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A METAFÍSICA ESTRUTURA GERAL A Circunscrição da Metafísica como ciência das primeiras causas e dos primeiros princípios; enunciado das quatro causas; análise retrospectiva da história da filosofia de acordo com o esquema das quatro causas a Caracterização da Metafísica; demonstração da necessidade de um primeiro princípio. B Aporias da Metafísica. G A filosofia como ciência do ente enquanto ente; o princípio de contradição. D Léxico. E Classificação das ciências teoréticas e, em especial, da filosofia primeira; o ente como acidente; o ente como verdadeiro. Z A substância. H A matéria e a forma. Q O acto e a potência. I Atributos gerais da substância (unidade, etc.). K Resumo dos livros anteriores; alguns desenvolvimentos independentes sobre o movimento, o infinito, etc. L A substância imutável. M N Matemática; crítica à teoria platónica das ideias.

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  • A METAFSICA ESTRUTURA GERAL

    A Circunscrio da Metafsica como cincia das primeiras causas e dos

    primeiros princpios; enunciado das quatro causas; anlise retrospectiva da histria da filosofia de acordo com o esquema das quatro causas

    a Caracterizao da Metafsica; demonstrao da necessidade de um primeiro princpio.

    B Aporias da Metafsica. G A filosofia como cincia do ente enquanto ente; o princpio de

    contradio.

    D Lxico. E Classificao das cincias teorticas e, em especial, da filosofia

    primeira; o ente como acidente; o ente como verdadeiro.

    Z A substncia. H A matria e a forma. Q O acto e a potncia. I Atributos gerais da substncia (unidade, etc.). K Resumo dos livros anteriores; alguns desenvolvimentos independentes

    sobre o movimento, o infinito, etc.

    L A substncia imutvel. M N

    Matemtica; crtica teoria platnica das ideias.

  • A METAFSICA ESTRATOS DO TEXTO

    A-B, G, E, Z-H-Q, I, L, M-N

    a (esprio?) D, K (esprio?)

    Uma verso da Metafsica em dez livros estava j compilada aquando da elaborao das

    primeiras listas antigas das obras de Aristteles.

    S a, D, K e L, se todos autnticos, 1 subsistiam, a crer em Jaeger, 2 em estado independente. A existncia do livro D como um escrito independente , como vimos, atestada pelos prprios

    catlogos; 3 e o seu carcter de dicionrio filosfico justifica que assim tenha sucedido.

    O livro a claramente um pequeno opsculo independente, porventura inacabado, concebido para introduo global a uma grande coleco de tratados de fsica; a sua existncia como tratado

    autnomo, que os catlogos no parecem documentar, portanto claramente consistente com a sua

    natureza e contedo.

    O livro K bem mais complexo. Compem-no manifestamente duas partes completamente distintas: a primeira (1-8, 1065a26) constitui um sumrio de B-G-E (de que poder ter sido um primeiro esboo ou ento um resumo); a segunda (1065a26 at ao fim) uma coleco muito

    heterclita de excertos e smulas da Fsica. Ambas, se de facto redigidas por Aristteles, seriam

    1 A dvida persiste em relao a a e a K. O primeiro foi atribudo na Antiguidade a Psicles de Rodes, sobrinho de Eudemo. Os

    autores modernos dividem-se quanto sua autenticidade (ver o estado da questo em Owens, The Present Status of Alpha

    Elatton in the Aristotelian Metaphysics, AGPh, 66, 1984, pp. 148-169). A estilometria sugere fortemente o seu carcter esprio:

    cf. Kenny, A Stylometric Comparison Between Five Disputed Works and the Remainder of Aristotelian Corpus e A

    Stylometric Study of Aristotles Metaphysics, p. 14. A situao da Metafsica K mais confortvel. Tambm aqui no existe consenso entre os estudiosos; um bom exemplo dado pelas posies contrastantes assumidas no mesmo Symposium

    Aristotelicum por Aubenque, em Sur linauthenticit du livre K de la Mtaphysique, e por Dcarie, em Lauthenticit du livre

    K de la Mtaphysique. No entanto, a estilometria aponta fortemente para a genuinidade: veja-se Kenny, A Stylometric

    Comparison, e Rutten, La stylomtrie et la question de Mtaphysique K. 2 Studien zur Entstehungsgeschichte der Metaphysik des Aristoteles, p. 180. 3 Cf. DL 36, A 37, e supra, Cap. II, n. 46.

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  • decerto, no estado original da coleco, dois livros independentes que o prprio Andrnico ou

    algum dos seus antecessores assaz desastradamente juntaram.

    No todo, a existncia de a, D e K (1 e 2) em estado independente no s perfeitamente provvel como at perfeitamente justificada. A sua juno Metafsica, em absoluto dispensvel,

    que se compreende apenas pelo af de Andrnico em reduzir e unificar, o que nem sempre fez com

    igual felicidade.

    O caso do livro L totalmente diferente. Jaeger encara-o como um dos livros excludos do tratado original em dez livros. Mas isso muito pouco provvel, porque, como teremos ocasio de

    ver, 4 o objecto fundamental do livro L, a saber, a substncia no-sensvel, parte integrante do projecto da Metafsica, tal como ele anunciado desde os estratos (que o prprio Jaeger vir a

    considerar) mais antigos do tratado, 5 e decerto to integrante como o a investigao sobre a

    natureza dos objectos matemticos na sua relao com a substncia. 6 Ora, se concebvel que a

    Metafsica L tenha comeado por existir em estado independente, 7 no concebvel que, uma vez constitudo o tratado aristotlico original de que a lista mais antiga d testemunho, o livro L no estivesse nela includo.

    No temos explicao para o facto de a edio primitiva da Metafsica s contar dez livros 8 e

    de dele fazerem certamente parte A, B, G, E, Z, H, Q, I, M e N, o que j perfaz o nmero indicado. A nica hiptese que podemos provisoriamente avanar (e que reconhecidamente pobre) que M e N tivessem sido ento includos como um nico livro, caso em que a Urmetaphysik seria A, B, G, E, Z, H, Q, I, L, M-N.

    4 No III.1.3.1. Mas percorra-se para j o Apndice III, onde propomos um conspecto estrutural da Metafsica tal como a

    conhecemos hoje. 5 Cf. Metaph. B 1, 995b14-18, e B 2, 997a34-998a19. 6 Que Aristteles anuncia igualmente em Metaph. B 1, 996a12-15, e B 5, 1001b26-1002b11, e levar a cabo nos livros M e N. 7 Como muito provavelmente M-N tambm existiram em estado independente: relembre-se o ttulo Peri; th'" ejn toi'" maqhvmasin

    oujsiva" em A 160. 8 No compartilhamos a tese de Lord (On the Early History of the Aristotelian Corpus, pp. 146, 149-151) segundo a qual, em A

    111, k deve ser lido como o nmero de livros (vinte) e no como o algarismo correspondente ao ltimo volume (dcimo). No s no se v que textos dos catlogos chegariam para preencher uma tal Metafsica em vinte livros (os catorze da actual so j

    porventura demais), como principalmente contra a lgica da lista mais antiga, que essencialmente dispersiva, conter uma obra

    cuja constituio teria necessariamente envolvido sucessivos estratos de adio. que no se trataria aqui de uma mera

    compilao, de problemas (como em DL 120, A 110, P 76), de reclamaes legais (DL 129, A 120) ou de Constituies (DL 143,

    A 135, P 86). Tratar-se-ia da composio de um novo tratado a partir de edies parciais mais antigas. Ora esse exerccio,

    efectuado em grande escala, s se verifica com Andrnico.

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  • Objecto da Metafsica: Substncia em geral ou substncia imutvel?

    Concepo tradicional:

    A metafsica teologia e o seu objecto prprio , portanto, a substncia imutvel ou

    divina.

    Ruptura:

    Distino wolffiana entre metaphysica generalis e metaphysica specialis,com a

    consequente ciso entre a cincia do ente em geral (ontologia) e a cincia do ente

    divino, encarada como cincia de um ente particular (teologia).

    Aplicao Metafsica de Aristteles (NATORP, Thema und Disposition der

    aristotelischen Metaphysik, 1888):

    Aristteles mantm ao longo do tratado dois pontos de vista distintos, irreconciliveis

    e contraditrios acerca da natureza da metafsica: em certos locais, entende-a como

    cincia do ente enquanto ente, isto , como cincia do ente em geral, logo como

    metaphysica generalis ou ontologia; noutros, entende-a como cincia do ente divino

    e, nesta medida, como uma metaphysica specialis, a saber, como teologia.

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  • Matrizes de Soluo

    1. A atitude attica (P. NATORP): a ideia de uma teologia radicalmente estranha ao projecto metafsico de Aristteles e todos os desenvolvimentos neste sentido provm de interpolaes tardias de origem platonizante, pelo que o contedo teolgico da Metafsica deve ser pura e simplesmente excisado;

    2. A soluo dualista (E. ZELLER, Bericht ber die deutsche Litteratur, 1889): h de facto dois pontos de vista na Metafsica de Aristteles e esses dois pontos de vista so de facto contraditrios, mas tambm so constitutivos da Metafsica, pelo que no legtimo decretar a attese da teologia;

    3. A soluo gentica (W. JAEGER, Aristoteles. Grundlegung einer Geschichte seiner Entwicklung, 1923): o problema de uma dualidade de pontos de vista acerca da natureza e do objecto da metafsica resolvida atravs de uma evoluo do pensamento aristotlico, o qual iria de um platonismo inicial para uma reflexo madura definitivamente liberta das referncias teologia e entregue tarefa de erigir no uma cincia de um ente particular, a substncia divina, mas a cincia do ente em geral;

    4. O regresso perspectiva tradicional (J. OWENS, The doctrine of Being in the Aristotelian Metaphysics, 1951; PH. MERLAN, From Platonism to Neoplatonism, 1953): em radical oposio s anteriores, porque desde logo em radical oposio ciso wolffiana que NATORP atribuiu ao esquema metafsico de Aristteles, defende que no h qualquer metaphysica generalis nem qualquer ontologia em Aristteles: h apenas uma teologia que envolve em si mesma a referncia universal a todos os entes qua entes, pelo que todas as passagens mencionadas por NATORP referem sempre uma nica e mesma cincia, a teologia.

    5. A perspectiva aporemtica (P. AUBENQUE, Le problme de ltre chez Aristote, 1962): Aristteles mantm ao longo do tratado duas perspectivas distintas sobre a metafsica, mas no chega a haver entre elas contradio, porque nem um nem outro dos projectos, a saber, nem a ontologia dos livros centrais da Metafsica nem a teologia do livro L, pretende ser uma cincia do ser (do qual no pode haver cincia, porque no um gnero), mas apenas um problema dialctico que Aristteles se coloca a si mesmo.

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  • ROTEIRO DA METAFSICA

    1 A 3, 983a24-26 K 1, 1059a18-20

    A filosofia primeira a cincia das primeiras causas e dos primeiros princpios.

    2 G 1, 1003a26-27 G 1, 1003a31-32 G 2, 1003b17-19 E 1, 1025b3-4 E 4, 1028a3-4

    Cincias das primeiras causas e dos primeiros princpios, isto , cincia das

    causas e princpios do ente enquanto ente.

    3 D 7 E 2, 1026a33-b2 (Q 10, 1051a34-b2)

    Os quatro sentidos de ente: por acidente; por si mesmo; como verdadeiro e

    falso; como acto e potncia.

    4 E 4, 1027b29-1028a4 K 8, 1065a21-26

    Correco e restrio do elenco anterior: ente por acidente e ente como

    verdadeiro e falso devem ser dispensados.

    5 D 7, 1017a8-22 D 30 E 2-3 K 8, 1064b15-1065a21

    Anlise dos sentidos dispensados: o ente por acidente.

    6 D 7, 1017a31-35 D 29 E 4 q 10

    Anlise dos sentidos dispensados: o ente como verdadeiro e falso.

    7 G 1-2 Como possvel uma cincia do ente enquanto ente e o que vem a ser tal cincia?

    8 G 1-2 Resposta 1: A cincia do ente enquanto ente possvel porque todo o ente se diz em relao a um sentido primrio (a substncia).

    9 G 2 Z 1

    Resposta 2: Em conformidade, a cincia do ente enquanto ente a cincia da

    substncia.

    10 B 1, 995b14-18; B 2, 997a34-998a19

    B 1, 995b31-36; B 4, 999a24-b24

    Z 2, 1028b27-31 K 2, 1060a3-36

    S existem substncias sensveis ou existem tambm substncias no-sensveis?

    E integram um nico gnero ou constituem dois gneros diferentes? (Aporia 4 e

    Aporia 8)

    11 I 10, 1058b26-1059a14 Resposta (implcita): As substncias distribuem-se por dois grandes gneros, sensvel e no-sensvel.

    12 B 1, 995b10-14; B 2, 997a15-25

    a mesma cincia que deve estudar todas as substncias, ou h vrias cincias

    para esse efeito? (Aporia 3)

    13 E 1 Resposta: a filosofia primeira estuda todas as substncias enquanto tais, o que engloba tanto as substncias sensveis como as no-sensveis.

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    14 Z 2 Programa do estudo da substncia. 15 Z 3 Anlise da substncia em geral. 16 Z 3, 1029a33-34

    Z 11, 1037a10-17 Z 17, 1041a6-9 H 1, 1042a24-25 H 2, 1042b10-11 H 2, 1043a26-28 H 3, 1043a37-b1

    Passagem ao estudo das substncias sensveis.

    17 Z-Q Estudo das substncias sensveis. 18 L 1, 1069a30-b2

    L 6, 1071b3-5 Passagem ao estudo das substncias no-sensveis.

    19 L 6-9 Estudos das substncias no-sensveis (os motores imveis). 20 B 1, 995b14-18; B 2, 997a34-

    998a19

    B 1, 996a12-15; B 5, 1001b26-1002b11

    H um nico gnero de substncias no-sensveis (o j tratado) ou h vrios?

    (Aporia 4)

    Em particular, nmeros, linhas, figuras e pontos so certas substncias ou no?

    E, se so, esto separados dos sensveis ou esto neles inerentes? (Aporia 14)

    21 M 1, 1076a8-32 N 3, 1091a18-22

    Necessidade de estudar os outros candidatos a substncias no-sensveis (ideias

    e objectos matemticos).

    22 M-N Estudo dos outros candidatos a substncias no-sensveis (ideias e objectos matemticos).

    23 B 1, 995b18-27; B 2, 997a25-34

    A filosofia primeira deve estudar as substncias apenas, ou tambm os seus

    atributos gerais como mesmo, outro, semelhante, dissemelhante,

    contrrio, anterior e posterior? (Aporia 5)

    24 G 2, 1003b22-1005a18 K 3, 1061b4-11

    Resposta: cincia do ente enquanto ente pertence estudar tambm a unidade e

    outros predicados per se do ente enquanto ente.

    25 I 1-10 Estudo dos atributos gerais da substncia, sensvel ou no-sensvel. 26 B 1, 995b6-10; B 2, 996b26-

    997a15

    A filosofia primeira deve estudar apenas os princpios da substncia ou tambm

    os princpios maximamente comuns? (Aporia 2)

    27 G 3, 1005a19-29 G 3, 1005b5-17 K 4, 1061b17-27

    Resposta: cincia do ente enquanto ente cabe ainda investigar os princpios

    comuns que esto supostos em todo o argumento, como por exemplo o princpio

    de contradio.

    28 G 3-8 Estudo dos princpios maximamente comuns.