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ESTRATÉGIAS SANITÁRIAS PARA AS PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS BIVALVES DE CULTIVO NO ESTADO DE SANTA CATARINA MARIA LUIZA TOSCHI MACIEL Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de doutor em Aquicultura. Orientadora: Profa. Dra. Aimê Rachel Magenta Magalhães Florianópolis, Santa Catarina, Brasil 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQÜICULTURA

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ESTRATÉGIAS SANITÁRIAS PARA AS PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS BIVALVES DE CULTIVO NO

ESTADO DE SANTA CATARINA

MARIA LUIZA TOSCHI MACIEL

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de doutor em Aquicultura.

Orientadora: Profa. Dra. Aimê Rachel Magenta Magalhães

Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQÜICULTURA

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Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina

.

M152e Maciel, Maria Luiza Toschi Estratégias sanitárias para as principais enfermidades dos bivalves de cultivo no Estado de Santa Catarina [tese] / Maria Luiza Toschi Maciel; orientadora, Aimê Rachel Magenta Magalhães. - Florianópolis, SC, 2009. 194 p.: il. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias. Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura. Inclui referências 1. Aquicultura. 2. Maricultura. 3. Bivalve. 4. Sanidade animal. 5. Defesa sanitária. I. Magalhães, Aimê Rachel Magenta. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Aquicultura. III. Título.

CDU 639.3

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Estratégias sanitárias para as principais enfermidades de moluscos bivalves cultivados no Estado de Santa Catarina.

Por

MARIA LUIZA TOSCHI MACIEL

Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do título de

DOUTORA EM AQÜICULTURA

e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura.

____________________________________ Prof. Cláudio Manoel Rodrigues de Melo, Dr.

Coordenador do Curso Banca Examinadora:

__________________________________________ Dra. Aimê Rachel Magenta Magalhães – Orientadora

__________________________________________

Dr. Gilberto Caetano Manzoni

__________________________________________ Dra. Guisla Boehs

__________________________________________

Dr. João Bosco Rozas Rodrigues

__________________________________________ Dr. Maurício Laterça Martins

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Dedico este trabalho para

Mario Luiz Maciel

in memoriam

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram com os ensinamentos preliminares que serviram de fundamento para a presente tese.

Agradeço em especial à minha filha, por seu imenso carinho, pelo apoio, colaboração e incentivo nos momentos mais cruciais deste trabalho e, por mostrar-me o possível lado positivo de muitos eventos. Filha de amor incondicional, que sofre em meus momentos de tensão e se alegra em cada conquista.

Agradeço ao meu filho, que mesmo longe participa ativamente dos meus momentos mais decisivos.

Agradeço a meus pais, em memória, pelos ensinamentos de vida, dignidade, moral e ética.

Agradeço à professora Aimê Rachel, pela confiança e incentivo e, por aceitar participar da construção deste estudo na qualidade de orientadora da tese.

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RESUMO

A maricultura de bivalves representa fonte de alimentação e renda para muitas famílias, contudo, o aparecimento de enfermidades pode conduzir a atividade para um estado falimentar, com custos substanciais. Neste sentido, este estudo teve por objetivo verificar os principais registros de identificação de agentes etiológicos capazes de causar danos à saúde dos bivalves no Estado de Santa Catarina; conhecer a percepção dos atores envolvidos no setor com referência à classificação de enfermidades de notificação obrigatória e sua relação com as ações compulsórias dos serviços oficiais; identificar a estrutura deste serviço e sua capacidade para atuar na defesa sanitária dos animais aquáticos, com ênfase para os cultivos em sistemas abertos, como é o caso dos bivalves de interesse comercial. A coleta de dados inclui apreciação de documentos oficiais, pesquisa bibliográfica em bases de dados e entrevistas. Para análise foi considerado o “users´ guides to the aquatic animal health” como parâmetro. Este estudo conclui que a lacuna de conhecimento jurídico sobre a saúde animal por parte dos diferentes atores prejudica as ações do Estado para prevenção, controle e erradicação de enfermidades. Da mesma forma, o estudo apresenta algumas estratégias que depois de implementadas poderão contribuir para uma redução nos prejuízos em possíveis casos de emergência sanitária.

Palavras chave: maricultura, bivalves, sanidade animal, defesa sanitária.

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ABSTRACT

The shellfish production represents a source of food and income for many families, therefore, the occurrence of diseases outbreak may lead the activity to breakdown, with incalculable costs. In this context, the present study aimed to identify the main etiologic agents capable of causing damage to the health of shellfish farm-ing in the State of Santa Catarina; to acknowledge the perception of actors involved in the bivalves production concerning the clas-sification of the obligatory declaration diseases and the compul-sory actions from the service officers; learn about the structure of the official animal defense service and its ability in defending aquatic animals health, especially the animals raised in open sys-tems production, such as bivalves of commercial interest. Data collection included appreciation of official documents, literature review of scientific articles available on database, and interviews with few actors. For analyzing these material the "users' guides to the aquatic animal health" was taking into account. The final conclusion indicate a lack of knowledge among different actors on the subject of animal health legislation what brings obstacles for State’s action for preventing, controlling and eradicating diseases. The study also presents some strategies that could contribute to a reduction in losses in possible cases of bivalve emergency.

Keywords: mariculture, bivalve, animal health, sanitary defense.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

Acordo MSF - Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias CIDASC – Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina CRMV – Conselho Regional de Medicina Veterinária Embraer - Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. ESC - Entendimento relativo às normas e procedimentos sobre Solução de Controvérsias – em inglês, DSU, Dispute Settlement Understanding; em espanhol, ESD, Entendimiento de Solución de Diferencias FFA - Fiscal Federal Agropecuário GATT - General Agreement on Tariff and Trade – em português, Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura, antiga SEAP- Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca MRE – Ministério das Relações Exteriores OIE – Escritório Internacional de Epizootias – em francês, Office Internationel des Epizooties OIT - Organização Internacional do Comércio – em inglês, ITO, International Trade Organization OMC - Organização Mundial do Comércio – em inglês, WTO, World Trade Organization ONU - Organização das Nações Unidas OSC - Órgão de Solução de Controvérsias – em inglês, DSB, Dispute Settlement Body; em espanhol, OSD, Órgano de Solución de Diferencias PNSAA – Programa Nacional de Sanidade dos Animais Aquáticos SEDESA – Serviço de Defesa Agropecuária SFA – Superintendência Federal de Agricultura SVO – Serviço Veterinário Oficial UVL – Unidade Veterinária Local

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SUMÁRIO

I. Introdução 15

II. Capítulo I: A Defesa sanitária animal: apresentando o refe-rencial teórico e construindo o objeto de estudo 30

1. A epidemiologia e a vigilância zoosanitária 30

2. O serviço oficial de sanidade animal: as instituições nacionais e as relações internacionais 42

2.1 A formação do sistema nacional de defesa sanitária animal 46

2.1.1 A defesa sanitária federal 50

2.1.2 A defesa sanitária estadual 53

2.1.3 A defesa sanitária municipal 54

3. O Brasil e os tratados internacionais 60

4. As instituições internacionais e suas relações com o Brasil 63

4.1. Organização Mundial do Comércio: soberania, democracia, Acordo MSF e barreiras não tarifárias 66

4.2. Organização Mundial da Saúde Animal: har-monização de regulamentos técnicos 75

4.3 Codex Alimentarium: processos de regulamen-tação 86

Referências bibliográficas 92

III. Capítulo II: Sanidade de bivalves de cultivo: o papel do Es-tado e as interações entre a população e o ser-viço público 102

Resumo 102

Introdução 104

Material e métodos 105

Resultados 106

Discussão 107

Conclusões 116

Referências 118

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IV. Capítulo III: A construção institucional e organizacional do serviço de defesa sanitária animal no Estado de Santa Catarina com vistas à sanidade dos bivalves marinhos 121

Resumo 121

Introdução 123

Material e métodos 126

Resultados 127

Discussão 130

Conclusões 134

Referências 135

V. Capítulo IV: Saúde dos bivalves: vigiar e prevenir 137

Resumo 137

Introdução 139

Material e métodos 144

Resultados e Discussão 145

Referências 147

VI. Capítulo V: Polidiariose em ostras Crassostrea gigas cultivadas na praia da ponta do Sambaqui, Florianópolis, SC, Brasil. 152

Resumo 152

Introdução 154

Material e métodos 155

Resultados 157

Discussão e Conclusões 161

Referências 163

VII. Conclusões gerais 167

VIII Referências Bibliográficas da Introdução 171

IX. Anexos 173

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1. INTRODUÇÃO

A atividade conhecida como malacocultura dedica-se ao cultivo de moluscos, sendo que várias espécies nativas estão distribuídas por toda a costa litorânea brasileira. As espécies de maior interesse comercial estão representadas pelo mexilhão nativo Perna perna (Linné, 1758) e pela ostra do Pacífico, Cras-sostrea gigas (Thunberg, 1793), também conhecida como ostra japonesa, por ser nativa do Japão, China e Coréia. Outras espé-cies em pesquisa para fins de maricultura estão representadas pelas ostras nativas Crassostrea brasiliana (Lamarck, 1819) e Crassostrea rhizophorae (Guildine, 1828) pela ostra perlífera Pte-ria hirundo (Linné, 1758) e a vieira Nodypecten nodosus (Linné, 1758), além dos bivalves de areia, como o berbigão Anomalocar-dia brasiliana (Gmelin, 1791) e a asa de anjo, Cyrtopleura costata (Linné, 1758).

As condições geomorfológicas do litoral catarinense, com grande número de baías, manguezais e estuários caracterizam-se como propícias à prática da malacocultura. Sua condição o-ceanográfica de águas calmas, com influências de correntes frias e ricas em produção primária favorece a atividade e coloca Santa Catarina na liderança nacional na produção de moluscos mari-nhos, como o maior produtor de mexilhões e ostras de cultivo.

A malacocultura ou maricultura de bivalves em Santa Cata-rina está constituída, fundamentalmente, por quatro espécies: (a) o mexilhão - Perna perna, (b) a ostra japonesa - Crassostrea gi-gas, (c) a ostra nativa - Crassostrea spp. e (d) a vieira - Nodipec-ten nodosus (MAGALHÃES, 2009).

Dentre as principais peculiaridades destas espécies de in-teresse para Santa Catarina, podem ser citadas as seguintes:

a) mexilhão: o cultivo desta espécie teve início com a colheita de semente nos costões do litoral catarinense e posterior colocação em sistemas suspensos para crescimento até o tamanho comercial. Atualmente, a reprodução ocorre tanto com a aplicação de técnicas de reprodução assistida como com a colheita de sementes pela fixação em meio natural, em coletores manufaturados. Estudos da fisiologia do mexi-lhão Perna perna foram empregados para estabelecer me-todologias de monitoramento ambiental, uma vez que qual-

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quer alteração fisiológica pode modificar os fluxos do meta-bolismo do animal e, possivelmente, ocasionar problemas na resistência deste (PESSATTI et al. 2002). Por sua vez, Salomão et al. (1980) observaram que o mexilhão Perna perna sobrevive em valores de salinidade entre 19 e 44, sendo que nesta faixa de salinidade ocorre a produção dos filamentos de fixação do animal (bisso) e sugerem que essa seria a faixa de conforto para a espécie. Ademais, observa-ram que em salinidades de 4 e 9 não houve eliminação de gametas, no entanto, os ácinos gonádicos do manto esta-vam repletos dos mesmos. Marenzi e Branco (2005) reco-mendam o cultivo deste mexilhão num período de até oito meses, quando os indivíduos atingem comprimento total de aproximadamente 7,0 cm e apresentam melhor rendimento de partes moles em relação ao tamanho da concha. Contu-do, salientam os autores, que a colheita deve ocorrer no fi-nal da primavera e que, portanto, deverá ser observado o período de semeadura. Ademais, sugerem que o primeiro metro da coluna de água oferece melhores condições de cultivo por consequencia da energia radiante, fundamental na disponibilidade de alimentos, devido à maior produção primária, sendo que as cordas de cultivo apresentam de 2-3 metros de comprimento. A temperatura da água também representa fator de influência para o conforto e a saúde do animal, uma vez que interfere nos processos fisiológicos do animal, como o desenvolvimento, taxa de crescimento, ciclo sexual e filtração.

b) ostra japonesa: a espécie Crassostrea gigas foi introduzida

no Brasil no início da década de 70 em Cabo Frio/RJ. O cultivo em Santa Catarina teve início com a introdução de sementes produzidas no Rio de Janeiro e posteriormente importadas do Chile. Atualmente a reprodução ocorre em ambiente tecnificado, com a utilização de reprodutores descendentes das primeiras importações. A opção pelo cultivo de C. gigas recebeu destaque devido ao rápido crescimento apresentado pela espécie, bem como demonstrou facilidade de adaptação e bom rendimento de carne, ademais do amplo conhecimento biológico mundialmente disponível. Entretanto, é uma espécie de

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clima frio e, portanto, de difícil adaptação para cultivo na costa brasileira, cujo clima predominante é o tropical. As áreas preferenciais para cultivo desta espécie, na costa brasileira, estão localizadas em Santa Catarina. Mesmo assim, as sementes de ostras produzidas em ambiente fechado, quando colocadas para crescimento no ambiente natural, onde a temperatura da água ultrapassa os 24ºC no verão, morrem em grande quantidade. Este fenômeno é conhecido como mortalidade em massa de verão ou, do inglês, summer mortality. As causas desta mortalidade podem estar associadas ao desgaste energético de-corrente do ciclo gametogênico ou mesmo, por motivos de condições ambientais de desconforto animal (PERDUE et al. 1981). Outros autores sugerem que a mortalidade pode ser causada por bactérias do tipo Vibrio sp. (CHEW, 1979). Como forma de amenizar o problema da mortalidade em massa de verão, pesquisadores catarinenses decidiram importar durante alguns anos C. gigas triplóides. A estratégia utilizada para reduzir a mortalidade reside no fato de que os indivíduos triplóides são inférteis e, portanto com maiores reservas energéticas. A formação genética natural da C. gigas é 2n, enquanto que para a produção de indivíduos triplóides é necessária à obtenção de indivíduos poliplóides, através de processos artificiais, os quais podem ter 3 ou 4 n (POLI, 2004a).

c) ostras nativas do gênero Crassostrea: mais especifi-

camente representadas pela C. rhizophorae e C. bra-siliana, ocorre em regiões estuarinas de baixa e média salinidade. Apresenta concha grossa, de forma variada, geralmente larga e de tonalidade clara a escura e pode al-cançar tamanho de 10 cm. Ocorre desde o Caribe até o Brasil, sendo típicas de zonas tropicais, geralmente fixadas às raízes aéreas do mangue ou sobre zonas entre marés e costões rochosos. São indivíduos que suportam valores de salinidade de amplitude significativa, entre 10 e 30, mas que valores abaixo ou acima desta faixa comprometem a sobrevivência da espécie. Neste sentido, com o propósito de se adaptarem às flutuações ou mudanças na salinidade ambiental, estes indivíduos osmoconformistas se utilizam

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de mecanismos de ajustamento da concentração intracelular de osmólitos regulando, então, seu volume celular. Vale ressaltar que fatores ambientais de desconforto animal resultam em anorexia, reduzida ingestão de alimento e pode conduzir ao óbito (ZHUANG, 2006). Autores como Helm et. al. (2004) sugerem sali-nidade de 25 como fisiologicamente adequada, podendo ocorrer uma tolerância de até 10 para o caso das sementes. Guimarães et al. (2008) sugerem valores de salinidade entre 15 e 25 como a mais adequada para C. rhizophorae.

d) vieira: são invertebrados bentônicos que pertencem à

família Pectinidae e são conhecidos como scallops (em inglês) ou coquille Saints-Jacques ou pétoncle (em francês), ou ainda, por ostiones, almejas, escalopas (em espanhol). Esta espécie apresenta interesse comercial devido a sua característica de crescimento rápido, atingindo tamanho comercial (em média 8 – 9 cm) em aproximadamente oito meses. A concha apresenta formato de leque, com coloração variando do marrom-avermelhado ao amarelo, podendo alguns indivíduos apresentar a tonalidade vermelha, alaranjada ou púrpura. A espécie de maior expressão em Santa Catarina, a Nodipecten nodosus, apresenta a seguinte estrutura interna: (a) o manto, representado por uma membrana aderida à parte interna de ambas as valvas e margeado por pequenos tentáculos e numerosos olhos paliais de cor azul brilhante, os quais desempenham função sensorial; (b) as brânquias, de coloração alaranjada, que são responsáveis pela respiração e captura de alimento; (c) o músculo adutor, músculo estriado responsável pelo movimento de fechamento das valvas; (d) o resilium, músculo liso responsável pelo movimento de abertura das valvas; (e) a glândula digestiva, localizada na parte próxima ao umbo, aderida ao músculo; (f) o sistema circulatório e (g) as gônadas, sendo que é uma espécie hermafrodita funcional simultânea. Esta espécie ocorre desde o sul da Península de Yucatán, leste da América Central, ilhas do Caribe, Colômbia, Venezuela e descontinuamente, ao longo do litoral brasileiro até o Estado de Santa Catarina. Em Santa Catarina, na natureza,

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o N. nodosus ocorre entre 6 e 30 metros de profundidade. Entretanto, os estoques naturais são insuficientes para sustentar uma atividade extrativa significativa, fato que compromete a oferta no mercado interno. Por este motivo, o desenvolvimento da atividade somente poderá obter sucesso por meio da reprodução tecnificada (BERNADINO, 2007).

Em países onde o comércio de bivalves representa fator de

ocupação e renda para muitas famílias, episódios repetidos de enfermidades resultaram em danos econômicos e sociais de grande monta. Entre estes eventos foi registrada a presença de diferentes agentes patogênicos, alguns dos quais constam da lista de enfermidades de declaração compulsória aos serviços veterinários oficiais.

Discutir e buscar formas preventivas para o desenvolvi-mento da maricultura de bivalves livre de enfermidades capazes de causar danos significativos a saúde do animal, assim como dos consumidores, representa uma forma de contribuir para enriquecer as intervenções no cotidiano, possibilitando novas formas de operar os serviços de saúde animal, bem como direcionar o olhar para a realidade destes serviços, suas formas de organização e atuação.

A experiência profissional somada a vivência das difi-culdades concernentes à aplicação de medidas de defesa sanitária, especificamente para animais da aquicultura, repre-sentaram fatores de motivação para a reflexão e a percepção critica da realidade da sanidade dos bivalves. A compreensão e o saber desta realidade e suas circunstâncias, seu movimento dinâmico e contraditório motivaram a decisão de ser agente na construção deste conhecimento.

Assim, neste estudo procurou-se trazer à luz do saber aquilo que diz respeito à saúde dos bivalves e a atuação dos serviços de defesa sanitária animal, ratificando os dizeres de Merthy (1997) quando afirma que “o cotidiano representa matéria prima de excelente qualidade para se trabalhar a realidade e criar o novo”. Neste sentido, o presente estudo se propõe a estudar uma parte dessa “matéria prima”, representada pelo sistema de defesa sanitária animal e sua relação com a sanidade dos bivalves, objetivando conhecer como os atores da

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maricultura de bivalves entendem a prática da defesa sanitária animal, conhecendo suas opiniões e pensamentos com vistas a esclarecer lacunas por ventura existentes e que possam contribuir para a colaboração institucional e privada.

1.1. Problemática e Justificativa

Os sistemas de defesa sanitária animal representam a

estrutura socialmente organizada e deve compreender a participação de todos os órgãos e instituições governamentais ou não, os quais devem estar preparados para prestar serviços ou produzirem conhecimentos para o setor da produção animal. Para que um sistema de defesa sanitária animal apresente resultados positivos, é necessário o entendimento de que profis-sionais de diferentes formações, conjuntamente com o serviço oficial, constituem parte ativa deste sistema e formam a rede de informações essencial para a vigilância sanitária e epide-miológica das enfermidades que acometem os animais e os seres humanos. É preciso, igualmente, que os diferentes atores da aquicultura tenham o conhecimento de que os serviços veterinários de defesa sanitária animal constituem-se em função de Estado e representam o conjunto de ações básicas a serem desenvolvidas por servidores públicos específicos, visando à proteção dos animais, a redução dos riscos de introdução e propagação de agentes causadores de enfermidades, bem como a redução das possibilidades dos riscos de transmissão de enfermidades dos animais aos homens.

Importante ainda, o entendimento de que existe como parte do aparelho do Estado, uma instituição que lidera o processo de defesa animal no Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Assim, o MAPA possui como uma de suas atribuições, prestar serviços de atenção à saúde animal, além de coordenar programas, propor normas e fiscalizar o cumprimento legal destas normas. Esta instituição formula e exe-cuta políticas para o desenvolvimento do agronegócio nacional, integrando aspectos mercadológicos, tecnológicos, científicos, organizacionais e ambientais, para atendimento dos consu-midores brasileiros e do mercado internacional.

Assim, das observações supra mencionadas, emergiu a proposta para a realização da presente pesquisa, que teve como

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ponto de partida os seguintes questionamentos: (1) quais as principais espécies de bivalves em cultivo no Estado de Santa Catarina? (2) quais os principais agentes etiológicos que estão presentes nestes cultivos? (3) estes agentes etiológicos fazem parte da lista de declaração compulsória estabelecida pelas autoridades veterinárias nacional? (4) estão os serviços oficiais e os demais atores da maricultura de bivalves preparados para enfrentar eventos de enfermidades de declaração compulsória? (5) qual o entendimento que os diferentes atores da maricultura de bivalves apresentam com relação às ações dos serviços veterinários oficiais?

A importância desta pesquisa está em colaborar no entendimento da participação do Estado na tutela de diferentes enfermidades que podem acometer os bivalves. Vale ressaltar que Santa Catarina amargou prejuízos de diferentes níveis quando da ocorrência da enfermidade das manchas brancas em camarões Litopenaeus vannamei em cultivo, no ano de 2005. E que as autoridades sanitárias somente foram comunicadas depois que a enfermidade havia comprometido vários esta-belecimentos. Neste episódio, nem os produtores e nem mesmo os órgãos de assistência técnica e extensão rural, contumazes observadores dos cultivos, comunicaram as observações de mortalidade elevada que se instalava entre os animais alvo.

O incentivo ao desenvolvimento da aquicultura associado às novas tecnologias de cultivo reflete-se na expansão continuada da malacocultura catarinense. No entanto, o binômio aumento dos sistemas de cultivo versus densidade elevada promove uma redução na qualidade da água do cultivo. Esta condição pode levar a um comprometimento ambiental capaz de promover estresse nos animais e com isto, uma debilidade do sistema imunológico resultando no aparecimento de enfer-midades (BOWER, 2006). Vale salientar que muitos dos agentes patogênicos que atualmente representam prejuízos inestimáveis ao setor produtivo, outrora, na natureza, conviveram em equilíbrio agente-hospedeiro (MACIEL, 2005).

A malacocultura representa importante fator de geração de renda para centenas de famílias do litoral catarinense. O aparecimento de algumas enfermidades, principalmente as enfer-midades causadas por agentes patogênicos de declaração compulsória aos serviços veterinários oficiais de saúde animal,

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podem levar à falência da atividade, caso negligenciadas pelos diferentes atores do setor produtivo e oficial.

Neste contexto, prospera como justificativa para a rea-lização do presente estudo, os argumentos seguintes:

a) apresentar uma (re)discussão sobre as ações de defesa sanitária animal como uma ferramenta potencial para a conquista de mercados para os produtos da aquicultura;

b) apresentar uma contribuição para o entendimento dos princípios da defesa sanitária animal com vistas a facilitar a interação entre os atores da aquicultura, minimizando as difi-culdades de comunicação entre as instâncias e objetivando o fortalecimento da atividade, ponderando que uma melhor com-preensão da defesa sanitária animal permitirá uma maior colaboração entre os atores e com isto possibilitar uma minimização dos possíveis comprometimentos da maricultura dos bivalves no Estado de Santa Catarina. .

1.2 Objetivos

A partir da problemática exposta e da justificativa descrita que busca evitar os custos decorrentes de uma possível ocor-rência de enfermidades nos bivalves, foram assumidos como objetivos a serem alcançados por esta pesquisa:

1.2.1 Objetivo geral: colaborar com os diferentes atores da aquicultura no entendimento dos enlaces que envolvem as enfermidades de declaração compulsória e das funções do Estado.

1.2.2 Objetivos específicos

1.2.2.1 revisar a literatura e analisar casos que acometeram os bivalves no Estado de Santa Catarina verificando o seu enquadramento ou não, como enfermidade de declaração obrigatória às autoridades de saúde animal;

1.2.2.2 avaliar o conhecimento dos diferentes atores da maricultura dos bivalves com relação à legislação pertinente e as atividades inerentes ao Estado;

1.2.2.3 coletar dados e analisar o grau de fragilidade e limitações do órgão executor de defesa sanitária animal frente ao

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enfrentamento de casos de ocorrência de enfermidades de declaração compulsória na maricultura de bivalves;

1.2.2.4 estudar e descrever a trajetória de formação do sistema de defesa sanitária animal.

1.3 Metodologia

Perpassou todas as fases da elaboração desta tese o

levantamento e análise de bibliografias específicas sobre o assunto: livros, teses, revistas especializadas, anais de con-gressos, encontros, participação em congressos da área, CDs, além de procura na rede mundial de informação no sítio da CAPES e base de dados Scorpius, ScienceDirect, Scirus, PubMed e outros. Utilizou-se pelo menos três descritores em Ciências Veterinárias: a Organização Mundial do Comércio, a Organização Mundial da Saúde Animal e o Codex Alimentarium, o que permitiu uma ampla cobertura dos referenciais teóricos sustentadores da própria análise do fenômeno ora em estudo (saúde animal), bem como um aprofundamento nos aspectos relativos à maricultura de bivalves propriamente dita. Da mesma forma, foram utilizadas a Carta Magna e os demais ordena-mentos jurídicos que norteiam os serviços oficiais de defesa animal. Ademais, foram analisados os artigos científicos produ-zidos pelo Departamento de Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias/UFSC, na área de patologia de moluscos marinhos, publicados na última década.

Os instrumentos para a construção da pesquisa científica foram definidos de modo a aperfeiçoar o acervo do conhecimento já existente e propiciar novas asserções sobre o tema. Desta feita, constituem os métodos da pesquisa os seguintes procedimentos investigativos e analíticos:

1.3.1 O método segundo as bases lógicas para a investigação - a forma de articulação dos conhecimentos recor-ridos para desenvolver a presente pesquisa seguiu o método dedutivo, ou seja, partiu da formulação geral de que o desconhe-cimento dos princípios legais e regras jurídicas que norteiam a natureza das ações e práticas da defesa animal desencoraja a participação colaborativa dos diferentes atores da maricultura de bivalves com o serviço oficial, dificultando a atuação deste último

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quando da ocorrência de enfermidades declaráveis;

1.3.2 O método segundo a abordagem do problema - optou-se por uma abordagem qualitativa como forma de ressaltar o modo pelo qual o objeto de estudo se manifesta, ao contrário do quantitativo que ressaltaria a frequência dos eventos ligados ao tema. No entanto, vale a ressalva de que a aplicação do método qualitativo de abordagem do problema não exclui os dados numéricos quando pertinentes à compreensão dos fenômenos apreendidos;

1.3.3 O método segundo a natureza da pesquisa - os dados serão apresentados, em sua maioria, na forma descritiva, assumindo em geral o formato de levantamento documental e bibliográfico com vistas a identificar as variáveis que contribuem para a formação do sistema de defesa animal;

1.3.4 O método quanto aos procedimentos técnicos - dentre os procedimentos metodológicos que a pesquisa quali-tativa permite, utilizou-se o da observação participante, no qual o pesquisador é o próprio instrumento de pesquisa, empregando diretamente seus sentidos para apreender os objetos em estudo, espelhando-os então em sua consciência e experiência profis-sional, onde se tornam fenomenologicamente representados para serem interpretados;

1.3.5. O método quanto aos procedimentos de obtenção de dados - o estudo combinou pesquisa bibliográfica e estudo de campo. Sendo que as técnicas empregadas para o levantamento dos dados neste caso foram:

a) análise documental, observação direta, obser-vação participante e pesquisa de campo;

b) questionários e entrevistas aplicados com os professores do curso de aquicultura, responsáveis técnicos por cultivos, extensionistas, médicos veterinários do serviço oficial estadual e produtores.

De acordo com Marconi e Lakatos (2001), as técnicas utilizadas para a coleta de dados podem ser por meio da observação direta intensiva (com entrevistas exploratórias, escritas ou não) e extensiva (com aplicação de questionário). Neste estudo foram utilizadas ambas as técnicas.

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Os contatos com os participantes da pesquisa para o serviço oficial foram individuais e os pontos relevantes anotados em caderno de campo específico para a pesquisa e com o consentimento dos participantes. Utilizou-se também da observação nos locais e da atuação em campo, pesquisa em documentos, relatórios e meios de divulgação como outras fontes de evidências. Os dados obtidos por meio da pesquisa foram estudados segundo a análise de conteúdo que para Bardin (1991) corresponde a um “conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das abordagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das abordagens”.

1.3.6 Alguns procedimentos do protocolo do estudo

a) problematização - a pesquisa teve como proposta responder aos seguintes questionamentos: a) qual o entendimento que os diferentes atores envolvidos na maricultura de bivalves possuem com relação à classificação das en-fermidades para fins de atuação do Estado? b) qual o entendimento destes atores com referência ao serviço nacional de defesa sanitária animal e sua relação com as instituições internacionais? c) os serviços oficiais de defesa sanitária animal estão preparados para atuarem em casos de emergência sanitária na maricultura de bivalves?

b) procedimentos de campo - para a realização desta etapa da pesquisa foram considerados dois diferentes momentos: (1) foram realizadas entrevistas e preenchidos ques-tionários entre sanitaristas, técnicos, professores e produtores selecionados entre aqueles considerados pelo grupo, como formadores de opinião, para avaliar o grau de entendimento quanto às responsabilidades do Estado frente às enfermidades dos bivalves marinhos em cultivo em Santa Catarina; (2) foram realizadas entrevistas e acompanhamento das ações dos responsáveis pelo Programa Nacional de Sanidade dos Animais Aquáticos, nas unidades veterinárias nas regiões produtoras, com ênfase nos aspectos relacionados com a estrutura organizacional e funcional do órgão executor das ações de defesa sanitária animal no Estado de Santa Catarina.

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c) coleta de dados – na primeira etapa foram encaminhados questionários contendo perguntas abertas e fe-chadas. Já para a segunda etapa da pesquisa os dados foram recolhidos em situação de campo, por meio de contato direto e complementado por meio de um questionário; transcrições de entrevistas, notas de campo, fotografias, documentos pessoais e outros registros oficiais; familiaridade com o ambiente, pessoas e outras fontes de dados adquiridos, principalmente, por meio da observação direta e do estudo de casos, entre outros.

d) instrumentos de coleta de dados - foram utilizados os seguintes instrumentos: a) um estudo da estrutura organizacional do órgão executor das ações de defesa sanitária animal no Estado de Santa Catarina (documentos de arquivo, administrativos e entrevistas); b) um formulário com perguntas fechadas e abertas, o qual foi acompanhado de uma entrevista para a coleta dos dados; c) observação direta; d) observação participante (colhida por meio de entrevista com especialistas para a validação da proposta metodológica). A entrevista foi classificada como do tipo semi estruturada devido ao fato de ter se desenvolvido a partir de um esquema básico, contudo não aplicado rigidamente, permitindo ao entrevistado fazer as adaptações desejadas. Isto foi possível visto que as entrevistas foram realizadas pela própria pesquisadora, daí o fato de ter sido facilitada a adaptação à situação.

e) Análise e categorização dos dados - para a análise e validação dos procedimentos, foram observados os ensinamentos de Lüdke e André (1986), que afirmam ser as generalizações frequentes neste tipo de pesquisa e ocorrem,

[...] em função do conhecimento experiencial do sujeito, no momento em que este tenta associar dados encontrados no estudo com dados que são frutos de sua experiência pessoal [...].

Somado ao confronto dos depoimentos entre si, mais os registros na literatura e as fontes documentais, o processo de categorização foi apresentado ao epidemiólogo Martins (comu-nicação pessoal) com experiência em pesquisa na área da saúde animal, que forneceu informações que serviram para atestar ou não a relevância dos itens a serem estudados nesta pesquisa, para o qual:

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[...] sanitaristas são “guerreiros” que se esforçam na conquista da doença para que conhecendo melhor o inimigo possam aplicar estratégias e táticas militares adequadas, pois o combate às enfermidades em populações sugere um conflito de natureza militar [...].

Como principal categoria institucional em assuntos de saúde animal foi identificada a Coordenação de Controle de Enfermidades de Animais, do Departamento Nacional de Sani-dade Animal pertencente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, localizada no Distrito Federal.

1.4 Modelo de análise

Na operacionalização do modelo servem de guia os

objetivos específicos, os quais envolvem principalmente as va-riáveis de análise individualmente destacadas na listagem a seguir:

1) grau de entendimento dos formadores de opinião com relação ao serviço veterinário oficial;

2) grau de confiança dos maricultores em relação às diferentes instituições com atividades diretamente envolvidas com o setor;

3) estrutura dos serviços oficiais de defesa sanitária animal.

1.5 Descrição das variáveis de análise

1) grau de entendimento dos formadores de opinião: foram identificados os principais sujeitos formadores de opinião dentro da atividade da maricultura de bivalves e analisado o grau de entendimento que este sujeito apresenta em relação à legislação nacional de sanidade animal e sua relação com as diretrizes internacionais;

2) grau de confiança dos maricultores em relação às diferentes instituições com atividades diretamente envolvidas com o setor: foi analisado o grau de confiança do maricultor em relação à instituição e aos formadores de opinião. Desta análise procurou-se obter resposta para a escolha da melhor opção em caso de emergência sanitária e identificar o melhor meio de

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informação e esclarecimento capaz de sensibilizar o setor para as ações de prevenção, combate e emergência sanitária;

3) estrutura dos serviços oficiais de defesa sanitária animal: estabeleceu-se como escopo analisar o conhecimento e os fundamentos técnicos apresentados pelo profissional responsável local das ações de defesa sanitária animal aplicada na maricultura de bivalves, analisar a documentação e a organi-zação documental, analisar as ações de vigilância epide-miológica e educação sanitária aplicadas a maricultura de bivalves, bem como analisar as condições de estrutura e operacionais para o desenvolvimento destas ações.

1.6 Linha de Pesquisa e Tema

A temática deste estudo se insere no contexto da linha de

pesquisa Patologia e Sanidade do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina. Esta linha de pesquisa se dedica ao estudo das enfermidades, suas causas, mecanismos de prevenção e defesa dos organismos aquáticos. Neste sentido, o trabalho teve articulação com as proposições legais e do direito administrativo relacionadas com o sistema de defesa sanitária animal, o qual representa a resposta socialmente organizada aos problemas da saúde dos animais.

O tema abrange a análise dos principais agentes pato-

gênicos que podem causar danos nos bivalves de cultivo, com foco em ações a serem implementadas quando da ocorrência de enfermidade de notificação compulsória aos serviços oficiais de saúde animal. Sob o referencial histórico é anotada a ocorrência das enfermidades e de seus fatores de risco, para posterior construção de uma base racional de implementação e subsequente avaliação de programas e políticas públicas de saúde para bivalves marinhos, em especial, sugerindo políticas de melhoria de competitividade dos bivalves catarinenses, tanto para o mercado interno como para a exportação.

1.7 Estrutura deste trabalho de pesquisa

Esta pesquisa está apresentada em uma introdução que

discorre sobre o percurso metodológico para atingir o objetivo do

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estudo, destacando a opção pelo método de pesquisa qualitativa, seguida de um capítulo que apresenta o contexto e as bases científicas em que se fundamenta o estudo e mais quatro manuscritos.

O manuscrito I apresenta os resultados obtidos por meio de uma pesquisa de campo, a qual analisou as abordagens dos diferentes atores da aquicultura naquilo que se refere ao entendimento quanto às enfermidades de notificação compulsó-ria e as ações do Estado na defesa sanitária animal.

O manuscrito II apresenta a construção institucional e organizacional do serviço estadual de defesa sanitária animal, o qual analisou o grau de fragilidade e limitações do órgão executor, com vistas à área de atuação do Programa Nacional de Sanidade dos Animais Aquáticos - PNSSA.

O manuscrito III apresenta uma revisão sistematizada da literatura que teve por objetivo coligar registros relacionados com a ocorrência de enfermidades em bivalves marinhos. Este estudo tratou a identificação dos principais agentes etiológicos capazes de causar agravos à saúde dos bivalves e, comparou com os achados em pesquisas realizadas em Santa Catarina. A partir da identificação dos agentes foi realizada consulta ao Código Sanitário para Animais Aquáticos do OIE para averiguar se estes constavam ou não na lista e, posteriormente, verificou-se por meio de oitivas e análise de documentos se os serviços oficiais de saúde animal apresentavam um sistema de vigilância epidemiológica estruturado para ações em sanidade de bivalves.

O manuscrito IV recupera os resultados dos estudos sobre a infestação por poliquetas do gênero Polydora em ostras Crassostrea gigas na Praia da Ponta do Sambaqui, neste momento apresentado com vistas ao PNSAA. Nos locais de coleta das amostras foram avaliados os parâmetros físico-químicos da água do mar e os animais foram submetidos à análise da área ocupada pelo anelídeo nas valvas e amostras dos tecidos e órgãos internos foram submetidas a análises histológicas para verificação das condições morfológicas.

Finalizando são apresentadas as conclusões e sugestões de estratégias que podem ser implementadas em sanidade de bivalves, com vistas a manutenção da saúde animal e a potencial garantia sanitária para a conquista de mercados externos.

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CAPÍTULO I

A DEFESA SANITÁRIA ANIMAL: apresentando o referencial teórico e construindo o objeto de estudo

O presente capítulo tem por objetivo trazer à luz do saber

os principais referenciais que norteiam os conceitos de saúde e agravos à saúde dos animais, com vistas ao entendimento das ações do setor público em casos específicos.

A importância deste item está em colaborar para o esclarecimento dos principais eventos e marcos jurídicos que nortearam a construção dos serviços oficiais de saúde animal e as formas pelas quais se expressam as funções e obrigações destes serviços na maricultura catarinense, bem como os com-promissos do Brasil no mercado mundial. Neste sentido, apre-sentou-se de maneira resumida um histórico do sistema nacional de defesa sanitária animal, as instituições nacionais e internacionais que dizem respeito ao tema, assim como os acor-dos e tratados na soberania nacional. A partir deste conhe-cimento, espera-se contribuir para que o setor organizado da maricultura de bivalves possa formular propostas que permitam enfrentar a ocorrência de possíveis eventos de enfermidades com o mínimo de prejuízos e uma maior cooperação entre o setor público e privado.

1. A EPIDEMIOLOGIA E A VIGILÂNCIA ZOOSANITÁRIA

Naquilo que diz respeito à saúde dos bivalves, pertinente

se faz determinar algumas terminologias necessárias para uma melhor compreensão do assunto. Muitos dos textos apresen-tados na língua inglesa utilizam termos como disease – illness – sickness, os quais não encontram equivalência terminológica em português.

Os epidemiologistas brasileiros, Almeida Filho e Rou-quayrol (2006) propõem uma equivalência destes termos em português, muito embora reconheçam algum grau de arbitrariedade: disease = doença; illness = moléstia e sickness = enfermidade.

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A escolha dos significantes “moléstia” e “enfermidade” como correspondente aos termos em inglês são justificadas pelos autores da seguinte maneira:

a) a palavra moléstia, por ter origem em “mal estar” e, portanto indicando sentimento ou percepção subjetiva do sofrimento;

b) o termo enfermidade está diretamente associado ao caráter de reação social à doença, uma vez que sua etimologia vem de conter, fechar (fermer, do idioma francês que significa fechar). O termo enfermaria originalmente significava o lazareto, local onde eram mantidas as pessoas acometidas de doença contagiosa.

Por seu turno, a Organização Mundial da Saúde - OMS adota a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapa-cidade e Saúde – CIF como uma linguagem padrão e uma estrutura para a descrição de saúde e dos estados relacionados à saúde dos humanos. Todavia, se buscarmos uma tradução no dicionário Oxford, disease significa uma condição anormal de um organismo que prejudica as funções corporais. As doenças são geralmente causadas por microrganismos que penetram o hospedeiro e podem ser transferidos para outro hospedeiro. Em seres humanos, o termo se refere mais frequentemente para qualquer condição que provoca desconforto, disfunção, angústia, problemas sociais, podendo resultar em óbito das pessoas atingidas, ou mesmo, resultar em problemas semelhantes para aqueles em contato com estas pessoas. Por seu turno, illness é utilizado para descrever o estado geral de mal estar e do tempo durante o qual o indivíduo não está bem. Enquanto que sickness é definido com um estado particular de disfunção que impede trabalhadores de comparecer ao trabalho, ocasionando um custo econômico representado pela ausência do funcionário, sem considerar ainda, os custos com medicamentos, médicos, internações entre outros.

Um conceito mais amplo sobre saúde estabelecido pelo OMS refere-se a um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença. Neste sentido, o conceito de saúde animal apresenta particularidades que o diferenciam muito da saúde humana em razão de uma série de fatores. O enfoque econômico, ou a finalidade produtiva da

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população animal, exige a utilização de indicadores econômicos ou físico-econômicos para definir o estado de saúde.

Em se tratando da saúde de bivalves, esta pode ser entendida como um estado de perfeito equilíbrio entre o animal, o agente etiológico e o ambiente. A enfermidade, contrariamente, representa a perda deste equilíbrio entre os diferentes elemen-tos, acrescido de outro fator, não desprezível, que é a inter-venção humana.

Importante ressaltar que, na medida em que o conhecimento sobre as enfermidades infectocontagiosas evo-luiu, principalmente durante o século XIX, o avanço do conhe-cimento epidemiológico buscou fundamento no sentido de identificar os mecanismos de transmissão das enfermidades e de controle de epidemias. Entretanto, a aplicação do raciocínio epidemiológico foi somente iniciada no século XX (ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2006).

Neste sentido, podemos entender a epidemiologia, conforme descrito pela Associação Internacional de Epide-miologia (IEA)1 como sendo “o estudo dos fatores que determi-nam a freqüência e a distribuição das enfermidades coletivas”.

Outra conceituação a ser considerada pode ser a oferecida pelos estudiosos em epidemiologia, Almeida Filho e Rouquayrol (2006) como:

A ciência que estuda o processo saúde-enfermidade na sociedade, analisando a distribuição populacional e fatores deter-minantes do risco de doenças, agravos e eventos associados à saúde, propondo medidas específicas de prevenção, con-trole ou erradicação de enfermidades, danos ou problemas de saúde e de pro-teção, promoção ou recuperação da saúde individual e coletiva, produzindo informa-ção e conhecimento para apoiar a tomada de decisão no planejamento, administra-ção e avaliação de sistemas, programas, serviços e ações de saúde.

Atualmente, a epidemiologia é entendida como a ciência

que produz estudos descritivos sobre as enfermidades em geral, 1 http://www.dundee.ac.uk/iea/

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transmissíveis ou não, emprega medidas de avaliação e controle e desenvolve estudos que propiciam elementos para o esclarecimento dos fatores determinantes do processo saúde-doença (ROUQUAYROL 1994).

Por seu turno, estudiosos como Ishizuka (2003) definem os objetivos da epidemiologia como sendo: (1) a determinação da origem de uma doença (rastreamento); (2) a investigação e controle de enfermidades de etiologia inicialmente desconhecida; (3) a obtenção de informações sobre a ecologia e história natural de doenças; (4) o planejamento e monitoramento de programa de saúde animal e de medicina veterinária preventiva e (5) a avaliação econômica e análise de custo e benefícios de programas alternativos de saúde animal.

Anota-se que para a instituição de qualquer programa de controle ou erradicação de uma enfermidade em uma população animal, este deve ser baseado no conhecimento do nível de ocorrência desta enfermidade na população, assim como nos fatores associados à sua ocorrência. Igualmente, é preciso conhecer as estruturas necessárias para seu controle, bem como avaliar o custo-benefício envolvido nesta ação.

Assim, para os serviços veterinários tratarem a ocorrência de uma doença transmissível numa população, necessário se faz a prévia avaliação de uma determinada sucessão de eventos referenciados como cadeia epidemiológica e cujos cinco principais elos são representados pelos elementos abaixo referenciados:

1- Fonte de infecção (FI): aqui entendida como um hospedeiro que alberga um determinado agente etiológico e que pode eliminar tal agente de seu organismo;

2- Via de eliminação (VE): entendido como o acesso pelo qual o agente patogênico atinge o meio exterior ao abandonar o hospedeiro;

3- Via de transmissão (VT): entendido como o meio ou veículo pelo qual o agente atinge um novo hospedeiro;

4- Porta de entrada (PE): entendido como o acesso pelo qual o agente patogênico penetra no organismo de um novo hospedeiro. É a via de penetração que vai garantir a propagação do agente na população;

5- Susceptível (S): entendido como todo o organismo passível de ser infectado por um determinado agente patogênico.

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A cadeia epidemiológica de animais aquáticos deve considerar, ainda, como fatores relevantes os componentes ecológicos2 das enfermidades, tais como:

1. Fatores relacionados com o agente etiológico: consiste em identificar se os agravos são causados por agente físico, químico ou biológico. Em caso do agente ser um microrganismo, deve ser considerado suas propriedades biológicas como a estrutura (vírus, bactéria, fungo etc.), a infectividade (capacidade de o agente patogênico estabelecer-se no hospedeiro), a patogenicidade (capacidade de um agente biológico causar doença em um hospedeiro susceptível) e a virulência (grau de patogenicidade de um agente infeccioso);

2. Fatores relacionados com o hospedeiro: conhecer a susceptibilidade e a resistência do hospedeiro sob os aspectos anatômicos, fisiológicos e imunológicos. Da mesma forma, avaliar as características intrínsecas (espécies, raça, sexo, idade, resistência individual) e as características extrínsecas (estado fisiológico, utilização);

3. Fatores relacionados com o ambiente: avaliar as condições físicas (clima, hidrografia), biológicas (ma-nejo, densidade e utilização) e socioeconômicas (educação, tecnificação, recursos financeiros).

Importante registrar que em complemento aos estudos epidemiológicos e associado aos avanços nos estudos da microbiologia, surgiu no final do século XIX o conceito de vigilância, cujo principal objetivo foi servir como instrumento alternativo à prática restritiva da quarentena. A vigilância, como um instrumento de saúde, necessitava do envolvimento na manutenção do alerta responsável e a observação dos contatos de pacientes das chamadas doenças pestilenciais. Seu propósito era detectar doentes já em seus primeiros sintomas, para a rápida instituição do isolamento (WALDMAN, 1991). 2 O glossário utilizado foi extraído do Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – 6. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2005. 816 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos)

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O termo Vigilância Epidemiológica passou a ser usado em meados da década de 50, tendo como fundamento instituir um conjunto de atividades necessárias ao controle da saúde pública. No Brasil, mais especificamente para o controle da malária.

Langmuir (1963) definiu vigilância como sendo: observação contínua da distribuição e tendências da incidência de doenças mediante a coleta sistemática, consolidação e avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como de outros dados relevantes, e a regular disseminação dessas informações a todos que necessitam co-nhecê-las.

Por seu turno, Thacker e Stroup (1994), afirmam que a vigilância epidemiológica deve ser entendida como:

contínua e sistemática coleta, análise e interpretação de dados sobre específicos eventos que afetam a população, seguida da rápida disse-minação desses dados analisados aos respon-sáveis pelas atividades de prevenção e controle.

A aplicação destes princípios para a maricultura deve considerar, entre outros preceitos, que os conhecimentos ci-entíficos sobre a relação entre agente patogênico e enfermidade evoluem constantemente e que a presença de um patógeno não implica necessariamente na presença de uma enfermidade. Dentro deste entendimento, os serviços oficiais necessitam manter atualizados seus registros de ocorrências de morta-lidades e morbilidade nos cultivos. Assim, todas as entidades, es-tabelecimentos de cultivos, associações, cooperativas, produ-tores ou terceiros deverão comunicar celeremente ao serviço oficial as informações referentes à presença de enfermidades ou de patógenos nos animais. Da mesma forma, é responsabilidade dos proprietários dos animais ou seus prepostos, adotar todas as medidas para deter a propagação de enfermidades em animais e dos agentes etiológicos com fins de facilitar o controle em casos de emergências. Maiores detalhes sobre os procedimentos le-gais referentes ao serviço de defesa sanitária animal serão for-necidos mais adiante.

A frequência e distribuição da enfermidade, a acurácia no diagnóstico, a necessidade de uma resposta rápida e a

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severidade da doença constituem fatores que, de um modo geral, determinam qual o tipo de vigilância é mais efetiva e eficiente.

Para o desempenho da vigilância epidemiológica como instrumento de saúde, é fundamental a disponibilidade de informações que sirvam para subsidiar o desencadeamento de ações-informação para a ação. A informação deve ser apro-priada para permitir estabelecer um processo dinâmico de planejamento, avaliação, manutenção e aprimoramento das ações.

Por seu turno, a qualidade da informação está diretamente envolvida com a adequada coleta de dados. Estes dados, para se constituírem em um poderoso instrumento precisam ser gerados no local onde ocorre o evento sanitário (dado coletado) e é nesse nível que os dados devem primeiramente ser tratados e estruturados.

Vale lembrar que a coleta de dados ocorre em todos os níveis de atuação do sistema de saúde. A eficácia e o valor da informação dependem da qualidade e fidedignidade com que o mesmo é gerado. A informação consiste no dado a ser analisado e por este motivo, é essencial que as pessoas responsáveis pela coleta destas informações estejam familiarizadas com a maricultura de bivalves. Outro aspecto relevante em se tratando da coleta de dados, diz respeito à quantidade do dado gerado, ou seja, sua representatividade em função do problema existente. Os serviços oficiais devem preparar e manter atualizados os profissionais para diagnosticar corretamente casos em mari-cultura de bivalves, como também para realizar uma boa inves-tigação epidemiológica, com anotações claras e confiáveis para que permitam alcançar confiabilidade. Este procedimento é iden-tificado como vigilância epidemiológica passiva.

O sistema de vigilância epidemiológica trabalha diversos tipos de dados, não obstante a notificação de casos suspeitos e/ou confirmados de doenças objetos de declaração compulsória, feita às autoridades sanitárias, pelo produtor ou por qualquer cidadão, representa a base dos dados e visa à adoção das medidas de intervenção pertinentes.

A simples suspeita da doença representa objeto de notificação, não sendo necessário aguardar a confirmação do caso, pois isso pode implicar perda da oportunidade de adotar as medidas de prevenção e controle indicadas.

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No processo de reconhecimento e notificação de uma doença, três bases são determinantes: o proprietário, o médico veterinário e o laboratório de diagnóstico (SALIKI, 2000). A notificação compulsória de casos e surtos de doenças aos serviços oficiais de saúde animal é dever de todo cidadão, estando previsto no Decreto Lei3 24.548/34 e uma obriga-toriedade dos profissionais da medicina veterinária.

Para fins de vigilância epidemiológica são utilizados diver-sos tipos de dados, provenientes de diferentes fontes. A Secre-taria da Agricultura do Estado do Paraná4 relaciona entre os prin-cipais tipos de dados, os que seguem:

1. Dados Demográficos e Ambientais: são aqueles que permitem quantificar a população alvo (número de animais e características de sua distribuição local, condições climáticas, ecológicas, saneamento e sistema de produção. Ex.: densidade de bivalves por área de produção). Estes dados podem ser obtidos por meio do cadastro de produtores, de cooperativas ou associações de produtores, dos serviços de extensão rural, de notificação de casos e surtos (vigilância passiva), de investigação epidemiológica, de busca ativa (vigilância ativa) de casos, de estudos amostrais e de inquéritos, entre outras formas. Ex.: Coeficiente de Prevalência, Coeficiente de Incidência.

2. Dados de Mortalidade: estes dados dizem respeito à taxa estimada de mortalidade na população em questão. Em maricultura estes dados são obtidos por meio de informações prestadas pelo maricultor ou seu representante legal. Todavia trata-se de um dado impreciso, baseado em estimativas e subregistro. Mesmo assim, trata-se de um dado que assume importância significativa como indicador de saúde. Ex: taxa de mortalidade de verão (Summer mortality).

3. Notificação de Surtos ou Epidemias: um sistema de vigilância epidemiológica bem estruturado, com acompanhamento constante da situação geral de saúde

3 Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/sislegis> 4 Paraná. Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. Epidemiologia veterinária e sistema de informação em saúde animal. 4 ed./Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento ; Maria do Carmo Pessoa Silva (org.). – Curitiba: SEAB, 2008. 46 p.l.

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animal e da ocorrência de casos de cada doença e agravo sujeito à notificação, terá melhores condições para uma detecção precoce de focos e epidemias. Essa prática possibilita a constatação de qualquer indício de elevação do número de casos de uma patologia, bem como a prevenção na difusão de uma doença introduzida no local e consequentemente o diagnóstico de uma situação epidêmica inicial possibilitando a adoção imediata das medidas de controle. Esses fatos devem ser comunicados aos níveis superiores dos serviços oficiais de saúde animal para que sejam alertadas as áreas vizinhas e/ou para solicitar colaboração.

4. Notificação de Enfermidades Exóticas e ou em Erradi-cação: o serviço oficial deve estar preparado para identificar a ocorrência de sinais sugestivos de ocorrência de atividade de alguma doença ou agravo de causa conhecida, ou do comportamento não usual de uma doença definida, tanto nos bivalves de cultivo como naqueles em seu habitat natural.

5. Dados de laboratório: os laboratórios e as instituições de pesquisa constituem recursos valiosos para a identificação de agentes patogênicos e para detecção de doenças sujeitas à notificação, devendo sua participação, como fonte de notificação, ser estimulada.

6. Rumores vindos da comunidade, notícias de jornais e outros meios de comunicação: não raro, os jornais, a televisão, o rádio ou as pessoas da comunidade são os primeiros a tomar conhecimento e alertar as autoridades sanitárias sobre a possível ocorrência de casos e epidemias. Estas notícias devem ser levadas em consideração pelos serviços oficiais de saúde animal, pois que, se investigadas, são valiosas para identificação precoce de problemas.

Os avanços tecnológicos e a globalização têm facilitado o intercâmbio de informações e a determinação de uma base segura de registros da ocorrência e prevalência de determinadas doenças (HARE, 2002).

Alguns dos avanços recentes na ciência têm auxiliado na determinação da condição da saúde animal de maneira muito

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mais precisa e confiável. Exemplos de algumas destas tecno-logias e como elas tem sido utilizadas são relatados a seguir:

a. Tecnologia de diagnóstico avançada permite o reconhecimento e a diferenciação entre tipos, subtipos e linhagens de agentes etiológicos de animais. Exemplo: a reação em cadeia da polimerase fornece um método extremamente sensível para detectar traços de ácidos nucléicos em produtos de origem animal, como ocorreu no surto da enfermidade das manchas brancas em camarões marinhos (MACIEL e MARQUES, 2002);

b. A prática da análise de risco quando da movimentação de animais vivos ou de seus produtos e subprodutos tem se tornado de grande importância na prevenção e no controle de enfermidades. Exemplo: os Estados Unidos fazem bloqueio à movimentação de ostras da região do Atlântico para o Pacífico devido à ocorrência da enfermidade Haplosporidiose (APHIS, 2008).

Entretanto, mesmo frente à contínua evolução técnico-científica, dos cuidados sanitários incrementados, das novas formas de prevenção e da combinação de esforços técnicos e políticos, nenhuma criação animal do mundo está imune às doenças.

Com o propósito de harmonizar procedimentos naquilo que diz respeito às enfermidades dos animais aquáticos, o Office International de Epizooties - OIE publicou o Código Sanitário para os Animais Aquáticos, o qual se constitui em documento essencial para os serviços veterinários oficiais, pois contém normas e diretrizes detalhadas das medidas sanitárias que devem ser aplicadas para evitar a transmissão de agentes patogênicos aos animais ou as pessoas e, ao mesmo tempo, evitar a criação de barreiras sanitárias injustificadas. Neste sentido, o OIE também publicou o Manual de Ensaios para Diagnóstico para os Animais Aquáticos, o qual padroniza procedimentos de laboratório, permitindo harmonização de procedimentos, para que os diagnósticos realizados em dife-rentes países tenham equivalência para fins epidemiológicos.

Vale salientar que as atividades desenvolvidas pelo OIE consistem, fundamentalmente, em proporcionar à comunidade internacional as possíveis diretrizes que possibilitem controlar as enfermidades dos animais e as zoonoses e, se possível, eliminá-

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las. Para tanto, o OIE oportuniza um diálogo permanente entre seus países membros, reunindo em bancos de dados os registros epidemiológicos e científicos.

Por sua vez, este banco de dados recebe a armazena o conjunto de informações sob a forma de uma estrutura regular, contendo os seguintes dados:

a) Informação sanitária

I. cada país membro notifica ao OIE as enfermidades dos animais detectadas em seu território. Por sua vez, o OIE comunica essa informação a todos os demais países membros para que possam planejar instrumentos de autoproteção;

II. as informações e publicações do OIE apresentam origem unicamente em informações oficiais, validadas pelos poderes públicos de cada país membro. Entretanto o OIE, igualmente, possui um sistema de pesquisa ativa de informações não oficiais e interroga diretamente, se necessário, as autoridades nacionais para confirmar ou invalidar rumores;

III. a publicação em tempo real da situação das enfermidades animais e zoonoses no mundo é uma das missões históricas do OIE que justificou em grande parte sua criação.

Vale ressaltar que a pesquisa permanente da confi-abilidade das informações transmitidas à comunidade interna-cional constitui para o OIE e os chefes dos serviços veterinários dos países membros uma grande responsabilidade. Qualquer deficiência nesse campo pode ter consequências catastróficas nos Países Membros, bem como em outras partes do mundo (VALLAT, 2003).

b) Informação científica: com a finalidade de recolher,

analisar e divulgar informações científicas o OIE dispõe de uma rede mundial de laboratórios de referência, bem como de centros colaboradores, acreditados em seus países pela autoridade sanitária nacional. Esta estrutura proporciona ao OIE as con-dições necessárias para, sobre bases científicas objetivas, pro-por diretrizes para as normas internacionais.

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O Código Sanitário para os Animais Aquáticos, supra mencionado, contém uma lista de enfermidades que representam obrigações dos países membros notificar a suspeita ou ocor-rência. Uma enfermidade para ser incorporada à lista deve atender alguns requisitos essenciais, quais sejam:

a) a enfermidade causa perdas significativas de produção em nível nacional ou multinacional (zonas ou regiões);

b) provas científicas indicam que é provável que a enfermidade possa afetar as populações naturais de animais aquáticos, as quais representam um bem que merece proteção por motivos econômicos ou ecológicos;

c) o agente patogênico representa perigo para a saúde humana;

d) está demonstrada a etiologia infecciosa da enfermidade; e) foi estabelecida uma estreita relação entre um agente

infeccioso e a enfermidade, mas a etiologia ainda é desconhecida;

f) existe potencial de disseminação internacional da enfermidade por meio de animais vivos, seus produtos ou fômites;

g) vários países ou regiões podem ser declarados livres da doença, de acordo com os princípios gerais de vigilância des-critos no Manual de diagnóstico para Animais Aquáticos;

h) existe um método de diagnóstico ou de detecção confiável e acessível.

Com respeito à lista de enfermidades de moluscos do OIE, na última sessão da Comissão foram aprovadas algumas modificações no Código ficando incluídas aquelas causadas pelos protozoários Bonamia ostreae, Bonamia exitiosa, Marteillia refringens, Perkinsus marinus, Perkinsus olseni e Xenohaliotis californiensis. As referências destas enfermidades estão disponíveis no sítio eletrônico do OIE, no endereço <http://www.oie.int>.

Conquanto o referido Código arrole algumas enfermi-dades, os serviços veterinários oficiais recomendam observar outras enfermidades importantes e que incluem:

a) enfermidades graves com ampla distribuição geográfica; b) enfermidades que provocam taxas de mortalidade

preocupantes são transmissíveis e tenham uma área de

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extensão limitada, porém os agentes etiológicos ainda não estão identificados;

c) enfermidades que podem causar perdas consideráveis, porém são demasiadamente novas para que se possa deter-minar sua área de extensão ou que se conheçam seus elementos epidemiológicos essenciais (BRASIL; MAPA, 2007).

Em síntese, um sistema competente de vigilância epi-demiológica aplicado a maricultura de bivalves, necessita ter capacidade para identificar padrões de comportamento de eventos adversos à saúde dos bivalves, investigar surtos epidêmicos e desenvolver investigações epidemiológicas com-plementares. Da mesma forma, necessita manter intercâmbio com sistemas internacionais de vigilância e oferecer subsídios às autoridades sanitárias para a implementação de respostas rápidas dirigidas ao controle de problemas de saúde e riscos específicos. Além disso, deve dispor de laboratórios de referência e laboratórios credenciados em condições de garantir a rápida identificação dos agentes, para a consequente imediata inter-venção do serviço oficial no controle de ameaças emergentes.

Somente um sistema nacional de defesa sanitária para animais aquáticos, bem estruturado e organizado poderá ofe-recer oportunidade de competitividade no mercado internacional aos produtos da aquicultura brasileira. Vale lembrar que o Brasil está entre os maiores produtores e exportadores mundiais de carne bovina, avícola e suína devido a sua condição em atender às exigências de importação de mais de 200 países.

2. O SERVIÇO OFICIAL DE SANIDADE ANIMAL: as

instituições nacionais e as relações internacionais

As facilidades atuais de transporte reduziram o binômio tempo-distância e permitiram que a movimentação animal globalizada ocorresse de maneira amplificada. Esta condição tem sido identificada como fator facilitador da disseminação de agentes patogênicos com consequente aumento dos riscos rela-cionados às questões sanitárias. Os impactos desta tendência de aumento dos problemas sanitários podem ser muito significativos e até potencializados se os países não conseguirem efeti-vamente estabelecer regras claras e amplamente aceitas, e, com planejamento que atenda aos compromissos assumidos. Exem-

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plificando podemos citar os casos de excessos praticados por alguns países importadores de produtos de origem animal do Brasil, mais especificamente do setor de carnes, que, teoricamente, seguem os preceitos do OIE e da OMC, mas que adotaram restrições acima das necessárias diante dos casos de febre aftosa ocorridos nos Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul e, perante os conhecimentos e orientações preconizados pela base científica emanada da Comissão Técnica do OIE.

Anota-se que a motivação destes excessos encontra lastro nas dificuldades do Brasil em obter a condição de livre da enfermidade da febre aftosa para todo o território nacional, somado ao fato da presença da enfermidade nos países vizinhos sul americanos. Esta condição oportuniza para que alguns países que não reconhecem o princípio da regionalização e seus des-dobramentos pratiquem a proibição de importação de carne bovina brasileira in natura pelos EUA e pelo Japão e outros países do Pacific Rim5. Contudo, outros países exigentes em qualidade e sanidade, como os da União Européia, têm acatado com maior transparência a regionalização, importando o produto do Brasil, em escala crescente. Ou seja, tais países compram carnes das áreas reconhecidas livres de febre aftosa com vacinação dentro dos princípios estabelecidos pelo Acordo SPS e dos procedimentos preconizados pelo OIE de controle e erra-dicação da doença.

Utilizaram-se como exemplos para destacar a importância dos serviços oficiais de defesa sanitária animal em casos ocorridos com animais terrestres, devido à importância destes a-nimais para o agronegócio brasileiro e a balança comercial na-cional. Entretanto, fatos semelhantes ocorrem com animais aquáticos, como é o caso dos termos da Decisão 2004/453/CE da Comissão, com referência a viremia primaveril das carpas (VPC). Esta decisão regulamenta que os territórios ou partes dos territórios da Dinamarca, da Irlanda, da Finlândia, da Suécia e do Reino Unido foram declarados indenes de VPC ou estão abrangidos por programas de controle e erradicação. Anota-se, que pelo fato de alguns destes países apresentarem sistemas

5Pacific Rim: Conjunto de países e regiões ao redor do Oceano Pacífico com interesse políticos,econômicos e ambientais em comum. É composto por Austrália, Cambodia, Canadá, China, Indonésia, Japão, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Malásia, México, Nova Zelândia, Nova Guiné, Rússia, Singapura, Taiwan, Tailândia, EUA, Vietnã, e várias ilhas do Pacífico.

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nacionais de defesa animal que contempla programas de controle e erradicação de enfermidades, esses países membros podem exigir garantias complementares para a introdução nos referidos territórios de espécies sensíveis à VPC. Por analogia pode-se inferir que, se o Brasil não possui um real e concreto sistema de defesa animal, com minudências para a maricultura de bivalves, por conseguinte, não poderá exigir garantias sanitárias complementares para a introdução em seu território de espécies susceptíveis as enfermidades que podem acarretar danos à saúde dos bivalves.

Vale ressaltar que a suspeita/ocorrência de enfermidade registrada por primeira vez no país ou ainda, enfermidade emergente ou de ocorrência após amplo período de sua erradicação, deve ser notificada às autoridades de saúde animal. Os profissionais das unidades veterinárias locais (UVL) re-presentam a primeira linha de defesa contra a difusão de uma enfermidade. O reconhecimento de casos suspeitos e a ime-diata comunicação para as autoridades estaduais e/ou federais é o passo mais crítico de um programa de controle de enfermi-dade. Na medicina de animais terrestres, os médicos veterinários no exercício da profissão historicamente têm sido as primeiras pessoas a entrarem em contato ao suspeitarem de um surto de doença exótica animal. Os laboratórios de ensaios para diag-nóstico são também locais comuns de detecção inicial de uma enfermidade exótica. Especialistas de indústrias e docentes de universidades frequentemente ajudam na investigação inicial de um surto suspeito de uma enfermidade exótica. Estes incluem epidemiologistas, patologistas, especialistas de espécies e biólogos. Se um programa de erradicação é ativado, os profissi-onais mencionados anteriormente, autoridades locais, produtores, comerciários, indústria e os demais atores envolvidos no seguimento devem agir em cooperação com os órgãos estaduais e federais para auxiliar na ação de emergência. Existindo uma possibilidade de confirmação de ser uma enfermi-dade exótica, então o passo seguinte é a imediata comunicação à Superintendência Federal de Agricultura na Unidade Federativa aonde se localiza o cultivo.

Para melhor compreensão foi elaborado um fluxograma das ações compulsórias que os serviços veterinários oficiais devem executar quando da ocorrência de foco de enfermidade

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prevista em lei, o qual vai apresentado abaixo.

Suspeita de enfermidades de notificação obrigatória

Por oportuno, vale lembrar que o Código Sanitário reco-nhece que a presença de um agente infeccioso não implica ne-cessariamente na presença da enfermidade clínica, isto é, o Có-digo Sanitário reconhece que a detecção da infecção na ausên-cia da enfermidade clínica pode ser suficiente para constituir um caso que necessite ser declarado. Esta situação é particularmen-te relevante em se tratando de animais aquáticos, onde o hospe-deiro e o meio ambiente influenciam de maneira significativa o grau em que uma infecção subclínica poderá tornar-se clínica ou, ainda, onde os animais que sobrevivem a uma infecção poderão tornar-se veículos do agente por toda sua vida. Dentro deste en-foque, a Comissão Internacional propõe equiparar a identificação de fragmentos genômicos com a presença de um agente infec-cioso viável no hospedeiro e com a presença de um processo infeccioso em uma determinada população (MACIEL, 2002).

A preocupação da Comissão Internacional do OIE, naquilo que faz referência a segurança de ausência de uma enfermidade é citado por Maciel (2002) ao apontar a reunião da Comissão realizada em setembro de 2001, a qual propõe disposições do reconhecimento denominado “avô” quanto à ausência de uma enfermidade, ou seja, o reconhecimento baseado na ausência histórica da enfermidade.

Sacrifício Sanitário

Notificação do foco ao serviço veterinário oficial

Introdução de Sentinela

Interdição e rastreamento

epidemiológico

Fiscalização do foco pelo SVO

Desinfecção Monitoramento

Monitoramento

Vazio Sanitário

Encerramento do Foco

Abate Sanitário

Figura 1: fluxograma referente às ações a serem executadas pelos serviços

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2.1. A FORMAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE DEFESA SANITÁRIA ANIMAL

No Brasil, o Serviço Nacional de Defesa Sanitária Animal

completou 75 anos de atuação, tendo sido criado por meio do Decreto nº 25.548, durante o governo provisório de Getúlio Vargas (BRASIL, 2009). O regulamento, anexo ao decreto, prevê normas para importação e exportação de animais e produtos de origem animal. Traz, ainda, as regras para inspeção em portos e postos de fronteiras, para o trânsito de animais e para a fiscalização de mercados e feiras de animais vivos, além das medidas preventivas para combater as doenças infectoconta-giosas. A lei também concede aos serviços veterinários, livre acesso às propriedades rurais, estabelecimentos de criação, depósitos, armazéns, estações de trem, aeroportos, portos, navios atracados ou não, alfândegas e quaisquer outros lugares onde estiverem animais e despojos a inspecionar.

Desta maneira, importante salientar a necessidade do en-tendimento da sociedade naquilo que se refere ás competências de cada instituição e de cada ator participante da cadeia produti-va da maricultura de bivalves com a finalidade do cumprimento da lei e do legal exercício de suas atribuições e compromissos com os serviços veterinários. O Decreto 24.458/34 regulamenta o Serviço de Defesa Sanitária Animal no Brasil e deste regulamen-to emanam as ações que devem ser aplicadas na salvaguarda da condição sanitária dos animais (terrestres e aquáticos) de produção e cujas consequências possam atingir a economia do Estado ou suas relações no comércio internacional.

Assim, a proposta desta abordagem consiste em gerar a compreensão sobre a participação dos serviços veterinários no contexto mundial da saúde animal e a aquicultura como um item dos compromissos assumidos pelo Brasil perante a comunidade mundial.

Ademais, visando contribuir para o entendimento de que muitas das ações pertinentes as atividades da defesa sanitária animal ultrapassam as regras domésticas para encontrar funda-mento em acordos internacionais, muitos deles considerados de segurança nacional, será apresentado um tópico específico com breve relato histórico das relações do Brasil com o mercado ex-terno.

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No entanto, antes de abordar diretamente os tópicos referentes às instituições nacionais com inferência na defesa sanitária animal serão apresentados alguns aspectos do Direito Administrativo pertinentes ao estudo em foco.

Por conseguinte, vale salientar que a defesa sanitária animal, assim como a defesa civil fazem parte dos deveres da administração pública e como tal devem seguir os princípios próprios desta esfera, dentre eles o da legalidade.

Entende-se legalidade, como um princípio da administração pública, previsto no ordenamento jurídico brasileiro (CF, art. 37, caput), que, segundo Meirelles (2003) significa:

que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.

Por sua vez, as ações de polícia sanitária exercida pelos agentes da defesa sanitária animal dispõe de um elastério muito amplo e necessário a adoção de normas e medidas especificas, requeridas por situações de perigo presente ou futuro que lesem ou ameacem lesar a saúde e a segurança dos indivíduos e da comunidade. Por esta razão o Poder Público dispõe de amplo discricionarismo na escolha e imposição das limitações de hi-giene e segurança em defesa da população (MEIRELLES, 2003).

Ademais, deve-se considerar que “as leis administrativas são, normalmente, de ordem pública e seus preceitos não podem ser descumpridos, nem mesmo por acordo ou vontade conjunta de seus aplicadores e destinatários, uma vez que contêm verdadeiros poderes-deveres, irrelegáveis pelos agentes públi-cos. Por outras palavras, a natureza da função pública e a finalidade do Estado impedem que seus agentes deixem de exercitar os poderes e de cumprir os deveres que lhes impõe. Tais poderes, conferidos à Administração Pública para serem utilizados em benefício da coletividade, não podem ser renunciados ou descumpridos pelo administrador sem ofensa ao bem comum, que é o supremo e único objetivo de toda ação administrativa” (MEIRELLES, 2003).

Dimana desta característica da administração pública em contraste com a administração particular, que o servidor público

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que tiver notícia de uma suspeita de enfermidade declarável deve, por força de lei, aplicar as medidas sanitárias pertinentes, conforme já apresentado em item anterior deste estudo.

Entende-se por normas gerais de defesa e proteção da saúde aquelas regras e prescrições federais impostas tanto à União como ao Distrito Federal, aos Estados Membros e aos Municípios, objetivando orientar, neste caso, os serviços sani-tários nacional e as ações de polícia sanitária, num sentido unitário coeso, que possibilite a ação conjugada e uniforme de todas as entidades estatais em prol da salubridade pública.

Justifica-se a competência predominante da União em assuntos de higiene e saúde pública, porque em nossos dias não há doença ou moléstia que se circunscreva unicamente a deter-minada região ou cidade, em fase dos fluxos de movimentação que representam importante meio de difusão de agentes pato-gênicos para todo o país, e até mesmo de todo o orbe terrestre.

Neste diapasão, não há que se falar, portanto, em interesse regional do estado membro, ou nem mesmo em interesse local do Município, quando a matéria em questão diz respeito às garantias sanitárias. Neste caso, há de prevalecer sempre o interesse nacional, e, não raro, o internacional.

Daí por que, a Constituição Federal conferiu competência concorrente à União e aos Estados para legislar sobre tais assuntos, limitada à União as normas gerais, (CF, artigo 24, inciso XII e, parágrafo 1º). Nos aspectos de interesse local, cabe aos Municípios legislar suplementarmente à legislação federal e estadual (CF, artigo 30, inciso I e II). Portanto, as normas sani-tárias estaduais devem tão somente, complementar ou suprir eventual lacuna da legislação federal, atendendo sempre aos preceitos gerais e aos mínimos legais impostos pela União no que se refere à defesa sanitária animal.

Considerando que a legislação federal é genérica e contém exigências mínimas é lícito a cada estado membro impor condições sanitárias mais minuciosas e exigir outras que por ventura tenha a União se omitido ou deixado lacunas, em defesa da higidez de seus animais de produção. O contrário, no entanto, não é lícito, ou seja, a lei estadual ou municipal não pode ser mais branda que a federal, no sentido de diminuir as exigências, sob pena de colocar em risco a salubridade pública.

Resumindo, podemos afirmar que a responsabilidade

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sobre as atividades de defesa animal, com foco na saúde do animal ou na saúde pública veterinária são exercidas em todos os níveis das entidades: federal, estatal e municipal, incluindo os organismos internacionais. Para melhor entendimento, trans-creve-se fluxograma demonstrativo, conforme figura2.

Figura 2: fluxograma esquematizando as diferentes instâncias com atuação em saúde animal.

Organismos nacionais e internacionais

Ministério da Agricultura/ Depto. Saúde Animal INSTÂNCIA FEDERAL

Superintendência Federal de Agricultura

INSTÂNCIA ESTADUAL

Secretarias Estaduais de Agricultura

Órgãos executores de defesa animal nos estados

INSTÂNCIA PRIVADA

Participação nos processos de decisão;

Organização de

comitês estadual e municipais;

Organização de fundos privados para indenização.

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2.1.1 DEFESA SANITÁRIA FEDERAL A defesa sanitária animal, no território brasileiro, é de

competência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento - MAPA. Entretanto, o MAPA pode delegar suas competências às unidades da federação, desde que a unidade disponha de estrutura organizacional e técnica para exercer as atividades pertinentes. Compõem a infra-estrutura básica do MAPA as seguintes Secretarias: (1) de Defesa Agropecuária, (2) de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, (3) de Política Agrícola, (4) de Produção e Agroenergia, (5) de Relações Internacionais do Agronegócio e (a) da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, (b) do Instituto Nacional de Meteorologia, (c) dos Laboratórios de Referência e (d) das Superintendências nas Unidades Federativas. Especificamente, por razões deste estudo, será dado vistas apenas à Secretaria de Defesa Agropecuária, secção animal, a qual encontra estrutura no (i) Departamento de Saúde Animal, no (ii) Departamento de Inspeção de produtos de Origem Animal, no (iii) Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários e na (iv) Coordenação-Geral do Sistema de Vigilância Agropecuária (BRASIL, MAPA, 2009).

Para melhor compreensão dos diferentes níveis hierárquicos administrativos do MAPA transcrevemos organo-grama institucional, conforme figura 3.

Não é demais registrar que o Ministério da Agricultura, originalmente denominado Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, foi criado no século XIX por decisão da Assembléia Legislativa, quando da promulgação do Decreto Imperial nº. 1067 de 28 de julho de 1860, passando a integrar a estrutura formal do Gabinete do 2º Império. O primeiro ministro do Brasil foi Joaquim José Ignácio, que permaneceu no cargo por 51 dias.

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Ao completar 149 anos de serviços prestados á agropecuária nacional, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tem como missão institucional estimular o aumento da produção agropecuária e o desenvolvimento do agronegócio, com o objetivo de atender o consumo interno e formar excedentes para exportação. Como consequência deste encargo encontra-se a geração de emprego e renda, a promoção da segurança alimentar, a inclusão social, a redução das des-igualdades sociais com foco na sustentabilidade ambiental. Anota-se que o agronegócio brasileiro representa significativa parcela do produto interno bruto e fonte de renda nacional.

Neste sentido, torna-se indispensável o tratamento adequado das negociações agropecuárias internacionais naquilo que diz respeito aos aspectos sanitário e fitossanitário, en-tendendo que é crescente a exigência dos consumidores, em nível global, por alimentos saudáveis e de qualidade, aliada à preocupação com a saúde animal e a sanidade vegetal. Para

Figura 3: organograma do MAPA

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atender a esta demanda, foi criada em 2005, com a reestru-turação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, uma área que trata de temas internacionais, com atribuição específica de elaborar propostas para negociações de acordos sanitários e fitossanitários e analisar as deliberações relativas às exigências fitossanitárias que envolvem assuntos de interesse do setor agropecuário brasileiro.

Enquanto grande produtor e exportador de alimentos e de produtos agrícolas, o Brasil não pode se eximir de acatar a configuração do comércio internacional, atualmente orientada pela segurança sanitária dos alimentos sob o enfoque de cadeia produtiva e à manutenção da excelência sanitária do patrimônio pecuário e aquícola. O acesso ao mercado de exportação de alimentos, cada vez mais, continuará dependendo da capacidade de cada país em cumprir os requisitos regulatórios dos im-portadores. A conquista e a sustentação das demandas no mercado internacional pressupõem a confiança por parte dos importadores e dos consumidores da probidade dos sistemas de produção de alimentos.

Amparado em legislação específica para a preservação da qualidade sanitária animal, o Departamento de Saúde Animal (DSA) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura constitui o órgão responsável pela preservação, con-trole e erradicação de enfermidades dos animais. O DSA propõe as diretrizes da ação governamental para a saúde animal, coor-dena as atividades de vigilância zoossanitária, de profilaxia e combate a enfermidades dos animais e fiscaliza o trânsito de a-nimais e produtos de origem animal. Realiza ainda, auditoria téc-nico-fiscal e operacional, promove campanhas zoossanitárias, formula propostas, participa de negociações e acordos, tratados e convênios nacionais e internacionais e coordena gestões e pro-cedimentos frente ao OIE. No combate as enfermidades que a-cometem os animais, o DSA conta com a Coordenação Geral de Combate às Doenças, que coordena as atividades de prevenção, controle e erradicação de doenças e enfermidades dos animais, por meio de programas nacionais de sanidade animal e de estu-dos e inquéritos epidemiológicos. Ainda, promove e acompanha a aplicação de políticas de educação sanitária, bem como pro-grama e implementa a capacitação em saúde animal.

Na esteira do comércio internacional, o Brasil, como país

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membro da Organização Mundial do Comércio, tem o compro-misso de cumprir com o estabelecido no artigo sétimo (intitulado Transparência) do Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitos-sanitárias, devendo assegurar que todos os regulamentos sanitá-rios e fitossanitários, que tenham sido adotados, sejam notificados aos demais Membros, por intermédio da Secretaria da OMC. Na informação devem constar quais os produtos afetados pelo regulamento, qual o objetivo e o motivo do regulamento.

O Ponto Focal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, junto ao Comitê sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da OMC (Comitê MSF), atende solicitações sobre regulamentações e atos administrativos relacionados às medidas sanitárias e fitossanitárias adotadas pelos Membros da OMC e elabora notificações das regulamen-tações e dos atos Administrativos do Ministério relativos à saúde animal, sanidade vegetal, inocuidade e qualidade de produtos de origem animal e vegetal, sujeitos ao procedimento de notificação.

Entretanto, os Países podem adotar medidas mais restritivas que as preconizadas pelos organismos citados, desde que baseadas em conceitos técnicos científicos que justifiquem a adoção de medidas aceitáveis de risco mais elevadas que as recomendadas. Todavia, devem garantir que essas medidas não sejam aplicadas arbitrariamente, não resultem em discriminação entre os Membros com condições semelhantes e não constituam disfarce para reais restrições de mercado (OMC, 2009).

2.1.2. DEFESA SANITÁRIA ESTADUAL

Conforme citado no item anterior, o Ministério da

Agricultura pode delegar suas competências às unidades da fe-deração, desde que a unidade disponha de estrutura organi-zacional e técnica para exercer as atividades pertinentes. Vale ressaltar que a instância federal do serviço de defesa sanitária animal realiza seu trabalho em conjunto com a instância estadual correspondente, que para o caso em estudo corresponde ao Estado de Santa Catarina, nomeadamente a Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, que por sua vez executa as ações pertinentes a defesa animal por atuação da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola - CIDASC.

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Dentre as atribuições da instância federal estão a normatização e auditoria dos serviços veterinários estaduais, que capilarizam a vigilância epidemiológica, realizando o trabalho em nível de campo. A competência para desempenho do trabalho é repas-sada por meio de convênios celebrados entre as partes.

Assim, considerando que a competência da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural é delegada, sua atuação deve estar pautada dentro das determinações esti-puladas pelo órgão delegador, caso contrário poderá ser ca-racterizado abuso de autoridade ou desvio de finalidade.

Da mesma forma, o setor privado participa das ações de defesa sanitária animal interagindo com o setor público, organizando-se em associações ou cooperativas e participando de comitês municipais e estaduais, e desta forma, cumpre seu dever de cidadão e contribui no processo de decisão e, inclusive, administra fundos privados para indenização, como nos casos de ocorrência de enfermidades.

Outrora, o Serviço de Defesa Sanitária Animal do Estado de Santa Catarina era desempenhado com fundamento legal em leis, decretos, portarias e atos normativos de natureza federal. Contudo, a então Secretaria do Desenvolvimento Rural e da Agricultura, motivada pela necessidade de maior salvaguarda da saúde animal e da economia pecuária catarinense, publicou a Lei nº 10.366, de 24 de janeiro de 1997, a qual dispõe sobre a fixação da política de defesa sanitária animal e adota outras providências (SANTA CATARINA, 1997).

No que se refere à aplicação das medidas de combate às enfermidades dos animais, a Lei nº 10.366/97, em seu artigo 6º, rege:

As medidas de combate às doenças, com vistas a seu controle e erradicação, serão aplicadas prioritariamente sobre as doenças transmissíveis e parasitárias com grande poder de difusão, cujas consequências sócio-econômicas e de saúde pública possam ser graves e que interfiram no comércio interno, interestadual ou internacional de animais vivos, seus produtos e subprodutos.

A mesma lei reforça as exigências do Decreto nº 24.548/34 e também rege sobre a obrigação de declaração de determinadas enfermidades, conforme redação do artigo 8º:

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Os médicos veterinários, os proprietários de animais ou seus prepostos, ou qualquer cidadão que tenha conhecimento ou suspeita da ocorrência de uma das doenças animais a seguir relacionadas, são obrigados a comunicar o fato imediatamente à unidade local do órgão executor [...].

O artigo 8º traz ainda em seus parágrafos, primeiro e segundo, a redação a seguir:

§ 1º É igualmente obrigatória a notificação da ocorrência ou suspeita de qualquer doença não identificada anteriormente no País ou no Estado.

§ 2º A presente lista de doenças poderá ser alterada através de ato normativo da Secretaria do Desenvolvimento Rural e da Agricultura, por proposta do órgão executor, sempre que necessário, levando-se em conta o aparecimento de novas doenças, os estudos epidemiológicos e a análise de risco.

Já o artigo 9º rege sobre as penalidades quando do não cumprimento do disposto nesta Lei, sendo a redação do artigo 9º:

A infração ao disposto no artigo anterior deverá ser devidamente apurada pelo órgão executor que, se foi o caso, além das penalidades administrativas, representará contra o infrator junto ao Ministério Público para apuração das responsabilidades cabíveis.

Neste sentido, também em nível federal o legislador preocupou-se com a defesa animal e, na Lei de Crimes Ambientais — Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 —, acolheu a proteção indistinta dos animais, sendo que as principais refe-rências à fauna estão nos seguintes artigos:

Art. 31: Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico favorável e licença expedida por autoridade competente.

Pena: detenção de três meses a um ano, e multa.

Art. 54: Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a

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mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.

Pena: reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Crime culposo:

Pena: detenção, de seis meses a uma ano, e multa.

Art. 61: Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas.

Pena: reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Por seu turno, o Código Penal Brasileiro, também faz referência às sanções cabíveis em caso de disseminação de agentes patogênicos capazes de causar agravos à saúde dos animais, sendo que em seu artigo 259, rege:

Art. 259 Difundir doença ou praga que possa causar dano à floresta, plantação ou animais de utilidade econômica:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Modalidade culposa

Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa.

Ao se examinar o texto, depreende-se que, tanto no Código Penal como na lei de Crimes Ambientais está prevista a pena de detenção para aqueles que disseminarem doenças aos animais. Vale lembrar que o OIE considera que não é necessária a manifestação da enfermidade para que se considere foco, bastando apenas a detecção da presença do agente patogênico.

Entretanto, conforme explica Dias (2000), a crise do sistema penitenciário brasileiro possibilita a penalização de agressores ao meio ambiente por meio de penas alternativas, que são autônomas, possibilitando trocar as penas privativas da liberdade pelas restritivas de direito quando o crime for culposo ou quando a pena for inferior a quatro anos, ou de acordo com a personalidade e a conduta social do acusado. As penas alter-

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nativas vão desde a pena de prestação de serviços em parques e jardins públicos, à proibição de contratar com o Poder Público, a restauração do bem, a prestação pecuniária ou o recolhimento domiciliar.

Frente ao exposto, resta reforçar a necessidade de comunicação às autoridades sanitárias legalmente constituídas, a ocorrência ou a suspeita de qualquer enfermidade que esteja comprometendo a saúde dos animais. Vale ressaltar que Santa Catarina amargou prejuízos de diferentes níveis quando da ocorrência da enfermidade das manchas brancas em camarões Litopenaeus vannamei em cultivo, no ano de 2005. E que as autoridades sanitárias somente foram comunicadas depois que a enfermidade havia comprometido vários estabelecimentos. Neste episódio, nem os produtores e nem mesmo os órgãos de assistência técnica e extensão rural, contumazes observadores dos cultivos, comunicaram as observações de mortalidade elevada que se instalava entre os animais alvo. Resta claro que os atores envolvidos no setor da aquicultura catarinense neces-sitam uma maior compreensão da legislação pertinente, bem como devem buscar uma maior aproximação com as autoridades legalmente constituídas para as ações cabíveis.

Vale aqui ressaltar que o Brasil faz parte de um contexto internacional, sobre o qual vamos discorrer no item sobre as instituições internacionais. Assim, por determinação legal, a autoridade sanitária nacional, neste estudo representada pelo Departamento de Saúde Animal, por sua Divisão de Epide-miologia tem a responsabilidade do controle dos informes de notificação imediata, semanais e mensais. Este banco de dados é alimentado pelas informações emanadas dos serviços oficiais dos órgãos executores das ações de defesa sanitária animal nas distintas Unidades Federativas. O amparo legal para estas informações está no Decreto nº 54.548, de 03 de julho de 1934, bem como em legislações posteriores que, para o caso dos animais aquáticos está na Instrução Normativa n· 53, de 02 de junho de 2003. Salienta-se ainda, que a origem das informações para os serviços veterinários locais está na atenção do proprietário, no sistema de vigilância da defesa sanitária animal local ou de terceiros.

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2.1.3. A DEFESA SANITÁRIA MUNICÍPAL

A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons-titui-se em Estado Democrático de Direito. Nesta organização política, os Municípios também são considerados entidades estatais, com autonomia política reconhecida pela Constituição da República (art.18), embora com menor grau que a dos Estados (art.25) (BRASIL; CF, 1988).

O processo produtivo animal resulta de complexas interações entre a exploração animal e o meio ambiente biológico, político, econômico, sócio-cultural e epidemiológico (ASTUDILLO, 2001). Como exemplo da forma de participação dos municípios, Maciel (1995) cita que os municípios devem participar das ações de defesa animal por meio de agentes de Saúde Animal, os quais são membros de uma comunidade. Estes agentes, geralmente líderes comunitários, são indicados por seus pares para executarem ações visando a restauração, proteção e promoção da saúde animal naquela comunidade. Os agentes de Saúde Animal devem fazer parte integrante e atuante das Comissões Municipais de Saúde Animal.

Exemplo concreto da participação dos municípios em Santa Catarina está na conquista da condição de Zona Livre sem vacinação para a febre aftosa, com reconhecimento por parte de instituições internacionais (OIE/OMC), desde maio de 2007. Os munícipes catarinenses acreditaram e se empenharam em alcançar a qualidade em saúde animal adotando os trabalhos de Educação Sanitária e da Participação Comunitária, reco-mendados pelo Ministério da Agricultura. A comunidade catari-nense conquistou esta condição sanitária para o seu rebanho por meio dos seus Agentes de Saúde Agropecuária, os quais redobraram a vigilância e mostraram-se conscientes de suas responsabilidades. A ação desses Agentes contribuiu de forma efetiva na fiscalização do trânsito, na notificação de suspeitas de doenças vesiculares e, o mais importante, na orientação e cobrança dos demais membros da comunidade, de condutas corretas em relação às propriedades, aos animais e produtos em trânsito.

Os sanitaristas da CIDASC elaboram o Manual do Agente de Saúde Animal. Este manual preconiza alguns mecanismos

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pelo qual a comunidade pode e deve participar das ações de defesa sanitária animal, citando entre elas:

a) Comissão Microrregional de Saúde Agropecuária (COMISA), que participa com as seguintes ações:

· tomadas de decisões sanitárias, no âmbito micror-regional;

· coparticipação dos trabalhos sanitários desen-volvidos;

· mobilização da sociedade para o envolvimento na causa;

· envolvimento entre os órgãos públicos e privados nas ações emergenciais;

· elaboração e avaliação do Plano Microrregional de Saúde Agropecuária;

· apoio às ações de defesa sanitária; · parcerias para uma atuação mais participativa da

comunidade. b) Comissão Municipal de Saúde Agropecuária

(COMUSA), que participa com as seguintes ações: - tomadas de decisões sanitárias, no município; - coparticipação dos trabalhos sanitários desenvol-

vidos; - mobilização da sociedade para atuar em sanidade

animal; - articular o envolvimento entre os órgãos públicos e

privados nas ações sanitárias de rotina e emergen-ciais;

- elaboração e avaliação do Plano Municipal de Saúde Agropecuária;

- apoio às ações de defesa sanitária; - recebimento, processamento e repasse das infor-

mações sanitárias. c) Comitê Comunitário de Saúde Agropecuária (COSA),

que participa com as seguintes ações: - organização da comunidade para as ações de defesa

sanitária; - levantamento e apresentação junto à COMUSA das

necessidades da comunidade; - informar à comunidade as decisões da COMUSA e do

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serviço de defesa sanitária; - levantamento e discussão dos problemas de sanidade

existentes na comunidade, buscando solucioná-los; - proporcionar maior rapidez na notificação de sus-

peitas de doenças e pragas mantendo a vigilância epidemiológica;

- Indicar o agente de saúde agropecuária.

Conforme observação da autora ao longo de sua atividade em sanidade de animais aquáticos, esta parceria já bem identificada e definida para as ações de defesa sanitária para animais terrestres, não encontra, até o momento, ações homólogas ou similares no trato da defesa sanitária para animais aquáticos. Importante ressaltar que cabe aos atores envolvidos no setor buscar junto aos órgãos de defesa sanitária animal a sua inserção nas comissões e comitês de saúde animal, assim como participar das reuniões e treinamentos em educação sanitária.

Como complemento deste estudo, o tópico seguinte terá

por foco a participação das instituições nacionais e internacionais no contexto da defesa sanitária animal, com ênfase, sempre que pertinente, para os aspectos voltados para a defesa sanitária dos animais aquáticos, maiormente para os bivalves de interesse comercial para o Estado de Santa Catarina.

3. O BRASIL E OS TRATADOS INTERNACIONAIS

Em virtude do exposto nos parágrafos anteriores, cabe

aqui algumas informações complementares, as quais dizem respeito à opção do Brasil em participar do mercado externo. Assim, para melhor entendimento, serão abordados alguns as-pectos legais referentes à aceitação de acordos e tratados assumidos pelo Brasil.

De fato, para efeito de internalização, todas as regras devem estar solidamente institucionalizadas e reguladas por uma democracia qualificada. Assim, na Carta Rogatória n° 8.279, o Supremo Tribunal Federal posicionou-se acerca do procedimento que deve ser, obrigatoriamente, observado para a incorporação no direito interno dos tratados internacionais (BRASIL; STF, 2009).

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Os tratados, uma vez celebrados estabelecem uma relação jurídica entre seus signatários, tendo aplicabilidade e eficácia em todo o território nacional, desde que devidamente incorporado ao ordenamento jurídico interno dos Estados que firmaram o pacto. A incorporação dos atos internacionais ao sistema de direito positivo interno brasileiro encontra solução normativa na Constituição da República, que em seu artigo 84, VIII, dispõe que:

"Compete privativamente ao Presidente da República celebrar Tratados, Convenções e Atos Internacionais sujeitos ao referendo do Congresso Nacional" (BRASIL, 1988).

Contudo, apesar da Carta Magna prever que o ato de celebrar tratados, compete privativamente ao Presidente da República, vale anotar que conforme disposto no artigo 7° da Convenção de Viena, também estão autorizados a praticar atos relativos à conclusão dos tratados, os Ministros das Relações Exteriores e pessoas que possuam carta de poderes outorgada pelo Presidente da República.

Neste sentido, depois da celebração, o Presidente da República, respeitando o disposto no artigo 49, inciso I, da Constituição Federal, remete o tratado para apreciação e apro-vação do Congresso Nacional. A aprovação do Congresso Nacional ocorre mediante decreto legislativo, conforme disposto no art. 59, inciso VI, da Carta Magna, necessitando, para aprovação, da maioria simples de votos, conforme disposto no artigo 47 da Constituição Federal. Ocorrida a aprovação do tra-tado internacional, pelo Congresso Nacional, mediante decreto legislativo, volta o tratado para o Chefe de Estado (Presidente da República) para que ocorra a ratificação6.

Araújo (2004) conceitua ratificação como sendo “a manifestação, também de cunho discricionário, do Poder Executivo, no sentido de que o propósito de pactuar o tratado continua firme, atendendo aos interesses superiores do Estado." Esta autora faz referência ainda, que confirmado e reiterado, este propósito é transmitido aos demais signatários, por meio do depósito do instrumento de ratificação, no intuito de formalizar, perante eles,

6 Ratificação - momento em que ocorre a troca de notas diplomáticas ou o depósito do instrumento

de ratificação no local designado, nos casos de tratados multilaterais.

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o compromisso do país. Por seu turno, Nascimento e Silva e Accioly (1998)

ensinam que para a validade de um tratado são necessárias: capacidade das partes contratantes, habilitação dos agentes sig-natários, consentimento mútuo, objeto lícito e possível. Os autores afirmam ainda, que devem ser respeitados os princípios gerais de direito, reconhecidos e respeitados pela sociedade internacional.

Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal assevera que a incorporação dos tratados internacionais se efetiva por meio de atos formais e complexos, revestidos de caráter político-jurídico, compreendendo as seguintes fases: a) celebração pelo Presidente da República; b) aprovação pelo Congresso Nacional, mediante decreto legislativo; c) ratificação pelo Presidente da República, mediante depósito do referido instrumento; e d) pro-mulgação, mediante decreto presidencial. Sendo estes pro-cedimentos, indispensáveis para a incorporação e vigência dos tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro. Os decretos que ratificam pelo País o Tratado OMC/TRIPS são: Decreto nº. 30/94 e Decreto nº. 1.355/94. (STF, 2009).

Assim, como regra geral, resta claro que o órgão competente do Poder Executivo para entabular negociações di-plomáticas que tenham em vista a celebração de atos interna-cionais é o Ministério das Relações Exteriores (Decreto nº 2.246, de 06/06/1997, Anexo I, artigo 1º, III).

O incremento de acordos de natureza eminentemente técnica possibilita a participação de outros órgãos gover-namentais no processo negociador internacional. No entanto, terminada a negociação de um ato bilateral, o projeto, por vezes rubricado pelos negociadores, vai à apreciação das autoridades dos respectivos países. A minuta rubricada indica tão somente concordância preliminar. Contudo, em regra, para os atos bila-terais ou multilaterais, estes ficam sujeitos, por determinação constitucional, à aprovação pelo Congresso Nacional. Neste sentido, é redigida uma Exposição de Motivos, na qual o Ministro das Relações Exteriores explica as razões que levaram a as-sinatura daquele instrumento e solicita que o Presidente da República, por uma Mensagem, o submeta ao Congresso Nacio-nal. Caso não haja texto original em português, no caso de atos multilaterais, a tradução do texto é obrigatória. Em continuação,

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aprovada a exposição de motivos e assinada a mensagem ao Congresso pelo Presidente da República, o ato internacional é encaminhado para exame e aprovação, sucessivamente, pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Antes de ser levado aos respectivos Plenários, o instrumento necessita ser avaliado, em ambas as Casas, pelas Comissões de Constituição e Justiça e de Relações Exteriores e por outras Comissões inte-ressadas na matéria. A aprovação congressual é materializada por Decreto Legislativo, assinado pelo Presidente do Senado, publicado no Diário Oficial da União (BRASIL; MRE, 2009).

Assim, a despeito das dificuldades existentes para o Brasil, por meio de seus órgãos competentes e, neste estudo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no que diz respeito a atenderem as exigências ratificadas nos acordos e, especificamente aqui, no Acordo das Medidas Sanitárias e Fitossanitárias, torna-se fundamental a estrutura de um sistema probo e eficiente quanto ao controle, prevenção, inspeção e notificação de casos. As ações inerentes a defesa sanitária ani-mal deve refletir a eficiência das autoridades sanitárias e servir para a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.

4. AS INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS E SUAS

RELAÇÕES COM O BRASIL

Durante séculos, o comércio entre nações sofreu interferência no fluxo de mercadorias, geralmente, sob a forma de barreiras tarifárias ou outros obstáculos, sendo que as tarifas costumavam ser as principais armas de política comercial (CAVES; FRANKEL; JONES, 2001).

Um dos exemplos a ser citado é o caso do Reino Unido, que já no ano de 1815, com a finalidade de proteger sua agricultura da concorrência das importações regulamentou o uso de tarifas por meio do Importation Act, também conhecido como Corn Laws. Por sua vez, a Alemanha e os Estados Unidos no final do século XIX, protegeram seus recentes setores industriais por meio de tarifas sobre as importações de bens manufaturados. Verifica-se que os governos modernos preferem o uso de bar-reiras não-tarifárias, tais como cotas de importação (limitações sobre a quantidade importada) e restrições às importações

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(limitações sobre a quantidade exportada – geralmente impostas ao país exportador a pedido do país importador) como estratégia de proteção das indústrias domésticas (KRUGMANN; OBST-FELD, 2001).

Contudo, vale lembrar que os mecanismos de comércio utilizados no século passado procuraram a união das nações pa-ra a conquista do mercado. Salienta-se que no caso europeu, um dos mecanismos importantes para a consolidação do grande mercado comum foi a instituição da Política Agrícola Comum-PAC a partir do Tratado de Roma em 1947. Seus objetivos principais fundamentaram-se na segurança alimentar, na garantia dos preços agrícolas e na elevação do nível de vida do produtor rural (FALCÃO, 2005).

Sabe-se que no contexto da economia globalizada os paradigmas da produção tornaram-se universalizados e transitaram de um modelo de influência clássica, marcado pelas características do Fordismo (BEDUSCHI FILHO, 2009), à produ-ção flexível, com redução nas barreiras alfandegárias e a necessidade das empresas de diferentes países competirem en-tre si com produtos e tecnologias de produção.

Neste sentido, ressaltamos que a partir dos anos 80 do século passado, a nova conformação da economia mundial perante a abertura do comércio internacional vem apresentando relevantes mudanças de paradigmas sanitários. Assim, observa-se que alguns países se utilizam da imposição de barreiras não tarifárias para o comércio de produtos de origem animal, valendo-se da justificativa de preocupação com a qualidade de vida e com os direitos humanos. Para tal, alguns deles fazem uso de um conjunto de leis envolvendo aspectos não diretamente ligados a mercadoria em negociação e, não raro, são aplicados como barreira não-tarifária onde normas supranacionais esta-belecem condições para a participação dos produtos nacionais em processos econômicos. Convenções globais formulam compromissos que os estados nacionais devem cumprir e para os quais, muitas vezes, não estão preparados, principalmente quando envolvem setores da sociedade em atividades de produção, como é o caso da maricultura de bivalves e, incluindo os prestadores de serviços a este setor.

Na diretriz da economia mundial, ressalta-se como importante para o setor da maricultura produzir em conformidade

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com as exigências internacionais. Vale anotar que a imposição de barreiras não-tarifárias podem ser empregadas pelos países em negociações de mercadorias de diferentes procedências. Podemos citar como exemplo da aplicação de barreiras ao co-mércio de produtos brasileiros, o caso da contenda Bombardier versus Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.). Neste caso, o Canadá aplicou barreiras sanitárias à carne bovina (retaliação) devido ao seu interesse no comércio de aeronaves. A concessão de subsídios por parte do governo brasileiro com vistas a estimular a exportação de jatos nacionais gerou elevados níveis de desgaste diplomático. Todavia, devido à condição do Brasil em demonstrar o sistema nacional de produção da carne bovina esta questão resultou bem sucedida para o Brasil.

No propósito de dar maior visibilidade ao envolvimento dos produtos brasileiros no mercado mundial, apresentamos resumidamente partes da evolução histórica do comércio inter-nacional. Neste sentido, será dada ênfase no surgimento do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) até a sua subs-tituição pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC), com destaque para os temas relacionados com o comércio de animais vivos, seus produtos e subprodutos.

No tópico referente à OMC são abordados os princípios que norteiam seu funcionamento, bem como a adoção de restrições sanitárias para o comércio internacional, tais como as medidas não-tarifárias. Respeitando as diretrizes da pesquisa a ênfase se faz para o ACORDO SOBRE MEDIDAS SANITÁRIAS E FITOSSANITÁRIAS (MSF).

Entre as condutas da OMC está a indicação para que os países membros utilizem as normas, diretrizes e recomendações de diferentes instituições que lhe conferem apoio. Neste sentido são abordados aspectos relativos às instituições que tratam dos assuntos relacionados com a saúde animal, o OFFICE INTER-NATIONAL DES EPIZOOTIES (OIE) e com a seguridade dos alimentos CODEX ALIIMENTARIUM (Codex).

Importante destacar que a maricultura de bivalves representa promessa de expansão de negócios e emprego para várias famílias. Neste contexto, vale lembrar que a conquista de mercado para os produtos da malacocultura dependem da sua conformidade com a legislação vigente.

A importância, ainda, deste tópico, está em dar

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conhecimento aos prestadores de serviços do setor da mala-cocultura, sobre a complexidade do papel do Estado Nação no mundo contemporâneo, o que implica em tratar as políticas governamentais em seu conjunto e não no isolamento que algumas instituições adotam, de modo a destacar, por um lado, as relações de complementaridade que se estabelecem entre elas e, por outro, as interfaces entre a população e o serviço público.

Somam-se a estas preocupações, a necessidade de harmonizar o caráter intergovernamental ou interinstitucional das ações do setor público, para que processos desastrosos, como os ocorridos quando do evento da enfermidade das manchas brancas em camarões de cultivo no Estado de Santa Catarina não se repitam. Ademais, que as diferentes instituições e os produtores envolvidos na cadeia produtiva da maricultura de bivalves compreendam o nível legal da participação de cada um, bem como a necessidade de harmonia e cooperação entre elas, na busca de soluções sintonizadas com o que há de próprio e legalmente estabelecido em cada situação organizacional.

4.1. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO:

soberania, democracia e acordo MSF e barreiras não tarifárias.

Na maioria das tragédias vivenciadas pela humanidade, a

disputa pela supremacia no comércio internacional e pelo domínio sobre os novos mercados e novas rotas comerciais se constituiu no principal argumento para as guerras e conflitos, culminando, no último século, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, e, posteriormente, da Segunda Guerra Mundial (HOBSBAWM, 1995).

Salienta-se que a Conferência de Bretton Woods7 foi realizada nos estertores da Segunda Grande Guerra, com o propósito de construir uma nova ordem econômica mundial buscando evitar crises semelhantes às da Grande Depressão dos anos 30. Antes da Conferência prevalecia o padrão do ouro, como medida de troca dominando o sistema econômico internacional (RICUPERO, 2008). 7 A Conferência foi realizada na cidadezinha de Bretton Woods, em New Hampshire, Estados Unidos e ocorreu devido à preocupação dos governantes com a economia mundial após a II Grande Guerra.

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Esta Conferência contou com o forte empenho de Harry Dexter White, Secretário-Assistente do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e de Lord Keynes, o mais famoso dos economistas, representando os interesses da Grã-Bretanha. Ambos formavam o eixo do poder econômico mundial da época (SALERMO, 2004). Nesta Conferência ficou estabelecido o dólar americano como moeda padrão internacional de câmbio e ficou decidida a criação de um fundo encarregado de dar estabilidade ao sistema financeiro internacional, bem como a criação de um banco responsável pelo financiamento da reconstrução dos países atingidos pela destruição e pela ocupação: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (ou Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento - BIRD) (MATTIA; BARBAGALO, 1998). Vale lembrar, que uma empresa americana ao vender seus produtos em qualquer mercado – interno ou externo – recebe dólares americanos como moeda de troca e, somente os Estado Unidos podem emitir dólares.

Neste sentido, em 1945 o Congresso norte-americano outorga poderes ao governo daquele país para negociar reduções tarifárias para a importação de produtos, permitindo que países exportassem seus produtos para os Estados Unidos. Assim, surge o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT (General Agreement of Tariffs and Trade), assinado sob a forma de protocolo provisório em 1947. Entre os primeiros signatários, treze países industrializados e dez países em desenvolvimento, entre eles o Brasil (AMORIM, 2000).

O fórum de discussões, que se estendeu de novembro de 1947 até março do ano seguinte, promovido pela Organização das Nações Unidas, ocorreu em Havana, Cuba. Neste fórum foi assinada a Carta de Havana, na qual constava o projeto para criação da Organização Internacional do Comércio-OIC. O projeto nasceu bastante ambicioso e contou com o apoio preponderante dos Estados Unidos, contudo questões políticas internas levaram os americanos a anunciar o não encaminha-mento do projeto ao Congresso para sua ratificação. Com o fracasso do projeto, o que era, inicialmente, um protocolo provisório criado para regular provisoriamente as relações de comércio internacional, assumiu caráter de instrumento regulador, permanecendo por mais de quatro décadas, sem que seus signatários assinassem o Acordo (OLIVEIRA, 2007).

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Por seu turno, o Brasil incorporou este Acordo à Legislação Brasileira, por meio da promulgação da Lei no. 313, de 30 de julho de 1948 que autoriza o poder executivo a aplicar provisoriamente o acordo geral sobre tarifas aduaneiras e comércio, reajusta a tarifa das alfândegas e dá outras provi-dências (BRASIL; MRE, 2009a).

Com o fracasso das negociações da Carta de Havana e a ausência de um organismo multilateral do comércio, o GATT estabelece regras de não aumento de tarifas, não imposição de restrições quantitativas (cotas) e assegura a condição de “nação mais favorecida” (NMF) a todos os membros do GATT, com o objetivo de limitar os aumentos das restrições comerciais (MATTIA; BARBAGALO, 1998).

A partir destes eventos, iniciaria um novo ciclo de tensões no comércio mundial, que contribuiu para o lançamento das bases da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento – UNCTAD, realizada em Genebra, em 1964. Desta Conferência surgiu a motivação para o Sistema Geral de Preferências –SGP, como se verificaria a partir dos anos sessenta (FALCÃO, 2005).

Vale lembrar que nos anos 60, as indústrias enfrentaram concorrências mais brandas que as atuais, bem como os ciclos dos produtos eram mais longos e as incertezas do mercado mais controláveis. Contudo, a iniciativa americana contribuiria para o surgimento dos “Trintas Gloriosos” que representaram para a tríade do comércio internacional (Estados Unidos e Canadá, União Européia e Japão), entre 1945-1975, uma fase de notável crescimento econômico. Além disso, deslocou o eixo tradicional do comércio mundial do Oceano Atlântico para o Oceano Pacífico. E, embora os fundamentos da UNCTAD buscassem a supressão das desigualdades no comércio internacional, não encontrava a base política de sustentação junto à tríade do comércio internacional. Contudo, estas iniciativas foram suficientes para estimular algumas reações junto ao GATT, dando origem a um novo tópico sobre o comércio e o desenvolvimento dos países. Esta preocupação, após a Conferência de Cartagena, em 1992, tinha objetivos de promover a expansão do comércio dos países de menor escala com vistas ao seu desenvolvimento econômico. Entretanto, esta proposta não alcançou os resultados esperados (FALCÃO, 2005).

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Depois da Rodada de Genebra, a qual foi considerada a Primeira Rodada e firmou o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT, a segunda Rodada aconteceu em Annecy, na França em 1949 e a terceira em Torquay, na Grã-Bretanha em 1950-51, seguindo os princípios da Rodada de Genebra que propunha a inclusão de novos Países-membros. Entre 1964-67 ocorreu a sexta rodada conhecida como Rodada Kennedy, sendo que nesta rodada foi eliminado o Setor Agrícola das Negociações (KRUGMANN; OBSTFELD, 2001).

Na Rodada de Tóquio, que transcorreu no período de 1973 -1979, efetivou-se a conclusão de uma série de acordos específicos e de decisões equiparáveis a acordos formais, como por exemplo, o acordo sobre produtos lácteos, sobre a carne bovina, subsídios e direitos compensatórios (MATTIA; BARBAGALO, 1998).

A partir dos anos 1970 com o aumento da participação dos países em desenvolvimento no comércio internacional, os países ricos passaram a utilizar intensamente as restrições não-tarifárias para proteger suas indústrias da concorrência com os países emergentes. Desta forma intensificou-se a utilização das quotas de importação, de normas (técnicas, fitossanitárias, de qualidade e meio-ambiente e condições de trabalho), das restrições voluntárias às exportações e de leis comerciais para coibir a entrada de produtos importados (GREMAUND et al, 2003).

Em 1986, fatores como o aumento do petróleo, as altas taxas de juros, o endividamento de países do terceiro mundo e o protecionismo do mundo industrializado promoveram uma crise econômica mundial. Nesta oportunidade, é realizada a Rodada do Uruguai a qual durou sete anos. Esta Rodada foi realizada em Cairns8, Austrália, com o encontro de representantes dos quatorze países exportadores de produtos agrícolas, os quais fortemente se pronunciaram para que não fossem ignoradas as questões agrícolas (VERAN, 2005).

Em 15 de abril de 1994, em Marrakesh, Marrocos, foi assinada a Ata Final da Rodada do Uruguai, tendo como principais resultados, um novo Acordo de Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT 94), o qual mantém a vigência do GATT 47, o Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS), o Acordo 8 Grupo de Cairns (key fair trading countries in agriculture): Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Ilhas Fiji, Hungria, Indonésia, Malásia, Filipinas, Nova Zelândia, Tailândia e Uruguai.

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sobre Investimentos (TRIMS), o Acordo sobre direitos de Propriedade Intelectual (TRIPS), além de acordos destinados a regulamentar procedimentos de solução de controvérsias, medi-das antidumping, medidas de salvaguarda, medidas compen-satórias, valoração aduaneira, licenciamento, procedimentos entre outros. Por fim, a Ata da Rodada Uruguai também contém o acordo constitutivo da Organização Mundial de Comércio (OMC), encarregada de efetivar e garantir a aplicação dos acordos citados (TAVARES, 1979).

A Rodada do Uruguai representou para o setor agrícola, a conquista pela regulamentação na redução dos subsídios às exportações, redução do apoio doméstico aos produtores, conversão das barreiras não-tarifárias em tarifas equivalentes, consolidação das tarifas reduzidas, as quais possibilitaram o acesso a quotas mínimas para produtos que antes estavam blo-queados por meio de mecanismos de proteção (THORSTENSEN, 2001).

Os acordos da Rodada Uruguai, o qual incluía a criação da OMC, entraram em vigor no Brasil em 1° de janeiro de 1995, por meio do decreto presidencial n° 1.355, de 30 de dezembro de 1994, que sancionou o Decreto Legislativo n° 30, de 15 de dezembro de 1999. O Brasil, na condição de país membro da OMC, precisou adequar seu ordenamento interno a fim de evitar possuir regras contrárias aos dispositivos da OMC. Além disso, cumpre ressaltar, que como país-membro, o Brasil pode e correntemente faz parte em vários panels estabelecidos diante do Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) da OMC, devendo se submeter às decisões por este tomada (BRASIL; MRE, 2009b).

A agricultura é uma área de negociação sensível para a maioria dos países e a despeito de ter perdido importância em relação ao comércio como um todo nos acordo do GATT, o setor agrícola continua sendo um elemento decisivo nas economias dos países. Para os acordos do GATT, as políticas agrícolas foram elaboradas com fundamento no modelo dos Estados Unidos. Assim, a política adotada, permitia a manutenção dos preços dos produtos agrícolas internos em níveis superiores ao preço do mercado internacional. Aplicavam-se controles de produção dos produtos e fixavam-se cotas de importação para impedir a entrada de produtos estrangeiros a preços mais baixos

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(MATTIA; BARBAGALO, 1998). As barreiras não tarifárias têm sido utilizadas com o

propósito de impor restrições relacionadas a regulamentos sanitários e de saúde, normas técnicas, padrões de segurança, dificuldades relativas à documentação, inspeção e outras práticas que podem dificultar ou mesmo impedir o comércio (CARVALHO; SILVA, 2003).

A elaboração do Acordo sobre a Agricultura apresentou a proposta da reforma do comércio no setor agrícola, bem como a proposta de fazer com que as políticas para o setor fossem voltadas para o mercado, aumentando a previsibilidade e a segu-rança tanto para os países importadores como para os exportadores. Este Acordo prevê normas e compromissos como o acesso aos mercados, a ajuda interna e os subsídios à exportação e acordo sobre as questões sanitárias e fitos-sanitárias, regulando-as de modo a que estas não se constituam em barreiras não-tarifárias (MATTIA; BARBAGALO, 1998).

As restrições não tarifárias no comércio internacional de produtos da agroindústria são impostas pelos países impor-tadores com base no Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias previstas pela Organização Mundial do Comércio. Estas medidas determinam que os países exportadores se enquadrem nas normativas dos organismos internacionais e, especificamente, para a agropecuária, às normativas preco-nizadas pela Convenção do Codex Alimentarius para produtos de modo geral, na Convenção Internacional de Proteção Vegetal para os vegetais, bem como na Organização Mundial da Saúde Animal, para os animais (BARRAL, 2004).

Neste sentido, há de se mencionar, igualmente, às exigências impostas pelos países importadores os quais, dentro de um embasamento técnico científico, permitem-se fazer maiores exigências àquelas preconizadas pelos organismos internacionais.

Por sua vez, o Acordo assegura que os particulares, as empresas e os governos conheçam quais são as normas que regem o comércio no mundo todo, dando-lhes a segurança de que as políticas não sofrerão mudanças abruptas (OMC, 2003). Vale lembrar que este acordo prevê uma estrutura organizacional composta por uma Conferência Ministerial, com proposta de reuniões bianuais. E, para as ações de supervisionar as opera-

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ções do Acordo e das decisões ministeriais, foi criado o Conselho Geral, o qual se reúne com freqüência, em intervalos regulares. Também ao Conselho Geral compete o exercício das funções de Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) e de Mecanismo de Exame das Políticas Comerciais, além da tarefa de criação de ór-gãos subsidiários, tais como um Conselho de Bens, um Conselho de Serviços e um Conselho de Trips (LAMPREIA, 1995).

Naquilo que se refere ao OSC, este veio para substituir o antigo Conselho do GATT e a sua normatização está contem-plada no segundo documento do Acordo. O OSC representa um conjunto de Regras e Procedimentos Relativos à Solução de Controvérsias (Understanding on Rules and Procedures Governing the Settlement of Disputes - DSU), sendo considerado como uma das pedras fundamentais da ordem comercial multilateral. A aplicação do DSU tem por compromisso fortalecer substancialmente o sistema existente, bem como ampliar a automaticidade acordada já por ocasião da reunião ministerial de 1986, referentes à adoção das conclusões dos painéis bem como de um recém-criado órgão de apelação (WTO, 2008).

Contudo, apesar desse caráter automático, as decisões não se equiparam à categoria de sentença judicial em virtude de não possuírem exequibilidade após sua prolação, sendo necessária a homologação pelo Conselho Geral do Dispute Settlement Body (DSB). Segundo o embaixador Celso Lafer (2001), as decisões do Panel são:

pareceres com vis directiva, com um iter jurídico que pode ser interrompido a qualquer momento, para se tentar uma solução diplomaticamente negociada.

Em linhas gerais, o OSC tem por função, administrar os contenciosos da OMC. No exercício desta administração, este órgão é formado pelo Conselho Geral da OMC, composto por representantes permanentes de todos os membros da orga-nização, dentre os quais é escolhido um presidente. Ao OSC cabe, igualmente, monitorar os quatro arranjos plurilaterais que emanaram da Rodada de Tóquio e que não foram objeto de negociação global na Rodada do Uruguai. O quadro jurídico da OMC garante a aplicação do método de aceitação indivisa dos compromissos (single undertaking approach), o qual havia sido aprovado na Rodada do Uruguai com vistas a que nenhum tema

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da agenda das negociações ficasse excluído do pacote final. Dessa forma, para tornar-se membro da OMC era necessário acolher todos os resultados da Rodada do Uruguai, sem exceção. Entretanto, nos termos do sistema integrado previsto no DSU, os membros da OMC poderiam invocar qualquer dos acordos multilaterais abrigados pela OMC como base jurídica para seus pleitos e reafirmava que nenhum membro poderia determinar unilateralmente a ocorrência de uma violação deste ou daquele acordo, ou suspender concessões a que têm direito uma ou mais partes, devendo, ao invés, recorrer às regras e procedimentos do DSU (LAMPREIA, 1995).

Podemos lembrar que o Dispute Settlement Body (DSB) ganhou notoriedade e repercussão no Brasil em virtude do acirramento das tensões envolvendo a empresa canadense Bombardier e a empresa brasileira Embraer na disputa comercial existente no segmento da indústria da aviação comercial e o embargo da carne bovina brasileira por parte do governo canadense, conforme já mencionamos nesta pesquisa.

Há de se entender que o constructo de um padrão envolve

muitas negociações, dentre elas a forma de aplicação e os métodos de mensuração. As regras de conduta ditadas pelo OMC, com a proposta do multilateralismo, foram responsáveis pelo surgimento de novas frentes de luta com vistas a libera-lização do comércio.

Neste sentido, a OMC, pode se constituir num instrumento de defesa dos interesses nacionais, mormente no tocante ao estabelecimento de regras comerciais mais justas e eqüitativas. Para isso é necessária a adoção de uma Política Externa soberana, com interesses claramente definidos (LAFER, 2001).

Vale salientar que no campo internacional, a soberania econômica está consagrada na Carta de Direitos e Deveres Econômicos dos Estados, Proclamada na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas - ONU, em 1974. A partir deste evento foi construída uma nova Ordem Econômica Internacional, sendo que a carta se constituiria num instrumento eficaz para criar um novo sistema de relações econômicas internacionais, baseado na equidade, na soberania e na interdependência dos interesses dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento (ONU, 2005).

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São elementos centrais da soberania econômica de um país, fundamentalmente em tempos de globalização: a defesa da produção nacional, a conquista de novos mercados no exterior, com o consequente crescimento da participação do país no mercado internacional, o equilíbrio das contas externas e a geração de uma tecnologia nacional altamente competitiva.

Ressalta-se, que dentre os acordos resultantes da Rodada do Uruguai está incluído o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (MSF) que apresenta como finalidade estabelecer um quadro multilateral de regras e disciplinas que possibilitem orientar o desenvolvimento, a adoção e a implantação de medidas sanitárias e fitossanitárias, de modo a minimizar seus efeitos negativos ao comércio, que afetem direta ou indiretamente o comércio (THORSTENSEN, 2001).

O Acordo MSF, no âmbito da OMC, procura assegurar que as medidas sanitárias e fitossanitárias sejam aplicadas com base em acordos ou protocolos bilaterais, dentro do arcabouço multilateral de regras e disciplinas para orientar a elaboração, adoção e aplicação de medidas sanitárias e fitossanitárias com vistas a reduzir ao mínimo seus efeitos negativos sobre o comércio (ANNONI, 2001).

Em seu texto original o acordo estipula que: nenhum Membro deve ser impedido de adotar ou aplicar medidas necessárias à proteção da vida ou da saúde humana, animal ou vegetal, desde que tais medidas não sejam aplicadas de modo a constituir discriminação arbitrária ou injustificável entre Membros em situações em que prevaleçam as mesmas condições, ou uma restrição velada ao comércio internacional (BRASIL; MRE, 2009).

O Acordo MSF propõe medidas sanitárias e fitossanitárias entre os Membros, com base em normas, guias e recomendações internacionais elaboradas pelas organizações internacionais competentes, entre elas a Comissão do Codex Alimentarius, o Escritório Internacional de Epizootias e as orga-nizações internacionais e regionais competentes que operam no contexto da Convenção Internacional sobre Proteção Vegetal, sem que com isso se exija dos Membros que modifiquem seu nível adequado de proteção da vida e saúde humana, animal ou vegetal.

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4.2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE ANIMAL:

harmonização de regulamentos técnicos

A Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) é uma organização intergovernamental, com sede em Paris, mas que conserva ainda sua sigla histórica – OIE, do antecessor Escritório Internacional das Epizootias, criada em 1924 por um Acordo Internacional.

A história da OIE passa pela distribuição de bovinos utiliza-dos como moeda de indenização logo depois de I Guerra Mundi-al. Os bovinos contaminados pela peste bovina disseminaram a enfermidade para vários países europeus. Frente a este desas-troso episódio, as autoridades sanitárias dos países identificaram a necessidade de manter um intercâmbio de informações entre os países assim como exigir medidas sanitárias aplicáveis às exportações com vistas a evitar problemas similares no futuro. Para este propósito, a França convocou uma Conferência Internacional em Paris, no período de 25 a 28 de março de 1921, para a qual foram convidados todos os Países. Contudo, compareceram os representantes de apenas quarenta e dois paí-ses, os quais examinaram a situação, em especial a ocorrência da Peste Bovina, a Febre Aftosa e a Durina (OIE, 2009).

Nesta Conferência os representantes dos países mani-festaram o desejo de se criar em Paris um “escritório interna-cional de epizootíases para a luta contra as enfermidades infecciosas dos animais” o que, após três anos de negociações, no dia 25 de janeiro de 1924, ficou criado o Escritório Interna-cional de Epizootias e o seu Estatuto Orgânico. Durante os pri-meiros 20 anos de existência o OIE expandiu-se além das fron-teiras do continente Europeu, tornando-se uma organização mundial intergovernamental responsável por melhorar a saúde animal no mundo.

O OIE, que em abril de 2009 contava com 174 países e territórios Membros, tem como principal objetivo coordenar e incentivar, no âmbito mundial, a informação, a investigação e a elaboração de normas sanitárias para o controle das epizootias. O OIE coopera estreitamente com outras organizações in-ternacionais, nomeadamente do Sistema das Nações Unidas. A função prioritária do OIE é informar aos serviços veterinários

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governamentais sobre a ocorrência e curso de enfermidades epizoóticas, as quais podem pôr em risco a saúde animal ou humana. A urgência em despachar informações varia de acordo com a repercussão da ocorrência da enfermidade na saúde pública ou na econômia de produção animal. No entanto, frisa-se, que é dever de todos os Estados-membros notificar, obriga-toriamente, ao OIE todos os registros de doenças animais listadas pela Organização que ocorram em seus territórios (OIE, 2009). A Organização Mundial do Comércio reconhece os requisitos preconizados pelo OIE como normas de referência mundial. O OIE mantém relações permanentes com 36 outras organizações internacionais e regionais e possui escritórios regionais e subregionais em todos os continentes. Com a fina-lidade de estudar os problemas regionais específicos de saúde animal e dos serviços veterinários oficiais, bem como para organizar a cooperação em nível regional, o OIE criou cinco Comissões Regionais: (1) África, (2) Américas, (3) Ásia, Extremo Oriente e Oceania, (4) Europa e (5) Oriente Médio. A Comissão Regional para as Américas está composta por 29 países membros e atualmente tem na presidência o brasileiro, médico veterinário Jamil Gomes de Souza, Diretor do Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil.

O OIE exerce suas funções sob a autoridade e o controle de uma Assembléia de Delegados composta por delegados nomeados pelos governos de todos os países membros, sendo seus principais objetivos:

1. TRANSPARÊNCIA Assegurar a transparência da situação sanitária no mundo: Cada país-membro compromete-se a declarar as enfermidades dos animais que ocorre em seu território. O OIE transmite as informações recebidas a todos os demais países, para que possam se proteger. Esta informação, que também se relaciona com as enfermidades transmissíveis para os seres humanos (zoonose), é objeto de uma divulgação imediata ou diferida, dependendo da gravidade da enfermidade. Os meios de comunicação utilizados pelo OIE são correio eletrônico, Informações Sanitárias e pela interface do banco de dados do sistema mundial de informação

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zoosanitária - WAHID (da sigla em inglês: World Animal Health Information Data-base).

2. INFORMAÇÃO CIENTÍFICA Coletar, analisar e difundir informação científica veterinária: o OIE copila e analisa todas as novas informações científicas sobre a luta contra as enfermidades dos animais e transmite para os Países-Membros, para que possam melhorar os seus métodos de controle e erradicação das mesmas. O OIE também divulga informações científicas por meio dos documentos e publicações periódicas que edita, com destaque para a Revista Científica e Técnica, publicando três números por ano.

3. SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL Recomendar e encorajar a solidariedade internacional para o controle das enfermidades dos animais: o OIE orienta tecnicamente os países membros que queiram apoiar as operações de controle e erradicação das enfermidades dos animais, incluindo as transmissíveis aos humanos. O OIE propõe consultoria, especialmente para os países mais pobres, com vistas a colaborar no controle das enfermidades que acometem os animais, as que podem pôr em risco a saúde pública e constituem uma ameaça para os outros países membros.

4. SEGURIDADE SANITÁRIA Garantir a segurança do comércio mundial por meio do desenvolvimento de regras sanitárias para o comércio internacional de animais e produtos animais: O OIE elabora os documentos normativos que definem as regras a serem cumpridas pelos países membros para se protegerem contra as enfermidades sem, contudo, aplicar barreiras sanitárias injustificadas. Os principais documentos estratégicos elaborados pelo OIE são: o Código Sanitário para Animais Terrestres, o Manual de Testes de Diagnóstico e Vacinas para Animais Terrestres, o Código Sanitário dos Animais Aquáticos e o Manual de Testes de Diagnóstico para animais aquáticos. As normas do OIE são regras de saúde animal de referência internacional reconhecidas pela

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Organização Mundial do Comércio. Estas normas são elaboradas por Comissões especializadas eleitas e por Grupos de Trabalho composto pelos melhores cientistas do mundo, a maioria dos quais são especialistas que atuam na rede de cerca de 200 Centros Colaboradores e Laboratórios de Referência e que contribuem para a conquista dos objetivos científicos do OIE. Todas as normas do OIE são aprovadas pelo Comitê Internacional.

5. PROMOÇÃO DOS SERVIÇOS DE MEDICINA VETERINÁRIA Apoio jurídico e de recursos aos serviços médico veterinários: os serviços veterinários e os laboratórios dos países em desenvolvimento e dos países em transição apresentam uma necessidade emergente de apoio para construir sua infra-estrutura e recrutar recursos com vistas a que seus países obtenham a capacidade para melhor aproveitar os benefícios do Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da OMC e melhor proteger a saúde animal e saúde pública.

6. SEGURANÇA ALIMENTAR E BEM-ESTAR ANIMAL Melhor garantir a segurança dos alimentos de origem animal e melhorar o bem-estar animal, utilizando bases científicas: Os países membros do OIE decidiram melhorar as garantias de segurança dos alimentos de origem animal reforçando as sinergias entre as atividades do OIE e da Comissão do Codex Alimentarius. As atividades normativas do OIE nesta área são voltadas para a prevenção dos perigos antes do abate dos animais ou da primeira transformação de seus produtos (carne, leite, ovos, pescado etc.) susceptíveis de gerar novos riscos para consumidores. Desde sua criação, o OIE desempenha um papel-chave como a única organização de referência internacional dedicada à saúde animal, usufruindo de reconhecimento internacional e da colaboração direta dos Serviços Veterinários dos países membros. Dada a estreita relação entre saúde animal e bem-estar animal, o OIE tornou-se em 2002, a pedido dos países

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membros, na organização internacional de orientação sobre a proteção dos animais.

Vale salientar que o OIE desempenha suas funções sob a autoridade e o controle de um COMITÊ INTERNACIONAL com-posto de Delegados designados pelos Governos dos Países Membros. O Comitê Internacional é o órgão supremo do OIE e está formado por todos os Delegados, e se reúne pelo menos uma vez ao ano. Sua Sessão Geral, com duração de cinco dias, realiza-se todos os anos no mês de maio em Paris. A votação dos Delegados no Comitê Internacional respeita o principio de-mocrático de "um país, um voto" (OIE, 2009).

O Comitê Internacional apresenta, esquematicamente, como principais funções, as que se encontram na Figura 4.

Essas Comissões, que se reúnem de dois em dois anos, votam recomendações para a atenção da Assembléia Geral do OIE. A fim de assegurar uma harmonização da política mundial

Comitê Internacional

Comissão Administrativa

Comissões Regionais

Comissões Especializadas

Comissão de Normas Sanitárias para os Animais Terrestres

(Comissão do Código)

Comissão científica para as Doenças dos Animais (Comissão Científica)

Comissão de Normas Biológicas

(Comissão de Laboratórios)

Comissão de Normas Sanitárias para os Animais

Aquáticos - (Comissão para os Animais

Aquáticos)

Figura 4: fluxograma elaborado com base nas informações do OIE.

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do OIE, essas recomendações devem ser aprovadas pela Assembléia Geral antes de serem executadas pelo Escritório Central.

As resoluções do Comitê são elaboradas com o apoio das seguintes Comissões:

1. Comissão Administrativa se reúne duas vezes por ano para examinar, com o Diretor Geral, as questões técnicas e administrativas e, em particular, o programa de atividades e o projeto de programação que será apresentado ao Comitê Internacional.

2. Comissão Regional, a partir da Sessão Geral, reúne seus Delegados para debater sobre problemas de interesse comum e organiza, a cada dois anos, uma Conferência em um dos países da região. Nessas Conferências são tratados temas técnicos e organizada a cooperação regional para o controle das enfermidades animais. Programas para reforçar a vigilância e o controle das enfermidades mais importantes, podem ser criados regionalmente, especialmente nas regiões onde o OIE tem estabelecido uma Representação Regional. Os representantes permanentes do OIE nas regiões devem trabalhar em estreita colaboração com as comissões regionais, notadamente com seu Presidente eleito. Suas missões prioritárias consistem em preparar as posições comuns dos países membros da região, notadamente antes da adoção de novas normas pela Assembléia Geral anual. Os Países Membros do OIE constataram regularmente que os trabalhos realizados pela Comissão Regional das Américas, apoiada por sua representação regional, permitiram que essa região exercesse toda a sua influência para que participassem dos trabalhos de especialistas, comissões especializadas ou Assembléia Geral do OIE, notadamente as discussões ou adoção das novas normas internacionais. E mais, que a representação regional do OIE para as Américas desempenha também um papel particularmente importante na busca de colaborações operacionais com as outras organizações regionais, por exemplo, no apoio metodológico aos serviços oficiais dos Países Membros.

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3. Comissões Especializadas do OIE utilizam a informação científica atual para estudar os problemas de epidemiologia, prevenção e controle das enfermidades dos animais, e assim elaborar e revisar as normas internacionais da OIE e tratar temas científicos e técnicos demandados pelos Países Membros.

As Comissões Especializadas possuem como principais

funções, as apresentadas na Figura 5.

Além disso, dois membros, escolhidos pela sua competência, tratam dos temas técnicos de interesse geral e a situação sanitária mundial é objeto de um informe resumido que é complementado com dados gerados por País Membro. A participação de especialistas brasileiros e estrangeiros nas reuni-

Órgão supremo da OIE

Reúne-se 1 vez ao ano

167 membros (1 país, 1 voto)

Principais funções: adotar normas internacionais em matéria de sanidade

animal, sobretudo para o comércio internacional;

adotar resoluções sobre a luta contra as principais enfermidades dos animais;

eleger os membros dos órgãos diretivos da OIE (Presidente e Vice-Presidente do Comitê, Membros da Comissão Administrativa, das Comissões Regionais e das Comissões Especializadas);

nomear o Diretor Geral da OIE; examinar e aprovar o informe anual de atividades e o

informe financeiro do Diretor Geral, assim como o orçamento da OIE.

Figura 5: fluxograma elaborado com base nas informações do OIE.

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ões do OIE é fundamental para garantir que padrões sanitários legítimos, baseados em estudos técnicos e científicos, sejam adotados no comércio internacional de produtos de origem animal. Caso contrário, restrições impostas ao comércio desses produtos podem se converter em barreiras não-tarifárias às ex-portações brasileiras (BRASIL; MRE, 2009).

Em seu trajeto histórico, o OIE se propõe a combater a propagação internacional das enfermidades infecciosas dos animais. Atualmente, o OIE incorpora, ainda, o compromisso de melhorar a sanidade animal em escala mundial, assumindo uma gama de responsabilidades que envolvem não só o enten-dimento de que todos os países e territórios membros compar-tilhem uma mesma vontade política, mas que também desen-volvam novos mecanismos institucionais e técnicos, tanto em escala nacional, como regional e mundial (BRASIL; MAPA, 2009).

O OIE apresenta como meta, também, convencer as autoridades nacionais e as organizações internacionais compe-tentes de que os investimentos públicos destinados a lutar contra as enfermidades dos animais, inclusive as transmissíveis aos humanos, são insuficientes. O custo exorbitante das recentes crises mundiais ligadas à encefalopatia espongiforme bovina (EEB ou vaca louca) ou à febre aftosa demonstra que é melhor investir na prevenção das doenças do que, de maneira onerosa, apagar incêndios que podem se estender por todo o mundo (VALLAT, 2003).

O OIE é a única organização mundial consagrada exclusivamente à luta contra as enfermidades dos animais, inclusive as transmissíveis ao homem. O trabalho do OIE consiste, sobretudo em proporcionar à comunidade internacional as ferramentas para controlar as enfermidades dos animais e as zoonoses e, se possível, eliminá-las. Para tanto, o OIE favorece um diálogo permanente entre seus Países Membros, alimentado pelos bancos de dados epidemiológicos e científicos elaborados por suas próprias estruturas. Esses dados, informados no sítio eletrônico do OIE, são os seguintes:

a) Informação sanitária: cada país membro notifica ao OIE as enfermidades dos animais detectadas em seu território. O OIE comunica essa informação a todos os Países Membros para que possam se proteger. O OIE

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publica apenas as informações oficiais, validadas pelos poderes públicos. Entretanto, o OIE pesquisa ativamente as informações não oficiais e interroga diretamente, se necessário, as autoridades nacionais para confirmar ou invalidar rumores. Esse sistema permitiu registrar grande progresso na transparência da situação zoossanitária mundial. A publicação em tempo real da situação das enfermidades dos animais e zoonoses no mundo é uma das missões históricas do OIE que justificou em grande parte sua criação. A pesquisa permanente da confiabilidade das informações transmitidas à comunidade internacional constitui para o OIE e para os chefes dos serviços veterinários dos países membros uma grande responsabilidade. Qualquer deficiência nesse campo pode ter consequências catastróficas nos países membros, bem como em outras partes do mundo (OIE, 2009) (grifo da autora).

b) Informação científica: uma rede mundial composta de laboratórios de referência e centros colaboradores permite ao OIE, recopilar, analisar e divulgar informação científica que possibilitam a elaboração de planos e métodos de luta contra as enfermidades, bem como contribuem para a elaboração de normas internacionais sobre bases científicas objetivas. A designação dos centros colaboradores e dos laboratórios de referência e de seus especialistas é feita segundo procedimentos precisos destinados a lhes conferir toda a legitimidade internacional necessária. Os membros da rede são propostos ao OIE pelos governos dos países membros e avaliados por uma comissão internacional composta de especialistas eleitos pela Assembléia Geral. Em seguida, a Assembléia Geral vota em aceitar as entidades científicas da rede mundial.

O Acordo da Organização Mundial do Comércio sobre a aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias possibilita aos países membros da Organização duas opções para a elaboração de medidas sanitárias. A primeira opção, a qual oportuniza aos países membros estabelecer suas medidas sanitárias harmo-nizadas com as normas internacionais do OIE, preconizadas pelo

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Código para Animais Terrestres e o Código para Animais Aquá-ticos. A segunda opção se aplica no caso da inexistência de norma pertinente ou quando um País-Membro deseja adotar um nível de proteção mais elevado que o conferido pela norma do OIE. Esta opção, no entanto, implica em recorrer a uma análise de risco baseada em argumentos científicos, com a finalidade de determinar se a importação de uma mercadoria específica constitui risco significativo para a saúde animal e a saúde humana e, se existe a necessidade de determinar medidas sani-tárias que deverão ser aplicadas com o fim de reduzir o risco a um nível aceitável para o país importador. Inclusive, se o país importador aplica as medidas sanitárias recomendadas nos Códigos, a análise de risco pode ser necessária para garantir que exista uma estrutura sólida que combine os perigos (agentes patogênicos) vinculados com a mercadoria, a condição sanitária tanto do país importador como exportador e as recomendações dos Códigos (OIE, 2009).

Vale salientar, como forma de exemplificar fatos recentes, que durante o processo de litígio envolvendo duas instituições federais, referente ao caso de enfermidades de declaração compulsória que infectaram camarões reprodutores, os infratores apresentaram defesa insinuando que as orientações para as ações em defesa sanitária animal eram de aplicação apenas nos casos de importação ou exportação da mercadoria em questão. Contrariamente ao argumentado, resta claro que o serviço veteri-nário oficial neste caso, naquilo que diz respeito ao ordenamento das ações de defesa sanitária animal agiu em consonância com o que regulamenta o OIE.

Conforme citado anteriormente, o OIE elabora documentos normativos nos quais se definem as regras que devem ser observadas pelos Países Membros para se protegerem contra um possível ingresso de agente patogênico das enfermidades nominadas pelo OIE. A lista de enfermidades abordadas pelo OIE evolui de maneira permanente e uma atenção particular é atribuída atualmente às doenças emergentes ou aos patógenos susceptíveis de serem utilizados diretamente pelos seres humanos para fins criminosos. Estas preocupações propiciaram uma reforma das modalidades de notificação das doenças e dos eventos epidemiológicos pelos países membros. Atualmente, existe apenas uma única lista de enfermidades notificáveis,

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abrangendo tanto as enfermidades que acometem os animais terrestres como aquelas que acometem os aquáticos. Critérios científicos eleitos pelo OIE determinam as enfermidades e os eventos epidemiológicos que devem ser notificados com urgência (notificação imediata, prazo máximo de 24 horas) e aqueles cuja declaração pode ser um pouco diferida (declaração obrigatória). As normas do OIE são regras sanitárias de refe-rência internacional reconhecidas pela Organização Mundial do Comércio e estão descritas nos Códigos e Manuais9.

As normas constantes destes documentos são aprovadas formalmente por meio de resoluções, pelo Comitê Internacional do OIE, no qual fazem parte todos os Delegados dos Países Membros da organização e é seu órgão supremo. As recomen-dações feitas pelos Códigos levam em conta a natureza das mercadorias comercializadas e a situação sanitária (status sanitário) do país exportador, para evitar a introdução, no país importador, de enfermidade a que se aplicam. Isto significa que as recomendações conferem se as medidas são aplicadas corre-tamente, um nível ótimo de segurança sanitária à importação proposta, levando-se em conta os conhecimentos científicos mais recentes e das técnicas disponíveis.

Qualquer país exportador deverá dispor ao país importador, sempre que este solicite, as seguintes informações:

• A situação zoosanitária e seus sistemas nacionais de informação sobre as enfermidades animais, com objetivo de determinar se estão livres ou dispõem de zonas livres de enfermidade da lista do OIE, assim como sobre a regulamentação e os procedimentos vigentes para man-ter essa classificação;

• A ocorrência de enfermidades transmissíveis, com regularidade e rapidez de notificação;

• A capacidade de seu serviço oficial para aplicar medidas de prevenção e controle das enfermidades da lista do OIE;

9 a) para animais terrestres: Código Zoosanitário Internacional e Manual de Normas para as Provas de

Diagnóstico e de Vacinas; b) para animais aquáticos: Código Sanitário Internacional para os Animais Aquáticos e Manual de Diagnóstico para as Enfermidades dos Animais Aquáticos.

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• A estrutura dos Serviços Veterinários e os poderes de que estes dispõem;

• As técnicas que utiliza, e em particular as provas biológicas e as vacinas (quando for o caso) utilizadas na totalidade ou parte de seu território.

Para a movimentação de animais e mercadorias o OIE adota como documento de fé pública os Certificados Veterinários Internacionais, que são emitidos pelas autoridades do país ex-portador e, em alguns países, como por exemplo, o Brasil, há a exigência de que o certificado seja visado pelo serviço consular no país de origem (Decreto 24.548/34). Neste certificado são relatados os requisitos exigidos pelo país importador em matéria de sanidade animal e saúde pública, com objetivo de facilitar os intercâmbios comerciais e não para criar obstáculos, impondo condições sanitárias injustificáveis.

Estas exigências garantem que um país importador não possa exigir do país exportador garantias de ausência de infecções que estejam disseminadas em seu próprio território, pois representaria ato contrário aos princípios do fomento internacional. Portanto, a atuação dos Serviços Veterinários obedecem aos princípios da coletividade e cada país, para ter força de exigência sanitária, deve ter estas exigências já implementadas em seu país.

4.3. Codex Alimentarium: processos de regulamentação

O Codex Alimentarius foi criado em 1962, com sede em

Roma, constituído por 173 Membros tendo por objetivo, cumprir com o Programa Conjunto da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desenvolve suas atividades sob uma estrutura de direção composta por três órgãos, quais sejam:

a. Comissão do Codex Alimentarius: órgão máximo do Programa Conjunto da Organização das Nações Unidas, com representação de todos os países membros, sendo a instância que aprova as normas do Codex. A sua diretoria é composta por um presidente e três vicepresidentes;

b. Secretaria da FAO/OMS: tem como finalidade fornecer o apoio operacional à Comissão e aos seus órgãos

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auxiliares em todo o procedimento de elaboração das normas;

c. Comitê Executivo: tem por competência implementar as decisões da Comissão e atuar em seu nome nos perío-dos entre reuniões.

O Codex possui, ainda, dois órgãos assessores: (1) JECFA

(Grupo FAO/OMS de peritos sobre Aditivos e Contaminantes) e (2) JMPR (Grupo FAO/OMS de peritos sobre Resíduos de Pesti-cidas) e mais trinta e oito Comitês que atuam como órgãos auxi-liares.

O Codex é reconhecido pela OMC para estabelecer as normas sobre a qualidade sanitária dos alimentos e, tem como finalidade proteger a saúde da população, assegurando práticas equitativas no comércio regional e internacional de alimentos, criando mecanismos internacionais dirigidos à remoção de barreiras tarifárias, fomentando e coordenando todos os traba-lhos que se realizam em normalização, por meio de normas, códigos de uso, diretrizes e recomendações (PAHO, 2008).

Vale lembrar que dos anos 60 aos anos 80 a população mundial cresceu mais de um milhão, ensejando um incremento na produção mundial de alimentos. Além do mais, as explorações agrícolas estavam recebendo novas tecnologias baseadas em substâncias químicas. Ressaltando, que até os anos 50 o aumento da produção agrícola estava baseado, principalmente, na ampliação da área cultivada, sem, entretanto aumentar a produtividade. A partir daí o aumento da produtividade foi con-seguido por meio do aumento do risco, caracterizado pelo fomen-to e incremento no uso da mecanização agrícola e introdução de novas variedades de cultivo de alto rendimento na área vegetal, a utilização de hormônios de crescimento, estimuladores orgânicos, antibióticos, entre outros, na área animal. Os defen-sivos agrícolas bem como os fertilizantes químicos, assim como as técnicas aplicadas para reduzir as perdas e os desperdícios dos alimentos desempenharam também um importante papel no desenvolvimento e produtividade na produção de alimentos (FAO, 2006).

Contudo, a preocupação dos consumidores com a seguridade data de priscas eras, pois que na antiguidade os reis já se utilizavam de oficiais ou “provadores”, os quais atuavam

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como sentinelas pela segurança dos alimentos a serem servidos aos reis e outros membros da família real. Para a avaliação de pesos e medidas corretas de cereais, documentos históricos revelam que os assírios já possuíam um método específico. Na antiga Atenas inspeções eram realizadas com a finalidade de determinar a pureza e o estado da cerveja e do vinho, e os romanos, por sua vez, possuíam um sistema estatal organizado que visava à proteção dos consumidores contra fraudes ou produtos de má qualidade. Na Idade Média, distintos países aprovaram leis relativas à qualidade e inocuidade de alimentos como ovos, salsichas, queijos, cerveja, vinho e pão (FAO, 2006).

O período entre final do século XIX e início do século XX, o império austro-húngaro, realizou uma coletânea de normas e descrições de produtos envolvendo uma grande variedade de alimentos. Entrementes, este documento não tenha vigorado como instrumento jurídico, serviu como referência em tribunais, com a finalidade de determinar normas de identificação de certos alimentos. Esta coletânea recebeu o título de Codex Alimentarius Austriacus (FAO, 2006).

Todavia, somente na segunda metade do século XIX é que foram aprovadas as primeiras legislações que regem sobre a qualidade sanitária dos alimentos, bem como a implantação de sistemas básicos de fiscalização para o cumprimento da lei. Foi nesta época, igualmente, que iniciaram ações para a identifica-ção de fraudes na venda de produtos alimentares, bem como a identificação de produtos comestíveis inócuos.

No ano de 1943, quarenta e quatro países firmaram a “Conferência das Nações Unidas sobre Agricultura e a Alimen-tação” com a intenção de criar uma organização internacional com a finalidade de cooperar com os governos no propósito de ampliar e melhorar as normas relacionadas com a composição nutricional dos alimentos, assim como com o encargo de formular e adotar normas internacionais equivalentes. Neste sentido, as iniciativas européias para criar um código alimentário europeu, o Codex Alimentarius Europeu, acelerou as discussões com vistas à criação de um organismo internacional (GARCIA, 2008).

Este crescimento do setor de produção de alimentos foi a-crescido da maior percepção dos consumidores para ingestão de alimentos saudáveis, prevenindo o aparecimento de distúrbios à saúde, como por exemplo, a obesidade, a diabetes, a hiperten-

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são, a resistência aos antibióticos, entre outros. Aliado a estes fatores, aparecia ainda a preocupação do consumidor com o uso na produção de alimentos de aditivos e conservantes, ou de pro-dutos contaminados por defensivos ou medicamentos (GARCIA, 2008).

Por seu turno, a disponibilização de alimentos contami-nados com substâncias químicas sintéticas, como os pesticidas, suscitou uma crescente preocupação por parte das autoridades sanitárias. Entretanto, os contaminantes de origem microbiológi-ca presentes nos alimentos de origem natural constituem uma ameaça muito maior para a saúde da população mundial. Estudos da Organização Mundial da Saúde informam que a cada ano ocorrem milhões de casos de diarréia devido ao consumo de alimentos contaminados com bactérias e vírus, e que ocorre prin-cipalmente em crianças menores de cinco anos, com ênfase aos que vivem nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento (FAO, 2006).

A ocorrência destas enfermidades traz preocupações de maior ordem, uma vez que a contaminação pode ter sua origem no solo ou na água onde se cultiva o alimento, ou mesmo no animal do qual procede o alimento, bem como na manipulação durante a elaboração e preparação, ou ainda, no prato em que é servido o alimento. Desta preocupação surgiu a expressão atual-mente em uso em relação à segurança dos alimentos, “from farm to fork” ou “from sea to table”. Nesta proposta, as instituições nor-matizadoras buscam um nível elevado de segurança dos alimentos, saúde e bem estar dos animais e fitossanidade, por meio de medidas coerentes "desde a exploração agrícola/-aquicola até à mesa" e de uma vigilância adequada, assegu-rando simultaneamente o funcionamento efetivo do mercado interno.

Muito embora os avanços tecnológicos na área da produção e da industrialização de alimentos, as enfermidades de origem bacteriana ainda constituem um sério problema para os consumidores, como por exemplo, a Listeria, presente em quase todos os alimentos, apresentando algumas cepas capazes de se desenvolverem em temperaturas abaixo de zero. Neste sentido, também são registradas a ocorrência de Salmonella, Campy-lobacter ou mesmo outras bactérias nocivas, as quais a tecnologia nem sempre pode garantir sua ausência em carnes

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cruas (CORRÊA et al., 2006; CORRÊA et al., 2007; PEREIRA et al. 2006).

É importante salientar que o Codex Alimentarius oferece aos países orientações relativas às boas práticas agrícolas, incluindo o modo do emprego de pesticidas, normas alimentares para a elaboração de produtos e códigos de práticas de higiene a fim de conseguir que os alimentos sejam inócuos para seus cidadãos e aceitáveis no comércio internacional. Entretanto, relatos disponibilizados pela FAO informam que os países participantes da Rodada do Uruguai reconheceram que as medi-das adotadas pelos governos nacionais para proteger a saúde de seus consumidores e dos animais e das plantas poderiam representar obstáculos ao comércio e serem discriminatórios. O Acordo sobre MSF reconhece que os governos possuem o direito de adotar as medidas sanitárias e fitossanitárias que sejam necessárias para proteção da saúde humana e impedem que sejam aplicados diferentes requisitos a distintos países nos quais prevalecem condições idênticas ou similares, a menos que exista uma justificativa científica para fazê-la (FAO, 2006; EUROPA, 2009).

É objetivo do Codex Alimentarius servir como norteador de ações e incentivador na elaboração e no estabelecimento de definições e requisitos aplicáveis aos alimentos com fins de harmonização que possibilite facilitar o comércio internacional. As normas estabelecidas pelo Codex têm a finalidade de garantir ao consumidor um produto saudável e genuíno, não adulterado e que esteja devidamente etiquetado e embalado. O incremento do Codex permitiu a melhoria das normas aplicáveis à fabricação, elaboração, inocuidade e qualidade dos alimentos em todo o mundo e tem contribuído com o crescimento do comércio mundial de alimentos (FAO, 2006).

A harmonização das normas nacionais com as internacionais favorece o comércio e diminui a proliferação de critérios nacionais distintos, os quais poderiam refletir em entraves comerciais. Por seu turno, os governos podem justificar medidas nacionais quando estas estão alicerçadas em análises de risco adequado, contudo as medidas não devem restringir o comércio mais que o necessário para estabelecer o nível de pro-teção desejado para a saúde pública. Entretanto, é importante ressaltar que o nível de proteção sanitária que desejam os gover-

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nos, embora seja de sua exclusiva incumbência, não pode ser arbitraria, mas deve ser coerente com riscos sanitários similares.

A liberdade dos países de estabelecerem seus próprios padrões de exigências na determinação de regras sobre a produção, o processamento e o consumo de produtos alimen-tares, pode se converter em barreiras intransponíveis para países exportadores destes produtos, sendo que, muitas vezes estas barreiras são estabelecidas com a finalidade de maquiar a proteção do setor produtor doméstico (THORSTENSEN, 2001).

Entendendo que as enfermidades dos animais ou mesmo, os agentes patogênicos presentes ainda na etapa de produção animal podem influenciar na inocuidade dos alimentos e, preocupados com a possibilidade de que o OIE e o Codex pudessem produzir normas diferentes, ou mesmo contraditórias, ou de que não dessem pronta resposta em certos campos para os quais as normas ainda não foram preparadas, foram instaurados mecanismos formais de cooperação entre o Codex e o OIE. Essa ação conjunta levou à existência de um grupo de trabalho permanente do OIE que trata, com o apoio de altas personalidades do Codex, do problema dos riscos potenciais que existem para os consumidores na etapa de produção dos animais e seus produtos. Esse grupo tem por objetivo propor ao OIE e ao Codex as novas normas apropriadas para cobrir, por exemplo, os riscos que existem nos estabelecimentos agrícolas vinculados à salmonela, listeria, E. Coli 157, cisticercose, uso de antibióticos etc.

Como parâmetro de harmonização internacional, o Acordo MSF tem designado e adotado, para efeitos de inocuidade dos alimentos, as normas diretrizes e recomendações estabelecidas pela Comissão do Codex Alimentarius. Para melhor compreensão, ressaltamos aqui alguns dos artigos do Acordo MSF, a saber:

Artigo 2.2 - Os membros asseguram que qualquer medida sanitária e fitossanitária só seja aplicada quando necessária para a proteção da saúde e da vida das pessoas e dos animais ou para preservar os vegetais, que esteja baseada em princípios científicos e que não se mantenham sem testemunhos científicos suficientes (ACORDO MSF).

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Artigo 3.1 - Para harmonizar no maior grau possível as medidas sanitárias e fitossanitárias, os Membros basearão suas medidas sanitárias ou fitossanitárias em normas, diretrizes ou recomendações internacionais, quando existam, salvo disposição em contrário ao presente Acordo (ACORDO MSF).

Ainda, com o objetivo de estimular para que os produtores de alimentos adotem voluntariamente as normas e procedimentos foi elaborado pelo Comitê do Codex Alimentarius um Código de Ética para o Comércio Internacional de Alimentos, que traz como princípios gerais a ideologia de que todos os consumidores tenham direito a alimentos inócuos, sãos e genuínos e protegidos de práticas comerciais desonestas.

Atualmente, o Codex Alimentarium é referência mundial para consumidores, produtores e indústria de gêneros alimen-tícios, para os organismos nacionais de controle de alimentos e para o comércio internacional de produtos alimentares. A sua influência estende-se a todos os continentes e a sua contribuição para a saúde dos consumidores e a garantia de práticas comer-ciais leais é enorme.

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CAPÍTULO II10

SANIDADE DE BIVALVES EM CULTIVO NO ESTADO DE SANTA CATARINA: O PAPEL DO ESTADO E AS INTERAÇÕES

ENTRE A POPULAÇÃO E O SERVIÇO PÚBLICO

RESUMO - Este estudo teve por objetivo conhecer a percepção dos atores envolvidos no setor da maricultura de bivalves com referência a classificação das enfermidades de notificação obrigatória às autoridades sanitárias e sua relação com as ações compulsórias dos serviços oficiais. A coleta de dados incluiu análise de questionários, apreciação de documentos oficiais, pesquisa bibliográfica em bases de dados e entrevistas. O estu-do concluiu que a lacuna de conhecimento jurídico sobre a saúde animal por parte dos diferentes atores prejudica as ações do Es-tado para prevenção, controle e erradicação de enfermidades. Da mesma forma, o estudo apresenta algumas estratégias que depois de implementadas poderão contribuir para uma redução nos prejuízos em possíveis casos de emergência sanitária.

Palavras-chave: maricultura, bivalves, sanidade animal, defesa sanitária.

10 Neste capítulo encontra-se o artigo científico com o título SANIDADE DE BIVALVES EM CULTIVO NO ESTADO DE SANTA CATARINA: O PAPEL DO ESTADO E AS INTERAÇÕES ENTRE A POPULAÇÃO E O SERVIÇO PÚBLICO, redigido segundo as normas do periódico do Instituto de Pesca/São Paulo. O artigo foi enviado para submissão em fevereiro de 2010.

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HEALTH OF BIVALVES FARMING IN THE STATE OF SANTA CATARINA: THE ROLE OF STATE AND THE INTERACTIONS

BETWEEN THE POPULATION AND PUBLIC SERVICE

ABSTRACT - The present study aimed to acknowledge the perception of actors involved in the bivalves production concerning the classification of the obligatory declaration diseases and the compulsory actions from the service officers. Data collection included appreciation of official documents, literature review of scientific articles available on Science Direct and SciELO database, and interviews with few actors. For analyzing these material the "users' guides to the aquatic animal health" was taking into account. The final conclusion indicate a lack of knowledge among different actors on the subject of aquatic animal health legislation what brings obstacles for State’s action for preventing, controlling and eradicating diseases. The study also presents some strategies that could contribute to a reduction in losses in possible cases of bivalve emergency.

Key words: mariculture, bivalve, animal health, sanitary defense.

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INTRODUÇÃO

A atividade conhecida como malacocultura dedica-se ao cultivo de moluscos, sendo que várias espécies nativas estão distribuídas por toda a costa litorânea brasileira. Esta atividade inicialmente proposta como uma opção de amparo aos pesca-dores artesanais catarinenses, gradualmente tornou-se uma importante fonte de renda desta classe, mudando o perfil eco-nômico de boa parte dos pescadores artesanais e contribuindo para a fixação das populações tradicionais em seus locais de origem (MANZONI, 2005).

A despeito da atividade apresentar elevada importância social, com geração de emprego e renda, os maricultores manifestam preocupação com a significativa mortalidade idiopá-tica das ostras, que ocorre nos meses quentes, especialmente no verão, quando é grande a afluência de turistas. O aporte de turistas representa para os maricultores maiores opções de comércio e para o ambiente marinho, maior contaminação das águas. Apesar da mortalidade animal, a preocupação com a saúde destes organismos ainda não constitui prioridade das políticas públicas do setor.

Todavia, para o enfrentamento de determinadas enfer-midades que acometem os bivalves e que são capazes de restringir mercados, causar mortalidade dos animais, reduzir expectativas de lucros e mesmo levar a falência da atividade, faz-se necessária a intervenção dos órgãos oficiais. Entretanto, a participação da pesquisadora em diversos encontros, conversas e reuniões permitiram observar uma relativa dificuldade por parte dos diferentes atores do setor da maricultura, principalmente por parte dos sujeitos formadores de opinião, com relação às ações dos órgãos oficiais. Foi possível observar durante os eventos que permearam o combate à enfermidade das manchas brancas nos camarões em cultivo no Estado de Santa Catarina, que o desconhecimento da legislação e a equivocidade quanto à valo-ração e a aplicação das ações pertinentes à defesa sanitária animal podem ter colaborado para o fracasso da atividade.

Frente a estas observações e a preocupação para que casos semelhantes não se repitam com os bivalves, emergiu a proposta para a realização do presente estudo. O ponto de partida consistiu em analisar o discurso dos diferentes atores da

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maricultura catarinense de bivalves quanto ao entendimento das enfermidades de declaração compulsória e da atuação do Estado nestes casos, com vistas ao planejamento participativo de estratégias sanitárias em casos emergenciais. O objetivo está na expectativa de que em conhecendo os limites legais das instituições e da defesa sanitária animal como função da admi-nistração pública, na sua origem política e jurídica, e assumindo o pressuposto de melhor compreender para melhor agir, a parceria entre os diferentes atores poderá ser mais colaborativa e assim, com uma atuação conjunta, célere e harmonizada, bus-car reduzir os prejuízos e os danos que poderão advir caso um patógeno de notificação obrigatória seja identificado nos cultivos de bivalves. A proposta está em realizar a busca sobre o conhecimento relevante considerando que a falta de informações precisas subtrai do ator a possibilidade de uma prática cons-ciente. A explicitação dos atos que fomentaram a participação do Brasil no mercado internacional e a formulação das políticas internas de defesa sanitária animal revela-se de grande importância para a colaboração dos diferentes atores da maricultura de bivalves na salvaguarda da higidez dos cultivos. Anota-se que a compreensão dos atos legais possibilita maior agilidade e harmonização quando da necessidade de uma atuação emergencial capaz de reduzir o impacto negativo das enfermidades.

MATERIAL E MÉTODOS

Optou-se por uma abordagem qualitativa como forma de

ressaltar o modo pelo qual o objeto de estudo se manifesta. A coleta dos dados foi realizada por meio de questionário formulado com questões abertas, semi-abertas e de graduação, sendo que o conteúdo das perguntas levou em conta o objetivo da pesquisa, o qual consistiu na exploração do grau de conhe-cimento de alguns dos atores da cadeia produtiva da maricultura sobre as ações a serem tomadas pelo serviço oficial quando da suspeita/confirmação de uma enfermidade de declaração compulsória. As perguntas foram elaboradas de modo a englobar três grupos de informações: as definições técnicas, as determinações legais pertinentes e as avaliações pessoais. O método de análise buscou ponderar, em uma escala de bom,

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médio e baixo, o entendimento dos atores em relação ao tema por meio de perguntas variadas, mas com respostas articuladas para os três tipos de informação: técnica, jurídica e pessoal. O universo da amostra analisada contou com a participação de professores de cursos de pós-graduação em aquicultura, produtores e responsáveis técnicos pela produção aquícola cata-rinense. A verificação do conhecimento destes atores tem relevância na medida em que eles estão, geralmente, em contato direto com as áreas produtivas e, portanto, em condições melhores de observar os sinais da possível presença de uma enfermidade ou do agente patogênico, bem como, em sua maioria, representam atores que contribuem na formação de opinião entre seus pares e produtores.

RESULTADOS

Os dados permitiram inferir que, independentemente de

ser professor, produtor ou responsável técnico, os respondentes não demonstraram conhecer os princípios fundamentais que orientam o sistema de defesa sanitária animal nacional, suas bases legislativas, nem mesmo seus enlaces internacionais. Alguns dos respondentes tangenciaram definições mais antigas propostas pelo Office International des Epizooties (OIE) sem, contudo, dar vistas à legislação nacional e a representatividade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como instituição norteadora dos programas sobre a saúde e a produção animal, incluindo suas vinculações com a saúde pública e com a produção de alimentos de origem animal.

Embora alguns dos respondentes tivessem apresentado o conteúdo de suas respostas tangenciando as definições preconizadas pelo OIE, o grupo participante demonstrou um nível baixo de conhecimento específico naquilo que se refere ao escopo das enfermidades questionadas, uma vez que as defi-nições foram dadas sem precisão e sem referenciar o espectro econômico e social das mesmas; um nível baixo de conhecimento das prescrições legais relacionados à sanidade animal, uma vez que muitas respostas contrariaram as deter-minações previstas no corpo jurídico pertinente e, por fim, um nível médio de entusiasmo em relação à atividade da maricultura de bivalves e ao serviço de defesa, uma vez que as respostas

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indicavam relativo otimismo no setor e confiança em algumas instituições. Os participantes, embora não demonstrando conhe-cimento sobre os trâmites que envolvem as enfermidades tuteladas pelo Estado, sabiam indicar o nome de algumas destas enfermidades e, em alguns casos, conheciam, igualmente, o nome do agente etiológico.

DISCUSSÃO Muito embora o baixo nível apresentado pelos

respondentes, as medidas de prevenção, controle e erradicação de enfermidades exóticas ou emergenciais estão amparadas na legislação brasileira em vigor. Neste sentido, o Decreto nº. 24.548, de 3 de julho de 1934, aprovou o Regulamento do Servi-ço de Defesa Sanitária Animal e a Lei nº 569, de 21 de dezembro de 1948, estabeleceu as medidas a serem aplicadas no caso da constatação de enfermidades tuteladas pelo Estado (BRASIL; MAPA 2009 a, b).

Anota-se, que conforme notas do OIE, os conhecimentos científicos sobre a relação existente entre o agente patogênico e a enfermidade evoluem constantemente e que a presença de um agente infeccioso não implica, necessariamente, na presença de uma enfermidade. Isto significa que dentro das obrigações dos países membros, a simples identificação de um agente infeccioso deverá ser informada, mesmo que não tenha sido observado nenhum sinal ou manifestação clínica da enfermidade. Assim, toda a comunicação de suspeita ou ocorrência de enfermidade exótica e as que ameaçam a economia do país, a saúde pública e o meio ambiente, representam ato obrigatório e deve ser comunicado, de imediato, na unidade sanitária do órgão executor mais próxima, representada pela Unidade Veterinária Local.

Por oportuno ressalta-se que o Brasil possui enlaces comerciais internacionais, os quais podem envolver barreiras não tarifárias. Da mesma forma, é pertinente lembrar que as auto-ridades sanitárias nacionais possuem o compromisso da transparência e que estas autoridades estão comprometidas com a obrigatoriedade de informar à Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA/OIE), em duas modalidades, a saber: (a) enfermidades de notificação imediata, informar em até 24 horas, o aparecimento de qualquer caso de ocorrência de enfermidades

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diagnosticada por primeira vez no país em determinada espécie ou em outra espécie; (b) enfermidades de declaração obrigatória, informe semanal, para informações adicionais sobre a evolução do caso que justificou a notificação de urgência, sendo que este informe seguirá sendo enviado até que a situação tenha sido solucionada, seja por motivos de erradicação ou porque a enfermidade se tornou endêmica e o país passe a cumprir com suas obrigações com o OIE, enviando então os informes semes-trais. De qualquer modo, deverá enviar um informe final sobre o caso inicial. Ainda, constituem obrigação dos países-membros, manterem o informe semestral sobre a ausência ou presença e evolução das enfermidades constantes da lista do OIE, bem como informações que, sob o ponto de vista epidemiológico, sejam importantes para os demais países (OIE, 2009).

Vale ressaltar que no direito brasileiro o desconhecimento da lei é inescusável, isto é, não existe a possibilidade de aceitação da ignorância da lei para isentar o infrator das pena-lidades cabíveis. Ter conhecimento de uma destas enfermidades e não informar significa ferir o ordenamento legal vigente. Resta importante que os diferentes atores com atuação na maricultura de bivalves, principalmente aqueles formadores de opinião, que mantenham e distribuam o conhecimento de que a comunicação da suspeita ou confirmação de uma enfermidade listada pela autoridade sanitária nacional deve ser comunicada de imediato aos serviços veterinários. Que é necessário contar com proce-dimentos mínimos harmonizados para intercâmbio de informação e adoção de medidas de controle sobre as enfermidades priorizadas pelos Estados Partes.

Neste sentido, a Lei 8171, de 17 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política agrícola, em seu Capítulo VII dispõe exclusivamente sobre a defesa agropecuária. Nesta esteira, também a Lei 9712, de 20 de novembro de 1998, acrescenta dis-positivos referentes à defesa agropecuária à Lei 8171, utilizando a expressão defesa agropecuária em seu artigo 27 e colocando a sanidade e a saúde como seus objetivos, valendo-se da defesa sanitária animal como instrumento de ação. Por seu turno a Lei 10.683 de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, em seu artigo 27, inciso I, item “e” estabelece como competência do MAPA, a defesa sanitária animal. Entendendo-se defesa sanitária animal

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como o conjunto de atividades consubstanciadas nas ações de fiscalização, vigilância, promoção e controle da saúde dos animais e das populações de animais, bem como da qualidade e segurança dos insumos e produtos, além das relações de complementaridade que se estabelecem com as instituições internacionais de defesa sanitária animal. A defesa agropecuária é exercida de forma integrada com os demais setores da Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA: Departamento de Saúde Animal, Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários, Coordenação de Apoio Laboratorial, Coordenação Geral do Sistema de Vigilância Agropecuária e Coordenação de Controle de Resíduos e Contaminantes.

Entretanto, vale ressaltar que o legislador na Lei 11.958, de 26 de junho de 2009, a qual altera a Lei 10.683/03, inclui o Ministério da Pesca e Aqüicultura - MPA no mesmo artigo 27, inciso XXIV, instituindo em seu item “e” como competência deste, a sanidade pesqueira e aquícola, sobre posicionando ações em ambos os Ministérios.

Por sua vez, o Decreto nº 5.741, de 30 de março de 2006, regulamenta, dá outras providências e estabelece os princípios a serem observados em matéria de sanidade agropecuária, especialmente os relacionados com as responsabilidades dos produtores, dos fabricantes e das autoridades competentes, com requisitos estruturais e operacionais da sanidade agropecuária. O Decreto regulamenta ainda, que as ações de vigilância e defesa sanitária dos animais estão organizadas sob a coordenação do Poder Público nas várias instâncias federativas e no âmbito de competência de cada uma. Dentro da competência de cada instância está o propósito maior, qual seja o da promoção da saúde animal e humana. As estratégias e políticas de promoção à sanidade e de vigilância são ecos-sistêmicas e descentralizadas, por tipo de problema sanitário, visando o alcance de áreas livres de pragas e doenças, conforme previsto em acordos e tratados internacionais subscritos pelo País. Salienta-se que o MAPA no desígnio de incluir a atenção à saúde animal de forma articulada entre os diversos níveis de governo, expediu uma série de atos legais com a finalidade de possibilitar a organização e harmonização dos programas de saúde animal. Estão entre estes atos, portarias, instruções

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normativas e de serviços que regulamentam os programas e que contaram para sua formulação, com ampla participação de representantes de instituições profissionais e de usuários vinculados à questão.

Vale lembrar que o Estado de Direito moderno floresceu da Revolução Francesa, tendo nascido daí, também, o Direito Administrativo como ramo autônomo da ciência do Direito e, consequentemente, forjando o princípio da legalidade da Administração Pública. Ressalta-se que o conceito e a compre-ensão da legalidade da Administração Pública, contrariamente ao conceito de Estado de Direito, é um conceito fixo, fechado (MELLO, 2001).

Neste sentido, oportuno correlacionar este conceito ao prisma de uma das bases do ordenamento jurídico nacional, qual seja a Constituição Federal Brasileira. Neste ponto vale afirmar que a Constituição Federal tem por finalidade regular o com-portamento dos cidadãos e dos órgãos do governo, visando à manutenção da paz social e da segurança jurídica, o que é considerado como fundamental para o Estado de Direito mo-derno. Assim, o princípio da legalidade como determinação le-gal de observação obrigatória, está expresso na Constituição Federal em dois momentos, quais sejam: o artigo 5º, inciso II, o qual rege sobre a garantia da liberdade dos cidadãos, quando prevê que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo que não seja previsto em lei e no artigo 37, caput, como o princípio que deverá ser obedecido por toda a Administração Pública, em todos os níveis (BRASIL; C.F., 2009). Assim, neste momento do ordenamento jurídico resta claro que a Admi-nistração Pública possui limites, que não está livre para fazer ou deixar de fazer algo de acordo com a vontade do governante somente, mas que deverá obedecer a lei em toda a sua atuação.

Resumindo, o princípio da legalidade, no âmbito exclusivo da Administração Pública, significa que – ao contrário do particular, que pode fazer tudo que não seja proibido em lei, - a Administração Pública só poderá agir segundo as determinações legais. Desta feita, como a lei, nos termos específicos para a sanidade animal, somente regulamenta as ações para as enfermidades exóticas e as que ameaçam a economia do país, a saúde pública e o meio ambiente, resulta que o servidor público, neste caso específico, do serviço veterinário oficial, somente

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deve agir nos casos previstos em lei. Entretanto, vale ressaltar que as lacunas da lei, consideradas como leis falhas ou omissas, encontram fundamento no método da heterointegração, que consiste no recurso a ordenamentos legislativos diversos, recorrendo a fontes diferentes daquelas dominantes (BOBBIO, 1999). Neste sentido, sustenta-se que a possível existência de lacunas formais na legislação sanitária vigente, especificamente para animais aquáticos, pode encontrar fundamento pela analo-gia, costume, equidade e princípios gerais que regulamentam a Defesa Sanitária Animal, para aplicação no caso concreto não previsto expressamente (BRASIL; DOU, 1942).

Ressalta-se ainda, que a Política Nacional de Defesa Agropecuária, instrumento orientador das ações do setor Saúde Animal, apresenta como objetivo definir diretrizes e responsa-bilidades institucionais, com vistas a criar condições para prote-ger a saúde do rebanho nacional, incluindo os animais da aquicultura, bem como prevenir agravos à saúde animal. Anota-se, que os principais atos legais que norteiam esse processo, relativos ao período de 1934 a 2009, encontram-se, na íntegra, disponíveis no sitio eletrônico11 do MAPA, em formato digital e são eles:

(1) Decreto nº. 24.548, de 03 de julho de 1934, que aprova o regulamento do Serviço de Defesa Sanitária Animal no Brasil;

(2) o Decreto nº. 27.932, de 28 de março de 1950, que aprova o regulamento para aplicação das medidas de defesa sanitária animal;

(3) o Decreto nº. 5.741, de 30 de março de 2006, que regulamenta os arts. 27-A, 28-A e 29-A da Lei no 8.171, de 17 de janeiro de 1991, organiza o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, e dá outras providências;

(4) a Lei nº. 569, de 21 de dezembro de 1948, que estabelece medidas de defesa sanitária animal e dá outras providências;

(5) a Lei nº. 9.712, de 20 de novembro de 1998, que altera a Lei nº. 8.171, de 17 de janeiro de 1991, acrescentando-lhe dispositivos referentes à defesa agropecuária;

11 http://www.agricultura.gov.br/

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(6) a Portaria nº. 45, de 22 de março de 2007, que aprova o regimento interno da Secretaria de Defesa Agropecuária, na forma de Anexo a esta Portaria;

(7) outras legislações complementares, incluindo, naquilo que diz respeito aos animais aquáticos: a) Portaria nº. 573, de 04 de julho de 2003, que institui

o Programa Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos;

b) Instrução Normativa nº 53, de 02 de julho de 2003, que aprova o regulamento técnico do Programa Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos;

c) Instrução Normativa nº 18, de 13 de maio de 2008, que estabelece os procedimentos para importação de animais aquáticos para fins ornamentais e destinados à comercialização.

São ainda de interesse da maricultura de bivalves, os seguintes atos legais:

a) Instrução Normativa nº. 18, de 18 de julho de 2006, que aprova o modelo de Guia de Trânsito Animal – GTA, a ser utilizada em todo o território nacional para o trânsito de animais vivos, ovos férteis e outros materiais de multiplicação animal;

b) Portaria nº 162, de 18 de outubro de 1994, que aprova as normas complementares anexas a citada portaria, baixadas pelo Departamento de Defesa Animal, que versam sobre a fiscalização e o controle zoosanitário das exposições, feiras, leilões e outras aglomerações de animais, em todo o território nacional.

Vale lembrar que as legislações supra mencionadas se referem somente ao Departamento de Saúde Animal, tema espe-cífico deste estudo, mas que, entretanto, também representam atos legais de interesse da maricultura de bivalves aqueles que dizem respeito à inspeção de produtos de origem animal, ademais daqueles referentes à alimentação animal, os produtos veterinários, entre outros, igualmente sob a égide do MAPA.

Temos ainda, com relação aos cuidados com as enfermidades dos animais, também a Lei Substantiva expressa no Código Penal, a qual enuncia em seu artigo 259, que: “difundir

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doença ou praga que possa causar dano à floresta, plantação ou animais de utilidade econômica” representa crime ou ilícito cuja pena é de reclusão com mínimo de dois anos e máxima de cinco anos e ainda, prevê a aplicação de multa. Vale anotar que o “tipo objetivo” do crime, neste caso, é: difundir, espalhar, disseminar, propagar doença ou praga. Lembrando ainda, que por definição da OIE, não é necessário a manifestação clinica da doença para se considerar um caso a ser notificado. A simples identificação do agente etiológico, o que atualmente, por meio de ensaios laboratoriais biomoleculares se tornou bem mais eficiente a identificação, é considerado foco e deve ser comunicado às autoridades veterinárias locais para que as medidas sanitárias cabíveis sejam aplicadas. Em síntese, omitir a informação sobre um agente patogênico e permitir a difusão deste agente, mesmo que em níveis reduzidos de infecção representa crime passível de punição com privação de liberdade.

Considerando-se que a ninguém é dado direito a alegar desconhecimento da lei para eximir-se do seu cumprimento (artigo 3º do Decreto-lei nº 4.657/42 – Lei de Introdução ao Co-digo Civil), importante que estes atores busquem a aproximação com os órgãos oficiais de defesa sanitária animal, que busquem conhecer a legislação pertinente, até porque a lei e sua aplicação têm um “sentido educativo” para todos. A clareza da lei, a certeza de que ela será aplicada e a maneira como é aplicada disciplina as ações humanas. Este fato pode nos remeter à educação como um recurso amplamente aceito, onde a Constituição Fede-ral seja lida e interpretada. Hodiernamente, a visibilidade legis-lativa encontra amplitude a partir da rede mundial de comuni-cação eletrônica e cabe a cada pessoa a disposição para buscar este conhecimento.

Por seu turno, a integração dos mercados, como resultado do processo de globalização, impõe aos países a aplicação de regras, já acordadas internacionalmente entre os Países Membros, no propósito de harmonizar requisitos e reduzir os riscos. Estes fatos representam conhecimento importante para os atores envolvidos na maricultura de bivalves, uma vez que as regras que fundamentam as ações comerciais entre os países com ênfase na saúde dos animais aquáticos podem se constituir em barreiras não tarifárias na conquista de mercados. O aprofun-damento da compreensão das diretrizes internacionais e da

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legislação sanitária animal vigente no país, constituem ação estratégica para o planejamento das emergências sanitárias e para a estruturação de planos de contingenciamento para a maricultura de bivalves.

Verificou-se, neste estudo, como importante o enten-dimento por parte dos diferentes atores da maricultura de que as convenções globais formulam compromissos que os Estados nacionais devem cumprir e para os quais, muitas vezes, não estão preparados, principalmente quando envolvem setores da sociedade em atividades de produção, como é o caso da mari-cultura de bivalves e os prestadores de serviços a este setor.

Da mesma forma, observou-se que a expectativa do setor da maricultura de bivalves em conquistar novos mercados envolve considerar que as constantes transformações no cenário internacional, como a abertura dos mercados e a livre concor-rência, tornaram difíceis a qualquer país isolar-se do cenário econômico mundial. Isto porque os membros da comunidade internacional relacionam-se e firmam os mais diferentes compromissos por meio de convenções ou tratados internacio-nais. Assim, torna-se vultosa a forma pela qual o ordenamento jurídico interno de cada País disciplina a incorporação de tratados internacionais. Na Rodada do Uruguai foram adotados dois acordos referentes às barreiras técnicas: o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT) e o Acordo sobre Medidas Sanitária e Fitossanitária – Acordo MSF. Estes acordos recomendam que os Países Membros utilizem as normas, dire-trizes e recomendações internacionais da Comissão do Codex Alimentarius da FAO/OMS para os alimentos e da Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA/OIE) para a sanidade dos ani-mais e da Convenção Internacional de Proteção Fitossanitária da FAO, para a preservação dos vegetais.

Especificamente, naquilo que diz respeito aos Acordos e as recomendações do OMSA/OIE, os serviços veterinários oficiais dos países foram declarados na reunião de Genebra, no ano de 2007, como um “Bem Público Mundial” e sua harmonização com as normas internacionais são reconhecidas como uma prioridade para o investimento público. Mesmo os países ricos têm considerado o caráter prioritário de apoio aos serviços veteri-nários dos países em desenvolvimento e aqueles em situação de transição, não apenas para fomentar o desenvolvimento no

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mundo, mas também para proteger as populações contra a propagação de doenças dos animais e das zoonoses (OIE, 2007). Para o OIE e os países membros “os médicos veteriná-rios cuidam das doenças animais e suas atividades devem ser ampliadas para as áreas da saúde pública, incluindo o controle da cadeia alimentar e dos riscos de transmissão de doenças ao homem” (OIE, 2007). Assim, observou-se relevante que os ato-res envolvidos com a aquicultura compreendam as funções do Estado e busquem o trabalho coparticipativo junto aos serviços veterinários legalmente constituídos.

Do mesmo modo, verificou-se como relevante a compreensão de que para a harmonização de procedimentos entre os países, o OIE preconizou uma lista de enfermidades. Vale anotar que as enfermidades inscritas nesta lista respeitam alguns padrões de exigências elaboradas pela Autoridade Veterinária Nacional e cuja presença ou identificação do agente etiológico deve ser informada à Autoridade quando da sua detec-ção ou da suspeita, em conformidade com a regulamentação nacional. O OIE define como enfermidade de notificação imedia-ta, aquela que deve ser comunicada dentro de um período de 24 horas à autoridade nacional de saúde animal, perante um caso suspeito ou confirmado de enfermidades diagnosticadas por primeira vez no país, zona ou compartimento de um país ou mesmo, para uma enfermidade emergente, isto é, uma enfermidade que já foi erradicada e que retorna a ocorrer no país, zona ou compartimento de um país. E, como enfermidade de declaração obrigatória, os relatos e informes correspondentes ao evento que deu origem à notificação imediata.

Entende-se como verdadeiro o fato de que o Brasil optou por participar do comércio mundial e assumiu as responsa-bilidades de País Membro da Organização Mundial do Comércio - OMC, com o compromisso de atender aos pressupostos do di-reito internacional público e as decisões provenientes da Organização, com efeito direto sobre o ordenamento jurídico nacional. A participação do Brasil no contexto mundial da saúde animal, inclusive da saúde dos animais da aquicultura consta entre os compromissos assumidos pelo Brasil perante a comu-nidade mundial. As medidas sanitárias aplicadas pelos serviços veterinários públicos buscam reduzir os riscos tanto para a saúde animal quanto para a saúde pública (BRASIL, MRE, 2009).

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CONCLUSÕES Frente ao exposto buscou-se trazer à luz do saber os

principais eventos e marcos jurídicos que nortearam a constru-ção dos serviços oficiais de saúde animal e as formas pelas quais se expressam as funções e obrigações destes serviços na maricultura catarinense. A partir deste conhecimento, espera-se que o setor se organize de tal maneira a formular propostas de estratégias para enfrentar a ocorrência de enfermidade de notificação compulsória na maricultura de bivalves no Estado de Santa Catarina. Lembrando que qualquer sistema competente de vigilância epidemiológica aplicado a maricultura de bivalves necessita ter capacidade para identificar padrões de compor-tamento de eventos adversos à saúde dos bivalves, investigar surtos epidêmicos e desenvolver investigações epidemiológicas complementares. Da mesma forma, necessita manter intercâm-bio com sistemas internacionais de vigilância e oferecer subsídios às autoridades sanitárias para o estabelecimento de respostas rápidas dirigidas ao controle de problemas de saúde e riscos específicos. Além disso, deve dispor de laboratórios de referência e laboratórios credenciados em condições de garantir a rápida identificação e controle de ameaças emergentes.

Conclui-se ser inquestionável a importância da vigilância zoosanitária na maricultura de bivalves, considerando seu papel enquanto componente para o monitoramento do estado de saúde da população de bivalves, na formulação, desenvolvimento e planejamento de políticas de saúde para bivalves, bem como na seleção de ambientes seguros e saudáveis para locação dos cultivos.

Da mesma forma, conclui-se que toda e qualquer ocorrência de enfermidade de notificação compulsória ou enfermidade que cause danos significativos aos cultivos de bivalves requerem uma resposta rápida e efetiva por parte das autoridades de saúde animal. Contudo, estas ações emer-genciais dependem da capacidade de seu sistema de vigilância epidemiológica. Sendo que entre os objetivos da vigilância epidemiológica está a atividade de estimar a magnitude do pro-blema na população animal, compreender a história natural da doença, detectar surtos, registrar a distribuição e disseminação,

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bem como testar hipóteses, sendo que os dados gerados podem contribuir para outros fins.

Neste sentido, conclui-se pela necessidade de criação de centros de prevenção como forma de expandir o sistema de vigilância para detecção rápida, acompanhamento e avaliação de infecções emergentes. Estes centros, em colaboração com o ser-viço veterinário oficial participariam como fontes contínuas para a alimentação do banco de dados nacional referentes às popu-lações e aos possíveis agravos à saúde dos animais de produção e outros susceptíveis, limitando a extensão dos surtos e promovendo estratégias efetivas de prevenção, buscando mini-mizar ao máximo os custos com a ocorrência das enfermidades.

Concluiu-se, ainda, da análise dos princípios constitu-cionais propostos no sistema jurídico nacional, que cabe ao Estado normatizar e regulamentar as atividades de defesa sanitária animal, cumprindo seu papel de fiscalizar, incentivar e planejar o direcionamento do sistema de saúde animal em seus diferentes níveis: federal, estadual e municipal. Assim, é funda-mental a compreensão clara da distribuição de poder, porque desta distribuição decorrem as políticas de Estado, voltadas para manter em equilíbrio o sistema. Por oportuno, vale mencionar que a percepção leiga sobre a aplicação da defesa sanitária ani-mal, representa a interpretação mais “dura” quando comparada com a aplicação, por exemplo, para o fomento ou a pesquisa. Isto é, as ações em defesa sanitária animal representam a versão que deixa pouco espaço para a busca e implantação de alternativas, arranjos e mediações domésticas.

Constatou-se, também, a necessidade dos atores en-volvidos na aquicultura de melhor compreenderem os serviços veterinários oficiais, seu funcionamento, suas atribuições, bem como seus enlaces jurídicos nacionais e internacionais. Entende-se que, em melhor compreendendo estes serviços, melhor será a participação de todos para o desenvolvimento de uma maricultura com animais capazes de atenderem às exigências dos mercados nacionais e internacionais. Sendo que para a formulação de possíveis estratégias para o caso de ocorrência de enfermidades de notificação obrigatória, alguns fatores foram observados como muito importantes: qualquer pessoa que tenha conhecimento de suspeita ou ocorrência de enfermidade de declaração compulsória deverá DE IMEDIATO

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informar às autoridades veterinárias oficiais; é pertinente que os diferentes atores da maricultura de bivalves busquem maior aproximação com as autoridades veterinárias oficiais, visando melhor conhecer a legislação e planejar, conjuntamente, as medidas que deverão ser adotadas em caso de foco; ao setor produtivo cabe, ainda, sensibilizar o poder público para a elaboração de políticas públicas prioritárias para a saúde dos animais aquáticos. Importante ressaltar que o sucesso de um plano de contingenciamento epidemiológico depende da rapidez na identificação do agravo, rapidez na detecção do agente e na definição da natureza e da extensão do problema, bem como rapidez na definição e no planejamento das medidas de controle.

Ainda, como parte das estratégias para a sanidade dos bivalves identificou-se a necessidade de treinamento e educação sanitária para todos os atores da cadeia produtiva. Além disso, para atender os custos decorrentes de prováveis casos de enfermidades, outra estratégia sugerida é a criação de um fundo indenizatório privado para apoiar as ações da defesa sanitária (nos moldes do FEFA – Fundo Emergencial da Febre Aftosa). O fundo abre a possibilidade de uso não apenas na garantia de indenização como também em ações de marketing e qualidade do produto. Outra proposta alternativa ao fundo indenizatório é o seguro aquicultura para todos os animais aquáticos de produção do Estado de Santa Catarina.

Com fins de atender a necessidade de desinfecção de barcos, instalações, equipamentos e petrechos utilizados na produção, foi identificada a necessidade de pesquisas para a determinação e o registro de produtos veterinários para atender a esta demanda.

REFERÊNCIAS

BOBBIO, Norberto, 1999. Teoria do Ordenamento Jurídico, 10 ed. Brasília, Ed. UnB, 184 p. BRASIL. 1934 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento. Decreto 24.548, de 02 de julho de 1934. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultar Legislacao.do? operacao=visualizar&id=2271>. Acesso em: 28 fev 2009a.

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BRASIL. 1942 Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. Decreto Lei nº 4657, de 04 de setembro de 1942. Publicado no Diário Oficial da União de 09/09/1942. BRASIL. 1948 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Lei 569, de 21 de dezembro de 1948. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultar Legislacao.do? operacao=visualizar&id=100 . Acesso em: 28 fev 2009b. BRASIL. 1988 Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, Brasília. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/ bdtextual/const88/ const88. htm>. Acesso em: 28 fev 2009. BRASIL. (sem data) Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Atos Internacionais. Disponível em: <http://www2.mre. gov.br/dai/home.htm.> Acesso em 28 fev 2009. MANZONI, G. C. 2005 Cultivo de mexilhões Perna perna: Evolução da atividade no Brasil e avaliação econômica da realidade de Santa Catarina. São Paulo, 255 p. (Tese de Doutoramento, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual Paulista-Jaboticabal). MELLO, V. de. 2001. Regime Jurídico da Competência Regulamentar. São Paulo, Ed. Dialética. 50 p. OIE - Office International des Epizooties. 2005 A short history of the Office International des Epizooties. Paris. Disponível em: <http://www.oie.int/eng/oie/en_histoire.htm>. Acesso em: 13 de dezembro de 2007. OIE - Office International des Epizooties. 1995 Code Sanitaire International pour les animaux aquatiques. Paris. Disponível em: <http://www.oie.int>. Acesso em: 16 de abril de 2009. OIE - Office International des Epizooties. 1995 Manuel des tests de diagnostic pour les animaux aquatiques. Paris. Disponível

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em: <http://www.oie.int/esp/Edito/es_edito_mars02.htm.> Acesso em: 15 de abril de 2009.

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CAPÍTULO III

A construção institucional e organizacional do serviço de defesa sanitária animal no Estado de Santa Catarina com vistas à sanidade dos bivalves marinhos

RESUMO

A malacocultura constitui-se em atividade de renda para muitas famílias e representa um empreendimento de risco quanto ao aparecimento de enfermidades. Historicamente, países con-siderados importantes produtores de bivalves amargaram a falência dos cultivos em decorrência de enfermidades. O estudo teve o objetivo de conhecer a estrutura, operacionalização e o conhecimento técnico do serviço veterinário do órgão executor de defesa sanitária animal no Estado de Santa Catarina nas ações desempenhadas pelos profissionais responsáveis pelo Programa Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos – PNSAA, no período de janeiro a março de 2009. Neste sentido, foram utilizados os métodos de entrevista estruturada e não estrutu-rada, bem como observação presencial com a participação do pesquisador em oitivas e observação das ações efetivadas pelo serviço oficial, contudo sem a interferência do pesquisador nestas ações. Conclui-se, pelos meios propostos, que não exis-tem evidencias de atuações especificas de defesa sanitária na malacocultura catarinense, por parte dos médicos veterinários das UVL e não foi possível evidenciar a operacionalização dos procedimentos propostos no regulamento do PNSAA com as características e a abrangência necessárias, durante o período estudado.

Palavras-chave: malacocultura, serviço veterinário, defesa sanitária animal

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RESUMEN

La malacocultura consiste en ocupación de renta de muchas familias y representa una actividad de riesgo no que se refiere a la aparición de enfermedades. Históricamente, los países considerados importantes productores de bivalvos lograran el fracaso de las cosechas debido a las enfermedades. El estudio tuvo como objetivo conocer la estructura, las operaciones y los conocimientos técnicos del servicio veterinario de la agencia ejecutora para la protección de la salud animal en el Estado de Santa Catarina, en las acciones realizadas por los profesionales responsables del Programa Nacional para los Animales Acuáticos - PNSAA, a partir de enero a marzo de 2009. En este sentido, los métodos utilizados fueron entrevistas estructuradas y no estructuradas, así como la observación directa con la partici-pación del investigador en las audiencias y la observación de las acciones en salud de los animales acuáticos ejecutadas por el servicio oficial, pero sin la interferencia del investigador en estas acciones. En conclusión, segundo los métodos utilizados, es que no hay evidencia de acciones específicas en materia de protección de la salud en la malacocultura por parte de los veteri-narios de las UVL y no se ha podido demostrar el funcionamiento de los procedimientos propuestos en la regulación de PNSAA con las características y el alcance necesario durante el período de estudio.

Palabras clave: malacocultura, servicios veterinarios, defensa sanitária animal,

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INTRODUÇÃO A história da defesa sanitária animal brasileira passa pela

distribuição de bovinos utilizados como moeda de indenização depois da I Guerra Mundial. Os bovinos, alguns contaminados pela peste bovina, disseminaram a enfermidade para vários países europeus. Naquele momento, animais adquiridos por produtores brasileiros, na Índia, precisaram permanecer por algum tempo no porto de Antuérpia, na Bélgica, onde foram contaminados. Frente a este desastroso episódio, as autoridades sanitárias dos países identificaram a necessidade de manter um intercâmbio de informações entre os países, assim como exigir medidas sanitárias aplicáveis às exportações com vistas a evitar problemas similares no futuro. Para este propósito, a França convocou uma Conferência Internacional em Paris, no período de 25 a 28 de março de 1921, para a qual foram convidados todos os Países. Contudo, compareceram os representantes de apenas quarenta e dois, os quais examinaram a situação, em especial a ocorrência da Peste Bovina, a Febre Aftosa e a Durina (OIE, 2009).

A medicina veterinária brasileira conquistou expressiva vitória ao erradicar a peste bovina oriunda das importações com trânsito na Europa. Posteriormente, a luta contra a febre aftosa representou outro desafio. A doença foi constatada pela primeira vez no Brasil em 1895, sendo que os últimos focos ocorreram em 2006. Estes focos resultaram em embargo à carne bovina, suína, avícola e ovina brasileira, por parte de vários países importado-res. Anota-se que com o foco de 2006, cinquenta e dois países limitaram as compras de carne do Brasil resultando em perdas econômicas e sociais significativamente importantes para o agro-negócio nacional (SILVA e MIRANDA, 2006).

Anota-se, ainda, como vitórias da medicina veterinária brasileira, o controle da peste suína clássica nas décadas de 1940 e 1950, atualmente erradicada na maior parte do território nacional; a luta contra a peste suína africana constatada pela primeira vez no Rio de Janeiro em 1978 e erradicada do Brasil desde 1984; as ações de erradicação da enfermidade de Newcastle; o controle da raiva em herbívoros e o combate à tuberculose e brucelose bovinas. A erradicação destas enfer-midades, assim como a condição dos serviços oficiais em

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atender às exigências de importação de mais de 200 países, possibilitou ao Brasil estar entre os maiores produtores e exportadores mundiais de carne. Neste sentido, importante frisar que somente um sistema nacional de defesa sanitária para ani-mais aquáticos, bem estruturado e organizado, poderá oferecer oportunidade de competitividade no mercado internacional aos produtos da aquicultura brasileira.

A defesa sanitária animal, no território brasileiro, é de competência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Por sua vez, a área de saúde animal tem por descrição sumária as seguintes atividades: orientação, execução e aplicação especializada de ações sanitárias para promoção, preservação e manutenção da saúde animal nas prin-cipais enfermidades infectocontagiosas, com vistas no fortale-cimento de garantias sanitárias do comércio nacional e interna-cional, por meio da adoção de medidas sanitárias específicas e inespecíficas. Estas ações dependem do amparo legal, sendo aplicadas de forma organizada e sistemática com atuação gover-namental (ISHIZUKA, 1999).

Para atender esta demanda, o MAPA dispõe em cada Unidade Federativa (UF) de uma Superintendência Federal com servidores chamados de fiscais federais agropecuários (FFA). Na UF onde foi confirmada a enfermidade, o fiscal é notificado pelo serviço oficial estadual da suspeita de uma enfermidade exótica ou de declaração compulsória. O FFA responsável na UF comunica o fato ao Diretor do Departamento Nacional de Saúde Animal. O diretor então designa um especialista em diagnóstico de enfermidade exótica animal para coordenar o grupo de investigação e inquérito epidemiológico.

Entretanto, o MAPA pode delegar suas competências às unidades da federação, desde que a unidade disponha de estrutura organizacional e técnica para exercer as atividades pertinentes. No caso da unidade catarinense, o órgão que rece-beu a delegação de competência foi a Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, que por sua vez atribuiu à Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina – CIDASC, a execução das ações de defesa animal. O órgão responsável pela defesa sanitária animal em cada UF deve agir de maneira à melhor proteger seus animais de produção, produtores, consumidores, produtos e mercados exportadores.

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Por este motivo, os órgãos executores estaduais de defesa animal são designados a realizar a avaliação do risco e o estabelecimento de um plano de ação cooperativa de emer-gência sanitária, quando do aparecimento de uma enfermidade exótica ou emergente. As ações de emergência sanitária animal envolvem a participação conjunta de várias instituições com o propósito de assegurar que as medidas tomadas são as mais adequadas no combate à enfermidade na área afetada, nas regiões vizinhas e por toda a nação, se for o caso. Além das ações do serviço veterinário do Estado, outras providências dependerão de muitos outros fatores, tais como: o tipo de enfermidade; a espécie afetada; a capacidade de transmissão do agente; a preocupação e o compromisso dos representantes estaduais da agricultura e da indústria; os possíveis impactos econômicos e os resultados das análises de risco.

Importante ressaltar ainda, que os órgãos oficiais devem trabalhar em conjunto com todos os atores da cadeia produtiva, entidades de classe e sociedade para o desenvolvimento de trabalhos intensos de prevenção, monitoramento e treinamentos para combater um provável surto (MARTINS, 2005). Assim, na medida em que a defesa sanitária animal não existe isolada, mas inserida em um regramento globalizado, é necessário recorrer a normas ou conceitos construídos pela doutrina internacional. Nesse sentido, saúde animal e saúde de animais aquáticos seguem as normas, diretrizes e recomendações preconizadas pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), as quais são consideradas como referência internacional naquilo que diz respeito às enfermidades dos animais e das zoonoses. A Organização Mundial do Comércio (OMC) reconhece o OIE como instituição referência para a saúde animal e sua escolha recaiu, principalmente, devido ao histórico do OIE em utilizar bases científicas para a tomada de decisões.

Vale ressaltar que os avanços tecnológicos que oportunizaram a comunicação globalizada têm facilitado o intercâmbio de informações entre países. Por seu turno, a determinação de uma base segura de registros da ocorrência e prevalência de determinadas enfermidades está sob guarda e responsabilidade do OIE (HARE, 2002). Neste sentido, o OIE estabeleceu um sistema de alarme que permite aos países membros agirem rapidamente se for necessário, dentro de 24

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horas da ocorrência do primeiro surto de uma doença da lista, ou de qualquer outra doença contagiosa que possa causar repercussões sérias na saúde pública ou na economia de produção animal (NATH e BROWN, 2005).

A simples suspeita da ocorrência de uma enfermidade de declaração compulsória deve ser imediata e conscientemente notificada. A pessoa ou o profissional que for fazer a comuni-cação deve estar ciente de a quem notificar, da precaução de notificar de forma imediata e discreta, haja vista os impactos diretos e indiretos que esse ato irá desencadear na cadeia produ-tiva. Em Santa Catarina, as notificações podem ser feitas na unidade veterinária local do órgão estadual ou diretamente ao Mi-nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na Super-intendência Federal de Agricultura, no setor de Serviço de Defesa Agropecuária.

Historicamente, em países onde o comércio de bivalves representa fator de renda, vários episódios de ocorrência de enfermidades estão relacionados com perdas significativas na produção e sérios comprometimentos sociais nas regiões atingidas.

Em Santa Catarina, a produção do camarão marinho Litopenaeus vannamei representou para os produtores um interessante atrativo empresarial, com franco desenvolvimento até 2005, quando então, os animais foram acometidos pela enfermidade das manchas brancas. As características da enfer-midade de elevada morbilidade e mortalidade resultaram em perdas significativas para o setor. Por seu turno, o despreparo das autoridades de saúde animal para o trato com os animais da aquicultura pode ter contribuído para a falência da atividade. Assim, o presente estudo teve por objetivo coletar dados e analisar o grau de fragilidade e limitações do órgão executor da defesa sanitária animal, com vistas à área de atuação no Programa Nacional de Sanidade dos Animais Aquáticos (PNSAA), desenvolvidos nas Unidades Veterinárias Locais (UVL) do órgão executor no Estado de Santa Catarina.

MATERIAL E MÉTODOS Para este estudo optou-se pelos procedimentos metodo-

lógicos da pesquisa qualitativa, uma vez que permite utilizar a

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observação participante, no qual o pesquisador é o próprio instrumento de pesquisa, empregando diretamente seus órgãos dos sentidos para apreender os objetos em estudo, espelhando-os então em sua consciência e experiência profissional, onde se tornam fenomenologicamente representados para serem inter-pretados.

Assim, foi utilizada a observação presencial do pesquisador em oitivas e visualização das ações efetivadas pelo serviço oficial, contudo sem a interferência do pesquisador nestas ações. Igualmente, como instrumentos de coleta de dados foram realizadas entrevistas exploratórias, estruturadas e não estruturadas, no propósito de conhecer a estrutura, operacio-nalização e o conhecimento técnico do serviço veterinário do órgão executor de defesa sanitária animal no Estado de Santa Catarina.

Como metodologia ficou estabelecida avaliar as ações realizadas no período que abrange o trimestre (janeiro-março de 2009) utilizando-se como fundamento o relato oferecido pelo médico veterinário local, o relatório de guias de trânsito emitidas e a base documental pertinente.

O método de análise dos dados buscou ponderar em uma escala de muito bom, bom, regular, satisfatório e insuficiente, o conhecimento e os fundamentos técnicos apresentados pelo profissional responsável local do PNSAA, na UVL. De maneira semelhante, a mesma escala foi utilizada para analisar a documentação e a organização documental, analisar as ações de vigilância epidemiológica e educação sanitária, bem como ana-lisar as condições operacionais para o desenvolvimento das ações do PNSAA nos municípios sob jurisdição da UVL.

RESULTADOS Pelos meios propostos não foram observadas evidências

de atuações específicas de defesa sanitária na maricultura de bivalves no Estado de Santa Catarina, por parte dos médicos veterinários das UVL e não foi possível evidenciar a operacio-nalização dos procedimentos propostos no regulamento do PNSAA com as características e a abrangência necessárias, durante o período estudado.

Na avaliação da estrutura pessoal do profissional respon-

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sável pelo PNSAA nas UVLs evidenciou-se que embora haja um relativo preparo do profissional médico veterinário para as ações no PNSAA, o planejamento das ações em Defesa Sanitária Animal está centrada na identificação de bovinos e bubalinos, ficando em plano subpreferencial as ações do PNSAA. Consta-tou-se, ainda, interesse dos profissionais para a realização de treinamentos e cursos de atualização em sanidade de animais aquáticos, bem como houve manifestação de vontade de acesso a informações e mesmo, a expectativa de realização de cursos formais de longa duração, com a perspectiva de melhor compre-ender as espécies da aquicultura e com isto, melhor servir ao interesse público.

Quanto ao controle de enfermidades endêmicas, verificou-se preocupação apenas com a enfermidade das manchas brancas em camarões marinhos, em particular sobre os controles que se traduzem em submeter à análise laboratorial por meio de testes de identificação da sequência genômica viral pela técnica da reação em cadeia da polimerase, realizada em póslarvas dias antes da transferência para os estabelecimentos de engorda. Vale registrar que as enfermidades objeto da atuação da defesa animal, segundo a Instrução Normativa n0 53/2003, são as exóticas e as que comprometem a economia do setor. A IN 53/2003 está em consonância com a lista proposta pelo OIE em seu Código Sanitário para Animais Aquáticos. O fato dos controles recaírem apenas sobre a enfermidade das manchas brancas, para o caso dos camarões em cultivo, contraria a legis-lação nacional e os desígnios do OIE, uma vez que pesquisas científicas relatam a ocorrência de outros agentes etiológicos de declaração compulsória identificados em camarões catarinenses de cultivo.

Na avaliação das informações e dados epidemiológicos verificou-se em alguns casos, a existência de documentos de cadastro de estabelecimentos que praticam a aquicultura de maneira formal, o que implica na identificação do estabe-lecimento, identificação do proprietário, anotação de meios de contato com o proprietário ou responsável pelo estabelecimento, tipo de exploração, espécies sob cultivo, entre outras informa-ções. Contudo, verificou-se ausência de fiscalização nos estabe-lecimentos de aquicultura ou áreas de maricultura e não foi possível identificar instrumentos ou determinantes que permi-

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tissem inferir sobre o envolvimento efetivo dos profissionais da UVL em ações que possibilitem detectar precocemente a presença de animais enfermos. Não foram relatadas ações de coleta de amostras ou envio de material para testes laboratoriais, atitude que permitiria descartar a possibilidade de eventual ocorrência de enfermidades infecciosas ou parasitárias. Foi observado que estão disponíveis na UVL apenas documentos pretéritos e, não raro, desatualizados, relacionados aos cadas-tros dos estabelecimentos de aquicultura e das espécies mantidas com finalidades econômicas ou de lazer.

Outro fator de fragilidade da estrutura, observado durante a pesquisa, refere-se aos componentes epidemiologia e educação sanitária uma vez que não foi possível identificar qualquer ação pertinente ao PNSAA. Os casos recentes de acompanhamento sanitário estão relacionados apenas com o cultivo de camarões marinhos em decorrência da notificação da enfermidade das manchas brancas em Santa Catarina. No entanto, observou-se interação com instituições de pesquisa e acadêmicas que fornecem serviços educacionais, de diagnóstico, de pesquisa e de suporte técnico - científico para o serviço veterinário oficial. Neste sentido, na avaliação do conjunto dos dispositivos de integração com o setor produtivo da aquicultura, não foi possível constatar estratégias de participação ou promoção de ações de educação sanitária específica. Quanto à utilização de mecanismos de divulgação, com o objetivo de orientar e esclarecer o aquicultor naquilo que diz respeito às enfermidades, a prevenção e ao controle destas, bem como naquilo que diz respeito à utilização de produtos de uso veterinário e a saúde pública, foi possível observar uma ausência total do serviço oficial.

Na avaliação da estrutura organizacional e administrativa verificou-se ambiente físico adequado ao desenvolvimento das ações do PNSAA e um espaço geográfico, número de estabe-lecimentos de aquicultura, número de municípios atendidos pela UVL compatíveis com a proposta do programa. Com relação aos meios de deslocamento para a execução da atividade fim, não foi relatado a existência de qualquer obste, o mesmo relatado para a disponibilização de recursos para combustível e manutenção de veículos. Em relação à estrutura de comunicação, as UVLs contam atualmente com telefone, aparelho de FAX, micro-

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computador, notebook e acesso à rede mundial de comunicação eletrônica.

Na avaliação da documentação oficial buscou-se demonstrar a capacidade de organização e tempo necessário à localização de bases regulamentárias de defesa sanitária animal, do PNSAA, dos controles e registros específicos. Explorou-se ainda a compreensão, adequação e aplicação da regula-mentação pertinente. Observou-se que o controle da movimen-tação de animais da aquicultura é realizado por meio da emissão da Guia de Trânsito Animal, quando solicitada pelo interessado. Em relação à emissão de relatórios de trânsito de animais da aqüicultura, verificou-se capacidade de acesso e obtenção eletrô-nica dos dados. Contudo, constatou-se a ocorrência de registro de baixa movimentação. No que diz respeito ao controle de trânsito de animais aquáticos vivos ou de pescado nas divisas estaduais foi relatada a inexistência de registros no período estudado.

DISCUSSÃO

Vale destacar alguns pontos relativos aos itens propostos

para avaliação dos serviços veterinários da UVL, com vistas ao PNSAA. O primeiro deles diz respeito ao modelo ou paradigma institucional de defesa sanitária animal prevalente no órgão executor. Observou-se que as estratégias e políticas estabe-lecidas nas UVL estão baseadas em um critério prioritário de ações em animais terrestres de importância econômica. Os serviços de defesa animal, por sua incumbência especifica, tratam diretamente com a saúde, com os aspectos econômicos e os costumes da sociedade. Nota-se uma falta de cultura política que favoreça a flexibilidade, interatividade, capacidade gerencial, visão estratégica e a prática das ações de defesa sanitária ani-mal entre os diferentes setores produtivos, aqui especificamente aqueles relativos aos animais aquáticos em cultivo.

O segundo está relacionado com os objetivos da defesa animal e os conteúdos e instrumentos legais do PNSAA. Trans-parece uma predisposição institucional para colocar em segundo plano as ações preconizadas no PNSAA. Anota-se que os procedimentos para o planejamento e implementação do PNSAA na UVL vêm ao encontro de uma mudança do pensamento

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epidemiológico, de controle para a prevenção, de tal forma que se estabeleça com antecedência qual é a missão, função e atribuições de cada um dos elementos envolvidos na atividade da aquicultura.

O terceiro ponto está relacionado com a qualificação dos profissionais, frente à complexidade que envolve as ações do PNSAA, entende-se que é urgente incluir políticas para a capacitação em processos de atualização continuada. Neste sen-tido cabe destacar as seguintes características que os profissionais envolvidos no PNSAA necessitam adquirir em sua qualificação: capacidade de análise do contexto defesa sanitária na aquicultura em relação às práticas que realiza; compreensão da fisiologia comportamental das espécies e dos agentes patogênicos que acometem as espécies em aquicultura; atenção aos riscos e aos problemas de saúde dos animais aquáticos e o questionamento permanente da eficácia e da ética das ações realizadas.

A malacocultura representa importante fator de geração de renda para centenas de famílias do litoral catarinense. O apa-recimento de algumas enfermidades, principalmente as enfermidades causadas por agentes patogênicos de declaração compulsória aos serviços veterinários oficiais de saúde animal, podem levar à falência da atividade, caso negligenciadas pelos diferentes atores do setor produtivo e oficial. Foi observado, a partir dos relatos prestados pelos responsáveis da UVL, evidências de que a existência de uma estrutura formal não garante uma política institucional com vistas à defesa sanitária dos animais aquáticos. Esta ausência dificulta o planejamento das ações do PNSAA e pode dar margem a atitudes marcadas pelo improviso. Pode ainda apresentar contornos mais graves, uma vez que as atividades em sanidade dos animais aquáticos são variadas e intensas, sendo que os animais têm donos, investimentos significativos, provedores de insumos, benefi-ciadores e consumidores, e que são estes os que demandarão os serviços veterinários pertinentes ao setor.

O impacto socioeconômico que as enfermidades dos animais exercem sobre a economia rural e litorânea pode ser contabilizado sob diferentes aspectos, principalmente, pelos cus-tos decorrentes da ocorrência de um foco de enfermidade de declaração compulsória, os quais contabilizam:

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1 custo à saúde animal: o qual contabiliza as mortes ou o sacrifício dos animais enfermos ou suspeitos, a redução na expectativa de longevidade produtiva dos animais, a redução na produtividade, a morte devido a aplicação de produtos veterinários incompatíveis ou em doses inadequadas;

2 custo ao produtor: o qual contabiliza a perda dos animais, os gastos com produtos veterinários e desinfetantes, o impedimento de produção durante o período de vazio das instalações, a dificuldade de reposição dos plantéis, o baixo desempenho dos estoques comprometidos, a diminuição no potencial de produtividade das propriedades ou áreas infectadas, a redução na confiança dos investidores, bem como danos na percepção do mercado como produto alimentício saudável;

3 custo ao Estado: o qual contabiliza as restrições e impedimentos de exportações do produto alvo ou mesmo de outros produtos devido às barreiras sanitárias, a interdição na movimentação de susceptíveis, restrição de mercado também para outros produtos, diminuição da oferta de proteína animal para o mercado interno, gastos com a mobilização dos serviços veterinários emergenciais (contabilizando deslocamentos, hospedagem de técnicos e auxiliares, diárias, combustível, equipamentos, instrumentos e produtos entre outros), gastos com indenizações, gastos de demandas jurídicas (custos judiciais, honorários advocatícios e de peritos, entre outros), dificuldade de oferta de exemplares para reposição dos plantéis, muitas vezes exigindo importações, baixa performance dos estoques comprometidos refletido em redução da oferta de proteína de origem animal;

4 custo à saúde pública: incremento no número de atendimentos nos centros de saúde em decorrência de enfermidades transmitidas por alimentos de origem animal ou mesmo por zoonoses ou ingestão de resíduos de produtos utilizados no tratamento dos animais, custo na internação ou com a morte entre os imunodeprimidos ou os imunocomprometidos (aqui

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envolvendo os fumantes, diabéticos, hipertensos, alcoólatras, idosos e crianças, entre outros) que são imunologicamente mais susceptíveis, custos com medicamentos ou paliativos, faltas ao serviço podendo resultar em desemprego;

5 custo social: o qual contabiliza a redução na renda do produtor, que por sua vez reduz seu poder de compra, quebra de outros negócios regionais, tais como supermercados, bares, restaurantes, lojas de vestuários, venda de automóveis entre outros, desemprego, suicídio de produtores como reflexo decorrente das perdas advindas das atividades sanitárias compulsórias, as quais envolvem o sacrifício de plantéis (moeda do produtor);

6 custo ecológico: redução na biodiversidade local como resultado do uso de defensivos agrícolas ou produtos veterinários, necessidade de introdução de espécies resistentes às enfermidades, tais como indivíduos transgênicos ou espécies exóticas, contaminação de mananciais hídricos devido a práticas de produção intensiva, uso de microrganismos de recuperação podendo resultar em novos arranjos genéticos, resistência dos sobreviventes aos produtos utilizados.

O OIE apresenta como uma de suas metas, convencer as autoridades nacionais e as organizações internacionais compe-tentes de que os investimentos públicos destinados a lutar contra as enfermidades dos animais, inclusive as transmissíveis aos humanos, são insuficientes e que é melhor investir na prevenção das doenças do que, de maneira onerosa, apagar incêndios que podem se estender por todo o mundo (VALLAT, 2003).

A importância em estabelecer estratégias e políticas públicas que possibilitem evitar estes custos representa por si só, justificativa para a tomada de decisão por parte dos órgãos de defesa sanitária animal. Os aspectos fundamentais da visão estratégica que podem ser sugeridos deverão ter norte no futuro e uma filosofia de execução da defesa sanitária animal que envolva todos os setores da produção animal como filosofia, con-vertendo-se numa forma de pensar e agir sanitária e preventivamente.

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CONCLUSÕES A respeito do tema deste estudo, conclui-se como

importante que os serviços oficiais do Estado de Santa Catarina adotem medidas sanitárias necessárias para proteger a vida e a sobrevivência dos animais aquáticos cultivados e o meio ambi-ente, baseado em princípios científicos e não políticos. Os serviços oficiais devem estar sensíveis ao seu papel de proteger os animais de doenças exóticas, considerando que a detecção rápida e o relato dos casos suspeitos fornecem maiores opor-tunidades de controle e erradicação.

Salienta-se que constam dos preceitos legais, que a realização de controles oficiais referente à saúde dos animais, incluindo os animais da aquicultura, se aplica a todas as fases da produção, transformação, distribuição e dos serviços agrope-cuários, sem prejuízo de requisitos específicos para assegurar a sanidade animal, a qualidade, a origem e identidade dos produtos e insumos agropecuários. Sendo que, os preceitos legais vigentes não isentam da responsabilidade civil ou penal, a todos os participantes da cadeia produtiva, da responsabilidade em garantir a saúde dos animais, a segurança, a qualidade e a identidade dos produtos de origem animal, incluindo, ainda, a responsabilidade sobre os insumos agropecuários. Neste sentido, as ações dos produtores rurais e os demais integrantes das cadeias produtivas devem ser cooperativos com as autoridades competentes para assegurar maior efetividade dos controles oficiais e melhoria da sanidade agropecuária.

Em casos específicos de emergência sanitária, um conjunto de ações deve ser executado pelo serviço público oficial de defesa sanitária animal apoiado pela iniciativa privada e necessária para impedir a disseminação e erradicar um foco de uma enfermidade, no tempo mais curto possível e com um menor custo para o país. Em caso de suspeita de uma enfermidade, essas ações deverão ser implementadas antes de receber os resultados dos ensaios de laboratório.

Considerando as especificidades inerentes à malacocultura de bivalves, conclui-se que o serviço oficial catarinense de saúde animal deve desempenhar suas ações sob a autoridade e o controle de um Comitê Estadual de Sanidade dos Animais Aquáticos (COESAA/SC), instituído por ato oficial da

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Superintendência Federal do Ministério da Agricultura. Resta como sugestão que este Comitê se reúna pelo menos uma vez por ano para votar propostas, cujas ações devem estar baseadas em conhecimentos científicos preconizados pelas instituições internacionais de saúde animal, a exemplo do OIE. Estas propostas serão então apresentadas para a atenção dos médicos veterinários sanitaristas oficiais.

Conclui-se ainda, como importante a criação dentro do sistema oficial, de um Grupo Especial de Atendimento Sanitário Emergencial para Animais Aquáticos (GEASEAA), constituído por meio de ato legal e composto por sanitaristas do serviço veterinário oficial. Este Grupo deverá estar preparado para aten-der aos seguintes itens: o que fazer com os animais infectados? Como erradicar a doença (despovoamento, vazio sanitário)? Qual o melhor meio de destruir as carcaças? Qual o melhor meio de desinfecção das embarcações, equipamentos etc.? Qual o melhor desinfetante? Qual a extensão do surto? Aonde o surto teve origem? Qual a área a ser considerada focal? Perifocal? Como fiscalizar o trânsito entre as áreas (trânsito rodoviário, aquaviário e aéreo)? Como e quem deverá fiscalizar as áreas interditadas? Quais as penalidades a serem aplicadas?

As respostas a estas questões servirão como marco orientador aos procedimentos a serem adotados, conferindo celeridade e profissionalismo nas atuações, ao tempo em que, igualmente, conferirão credibilidade aos consumidores e aos demais membros da cadeia produtiva dos moluscos bivalves.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 53, de 02 de julho de 2003. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegis lacao.do. Acesso em: 28 fev 2009. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Portaria 562, de 02 de julho de 2003. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultar Legislacao.do. Acesso em: 28 fev 2009. HARE, D. Disease reporting. Canadian Veterinary Journal, v.43,

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2002. ISHIZUKA, M.M. A epidemiologia aplicada a Defesa Animal. Apostila. 1999. MARTINS, P. Impacto econômico e social envolvidos em um surto de doenças avícolas da lista-A da OIE. 2005. Disponível em: <http//: www.hygen.com.br/informacoes_tecnicas.htm>. Acesso em: 14 de março de 2009. NATH, S. D., BROWN, C. Papel de agências internacionais nacionais e estaduais no controle de doenças exóticas animais. 2005. Disponível em: <http://www.vet.uga.edu/vpp/IVM/ PORT/ Agencies /index.htm>. Acesso em: 11 de abril de 2008. OIE - Office International des Epizooties. Code Sanitaire International pour les animaux aquatiques. Paris. Disponível em: <http://www.oie.int>. Acesso em: 16 de fevereiro de 2009. OIE - Office International des Epizooties. Manuel des tests de diagnostic pour les animaux aquatiques. Paris. Disponível em: http://www.oie.int/esp/Edito/es_ed. Acesso em: 15 de fevereiro de 2009. SILVA, T.G.R.; MIRANDA, S.H.G. A febre aftosa e os impactos econômicos no setor de carnes. CEPEA-ESALQ, trabalho de estágio supervisionado, 2006. Disponível em: < http://www.cepea. Esalq. Usp. br/pdf/Artigo_ febre_ aftosa.pdf>. Acesso em 28 fev 2009. VALLAT, B. Ampliação do mandato da Organização Internacional de Epizootias (OIE). In: 13a Reunião Interamericana, a Nível Ministerial, Sobre Saúde e Agricultura. Washington, DC 13 pg. 2003.

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CAPÍTULO IV12

SAÚDE DE BIVALVES MARINHOS: vigiar para prevenir

RESUMO O artigo consiste em uma revisão de literatura relacionada com a ocorrência de enfermidades em bivalves marinhos. Trata-se de uma revisão sistemática com os seguintes critérios de inclusão: (1) enfermidades que ocasionaram prejuízos a atividade e enfermidades que constam da lista de declaração compulsória à Organização Mundial da Saúde Animal; (2) publicações de janeiro de 1968 a dezembro de 2008; (3) escritas no idioma inglês, português, espanhol ou francês. Realizou-se a busca em cinco bases de dados: REPIDISCA, LILACS, PubMed, Scielo, e PERI. O objetivo foi colacionar informações que permitissem avaliar as condições de higidez dos cultivos em Santa Catarina. Concluiu-se que o Estado conta com a especial condição de não apresentar registro oficial de nenhuma das enfermidades de notificação obrigatória aos serviços oficiais de saúde animal. Palavras-chave: bivalve, sanidade, patógenos, OMSA/OIE.

12 Neste capítulo encontra-se o artigo científico com o título SAÚDE DE BIVALVES MARINHOS: vigiar para prevenir, redigido segundo as normas do periódico Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR - Universidade Paranaense. O artigo foi aprovado para publicação no volume do segundo semestre de 2009.

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HEALTH OF MARINE BIVALVES: to watching for prevent ABSTRACT The article consists of a literature review about the occurrence of diseases in marine bivalves. A systematic review was conducted using the following inclusion criteria: (1) diseases that leads to harm and diseases belonging to the list of compulsory declaration to the World Organization for Animal Health, (2) publications ranging from January, 1968 to December, 2008, (3) written in English, Portuguese, Spanish or French language. The review was carried out by searching five databases: REPIDISCA, LILACS, PubMed, Scielo and PERI. The objective was to collect information that could enable an evaluation of the health condition in the bivalve culture in the State of Santa Catarina. The main conclusion is that the Santa Catarina holds a special condition of never having had any official record of the notifiable diseases to the animal health official services.

Key words: bivalve, sanitary, pathogens, WOAH/OIE.

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INTRODUÇÃO A aquicultura, considerada como um dos agronegócios em

ampla expansão tem na malacocultura um de seus principais pilares. O governo, por meio de seus órgãos de fomento, procura incentivar cada vez mais o consumo e o comércio de bivalves, buscando, inclusive, o comércio internacional. Entretanto, as políticas de controle sanitário aplicadas aos moluscos marinhos, embora ainda estejam em fase de planejamento pelos órgãos competentes, apresentam foco em cautelas de ordem sanitária exigíveis aos bivalves para fins de consumo como alimento humano. Esta situação configura a problemática de deixar de fora as preocupações sanitárias restrita aos próprios animais, mas que também causam prejuízos sociais e econômicos.

Com efeito, a legislação proposta faz vistas com minudências as características de animal de hábito alimentar filtrante, o que confere a capacidade de adsorver e bioacumular em seus tecidos diversos patógenos eventualmente presentes no ambiente de cultivo, contaminantes químicos e metais pesados entre outros. Contudo, não existem políticas públicas de controle sanitário das enfermidades que acometem o animal e que podem levar à falência dos cultivos, com sérios reflexos na economia local. Vale ressaltar, que a sustentabilidade da atividade está, igualmente, dependente de um adequado e competente sistema de vigilância zoosanitária, capaz de detectar a presença de um agente etiológico nocivo, antes mesmo de seu estabelecimento no cultivo. Pois, agentes etiológicos que se estabelecem em áreas abertas de cultivo, como configura o caso das áreas de maricultura, dificilmente são erradicados.

Neste sentido, as informações científicas sobre os agentes patogênicos que acometem os bivalves, estas estão relacionadas com as principais espécies de interesse econômico, entre elas: Crassostrea gigas, Crassostrea virginica, Ostrea edulis, Mytilus edulis, M. galloprovincialis, Ruditapes philippinarum, Saccostrea glomerata, entre outras. Na reunião do Comitê Internacional da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), celebrada em maio de 2006, foram aprovadas algumas modificações no Código Sanitário para Animais Aquáticos. Com respeito à lista das enfermidades de moluscos de notificação obrigatória ficaram incluídas aquelas causadas pelos protozoários Bonamia ostrea,

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Bonamia exitosa, Haplosporidium nelsoni, Marteillia refringens, Mikrocytos mackini, Perkinsus marinus, Perkinsus olseni e Xenohaliotis californiensis. As infecções causadas por Mikrocytus roughleyi, Haplosporidium costale e Marteilla sydneyi foram suprimidas do Código (OIE, 2006a e 2006b).

Em países onde o comércio de bivalves representa fator de renda, vários episódios de ocorrência de enfermidades causadas por estes agentes estão relacionados com perdas significativas na produção e sério comprometimento social nas regiões atingidas. Entre estes eventos, a bonamiose, causada pela B. ostreae e B. exitiosa, aparece como responsável por elevada mortalidade no hemisfério norte e sul, respectivamente (BOWER, 2006). Na Europa a dispersão da B. ostrea está relacionada com o trânsito de sementes infectadas procedentes da Califórnia com destino à França e posteriormente, da França para a Espanha (ABOLLO, 2007). Nos Estados Unidos, a ocorrência primária de bonamiose foi na costa oeste, Califórnia, oceano Pacífico, sendo que o parasito chegou à costa leste, Maine, oceano Atlântico, devido à intervenção humana (BOWER, 2007). Igualmente, foi registrada a infecção por B. ostreae em Ostrea edulis cultivado na British Columbia, Canadá (MARTY, et al. 2006). Na Argentina, Kroeck e Montes (2005) registram a ocorrência de mortalidade causada por Bonamia sp. em cultivos de Ostrea puelchana, e no Chile, na Ostrea chilensis (CORBEIL, et al. 2006). Mortalidade em massa recorrente causada pela B.exitiosa é registrada em populações de ostras na Nova Zelândia (CRANFIELD, et al. 2005). Estudos de biologia molecular comparativa sugerem a existência de várias espécies de Bonamia ainda não identificadas, bem como a necessidade de novos ensaios laboratoriais, complementares às provas oficias com a finalidade de realmente identificar os infectados como positivos (ABOLLO, 2007). O gênero Perkinsus inclui parasitas protistas que infectam bivalves, muitos dos quais estão associados com mortalidade em massa destas populações (VILLALBA, et al. 2004). Na baia de Chesapeake, nos Estados Unidos, estudos constataram que C. ariakensis infectadas por Perkinsus transmite o parasita para C.virginica não infectada após duas semanas em condições de cohabitação (SCHOTT, et al. 2008). A infecção por Mikrocytos mackini, afeta a ostra do Pacifico, C. gigas (BOWER, 2005). Estudos de Bower (2006) sugerem a presença de um parasito

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similar a Marteilia sp. em Argopecten gibbus na Florida, Estados Unidos; enquanto que, Haplosporidium nelsoni, foi encontrado parasitando a C.virginica na costa leste e C. gigas, na costa oeste dos Estados Unidos (BURRESON; FORD, 2004). No Japão, especialmente em Miyagi, Imai et al. (1968) registram a ocorrência de um parasita ignoto em C. gigas capaz de causar estruturas semelhantes a nódulos no ovário da ostra, tornando o produto sem condições de mercado devido a uma aparência anômala. Estudos realizados em países da America Latina registram a presença de P. marinus em C. virginica e P. olseni em Pitar rostrata; Bonamia sp. em Tiostrea chilensis e Ostrea puelchana; contudo, pouco se conhece de seus efeitos sobre a produção (CÁCERES-MARTÍNEZ; VÁSQUEZ-YEOMANS, 2008).

Os vários episódios de ocorrência de enfermidades em cultivos de bivalves serviram de alerta para que programas de prevenção e controle fossem delineados, principalmente na Europa, atendendo aos pressupostos firmados no Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da Organização Mundial do Comércio (OMC). Neste sentido, no ano de 1995, o Escritório Internacional de Epizootias, atualmente denominado Organiza-ção Mundial da Saúde Animal (OMSA) publicou o Código Sanitário para Animais Aquáticos e o Manual de Provas de Diagnóstico para os Animais Aquáticos, com vistas a velar pela seguridade sanitária do comércio internacional de animais aquáticos e produtos de animais aquáticos. As normas e recomendações da OMC foram legisladas na Europa por meio de diretivas13, que no caso de moluscos bivalves, estão regula-mentadas pela Directiva 91/67/CE, a qual dispõe sobre a vigilância sanitária na movimentação de animais vivos e seus produtos, bem como a Directiva 95/70/CE, que rege sobre as medidas sanitárias a serem adotadas no caso de mortalidades anormais e, ao tempo que lista as enfermidades de declaração compulsória às autoridades sanitárias. Mais recentemente, foi

13 Os instrumentos de regulação utilizados na União Européia diferenciam-se em regulamentos,

diretivas, decisões, recomendações e pareceres, com características distintas. O regulamento é obrigatório, diretamente aplicável aos Estados-Membros. A diretiva necessita de transposição para o quadro jurídico nacional, adaptável e obrigatória. A decisão é obrigatória sem transposição. A recomendação e o parecer também são de aplicação direta, mas de caráter não obrigatório. Portal da União Européia. Glossário: instrumentos jurídicos comunitários. Disponível em: <http://europa.eu.int/scadplus-/glossary/community-_legal_instruments_pt.htm>. Acesso em: 05 dezembro 2008.

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publicada a Directiva 2006/88/CE, que revisa, amplia e unifica as anteriores.

No Brasil, informações prestadas pelos produtores e extensionistas rurais em oitivas conduzidas durante a pesquisa de campo, revelam Santa Catarina como importador habitual de material de multiplicação genética, de diferentes países, sem exigir os cuidados essenciais à preservação da condição de higidez existente. Documentos oficiais apontam que os principais itens destas importações estavam representados por larvas olhadas e sementes de ostras triplóides. Autores como Honkoop (2003) e alguns importadores entrevistados, afirmam que o interesse pela aquisição de indivíduos triplóides está relacionado com a característica de reprodução incipiente ou infertilidade. Sem o esforço da reprodução os indivíduos apresentam maior resistência às enfermidades e um sabor de melhor aceitabilidade pelos consumidores, uma vez que guardam em si todas as reservas nutricionais não disponibilizadas para a reprodução.

No ano de dois mil e três, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou a Instrução Normativa nº 53, que dispõe em seu artigo 26, que:

Somente será permitida a liberação, nos corpos de água para aquicultura, dos descendentes de primeira geração (F1) do lote importado. O lote original permanecerá sob condições de isolamento e vigilância sanitária por todo o período reprodutivo no estabelecimento de reprodução.

Com a publicação desta Normativa e considerando que os

produtos de interesse para as importações eram os indivíduos triplóides, portanto sem condições de gerar prole no Brasil, houve expressiva redução nos registros de solicitação de importações oficiais em Santa Catarina (BRASIL, 2008).

Dentro do contexto de garantias sanitárias, estudos realizados no Brasil apontam entre os agentes patogênicos de maior relevância, o parasito Nematopsis, também conhecido como gregarina, que embora não registre, até o momento, danos significativos em populações de Mytella guyanensis (AZEVEDO; MATOS, 1999) e na ostra C. rhizophorae (SABRY, et al. 2007), registra alta freqüência de ocorrência, sendo que sua presença

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deve ser levada em conta quando da implantação de cultivos destas espécies (PINTO et al. 2008). Essas gregarinas utilizam os bivalves como hospedeiros intermediários e completam seu ciclo de vida no tubo digestório de crustáceos (SANTOS, et al. 2007). Além disso, a infestação pelo poliqueta espionídeo Polydora websteri causa sérios agravos a saúde dos animais, além de comprometer a qualidade final do produto, especial-mente na ostra C.gigas (SABRY; MAGALHÃES, 2005). No Esta-do de Santa Catarina, Silveira (1997) relata o primeiro diagnós-tico de uma enfermidade em C. gigas, conhecida como a síndrome da mortalidade em massa de verão. O autor sugere que um agente patogênico bacteriano oportunista, Nocardia sp, tenha influenciado nos elevados índices de mortalidade como consequência de uma septicemia pós estresse. Outros estudos realizados no Brasil registram, principalmente, ocorrências pelo trematódeo digenético do gênero Bucephalus, com agravos prevalentes no mexilhão Perna perna (LIMA, et al. 2001). Trematódeos digenéticos também foram observados parasitando o berbigão Anomalocardia brasiliana (BOEHS; MAGALHÃES, 2004).

A lista das enfermidades que constam no Código Sanitário Internacional para Animais Aquáticos, estas consideradas de notificação obrigatória, inclui aquelas de natureza transmissível e etiologia conhecida, foram aprovadas pelo Comitê Internacional da OIE e ratificadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Conquanto o referido Código arrole algumas en-fermidades, os serviços veterinários oficiais recomendam obser-var outras enfermidades importantes e que incluem: a) enfer-midades graves com ampla distribuição geográfica; b) enfer-midades que provocam taxas de mortalidade preocupantes, sejam transmissíveis e cuja ocorrência seja em uma área de extensão limitada, porém os agentes etiológicos ainda não estão identificados; e c) enfermidades que possam causar perdas consideráveis, porém estejam demasiadamente novas para que se possa determinar sua área de extensão ou que se conheçam seus elementos epidemiológicos essenciais (BRASIL, 2007).

Os dados apresentados confirmam a importância deste estudo, cujo escopo está relacionado ao atendimento da neces-sidade premente de pesquisadores e sanitaristas ampliar o conhecimento sobre os agentes patogênicos capazes de causar

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dano aos bivalves. Uma revisão da literatura sobre a ocorrência de enfermidades representa importante ferramenta para uma discussão científica que venha a contribuir para a promoção da saúde dos bivalves e a prevenção do ingresso de patógenos.

O presente artigo compõe parte integrante de uma pesquisa que teve como objetivo coligar registros de ocorrência de enfermidades de bivalves marinhos, que poderá servir para os profissionais sanitaristas e os pesquisadores como um registro das principais ocorrências existentes no país e no exterior. A parte apresentada neste artigo trata exclusivamente das enfermi-dades que acometem os bivalves e consiste de um estudo descritivo de revisão sistemática em artigos científicos, os quais se encontram publicados em periódicos nacionais e interna-cionais, nas três ultimas décadas. Sendo assim, este artigo trata da identificação dos principais agentes etiológicos capazes de causar agravos à saúde dos bivalves.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada em periódicos indexados nos

bancos de dados REPIDISCA, LILACS, PubMed, Scielo e PERI. A busca incluiu ainda consulta ao Código Sanitário para Animais Aquáticos e o Manual de Provas de Diagnóstico de Animais Aquáticos, ambas as publicações da Organização Mundial da Saúde Animal. Os parâmetros observados constaram da cate-goria enfermidades de bivalves de notificação obrigatória e agentes etiológicos que causaram mortalidade e/ou morbilidade expressiva, com registro em publicações no período compre-endido entre janeiro de 1968 e dezembro de 2008. Justifica-se esse período pelo aumento expressivo da atividade e o número de estudos científicos que discutiram as enfermidades capazes de promover danos à saúde dos bivalves. Também foram consultados os registros dos serviços oficiais de defesa sanitária animal do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina, instituição estadual com objetivo de executar, por delegação da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvol-vimento Rural, os serviços de defesa sanitária animal.

Na sequência, procedeu-se a leitura dos artigos selecio-nados com a finalidade de identificar os agentes etiológicos

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descritos em cada estudo e comparar com os achados no Brasil. A partir da identificação dos agentes foi realizada consulta ao Código Sanitário para averiguar se estes constavam ou não na lista e, posteriormente, verificou-se por meio de oitivas e análise de documentos se os serviços oficiais de saúde animal apresen-tavam um sistema de vigilância epidemiológica estruturado para ações em sanidade de bivalves.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados desta pesquisa evidenciaram que vários

agentes patogênicos podem acometer a saúde dos bivalves, tanto no Brasil como em outros países que praticam a mala-cocultura.

Interessante consignar a constatação de que o Estado de Santa Catarina conta com a especial condição de não apresentar registro oficial de nenhuma das enfermidades listadas no Código Sanitário Internacional para Animais Aquáticos da OIE. Contudo, foi observada uma lacuna na legislação brasileira específica para bivalves e, igualmente, que as ações de vigilância epidemiológica oficial se encontram em estágio incipiente de programação, o que resulta claro o desconhecimento por parte dos serviços oficiais da real situação atual de saúde dos bivalves.

No tocante a legislação, a edição das regras versadas pela Instrução Normativa nº53/03 denota omissão normativa no que diz respeito às características específicas do cultivo de bivalves, mormente as ostras. A instrução apresenta omissão, igualmente, no que diz respeito à movimentação de bivalves com fins de reprodução, no qual o processo ocorre em ambiente de labora-tório, sistema fechado e controlado, com acompanhamento sani-tário permanente, com procedimentos de biosseguridade e outros. Com efeito, as autoridades sanitárias já disponibilizaram para consulta pública uma nova versão para a IN 53/03, contem-plando o regulamento que inclui um controle sanitário e a vigilância epidemiológica mais abrangente. Não obstante, a IN53/03 está ainda vigente, conforme consta do sítio eletrônico do Ministério da Agricultura14.

No mérito da análise das condições ambientais sobre a saúde dos bivalves, foram analisados os estudos de Elston 14 Disponível em: www.agricultura.gov.br/sislegis. Acesso em: 25 jun 2009.

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(1999), que afirmam serem os moluscos indivíduos muito susceptíveis às condições ambientais, notadamente as condi-ções sanitárias e zoosanitárias, as quais têm influência direta sobre a qualidade da saúde dos indivíduos e sobre a qualidade sanitária do produto. Estas observações são confirmadas por Bower (2005), que sugere ainda, que alguns agentes patogê-nicos podem aumentar a intensidade de infecção quando associado com a perda das condições do hospedeiro, por exem-plo, no período de desova ou pós desova. Os mesmos autores sugerem, além disso, que os sistemas de cultivo tais como o suspenso em águas rasas, podem aumentar a exposição às cracas tornando as valvas recobertas por pequenos animais e plantas (cracas, esponjas, poliquetas, tunicados e outros). Esta condição pode afetar diretamente a saúde dos animais, impe-dindo as conchas de abrirem e fecharem normalmente e, indire-tamente, por meio do aumento da competição pelos alimentos.

Neste contexto, o estudo de uma enfermidade tem por objetivo fornecer conhecimento e ferramentas técnicas e jurídicas para a tomada de medidas necessárias para o retorno ao estado de saúde, envolvendo aspectos epidemiológicos importantes. O Código Sanitário Internacional orienta que quando este equilíbrio, ou seja, quando o estado de saúde é quebrado, dois feitos são fundamentais: a) capacidade para eliminar a enfermidade e restabelecer o estado de saúde e b) capacidade para prevenir e evitar o aparecimento de uma enfermidade quando da não ocor-rência desta. Autores como Mialhe (2006) afirmam que surtos de origem viral aparecem como resultado de pressão por estresse, tais como hiperdensidade, temperatura inadequada e baixo oxigênio dissolvido. É de se ponderar sobre a participação pluriprofissional e multi-institucional para a aprovação de áreas para o cultivo de bivalves.

Experiências internacionais relatam que há pouca capacidade de erradicação das enfermidades em bivalves mari-nhos, uma vez tenham sido as mesmas estabelecidas em áreas de cultivo. Conseqüentemente, programas de prevenção e con-trole das enfermidades se tornam de fundamental importância em nível mundial, de modo a manter os cultivos como uma atividade ecológica e economicamente sustentável. Muito embo-ra os casos relatados de identificação de agentes patogênicos nos bivalves de cultivo em Santa Catarina estejam mais relacio-

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nados com achados de parasitos, foi observada a necessidade de diagnósticos laboratoriais mais complexos, mormente para a identificação de agentes bacterianos e virais.

Muitos países, incluindo o Brasil, possuem alguma forma de sistema ou plano de resposta emergencial, com fins de fazer frente imediata em casos de surtos de enfermidades em animais terrestres. Contudo, estes sistemas de resposta raramente inclu-em considerações naquilo que diz respeito aos animais aquáticos e o Brasil é um país que não possui um plano para as especifici-dades dos bivalves marinhos.

Em conclusão, foi observada a necessidade de certificação zoosanitária dos estabelecimentos de reprodução de bivalves, a qual compreende inspeções profissionais periódicas, consoli-dadas por meio de diagnósticos laboratoriais em consonância com as exigências das instituições oficias de sanidade animal e firmado em legislação específica.

Da mesma forma, ficou ressaltada a necessidade de estruturar um sistema competente e eficiente no controle da movimentação de bivalves. É preciso planejar ações com vistas a identificar agentes patogênicos, prevenir a introdução ou a disse-minação de enfermidades, bem como, promover programa de educação sanitária e treinamentos que permitam acelerar o processo de entendimento do papel e das ações a serem efetiva-das em caso de ocorrência de mortalidade.

Do mesmo modo, há a necessidade de políticas públicas que entendam a saúde dos animais como um fator determinante para o sucesso da atividade.

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CAPÍTULO V15

Polidiariose em ostras Crassostrea gigas cultivadas na Praia da Ponta do Sambaqui, Florianópolis, Santa Catarina – Brasil

RESUMO A infestação por poliquetas do gênero Polydora em ostras C. gigas de cultivo foi acompanhada por meio de coletas mensais enquanto os parâmetros físico-químicos da água do mar foram monitorados semanalmente. Foi determinada a área total ocupada pelas bolhas e tubos na superfície interna das valvas, observando os possíveis danos às principais características fisiológicas da ostra. Houve prevalência do anelídeo Polydora sp. (Polychaeta: Spionidae) em todos os meses amostrados, chegando a 100% no período de águas mais frias. As análises histológicas mostraram que os tecidos e órgãos estavam intactos, ocorrendo a formação de gametas. Nas ostras severamente infestadas, foi possível observar intensa fibrose na região do manto, mostrando reparo do tecido.

Palavras chave: ostras, poliquetas, Polydora sp., polidiariose, Spionidae.

15 Neste capítulo encontra-se o artigo científico com o título POLIDIARIOSE EM OSTRAS

CRASSOSTREA GIGAS CULTIVADAS NA PRAIA DA PONTA DO SAMBAQUI, FLORIANÓPOLIS/SC – BRASIL, redigido segundo as normas do periódico Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. O artigo encontra-se em fase de revisão pelo periódico

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Polidiariose in Crassostrea gigas farmed oysters at Ponta do Sambaqui Beach, Florianópolis, Santa Catarina – Brasil

ABSTRACT

The infestation of polychaetes Polydora in C. gigas oyster cultivation was accompanied by monthly samples whereas the physical and chemical parameters of seawater were monitored weekly. It was determined the total area occupied by bubbles and tubes in the inner surface of the valve, indicating the possible damage to the main physiological characteristics of oysters. It was observed prevalence of annelid Polydora sp. (Polychaeta: Spionidae) in all samples each month, reaching 100% in the period of cooler waters. The histological analysis showed that the tissues and organs were intact, occurring the formation of gametes. In oysters severely infested, it was possible to observe intense fibrosis in the mantle, showing repair of the tissue. Key words: oysters, polychaetes, Polydora sp., polidiariose, Spionidae.

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INTRODUÇÃO

A polidiariose, conhecida como a peste da indústria de ostras e pectinídeos, apresenta como responsáveis espécies do complexo polidorígeo composto pelos anelídeos poliquetas dos gêneros Polydora, Boccardiella, Boccardia e Pseudopolydora1. A infestação é definida como uma doença de alto risco do tipo endêmico-parasitária incide negativamente sobre os cultivos devido à alta prevalência nos sítios produtores de moluscos, ten-do em vista tratar-se de animais dependentes positivos em relação ao carbonato de cálcio.

Os organismos perfurantes têm sido alvos de pesquisas intensas desde o início da década de 70, devido a implicações econômicas sobre bivalves de importância comercial: Polydora ciliata1 em Ostrea edulis2; P. ciliata em Crassostrea madrasensis2; P. websteri em Saccostrea commercialis3, Patinopecten yessoensis4 e Striostrea margaritacea5; P. variegata, P. cilliata e P. concharum, associadas à vieira Patinopecten yessoensis6 e Polydora sp. em Saccostrea commercialis, Pinctada maxima, Tridacna gigas7 e Pecten maximus8.

Nos cultivos de ostras em Santa Catarina, estudos preliminares evidenciaram a presença de elevada infestação por Polydora websteri, mormente em cultivos na região do Rio Rato-nes em Florianópolis. O resultado desta infestação caracteriza-se pela formação de vesículas que contém sedimento no seu interior, conhecidas como bolhas de lodo (“mud-blisters”), visíveis na parte interna da valva da ostra. Esta má aparência da concha restringe o valor comercial das ostras, principalmente quando destinadas ao comércio em meia concha. Neste sentido, também foi observada redução da qualidade de carne e do índice de crescimento durante a formação das bolhas causadas pelo parasita, uma vez que a ostra investe energia secretando nácar e conchiolina9.

Pesquisadores como Vargas-Zamora10 registram terem observado uma conexão entre a presença de Polydora sp. e a qualidade do ambiente aquático. As variações bruscas de tempe-ratura, salinidade e quantidade de alimento disponível podem interferir nos mecanismos de defesa imunológica e, portanto, é interessante que os estudos fisioecológicos levem em conside-

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ração os fatores ambientais11. Segundo Lucas & Beninger12, os índices de condição

servem tanto ao propósito econômico, para designar a qualidade do produto, como também ao fisio-ecológico, para caracterizar um estado de saúde aparente, resumindo a atividade fisiológica dos animais (crescimento, reprodução, secreção) sob determi-nada condição ambiental.

O presente trabalho tem o objetivo de avaliar a polidiariose em ostras Crassostrea gigas cultivadas na Praia da Ponta do Sambaqui, Baía Norte da Ilha de Santa Catarina – Brasil, buscando relacioná-la com as condições ambientais.

MATERIAL E MÉTODOS As sementes de C. gigas foram cedidas pelo Laboratório

de Moluscos Marinhos da Universidade Federal de Santa Cata-rina (LMM/UFSC). O período experimental foi de janeiro a agosto de 2001. Utilizaram-se dois lotes de ostras, sendo (1) animais controle – condicionados no LMM/UFSC com manejo idêntico ao que recebem os indivíduos reprodutores na fase de índice de condição e (2) animais teste – mantidos no mar, na Praia da Ponta do Sambaqui no cultivo experimental do LMM/UFSC, em sistema suspenso flutuante do tipo espinhel.

A densidade inicial (janeiro/2001), na fase de berçário, foi de 400 sementes/andar (2000 sementes/berçário), passando em abril para lanternas definitivas com 90 ostras/andar (450 ostras/lanterna). O manejo das sementes inclui a lavação sema-nal dos berçários com água doce pressurizada e peneiramento quinzenal para separar os animais por classes de tamanho. As análises foram mensais com n amostral de 30 indivíduos por grupo experimental, de janeiro a abril e de 20 indivíduos/mês, de maio a agosto de 2001. Os parâmetros físico-químicos da água do mar foram avaliados semanalmente em duas profundidades (0 e 2 m). No momento da coleta, foram medidos: temperatura (T), saturação (O) e solubilidade do oxigênio (OD). Amostras de água do mar foram coletadas para posterior análise de pH, salinidade, clorofila a, turbidez, matéria particulada orgânica, inorgânica e total. Os dados pluviométricos e de temperatura do ar foram obtidos no CLIMER/EPAGRI13. A biometria dos animais foi realizada por meio de um paquímetro de precisão de 0,05mm

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e considerando os eixos propostos por Galtsoff14. O Índice de Condição (IC) foi avaliado conforme descrito por Walne & Mann15.

Para observação do estado de normalidade do tecido das ostras, ocorrência de hemócitos infiltrados e desenvolvimento de gametas foram removidas amostras de gônada e manto, além de terem sido efetuadas secções diagonais dos bivalves, segundo recomendações de Howard & Smith16. O material foi fixado em solução de Davidson e incluído em parafina. Foram realizados cortes de 7µ e coloração HE, segundo técnicas histológicas clássicas.

O grau de infestação foi determinado pela porcentagem de cobertura por tubos e bolhas de lodo na superfície interna das ostras, em relação à área total das valvas17. A curva de cali-bração, previamente construída utilizando moldes de papel alumínio de 2,25 a 81 cm2, forneceu a equação de regressão utilizada para determinação da área infestada nos animais teste: Área do alumínio (cm2) = 328.77 + 0.3188x, com r2 =0.9997 e (x) expresso em mg.

Novos moldes de papel alumínio foram feitos repre-sentando a área coberta pelos tubos e bolhas de lodo. O peso dos moldes de cada ostra, lançado na equação de regressão indicava em cm2, a área de infestação de cada organismo avaliado. A mortalidade foi determinada de acordo com o número de valvas vazias ou abertas dentro dos berçários e lanternas de ostras, ao longo do período amostral. Além da mortalidade mensal, que considera 100% as ostras sobreviventes do mês anterior, também foi calculada a mortalidade acumulada, considerando 100% a quantidade de ostras do início do experimento. Para comparar as médias dos tratamentos entre animais controle e experimentais e ao longo do período amostral (variação temporal), foram empregadas análises de variância unifatoriais (ANOVA, onde a = 0,05). O teste estatístico LSD (a = 0,05) foi utilizado à posterior para detectar diferenças signifi-cativas nos dados de grau de infestação, IC e TH das ostras, nos diferentes meses amostrados. Os valores foram previamente transformados em log (x+1) para melhor evidenciar a diferença entre a área ocupada pela infestação e a área total da concha.

A relação entre a porcentagem de ocupação na parte interna das valvas e os parâmetros IC, TH, altura da concha e

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peso fresco da carne foi determinada por meio de análises de correlação mensais. Os resultados dos diferentes parâmetros biológicos, hidrológicos e climáticos medidos ao longo do período experimental foram submetidos a analise de componentes prin-cipais (PCA: 95%), que permite hierarquizar os fatores (eixos ou componentes) responsáveis pela variabilidade dos dados18.

RESULTADOS

As médias mensais dos parâmetros físico-químicos

avaliados podem ser observadas na Tab.1. No mês de agosto, foram obtidos os maiores valores de material total em suspen-são, caracterizado como o conteúdo de matéria orgânica e inorgânica particuladas presente na água do mar e, conse-quentemente, a mais alta concentração de MOP na coluna d’água, com valores de 13,3 mg/L e 11,5 mg/L para superfície e fundo, respectivamente. As mais baixas concentrações de clorofila a (Chla) foram encontradas no mês de junho (2,03 µ g/L), que foi também o mês com os mais baixos registros de temperatura da água de superfície. Os valores de salinidade variaram muito pouco ao longo do período amostral, apresentando uma amplitude de 2,3 (mínima de 29,3 no mês de maio e máxima de 31,6 em abril).

Não houve variação brusca nos dados de temperatura, salinidade, grau de saturação do oxigênio, oxigênio dissolvido e pH entre as duas profundidades analisadas. Isto deve ter ocor-rido devido a pouca profundidade onde estão instalados os cultivos (média de 2 m na maré baixa), aliada à constante ação dos ventos e correntes. Os valores de matéria orgânica, inorgânica, turbidez e clorofila a apresentaram-se mais elevados próximos ao fundo em todos os meses do estudo, com exceção da clorofila no mês de maio e da matéria orgânica em agosto. Os dados de pluviometria obtidos na Estação do CLIMERH/ EPAGRI/Santa Catarina indicaram para o período amostral, maior precipitação total em fevereiro e menor em agosto.

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Tabela 1: Médias mensais dos parâmetros hidrológicos obtidos em duas profundidades [Superfície – Fundo (2m)] na Praia da Ponta do Sambaqui, Florianópolis – SC/Brasil

Com relação à temperatura do ar, o mês mais quente foi fevereiro, com temperaturas oscilando entre 27,2 ° C e 33,8 ° C e, o mais frio, o de julho, com mínima de 2,2 ° C e 17,4 °C de temperatura máxima.

No que diz respeito aos bivalves, observou-se que nos dois primeiros meses o tamanho das ostras controle e experimentais foi estatisticamente diferente (p <0,0001), sendo maior a do grupo teste. Em abril, os animais controle alcançaram o tamanho das valvas apresentado pelos animais teste, sendo a diferença não mais detectada pela análise de variância (F= 2.10) e (p = 0.152). A partir de maio a diferença entre os grupos voltou a se acentuar, com melhor crescimento para os animais mantidos no mar (p<0,0001), permanecendo assim até o final do período experimental. Já quanto ao peso da carne fresca, as diferenças foram estatisticamente significativas durante todos os meses amostrados (p<0,0001) com os animais no mar apresentando maior peso do que os mantidos no laboratório. Com relação à mortalidade, os resultados evidenciam perdas de ostras em todos os meses do experimento para os animais mantidos no mar. Em vista disso, a partir de maio o n amostral passou de 30 para 20, sendo que em agosto foram analisados os últimos 18 animais. No laboratório, não houve mortalidade nos animais controle durante o período estudado.

Temperatura: T; Salinidade: S; pH; Grau de Saturação do Oxigênio: O; Solubilidade do Oxigênio: OD; Clorofila a: Chla; OSAT Turbidez: TU; Matéria Orgânica Particulada: MOP; Matéria Inorgânica Particulada: MIP.

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A infestação por Polydora sp. apareceu já no primeiro mês, com prevalência de 3,33% de ostras parasitadas, os valores foram de 100% para os animais teste, durante todo o período experimental. Os animais controle não apresentaram infestação, em virtude da água do mar utilizada ter sido previamente filtrada e esterilizada. A maior porcentagem de ocupação foi encontrada no mês de maio (14,86 %). Os meses de abril e junho foram estatisticamente semelhantes (p=0,534) e para os demais meses estudados, foram detectadas diferenças pela análise de variância (p<0,001).

Com relação ao Índice de Condição (IC), não houve diferença significativa entre os animais teste e o controle. O Teor Hídrico apresentou valores estatisticamente diferentes entre os animais teste e controle (p<0,0001), com os maiores valores correspondendo aos animais controle. Quanto à variação temporal do TH, durante os três primeiros meses do experi-mento, os valores oscilaram (p<0,05), mas a partir de maio mantiveram-se constantes em cerca de 80 e 90% para os animais teste e controle, respectivamente, até o final do período amostrado para ambos os grupos experimentais.

A análise das valvas infestadas dos animais teste mostrou que os poliquetas se colocam dentro de tubos em forma de “U”, alguns dos quais intercomunicantes, resultando em verdadeiras galerias, não sendo possível determinar a quantidade de indivíduos/canal, pela dificuldade em retirar os adultos de forma íntegra. Observou-se que os tubos eram comumente formados paralelamente à valva da ostra, sendo então denominados de tubos horizontais – H (Fig. 1). Também foram observados perpendicularmente à valva, sendo então denominados tubos verticais – V (Fig. 2).

As bolhas de lodo (Fig. 3) foram mais abundantes na região central das valvas, sendo que a valva esquerda inferior apresentou maior prevalência de infestação durante todo o período amostral. O maior valor foi encontrado no mês de junho, cinco meses após os animais terem entrado no mar. Já em fevereiro (um mês de permanência no mar), foram observados alguns casos em que os tubos ou galerias desenvolviam-se no interior das valvas no sentido vertical, verificando-se perfurações nos tecidos moles a partir do mês de março. Foi freqüente também a observação da área do músculo adutor bastante

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danificado pelo desenvolvimento de bolhas de lodo na região adjacente.

No primeiro mês em campo, as ostras não apresentaram diferenças significativas quanto à porcentagem de ocupação entre as valvas analisadas, mas a partir de março, essas diferenças já puderam ser detectadas pela análise de variância. Neste sentido, observou-se, com exceção de fevereiro, que a valva direita (superior) apresentava infestação superior à valva esquerda (inferior) ao longo do período experimental. Os resultados da ocupação se referem às valvas, independen-temente do tipo de estrutura formada pelos poliquetas em cada uma delas (tubos V, H ou bolhas), relacionando-se a área infestada com a área interna total de cada valva. A maior porcentagem de ocupação foi encontrada no mês de maio e depois os valores começaram a cair gradativamente.

As análises histológicas mostraram que a polidiariose não impediu a formação de gametas. Houve maior ocorrência de machos durante todo o período experimental, com exceção dos meses de fevereiro e março. A presença de ostras em que não foi possível determinar o sexo foi verificada em todos os meses, sendo que em maio 100% dos animais analisados apresen-tavam-se neste estado. No mês de fevereiro não foi observada a presença de machos entre as ostras analisadas. As fêmeas foram encontradas na população amostrada somente nos meses de fevereiro, março e agosto. Em março, 38% dos animais analisados eram machos, apresentando uma freqüência relativa ligeiramente menor que a das fêmeas para o mesmo mês (42%). As análises histológicas mostraram ainda que, apesar da polidiariose, os órgãos das ostras apresentavam-se morfolo-gicamente não alterados. Parece não haver migração de hemócitos para os tecidos devido à infestação das valvas por Polydora sp. Casos particulares em que os tubos verticais perfu-ravam o tecido causando histólise revelaram um comportamento hemocítico diferenciado, com migração de um número aumen-tado de hemócitos para o local danificado. Anormalidades histológicas foram observadas somente em ostras severamente infestadas. Nestas pôde-se observar intensa fibrose na região do manto, provavelmente provocada pela aderência aos tubos do poliqueta. As fibras longitudinais semelhantes a colágeno

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apresentaram-se altamente eosinofílicas e distribuídas por toda a região danificada do manto.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A infestação por poliquetas espionídeos do gênero

Polydora é uma realidade em cultivos de Crassostrea gigas em diversas partes do mundo. As prevalências chegam a 100% durante quase todo o ano, com índices de ocupação gradativa-mente menores ao longo do inverno, por uma diminuição no recrutamento larval observada no fim do verão/outono, o que facilita a biomineralização das conchas e conseqüente cobertura das estruturas formadas pelos espionídeos em assentamentos anteriores.

Nenhuma relação foi encontrada entre os níveis de infestação e os parâmetros: índice de condição, crescimento em concha, incremento de carne e o desenvolvimento gonádico dos animais cultivados. A presença de poliquetas perfuradores pode somente ser considerada uma ameaça quando instalada na fase inicial dos cultivos, em que as sementes e juvenis não compor-tam o tamanho das estruturas formadas pelos espionídeos, comprometendo o fechamento de suas valvas e, dessa forma, causando mortalidades. A polidiariose também não afetou a formação de gametas. Os órgãos analisados histologicamente não apresentaram alterações, com exceção de fibrose no manto das ostras severamente infestadas.

A salinidade e a temperatura têm sido reportadas como fatores primários na determinação da abundância de Polydora sp. 17, sendo que os valores mais baixos de prevalência foram observados nos meses mais frios, com a diminuição da salini-dade causada pelas chuvas de inverno. Tal fato também pôde ser observado no presente estudo, com a maior porcentagem de ocupação interna das valvas ocorrendo no mês de maio, mês de menor temperatura média da água do mar. A queda deste índice nos meses seguintes pode não estar associada a uma diminui-ção da infestação e sim, ao fato de ter havido um reparo da concha, visto que num trabalho paralelo (Ibbotson & Magalhães, comunicação pessoal), a maior concentração de larvas planctônicas foi encontrada no mês de junho.

O IC dos animais mantidos em campo foi semelhante ao

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dos acondicionados em laboratório, embora fosse razoável esperar índices mais baixos para os animais controle, pela reduzida disponibilidade de alimento e água, aliada ao fator densidade dos animais. É provável que isso não tenha ocorrido em virtude das baixas temperaturas da água em que foram mantidos durante a permanência no laboratório, contrárias ao verão prolongado que se estabeleceu até maio. Com relação à variação temporal, os resultados mostram que o maior valor de IC foi obtido no mês de fevereiro, em que os animais saíram das condições de manejo do laboratório e entraram no mar. A correlação negativa entre a porcentagem de ocupação das conchas por tubos e bolhas de lodo e o IC dos animais eviden-ciada pela análise de PCA, não levou em conta animais controle e teste, visto que tal relação já havia sido testada e observada como inexistente pela análise de correlação linear. A maior porcentagem de ocupação das valvas nos meses de maio e junho resulta, provavelmente, de recrutas anteriores ao início do experimento, referentes ao processo de entrada na fase reprodutiva de verão, que reflete em maior riqueza e abundância de espécies de invertebrados bentônicos para esta época do ano19. Entre maio e junho, o IC das ostras apresenta-se baixo, passando a elevar-se somente no mês de agosto, muito prova-velmente em virtude de seu ciclo sexual, visto que para C. gigas o início da gametogênese ocorre com a chegada da primavera. Segundo Galtsoff14, o IC é diretamente proporcional ao teor de glicogênio no tecido. Seus níveis sobem com o princípio da gametogênese, caindo somente após a desova, devido à perda de massa corporal, o que para C. gigas acontece geralmente no início do verão20. A variação no índice de condição dos animais pode ainda estar associada às estações climáticas17, com um aumento do IC relacionado à maior disponibilidade de alimento. Sabe-se que a clorofila a não representa a totalidade do alimento disponível para as ostras21, mas é um bom indicativo da produ-tividade primária. No presente trabalho, entretanto, o mês de maior produção de fitoplâncton, foi também o de menor IC. O discreto aumento no IC a partir de abril parece estar mais associado à temperatura do que propriamente à clorofila, visto ser esta uma espécie exótica que, segundo MANN, BURRESON E BAKER22, tem sua faixa de conforto térmico abaixo dos 20 °C.

Para o controle químico de doenças e predadores em

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cultivos de bivalves nenhum produto encontra guarida na legislação brasileira, sendo, portanto, seu uso ilegal no país. Contudo, grande importância tem sido dada ao estudo de técnicas em relevância ecológica por meio da aplicação de produtos naturais de invertebrados marinhos, algas ou processos físicos. Uma técnica bastante utilizada é o chamado “castigo”, que consiste na exposição das ostras ao sol ou ao ar atmosférico durante algumas horas. O tratamento com água quente (salgada) mostrou-se eficiente em Algoabay/África do Sul, com C. gigas23. Outros estudos relacionaram o aumento da profundidade de cultivo com a diminuição da infestação24. No Chile, a utilização de salmouras (360gNaCl/L de água doce), fenol salino 5%, ácido acético 5%, métodos físicos como radiação ultravioleta e ultra-som, bem como choques térmicos e luminosos se mostraram eficientes25.

No litoral de Santa Catarina, os métodos de controle das incrustações26 utilizados em cultivos de ostras do Pacífico são: a) raspagem manual, b) lavação das lanternas e ostras com água doce pressurizada, c) castigo, d) rolo (choque mecânico) e e) metodos combinados. Todavia, estes métodos não têm se mostrado eficientes no controle do complexo polidorígeo, vista a alta porcentagem de infestação que ocorre ainda nas fazendas marinhas do Estado e a falta de informações a respeito do comportamento deste poliqueta no litoral catarinense.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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13 CLIMERH – Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídricos. Disponível em: www.climerh.rct-sc.br. Acesso em: 13 de setembro 2001. 14 GALTSOFF, P.S. The American oyster (Crassostrea virginica ). Fisheries Bulletin, v.64, p. 1- 480, Fish and Wildlife Service, Washington DC. 1964. 15 WALNE, P.R.; MANN, R. Growth and biochemical composition in Ostrea edulis and Crassostrea gigas . In: H. BARNES (Ed.), Proceedings of the Ninth European Marine Biology Symposium, Aberdeen Univ. Press, p. 587-607, 1975. 16 HOWARD, D.W.; SMITH, C.S. Histological techniques for marine bivalve mollusks. National Marine Fisheries Service, Woods Hole, Massachusetts, 1983. 17 CACERES-MARTINEZ, J.; MACIAS-MONTES DE OCA, P.; VASQUEZ-YEOMANS, R. Polydora sp. Infestation and health of the pacific oyster Crassostrea gigas cultured in Baja California, NW Mexico. Journal of Shellfish Research, v.17, n.1, p. 259-264, 1998. 18 VALENTIN, J.L.; MONTEIRO-RIBAS, W.M.; MUREB, M.A. O zooplâncton das águas superficiais costeiras do litoral fluminense: análise multivariada. Ciência e Cultura, v.39, n.3, p. 265-271, 1987. 19 SEITZ, R.D.; SCHAFFNER, L.C. Population ecology and secondary production of the polychaete Loimia medusa (Terebellidae). Marine Biology, v. 121, n.4, p. 701-711, 1995. 20 STEELE, S.; MULCAHY, M. F. Gametogenesis of the oyster Crassostrea gigas in southern Ireland. Journal of Marine Biology Association. UK, v. 79, p. 673-686, 1999. 21 WILSON, J. Environmental parameters controlling growth of Ostrea edulis and Pécten maximus in suspended culture. Aquaculture, v. 64, p. 119-133, 1987.

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22 MANN, R.; BURRESON, E.M.; BAKER, P.K. The decline of the Virginia oyster fishery in Chesapeake Bay: considerations for introducing of a nonendemic species Crassostrea gigas (Thunberg, 1793). Journal of Shellfish Research, v. 10, p. 379-388, 1991. 23 NEL, R.; COETZEE, P.S.; NIEKERK, G.V. The evaluation of two treatments to reduce mud worm (Polydora hoplura Claparède) infestation n commercially reared oysters (Cras-sostrea gigas. Thunberg). Aquaculture. v. 141, p. 31-39, 1995. 24 HANDLEY, S.J.; BERGQUIST, P.R. Spionid polychaete infestation in intertidal pacific oyster Crassostrea gigas (Thunberg), Mahurangi Harbor, Northen New Zeland. Aquaculture, v.153, p. 191-205, 1997. 25 CAÑETE, J.A. Métodos de prevencion, manejo e control de la plaga Polydora (Polychaeta: Spionidae) en cultivos de Argopecten purpuratus (Bivalvia: Pectinidae). Programa FAT-PYMI (CORFO) – Pesquera Mares de Chile S.A. 1994. 26 NEPTUNE, Y.M.B. O ouriço-do-mar Lytechinus variegatus (LAMARK) como controlador biológico do “biofouling” e do poliqueta Polydora websteri (HARTMAN) em cultivo de Cras-sotrea gigas (Thunberg, 1793) no sul do Brasil. Florianópolis: UFSC, 1999. 84p. Dissertação (Mestrado em Aquicultura) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, 1999.

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CONCLUSÕES GERAIS

O presente estudo teve por motivação colaborar com os diferentes atores da aqüicultura para o entendimento dos enlaces que envolvem os agravos à saúde dos animais aquáticos, com ênfase nos bivalves, e das funções do Estado frente a determi-nadas enfermidades. Alcançado seu término, concluiu-se que o espaço para a discussão acerca do tema saúde de bivalves é amplo e está longe de esgotar-se. A pesquisa também confirmou que existe um desconhecimento quanto aos preceitos legais que regulamentam as ações do Estado em casos de ocorrência ou suspeita de ocorrência de determinadas enfermidades, por parte dos diferentes atores envolvidos no seguimento da maricultura de bivalves. Neste ponto, o desconhecimento, ocasionalmente, toma a forma de conflitos, sejam de ordem valorativa ou normativa.

Para a composição desta conclusão foram imprescindíveis as etapas deste estudo, as quais estavam em consonância com os objetivos propostos. Neste sentido, o breve histórico da evolução das instituições internacionais possibilitou a compreensão da participação do Brasil nas relações de comér-cio. Da mesma forma, foi possível compreender o porquê das ações compulsórias do Estado em casos de ocorrência de enfermidades de notificação compulsória, ressaltando que não representam ação isolada ou despreparo das autoridades sanitá-rias, mas resultado de vários acordos ao longo de negociações internacionais.

Na intenção de identificar o estado da arte do sistema regulatório de defesa sanitária aplicada a malacocultura, o capitulo I tomou por base instrumentos cogentes e não cogentes que regulamentam a defesa sanitária animal de forma expressa ou por interpretação extensiva, como é o caso do Decreto 24.548/34, que muito embora não mencione os animais aquá-ticos, legisla sobre a defesa sanitária animal em seu contexto mais amplo.

Uma vez conceituada e delimitada as circunstâncias para a adoção de medidas sanitárias em saúde animal, referenciando os instrumentos internacionais relacionados com o OIE e o Acordo SPF, buscou-se identificar a conexão entre os instrumen-tos internacionais e a soberania nacional.

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Outra questão que o estudo permitiu abordar foi a condição sanitária atual dos bivalves em Santa Catarina. O estudo de casos serviu como referencial teórico para exemplificar situações de agravo à saúde dos bivalves, com ênfase para a polidiariose nas ostras e bucefalose, predominantemente em mexilhões. Neste sentido foi possível concluir que, até a presente data, não há nenhum registro de ocorrência dos agentes patogênicos que constam da lista do OIE como causadores de enfermidades em bivalves. Entretanto, vale lembrar que a ausência da evidência do risco não significa exatamente evidência de ausência do risco. Em outras palavras, afirmar que não foi identificado nenhum dos agentes patogênicos causadores das enfermidades da lista não significa que a presença do agente não esteja ocorrendo em níveis que o estado da arte da ciência ainda não conseguiu identificar.

E por fim, restam a título de considerações finais, sugerir a partir das evidências coletadas, que os efeitos nocivos quando do aparecimento de uma enfermidade de notificação compulsória abrangem limites que fogem a simples perda dos animais. Não obstante ser da natureza dos agentes patogênicos a completa ignorância das barreiras sanitárias e políticas, fruto da ficção humana, há de se considerar que os riscos de transmissão e translocação de agentes patogênicos devido à movimentação animal no mundo globalizado, nunca foram tão presentes em incidência e magnitude, o que não impede que algumas pessoas, países ou regiões sejam mais afetados que outros pelos danos causados por enfermidades em animais aquáticos. Estas obser-vações permitiram a construção de uma argumentação para a busca por políticas públicas não aleatórias, mas voltadas para o princípio da prevenção e a estruturação de um serviço oficial competente e atuante nesta área da saúde animal.

Assim, o presente estudo propõe, sob forma de recomendação para futuras ações na malacocultura catarinense:

- aos órgãos de pesquisa: realizar pesquisas que permitam conhecer e responder à ignorância existente em rela-ção aos riscos que podem acometer sanitariamente os bivalves;

- aos órgãos de governo: elaborar políticas públicas de fomento à atividade que contemplem a saúde dos animais como fator determinante para o sucesso do empreendimento;

- aos órgãos de extensão rural: conhecer e responder às

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incertezas e riscos nas avaliações tecnológicas a serem empregadas na atividade;

- aos serviços oficiais de saúde animal: providenciar monitoramento e pesquisa de saúde de animais aquáticos, adequados e que permitam advertências precoces; modernizar seus laboratórios de referência, capacitar seus técnicos e estabe-lecer procedimentos de análises e avaliação de riscos e perigos, tanto para exportações como para importações; estimular e capacitar as indústrias e os malacocultores para a aplicação de análises de riscos e perigos em seus processos produtivos; aplicar programas de educação sanitária em aquicultura;

- aos diversos atores da atividade: identificar e trabalhar para reduzir as lacunas no conhecimento científico; identificar e reduzir obstáculos interinstitucionais às ações de saúde animal; assegurar oportunidade de voz ao uso do conhecimento leigo e local, bem como aos conhecimentos técnicos de sanitaristas e peritos em saúde animal; criar uma associação de exportadores (a exemplo da Associação Brasileira dos Produtores e Exporta-dores de Frangos/ABEF) ou um setor específico dentro do MPA para tratar deste tema; criar um grupo com a participação da iniciativa privada e do governo para seguir a legislação interna-cional; compor um fundo indenizatório privado para atender os custos decorrentes de prováveis casos de enfermidades, ade-mais de um fundo indenizatório para apoiar as ações de defesa sanitária animal (a exemplo do Fundo Emergencial para a Febre Aftosa).

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Esquematicamente, podemos sugerir as seguintes estratégias:

Princípios gerais:

“Não duvidemos jamais que um pequeno grupo de cidadãos atentos e comprometidos possa mudar o mundo.”

Margaret Mead

Escopo

Bivalves de produção Bivalves de costões Bivalves da natureza Bivalves de pesquisa e fins didáticos

Elementos jurídicos Comércio internacional Comércio nacional Comércio local Transferências intracomunitárias Controle e erradicação de enfermidades Produtos veterinários Avaliação de riscos e pareceres científicos Comunicação Aspectos financeiros

Parceria

Proprietários/ detentores de

animais Serviços

veterinários Indústria da cadeia

alimentar Consumidores

Varejistas Comerciantes

Grupos de interesse

OMGs Governos

Outras instituições

Condução de fatores Política de Saúde para Animais Aquáticos (incluindo a Segurança dos Alimentos) Política de Desenvolvimento Sustentável da atividade Compromissos internacionais: Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) – Acordo OMC

Coerência Política Agrícola Comum Política de Aqüicultura e Pesca Política dos consumidores Política de Mercado Interno Política Comercial Política de Inovação e Investigação Relações Externas com países terceiros Política de Desenvolvimento Normas aduaneiras Luta contra a fraude

Melhor comunicação

Melhor conhecimento das leis

Melhor regulamentação

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DA INTRODUÇÃO BARDIN, L. Análise do conteúdo. Lisboa Edições 70, 1991. BERNADINO, T.S. Estudo de mercado: a comercialização de vieiras na região de Florianópolis. Relatório de estágio de con-clusão do curso de Engenharia Agronômica. Universidade Fede-ral de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. BOWER, SUSAN M. 2006. Synopsis of Infectious Diseases and Parasites of Commercially Exploited Shellfish: Marteiliosis (Aber Disease) of Oysters. Disponível em: < http://www-sci.pac.dfo-po.gc.ca/ shelldis /pages/madoy_e.htm>. Acesso em: 28 fev 2009. CHEW, K.K. The Pacific oyster (Crassostrea gigas) in the west coast in the United States. In: Exotic Species in Mariculture. R. Mann Ed., MIT Press, Cambridge, MA, 54-82, 1979. GUIMARÃES, I.M.; ANTONIO, I.G.; PEIXOTO, S.; OLIVERA, A. Influência da salinidade sobre a sobrevivência da ostra do mangue, Crassostrea rhizophorae. Arquivo Ciências do Mar, Fortaleza, vol. 41(1), p. 118 – 122 2008. HELM, M.M.; BOURNE, N.; LOVATELLI, A. Hatchery culture of bivalves: a practical manual. FAO Fish. Tech. Pap., n.471, p.1-177, 2004. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em Educação: As Abordagens Qualitativas. São Paulo: E.P.U., 99 p.1986. MACIEL, M.L.T. Contribuição para o desenvolvimento de uma proposta de monitoramento e certificação zoosanitária em cultivo de camarão marinho no Estado de Santa Catarina. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, 2005. MAGALHÃES, A.R.M., Anatomia e fisiologia de bivalves. I Treinamento de Sanidade de Animais Aquáticos. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Cananéia, São Paulo,

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2009. MARENZI, A.W.C., BRANCO, J.O. O mexilhão Perna perna (Lin-naeus) (Bivalvia, Mytilidae) em cultivo na Armação do Itapocoroy, Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, vol. 22 (2), pg. 394-399, 2005. MERTHY, E.E, Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec, 1997 MARCONI, M.A., LAKATOS, E.M. Metodologia do Trabalho Ci-entífico. Procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 6ed. São Paulo, At-las, p. 106-107, 2001. PESSATTI, M.L.; RESGALLA, C.; REIS, F.R.W.; KUEHN, J.; SALOMÃO, C.; FONTANA, J.D. Variabilidade de filtração e valores de assimilação de alimento, atividade respiratória e resistência do mecanismo no molusco Perna perna. Rev. Brasil. Biol., vol. 62(4): p. 651, 2002. PERDUE, A., H. Beattie, C. Kenneth. Some relation between gametogenic cycle and summer mortality phenomenon in the Pacific oyster (Crassostrea gigas) in Washington State. J. Shellfish Res. vol. p. 1:9-16. 1981 POLI, C.R. Introdução da Ostra do Pacífico (Crassostrea gigas) no sul do Brasil. Boletim Red de Acuicultura. Red Regional de Acuicultura de America Latina – CIID – Canadá. 2004a. SALOMÃO, L.C.; MAGALHÃES, A.R.M.; LUNETA, J.E. Influência da salinidade na sobrevivência de Perna perna (Mollusca: Bivalvia). Boletim de Fisiologia Animal. Instituto de Biociência. Universidade de São Paulo, p. 143-152. v. 4, 1980. ZHUANG, S. The influence of salinity, diurnal rhythm and daylength on feeding behavior in Meretrix meretrix Linnaeus. Aquaculture, Amsterdam, v.252, p.584-590, 2006.

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ANEXO I

Neste anexo são apresentados detalhes dos dados que permitiram discorrer sobre o manuscrito I - SANIDADE DE BIVALVES EM CULTIVO NO ESTADO DE SANTA CATARINA: o papel do Estado e as interações entre a população e o serviço público.

Faz parte deste documento a análise das principais perguntas e indicadores conforme o objetivo da pesquisa, o qual consistiu na exploração do grau de conhecimento dos atores da cadeia produtiva de bivalves sobre as ações a serem tomadas pelo serviço oficial quando da suspeita /confirmação de uma enfermidade de declaração compulsória. As perguntas foram elaboradas de modo a englobar três grupos de informações: as definições técnicas, as determinações legais pertinentes e as avaliações pessoais. O método de análise buscou ponderar, em uma escala de bom, médio e baixo, o entendimento dos atores em relação ao tema por meio de perguntas variadas, mas com respostas articuladas para os três tipos de informação: técnica, jurídica e pessoal. Utilizou-se como metodologia sortear aleatoriamente entre os questionários respondidos, um do grupo dos professores, um do grupo dos responsáveis técnicos e um do grupo dos produtores, para cada uma das perguntas. Esclarecendo que embora outros atores da cadeia produtiva da maricultura de bivalves tenham sido convidados a participar da pesquisa, estes se omitiram ao não responder o questionário.

A análise dos dados 1. Das definições técnicas i. Pergunta: Em seu entendimento, o que são

enfermidades de declaração obrigatória, enfermidades de notifi-cação imediata e enfermidades não declaráveis?

ii. Resposta de parâmetro: utilizaremos como parâmetro para avaliar esta resposta, o que consta da legislação nacional, especificamente na Instrução Normativa16 nº 53, de 02 de julho de 2003, a qual aprova o regulamento técnico do Programa 16 BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível

em:<http://www.agricultura.gov.br/sislegis

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Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos, que em seu artigo 8º rege que:

“são doenças de notificação obrigatória as exóticas e as que ameaçam a economia do país, a saúde pública e o meio ambiente”.

Entretanto, pertinente ainda, mencionar as definições preconizados pelo OIE e aceitas pela legislação brasileira, con-forme segue:

a) Enfermidade de declaração obrigatória: designa uma enfermidade definida pela Autoridade Veterinária Nacional e cuja presença deve ser comunicada a esta autoridade quando de sua detecção ou suspeita, sempre em conformidade com a regulamentação sanitária nacional.

b) Enfermidade de notificação imediata ou enfermidade emergente: designa uma infecção resultante da evolução ou da modificação de um agente patogênico existente, uma infecção conhecida que se expande a uma zona geográfica ou a uma população em que antes nunca havia sido identificada, um agente patogênico jamais identificado anteriormente ou mesmo, uma enfermidade diagnosticada pela primeira vez e que apresenta capacidade de repercussões importantes na saúde dos animais ou das pessoas.

c) Enfermidades não declaráveis: designa a mani-festação clínica e/ou patológica de uma infecção e que por suas características não se enquadram nas definições anteriores.

d) Enfermidades da Lista do OIE: designa a lista de enfermidades transmissíveis aprovada pelo Comitê Internacional do OIE.

iii. Respostas dos entrevistados: para fins de análise, transcrevemos apenas três das respostas obtidas por meio do questionário, sendo consideradas para exemplificação as seguintes respostas:

a) respondente X: “Obrigatórias são as que devem ser comunicadas a OIT, pelo perigo que apresentam de dizimar espécies vegetais ou animais. As imediatas são possíveis enfermidades que venham a se tornar obrigatórias pelo

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seu grau de periculosidade e as não declaráveis são as que não tem poder de contaminar ou ele é facilmente controlável pelos órgãos locais”.

b) respondente Y: “Declaração obrigatória: que oferecem alto risco à produção e devem ser informadas. Notificação imediata: oferecem alto risco à produção. Não declaráveis: as que apresentam potencial de risco, mas que nem sempre causam perdas significativas”.

c) respondente Z: “Declaração obrigatória: aquelas designadas pela OIE.

Notificação imediata: aquelas não obrigatórias, mas que podem comprometer a produção e têm risco de se alastrar. Não declaráveis: aquelas corriqueiras que sabi-damente não comprometem significativamente a produção”.

Análise dos dados - verificou-se, por meio das

respostas analisadas, que não há um conhecimento concreto por parte dos participantes, de quais são os envolvimentos legais que norteiam as ações dos serviços de defesa animal perante ocorrências/suspeitas de determinadas enfermidades. Anota-se que as medidas de prevenção, controle e erradicação de enfermidades exóticas ou emergenciais estão amparadas na legislação brasileira em vigor. Frisa-se que o Decreto nº 24.54817, de 3 de julho de 1934 aprovou o Regulamento do Serviço de Defesa Sanitária Animal e que a Lei nº. 569 de 21 de dezembro de 1948, estabeleceu as medidas a serem aplicadas no caso da constatação de enfermidades tuteladas pelo Estado. Neste sentido, ainda, especificamente para os animais aquáticos, a Instrução Normativa nº 53, de 02 de julho de 2003, conforme supra mencionado, igualmente regulamenta as ações a serem adotadas pelo Brasil.

Por oportuno ressalta-se que o Brasil possui enlaces comerciais internacionais, os quais podem envolver barreiras não tarifárias. Da mesma forma é pertinente lembrar que as autori-dades sanitárias nacionais possuem o compromisso da 17 BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível

em:<http://www.agricultura.gov.br/sislegis

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transparência e que estas autoridades estão comprometidas com a obrigatoriedade de informar à Organização Mundial da Saúde Animal, em duas modalidades, a saber:

(a) enfermidades de notificação imediata: informar em até 24 horas o aparecimento de qualquer caso de ocorrência de enfermidades diagnosticada por primeira vez no país em deter-minada espécie ou em outra espécie;

(b) enfermidades de declaração obrigatória: informe semanal, para informações adicionais sobre a evolução do caso que justificou a notificação de urgência, sendo que este informe seguirá sendo enviado até que a situação tenha sido solucio-nada, seja por motivos de erradicação ou porque a enfermidade se tornou endêmica e o país passe a cumprir com suas obriga-ções com o OIE, enviando então os informes semestrais. De qualquer modo, deverá enviar um informe final sobre o caso inicial.

Salienta-se que o informe semestral sobre a ausência ou presença e evolução das enfermidades constantes da lista do OIE e informações que, sob o ponto de vista epidemiológico, sejam importantes para os demais países, constituem obrigação do país-membro.

Anota-se que, conforme notas do OIE (2009), os conhecimentos científicos sobre a relação existente entre o agente patogênico e a enfermidade evoluem constantemente e que a presença de um agente infeccioso não implica, neces-sariamente, na presença de uma enfermidade. Isto implica em que, dentro das obrigações dos países membros, a presença de um agente infeccioso deverá ser informada, mesmo que não tenha sido observado nenhum sinal ou manifestação clínica da enfermidade (grifo da pesquisadora).

Por outro lado, verificou-se que os participantes, embora não demonstrando conhecimento sobre os trâmites que envolvem as enfermidades tuteladas pelo Estado, sabiam indicar o nome de algumas destas enfermidades e, em alguns casos, conheciam, igualmente, o nome do agente etiológico.

2. Das determinações legais pertinentes: i. Pergunta: Quem deve comunicar a ocorrência de

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enfermidade de notificação obrigatória?

ii. Resposta de acordo com a legislação: a legislação nacional, mais especificamente aquela com enfoque na sanidade de animais aquáticos prevê, conforme a Instrução Normativa nº. 53, de 02 de julho de 2003, artigo 9º que:

O médico veterinário, proprietário ou qualquer outro cidadão que tenha conhecimento ou suspeita da ocorrência das doenças de notificação obrigatória deverão notificar de imediato o serviço veterinário oficial (grifo da pesquisadora).

Anota-se que a legislação estadual também não descuidou da preocupação com a informação a ser prestada ao serviço de defesa animal, tanto que o art.5º, § 3º do Decreto18 nº 2.919, de 01 de junho de 1998, rege que:

Os médicos veterinários, os proprietários19 de animais e de estabelecimentos ou seus pré-postos, ou qualquer pessoa que tenha conhecimento ou suspeita da ocorrência de doenças exóticas ou previstas na legislação sanitária federal, na Lei Estadual nº. 10.366/97, neste Regulamento e em atos normativos da SDA são obrigados a comuni-car o fato imediatamente à unidade do órgão executor mais próximo (grifo da pesquisa-dora).

iii. Respostas dos entrevistados:

a) Respondente X: “Qualquer profissional com capacidade para tal”.

b) Respondente Y: “Todo profissional da área que realizar o diagnóstico”.

c) Respondente Z: “O produtor”.

18 SANTA CATARINA. Disponível em: http://www.agricultura.sc.gov.br/index 19 Por definição da Lei, considera-se proprietário: “qualquer pessoa que seja possuidora, depositária

ou a qualquer título mantenha em seu poder ou sob sua guarda um ou mais animais, seus produtos e subprodutos ou produtos de uso veterinários”.

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Análise dos dados – a obrigatoriedade de informar à autoridade veterinária local sobre a suspeita ou confirmação de caso de enfermidades tuteladas está previsto na legislação vigente de defesa sanitária animal. Preconiza o direito brasileiro que o desconhecimento da lei é inescusável, isto é, não existe a possibilidade de aceitação da ignorância da lei para isentar o infrator das penalidades cabíveis. Ter conhecimento de uma des-tas enfermidades e não informar significa ferir o ordenamento legal vigente. Resta importante que os diferentes atores com atuação na maricultura de bivalves, principalmente aqueles for-madores de opinião, que mantenham e distribuam o conheci-mento de que a comunicação da suspeita ou confirmação de uma enfermidade listada pela autoridade sanitária nacional deve ser comunicada de imediato aos serviços veterinários. Que é necessário contar com procedimentos mínimos harmonizados para intercâmbio de informação e adoção de medidas de controle sobre as enfermidades priorizadas pelos Estados Partes.

Ainda, dentro dos aspectos legais das enfermidades de declaração obrigatória, podemos analisar mais atentamente o questionamento abaixo:

i. Pergunta: De que forma e para quem deve ser endereçada a notificação?

ii. Resposta de acordo com a legislação - a resposta para este questionamento está contida nos mesmos artigos já mencionados no item anterior, quais sejam:

a) na legislação federal - Instrução Normativa nº 53, de 02 de julho de 2003, artigo 9º que rege:

O médico veterinário, proprietário ou qualquer outro cidadão que tenha conhecimento ou suspeita da ocorrência das doenças de notificação obrigatória deverão notificar de imediato o serviço veterinário oficial (grifo da pesquisadora)

b) na legislação estadual - Decreto nº. 2.919, de 01 de junho de 1998, art.5º, § 3º rege que:

Os médicos veterinários, os proprietários de animais e de estabelecimentos ou seus prepos-tos, ou qualquer pessoa que tenha conhecimento ou suspeita da ocorrência de doenças exóticas ou

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previstas na legislação sanitária federal, na Lei Estadual nº. 10.366/97, neste Regulamento e em atos normativos da SDA são obrigados a comunicar o fato imediatamente à unidade do órgão executor mais próxima (grifo da pesquisadora).

iii. Resposta dos entrevistados

a) Respondente X: notificar ao “Diretor do Departamento de Saúde Animal20 da Secretaria de Defesa Animal do Ministério da Agricultura”.

b) Respondente Y: notificar “Sempre de forma a garantir ao profissional que sua comunicação foi recebida pela pessoa responsável, devendo este lhe fornecer garantia de recebimento de forma oficial. (Registro de ocorrência.)” e, endereçar “Para o M.A. (Ministério da Agricultura) e suas delegacias”.

c) Respondente Z: notificar “por intermédio de um documento escrito com dados do profissional e do proprietário onde houve a ocorrência” e endereçar “Ao órgão do governo brasileiro responsável, seja em nível municipal, estadual ou federal”.

Análise dos dados – a Lei 8171, de 17 de janeiro de

1991, dispõe sobre a política agrícola, sendo que seu Capítulo VII dispõe exclusivamente sobre a defesa agropecuária. Nesta esteira, também a Lei 9712, de 20 de novembro de 1998, acres-centa dispositivos referentes à defesa agropecuária à Lei 8171, utilizando a expressão defesa agropecuária em seu artigo 27 e colocando a sanidade e a saúde como seus objetivos, valendo-se da defesa sanitária animal como instrumento de ação. Por seu turno a Lei 10.683 de 28 de maio de 2003 dispõe sobre a defesa agropecuária exercida de forma integrada com os demais setores da Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA: Departamento de Saúde Animal, Departamento de Inspeção de Produtos de

20 Nota do autor: o Diretor do Departamento de Saúde Animal está lotado no MAPA em Brasília/DF.

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Origem Animal, Departamento de Fiscalização de Insumos Pe-cuários, Coordenação de Apoio Laboratorial, Coordenação Geral do Sistema de Vigilância Agropecuária e Coordenação de Controle de Resíduos e Contaminantes.

O Decreto21 nº. 5.741, de 30 de março de 2006, regula-menta, dá outras providências e estabelece os princípios a serem observados em matéria de sanidade agropecuária, especialmente os relacionados com as responsabilidades dos produtores, dos fabricantes e das autoridades competentes, com requisitos estruturais e operacionais da sanidade agropecuária.

Este Decreto regulamenta ainda, que as ações de vigilância e defesa sanitária dos animais estão organizadas sob a coordenação do Poder Público nas várias instâncias federativas e no âmbito de competência de cada uma, conforme determina:

a) instância central e superior: a qual responde pelas atividades privativas do Governo Federal, de natureza política, estratégica, normativa, reguladora, coordenadora, supervisora, auditora, fiscalizadora e inspetora, incluindo atividades de natu-reza operacional, se assim determinar o interesse nacional ou regional;

b) instância intermediária: a qual responde pela execução das atividades de natureza estratégica, normativa, reguladora, coordenadora e operativa de interesse da União e também as privativas dos Estados ou do Distrito Federal, em seus respectivos âmbitos de atuação e nos termos das regula-mentações federal, estadual ou distrital pertinentes.

c) instância local: a qual responde pela execução de ações de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, no âmbito de sua atuação, nos termos das legis-lações federal, estadual, distrital ou municipal pertinentes.

Resta claro, do acima exposto, que dentro da competência de cada instância está o propósito maior, qual seja, o da promoção da saúde animal e humana. As estratégias e políticas de promoção à sanidade e de vigilância são ecossistêmicas e descentralizadas, por tipo de problema sanitário, visando o

21 BRASIL, Palácio do Planalto, Casa Civil. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5741.htm>.

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alcance de áreas livres de pragas e doenças, conforme previsto em acordos e tratados internacionais subscritos pelo País. Assim, toda a comunicação de suspeita ou ocorrência de enfermidade exótica e as que ameaçam a economia do país, a saúde pública e o meio ambiente, representam ato obrigatório e deve ser comunicado, de imediato, na unidade sanitária do órgão executor mais próxima, que no caso do Estado de Santa Catarina está representada pela Unidade Veterinária Local – UVL junto aos escritórios da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina – CIDASC. A confirmação do foco da enfermidade e as informações complementares são de responsabilidade do Poder Público, conforme já explanado em oportunidades precedentes deste estudo.

Salienta-se que o MAPA no desígnio de incluir a atenção à saúde animal de forma articulada entre os diversos níveis de governo, expediu uma série de atos legais com a finalidade de possibilitar a organização e harmonização dos programas de saúde animal. Estão entre estes atos, portarias, instruções normativas e de serviços que regulamentam os programas e que contaram para sua formulação, com ampla participação de representantes de instituições profissionais e de usuários vinculados à questão.

3. Das avaliações pessoais:

i. Pergunta: Em sua opinião, porque os órgãos de defesa sanitária animal tomam medidas diferenciadas diante de casos de enfermidade de notificação compulsória e outras enfermidades. Justifique.

ii. Resposta de acordo com a legislação – a Instrução Normativa (MAPA) nº 53, de 02 de julho de 2003, em seu capítulo IX, regulamenta as atividades em foco de enfermidades, conforme segue:

Art. 33. Sempre que houver a notificação de suspeita de foco de doença de notificação obrigatória, os seguintes procedimentos deverão ser observados:

I visita ao foco - visita inicial, coleta de material e remessa ao laboratório, com preenchimento de formulários próprios;

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II rastreamento epidemiológico - baseado na obtenção de informações que levem o profissional médico veterinário a encontrar a origem do foco, visando definir sua extensão, evolução, difusão e conseqüências;

III interdição da área focal e perifocal - conforme a gravidade da doença, os estabelecimentos ou zonas de cultivo serão interditados, assim como as propriedades vizinhas e microbacias;

IV comunicação do foco - o foco será comunicado ao serviço veterinário oficial local e este comunicará ao estadual, por meio de formulário próprio, para a apreciação epidemiológica e tomada de decisão frente à gravidade requerida; a comunicação deverá ser imediata quando a suspeita for de doenças previstas no art. 8º;

V sacrifício sanitário - dependendo da doença, os animais existentes no estabelecimento ou zona de cultivo serão sacrificados e o aproveitamento condicional será definido pelo serviço veterinário oficial;

VI tratamento terapêutico - nos casos em que for viável, proceder-se-á ao tratamento dos animais doentes;

VII desinfecção - constatando-se a necessidade de desinfecção, será feita a despesca, com esvaziamento completo e desinfecção adequada, pelo período necessário ao extermínio do agente causador da doença, tomando-se todas as medidas necessárias para impedir que o mesmo chegue aos corpos naturais de água;

VIII acompanhamento do foco - o estabelecimento ou zona de cultivo, bem como os demais estabelecimentos pertencentes à área perifocal e microbacia, deverão ser periodicamente visitados com a finalidade de monitoramento da evolução da doença e a execução das medidas que foram recomendadas bem como a adoção de outras providências, visando o controle ou erradicação total da doença existente;

IX encerramento do foco - uma vez constatada a inexistência de agentes patogênicos, bem como o tempo de despovoamento dos estabelecimentos ou zona de cultivo e o sucesso das desinfecções realizadas, o foco será encerrado e a interdição será suspensa.

iii. Respostas dos entrevistados

a) Respondente X: “Levando em conta a importância para a sociedade local”.

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b) Respondente Y: “Por se tratar de casos distintos, como área, distribuição geográfica, capacidade de contenção da enfermidade”.

c) Respondente Z: “Essa é a mais fácil, somente interesses políticos e corruptos são levados em consideração”.

Análise dos dados - vale anotar que o Estado de Direito

moderno floresceu da Revolução Francesa, tendo nascido daí, também, o Direito Administrativo como ramo autônomo da ciência do Direito e, consequentemente, forjando o princípio da legalidade da Administração Pública. Ressalta-se que o conceito e a compreensão da legalidade da Administração Pública, contra-riamente ao conceito de Estado de Direito, é um conceito fixo, fechado (MELLO, 1998).

Neste sentido, oportuno correlacionar este conceito ao prisma de uma das bases do ordenamento jurídico nacional, qual seja a Constituição Federal Brasileira. Neste ponto vale afirmar que a Constituição Federal tem por finalidade regular o compor-tamento dos cidadãos e dos órgãos do governo, visando à manutenção da paz social e da segurança jurídica, o que é considerado como fundamental para o Estado de Direito moderno. Assim, o princípio da legalidade como determinação legal de observação obrigatória, está expresso na Constituição Federal em dois momentos, quais sejam:

a) momento primeiro: no artigo 5º, inciso II, o qual rege sobre a garantia da liberdade dos cidadãos, quando prevê que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo que não seja previsto em lei;

b) momento segundo: no artigo 37, caput, como o princípio que deverá ser obedecido por toda a Administração Pública, em todos os níveis. Assim, neste momento do ordenamento jurídico resta claro, que a Administração Pública possui limites, que não está livre para fazer ou deixar de fazer algo de acordo com a vontade do governante somente, mas que deverá obedecer à lei em toda a sua atuação.

Resumindo, o princípio da legalidade no âmbito exclusivo da Administração Pública significa que – ao contrário do

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particular, que pode fazer tudo que não seja proibido em lei, - a Administração Pública só poderá agir segundo as determi-nações legais. Desta feita, como a lei, nos termos específicos para a sanidade animal, somente regulamenta as ações para as enfermidades exóticas e as que ameaçam a economia do país, a saúde pública e o meio ambiente, resulta que o servidor público, neste caso específico do serviço veterinário oficial, somente deve agir nos casos previstos em lei. Entretanto, vale ressaltar que as lacunas da lei, consideradas como leis falhas ou omissas, encontram fundamento no método da heterointegração, que consiste no recurso a ordenamentos legislativos diversos, recorrendo a fontes diferentes daquelas dominantes (BOBBIO, 1999). Neste sentido, sustenta-se que a possível existência de lacunas formais na legislação sanitária vigente, especificamente para animais aquáticos, pode encontrar fundamento pela analogia, costume, equidade e princípios gerais que regula-mentam a Defesa Sanitária Animal, para aplicação no caso concreto não previsto expressamente (BRASIL, DOU, 1942).

Por oportuno, ressalta-se que a Política Nacional de Defesa Agropecuária, instrumento orientador das ações do setor Saúde Animal, apresenta como objetivo definir diretrizes e responsabilidades institucionais, com vistas a criar condições para proteger a saúde do rebanho nacional, incluindo os animais da aquicultura, bem como prevenir agravos à saúde animal. Anota-se, que os principais atos legais que norteiam esse processo, relativos ao período de 1934 a 2009, encontram-se, na íntegra, disponíveis no sitio eletrônico22 do MAPA, em formato digital e são eles:

(1) Decreto nº. 24.548, de 03 de julho de 1934, que aprova o regulamento do Serviço de Defesa Sanitária Animal no Brasil;

(2) o Decreto nº. 27.932, de 28 de março de 1950, que aprova o regulamento para aplicação das medidas de defesa sanitária animal;

(3) o Decreto nº. 5.741, de 30 de março de 2006, que regulamenta os arts. 27-A, 28-A e 29-A da Lei no 8.171, de 17 de janeiro de 1991, organiza o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, e dá outras providências;

22 http://www.agricultura.gov.br/

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(4) a Lei nº. 569, de 21 de dezembro de 1948, que estabelece medidas de defesa sanitária animal e dá outras providências;

(5) a Lei nº. 9.712, de 20 de novembro de 1998, que altera a Lei nº. 8.171, de 17 de janeiro de 1991, acrescentando-lhe dispositivos referentes à defesa agropecuária;

(6) a Portaria nº. 45, de 22 de março de 2007, que aprova o regimento interno da Secretaria de Defesa Agropecuária, na forma de Anexo a esta Portaria;

(7) outras legislações complementares, incluindo, naquilo que diz respeito aos animais aquáticos:

a) Portaria nº. 573, de 04 de julho de 2003, que institui o Programa Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos;

b) Instrução Normativa nº. 53, de 02 de julho de 2003, que aprova o regulamento técnico do Programa Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos;

c) Instrução Normativa nº. 18, de 13 de maio de 2008, que estabelece os procedimentos para importação de animais aquáticos para fins ornamentais e destinados à comercialização.

São ainda de interesse da maricultura de bivalves, os

seguintes atos legais:

a) Instrução Normativa nº. 18, de 18 de julho de 2006, que aprova o modelo de Guia de Trânsito Animal – GTA, a ser utilizada em todo o território nacional para o trânsito de animais vivos, ovos férteis e outros materiais de multiplicação animal;

b) Portaria nº. 162, de 18 de outubro de 1994, que aprova as normas complementares anexas a citada portaria, baixadas pelo Departamento de Defesa Animal, que versam sobre a fiscalização e o controle zoosanitário das exposições, feiras, leilões e outras aglomerações de animais, em todo o território nacional.

Vale lembrar que as legislações supra mencionadas se referem somente ao Departamento de Saúde Animal, tema específico deste estudo, mas que, entretanto, também repre-sentam atos legais de interesse da maricultura de bivalves

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aqueles que dizem respeito à inspeção de produtos de origem animal, ademais daqueles referentes à alimentação animal, entre outros, igualmente sob a égide do MAPA.

Ainda, ressalta-se que a Lei Substantiva expressa no Código Penal, conforme enunciado em seu artigo 259, que: “difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação ou animais de utilidade econômica” representa crime ou ilícito cuja pena é de reclusão com mínimo de dois anos e máxima de cinco anos e ainda, prevê a aplicação de multa. Vale anotar que o “tipo objetivo” do crime, neste caso, é: difundir, espalhar, disseminar, propagar doença ou praga. Lembrando ainda, que por definição da OIE, não é necessário a manifestação clinica da doença para se considerar um caso a ser notificado. A simples identificação do agente etiológico, o que atualmente, por meio de ensaios laboratoriais biomoleculares se tornou bem mais eficiente a identificação, é considerado foco e deve ser comunicado às autoridades veterinárias locais para que as medidas sanitárias cabíveis sejam aplicadas. Em síntese, omitir a informação sobre um agente patogênico e permitir a difusão deste agente, mesmo que em níveis reduzidos de infecção representa crime passível de punição com privação de liberdade.

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ANEXO II

Neste anexo são apresentados detalhes dos dados que permitiram discorrer sobre o manuscrito II - A construção institucional e organizacional do serviço de defesa sanitária animal no Estado de Santa Catarina com vistas à sanidade de bivalves. Neste documento são apresentados os dados que permitiram tal estudo e no qual estão anotados os indicadores do entendimento dos participantes em relação ao tema.

1. Do conhecimento e fundamentos técnicos do pro-

fissional da UVL

1.1. Estrutura pessoal

a) Unidade Veterinária Local X:

Classificação23 I. Estrutura pessoal

MB B R S I

1. conhecimento específico em aquicultura x

2. conhecimento das espécies em aquicultura na área sob jurisdição da UVL x

3. conhecimento da legislação específica x

4. conhecimento sobre os procedimentos das legislações específicas x

5. conhecimento das enfermidades dos animais aquáticos de notificação x

6. conhecimento sobre procedimentos a serem adotados na área focal x

7. treinamento especifico em sanidade de animais aquáticos x

8. consulta ao site do OIE específico para animais aquáticos x

23 Referências: MB=Muito Bom; B=Bom, R=Regular, S=Satisfatório e I=Insuficiente.

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b) Unidade Veterinária Local Y:

Classificação I. Estrutura pessoal

MB B R S I

1. conhecimento específico em aquicultura x

2. conhecimento das espécies em aquicultura na área sob jurisdição da UVL x

3. conhecimento da legislação específica x

4. conhecimento sobre os procedimentos das legislações específicas x

5. conhecimento das enfermidades dos animais aquáticos de notificação x

6. conhecimento sobre procedimentos a serem adotados na área focal x

7. treinamento específico em sanidade de animais aquáticos x

8. consulta ao site do OIE específico para animais aquáticos x

c) Unidade Veterinária Local Z:

Classificação I. Estrutura pessoal

MB B R S I

1. conhecimento específico em aquicultura x

2. conhecimento das espécies em aquicultura na área sob jurisdição da UVL x

3. conhecimento da legislação específica x

4. conhecimento sobre os procedimentos das legislações específicas x

5. conhecimento das enfermidades dos animais aquáticos de notificação x

6. conhecimento sobre procedimentos a serem adotados na área focal x

7. treinamento específico em sanidade de animais aquáticos x

8. consulta ao site do OIE específico para animais aquáticos x

Análise dos dados - na avaliação da estrutura pessoal do profissional responsável pelo PNSAA nas UVLs evidenciou-se que embora haja um relativo preparo do profissional médico veterinário para as ações no PNSAA, o planejamento das ações em Defesa Sanitária Animal está centrada na identificação de bovinos e bubalinos, ficando em plano subpreferencial as ações do PNSAA. Constatou-se, ainda, interesse dos profissionais para a realização de treinamentos e cursos de atualização em

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sanidade de animais aquáticos, bem como houve manifestação de vontade de acesso a informações e mesmo, a expectativa de realização de cursos formais de longa duração, com a perspectiva de melhor compreender as espécies da aquicultura e com isto, melhor servir ao interesse público.

Quanto ao controle de enfermidades endêmicas, verificou-se preocupação apenas com a enfermidade das manchas brancas em camarões marinhos, em particular sobre os controles que se traduzem em submeter à análise laboratorial por meio de testes de identificação da sequência genômica viral pela técnica da reação em cadeia da polimerase, realizada em póslarvas dias antes da transferência para os estabelecimentos de engorda. Vale registrar que as enfermidades objeto da atuação da defesa animal, segundo a Instrução Normativa n0 53/2003, são as exóticas e as que comprometem a economia do setor. A IN 53/2003 está em consonância com a lista proposta pelo OIE em seu Código Sanitário para Animais Aquáticos. O fato dos controles recaírem apenas sobre a enfermidade das manchas brancas, para o caso dos camarões em cultivo, contraria a legislação nacional e os desígnios do OIE, uma vez que pesquisas científicas relatam a ocorrência de outros agentes etiológicos de declaração compulsória identificados em camarões catarinenses de cultivo.

2 Da informação e dados epidemiológicos

a) Unidade Veterinária Local X:

II. Informação e dados epidemiológicos MB B R S I

1. numero de atendimento ao PNSAA x

2. numero de amostras coletadas x

3. numero de amostras enviadas para testes laboratoriais x

4. identificação de laboratório para remessa de amostras x

5. notificação de mortalidade com coleta de amostra e remessa ao laboratório x

6. numero de GTA emitida x

7. numero de fiscalização em estabelecimentos de reprodução x

8. numero de fiscalização em estabelecimentos de pesque-pague x

9. numero de atividade em educação sanitária específica x

10. controle de trânsito de animais aquáticos nas barreiras sanitárias x

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b) Unidade Veterinária Local Y:

II. Informação e dados epidemiológicos MB B R S I

1. numero de atendimento ao PNSAA x

2. numero de amostras coletadas x

3. numero de amostras enviadas para testes laboratoriais x

4. identificação de laboratório para remessa de amostras x

5. notificação de mortalidade com coleta de amostra e remessa ao laboratório x

6. numero de GTA emitida x

7. numero de fiscalização em estabelecimentos de reprodução x

8. numero de fiscalização em estabelecimentos de pesque-pague x

9. numero de atividade em educação sanitária específica x

10. controle de trânsito de animais aquáticos nas barreiras sanitárias x

c) Unidade Veterinária Z:

II. Informação e dados epidemiológicos MB B R S I

1. numero de atendimento ao PNSAA x

2. numero de amostras coletadas x

3. numero de amostras enviadas para testes laboratoriais x

4. identificação de laboratório para remessa de amostras x

5. notificação de mortalidade com coleta de amostra e remessa ao laboratório x

6. numero de GTA emitida x

7. numero de fiscalização em estabelecimentos de reprodução x

8. numero de fiscalização em estabelecimentos de pesque-pague x

9. numero de atividade em educação sanitária específica x

10. controle de trânsito de animais aquáticos nas barreiras sanitárias x

Análise dos dados - na avaliação das informações e

dados epidemiológicos verificou-se em alguns casos, a existência de documentos de cadastro de estabelecimentos que praticam a aquicultura de maneira formal, o que implica na identificação do estabelecimento, identificação do proprietário, anotação de meios de contato com o proprietário ou responsável

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pelo estabelecimento, tipo de exploração, espécies sob cultivo, entre outras informações. Contudo, verificou-se ausência de fiscalização nos estabelecimentos de aquicultura ou áreas de maricultura, e não foi possível identificar instrumentos ou determinantes que permitissem inferir sobre o envolvimento efetivo dos profissionais da UVL, em ações que possibilitem detectar precocemente a presença de animais enfermos. Não foram relatadas ações de coleta de amostras ou envio de material para testes laboratoriais, atitude que permitiria descartar a possibilidade de eventual ocorrência de enfermidades infecciosas ou parasitárias. Foi observado que estão disponíveis na UVL apenas documentos pretéritos e, não raro, desatua-lizados, relacionados aos cadastros dos estabelecimentos de aquicultura e das espécies mantidas com finalidades econômicas ou de lazer.

Outro fator de fragilidade da estrutura observado durante a pesquisa refere-se aos componentes epidemiologia e educação sanitária, uma vez que não foi possível identificar qualquer ação pertinente ao PNSAA. Os casos recentes de acompanhamento sanitário estão relacionados apenas com o cultivo de camarões marinhos em decorrência da notificação da enfermidade das manchas brancas em Santa Catarina. No entanto, observou-se interação com instituições de pesquisa e acadêmicas que fornecem serviços educacionais, de diagnóstico, de pesquisa e de suporte técnico - científico para o serviço veterinário oficial.

Neste sentido, na avaliação do conjunto dos dispositivos de integração com o setor produtivo da aquicultura, não foi possível constatar estratégias de participação ou promoção de ações de educação sanitária específica. Quanto à utilização de mecanismos de divulgação, com o objetivo de orientar e esclarecer o aquicultor naquilo que diz respeito às enfermidades, a prevenção e ao controle destas, bem como naquilo que diz respeito à utilização de produtos de uso veterinário e a saúde pública, foi possível observar uma ausência total do serviço oficial, durante o período da pesquisa.

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3 Da estrutura organizacional e administrativa da UVL

a) Unidade Veterinária X:

III. Estrutura organizacional e administrativa MB B R S I

1. disponibilidade de veículos para as atividades no PNSAA x

2. disponibilidade de recursos para combustível x

3. disponibilidade de recursos para manutenção do veículo x

4. disponibilidade de equipamentos (telefone, fax, computador, internet GPS) x

5. condições de compatibilidade e hodiernidade dos equipamentos x

6. disponibilidade de material de expediente x

7. disponibilidade de recursos para pequenas despesas eventuais x

b) Unidade Veterinária Y:

III. Estrutura organizacional e administrativa MB B R S I

1. disponibilidade de veículos para as atividades no PNSAA x

2. disponibilidade de recursos para combustível x

3. disponibilidade de recursos para manutenção do veículo x

4. disponibilidade de equipamentos (telefone, fax, computador, internet GPS) x

5. condições de compatibilidade e hodiernidade dos equipamentos x

6. disponibilidade de material de expediente x

7. disponibilidade de recursos para pequenas despesas eventuais x

c) Unidade Veterinária Z:

III. Estrutura organizacional e administrativa MB B R S I

1. disponibilidade de veículos para as atividades no PNSAA x

2. disponibilidade de recursos para combustível x

3. disponibilidade de recursos para manutenção do veículo x

4. disponibilidade de equipamentos (telefone, fax, computador, internet GPS) x

5. condições de compatibilidade e hodiernidade dos equipamentos x

6. disponibilidade de material de expediente x

7. disponibilidade de recursos para pequenas despesas eventuais x

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Análise dos dados - na avaliação da estrutura organizacional e administrativa verificou-se ambiente físico ade-quado ao desenvolvimento das ações do PNSAA e um espaço geográfico, número de estabelecimentos de aquicultura, número de municípios atendidos pela UVL compatíveis com a proposta do programa. Com relação aos meios de deslocamento para a execução da atividade fim, não foi relatado a existência de qualquer obste, o mesmo relatado para a disponibilização de recursos para combustível e manutenção de veículos. Em relação à estrutura de comunicação, a UVL conta atualmente com telefone, aparelho de FAX, microcomputadores, notebook e acesso a rede mundial de comunicação eletrônica.

No entanto foi observado, a partir dos relatos prestados pelos responsáveis da UVL, evidências de que a existência de uma estrutura formal não garante uma política institucional com vistas à defesa sanitária dos animais aquáticos. Esta ausência dificulta o planejamento das ações do PNSAA e pode dar margem a atitudes marcadas pelo improviso. Pode ainda apre-sentar contornos mais graves, uma vez que as atividades em sanidade dos animais aquáticos são variadas e intensas, sendo que os animais têm donos, investimentos significativos, provedo-res de insumos, beneficiadores e consumidores, e que são estes os que demandarão os serviços veterinários pertinentes ao setor.

4 Dos documentos oficiais

a) Unidade Veterinária X:

IV. Documentação oficial MB B R S I

1. acessibilidade e disponibilidade da legislação específica x

2. documentação relativa ao cadastro de estabelecimentos aquícolas x

3. documentação relativa à atualização de cadastros x

4. documentação relativa ao acompanhamento sanitário nos estabelecimentos x

5. documentação relativa à GTA emitida x

6. disponibilidade de mapa e capacidade localização dos cadastrados x

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b) Unidade Veterinária Y:

IV. Documentação oficial MB B R S I

1. acessibilidade e disponibilidade da legislação específica x

2. documentação relativa ao cadastro de estabelecimentos aquícolas x

3. documentação relativa à atualização de cadastros x

4. documentação relativa ao acompanhamento sanitário nos estabelecimentos x

5. documentação relativa à GTA emitida x

6. disponibilidade de mapa e capacidade localização dos cadastrados x

c) Unidade Veterinária Z:

IV. Documentação oficial MB B R S I

1. acessibilidade e disponibilidade da legislação específica x

2. documentação relativa ao cadastro de estabelecimentos aquícolas x

3. documentação relativa à atualização de cadastros x

4. documentação relativa ao acompanhamento sanitário nos estabelecimentos x

5. documentação relativa à GTA emitida x

6. disponibilidade de mapa e capacidade localização dos cadastrados x

Análise dos dados - na avaliação da documentação oficial

buscou-se demonstrar a capacidade de organização e tempo necessário à localização de bases regulamentárias de defesa sanitária animal, do PNSAA, dos controles e registros específicos. Explorou-se ainda a compreensão, adequação e aplicação da regulamentação pertinente. Observou-se que o controle da movimentação de animais da aquicultura é realizado por meio da emissão da Guia de Trânsito Animal, quando solicitada pelo interessado. Em relação à emissão de relatórios de trânsito de animais da aquicultura verificou-se capacidade de acesso e obtenção eletrônica dos dados, contudo constatou-se a ocorrência de registro de baixa movimentação. No que diz respeito ao controle de trânsito de animais aquáticos vivos ou de pescado nas divisas estaduais foi relatada a inexistência de registros no período estudado.