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Autor(a): Tatiane Rodrigues dos Santos Mestranda do PPGG/UFPB [email protected] ESTADO E MERCADO NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM CAMPINA GRANDE PB: As práticas do setor imobiliário e os espaços residenciais fechados. O modo de produção capitalista em sua constituição, caracteriza-se por buscar formas para que o espaço seja um instrumento de acumulo de capital, para tanto utilizam-se de estratégias de atuação de agentes sociais, no processo de produção espaço, ressaltando a mercantilização do solo urbano para fins de moradia. Com o crescimento e expansão das cidades no Brasil, observam-se a essas dinâmicas através da atuação, principalmente, de agentes públicos e dos agentes imobiliários na produção do espaço com propagação de vários produtos no ramo imobiliários em todo o país. Com destaque para a implantação e proliferação de espaços residenciais fechados voltados para uma classe de alto poder aquisitivo, a partir da década de 1970. Nesse mesmo período observa-se um crescimento das cidades médias 1 no país, que apresentam um importante papel regional pela influência e dinâmicas entre as cidades menores que se encontram em suas áreas adjacentes. E por essas peculiaridades e por reproduzem também algumas tendências presentes em grandes centros urbanos, tem sido objeto de diversos estudos das realidades urbanas no país. No Nordeste brasileiro verifica-se a presença de cidades médias com grande influência regional, das quais descaremos a cidade de Campina Grande na Paraíba. Trata-se de uma cidade média de importante papel regional 2 , a qual tem sua formação atrelada a sua situação geográfica, localizada em um entroncamento de BRs (104 e 230), além das rodovias estaduais, que estabelecem ligações entre o sertão e capital do capital do estado, bem como, de cidades importantes do Rio Grande do Norte e 1 Estudos feitos pela Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (RECIME). 2 Considerada Capital Regional B de acordo com o estudo feito pelo IBGE em 2007, Região de Influência das cidades (REGIC).

ESTADO E MERCADO NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM CAMPINA GRANDE PB: As práticas … · 2016-11-03 · O modo de produção capitalista em sua constituição, caracteriza-se por

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Autor(a): Tatiane Rodrigues dos Santos

Mestranda do PPGG/UFPB

[email protected]

ESTADO E MERCADO NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM

CAMPINA GRANDE – PB: As práticas do setor imobiliário e os espaços

residenciais fechados.

O modo de produção capitalista em sua constituição, caracteriza-se por buscar

formas para que o espaço seja um instrumento de acumulo de capital, para tanto

utilizam-se de estratégias de atuação de agentes sociais, no processo de produção

espaço, ressaltando a mercantilização do solo urbano para fins de moradia.

Com o crescimento e expansão das cidades no Brasil, observam-se a essas

dinâmicas através da atuação, principalmente, de agentes públicos e dos agentes

imobiliários na produção do espaço com propagação de vários produtos no ramo

imobiliários em todo o país. Com destaque para a implantação e proliferação de espaços

residenciais fechados voltados para uma classe de alto poder aquisitivo, a partir da

década de 1970. Nesse mesmo período observa-se um crescimento das cidades médias1

no país, que apresentam um importante papel regional pela influência e dinâmicas entre

as cidades menores que se encontram em suas áreas adjacentes. E por essas

peculiaridades e por reproduzem também algumas tendências presentes em grandes

centros urbanos, tem sido objeto de diversos estudos das realidades urbanas no país.

No Nordeste brasileiro verifica-se a presença de cidades médias com grande

influência regional, das quais descaremos a cidade de Campina Grande na Paraíba.

Trata-se de uma cidade média de importante papel regional2, a qual tem sua formação

atrelada a sua situação geográfica, localizada em um entroncamento de BRs (104 e

230), além das rodovias estaduais, que estabelecem ligações entre o sertão e capital do

capital do estado, bem como, de cidades importantes do Rio Grande do Norte e

1 Estudos feitos pela Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (RECIME).

2 Considerada Capital Regional B de acordo com o estudo feito pelo IBGE em 2007, Região de Influência

das cidades (REGIC).

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Pernambuco. Se caracteriza como cidade regional a partir do seu processo de

industrialização e mais tarde pela concentração e de serviços oferecidos para a

população de cidades que estão em seu raio de influência, dos quais destacam-se o setor

comercial e de serviços de saúde, educação, bancários. Dentre outras transformações,

passa por uma nova dinâmica imobiliária, destacando-se os novos padrões de consumo

imobiliário, neste estudo os com a finalidade de moradia, a partir de fins da década de

1990. Inicialmente através de condomínios verticais, localizados nas áreas centrais e

bairros próximos ao centro e mais atualmente na implantação de espaços residenciais

fechados em áreas periféricas das cidade. No entanto, com as escolhas locacionais

pensadas para terem facilidade de acesso a áreas que concentram os serviços que

interessam a classe social a quais esses empreendimentos se voltam.

Nesse contexto serão ressaltados nesse estudo os espaços residenciais fechados

voltados para uma classe média alta e alta, localizados entre as áreas Norte e Leste e

sudeste de Campina Grande, nas proximidades da BR 104 (saída de Campina Grande

para o brejo paraibano) e BR 230 (ligação de Campina Grande a Capital), são eles :

Reino Verde Residence, Campos do Conde Residence, Sierra Home Resort; Alphaville

Campina Grande, Terras Alphaville (ainda em processo de execução); Nações

Residence Privê e Atmosphera Eco Residence e Atmosphera Green Residence. Ressalta-

se que os dois últimos condomínios citados pertencem ao município de Lagoa Seca-PB,

no entanto, pela suas características e dinâmicas da população residente são

notavelmente influenciados pelo crescimento urbano de Campina Grande. Todos os

empreendimentos apesar de estarem localizados em áreas que já apresentavam uma

valorização imobiliária devido aos equipamentos anteriores implantados em suas

proximidades a exemplo de restaurantes especializados, redes atacadistas (Atacadão,

Mackro), Hipermercados e Shopping Centers, Hotéis, apresentam um notável e

acentuado processo de valorização não somente nesses espaços mais em todo o seu

entorno.

Dentre as várias vias possíveis de analise que foram observados nesse estudado

elencaremos: Os padrões locacionais na escolha das áreas de implantação desses

equipamentos dos quais destaca-se, proximidade como as BRs, a viabilidade de acesso

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as áreas centrais da cidade, proximidade de equipamentos voltados para uma classe

média e média alta(aos shoppings center, concessionárias de automóveis, mercados,

hotéis, universidades particulares, dentre outros) ; A valorização das áreas nas quais se

localizam-se esses empreendimentos, verificados pelo valor do m² dos terrenos

localizados nessas áreas, além dos processos de segmentação e segregação socioespacial

percebido pelas práticas espaciais observadas e pala analise da paisagem.

OBJETIVOS

O presente trabalho terá por objetivo de trazer uma reflexão sobre atuação dos

agentes de produção do espaço na estruturação da cidade pelas práticas do setor

imobiliário em Campina Grande/PB. Destacando-se os novos padrões de consumo

imobiliário, com a finalidade de moradia, sobretudo, em fins da década de 1990, a partir

na implantação de espaços residenciais fechados, voltados para uma classe média alta e

alta. Discutir as implicações desse processo na expansão territorial urbana da cidade,

especificamente, entre sentidos Norte, leste e sudeste, onde se instalam os condomínios

residenciais fechados estudados, e suas correlações com as estratégias do capital

imobiliário, também são objetivos dessa pesquisa. Assim como, analisar o processo de

valorização imobiliária, bem como, verificar os processos de segmentação e segregação

socioespacial em determinadas áreas da cidade resultantes da instalação desses

empreendimentos compreendem os objetivos desta pesquisa.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os dados apresentados neste trabalho partem de dados preliminares obtidos

através do desenvolvimento de uma pesquisa maior e para que fossem obtidos foram

utilizados os procedimentos metodológicos que consistem em um levantamento

bibliográfico acerca da temática e das categorias pertinentes ao estudo, bem como, de

informações sobre a situação geográfica, dentre outros fatores que contribuíram

historicamente para a sua consolidação enquanto Centro Regional B (REGIC,2007)

através de dissertações, teses e outros trabalhos desenvolvidos a cerca desse assunto.

Nos quais poderam ser feitas as análises de mapas e gráficos de estudos recentes que já

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apontam uma valorização em bairros próximos, onde se localizam e são instalados os

empreendimentos estudados para posterior comparação com os dados obtidos

recentemente com os trabalhos de campo.

Os Trabalhos de Campo compôs uma etapa importante pois possibilitou que

fossem feitas observações in loco em todos desses empreendimentos, assim como, a

coleta de informações com agentes bem informados acerca de regulamentações, dados

dos empreendimentos, caracterização, implantação dentre outros fatores pertinentes ao

estudo. Também foram feitas visitas ao cartórios de registro de imóveis (em execução

essa parte do campo); em órgão pertencentes aos poderes públicos municipais das

cidades de Campina Grande e Lagoa Seca e na câmara municipal, com a finalidade de

levantar dados do cadastro imobiliário, verificar legislações municipais que alteram o

perímetro urbano de Campina Grande, as legislações de aprovação do loteamentos

dentre outras informações importantes para a pesquisa.

RESUTADOS PREELIMINARES

A produção do espaço urbano pelo capital imobiliário

O espaço, durante toda a constituição do modo de produção capitalista, foi tido

como um elemento de troca e comércio, principalmente no que se trata do espaço

urbano. Enquanto produto do trabalho humano, o espaço, principalmente o da cidade,

constitui-se em um elemento estratégico na produção e acumulação de capital. Esse

modo de produção, caracteriza-se por buscar formas para que o espaço seja um

instrumento de acumulo de capital e para tanto utilizam-se de estratégias de atuação de

agentes sociais, no processo de produção espaço, ressaltando a mercantilização do solo

urbano para fins de moradia. Esse processo sempre fez parte dos circuitos de

valorização do capital, acentuados com crescimento urbano. Sobre isso Botelho (2007,

p.21) afirma:

Ao longo da história do modo de produção capitalista, o espaço

passou a fazer parte dos circuitos de valorização do capital, seja

pela mercantilização da terra, seja pelo seu parcelamento

(verticalização e loteamento), ou como tem ocorrido mais

recentemente, pela sua inclusão nos circuitos de circulação do

capital financeiro.

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Pode-se dizer que o espaço urbano apresenta características que refletem as

relações que nele se estabelecem, não só no presente mas ao longo de sua história de sua

constituição. E dessa forma também é marcado por desigualdades socioespaciais

resultante da atuação dos agentes sociais produtores do espaço que atuam de forma

dinâmica e modificam e redefinem o espaço urbano constantemente de acordo com suas

necessidades e interesses.

Como acontece com todos os produtos do trabalho, no capitalismo há sempre um

esforço para se transformar esse produto numa mercadoria, ressaltando a novas formas

de segregação espacial resultantes da ação desses agentes. Villaça (2001) aponta que a,

transformação do espaço urbano em mercadoria pode ser claramente verificada a partir

da ação dos agentes imobiliários, através da construção de grandes empreendimentos

tais como shoppings centers, empreendimentos de turismo e lazer, loteamentos e

condomínios horizontais e verticais fechados.

A propagação de condomínios e loteamentos fechados passa a ser um produto da

ação dos agentes social, sobretudo o Estado e do setor imobiliário, na produção, bem

como uma nova forma de segregação. Neste contexto, a localização é um fator

importante na valorização do espaço, sobre isso Villaça (2001, p.72) expressa que, “(…)

esse valor é dado pela localização dos edifícios, ruas e praças, pois é essa localização

que os insere na aglomeração. A localização se apresenta assim como um valor de uso

da terra (…) valor que, no mercado se traduz em preço da terra”. Desse modo, as

melhores localizações na cidade estarão disponíveis para quem melhor poder pagar,

pagando assim também pelo “direito” de se afastar dos que não podem pagar por ela.

Durante muitos anos os espaços localizados nos entornos da cidade, que se encontravam

com um maior distanciamento dos centros das cidades, eram tidos como as piores

localizações, e conseguintemente eram onde as pessoas que não poderiam pagar pelo

uso do espaço do centro da cidade, improvisavam formas populares e muitas vezes

precárias de moradia, pois o centro só era acessível para uma classe média alta da

sociedade.

Os promotores imobiliários destacam-se nesse sentido na busca de novas formas

de obter lucro na implantação de grandes empreendimentos voltados para o consumo,

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lazer e moradia. Tendo em vista o crescimento acentuado da população urbana

principalmente na segunda metade do século XX esses espaços passam a atrair novas

formas de atuação do capital. Como expressa Cavalcanti (2001) o crescimento das

cidades, os centros urbanos passam a comportar uma série de elementos moradia,

comércio, serviços, transito, o que afeta a qualidade de vida das pessoas que ali habitam.

Em consequência estas inquietações passam a incomodar a população, motivando

também a vontade de fixar moradia em locais mais “tranquilos” com finalidade de

moradia, e trazem como marketing a busca por uma vida longe das inquietações do

centro da cidade. Todos esses fatores somados acabam por selecionar a parcela da

população que irá habitar nestes locais, pois somente uma parte restrita da população

poderá pagar pelo valor de uso desse espaço. Dessa forma, morar num local assim

torna-se uma questão de status. Santos (1987, p.81) vêm a corroborar sobre isso quando

afirma que,

Cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor,

consumidor, cidadão depende da sua localização no território. Seu valor

vai mudando para melhor ou para pior, em função das diferenças de

acessibilidade (tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria

condição. Pessoas com as mesmas virtualidades e a mesma formação,

até o mesmo salário, tem valor diferente segundo o lugar em que vivem.

A partir do que foi supracitado, nota-se que essa questão do status é também um

fator que atrai muito as pessoas para esses segmentos de moradias, pois os condomínios

e loteamentos vendem a imagem de segurança aliada à da natureza e da distinção social.

A produção de espaços residenciais fechados em Campina Grande : Novas

estruturas espaciais.

O fenômeno dos espaços residenciais fechados não é recente ao se considerar a

urbanização contemporânea. Suas primeiras manifestações no Brasil ocorrem por

influência nos Estados Unidos com os Common Iterest Develmenps (CIDs) . Sposito

(2006) ressalta que os primeiros empreendimentos se originam no Brasil na segunda

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metade do século XIX, em São Paulo3 . Atualmente esses empreendimentos não se

restringem às grandes cidades e às metrópoles, pois já ocupam parcela significativa do

tecido urbano, inclusive, das cidades médias. Esse tipo de empreendimento atrai as

classes com maior poder econômico, e tem geralmente se instalado em áreas da periferia

o que somado a outros fatores trás uma valorização para essas áreas, e

consequentemente tem produzido novas formas de (re)apropriação do espaço das áreas

periféricas, tradicionalmente ocupadas por pessoas de menor poder aquisitivo e que

passam por uma reestruturação para atender às classes de maior poder econômico, tais

fatores provocam essas alterações e levam a uma fragmentação do espaço urbano. A

autora ainda acrescenta que os loteamentos fechados são um novo produto imobiliário e,

como todas as outras mercadorias, são obrigados a sempre se renovar, lançando

produtos cada vez mais atrativos no mercado. Esses produtos, cada vez mais elaborados

e bem estruturados, provocam profundas transformações na estrutura das cidades,

inclusive nos espaços não metropolitanos.

Dentre os fatores que maior contribuiem e fazem das cidades médias atrativas

para instalação desses empreendimentos destaca-se a oferta de terra rural para expansão

urbana junto ao valor considerado atrativo, pois a lucratividade será maior. Além desse

fator, devido a dimensão das cidades médias, os deslocamentos são mais rápidos. Na

cidade de Campina Grande assim como em outras cidades médias já estudadas, observa-

se a localização desses empreendimentos, em áreas periféricas das cidades, mais

próximas a importantes vias de acesso não somente a cidade mais a capital, e demais

cidades. Sem dúvidas esses fatores são de extrema importância nas escolhas locacionais

feitas pelos agentes imobiliárias ao investir capital nesses empreendimentos, pois

localizados a vias de trafego, proporcionam uma maior fluidez nos deslocamentos

interurbanos e intraurbanos apesar do segundo não ser uma pratica comum aos

moradores desses loteamentos, que evitam cada vez mais esse tipo de deslocamento.

Tais agentes tem sido capaz de procurar localizações, que ao mesmo

tempo, possibilitam fluidez e diminuição do número e da frequência

dos deslocamentos intra-urbanos, visto que, valorizam em suas

escolhas locacionais, a situação geográfica da gleba a ser loteada em

3 Ana Fani Carlos, (1994).

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relação as vias que propiciam maior velocidade em relação aos meios

de consumo mais modernos. Em outras palavras, combinam alta

mobilidade com proximidade e identidade nas práticas de consumo

(SPOSITO, 2006, P.186)

Observam-se mudanças na morfologia urbana ocasionada após a instalação de

espaços residenciais fechados, é comum a instalação de grandes equipamentos de

consumo em áreas próximas a esses empreendimento, como os shoppings centers, lojas

automotivas, lojas de moveis planejados, hipermercados, serviços particulares de saúde

dentre outros. Alguns empreendimentos a exemplo dos Alphavilles, já apresentam em

seu projeto além dos lotes voltados para a moradia, áreas comerciais reservadas para

empresas instalarem seus serviços, que geralmente são voltados para o consumo dos

próprios moradores do loteamento.

Os espaços residênciais fechados em Campina Grande: Uma caracterização

Apesar de serem fenomemos presentes nas cidades de porte médio, em fins da

década de 1990, período no qual passam estes passam se manifestar de forma mais

intensa, tem sua primeira manifestação, por uma incorporadora de capital local, na

cidade de Campina Grande/PB com o lançamento em 1999 do espaço residencial

fechados Nações Residence Privê, localizado as margens da BR 104, a cerca de tres

quilomentros do centro da cidade de Campina Grande. Deve ser salientado que este

condomínio4 residencial esta localizado em terras rurais pertencentes ao município de

Lagoa Seca/PB. Mas de acordo com pesquisas anteriores realizadas5 que mesmo

estando localizada fora do limite municipal de Campina Grande esse é um produto

imobiliário com todos os seus usos e funções voltadas para este município, tendo os

moradores dificuldades em qualquer atuação do poder publico do município de Lagoa

Seca. Nesse mesmo período verifica-se um movimento de acentuada expansão

4 Registrado como parcelamento urbano em regime de condomínio.

5 Faz referencia a dissertação de mestrado ARAUJO¹ (2012), que tratou do espaço periurbano entre

Campina Grande e Lagoa Seca – PB.

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territorial urbana cidade impulsionada não somente por este fator mais, pela instalação

de equipamentos que a possibilitaram, conorme aponta Maia (2010):

[...] no final dos anos novecentos, a expansão da cidade foi

impulsionada por outros elementos, tais como a transferência do

terminal rodoviário interestadual (nos anos 1980) e a construção

do Shopping Center Iguatemi, atual Boulvard Shopping (nos

ano de 1990) na porção Leste da Cidade, nas proximidades da

ligação a BR 230. Mais recentemente a criação do parque

tecnológico [...] vem atraindo capitais externos e algumas

empresas do setor secundário e terciário da economia. [...]

E mais atualmente, além da dinâmicas citadas, observa-se um intensa atuação

dos agentes sociais, lançando a cada dia novos produtos no ramo da moradia em

Campina Grande que tem imprimido uma nova configuração socioespacial na cidade. A

exemplo do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), voltado para as camadas

mais populares; a construção de condomínios verticais e mais recentemente de uma

proliferação de espaços residencias fechados, para as classes com um maior poder

aquisitivo.

Nos anos que seguem são instalados os demais empreendimentos citadados

nessa pesquisa, principalmente a partir do ano de 2007 quando são lançados o

Caminhos do Conde, Reino Verde Residence, ambos locatizados as margens da BR 230

que faz a ligação com a capital paraibana, executados por construtoras de capital local e

fora do perímetro urbano da cidade. Posteriormente em 2011 a construtora Andrade

Marinho, que é responsável por vários empreendimentos verticais e horizontais do setor

imobiliários na cidade, produziu mais um empreendimento6 na área rural de Lagoa Seca

nas proximidades do Nações Residence. Em 2012 a incorporadora Alphaville

Urbanismo, trouxe o condominio Alphaville Campina Grande, que está localizado no

bairro do Mirante em Campina Grande, nas proximidades do anel viário que liga as

rodovias BR 104 e BR 230. O seu lançamento e aprovação em 2009, e entregue no ano

de 2012, com 391 lotes de tamanho médio de 450 m² e valor estimado em 120 mil reais.

No mesmo , o condomínio Sierra Home Resort está localizado no Bairro das Nações,

próximo avenida Manoel Tavares que liga o centro da cidade a uma rodovia (BR 104), e

6 Atmosphera Green Residence / Atmosphera Eco Residence.

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nas proximidades de outros espaços residenciais fechados instalados na área periurbana

entre Campina Grande e Lagoa Seca, com um total de 196 (cento e noventa e seis) lotes

com uma área média de 535m² de tamanho. Inicialmente, os terrenos tinham um valor

médio de 120 mil reais, atualmente esses mesmos terrenos apresentam um valor médio

de 450 mil reais7, o que parece ser uma valorização bastante significativa e acima dos

demais empreendimentos pesquisados, mesmo as grandes incorporadoras que tem uma

abrangência nacional que serão mencionadas posteriormente.

Este espaço residencial traz uma particularidade em relação aos demais por se

tratar de ser idealizado, produzido e comercializado por uma incorporadora de capital

local a Rocha Cavalcanti cujo proprietário da empresa é o mesmo proprietário das

terras, ele mesmo idealiza junto a sua empresa o projeto paisagístico, constrói e

posteriormente faz a vendas desses lotes, e o mesmo é proprietário de vários terrenos e

imóveis em toda a cidade de Campina Grande. Destaca-se o fator de dentro de um

mesmo ente percebe-se a concentração de atuação de diversos agentes sociais em uma

mesma figura, que dessa forma pode minimizar o capital investido e concentrar para si

todos os lucros, algo que geralmente so é possível para agentes de grandes capitais.

Mais recentemente no ano de 2015 após concluir as vendas d primeiro empreendimento

o Alphaville Urbanismo8 lançou seu segundo empreendimento na cidade o Terras

Alphaville, já aprovado e com previsão para entrega em 2017. Localizado no bairro

Itararé um dos bairros de Campina Grande, com lotes com tamanho médio deia com

355m² de tamanho e valor inicial de 140 mil reais.

Um fator que deve se destacado é a localização, pois todos os empreendimentos

“mais populares” tem se voltado para os sentidos Oeste, sudoeste e Sul, onde se

7 Essas informações foram coletadas no setor de vendas da Rocha Cavalcanti.

8 Uma peculiaridade desta incorporadora é a forma de financiamento, por se tratar de uma empresa de

grandes capitais, além das além da execução do projeto e vendas dos lotes, também detém seu próprio

sistema de financiamento, que pode se desde parcelas de meses até em anos o financiamento com

entrada de até dez por cento do valor total do lote.

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localizam as áreas com o valor m² mais baixo da cidade. Enquanto que os produtos para

a classe média alta e alta tem se concentrado nos sentidos Norte, Leste e sudeste nos

quais se localizam bairros que já apresentavam uma valorização imobiliária por

equipamentos anteriores instalados e atualmente com a instalação desses

empreendimentos tem tido índices muito elevados de valorização. Costa (2013) destaca-

se a proximidade do centro, e dos diversos serviços oferecidos no bairro do catolé, com

o Shopping Centers e dos demais que ficam em seus entornos.

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