15
ESTRELA DAS ÁGUAS CLEBER LAMEIRA

ESTRELA DAS ÁGUAS - perse.com.br · - Parece que houve um homicídio Tenente! E foi aqui perto de nós. José Antunes de 42 anos levantou-se da cadeira, colocando a vista seu um

  • Upload
    lykhanh

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

ESTRELA

DAS

ÁGUAS

CLEBER LAMEIRA

Dedico a Carla, minha noiva, por todo incentivo, confiança e

ajuda na realização desta obra.

Agradeço a Deus, cujo amor transcende nossas barreiras,

dando-nos a força espiritual, para conquistar as nossas

vitórias.

Agradeço também a Gearlene Lameira, por toda ajuda e

paciência, no desenvolvimento deste livro.

Agradeço a todos, que de forma direta e indireta

contribuíram para a criação desta obra.

“Não cruze os braços diante de uma dificuldade, pois o

maior homem do mundo morreu de braços abertos!”

Bob Marley

7

CAPÍTULO 1

27 de Março de 2012 – 3h 00min

Abrir os olhos e contemplar a lua cheia com o seu

magnífico esplendor, com certeza seria uma inspiração ideal

para qualquer poeta, uma dedicação profunda para um

coração apaixonado, ou quem sabe é somente um astro

refletindo a luz do sol, iluminando as trevas das noites, como

um presente de Deus. E ali debaixo daquela imensa bola

brilhante no céu, encontrava-se uma cidade cujo nome

carrega uma grande lembrança a qualquer cristão. Belém!

Capital do estado do Pará. Seria uma combinação perfeita.

Seria! Se não fosse por aquele mau cheiro insuportável, que

impregnava nas narinas de Adolfo Cândido.

Adolfo era um homem de 45 anos, magro de apenas

setenta quilos, um metro e oitenta de altura, pele morena e

pouco cabelo, pois sofria de um mal comum entre os

homens, a calvície! O doutor Cândido, como era conhecido

em seu escritório de advocacia, padecia de um

arrependimento profundo, ao lembrar calmamente, o

8

verdadeiro motivo de estar ali, naquela dolorosa situação,

em plena madrugada.

O advogado não demorou muito para perceber que

se encontrava flutuando em um canal sujo, que mais parecia

um esgoto a céu aberto, onde se via vários objetos como:

pernas de cadeiras, ventiladores quebrados, sapatos velhos

e partes de brinquedos... Como se já não fosse o suficiente,

o doutor ainda tinha que dividir o espaço com um pequeno

gato morto, coberto por moscas varejeiras e intermináveis

sacolas plásticas, preenchidas com lixo doméstico.

Cândido não tinha filhos e também não era casado,

nem tão pouco havia de ter uma parceira a qual pudesse se

apaixonar e compartilhar a sua miserável vida, pois o

trabalho no escritório ocupava todo tempo livre. Contudo,

aquela ocupação lhe dava uma boa condição financeira,

condição esta, que não valeria de nada, já que acabara de

perceber que não lhe sobrava muito tempo de vida. Adolfo

não estava sentindo nenhum músculo de seu corpo, ao

contrário, sentia-se perdendo levemente toda a força que lhe

restava. E, aos poucos se via olhando em direção a lua, cuja

imagem suavemente se ofuscava, motivo pelo qual seus

olhos cobriam-se de lágrima, enquanto em sua cabeça,

ecoava apenas um choro pedindo perdão.

9

Aquele homem magro desfalecia lentamente.

Enquanto isso, uma pequena mancha de sangue se

misturava com aquela água podre que escorria com

dificuldade em direção ao rio, iluminado pela magnífica luz

incidida do firmamento.

CAPÍTULO 2

De olhos fixos, e sem acreditar na linda imagem que

se postava em sua frente. José Antunes, sorridente, não

conseguia conter a sua emoção. Ali, a um metro de

distância, encontrava-se, Marília! Sua jovem e linda esposa,

estendendo as mãos para que a tocasse. Entretanto, um

som nada agradável ouvido de longe, foi aumentando de

intensidade.

- Tenente! Tenente! Tenente Antunes!

Era a voz do Cabo Garcia da Polícia Militar Paraense,

que acabava de acordar o seu superior de um doloroso

sonho, o qual se repetia todas as noites

10

Antunes havia perdido a esposa há um ano,

proveniente de uma dengue hemorrágica. Desde então,

noite após noite a lembrança de sua amada invade os seus

sonhos, carregando com eles uma enorme esperança de

tela novamente. Contudo, a desilusão trás consigo uma

angústia esmagadora quando percebe que tudo não passa

de uma terrível quimera.

- O que houve? Disse o Tenente espantado, e com um

passageiro ódio no coração por ter acordado.

- Acabamos de receber uma ligação! Respondeu o Cabo.

- O que houve dessa vez?

- Parece que houve um homicídio Tenente! E foi aqui perto

de nós.

José Antunes de 42 anos levantou-se da cadeira,

colocando a vista seu um metro e oitenta e cinco de altura,

pele negra, cabelos grisalhos, com um corpo bem

musculoso, com exceção de sua barriga, um pouco

avantajada entregue aos repetidos copos de cerveja nos

finais de semana. Sairia de um pequeno trailer que

funcionava como posto policial, situado em uma área

extremamente hostil da capital paraense.

11

Garcia continuava a falar...

- A denúncia foi anônima, mas o homicídio foi logo ali no

canal da fronteira.

O pequeno posto Policial se encontrava a apenas

trinta metros do tal Canal, situado na divisa entre três bairros

da cidade, havia também, o apoio de mais duas viaturas na

localidade que logo foram acionadas pelo Tenente.

José entrou no carro da policia com o cabo Garcia, e

em menos de um minuto, os três automóveis se

encontravam sobre a ponte que cortava o canal, localizada

em uma das Avenidas mais movimentadas de Belém.

Ao descer do automóvel, Antunes pediu a um dos

policiais presentes, acionarem a Emergência 192 e o Corpo

de Bombeiros. Pois, de onde estavam poderiam ver, um

corpo flutuando sobre as águas do canal.

- Deve ter sido acerto de contas - Comentou um dos

soldados.

- Era algum ladrão vagabundo - Acrescentou o Cabo Garcia.

- Cabo! Disse o Tenente! Com uma voz de trovão e um tom

agressivo, acabando com os comentários maldosos a

respeito da vítima. Contudo, era algo muito comum de se

12

ouvir, inclusive da própria boca de José. Mas, seu coração

se sensibilizou com a morte, depois da dura e amarga perda

de sua esposa.

- Sim senhor!

- Desça até onde puder e averigúe a situação, e diga o que

encontrar de interessante.

Garcia de 29 anos, estatura baixa. Todavia, com um

corpo recheado de anabolizantes, estufava o peito fardado e

partia para cumprir a ordem. Pulou uma cerca de proteção

de apenas um metro, separando o canal da Avenida,

segurava firme em qualquer coisa que parecesse sólida,

enquanto deslizava nas paredes úmidas até a margem,

tentando se aproximar do homem que flutuava nas águas, e

ao mesmo tempo, o policial contorcia a face ao sentir aquela

podridão sufocante penetrando em suas narinas.

O Cabo não sabia distinguir de onde vinha aquele

odor desagradável, era uma mistura de tanta coisa que até

desistiu de procurar a origem daquilo, então voltou a fixar os

olhos no corpo, aparentemente, morto.

- Então! Já viu alguma coisa? Gritou o Tenente.

- Uma flor!

13

Garcia se equilibrava na beirada do canal para não

cair naquela água imunda. Mas poderia ver claramente, uma

pequena flor jogada sobre o corpo da vítima. E não era

apenas isso...

- O que disse? Uma flor?

- Sim, Tenente. Uma flor lilás, e ainda esta bem viva. Deve

ter sido colocada recentemente.

O policial militar esticou seu braço até conseguir

alcançar o aparente cadáver, em seguida, puxou-o pelos

pés até a beira. Entretanto, arrastou junto com o corpo uma

coisa nada agradável, que se apresentava como motivo

daquela enorme podridão. Um gato que já se apresentava

em estado de putrefação.

A barriga do animal encontrava-se inchada e aberta,

no lugar de seus olhos viam-se apenas intermináveis larvas

de moscas. O odor foi tão repugnante que de imediato um

embrulho no estômago do PM foi dominado pela náusea, e

quase instantaneamente, repelia pela boca todo o

hambúrguer que havia comido, há uma hora antes da

ligação anônima.

14

Uma gargalhada em uníssono ecoava de cima da

ponte, onde se encontrava os policiais, com exceção tenente

Antunes, sempre sério e atento durante o serviço.

Um dos soldados gritou:

- Se aplica tanta bomba e não aguenta nem um animal

morto?

As gargalhadas voltaram a se manifestar.

Garcia se recuperava do enjôo e voltou a puxar o

corpo. Tocou em seus pulsos para ver se ainda estaria vivo.

Mas, não encontrou nada. O homem deitado em sua frente

estava completamente morto. Virou-o de costa buscando no

bolso de traz, tentando achar algum documento de

identificação.

- Meu Deus! Disse o cabo, sem poder acreditar no que seus

olhos acabavam de presenciar...

CAPÍTULO 3

15

Caindo de joelhos, sobre um chão de madeira velha e

úmida. Um homem branco com a cabeça raspada.

Mergulhava aos prantos, diante de uma pequena foto, que

segurava, carinhosamente, sobre suas mãos grossas.

Com os olhos vermelhos cheio de lágrimas. O homem

mal podia ver a imagem, que por sinal, já se encontrava

desgastada pelo tempo. Mas, não era preciso, ele sabia

exatamente cada detalhe do rosto fino, cabelos ondulados e

negros, lábios carnudos e olhos castanhos, formando um

lindo rosto feminino de beleza inigualável.

Não te-la por perto, era como se um aperto enorme

lhe tirasse o ar. Entretanto, os únicos motivos de ainda estar

vivo, eram as lembranças que carregava em suas memórias.

Lembranças estas, ocorridas há vinte anos.

~~~~

Sentada a beira de uma ponte, uma Jovem de 17

anos olhava fixamente em direção ao rio, tão imenso, que os

moradores da cidade o chamavam de rio-mar. Imensa