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APHES_2011 Estado e centralização na monarquia portuguesa. A administração e a defesa do Brasil entre o Erário Régio e as Juntas da Fazenda (1761-1801). Autor: Miguel Dantas da Cruz, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Centro de Estudos de História Contemporânea Palavras-Chave: Erário Régio, Juntas da Fazenda, centralização, Pombalismo, guerra, arrematações, INTRODUÇÃO Este estudo trata o problema do Estado e da centralização política no império português na segunda metade de Setecentos, e fá-lo-á a partir da interacção do Erário Régio, um dos principais instrumentos do poder central, com as Juntas da Fazenda do Brasil, acrescentadas ao dispositivo tradicional da administração periférica da coroa no império a partir de 1761 1 . A consolidação de um aparelho de Estado mais desenvolvido (e mais centralizado) durante o período pombalino é um tema que não tem recolhido uma atenção generalizada por parte da comunidade académica. Tratou-se de algo tão evidente que a demonstração se tornou quase supérflua. Em regra, articulando a reforma institucional levada a cabo pelo principal ministro de D. José com a concentração de poder na sua pessoa, assume-se (não sem alguma razão) que se tratou de uma conjuntura marcada pelo irresistível avanço da centralização estruturada e eficaz. Paralelamente, alguns autores defendem também que o Pombalismo marca o momento em que o governo político, baseado numa «administração activa», superou em definitivo a administração de cariz corporativo vigente até esse momento 2 . Porém, se o programa centralizador de Carvalho e Melo parece evidente por si mesmo quando tomado na sua globalidade, a sua eficácia tem ficado frequentemente por esmiuçar. De facto, têm faltado abordagens que acompanhem de perto o funcionamento de algumas das estruturas fundadas na sequência do afã reformador de Pombal (certamente uma excelente maneira de captar o significado prático da mudança). 1 O ritmo de criação das Juntas da Fazenda não foi particularmente rápido. A primeira a ser instalada foi em Goiás, em 1761, mas as últimas só se instalaram na segunda década do século XIX. 2 Por exemplo, Subtil, 1998, p. 143.

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APHES_2011

Estado e centralização na monarquia portuguesa. A administração e a defesa do Brasil entre o Erário Régio e as

Juntas da Fazenda (1761-1801).

Autor: Miguel Dantas da Cruz, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Centro de Estudos de História Contemporânea

Palavras-Chave: Erário Régio, Juntas da Fazenda, centralização, Pombalismo, guerra, arrematações,

INTRODUÇÃO

Este estudo trata o problema do Estado e da centralização política no império

português na segunda metade de Setecentos, e fá-lo-á a partir da interacção do Erário

Régio, um dos principais instrumentos do poder central, com as Juntas da Fazenda do

Brasil, acrescentadas ao dispositivo tradicional da administração periférica da coroa no

império a partir de 17611.

A consolidação de um aparelho de Estado mais desenvolvido (e mais

centralizado) durante o período pombalino é um tema que não tem recolhido uma

atenção generalizada por parte da comunidade académica. Tratou-se de algo tão

evidente que a demonstração se tornou quase supérflua. Em regra, articulando a reforma

institucional levada a cabo pelo principal ministro de D. José com a concentração de

poder na sua pessoa, assume-se (não sem alguma razão) que se tratou de uma

conjuntura marcada pelo irresistível avanço da centralização estruturada e eficaz.

Paralelamente, alguns autores defendem também que o Pombalismo marca o

momento em que o governo político, baseado numa «administração activa», superou em

definitivo a administração de cariz corporativo vigente até esse momento2. Porém, se o

programa centralizador de Carvalho e Melo parece evidente por si mesmo quando

tomado na sua globalidade, a sua eficácia tem ficado frequentemente por esmiuçar. De

facto, têm faltado abordagens que acompanhem de perto o funcionamento de algumas

das estruturas fundadas na sequência do afã reformador de Pombal (certamente uma

excelente maneira de captar o significado prático da mudança).

                                                            1 O ritmo de criação das Juntas da Fazenda não foi particularmente rápido. A primeira a ser instalada foi em Goiás, em 1761, mas as últimas só se instalaram na segunda década do século XIX. 2 Por exemplo, Subtil, 1998, p. 143.

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Isto não é dizer, naturalmente, que as transformações operadas no aparelho de

Estado por Carvalho e Melo tenham sido de todo ignoradas. Por exemplo, em 1989,

José Vicente Serrão procurou decompor e sintetizar as linhas de força do programa

pombalino, insistindo na inovadora identificação das forças de mudança com o próprio

Estado3. Mais recentemente, e ainda que vinculados a perspectivas opostas, José Subtil4

e Nuno Gonçalo Monteiro5 seguiram de perto, quer os mecanismos inerentes à tomada

de poder por parte de Pombal, quer o sentido global desta mudança. Todavia, em

nenhum dos casos referidos houve a preocupação expressa de avaliar quão centralizado

se tornou o aparelho de Estado. O Estado cresceu e expandiu-se, submetendo no

processo a sociedade civil, mas fica por compreender muitas das nuances envolvidas

nesta transformação. Será que a concretização do projecto político pombalino canalizou

para Lisboa a resolução de todas as matérias? Não terá este avanço do Estado sido

secundado por uma (indispensável) delegação de poderes nas instâncias da

administração periférica da coroa? A mesma questão é naturalmente extensível ao

governo dos territórios ultramarinos. Aliás, parece especialmente importante saber em

que medida as reformas institucionais pombalinas transformaram a relação do centro

político com as conquistas.

Tal tarefa – compreender as dinâmicas centralizadoras da política pombalina –

apresenta contudo um grau de dificuldade assinalável; sendo particularmente difícil

encontrar uma plataforma de diálogo historiográfico. A ‘nova’ história institucional da

monarquia brigantina, e em especial do império português, renovada que foi pela

aproximação pós-estruturalista de autores como António Hespanha6, rejeitou a ideia de

Estado ao mesmo tempo que deitou fora a ideia de centralização política (em especial

para o século XVII). Em resultado dessa opção metodológica, e ainda que os graus de

adesão sejam variáveis7, a história da administração da América portuguesa passou a ser

sobretudo a história das elites e da negociação que mantinham com a coroa distante (e

implicitamente irrelevante). Em regra, o resultado passa pela elaboração de

prosopografias, na generalidade muito interessantes, mas com menor poder explicativo

acerca do aparelho de Estado propriamente dito. Importa notar que isto acontece, não só

                                                            3 Serrão, 1989, p. 19. 4 Subtil, 2007. 5 Monteiro, 2008. 6 Hespanha, 1994 e sobretudo 2005. 7 Autores como Fernanda Olival (2001), Laura de Mello e Sousa (2006) e Francisco Bethencourt (2007) têm resistido à ideia de uma monarquia quase acéfala, em que a coroa representava apenas mais um poder.

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porque tal investigação pressupõe enquadramento teórico hostil à operatividade

conceptual do Estado, como porque o foco específico das pesquisas são mesmo as

elites.

Naturalmente, dentro destas recorrentes opções, o Estado, seus equipamentos

(tribunais, armazéns, arsenais, vedorias, secretarias, etc.) e seus principais

desenvolvimentos institucionais fenecem e, com raras excepções, ficam submersos

numa espécie de azáfama historiográfica exclusivamente orientada para estratégias e

trajectórias individuais ou grupais com resultados de qualidade indiscutível, mas que

tendem a contribuir para a formação de um quadro historiográfico muito fragmentado, a

espaços desconcertante, e quase sempre incompatível com as ‘grandes explicações’.

Veja-se o exemplo do Erário Régio e do sistema de Juntas da Administração da

Real Fazenda8, que ele encimava. Veja-se que hoje, graças a alguns trabalhos notáveis

(como os de Ângelo Carrara), sabe-se mais sobre os contratadores de receitas da coroa,

suas estratégias e património, do que se sabe sobre o grau de dependência institucional

das Juntas da Fazenda relativamente ao Erário Régio. Presumidamente assume-se que

tal subordinação seria enorme, porque, no limite, isso expressa melhor o teor

reformador da iniciativa de Carvalho e Melo.

Por seu turno, o Estado, e sobretudo as nuances de maior ou menor centralização

que lhe estão associadas, continuam numa certa penumbra, mesmo quando a sua

presença aparece aos olhos dos historiadores com contornos mais definidos (segunda

metade de Setecentos). Em grande medida, a questão parece situar-se dentro dos

seguintes termos: até Pombal, considera-se não existir Estado nem centralização (quer

no reino quer nas conquistas), sendo a coroa apenas mais um poder; depois de Pombal,

assume-se que o Estado avançou de forma irrepreensível, passando a ser tudo decidido

em Lisboa, numa dinâmica preservada durante o reinado de D. Maria I. A máquina

institucional trazida pela reforma pombalina tem sido portanto interpretada de forma

monocromática, sem se tomar em atenção as contradições e resistências inerentes ao

próprio processo de centralização.

Neste texto são os desenvolvimentos ocorridos dentro do aparelho de Estado

(que aqui se postula como realidade efectiva no século XVIII) que assumidamente se

quer seguir, procurando-se compreender em especial o carácter e a eficácia formal da

centralização política e administrativa trazida pela reforma pombalina. Para isso,

                                                            8 Doravante e para facilitar o discurso recorrer-se-á a expressão Junta da Fazenda.

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abordar-se-á a interacção mantida entre o Erário Régio e a Junta da Fazenda do Rio de

Janeiro. Trata-se, portanto, de avaliar os limites da iniciativa centralizadora ou, por

outras palavras, os limites e contradições inerentes à expansão do Estado, dando

especial atenção a duas matérias tradicionalmente sensíveis aos governos de Antigo

Regime: os recursos financeiros para a guerra e as arrematações dos contratos

(adjudicação para o recebimento de direitos régios).

No plano da organização, o texto divide-se em duas partes. A primeira parte

pretende sinteticamente pôr em evidência o significado político da criação do Erário

Régio, destacando-se as repercussões sentidas pelos restantes tribunais e repartições do

reino. Aborda-se também a forma como a jurisdição do Erário Régio se estendeu às

conquistas. A segunda parte, seguindo de perto os contornos da interacção da Junta da

Fazenda do Rio de Janeiro com o Erário Régio, procura compreender melhor as nuances

da centralização política no império.

PARTE I

1. Antes do Erário Régio: alguns aspectos de dispersão político-administrativa.

A negligência de que tem sido alvo o Erário Régio enquanto objecto de estudo

específico, é tanto mais estranha quanto na altura da sua instituição foi tido como um

ápice da administração Josefina. Jacome Ratton, por exemplo, referiu que se tratava «de

um monumento que por si só bastaria para eternizar a memória deste grande Monarca»9.

Apesar de ser bastante esquecida pela bibliografia do período pombalino, mesmo a mais

recente, é muito razoável defender a criação do Erário Régio como uma das principais

alterações do sistema político português na segunda metade de Setecentos. Pode mesmo

ter sido a principal. O Erário Régio passou ‘tão-somente’ a absorver directamente quase

todos os rendimentos que antes se consignavam às demais repartições e tribunais do

Estado. A célebre lei de 22 de Dezembro de 1761 impôs a criação de um tesouro geral

onde deveriam ser recolhidas todos rendimentos da monarquia, agora expressamente

denominados «públicos». Por tal tesouro deveriam ser igualmente suportadas todas as

despesas da monarquia. Dificilmente poderia existir maneira mais directa de restringir

as autonomias e as jurisdições anteriores.

Até esse momento cada repartição ou tribunal tinha autonomia suficiente para

administrar rendas, direitos ou quaisquer outros bens que lhe tivessem sido

                                                            9 Ratton, 2007 [1813], p. 226.

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concedidos10, frequentemente para o cumprimento de funções atribuídas ou para o

sustento dos seus membros. Assim era o caso, por exemplo, do Conselho Ultramarino,

por onde, para fazer face à sua obrigação de socorrer as conquistas com munições e

outros materiais, D. Pedro II ordenara que corresse parte substancial das receitas

ultramarinas que chegavam a Lisboa.

Em regra estes rendimentos eram recolhidos por contratadores, rendeiros,

almoxarifes e recebedores e entregues na repartição estipulada, sendo as suas contas

posteriormente conferidas em uma repartição específica (embora organicamente ligada

ao Conselho da Fazenda): Contos do Reino e Casa. Tal era o procedimento adoptado

para o reino e, desde 1627, para todas as partes ultramarinas. O capítulo XVIII do

regimento dos Contos revogou a prática de serem quitados nas próprias conquistas os

oficiais que recebessem rendimentos da fazenda. Daí em diante, tudo deveria ser

confirmado no reino11.

Como é do conhecimento geral, a dispersão da administração de receitas e

despesas da fazenda real exorbitava mesmo os espaços mais directamente vinculadas à

coroa. No Brasil, até meados do século XVIII, as câmaras municipais não só recolhiam

tributos consignados ao custeamento de despesas militares, como os administravam

directamente. Ou seja, na América portuguesa, e diferentemente do que acontecia no

reino onde funcionava a Junta dos Três Estados, os concelhos geriam livremente os

recursos fiscais (auto-tributados) até ao pagamento final das tropas em mostras, às quais

exigiam estar presente12. O período de guerra com os holandeses, em meados do século

XVII, foi especialmente ilustrativo desse papel desempenhado pelas câmaras na colecta

fiscal para posterior satisfação dos encargos com a tropa13.

Naturalmente, esta autonomia camarária não recolhia (provavelmente nunca

recolheu) um consenso alargado e em 1727 o governador do Rio de Janeiro, o coronel

Vahia Monteiro, recebeu instruções para verificar a possibilidade de se transferir a

administração daquelas rendas para a Fazenda Real14. Alguns anos antes, por alturas da

Guerra de Sucessão de Espanha, também no reino, mais propriamente no Conselho de

                                                            10 Silva, 2005, p. 255. 11 Regimento dos Contos (1627). Sousa, 1785, tomo III, pp. 367-446. 12 Assentos da Câmara da Baía relativos aos fornecimentos das tropas de infantaria (Julho de 1652), DHBNRJ, vol. 79, pp. 349-367. 13 Bicalho, 2003 e Barros 2008. 14 Carta de Vahia Monteiro para o rei, de 7 de Fevereiro de 1729. PHANRJ, nº 15, pp. 307-310.

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Estado, se discutiu as vantagens de retirar a cobrança das terças às Câmaras15. Os

tempos estavam de facto a mudar para as autonomias dos poderes locais16.

Ainda no que tocava aos recursos para a defesa do Brasil, importa referir que a

ausência de um ponto central de «arrecadação» da fazenda (por onde simultaneamente

se expedissem os pagamentos) gerou pelo menos três décadas de conflitos entre o

Conselho Ultramarino e o Conselho da Fazenda (1710-1736?). Os rendimentos para a

defesa terrestre, geridos pelo Conselho Ultramarino, e os rendimentos destinados à

defesa marítima, administrados pelos Armazéns da Coroa, tendiam a confundir-se,

transformando-se a defesa militar do Brasil em um enorme desafio para as articulações

do sistema poli-sinodal português.

Ilustrativo da tensão provocada por tais dificuldades foi um parecer, emitido

pelo então vedor dos Armazéns (marquês de Fronteira), onde se exigiu a preservação

das práticas entre os tribunais, referindo então que o Conselho Ultramarino deveria

pagar o que devia «porque neste reino se observa inviolavelmente estilo, que passa por

Lei, de que a dívida que se contraiu por um tribunal se não pague pelos bens que outro

tribunal administra»17. Pela mesma altura, o mesmo marquês chegou a propor a

incorporação do Conselho Ultramarino (e da Junta do Comércio) na Repartição dos

Armazéns, o que, por outras palavras, implicava a extinção do primeiro18. Para

Fronteira, só centralizando a direcção colonial no Conselho da Fazenda, sobretudo na

Repartição dos Armazéns, seria possível fazer convergir os múltiplos interesses

envolvidos na administração ultramarina. Naquele momento, o plano de absorção

institucional foi rejeitado, mas a sua contemplação nos principais círculos de poder da

monarquia, inclusivamente em pareceres do duque de Cadaval (que o considerou um

produto da desmedida ambição de Fronteira)19, ilustra a viabilidade com que foi

encarado.

Este panorama, de uma certa anarquia institucional, sofreria uma modificação

essencial com a reorganização financeira do Estado, ou melhor, com o estabelecimento

do Erário Régio em 1761. Financeiramente dependentes de um novo organismo, as

                                                            15 Consulta do Conselho de Estado, de Setembro de 1713. Biblioteca da Academia das Ciências (BAC), Série Azul, nº 127, Papéis do Conselho de Estado, fls. 4-13v. 16 Cf. Bicalho, 2007. 17 Parecer do marquês de Fronteira, provavelmente do período da Guerra da Sucessão de Espanha. ANTT, Arquivos particulares Casa Fronteira e Alorna, nº 120, pasta Conselho da Fazenda e Casa da Moeda. 18 Proposta do marquês de Fronteira, 24 de Outubro de 1712. Rau, 1958, Vol. II, doc. 161, pp. 108-110. 19 Parecer do duque de Cadaval sobre a proposta de incorporação do Conselho Ultramarino e da Junta do Comércio na Repartição da Índia e Armazéns, 28 de Novembro de 1712. Rau, 1958, Vol. II, doc. 164, pp. 110-111.

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repartições e tribunais da coroa perderam não só influência como perderam também a

razão para se envolverem em disputas entre si. Num certo sentido, é legítimo referir que

Carvalho e Melo disciplinou a generalidade do sistema político português quando

retirou à maioria das instâncias de poder a administração de consignações particulares.

Salvo raras excepções, aliás mais tarde corrigidas20, o espectro institucional português

ficou numa espécie de subordinação implícita ao Erário e, consequentemente, ao seu

inspector-geral e (de 1777 em diante) aos seus presidentes. Na realidade, mais do que os

poderes periféricos (como as câmaras municipais), as primeiras vítimas da centralização

trazida pelo Erário podem muito bem ter sido as outras instâncias do poder central.

2. Prescrições centralizadoras do Erário Régio: assumindo o controlo da periferia

ultramarina

A constituição de um ponto central para a arrecadação e distribuição da fazenda

real, exclusivamente administrado pelo Erário Régio, limitou fortemente portanto a

capacidade de os demais tribunais actuarem livremente, impossibilitando-os de emitir

ordens de pagamento, mesmo quando as matérias eram por si tuteladas. Na prática, o

Erário Régio passava a custear o funcionamento do restante aparelho de Estado,

transferindo verbas para onde fosse necessário.

A administração das conquistas não foi diferente. Os tribunais e repartições que

de alguma forma intervinham na gestão do ultramar, sobretudo o Conselho Ultramarino,

eram agora obrigados a elaborar as folhas que deveriam ser remetidas ao Erário Régio,

para posterior expedição dos mandatos de pagamento. E foi aqui que residiu a grande

inovação. A expedição de folhas de pagamento não constituía novidade de maior. Na

verdade elas sempre existiram. A diferença é que de 1761 em diante elas tinham de ser

canalizadas para o Erário, que autorizaria (ou não) o pagamento. A única excepção

prevista a este procedimento pressupunha a carta assinada pela «Real Mão», que, sem

prejuízo da indispensável participação da conta ao presidente do Erário, autorizaria o

pagamento de qualquer importância. Na eventualidade de uma urgência, relacionada

com «algumas despesas e pagamentos no Brasil», os presidentes dos diferentes tribunais

                                                            20 A maioria dos tribunais, como a Junta dos Três Estados, ficou de imediato na dependência do Erário Régio; outros, porém, mantiveram alguma forma autonomia que, de qualquer modo, não durou muitos anos. Foram os casos da administração da Casa de Bragança (1765); da Casa das Rainhas (1769); dos Contos da Mesa da Consciência e Ordens, Contadorias das Três ordens Militares e da Tesouraria Geral dos Cativos (1774); do donativo dos 4% (administrado pela Junta do Comércio até 1780); e da Contadoria do Subsídio Literário (1794). No início do século XIX raros seriam os rendimentos do Estado não directamente absorvidos pelo Erário. Moreira, 1977, pp. xiv-xvi.

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ou repartições deveriam tratar pessoalmente com o presidente do Erário Régio, para que

por ele se mandasse expedir as «Ordens necessárias». O presidente do Erário Régio (e

antes dele o inspector-geral) podia, por seu turno, questionar e mandar averiguar junto

dos tribunais os motivos subjacentes às despesas feitas. Podia também mandar aferir

quais as resoluções régias em que elas se apoiavam.

As matérias que a lei de 22 de Dezembro de 1761 deixara omissas, e que

estariam na origem da perpetuação de práticas contrárias ao espírito dessa lei, foram

corrigidas anos mais tarde, já depois do afastamento de Sebastião de Carvalho e Melo.

Na altura, foi especialmente contemplado o caso das conquistas. Relembrou-se então ao

Conselho Ultramarino (e a todos os outros) a proibição de mandarem satisfazer

despesas nas conquistas21. Outras objecções (posteriores) à preeminência do Erário

Régio não foram bem sucedidas, como aconteceu já em 1800, quando a Junta da

Fazenda da Marinha (criada especificamente para gerir o aprovisionamento e a

construção de navios) se viu forçada pelo regente a observar as instruções orçamentais

transmitidas pelo Erário22.

O protagonismo exercido sobre as finanças do Estado transformou o Erário

Régio no espaço privilegiado para o exame de todas as matérias que dissessem respeito

ao funcionamento da estrutura institucional e administrativa da fazenda real, quer no

reino, quer nas conquistas americanas. No caso de estas últimas, e na sequência de um

processo que passou pela marginalização explícita do Conselho Ultramarino, a

canalização das representações dos súbditos e agentes espalhados pelo império passou a

ser direccionada para a nova estrutura pombalina.

Na realidade, e ainda que subissem pelo Conselho Ultramarino muitos papéis

(relacionados com pagamentos, despesas ou tributos), era sobretudo no Erário que a sua

apreciação final era realizada. Por isso, muitos requerimentos encaminhados para o

Conselho Ultramarino não obtiveram aí a resposta desejada, nem mesmo chegaram a

subir para consulta ao monarca. Tal foi o caso da frustrada representação dos oficiais da

Câmara do Sabará sobre as dificuldades que encontravam para pagar os soldos dos

                                                            21 Decreto de 12 de Junho de 1779. Acerca das Juntas da Fazenda do Ultramar, e dos processos e jurisdição para pagamentos. Silva, 1844, pp. 471-473. 22 Consulta do Conselho da Junta da Fazenda da Marinha, de 22 de Agosto de 1800. Biblioteca Central da Marinha - Arquivo Histórico (BCM-AH), Livro 2384, fls. 212v-213.

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sargentos-mores e ajudantes, entretanto nomeados para disciplinar as tropas auxiliares

(1777)23.

No Erário Régio também se passaram a dirimir disputas de fronteira registadas

entre diferentes capitanias (não resolvidas com a criação das Juntas da Fazenda),

frequentemente relacionadas com o controlo sobre certos recursos ou com o desejado

direito a arrematar contratos. Por exemplo, no final da década de sessenta, depois de se

ter verificado que os contratos das passagens de Curítiba e Viamão tinham sido

arrematados quer por São Paulo, quer pelo Rio de Janeiro, a capital fluminense foi

advertida para não se intrometer naqueles negócios24. Ordem que foi reforçada pelo

próprio conde de Oeiras, quando referiu explicitamente «que por essa Junta da Fazenda

se não torne a rematar daqui em diante os contratos dos governos do Brasil relativos aos

distritos das outras capitanias gerais e os das capitanias mores a eles subordinados, mas

sim e tão-somente fará rematar os que se compreenderem no território dessa

capitania»25.

Da mesma forma, foi também o Erário Régio que, perante as queixas do governo

paulista (incapaz de suportar os custos das suas tropas no Rio Grande sem o apoio

fluminense), censurou as opções da Junta da Fazenda do Rio de Janeiro. Ordenou então

que gastos excessivos nas obras públicas se deveriam evitar «para se fazerem as

assistências à dita capitania de São Paulo [entre outras coisas]»26.

As próprias Secretarias de Estado – instâncias muitíssimo dinamizadas durante o

consulado pombalino – não se deveriam substituir ao Erário Régio quando a matéria em

causa era a administração da fazenda. Por exemplo, no início da década de 1770, o

marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, por via da Secretaria de Estado do Reino,

propôs a Pombal uma alteração que passava pela maior regularidade com se conferiam

as contas aos almoxarifes na Junta da Fazenda do Rio de Janeiro. Ainda que bem

recebida por Pombal, o vice-rei foi recordado do circuito por onde deveria transitar

aquela proposta. Carvalho e Melo referiu então que «É muito próprio o projecto de

estabelecer um método perpétuo e inalterável para se governarem as Provedorias

sujeitas a essa Capitania, o qual deve V. Ex.ª remeter ao Erário Régio, para que Sua

                                                            23 Representação dos oficiais da Câmara do Sabará. De 4 de Agosto de 1777. AHU, CU, Brasil/Minas, Cx. 111, doc. 47 (8842) 24 Provisão de 13 de Julho de 1769. Tribunal de Contas (doravante TC), Erário Régio (doravante ER), nº 4055, fl. 108. 25 Carta do conde de Oeiras de 29 de Agosto de 1769. TC, ER, nº 4055, fls. 115-116. 26 Provisão 13 de Outubro de 1773, TC, ER, nº 4055, fls. 217-219.

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majestade à vista dele, o aprove no que lhe parecer justo,»27. Dois anos depois, por

provisão dirigida à Junta da Fazenda fluminense (via Erário Régio), a proposta de

Lavradio acabou por ser mesmo aprovada28.

Importa, contudo, notar que ao contrário do que aconteceu a outras repartições

do Estado, as Secretarias mantiveram uma coexistência maioritariamente equilibrada

com o Erário Régio, constituindo ambos dispositivos essenciais da governação Josefina

e Mariana. O poder encontrar-se-ia partilhado por esferas distintas, cabendo às

Secretarias de Estado a gestão das matérias iminentemente políticas do reino e das

conquistas e recaindo no Erário a direcção financeira da monarquia. Naturalmente, esta

direcção acabava por ter também um cariz político, porque mexia com o poder das

instituições, retirando-lhes ou concedendo-lhes mais margem de manobra. Por esse

motivo, tal arranjo não deixou de produzir pontos de fractura, sobretudo depois da

queda de Pombal – simultaneamente secretário de Estado do reino e inspector-geral. A

este respeito a defesa do Brasil (ou de qualquer outro território), porque tinha uma

componente político-militar e uma componente financeira, era matéria particularmente

propensa a causar desentendimentos, que de facto aconteceram. Por exemplo, por

ocasião da chegada ao Rio de Janeiro da frota do ano de 1791, a Junta da Fazenda

participou ao Erário que já não tinha condições para continuar a custear sozinha os

gastos provocados pelos navios de guerra do comboio. Pediu então para se libertar

daquele encargo, levantando a possibilidade de aqueles navios fazerem os seus

reabastecimentos em outros portos da costa brasileira. Porque se tratava de uma matéria

que exorbitava o seu quadro de funções, o Erário preferiu encaminhar a participação

para o secretário da Marinha Martinho de Melo e Castro, não deixando contudo de

vincar bem a sua posição junto de D. Maria I: «Como as despesas com as ditas embarcações declara a Junta se costumam fazer por

ordens expedidas nas respectivas conjunturas, as quais considero serem emanadas da Secretaria

de Estado dos Negócios da Marinha e dos Domínios Ultramarinos, sendo certo, que por decreto

de 12 de Junho de 1779 [a que já se aludiu] ficou privativo ao Tribunal deste Real Erário da

expedição das Ordens para qualquer pagamento da Real Fazenda, ainda relativo àqueles

Domínios; para se obviar inconciliável contradição às mesmas ordens, na que se deve expedir em

consequência desta Conta; parece, que só Sua Majestade pode determinar ao que for mais

conforme ao seu Real Agrado.»29

                                                            27 Carta de Pombal para Lavradio, 20/2/1770, Mendonça, 1989, pp.513-514. 28 Provisão de 18 de Setembro de 1772. TC, ER, nº 4055, fls. 164-165. 29 Exposição do contador geral, de 19 de Novembro de 1791 (à margem: representação enviada a Martinho de Melo e Castro). TC, ER, nº 4044, fls. 110-112.

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As observações feitas por D. Fernando José de Portugal (penúltimo vice-rei do

Brasil) ao capítulo 32 do regimento de Roque da Costa Barreto confirmam a

persistência das dificuldades associadas a convivência institucional das Secretarias de

Estado com o Erário Régio. O futuro marquês de Aguiar referiu que no Rio de Janeiro,

no início de Oitocentos, ainda se recebiam ordens que acabavam por originar algum tipo

de dispêndio da fazenda real, e que eram passadas por via da Secretaria de Estado da

Marinha e Domínios Ultramarinos. Ao contrário do que estava prescrito na lei de 22 de

Dezembro de 1761, muitas dessas ordens não eram assinadas pela «Real Mão».

Todavia, apontou que fazia «constar» todo esse tipo de ordens na Junta da Fazenda

fluminense, por onde se informava o presidente do Erário30.

PARTE II 

3. Dinâmicas de centralização no império português: administração e guerra entre

o Erário Régio e a Junta da Fazenda do Rio de Janeiro

No império, o Erário Régio actuava sobretudo por meio do sistema de Juntas da

Fazenda, gradualmente instituídas na América portuguesa da década de sessenta de

Setecentos em diante (até 1820). Em princípio, tratava-se de uma relação hierarquizada

feita num quadro de evidente subordinação formal. Nas páginas seguintes procurar-se-á

avaliar os limites dessa subordinação, ou seja, procurar-se-á compreender o alcance da

frequentemente aludida mas menos vezes demonstrada centralização política levada a

cabo no império na segunda metade setecentos.

3.1 Dependências orgânicas e estruturais

Cada Junta da Fazenda integrava-se na estrutura maior do Erário Régio por via

de uma contadoria geral –, que filtrava e enformava boa parte da comunicação dirigida

ao monarca ou ao inspector-geral/presidente do Erário. A comunicação podia ser feita

pelo corpo da Junta, mas também a título individual por cada um dos seus membros.

Parece, contudo, que somente os seus presidentes, ou seja, vice-reis e governadores,

teriam acesso directo ao inspector-geral e ao rei. Os restantes membros da Junta

escreviam necessariamente para o contador geral, em Lisboa. Tal privilégio não

isentava a correspondência dos presidentes das Juntas da Fazenda do escrutínio (muitas

                                                            30 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ), 09, 02, 026, fls. 45v-48v.

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vezes crítico) do contador geral, mesmo quando a comunicação chegava via Secretaria

de Estado.

As restrições administrativas das Juntas não se ficavam na censura de que a sua

actividade era alvo na mesa do contador geral, muito embora tal constituísse uma óbvia

limitação da sua influência simbólica enquanto instituição. Mais relevantes eram os

limites das suas competências judiciais, sobretudo se se tomar em consideração que

constituíam tribunais. Na verdade, enquanto tribunais, as Juntas da Fazenda nunca

conseguiram uma autonomia privativa, sendo a generalidade das querelas relacionadas

com a fazenda real despachadas para a metrópole.

O esforço empreendido para reverter ou minorar os seus limites jurisdicionais

sobre esta matéria não foi contudo bem sucedido. Ainda que a Junta do Rio de Janeiro

tivesse requerido a D. José o uso da jurisdição contenciosa nas matérias relacionados

com a fazenda real31, referindo até que só assim seria viável cumprir a lei de 22 de

Dezembro de 1761, este não desanexou tal competência do Conselho da Fazenda/Erário

Régio. As partes, insatisfeitas com decisões tomadas localmente, deveriam fazer chegar

os seus papéis a Lisboa, onde seriam posteriormente sentenciados. Assim aconteceu,

por exemplo, a Marcelino Quaresma, patrão-mor do porto do Rio de Janeiro. Nomeado

no posto por Bobadela em 1755, Marcelino Quaresma entrou em conflito com vários

artífices dos armazéns da cidade, que o terão acusado de praticar roubos e extorsões32.

Investigado por ordem do Erário Régio foi entretanto destituído do cargo. Mais tarde, e

tendo provado junto da rainha – via Erário Régio – quão «insubsistentes e cavilosas»

eram as queixas que lhe moveram, foi reempossado com todos os privilégios do cargo,

mediante ordem enviada ao vice-rei33.

                                                            31 Cartas do vice-rei, conde da Cunha, provedor da fazenda, procurador da coroa e fazenda e chanceler da Relação (1766). AHU_ACL_CU_Cx. 78, doc. 7080. 32 Exposição de de 14 de Outubro de 1774. TC, ER, nº 4047, fls. 38-39. 33 Provisão de 30 de Janeiro de 1779. TC, ER, nº 4055, fls. 461.

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Igualmente importantes parecem ter sido as alterações na composição do corpo

da Junta fluminense, promovidas pelo inspector-geral do Erário Régio, que sugerem o

reforço da intenção metropolitana em controlar a actividade daquela Junta. A

remodelação passou então pela nomeação do escrivão João Correia Lemos, homem que

em resultado dos seus conhecimentos na escrituração contábil ganhou a confiança de

Carvalho e Melo. O poder de que fora investido pelo inspector-geral depressa se fez

notar, quando depois de se antagonizar com o procurador da coroa e da fazenda (tipo de

ministro com assento em quase todas as Juntas da Fazenda), Alexandre Nunes34,

conseguiu obter a sua prisão e deportação para Lisboa.

Não muito tempo depois foi concedido ao novo escrivão (e ao tesoureiro geral

da Junta, entretanto nomeado) um lugar no mesmo órgão em condições de paridade

absoluta com os demais membros: «terão na mesma Junta o assento espaldar do mesmo

modo em que o têm os Ministros pelas respectivas antiguidades reguladas pelas posses

que cada um tomar». Explicitava-se que o seu voto (do escrivão e do tesoureiro geral)

seria indispensável nas «matérias próprias da dita Junta que nela se tratarem, como

pessoas versadas na formalidade e método das contas na Administração das rendas, e

                                                            34 «Conta que se faz menção à carta acima dada pelo escrivão da Fazenda Real da Capitania do Rio de Janeiro João Carlos Correia Lemos», de 12 de Agosto de 1767. TC, ER, nº 4055, fls. 55-60.

Erário Régio: Contador Geral dos governos do Rio de Janei-ro, África Oriental e Ásia

Junta da administração da Fazenda (do Rio de Janeiro)

Figura A - Base do circuito de comunicação Erário Régio - Junta da Fazenda do Rio de Janeiro

Inspector Geral / Presidente do Erário

Partes

Vice-rei - presidente da Junta

Chanceler da Relação

Provedor da fazenda

Procura-dor da coroa e fazenda

Escrivão da Junta

Tesourei-ro da Junta

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arrecadação delas»35. Procurar-se-ia diluir (pela força do número de votos) poderes

naturalmente mais ascendentes, presentes há mais tempo no território, e logo mais

difíceis de controlar à distância, como eram os provedores da fazenda e os procuradores

da coroa e fazenda? A este respeito importa recordar que o mesmo documento (da

concessão da paridade ao escrivão), exigia que os despachos relativos às despesas

fossem sempre assinados por todos os membros. Referia então que «todos os papéis que

hão-de servir de título para despacho do referido tesoureiro geral serão autorizados com

as rubricas de todo o corpo da Junta».

Os próprios governadores/vice-reis poderão não ter ficado fora de tal objectivo.

Pelo menos em tese, as Juntas da Fazenda, em virtude da colegialidade imposta no seu

processo decisório, constituiriam elas próprias mecanismos de condicionamento de

poder, e em certos casos do poder mais individualizado do vice-rei/governador. A

incorporação formal do governador ou do vice-rei naquele tribunal, e a sua sujeição à

burocracia do mesmo, pode e provavelmente deve ser lida como uma restrição ao seu

poder efectivo. Neste sentido e pelo menos para as matérias da real fazenda, as Juntas

da Fazenda não faziam apenas parte de um sistema integrado e completamente

dependente de Lisboa. Elas, por via do seu funcionamento, constituíam agentes activos

no aprofundamento da centralização lisboeta, limitando de certa forma a jurisdição dos

governadores quando exercida de forma desenquadrada da Junta.Um caso verificado

durante o governo de António Carlos Furtado de Mendonça em Minas Gerais (1773-

1775) mostra como o modus operandi das Juntas da Fazenda se reflectiu na diminuição

da jurisdição dos governadores.

Informado pelo tesoureiro geral da Junta da Fazenda de Minas Gerais acerca do

comportamento de Furtado de Mendonça, que suspendera o novo método de

escrituração e determinara que a «despesa daquela repartição fosse feita somente por

despachos do governador […] dirigidos ao provedor da Fazenda», o contador geral

participou severamente o sucedido ao conde Oeiras. Referindo então que tinha sido a

«má forma e irregularidade com que a Fazenda Real era administrada na América

deram o motivo do estabelecimento das Juntas da Fazenda às quais foi Sua Majestade

servido encarregar toda a administração da Sua Fazenda sem excepção de ramo algum».

Todavia, e ainda segundo o contador geral, alguns governadores ficaram muito

insatisfeitos com «o tirar-se lhes a mesma administração das suas disposições», e

                                                            35 Carta do conde de Oeiras para o conde de Azambuja, de 6 de Abril de 1769. TC, ER, nº 4103, fls. 261-263.

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procuravam manter a sua anterior jurisdição. Tal era inaceitável e segundo a exposição

de Luís José de Brito, «muito contrária às ordens de Sua Majestade», por isso o próprio

contador geral tomou a iniciativa de elaborar a provisão, que submeteu à ratificação de

Oeiras, e que deveria ser enviada para Minas com o objectivo de corrigir aquele

procedimento introduzido pelo governador36. No mesmo dia a provisão foi assinada e

despachada, referindo-se explicitamente que jamais deveria «o tesoureiro geral

respectivo fazer despesa alguma pertencente àquela repartição que não seja por

despacho da mesma Junta»37.

É também dentro desta lógica de condicionamento implícito da autonomia dos

governadores que se encontra a supressão do dentro desta lógica, de condicionamento

implícito da autonomia dos governadores, esteve a supressão do direito que por tradição

lhes assistia de proverem privativamente as serventias dos ofícios da fazenda e da

justiça. Por via da carta régia de 24 Outubro de 1761, o poder de decisão sobre esta

importante matéria foi canalizado para a Junta da Fazenda do Rio de Janeiro38, onde se

passaram a arrendar todos os ofícios da capitania, com excepção das propriedades e das

serventias vitalícias (reservadas ao arbítrio do monarca)39.

A resistência que a espaços os governadores terão montado esta determinação

real, em especial no que tocava ao provimento dos postos da fazenda, foi

definitivamente debelada quando em Agosto de 1799, por provisão do Erário Régio, se

confirmou a prerrogativa da Junta fluminense. Foi com evidente desagrado que o já

referido D. Fernando José de Portugal (ao comentar o capítulo 7 do regimento de Roque

da Costa Barreto) escreveu que a Junta da Fazenda do Rio de Janeiro provia a serventia

de todos os ofícios da capitania, quer fossem de fazenda, quer fossem de justiça. Ao

vice-rei passara somente a caber o provimento das serventias dos ofícios da Relação do

Rio de Janeiro40, «quando pelo seu regimento e pelos das Relações da Baía e do Rio de

Janeiro podia prover uns e outros»41, ou seja, todos (os de fazenda e de justiça).

                                                            36 Exposição de Luís José de Brito, de 13 de Março de 1776. TC, ER, nº 4048, fls. 52-52v. 37 Provisão de 13 de Março de 1776. TC, ER, nº 4073, fls. 322-323. 38 Carta Régia de 24 de Outubro de 1761. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), lata 220, doc. 1. 39 BNRJ, 09, 02, 026, fls. 7-12v. 40 Segundo Arno Wehling e Maria José Wehling, a generalidade dos lugares para funcionários daquele Tribunal (onde não se incluem naturalmente os magistrados) era preenchida em propriedade, vitalícia ou temporária. O assalariamento ou contratação eram menos frequentes. Wehling e Wehling, 2004, pp. 157-158. 41 BNRJ, 09, 02, 026, fls. 7-12v.

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3.2 Autonomias concedidas: alguns aspectos da racionalização administrativa

pombalina

O quadro acima abordado evidencia o carácter essencialmente centralizador da

política colonial pombalina. Existem, porém, indícios que aparentam ir em sentido

contrário e que interessa detalhar. O já chamado reforço da administração colegiada nos

governos ultramarinos42, de que as Juntas da Fazenda foram provavelmente o melhor

exemplo, foi acompanhado pelo concomitante reforço das competências desses mesmos

governos. Às Juntas da Fazenda foi portanto delegado um poder formal que em certos

aspectos ultrapassou bastante o quadro de funções anteriormente concedido à

administração periférica da coroa na América portuguesa.

A prestação de contas de todos os oficiais que recebiam ou despendiam rendas

reais passou a ser grandemente assegurada nos territórios que se encontravam debaixo

da influência da respectiva Junta. De 1760 em diante (ano em que a Junta do Rio de

Janeiro se reuniu pela primeira vez), os tesoureiros, almoxarifes e recebedores da

fazenda real deixaram de ser obrigados a prestar contas em Lisboa precisamente aos

Contos do Reino e Casa. A explicação para está súbita mudança encontra-se na carta

régia de 18 de Agosto de 1760. Aí referia-se que os homens mais abonados (das

conquistas) rejeitavam servir os ofícios da fazenda por causa das muitas «dilações» a

que «comummente» estavam sujeitos nos Contos43.

O acerto passou a ser feito na contadoria anexa à Junta, onde se extraiam as

cartas de quitação interinas, posteriormente expedidas para ratificação final em Lisboa

(naquele ano de 1760 a conferência seria feita no Conselho Ultramarino e na Secretaria

de Estado, mas de 1761 em diante caberia ao Erário Régio aprovar tais ajustes). Importa

notar que a conferência de contas não se fazia apenas aos ofícios de menor

consideração, que naturalmente administravam pequenas somas. O próprio tesoureiro

geral das tropas, Manuel Joaquim de Azevedo, que durante os anos críticos de 1774-

1777 efectuou pagamentos a um exército que só no Rio Grande do Sul contava com

mais 6.300 homens44, acertou as suas contas na Junta da Fazenda do Rio de Janeiro, e só

depois pôde regressar ao reino45.

                                                            42 Kantor, 2003, p. 119. 43 Carta Régia de 18 de Agosto de 1760, inclusa no processo AHU-Rio de Janeiro, Cx. 86, doc. 16 / AHU_ACL_CU_Cx. 78, doc. 7080 44 Peregalli, 1986, p. 99. 45 Provisão de 19 de Agosto de 1779, em que Manuel Joaquim de Azevedo recebeu a quitação geral da rainha, depois te terem sido vistas as 3 cartas de quitação passadas pela Junta da Fazenda do rio de Janeiro. TC, ER, nº 4055, fl. 493.

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A já mencionada questão dos provimentos de ofícios, em especial a nomeação

das serventias de ofícios da fazenda e justiça, fornece outro bom exemplo do reforço do

poder político das Juntas da Fazenda, em particular da Junta fluminense. Os deputados

desta Junta puderam naturalmente nomear os escriturários necessários ao seu

funcionamento e ao funcionamento da contadoria anexa. De resto, importa referir que

em muitos casos se tratou de criação de empregos46 – prerrogativa raramente atribuída e

que estava proibida desde 1602.

A mesma Junta obteve de Lisboa o direito a intrometer-se explicitamente nos

recursos humanos da Alfândega da cidade, passando por exemplo a nomear «os oficiais

que lhe parecerem mais idóneos para bem exercerem os ofícios da Alfândega». Podia

mesmo arbitrar-lhes os ordenados, sobrepondo-se em tudo ao provedor e ao

administrador da Alfândega, que deveriam ser mantidos sob vigilância apertada47. Mas,

como se referiu, as prerrogativas da Junta iam muito mais longe. Relembre-se que

em1761 lhe fora concedido o direito de arrendar todos os ofícios da capitania.

Por último, importa destacar que a Junta da Fazenda do Rio de Janeiro passou a

absorver e administrar, quase exclusivamente, a generalidade dos rendimentos gerados

na capitania (excepto as receitas da Mesa da Inspecção). Mesmo o rendimento da Casa

da moeda do Rio de Janeiro, para insatisfação do seu provedor, passou a ser entregue na

tesouraria geral da Junta, de onde era despachado para Lisboa48.

Em uma escala diferente, as Juntas da Fazenda terão beneficiado da tendência, já

verificada na metrópole: fazer convergir as receitas e as despesas da fazenda real numa

única instituição. Tratar-se-ia de um refinamento institucional que a jusante, e por via da

delegação de certas funções, produziu uma certa forma de descentralização controlada.

Ou seja, as Juntas, ao concentrarem poderes e competências na sua área de jurisdição,

estariam a cumprir os objectivos da racionalização de procedimentos imposta por

Pombal. Não se tratava (provavelmente nunca se tratou) de fazer convergir para Lisboa

todas as decisões sobre a administração ultramarina. Pelo menos no que tocava ao

funcionamento do novo aparelho fazendário – instituído em 1761 e fundado na relação

de subordinação explícita das Juntas da Fazenda americanas ao Erário Régio –, o afã

reformador de Carvalho e Melo deve ser visto à luz dessa ideia de delegação formal e

racionalizada de poderes.                                                             46 Carta do conde de Oeiras a Lavradio, de 30 de Agosto de 1769. TC, ER, nº 4055, fls. 116-117. 47 Provisão de 26 de Agosto de 1769. TC, ER, nº 4055, fls. 114-115. 48 Carta do conde Oeiras para o provedor da Cada da Moeda, de 13 de Agosto de 1767. TC, ER, nº 4103, fls. 143-144.

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O relevo adquirido pelas Juntas no espectro institucional da governação da

América portuguesa pode ser confirmado na reacção do príncipe regente e de D.

Rodrigo de Sousa Coutinho a uma representação do senado da câmara do Rio de

Janeiro, expedida em 1798, no sentido de fazer regressar à jurisdição das câmaras

algumas das competências que entretanto lhes tinham sido retiradas (inclusive a

administração da fazenda real). O Conselho Ultramarino foi então avisado para dar o

seu parecer acerca da longa petição daquele município, «com a excepção de tudo o que

pode dizer respeito a tirar a administração das Rendas das Juntas da Fazenda». O

aparelho fazendário da monarquia deveria ser preservado. Para o futuro presidente do

Erário Régio, reentregar a administração da fazenda real às câmaras era «contrário aos

mais fundados princípios de toda a Pública e Económica Administração»49.

3.3 Insubmissões imprevistas

A sujeição estrutural das Juntas ao inspector-geral e presidentes do Erário Régio,

inequívoca ao nível do enquadramento legal, foi de certa forma compensada pela

concessão de uma margem de manobra assinalável, mesmo em matérias a que Lisboa

sempre fora muito sensível (como nomeações e acertos de contas). É, todavia, legítimo

referir que estas manifestações de autonomia foram em todos os casos previamente

consentidas e até programadas, e que o seu único propósito correspondeu a algumas

cedências de ordem prática por parte de um aparelho tão centralizado e hierarquizado

quanto possível. Tal argumento é sólido mas, de modo algum, equivale a dizer que no

território brasileiro a administração periférica da coroa incorporou obedientemente

todas as prescrições provenientes do Erário (do qual formalmente dependia). Como

abaixo se procurará demonstrar, o caminho da centralização esteve longe de ser pacífico

e, independentemente do motivo, o Erário Régio nem sempre conseguiu impor os seus

desejos sobre um território distante e sujeito a circunstâncias que Lisboa não podia

controlar.

De seguida, abordar-se-á dois problemas determinantes na relação mantida entre

o Erário Régio e a Junta da Fazenda do Rio de Janeiro, que se consideram ilustrativos

do percurso particularmente acidentado da centralização (enquanto processo de decisão

                                                            49 Aviso de D. Rodrigo de Sousa Coutinho ao Conselho Ultramarino, de 20 de Agosto de 1799. AHU-Rio de Janeiro, Cx. 180, doc. 36; Cx. 175, doc. 86; Cx. 176, doc. 45 / AHU_ACL_CU_017_Cx. 168, doc. 12536.

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política, económica e militar) levada a cabo no império nas últimas décadas de

Setecentos.

3.3.1 As arrematações e a sua localização

O primeiro problema remete para uma espécie de combate institucional que

envolveu a Junta fluminense e o Erário pelo direito à arrematação dos contratos da

América portuguesa. A escolha não é obviamente inocente, já que a arrematação de

contratos tanto mexia com a vontade fiscalista do Estado como mexia com a influência

de redes mais ou menos subterrâneas, que estariam pouco dispostas a ver despromovido

um espaço de arrematação que controlavam.

Ainda que encerre várias lacunas (relacionadas com carência de dados para

alguns intervalos cronológicos), o gráfico A permite perceber sem dificuldades as linhas

de força da questão da localização dos espaços de arrematação dos contratos no Brasil

meridional nos segundos 50 anos de Setecentos. Nele é possível confirmar uma ideia

muito divulgada pela historiografia brasileira, que aponta os anos 60 do século XVIII

como momento de reorientação geográfica para a dita escolha. De facto, a generalidade

dos contratos passaram a ser arrematados nas conquistas. Todavia, pode-se também

verificar que a ultrapassagem do Conselho Ultramarino nunca foi completa, já que este

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

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1751‐1760 1761‐1770 1771‐1780 1781‐1790 1791‐1807

C. Ultramarino

Erário Régio

Secretarias de Estado

Desconhecido

J. Fazenda/Provedorias 

GRÁFICO AESPAÇO DE ARREMATAÇÃO  DOS CONTRATOS DA AMÉRICA MERIDIONAL PORTUGUESA  (POR ANO DE ARREMATAÇÃO)

Fonte: TC, ER, nº 4104 e 4106

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manteve alguma participação nas arrematações (claro, em nada semelhante à

exclusividade que D. João V lhe tinha concedido em 173650).

A transferência da decisão sobre uma matéria tão delicada constitui uma

relocalização de poder, operada em prejuízo de uma instituição do centro da monarquia

(o Conselho Ultramarino) e para benefício de uma instância da administração periférica

da coroa (as Juntas da Fazenda). Ainda que pareça estranho o sentido dessa mudança,

ela encontra-se desajustada do carácter mais geral da postura pombalina relativamente

ao Conselho Ultramarino, marcada por uma certa hostilidade51. Para Carvalho e Melo,

ainda que se encontrassem muito distantes de Lisboa, as Juntas da Fazenda americanas,

por se encontrarem na dependência explícita de uma instituição que ele criara e dirigia,

ofereciam garantias de lealdade incomparáveis.

A justificação formal para a concessão daquele direito às Juntas da Fazenda

encontra-se em alguma documentação do arquivo do Tribunal de Contas.

Aparentemente, e segundo o próprio conde de Oeiras, em meados do século XVIII,

alguns contratos lançados no Conselho Ultramarino ficariam desertos, não aparecendo

interessados52. Uma exposição posterior da contadoria geral aponta as recorrentes

«desordens […] nas arrematações que se faziam pelo Conselho Ultramarino nos

contratos da América, sendo a maior parte delas feitas a homens a quem [se] chamavam

testas de ferro e que de ordinário eram desconhecidos e faltos de abonação»53. Estes

dois motivos teriam sido suficientes para se retirar ao Conselho Ultramarino o direito a

arrematar os contratos régios, tendo entretanto constituído mais uma demonstração do

processo de decadência do status institucional vivida pelo Conselho Ultramarino,

apenas surpreendente pela inércia com que os seus membros a experienciaram.

Pela mesma altura, e como também se pode constatar pelo gráfico A, as Juntas

da Fazenda passaram a beneficiar de um período de vitalidade administrativa,

                                                            50 É desconcertante seguir o sentido das disposições legais que durante a primeira metade do século XVIII se enviavam para o Brasil com o objectivo de ordenar a arrematação de contratos. A resolução régia de 10 de Maio de 1723 referiu explicitamente que «todos os contractos que são da minha Real Fazenda se arrematem nesta Corte por tempo de três anos ainda os que são anuais» (DHBNRJ, vol. 1, pp. 92-93). Em 26 de Março de 1733 a decisão sobre a arrematação dos contratos é de novo transferida para o Brasil (DHBNRJ, vol. 1, pp. 372-373). Em outra resolução, tomada em consulta do Conselho Ultramarino, com a data de 2 de Março de 1736, corrigia-se a mão, passando a ser de novo obrigatório arrematar os contratos no Conselho Ultramarino (DHBNRJ, vol. 1, pp. 291-292). 51 Provavelmente a maior demonstração dessa hostilidade terá acontecido em 22 de Novembro de 1765, quando vários governadores da América portuguesa receberam ordens para não enviarem cópias ao Conselho Ultramarino de qualquer comunicação mantida com as Secretárias de Estado. Alden, 1968, p. 10. 52 Provisão de 29 de Agosto de 1769. TC, ER, nº 4055, fls 115-116. 53 Exposição da contadoria geral, de 22 de Dezembro de 1794. TC, ER, nº 4044, fls. 142-157.

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arrematando contratos a seu talante. Naturalmente, qualquer alteração a este quadro,

mesmo que promovida pelo Erário, não seria bem recebida, e foi isso que aconteceu

quando no início da década de noventa o presidente do Erário Régio, o visconde de Vila

Nova da Cerveira, decidiu canalizar para Lisboa a decisão sobre aquela matéria. Por

provisão de 23 de Março de 1790, a Junta da Fazenda do Rio de Janeiro foi informada

de que a arrematação dos contratos da Aguardente do Reino e Ilhas, da Aguardente da

Terra, das Passagens do Rio Paraíba e Paraíbuna, dos Dízimos da Ilha de Santa

Catarina, dos escravos para as Minas e dos Quintos dos couros do Rio Grande de São

Pedro se passariam a fazer na corte (embora não entrasse em detalhes)54. Dois anos

depois, as prescrições centralizadoras foram um pouco mais longe, e a Junta do Rio de

Janeiro recebeu ordens para apenas arrematar contratos de valor inferir a 10.000.000

reis por triénio55.

Conscientes do que seria uma evidente restrição à sua autonomia e, mais

importante, à sua capacidade de gerir interesses locais, os membros da Junta do Rio de

Janeiro reagiram, levantando de imediato obstáculos às orientações recebidas de Lisboa.

Por um lado, adoptaram uma estratégia dilatória, protelando o envio dos traslados das

condições das arrematações anteriores que o Erário tinha entretanto requisitado. Na

prática, esta medida deixava o Erário Régio na ignorância, sem saber exactamente quais

eram os termos de negociação tradicionais, e logo mais propenso a subavaliar os

rendimentos em causa56. Por outro lado, e perante o escândalo quer do contador mor

Luís José de Brito, quer do presidente do Erário, o agora marquês de Ponte de Lima, a

Junta carioca optou por desobedecer abertamente, continuando a arrematar os contratos

que lhe haviam sido retirados (o de Escravos para Minas, o das passagens dos Rios

Paraíba e Paraíbuna e dos registos de Vimão e Santa Vitória57). Por último, a Junta

fluminense terá procurado influenciar o monarca, elencando uma lista de inconvenientes

que decorriam da nova localização atribuída às arrematações. Terão, em particular,

questionado os métodos de arrematação (por lanços particulares sem que os lançadores

se conhecessem), e mesmo os próprios resultados financeiros obtidos. A exposição

defensiva, em jeito de réplica, que se fez no Erário sobre as vantagens alcançadas com a

                                                            54 Provisão de 23 de Março de 1790. TC, ER, nº 4056, fl. 195. 55 Provisão de 10 de Março de 1792. TC, ER, nº 4056, fl. 257. 56 Provisão do visconde de Vila Nova da Cerveira, de 4 de Setembro de 1793. TC, ER, nº 4056, fl. 290. 57 Provisão para o corpo da Junta, de 1 de Março de 1794. TC, ER, nº 4056, fl. 299. Provisão para o escrivão da Junta, de 28 de Março de 1794. TC, ER, nº 4056, fl. 301.

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nova localização confirma a repercussão das queixas. Confirma também o alcance da

resistência montada pela administração periférica, ou seja, pelas Juntas.

Não deixa de ser muito interessante notar que na última década de Setecentos

emergisse uma batalha institucional entre um dos principais espaços de poder do reino e

um representante da administração periférica da coroa (que, além do mais lhe deveria

ser subordinado); e em que o primeiro se viu na necessidade de explicar as vantagens

das opções que tomava58.

3.3.2 Recursos financeiros para a guerra

Outra reacção explícita à diligente observância das ordens emanadas pelo Erário

encontra-se na delicada gestão dos recursos financeiros para a guerra. Assunto que

Lisboa tinha, por tradição, grandes dificuldades em controlar, sobretudo quando a

guerra se instalava ou ameaçava instalar-se na América portuguesa.

Com a intensificação do conflito com os espanhóis no Brasil meridional, entre os

anos de 1774 e 1777, o marquês de Pombal autorizou a Junta da Fazenda do Rio de

Janeiro a gastar «todo o dinheiro quanto preciso for», incluindo os rendimentos da

contribuição voluntário, do subsidio literário e ainda as remessas feitas pela Junta da

Fazenda de Angola (para o que a Mesa da Inspecção deveria concorrer). Contudo, as

mesmas instruções deixavam clara a proibição de recorrer aos rendimentos dos reais

Quintos, que deveriam continuar a ser remetidos ao reino59.

Perante a pressão colocada por Ceballos em Santa Catarina e no Rio Grande do

Sul, Lavradio acabou mesmo por socorrer-se dos Quintos. Ainda que perdoado,

Lavradio foi repreendido, via Erário Régio, e informado para não voltar a praticar

«semelhante extracção contra as positivas ordens que jamais permitiram que esta

consignação se distribuísse nessa capitania por qualquer urgente motivo que

ocorresse»60.

Aproximadamente vinte anos depois (1797-98), já em pleno período

napoleónico, o problema repetiu-se, agora com o conde de Resende. Na ocasião, a

mesma Junta, perante os gastos efectuados por uma frota de vários navios de guerra,

resolveu reter os Quintos. No Erário depressa se censurou aquela opção. Em uma longa

exposição do contador geral, refere-se que perante as verbas que na altura a Junta

                                                            58 Exposição da contadoria geral, de 22 de Dezembro de 1794. TC, ER, nº 4044, fls. 142-157. 59 Provisão do marquês de Pombal, de 30 de Junho de 1774. TC, ER, nº 4055, fl. 442. 60 Provisão do marquês de Angeja, de 24 de Setembro de 1778. TC, ER, nº 4055, fls. 410-413.

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administrava não havia razão para se ter retido os Quintos, sobretudo quando o reino se

via na iminência de uma invasão franco-espanhola. Acusando a Junta de falta de

cuidado na administração das «rendas reais» e de má «economia nas suas despesas», o

contador geral parecia recomendar a imposição de restrições à autonomia daquela

instância. Referiu então que as «deliberações da Junta combinadas com as circunstâncias do tempo em que elas se

tomaram dependem de uma grande providência, que a acautele para o futuro os inconvenientes

que podem resultar […] se continuarem as despesas que lhe encarregaram e que servem de

pretexto para absorver a Junta todos os cabedais que chegue a entrar nos cofres como a este Real

Erário pela falta das remessas que para ele se devem fazer»61.

A especificidade do incumprimento repetido, que deu o mote à exposição crítica

do contador geral, prende-se sobretudo com a dificuldade de compatibilizar a jurisdição

do vice-rei e capitão general do Estado com as prescrições do Erário em assuntos

político-militares. Porém, a mesma exposição exorbita aquela circunstância particular,

aconselhando uma «grande providência» no sentido de retirar às Juntas da Fazenda a

autonomia que elas tinham entretanto alcançado.

Importa notar que a resistência montada pela Junta da Fazenda carioca às

directrizes emanadas pelo Erário, ainda que remetesse para um quadro de autonomia

estrutural que alguns julgavam excessiva, nem sempre era resultado de um desrespeito

ostensivo (decorrendo da defesa da jurisdição que se julgava ameaçada). Por vezes, as

circunstâncias tornavam impossível a boa cooperação institucional. A esse respeito, a

pressão colocada pelos custos associados à protecção marítima do Brasil continuou a ser

particularmente fracturante da desejada solidariedade administrativa entre o centro e a

periferia. Custear o dispositivo naval que a Secretaria de Estado da Marinha e dos

Negócios Ultramarinos enviava para o Brasil (e que se tornou permanente em Maio

1797) deixava a Junta do Rio de Janeiro e o seu presidente (o vice-rei) com grandes

dificuldades de tesouraria, impondo o recurso a rendimentos oficialmente destinados ao

Erário.

Assim aconteceu em Setembro de 1801 quando o vice-rei, o conde de Resende,

perante as exigências financeiras do comandante da esquadra, Donald Campbell (40

contos de reis), se viu forçado a socorrer-se dos fundos que a Mesa da Inspecção da

cidade administrava autonomamente e que se deveriam expedir para Lisboa (tratava-se

                                                            61 Exposição do contador geral, de 6 de Maio de 1799. TC, ER, nº 4044, fl. 167.

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sobretudo do rendimento do Donativo). Justificou-se então com as ordens que o próprio

Donald Campbell tinha recebido do príncipe regente, por via da Secretaria de Estado.

Nada deveria faltar ao abastecimento dos navios de guerra que patrulhavam a costa

brasileira.

O vice-rei teve contudo grandes dificuldades para persuadir os deputados da

Mesa da Inspecção, certamente receosos da reacção do presidente do Erário Régio.

Aceitaram depositar o dinheiro pretendido no cofre da tesouraria da Junta unicamente

mediante a condição de o conde de Resende assumir a responsabilidade integral da

operação, o que este fez. Com a teatralidade coetânea muito vulgar referiu «que tudo o

que me pertence é de Sua Alteza Real e pelo seu serviço nunca tive nem terei a menor

hesitação em derramar o meu sangue até à última gota»62.

O cuidado colocado pelo vice-rei no ofício que escreveu a D. Rodrigo de Sousa

Coutinho revelou o desconforto inerente à sua posição. Enquanto vice-rei, o conde de

Resende era o principal responsável pela defesa do Brasil contra os ataques dos

corsários franceses e espanhóis. Contudo, ao dar cumprimento a tal função via-se

obrigado a desrespeitar muitas das ordens que lhe eram transmitidas pelo presidente do

Erário.

Em Lisboa e escrevendo também em Setembro de 1801, D. Rodrigo de Sousa

Coutinho veiculava parte das queixas que o contador geral apontara em 1799. No

mesmo documento63 em que salientou a importância «de se conservar no Brasil uma

grande esquadra que possa impedir qualquer golpe de mão de parte de um inimigo», o

presidente do Erário associou sintomaticamente a resolução do problema financeiro

colocado pela esquadra com o cumprimento das obrigações burocráticas da Junta da

Fazenda. Referiu então «que nestas circunstâncias S.A.R. não dá por ora maiores e mais

amplas providências porque também a Junta da Fazenda não tem mandado os Balanços

da receita e despesa da capitania». Simultaneamente, advertiu o conde de Resende no

sentido deste adoptar uma gestão mais criteriosa dos recursos da capitania, canalizando-

os maioritariamente para a defesa. O vice-rei deveria procurar «evitar toda a Despesa

inútil e fazer as competentes economias em tudo o que não for necessária para a

conservação do Exército e da Marinha que seguram a defesa da Capitania».

                                                            62 Ofício do vice-rei para D. Rodrigo de Sousa Coutinho, de 11 de Setembro de 1801. AHU-Rio de Janeiro, Cx. 194, doc. 22; Cx. 191, doc. 89; Cx. 185, doc.110 / AHU_ACL_CU_017_Cx. 195, doc. 13900 63 Ordem de D. Rodrigo de Sousa Coutinho para D. Fernando José de Portugal e Castro, de 9 de Setembro de 1801. AHU-Rio de Janeiro, Cx. 194, doc. 49 / AHU_ACL_CU_017_Cx. 195, doc. 13918.

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Nos primeiros anos do século XIX – 50 anos depois da entrada no governo de

Sebastião de Carvalho e Melo e 40 anos depois do estabelecimento do Erário Régio –

era este o quadro que, em grande medida, pautava as relações entre uma das principais

instâncias da administração central e um espaço que lhe estava formalmente submetido.

CONCLUSÃO

Pela relevância que deteve, justifica-se antes de mais deixar aqui bem vincado o

significado associado à constituição do Erário Régio para a generalidade do sistema

político português de Setecentos, quer ao nível da administração do reino, quer ao nível

da administração do império. A subordinação financeira (com consequências

administrativas e políticas) que se impôs à generalidade das repartições e tribunais pode

e provavelmente deve ser vista como um dos mais importantes pilares da governação

pombalina. Tratou-se de um claro sinal da natureza centralizadora da sua política. Como

forma de afirmação pessoal de Carvalho e Melo, o único paralelo será mesmo o

episódio dos Távoras. Como instrumento de centralização política à escala da

monarquia não há medida que se assemelhe, nem mesmo o controlo informal que

Carvalho e Melo exerceu sobre alguns postos do sistema poli-sinodal (alcançado através

da criteriosa colocação de homens da sua confiança). Repare-se que a Intendência-Geral

da Polícia – outra das principais criações do período Josefino – tinha a sua acção

limitada ao reino.

Ao retirar às demais repartições do Estado a administração das consignações

particulares – medida decorrente da criação de um cofre geral –, Pombal não só

restringiu autonomias e jurisdições, como fez canalizar para o Erário parte substancial

da decisão política sobre matérias antes dispersas e, até certo ponto, corporativamente

defendidas. Quase todas as actividades do Estado que envolvessem arrecadação de

receitas e pagamentos, incluindo as que se reportavam à defesa, dificilmente poderiam

fugir à avaliação ou à censura do Erário. Tratou-se, portanto, de fazer convergir –

centralizar – o que antes se encontrava disseminado pelo restante sistema político

metropolitano.

Esta mesma tendência centralizadora foi transposta para as conquistas, em

especial para o Brasil, tendo-se procurado impor um circuito integrado e estruturalmente

hierarquizado entre o Erário e as Juntas da Fazenda. A subordinação de partida era

indiscutível e terá sido reforçada por um conjunto de outras medidas de cariz menos

sistematizado, como foi o caso das alterações promovidas na composição tradicional das

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Juntas (incorporando elementos da absoluta confiança do ministro de D. José). Os sinais

de aparente sentido contrário, por seu turno, constituíram fenómenos circunscritos,

ilustrativos de um certo refinamento institucional ou racionalização administrativa que a

jusante implicavam a delegação de competências para o exercício de uma determinada

função, mas que não colocavam em causa a natureza centralizadora da política colonial

pombalina.

Isto não significa que o caminho da centralização tivesse sido ‘perfeito’. Pelo

contrário. Os problemas relacionados com as arrematações de contratos e com a gestão

de recursos para a guerra fizeram emergir uma dinâmica de oposição às ordens

emanadas pelo Erário Régio, tendo-o mesmo levado a assumir uma posição defensiva e

a justificar as opções que tomava. Na verdade, as dificuldades colocadas à

administração central no final do século XVIII, em especial a insubordinação

institucional que aqui se detectou, insinuam a persistência de um quadro de resistência

que não era propriamente novo. Por outro lado, o facto dessa resistência se encontrar

grandemente concentrada na última década de Setecentos torna muito tentador explicá-

la à luz do fim da maior rigidez do consulado pombalino. Isto não é dizer que a sua

reforma tenha sido colocada em causa. Os governos subsequentes conservaram os

fundamentos essenciais da administração de Carvalho e Melo, onde se incluiu

naturalmente a estrutura institucional encimada pelo Erário Régio. É, contudo, legítimo

associar a falta de eficácia registada quer com a eventual sedimentação do poder da

Junta do Rio de Janeiro, que com o passar do tempo conquista uma margem de manobra

significativa, quer com a fragilidade (e consequente incapacidade) do centro político nos

primeiros anos da regência de D. João VI (um período de discórdia e disputa política64).

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                                                            64 Alexandre, 1993, pp. 116-140; Pedreira e Costa, 2006, pp. 65-83 e 86-95; Amaral, 2010, pp. 7-29.

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