécie que compõe a co-munidade,nóssabemosseaáguaestáboaeseaqualidadeambiental local também.Deacordocomadiversidadedeespéciequesetememumlocal, sabemossobrequalidadeecomooecossistemaestáfuncionando.EmRioSãoSilvanonão encontramosnenhumtipode animal, o que épreocupante”.

A maior seca dos últimos 70 anos mudoudrasticamente o cenário do Rio Doce. Osbancosdeareiaeapoucavegetaçãoaolongodopercurso são alguns dos novos desenhosdo gigante que já foi considerado o tesouroestratégicodoEspíritoSantoedeMinasGe-rais para escoar produtos comerciais.Anovarealidadepermitequeaspessoas

caminhemcoma água cobrindo apenas ospés.Outrosproblemas, causadosprincipal-mente pela ocupação humana ao longo doleito do rio, são a poluição, causada tantopelo esgoto residencial quanto pelo indus-trial, o uso de agrotóxicos, e desequilíbriosno ecossistema causados pela construçãodebarragens. Isso são fatores queagravamasecano rio.Atualmente, oRioDoceabas-tece doismilhões de famílias.

PONTODEPARTIDAA expedição passou por Aimorés, Baixo

Guandu, Mascarenhas, Itapina, Colatina e

Linhares. Nesses pontos foram feitas aná-lisesdequalidadeeníveldaágua,solo, fau-na,floraesocioeconomia.Éimportanteres-saltar que os dados apresentados serão va-lidados posteriormente, antes da publica-ção domaterial impresso, emdezembro.NotrechodadivisadeMinasGeraisaté

BaixoGuandu foi constatada vazão redu-zida, nas regiãoda cidadedeBaixoGuan-du,apósaUsinaHidroelétricadeAimorésna foz do rioGuandu, e tambémnaUsinaHidroelétrica deMascarenhas.O ponto corresponde ao trecho de va-

zão reduzida entre as comportas da Usi-naHidroelétricadeAimorés.Otrechoes-tavacomáguaturbulenta,deleitorocho-so, onde se soma a vazão liberada pelascomportas da usina à saída do rio Ma-nhuaçu, afluentemineiro doRioDoce. Avazãomedida neste trecho foi de aproxi-madamente 160m³/s, medida com oequipamento ADCP (medidor de vazão

pelométodo acústico doppler).Por havermuita turbulência neste tre-

cho, houve problemas no sinal dos sen-sores, dificultando o monitoramento dolocal. A qualidade da água foi medidacom a sonda multiparâmetros e os pa-drões avaliados (temperatura, oxigêniodissolvido, condutividade elétrica, sali-nidade, turbidez e pH) indicaram parauma boa qualidade da água.

BAIXOGUANDUEAIMORÉSA vazão medida neste trecho também

girou em torno de 160m³/s, podendo in-dicar duas coisas: realmente a usina fun-ciona no regime fio d’água (toda a vazãoque chega, sai) ou que o primeiro trecho,porhavermuitaturbulência,nãopodeserconsiderado no estudo. A qualidade daágua neste trecho também foi medidacom a sonda multiparâmetros, não ha-vendomuita alteração nasmedições.

Na foz do Rio Guandu, o volume deágua é de 7,5 m³/s. A nascente do RioGuandu foi visitada previamente na ex-pedição. Apesar de estar com pouca va-zão, devido ao período de estiagem his-tórica, a nascente encontra-se em regiãode mata nativa, necessitando apenas depequenas intervenções para proteção,segundoa legislação vigente. Anascentesitua-se em uma propriedade particularde Afonso Cláudio.José Roberto de Matos, especialista

emOrnitologia(aves),apontouqueodu-rante a coleta de material na expediçãoforamencontradosnamatamuitos jequi-tibás, que é uma árvore símbolo do Espí-rito Santo, além de belas sapucaias comas folhas jovens. “São milhares de espé-cies que vivemnessa bacia,muitas aindadesconhecidas.Ficaoalerta,adestruiçãodessavegetaçãovaiextinguir todasases-pécies que vivem aqui”, alerta.

LAGODAUSINADEMASCARENHASNesta seçãooobjetivo foimedir o fun-

dodolagoparaverificaçãodesedimento,carreado pelo rio, até a usina. Emalguns

EDUARDO SEGATTO LAÉRCIO FIGNARELLI

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16 DE NOVEMBRO DE 2014 ESPECIAL 9Expedição científica do Rio Doce

OS IMPACTOS NO RIO

LIXO/POLUIÇÃONa maioria das vezes, a

população ribeirinha

tem o curso-d’água

como um verdadeiro

depósito de lixo. Tudo que não é servível é

descartado para dentro do curso-d’água. Nota-se

televisores, geladeiras, fogões e até sofás dentro dos

ribeirões e rios, como também qualquer tipo de

embalagem, principalmente latas, sacolas de

plásticos e garrafas pet. Além da poluição visual,

estas embalagens liberam resíduos do material que

estava acondicionado, podendo ser até material

tóxico (embalagens de agrotóxicos, de raticidas,

inseticidas caseiros).

Estes materiais, principalmente os plásticos, vão ficar

na natureza por muitos e muitos anos.

VEGETAÇÃOQuando removo ou

queimo a vegetação

que está sobre a

superfície do solo,

estou danificando o solo. A vegetação protege o

solo do impacto direto da chuva e da incidência

direta dos raios solares. Ela também diminui a

velocidade do escoamento superficial da água

(enxurrada) no solo.

EROSÃOCom a remoção da vegetação,

o solo fica desprotegido e

inicia-se o processo erosivo,

que é o transporte do solo

para dentro dos

cursos-d’água, acarretando

assim o assoreamento dosmesmos. Nas áreas de plantio,

além do solo, junto também são carregados fertilizantes e

defensivos agrícolas, ocasionando a eutrofização e

poluição da água.

ESTRADASAs estradas são

precursoras da

erosão. As vicinais (de

chão) nem sempre

são bem locadas,

facilitando o escoamento e consequentemente a erosão.

As asfaltadas possuem dois problemas sérios que

potencializam a erosão. Primeiramente, aquelas áreas

de empréstimos (áreas de retiradas de solos para

aterros), ficam expostas e viram áreas erodidas. O

segundo ponto é o escoamento das águas captadas

na faixa de rodagem. Estas águas são canalizadas e

desviadas lateralmente, com um volume muito grande

e com uma capacidade erosiva enorme. Nem sempre

se faz um trabalho de proteção por onde as águas

passam, o que pode ocasionar verdadeiras voçorocas

(valas grandes).

FERTILIZANTESNo carreamento do solo para dentro

do rio, ele traz consigo outros

acompanhantes. O solo oriundo de

lavouras vem acompanhado de

fertilizantes e defensivos

agrícolas.

Os fertilizantes vão entronizar o

ambiente aquático, aumentando o pH e adicionando

nutrientes no curso-d’água, criando condições para o

aparecimento de plantas aquáticas que vão concorrer

com peixes e outros animais pelo oxigênio dissolvido na

água. Muitas mortes dos peixes advêm desta

concorrência. Com relação aos defensivos agrícolas, estes

podem provocar a morte direta dos peixes, ou deixarem

resíduos, e estes passarem aos humanos.

as do Rio Doceadores das proximidades relatam que os bancos de areia prejudicam a pesca e a navegação ao longo de toda a região

JOSIANA LAPORTI, bióloga e química

“Pesquisa será usadanas salas de aula”Onde não havia muita interferência dascidades, a qualidade da água estavame-lhor,masnasáreascommaiorinterferên-cia das cidades notou-se que as comuni-dades vêm interferindo na conservaçãodo recurso hídrico. Segundo Josiana La-porti, bióloga e química, “o tratamento eacaptaçãodaáguatêmqueserfeitoscomqualidade.Apartirdomomentoemqueapessoaéresponsávelpelousodaáguaeofaz em linha de produção, ela deve ter aresponsabilidade de tratar para devol-vê-ladamesmaformacomofoicaptada”,comentou.

Josiane falou,ainda, sobre osproblemas encon-trados no rio e nousodomaterial coletadoemsaladeaula.“Detectarespécieséalgoquedeveser fei-tocomcuidado,atéporqueencontramosbastante impacto ao longo do rio. Entãoprecisamosvasculharebuscarainforma-ção.Émelhor falar de fatos reais, que es-tão no cotidiano dos nossos alunos, e emsuaporta, nomunicípio dele doque ficarfalandodeumasituaçãoambientaldare-gião norte ou sul do país”.

14metrosde profundidade

Foi o nível máximo registrado nolago da Usina de Mascarenhas, emBaixo Guandu, durante a expedição

locais do lago, no dia damedição, foramdetectadas profundidades máximas de14metros.

USINAATÉAFOZDORIOSANTA JOANANo segundo dia foram avaliados sete

pontos: áreas referenciais da Usina Hi-drelétrica deMascarenhas, oRioMutumPreto,oRioLaje,oRioDoce(naalturadoIFES Itapina), o Rio São João Grande, oRioSãoJoãoPequenoeafozdoRioSantaJoana. Esta vazão comprova numerica-mente que a Usina Hidrelétrica de Mas-carenhas não retém água para produçãode energia elétrica.Antesdopróximopontodemedição,a

Associação de Pesca Esportiva de Colati-na (APESC) apontou para a localizaçãode duas nascentes onde, segundo eles,emépocasnormais, havia vazãodurantetodo o ano. Nenhuma apresentava fluxode água. Em uma delas, por sinal, houvea identificação de uma nata de cor aver-melhada que foi coletada para futurasanálises. Segundo o batalhão da PolíciaAmbiental, háumaantigapedreiradesa-

tivada na região.O Rio Santa Joana, em Afonso Cláudio,

tambémfoivisitado.Foi identificado,desdeodistritode Itapina,umaespéciedemolus-co, bivalve, filtradores de água (concha pe-quena). A presença dele, segundo os biólo-gos da equipe, se deve a dois principais fa-tores: ou a detecção do aumento da salini-dade ou o aumento da carga orgânica(efluente ou esgoto) in natura no cursod’água. Segundo os pescadores, omoluscosempre existiu no Rio Doce, mas a espécietem semultiplicado.Omonitoramentohídricoiniciou-sepró-

ximoàfozdoRioSantaJoana,numaquedade água que não estava no roteiro, desco-bertaporumdospescadoresdaAPESC.Se-gundo Marcos Simonassi, “o olho-d’águanunca secou, tendo um volume de águaconsiderávelaolongodoano”.Apósanálisedegeoprocessamento,observou-sequetra-ta-se de uma pequena bacia hidrográfica,namargemdireitadoRioDocedeusoagrí-cola a ser pesquisada com potencial de serumabaciaexperimentalpara futurasaçõesde conscientização, sensibilização, treina-mento e preservação ambiental.

Em Colatina,registro dedegradação

EmColatina,aqualidadedaáguadoRioSantaMariadoDoce,nasuafoz,encon-tra-se bem degradada devido ao lança-mentodeesgoto.Anascentetambémfoimonitoradaparaverificaçãodaadequa-çãoà legislaçãovigente.NoCórregoSãoSilvano foimonitoradaapiorqualidadeda água de todos os pontos visitados,tendoseusníveisdeoxigênioiguaisaze-ro, o que significa que não há possibili-dade de encontrar vida na água.EmColatina também forammonito-

rados a vazão doRioDoce, córregoCa-tuá, Rio Liberdade, Rio Baunilha, RioPauGigante e foz da Lagoa do Limão.

LINHARESNeste trecho, a equipe de recursos

hídricos sedividiu, indopor terraparamedição das vazões das lagoas TerraAlta, Palmas e Lagoa Nova. Além daslagoas, foram monitorados o Rio SãoJosé (Rio Pequeno) e o Rio Doce.Em relação à qualidade da água, ve-

rificou-se que émenornas cidades ondeexiste maior interferência no rio. Alémdisso, umponto preocupante é a erosãodasmargensdoRioDoce, causadaprin-cipalmente pelo desmatamento, e quetambémcontribuiuparaoassoreamentodo rio ao longode toda a sua extensão.

Problema é viade mão dupla

Marcelo Simonele, biólogo, mestre embotânicaeprofessordoIfes,destacaqueo ecossistemado rio é umciclo. “Quan-do uma parcela não vai bem, a outratambém não estará”, e destacou infor-mações importantes em relação a aná-lise feita durante a expedição.“As influências sofridas pelo rio

representam uma via demão dupla,tantoo rioatuanavegetaçãoquantoa vegetação interfere no rio. Quan-do constatamos essa grande exten-são de área assoreada e problemasque estamos diagnosticando ao lon-go do rio, isso tem a ver com a vege-tação que foi retirada nesse anos deocupação na região. Isso tambémdeixa o solomais suscetível às açõesdo vento e da chuva, favorecendo oprocesso de erosão e, consequente-mente, o assoreamento. A vegeta-ção influencia diretamente na qua-lidade e quantidade da águado rio”,disse o especialista.

EDUARDO SEGATTO

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10 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

Comunidade discuteimpacto ambiental

EM MASCARENHAS, COMUNIDADE RECLAMA DA FALTA DE PEIXES E DA

SECA DO RIO DOCE NA REGIÃO DA USINA

EM MASCARENHAS, a hidrelétrica construída em 1968 é uma das maiores do Sudeste brasileiro, mas também recebe queixas dos moradores da região

Piracemapreocupamoradores

Um dos temas questionados pela co-munidadedeMascarenhaséapreocu-pação em relação à reprodução dospeixes. Durante nossa passagem pelovilarejo, eles informaram que nãoexiste uma “escada”, por onde o peixepossasubirparasereproduzirnapartesuperiordausina.Essa“escada”écha-mada de piracema, nome dado ao pe-ríodo de desova dos peixes, quandoeles sobem os rios até suas nascentespara desovar. O termo tem origem nalínguatupie significa“saídadepeixe”,atravésdajunçãodostermospirá(pei-xe) e sem (sair).A EDP Escelsa informou que eles

realmentenãotêmumapassagemparaos peixes subirem e se reproduzirem eexplicou que, na década de 70, épocadaconstruçãodaUHEMascarenhas,oscritérios de construção das usinas noque tange aos controles ambientaiseram diferentes dos atuais e foram ri-gorosamente cumpridos. No entanto,foi realizado um amplo estudo paraavaliaçãodomecanismomaiseficientede incremento na ictiofauna (dos pei-xes) para o reservatório da UHE Mas-carenhas no cenário atual. Esse estudodemonstrou que a transposição ma-nualdepeixeseasolturadealevinosnoreservatório seriam os procedimentosmais adequados e, portanto, são essesmecanismos que estão em execução.

Muita genteprecisou deixarsuas casasdepois daenchente dedezembro”Paulo Renato Marciel

presidente da Associação de Moradoresde Mascarenhas

Mascarenhaséumpequenovilarejo,situa-do em Baixo Guandu. Antes pertencenteaomunicípiodeColatina, em1938, a vila,através deumdecreto de lei estadual, dei-xou de pertencer à cidade e passou a inte-grar Baixo Guandu.O vilarejo é um lugarcalmo e tranquilo para se viver, vizinhodesde1968deumadasmaioresusinashi-drelétricas do Sudeste brasileiro, a UsinaHidrelétrica deMascarenhas.Quando perguntada sobre a locação

da Usina emMascarenhas, a opinião dacomunidadeficadividida.Muitosmora-doresdeixamclaroodescontentamentocom a empresa. Para Paulo RenatoMar-ciel, presidentedaassociaçãodosmora-dores de Mascarenhas, a comunidade éumaviladepescadoreseaindatemfamade uma região com peixe abundante,mas precisa conviver com problemasque, de acordo com ele, são potenciali-zados pela usina.“O nosso maior problema aqui é o as-

soreamento. Muitas pessoas precisaramdeixar suas casas após a enchente. Du-ranteaschuvasdedezembro,aáguache-gouatéonível deonde estão as casas.Osmoradores antigos falam que, antes dabarragem,haviamaisumacarreiradeca-sas à frente das que existem hoje. Agora,quandochove,elesabremascomportasetemos que nos virar aqui embaixo”.Deacordocomosmoradoresdacomu-

nidade, todas as pedras eram cobertaspelo rio antes da chegada da usina e a si-tuação sópiora comopassar dos anos.Opresidentedaassociaçãoaindaacrescen-touqueo rio secouaindamais neste ano.“Eununcavioriotãoseco,acadaanoquepassa está secandomais”.

SEMPESCAJáStefaniaLima,moradoradodistrito

há 30 anos, nasceu e foi criada na comu-nidade e viu todas as mudanças queaconteceram. “Uma coisa queme entris-tece é esse córrego.Opovodaqui pegavatilápia nele, mas hoje, após a enchente eessa seca, o rio semisturou como esgotoe ninguémmais pesca”.O principal pedido da comunidade

é a construção de uma barreira paraconter a força do rio quando o nível daágua estiver muito alto. “Não temosvontadede sair das nossas casas enemda nossa comunidade. Há uma rela-ção histórica com o rio, anos atrás ha-viaatéumportoaquinacomunidadeehoje estamos esquecidos”, comentouPaulo Renato.

OUTROLADOQuestionada sobre as questões le-

vantadas pelos moradores da vila deMascarenhas, sobretudo sobre a aber-tura indiscriminada nas comportas, aEDPEscelsa, empresaquedetémacon-cessãodaUsinadeMascarenhas, infor-mou que a configuração de usina afio-d’água faz com que praticamentenenhum volume de água seja acumu-lado para a geração de energia. Ou se-ja, a água que chega àmontante (áreado lago) da usina passa diretamentepelas turbinas e o excedente vai diretopelos vertedouros, de forma que aquantidadedeáguaque saié idênticaàque chega até a usina.AEDPEscelsatambéminformouquea

barragem possui uma programação demanutençãoemonitoramento, conduzi-do pela área de engenharia, e todo esseprocesso é rigorosamente acompanhadoe monitorado pela Agência Nacional deEnergia Elétrica (ANEEL).

SECOU. Stefania Lima, moradora da comunidade, mostra trecho onde antes havia fartura de tilápias

FOTOS: KÉSIA MOURA

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16 DE NOVEMBRO DE 2014 ESPECIAL 11Expedição científica do Rio Doce

Em Itapina,seca do rio traztranstornos aosmoradores

BALSA QUE ERA USADA PARA TRANSPORTAR A

POPULAÇÃO NA TRAVESSIA DO RIO ESTÁ PARADA HÁ

CERCA DE 30 DIAS

LOCOMOTIVA. Cortada pela Estrada de Ferro, o sossego de Itapina é interrompido apenas pelo apito do trem

Ifes: ajudaextra parapreservar

Itapina conta com um importante in-centivador para a preservação do RioDoce: o Instituto Federal de Educação,Ciência e Tecnologia do Espírito Santo(Ifes). Ele temse consolidado comopo-lo de desenvolvimento para a regiãoNoroestedoEstado, formando técnicosagrícolas e profissionais de nível supe-rior no setor agropecuário.“No começo do ano, o campus partici-

pou de uma competição de pesca pormeiodeparceriacomaassociaçãodepes-ca(Apesc).Acreditoqueeventoscomoes-se devemacontecer commais frequênciaporque com isso podemos conscientizarospescadoresarepovoarorio.Asrepresasaqui na região prejudicam tambémode-

Rio sofrecom esgotonão-tratado

EmColatina, a expedição constatou queum dos problemas relacionados ao RioDoce é a quantidade de detritos jogadosnaágua.Oesgotodomunicípionãoé to-talmente tratado e, ao longo da descida,foram encontrados canais onde ele é jo-gado diretamente no rio. O atual secre-tário de Desenvolvimento Econômico eTurismodeColatina, FernandoValverde,declarouqueháprojetospara trataroes-goto e reduzir o impacto da poluição.Assim como o distrito de Itapina, a ci-

dade de Colatina conta com um campusdo Ifes, inaugurado em1993.O campus apostou no projeto da Ex-

pedição do Rio Doce como um alerta àsociedadeemrelaçãoaoscuidadospara

com o rio. “É um ponto de partida ex-celenteparamobilizar todaasociedadee o poder público”.Francisco Hemer Lopes, morador de

Colatinaeengenheiro,dizque jápescou,brincoueviveuanos vendoasmudançasdo rio. “Fico muito triste com isso. NascinabeiradoRioSantaJoana,tomandoda-quela água. Hoje precisamos de planospara salvar e preservar esses rios”.

senvolvimento do rio. O assoreamento éum problema grande”, comentou o dire-tor do Ifes em Itapina, AndersonMatias.Cercade70%daáreadocampusé for-

madapormataatlânticapreservada.Oes-paço é composto pelas unidades de ensi-no, pesquisa, produção e extensão e de-maisinstalaçõesdaInstituição.“ORioDo-ce está pedindo socorro e temos de fazernossa parte para ajudar a evitar isso”.

Em Itapina, distrito de Colatina, nos-so grupo foi acordado pelos apitos dotrem, como de costume, bem cedo. Odistrito, assim comoamaior parte dosoutros que são banhados pelo Rio Do-ce, é calmo e silencioso, interrompidoapenas pela locomotiva que faz o per-cursoda ferroviaVitória-Minas.Odis-trito possui atualmente cerca de trêsmil moradores, sendo que apenas30% residem no perímetro urbano dabucólica vila.A seca que atinge todas as cidades e

vilarejos banhados pelo Rio Doce, des-de dezembro do ano passado traz pro-blemas também para os moradores deItapina, que sofrem com o baixo níveldo rio. Com a vazão baixa, a balsa quefaz o transporte dos moradores nãoconsegue sair do lugar. Ela está lá, háalguns meses sem uso. Moacir Araujo,que trabalha há 13 anos com transpor-te dos moradores através da balsa, diz

que há três anos o rio está sendo ater-rado cada diamais, o que impossibilitaseu trabalho.“A balsa está parada há 30 dias, por

consequência do assoreamento dorio. Não é o primeiro ano que issoacontece. De três anos para cá enfren-tamos esse problema a cada ano. An-tes disso não tínhamos esse problema.Amaior seca do rio na região foi neste.Estamos há bastante tempo sem utli-lizar a balsa”, lamenta o morador.

PREJUÍZOSOs moradores da região são os que

mais sofrem com a seca do rio. Elestêm que se adaptar à nova realidadedo local e mudar seus horários.“Quando está funcionando, cerca de200 pessoas utilizam a balsa paraatravessar o rio, por dia. Quando abalsa está parada, precisamos usar oônibus, que só passa em três horários

e dá uma volta de 30 km. Com isso, opercurso aumenta 13 km e chega a 30minutos de atraso em relação à via-gemnabalsa.Quandoo rio está comaágua baixa, a travessia leva 10 minu-

tos, e quando está cheio, cinco. O rioestá secando e a causa disso é o des-matamento. Além da construção dasbarragens de Mascarenhas e de Ai-morés”, lamentou Moacir Araújo.

PROBLEMA. Com o nível baixo do rio, moradores abandonam a balsa e têm de optar pelos ônibus

PRODUTOR RURAL diz que água do rio é tãopoluída que não dá para regar a plantação

POLUIÇÃO. Em Colatina foram detectados osmaiores índices de poluição da água

FOTOS: LAÉRCIO FIGNARELLI

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12 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

Esperança no fim da linhaÚLTIMO TRECHO DA EXPEDIÇÃO REGISTRA BOM

VOLUME DE VEGETAÇÃO, MAS EROSÃO É PROBLEMA

GRUPO É RECEBIDO por banda de congo em Regência, onde o Rio Doce deságua no oceano; na imagem ao centro, expedição se prepara para embarcar no porto de Linhares; à esquerda, registro de erosão no rio

RECADO. Durante o trajeto, o registro de uma placa pedindo para que não poluam ou cacem na região

Com alto índice de desenvolvimento, Li-nharesé consideradaatualmenteumadasmelhores cidades capixabas para investi-mento financeiro. É também reconhecidacomo a cidade das águas por, além de serbanhadapeloRioDoce,possuircercade64lagoas.AmaioremaisconhecidaéaLagoaJuparanã, com38kmde extensão por cer-cade8kmde largura:umadasmaioresdopaís emvolumede água.Durante a passagem da expedição pelo

município,foipossívelperceberqueàsmar-gensdoRioDoceaindaexisteumamataci-liarmaisprotegida.“Essefoiumdospoucoslocaisondesepercebeuamaiorquantidadede vegetação”, comentouMarcelo Simonelli, especia-listasemflora.Poroutrolado,o nível da água do rio estavamuitobaixoeforamnecessá-rios paciência e muita forçapara empurrar os barcos rioacima.Para reflorestar a Mata

Atlântica, a Fibria desen-volve, desde2010,umpro-jeto que vem contribuindopara recompor e enrique-cer áreas desmatadas noEspírito Santo. Trata-se doPrograma de RestauraçãoAmbiental, que já contemplou 3.600hectares em território capixaba.Da área restaurada desde o início do

programa, 1.090 hectares estão em Áreasde Preservação Permanente (APP), situa-das principalmente às margens de rios eentornodenascentes.“NomunicípiodeLi-nhares,banhadopelorioDoce,aFibriaes-tá recompondo228hectares deAPPs e es-tima que ainda realizará a restauração decercade360hectaresnestes locais”, expli-ca Tathiane Sarcinelli, analista de MeioAmbiente Florestal da empresa.Quando o rio está com nível normal, a

viagem de Linhares até Regência duraaproximadamente duas horas. Porém,comonívelmuitobaixo, foramgastasoitohoraspara fazeropercurso completo.Pes-

cador experiente, Ari Gonçalves Zuquetofoiconvidadoparacomporaequipenotre-cho e contou que “o segredo para navegarno rio seco como agora é fugir dos bancosdeareia, terconhecimentodeseuscanaisesuas abas. Por ter nascido e ter sido criadoaqui, paramim é fácil navegar”.A captaçãode água irregular, constru-

ção desordenada e esgoto estão entre osproblemas encontrados pelos pesquisa-dores às margens do Rio Doce. Logo naentrada da cidade havia dejetos de espu-mas em um quantidade grande.AprofessoraJosianeDelaporte,bióloga

e química, aponta que faltam investimen-tos em saneamento básicopor parte do poder público.“É necessário apertar o cer-co contra quem joga esgotono rio, e também falta in-vestir em tratamento desseesgoto”.Sobreesseassunto,aPre-

feitura de Linhares infor-mouque todososempreen-dimentos que se instalaremno município, próximos arios e lagoas, devem elabo-rar um Plano de Recupera-ção de Área Degredada noentorno desses locais. Os

empreendimentos já instalados são fiscali-zados, periodicamente, quanto aos contro-les e impactos ambientais. E alegouque to-do o esgoto coletado é tratado.

VAPORZINHOQuase chegando em Regência, en-

contramos José da Conceição Gama,70, carpinteiro de barco desde os 12anos. Com saudosismo, ele contou quenaquele rio já havia passado um barcotripulado, que fazia a locomoção depassageiros de Colatina até Regência,o chamado vaporzinho, emmeados de1940. “Orio tinhamaiságuaenãoexis-tia banco de areia, de maneira nenhu-ma, aqui era água funda. O peixe sem-pre dá, mas agora émais difícil”.

Em Regência, congo e festana chegada da equipeAexpedição chegou ao destino final, Re-gência,masnão foi fácil.Ogrupo saiudoportodeLinharesesóchegouàfozdoRioDoceoitohorasdepois, por contadobai-xo nível do rio. Regência é um balneáriode Linhares com seis mil e trezentos ha-bitantes e atrai principalmente surfistaspela qualidade das ondas.Durante o trajeto, a expedição passou

por diversos bancos de areia, onde erapossível encontrar até gado pastando. OpesquisadorMarco Antônio de Carvalhoconta que a grande quantidade de areianadamaisédoquepartesdosoloqueso-freramerosão. “A populaçãono entorno,principalmentenaárearuralequefazemestradas, precisa de auxílio, precisa fazerumtrabalhoparanão impactar anature-za”, detalhou o pesquisador.Emumadasilhas,umacenaimportan-

te:moradores fixaramuma placa pedin-do para que não sujemo rio.Debaixo de sol quente e empurrando

Quando o rioestá com

nível baixo, aviagem deLinhares atéRegência

aumenta em6 horas

barcos, a equipe avistou ainda de longe ofarol da vila. A expedição navegou maisadianteeviuoRioDocedesaguarnoocea-noAtlântico e encontrar seudestino final.Professores, pesquisadores, pescado-

res e jornalistas foram recebidos em Re-gênciapelabandadecongolocal,queani-mouachegadacommuitamúsicaefogos.O professor do Ifes Leonardo Ribeiro daCosta, coordenador da logística da expe-dição, disse emocionado sobre oque sen-tiuaoconcluiraexpedição:“Foiumagran-de satisfação para mim e para todos daequipe estarmos presentes nessa expedi-ção, porque aproxima a gente da realida-de.Foiumaoportunidadedagenteconhe-cer de perto a nossa região, e isso nos dámais informação, conhecimento e expe-riênciaparapassarparaosnossos alunos.Apublicaçãodo livro, com todas as infor-mação, vai nos trazer bagagempara falarda real situação do que estamos vivendoaqui,” concluiu Leonardo.

FOTOS: LAÉRCIO FIGNARELLI

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13 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

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14 Expedição científica do Rio Doce ESPECIAL 16 DE NOVEMBRO DE 2014

Devemoscuidar dasnascentes,

reflorestar o rio, mata ciliar e cuidarda qualidade da água que abasteceo Rio Doce. Devemos sugerir açõesefetivas para as comunidades. Sóassim vamos ter oportunidade de

conscientizar e preservar o que existedo Rio Doce”

Anderson MatiasDiretor do Ifes Itapina

Eu pescopacumã,

robalo e dourado.A quantidade de peixe é muito

menor do que quatro anos atrás.O rio precisa voltar ao nível

normal e ser drenado. Quandotinha uma só represa já era ruim,

agora temos duas e a situaçãopiorou”

Carlos Alberto PelisaleMorador de Colatina

O peixe estáacabando. Háquatro anos a

gente via o peixe bater aqui aolongo do rio. Hoje, a depredaçãoacabou com tudo. Isso aqui era

cheio de mato e as pessoascortaram a madeira e tiraram a

vegetação. O rio assoreou e o peixeacabou”

Eder Simões,pescador de Itapina

O segredopara navegar

no Rio Doce, secocomo ele está, é ter

conhecimento de seus canais esuas abas. O rio está

acabando. Daqui uns dias, opescador vai precisar procurar

um serviço para trabalharempregado”

Ari Gonçalves Zuquetopescador

Aqui temsolução porque a

taxa de crescimento urbano épequena, cerca de 1% ao ano. Ocontrole urbano é fundamental,

controle de produção agrícola queconsome muito mais água que a

população. É preciso ter um projetode proteção das nascentes e

remunerar por isso”

Francisco Helmer LopesEngenheiro Civil

Precisamosque as atitudes de

cuidado com o rio sejam detoda a sociedade. Nossa

instituição tem importânciapara preservação do Rio Docena formação dos alunos, masprecisamos de melhoras para

ontem. O Rio Doce pedesocorro”

Luiz Braz de CalonDiretor do Ifes Colatina

Aqui existiaum córrego

onde o povo pegava tilápia. Sóque com a enchente, o rio se

misturou com o esgoto eninguém mais pesca. O que se

pesca aqui ninguém maiscompra”

Stefania Limamoradora de Mascarenhas

As vozes do Rio DocePROBLEMAS E ESPERANÇAS MARCAM AS FALAS DE QUEM VIVE E

RESPEITA O RIO MAIS IMPORTANTE DO ESTADO

Ainda temosa fama de uma

região que tem muito peixe. Onosso maior problema aqui é oassoreamento. Eu nunca vi o riotão seco, a cada ano que passa

está secando mais. Tem família quejá desistiu de morar aqui”

Paulo Renato MacielPresidente da Associação de Moradores de Mascarenhas

A populaçãodaqui sente muito

a falta da balsa para se deslocar.Quando está funcionando, a balsachega a carregar até 200 pessoas

por dia. Quando não está,precisamos usar o ônibus, quegasta até 30 minutos a mais”

Moacir de Araújo,trabalha no transporte de balsa, em Itapina

Usamos a águado rio para tudo.

Cozinhar, beber e lavar. Aágua no tempo mais seco éboa, fica clara, mas emépoca de chuva ficabarrenta, não dá para

ninguém usar”

Teresa Schmitmoradora da Fazenda Amarelo, Linhares

Aqui eudescanso não só o

corpo, mas a mente. Nóspreparamos a comida,

dormimos e tudo que a genteprecisa tem aqui nessa ilha.

Procurei um lugartranquilo para viver,

só o bom danatureza”

João Ferreira de Armando,morador de uma ilha às margens do rio

Já remei deColatina a

Linhares. O rioantigamente tinha mais

água e não existia bancode areia. O peixe sempredava, mas agora é mais

difícil. Já chegou a passaro barco vaporzinho aqui,

em 1940”

José da Conceição GamaCarpinteiro de barcos

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16 DE NOVEMBRO DE 2014 ESPECIAL 15Expedição científica do Rio Doce

CENAS DA EXPEDIÇÃOFOTOS: LAÉRCIO FIGNARELLI

ESTUDO. Pesquisadores analisam dados coletados na região Norte

ARREVOADA. Multidão de gaivotas brancas sobrevoa o rio em busca de alimentos CAMINHO. Saída dos barcos da expedição para coleta de material em outro trecho do Rio Doce

BELEZA AO AMANHECER. Nascer do sol à beira do Rio Doce. Visual contemplativo que faz pensar na importância do rio

AREIA. Ao longo do rio é possível ver dezenas de pontos assoreados FAUNA. Perereca fotografada pela equipe durante coleta de dados NA ÁGUA. Os barcos só não foram usados nas áreas muito assoreadas

PASSADO. Vista da antiga ponte de Linhares sobre o Rio Doce, já desativada PASTO. Gado usa as margens do Rio Doce para pastar GRUPO. A expedição é formada por profissionais de diversas áreas

EDUARDO SEGATTO

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