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ESTRUTURALISMO E PÓS-ESTRUTURALISMO NA PERSPECTIVA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO Temistocles Cezar I NTRO I>UÇ; i.O '"Otle cruci al di ffcrcnce belcwecn Stn.:clm'<l! ism and post-structu raJ ism il l \Oh'C.S lhe qucslion of históry:· (HENNINGTON. G./YOUKG. R.)' A var ie d ade de esforços te óricos que procuram def inir e/ ou apro- priar-se dos termos estruturalismo e pós-estruturalismo parece não ter limites. Da Jingüística à ps i caná lise, passa ndo pela filosofia, antr opo lo - gi a e hist ór ia, chegando às art es em geral) as rel ações entre os dois c on- ceitos adquirem contornos específicos de acordo c om a lógica interna de cada campo de saber.' Neste sentido, a história tem sido uma interlocutora privilegiada tanto do estrumralismo quanto do pós-estruturalismo, po- rém não n ecessariamen te de modo po sitivo. Amb os os códi gos teóricos colocaram os historiadore s em uma posição desconfort<ível: o primeiro re me te o estatuto cognoscente do conbecimemo h is tórico para um pla no discreto; o segundo reinscreve a hist oricidade em suas análises pro mo- vend o uma rede fi nição na própria noção de histó ri a. . Aos historiadores cabia, portanto, algum tipo de re sposta. A abor- dagem estruturalista, mais definida e rigorosa, corresponderam momen- tos de aproximações, absorções c mesmo rupturas. o pós-estruturalis- mo convive com d if erentes formas de apreensão conceituai: ora é v isto como n .ma e ta pa subsequente ao esgotamento estruturalista, ora co mo um corpo teórico autôno mo e paralelo (n eo-estrutumlismo), ou ainda como a negação do est ruturalismo {anti-estruturalismo); c finalmente co mo um si nó ni mo ou representação dn pós·J11odern idade. O propósito do presente artigo é o de mapear introdmoriamente lê.mi stocl es Cezn l' é pro!csso r do D<:panamen lO de fl islória da Universidade do Rio Grande do Sul Ano s 90. Porto A legre: dezembi'O 1 995 1 29

Estruturalismo e Posestruturalismo

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ESTRUTURA LISMO E PÓS-ESTRUTURALISMO NA PERSPECTIVA

DO CONHECIMENTO HISTÓRICO

Temis tocles Cezar

INTRO I>UÇ;i.O

'"Otle cruci al di ffcrcnce belcwecn Stn.:clm'<l!ism and post-structuraJism ill \Oh'C.S lhe qucslion of históry:·

( HENNINGTON. G./YOUKG. R.)'

A variedade de esforços teóricos que procuram definir e/ou apro­priar-se dos termos estruturalismo e pós-estruturalismo parece não te r limites. Da Jingüística à ps icanálise, passando pela filosofia, antropolo­gia e história, chegando às artes em geral) as relações entre os dois con­ceitos adquirem contornos específicos de acordo com a lógica interna de cada campo de saber.' Neste sentido, a história tem sido uma interlocutora privilegiada tanto do estrumral ismo quanto do pós-estrutural ismo, po­rém não necessariamente de modo positi vo. Ambos os códigos teóricos colocaram os historiadores em uma posição desconfort<ível: o primeiro remete o estatuto cognoscente do conbecimemo h istórico para um plano discreto ; o segundo reinscreve a historicidade em suas análises promo-vendo uma redefi nição na própria noção de história. .

Aos his toriadores cabia, portanto, algum tipo de resposta. A abor­dagem estrut uralista, mais definida e rigorosa, corresponderam momen­tos de aproximações, absorções c mesmo rupturas . Já o pós-estruturalis­mo convive com diferentes formas de apreensão conceituai: ora é v isto como n.ma etapa subsequente ao esgotamento estrutural ista, ora como um corpo teórico autônomo e paralelo ( neo-est rut umlismo), ou ainda como a negação do estrutural ismo {anti-estruturalismo); c finalmente como um sinónimo ou representação dn pós·J11odernidade.

O propósito do presente artigo é o de mapear introdmoriamente

lê.mistocles Ceznl' é pro!cssor do D<:panamenlO de flislória da Universidade P'edcr~l do Rio Grande do Sul

Anos 90. Porto A legre: u.4~ dezembi'O 1995 129

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estas q uestões, recons ti tuindo os a rgumen tos estruturalista c pós.estru­turalistn na perspectiva da tcorüt da história. Para contemplar a amplitu ­de do tema em um espaço reduzido optou-se por di,·idir o texto em duas partes breves: na primeira procura-se analisar os elemen tos cen trais do prog rama es trutura lista c a forte crítica à histó ria nos tml><llhos de Claude L.év i-S trauss. além da incorporação do estruturalismo pelo marxismo conduzid~ por Louis /\lthusser; na segunda. o objetivo é o de expor os enfoques acer~t do pós-c)tru tu rali~mo a partir do trabalho de Michel Fo ucault; e por fim, nas considerações fina is se rá co nsiderado concistt­mentc a crítica marxista ao estru turalismo c pós-estruturalismo, c tam­bém uma rápida incursão no debate sobre o pós-cstruturali>mo como uma variante pós-modema.

A E.\IERGÊ:-;CJA 0 0 ESTRln'URALIS~JO : A OTSSOI,UÇ;\0 DA :-<OÇÃO OE lfiST()RIA

1\ publicaç!to em 1916 do Curw de Lillgiiúlica Geral de r:erdinand de Saus.'illrc marca definitivamente a codificação da lingüí~tica modema. Ap.)s uma reccp<;<'io inicial frustanteosefeitosdoCur.wdcsdobrnnun·se com intensidade e ultrapassa ram os limi tes dos estudos li ngüí)ticos a tingindo outr.c; di~ciplinas. 1\nlropologht, semiótica e psicanálise. ciências centmis da abordagem c~trutural, cncomrnm no saussuri<me vs recursos teórico:. indispenS~\·cis e fundadores p~ra seus re~pectivos desenvolvimentos. '

Das inúmcrus contribu ições de Saussu rc absorvidas pe las Ciênci­as Sociais a que mais afetou o conceito de história foi a oposição entre sincronia e diacronia. E-sta• categorias relacionam-se à outra dicotomia estabelecida pelo li ngüísta entre língua c fala, sendo que a primeira tor­na-se o obje to de estudo priv ilegiado de suas pesquisas. Para se compre­ender a língua seria neces~ário situáala em mn sistema e obsc"·á-ta de acordo com sua evolução no espaço (sincron ia) c não no tempo (diacrõ­n ica), redu?. indo, portanto, a d imensão de sua histo ricid3dC.

f)c fato, ao final dos anos cinqUenta percebe-se que m Jirst sig/11, tlte stmctttrtlftMnusc o[Saussure:< distinctiOJt bctlleen tire sprchronic and tire diaclurmic appear:s to al/o-.v for 1/te e!Jàcemem o[ lristory aflloJ:eLha '

O momento histórico desta recepçfoo teórica coincide comum cres­cen te dcsengajamcnto político dos intelectuais (sobretudo francc)CS) e por uma cürrclata desconfiança cm relação à noção de progresso histó­rico. Segundo Fntnçois Furct houve·· um questionamen to da história'' mediante um ol/wr quase e.\pacial, dortn·am e cético sol>n• as lições e o

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sentido da história. ·( ... )esta maítre.>se que foi durmrte lal!to tempo ti· râuica, wues de se tomar infiel.>

Claude Lévi-Srr.wss represenrou como nenhum outro este papel de crítico da noção de história, embora nunca rcnh" proposto seu desap:~rc­crmcnto.• Em 1-fi~tória e Dialéllca Lé\'i-Srrauss, em cunfl ito aberto <.'Qm Sal'lrc, sistematiza noravclmenle o que ar é en tão vi nhn sendo lratad<) por ele c<.>m menor veemência.'

Inicialmente l .évi-Strauss situa a importância do conhecimento hi.,tó­rico: "o etnólogo respeita a história, ma~ não lhe dá um valor privilegiado. Ele" concebe como uma pesquisa oomplementar à sua".' Pode-se supor que a recíproca seja ,·erdadci r3 para os historiadores: o esl\1do sincrõnicoao abrir o leque das socíedadc.r no esp:tço seria complemetltur ao d iacrónico. l:lr111'e­truHO, ~cgnndo Lév i-.Str:luSs, não há um consenso nesta relação de simetria c sim uma deliberada negação por parte dos fi lósofos da hisrória da equiva­lénca:o resultam e cntn: a:. pesquisas hbtóricas e etno<.;r.\!icas:

Dir-se-ia que. 11 ~cus olhos, u dimensão temporal ~;oza de um pn:~­tfgio especial, como se a diacm11ia criasse um tit"J de imelegihili· dtsde, nilo apenas superior CIO que rrrc a sincJ'OIIia. nras, .sobn:rudo de ordc?Jn ma i., e.,Jx:cifica/lu.:utt~ lwmana.•;

Para Lévi-Strau .... ~ a preferenci:o pela diacronia cm derrimento da sincronia ocorre cm funçãn de c:.ta, ao expnr a diversidade imcma de uma esrru turn cm uma perspectiva espacia l, ser percebida como um sis tema dcscomínuo, enquanto aquela cria a imagem de um !luxo cont ínuo ten­do por base a suces~ão te mporal.

O moti,·o da crença no desenvolvimento histórico linear é fruro de uma :.ingular rransfcrência que os indivíduos fazem de seu devir peswal para um nível macr'O e colcth·o. an:\h)go ao que os marxistas design:un como o processo hisrôrico.

;\análise de l.évi-Straus.~ avançn cm considcra~-õcs acerca da cons­tituição dos fa tos h istóricos c do modo através do qual eles obrêm signi­ficaçiio ao longo de uma cadeia ininterrupta. Oc acordo com o autor as­sim como se experinu:rola transportar a existência individual para um plano mais amplo c julga-se aí apreender a história, também em termos teóricos c metodológicos os historiadores desloc.qm suas preocupações contemporâneas com a finalidade de cercar um derermi nado objeto his­tórico <tnc é escolhido, cortado, rcC<>rlado e imerprctado a part ir de pro­cedimentos scletivos: o que acaba por inviabilizar uma pesquisa rigoro­sa . Ou seja. como afirma um comcmador dn estruturalismo:

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i~lo iníciosimpütizamos com os motivo.<; conscientes dos a tores his­tóricos, e depois percebemos que nossa própria escolha e class((i­cação do passado é, basicamemc, uma projcção da nossa própria s ituaçâo atual. Longe de assegurar mais objetividade atral.'és da distância, a história atrela nosso conhecimento ao círculo restrito da nossa vida e tetnpo. 10

A forma pch1 q ual a histórü1 define-se como um:' disciplin;l cientí­fica não é menos passível de reavaliação. Com a meta de garantir a uni­dade cogni tiva de seu obje!o -a realidade contínua - , d iz Lévi-Strauss, o conhecimento hi~tórico util iza-se de um código: a cronologia; nâo Irá história sem dntas."

No entan to, a codificaç;'io cronológica pressupõe um cálculo cuj a rac ionalidade só é possíve l, segundo Lév i-S t rau~s, por meio de uma operaçãoj i·audu/enta. Jsto porque uma data não é recorrente a outra; cada uma obtém significados próprins a pan irdas relac;ões queseefct ucm entre o pré e o pós-evento. Desta forma, a co ntinu idade h istórica é descartada não apenas como ilusória mas também como contraditória, pois cad<~ classe de datas expõe um si.wema de referência autônoma, ind icado res precisos ela nawrcla do conhecimento histórico: de uma ~ó vez de~con­tínuo e classi ficafório.L2

As conclusões particulares da crítica de Lévi-S traussconduzem em primeiro lugar à noção de que os fatos h istóricos restringem-se t• repre­sentações de consensos co nceituais dos historiado res tendo por base códigos cronológicos que destituem os eventos factu<Lis de uma efetiva relação com o passado. Em segundo lugar o conhecitnento de uma h is­tória unificada, cuja noção processual é incompatível com a ev idente descontinu idade h istórica, torna-se impossíve l."

Enfim, as funções a tribuídas aos histo riadores limitam-se a inven­tariar a integralidade dos elementos de uma estrutura q ualquer, humana e não-humana, pela simples razão que à história não corresponde nenhum tem;~ específico: não está ligada ao homem nem é sinónimo de hu mani­dade; é tão somente um método sem objeto preciso. O espaço pa ra se pensar tnn<~ história sem sujeitos históricos, onde indivíduos v ivem di­ferentes posicionalidades no interio r de uma estrumra a rb itraria•nenle co nstituída estava definitivameente aberto.

Louis AJ~h(lsscr c quem promove a aproximação cnlrc o estruturalis­mo e o marxismo. Em tem1os historiográficos o marxismo não era propl'ia ­mcnte a teoria da históri;~ dominanlc no meio acadênúco da Franca onde os • anna!istes braudelianos mantinham sob controle a pesquisa histórica.

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Esta condição, cuja innuência ultrapassa as fronteiras francesas, orientou a recepção da análise estrutural entre os marx istas que procura­vam allcrnativas para rea1ivar seus pressupostos teóricos desgastados pela versão de Stalin dos tex tos de Marx.

A renovação do marxismo itúciada com o althusserimúsmo propunha que o materialismo histórico se revestis.-;e de inflexíveis procedimentos cien­tíficos a fim de inibir as coações ideológicas provenientes de uma práxis cquivocadn (sralinismo). A fónnula cncontracL~ por Althusser para cfctivar esta proposta foi apropriar-se da noção desenvolvida por Gaston Bad\elatd de cmte epistemológico, estabelecendo uma ntptura entre a ideologia e a ciêt\cia. Com efeito, seria possível romper com o marxismo sem sair dele; rejeita-se o marxismo vulgar emecaniú~taque havia impregnado a história de interpretações prodtrl.idas a partir de axiomas vagos c imprecisos, tais como a primazia necessária do fator económico sobredeterminando as de­m~is instfinci~lS org~niz.1.dorus do mundo social.2.;

O tema do corte também deve incidi r em uma nova leitura dos tnt­balhos de Marx, nos quais, segundo Altbusser, fica claro a cesura entre um jovem Marx e um Marx da maturidade: o pri meiro mais ideológico, o segundo mais científico. 15

1\ releitura altbusscriana implica, por outro lado, em um afastamento de roda e qualquer tendência historicista - de acordo com o aná tema presentista proferido contra os historiadores por Lévi-Strauss - suplan­tada por uma an:\Jise cmincntememc teórica e descontextua lizad<J com a qual procura evi tar a associação entre a ciência hi stórica e o mundo vi­vido e a decorrência lógica desta relação: o ernpirirismo. '"

Um dos exemplos apresentados por Althusser de uma leitura equi­vocada que os historiadores fazem de Marx c que ao mesmo tempo re­força a ati rude inovadora de sua perspectiva teórica é a seguinte :

apareutemeneteO Capital comporta capÍiulos de história concreta ... Podemos ser temados a ver nele a teoria marxista da história, ex­pressa em t:Onceitos empfricos que seriam produzidos e expostos sob os nossos olhos. Ora se estes capftulos fascinaram os hisJOriadores até este pomo, é precisamente por n<io serem capítulos de história coucreta Jnarxista, mas p or se asseJnellwrem às descrições crono­lógicas empíricas que tamo abundam 1w história ideológica vulgar. )\lftlrx ncio no-los apresenla como capítulos de uma hisiória 11Utrxis­ta, mas como simples ilustrações de conceitos teóricos."

A história, portanto, está longe de ser negada pelo marxismo-estru-

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turalista, mas so fre um sério deslocamento: como saber teóriC<l desvi nctJia ­do de evidências empíricas não há m;tisconeJaçócs processua is unificadas sob uma tem po ra lidade unitária, mas temporalidades múllipl~•s cuj<l consequência imediata é a elisfto de uma história geral e o aparecimento de uma o utra história, o u decstruturas e.\pecificas de hisroricidade." Pan• congregar est;lS unidades diferenciais do saber h istórico

o marxismo estabelece o princípio do reconhecimento do dado da estmtura complexa de todo objcto concreto ( ... ) (pois) nâo lemos essência o rigiJuJria, JntlS um sempre-j á-<lado, por !IIC./1:'> a lém que o cvnlrecimento remonte eJn seu passudv. 1Vâo temos 11wis uma uni­dade simples, porém umaunidcul" complexa esmaurada. "19

A negação das variantes bistoricistase a maximização teórica tan1bém são produtos de um;• outra operaçlío de subversão'' q ue Allhusscr submeteu os textos de Marx. Segundo a exegese alibusscrimw, c de acordo com o paradigma estruturalist~,, ~1arx wr:ia s ido mn dos primeiros a deslocar o homem da posição deobjeto essencial da cxplic~•ç;ío histó•i ca; há em Marx um anti-hmmuúsmo teórico, q ne tem por corolário o reconltecimemo e o conlrec:inut11tO do próprio ltwtuulisnro: como ideo!o<,sia. 31'

Neste modelo ciem~{ico dois conceitos centrais da análise marxi~­ta da h istória têm destinos opostos: enquanto o conc.:cito de modo de pro­dução mantém sua validade como o bjcto teórico cm função de seu ele­vado grau de generalização, a lto níve l de abstração e por caracterizar-se como uma estrutu ra concomitantemente dctcrminad<! e determinante, o conceito de sujeito histórico é di luído no espaço da es tm tura.

As abordagens de J .évi-Strauss e Al!husser susci taram nos !listo­ri adores posturas d iferenciadas . Quan to a Lévi-Strauss não houve uma resposta dc.fíujti,·a e/ou imed iata ao Pe11samemo Selvagem. De fa to, no período anterio r, em 1958, l:'ermmd Braudel já havia feito a lg umas con­testHçôes as críticas ~' história que Lévi-S trauss v inha de!!-cnvoJvcndo desde "1949.

A réplica bmudeli ~•na, entretanto, de certo modo condescendente com Lévi-Strauss, é estratégica: não néga a análise estrutura), mas inverte a sua dinámica ao inseri-la tt<llonga duraçflo, d imensão temporal cons­truída pelo historiador através da qual as estruturas são cond ic ionadas e adquirem sentido, histórico."

De modo geral, nüo há cm 13raudel, nem na maiorpartedosamwlisles, uma argumentação epistemológfca tnais consistente sobre o estrutunllis­mo; exlu ído o imperalivo di• oclusão da his tória os demais conceitos são

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passíveis de urna recepção favorável. A tercetra geração dos Annalc:. beneficiar-se-á desta uusência de rompimento.

As implicaçõc~ da interpretação de i\Jthussc r seguem um outro percurso. Na perspecti va d<t tcorü• da histó ria certamente uma das mais duras críticas a Allhusscr partiu do historiador inglês Edward Thom pson. Para este a obrn althusscriana não passa de um teorismo a-histórico idett­lista, entre outros fatores. por se afastar das evidências empíric>tS, e tapa inerente da produção do conhecimento e da prática man<ista: "o estrutu­ralismo de i\Jthus.~cr é um estrutuntlismo de cxtase. desviando-se do método histórico do próprio Marx.''~

Não é possível reproduzir neste ttrtigo a detalhada polêmica de Thompson com Allhusser, mas este embate teóriro parece ter comribu­ído, na visão de Perry Anderson, no nú nimo para se pensar que

reoria agora é hi~·16ria, com uma seriedade e rigor nunca havidos JIO passado; assim como história t! igualmeme teoria, com tod(tS as sua exi~ê11Cil1s. de uma forma que antcriormenlt! s enzpre se e\ ·i-­tara.~3

Allbu~cr teria tido ainda o mérito de 1>rotclar uma crise no mar­xismo francês, mesmo que ao custo de um sistema complexo, teorica­mente hermético, com pretensôes totaliz.antc.~ e despreocupado <:om a relllidade empíric(t. A partir de 1970, após uma série de crílicas e auto­críticas o ahhusscriunismo promoveu uma aproximação de seu maneis­mo com um marx ismo menos teo ré tico no reconhecer, parn satisfação de muitos marx istas. que <~S massas fazem a histó ria, mas não os homens c as mulheres, para espanto dos mesmos." O redeslocamento tardio de i\J!husser não fo i suficien te portanto, para evitar que o tnarxismo-estn t­turalista perde~ na década de setenta adeptos c o vigor de outrora, e rumasse para um procesw autofágico.'-'

A Ei\IF.RGÍ~NÇIA DO pÓS·ESTRUT t.: RALISi\JO: O RE'fORKO A IIISTORJA

O termo pós-estru tura lismo é mais polêmico c menos dese nvolvi­do do que o cstnllul·a lismo. Apontar a ques1ão da história como uma das possibilidades de se marcar d iferenças conccituHiS é urna hipótese <JUC vem sendo descn,olvida.'•

Alguns resultados, neste sentido, já foram computados. O prefixo pós, por exemplo, não é anteposto a expre,..~ão pós-estruturalista apenas

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para delimitar cronologicamente uma etapa posterior ao estruturalismo. O pós parece antes designar uma tendência que ainda congrega um con· junto de variáveis e instrumentos da análise estrutural do que verdadei­ramente um movimento reativo ou de renovação paradigmática.

N:1 realidade, por um lado quando se fala em pós-estruturalismo pensa-se de imediato em Michel Foucault c Jacques Dcrrida, eventual­mente cm um s uposto segundo Roland Barthes, entre outros menos ex­pressivos. Em comum, tan to Derrida quanto Foucault historicizam seus objetos de pesquisa; entretanto, não da mesma forma.

Por outro lado, é preciso considerar que if posr-srructuralism reintroduces /riswry into structuralism (01; more uccuratel)\ slrows that effects of history h ave been reduce) it also poses ques1ions 10 rire concept oi lristory as sucil. 17

i\ recusa CJn obliterar a dimensão hi st6rica e a transiç5o d<J gera­ção braudeliana para uma outra geração, mais receptiva às novas tendên­cias entre as quais as de Foucault c Dcrrkla7 confirmaria cm nteados da déc:•da de setenta não somente um retorno à historicidade, mas umn notória recopCW<,iâO dos pres tígio da disciplina.

Michel Foucault nunca assumiu-se plenamente como um estrutu­ralista e não parece ter aceito melhor o rótulo de pós-estwturalista. O tà to de não transigir em relação a conceitos desta natureza não impediu que seus comentadores, apologistas ou detratores, o situassem ora nos limi­tes do estrutura lismo, ora no centro do pós-estruturalismo.

As razões para uma tal ambiguidade podem ser encontradas nos próprios trabalhos d<: Foucault. No I h• roAs Pcdavras e as Coisas, de 1966, considerado seu trabalho mais próximo ao estruturalismo, bá um elogio aberto à análise eslrutural: O estruturalisnro não é um tnétodo novo; é {l

consciêucia desperta e inquiew do sa})er modema." No entanto, esta postura não pode ser percebida como um indica­

dor do nível de aderência de Poucault ao programa estruturalista. A frá· gil ortodoxia foucaldiana a ordenações cognitivas, políticas ou acadêmi­cas revela-se na irônica resposta de Foucault a um virtual interlocutor em um dos seus textos mais importantes: l'ários, como eu sem dúvida, escrevem para niio ter nwis tun rosto. 1Vlío Jne pergunte que111 sou e não me diga para permanecer o mesmo. ~•

Seria demasiado estender-se no inventário das diferenças de como e porque Foucault é estruturalista ou pós-estruturalista. Mas uma SÚllC· se de referenciais mínimos é elucida!iva. Foucault mantém-se atrelado a certas premissas comuns ao es trutu ralismo, tais como a ausência do su­jeito, a destituição do homem como objeto central das ciências humanas

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c a descontinuidade histórjça; e inversamente àquele paradigma para l"oucault a .inscrição da historicidade cm suas pesquisas é uma premissa inconteste, além de não mostrar-se convencido das po>-sibilidodes for ­mais apresentadas por um sisfellUl como a linguagem.3J

De modo geral verifica-se que Foucaulr procurou afastar-se gradual­mente do cstruwralismo desviando-se de temas e investigações cujos resttltados conduzem a invariantes universais, e que na falta de uma rne­lhor defini~r-ão vem sendo chamado principalmente pelos norte-america­nos de pó..~-estru turalismo.

O projeto foucaldiano em relação it história fundamentou-se teori­camente cm 1969, quando da publicação da Arqueologia do Saber. Nes­te ensa io, ao comenta r os novos problemas existentes no campo rnetodo· lógico do saber histórico Foucault desarticula a dicotomia entre história e estl'utura:

A estes problemas pode-se atribuir ( I siglo do estmruralismo. Sob várias colld ições, entretatuo,, eles estilo louge de cobri!; sozinhos, o canrpo meiodológicn da história ( . ..) sctllio em cerw número de casos rclati.­vamellfe limilados, eles mio jóram importados da lingüíslica nu da etnologia, mas nasceram no campo da própria lristól'io. ( ... )enfim, não autorizam, de modo algum, que se fale de uma e.wruturalização da história, ou~ ao menos> de uma tenftltil·a para superar um conflito ou wm1 oposição emre estrlllura e devir ( .. . ) . A oposição estruwra-de\'ir não é pertinemc nem para a definição do campo histórico nem, sem dúvidCl, pam a definição de um método estrutural."

É preciso deixar claro que nos trabal los anteriores de Foucault a perspectiva histórica sempre esteve presente, ainda que longe dos pro­cedimentos tradicionais dos historiadores e próxima à abordagem estru­tural. Ta nto na História da Loucura {1961) como no Nascimento da Clínica (1963) Poucault interpretou a bistórür de um modo muito parti ­cu lar: no nível do discurso. Em muitos casos historiadores profission:ús acusaram essas bistóri~s de deficientes pois à esfera discursiva não corresponderiam determinações infra-estru turais, além de não haver li­mitações à épocas ou às discipli.nas científicas: o discurso é analisado como uma prática em um fluxo descomínuo.

Estruturalistas como R Barthes viram na História du l,oucura uma história estruturalista em termos de projeto c an:Hiscn Críticos como F Dosse acred ilam que " avec 'Nclissa11ce de Ú1 C/inique', 1111. Foucault est au p lus prês du smtcluralisme. li délais.w les pmtiques socioles auprofit

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de l'étude des n!gles du discours."" Uma historiadora lúcida como Pa· tricia O ' Brien sen tencia:

Nemmarxisw, nem ligada à escola dosAnnales, neste âltimoqullrto de século a obra de Foucault 1em s ido aliemadameme louvada e awcada pelos hi.Horiadores · c, em ambos os casos, quase sempre 1nal compreendida, o corpo d<J texto ele Fouct1ult rartunetr.t.e foi apreendido com aquilo que de fmo é: 11111 modelo alternativo pctnt a escrita da história da C!Útllra, um modelo que i11C01poru uma crítica fi.mdamencal da análise marxisw e dos Annales, bem como âa p rópria his tória social."'

Talvez o mais importante é o fato de estes dois livros de Foucaull terem, de algum mO<.Io, influcuciado ou justiricado uma abertura do cam· po historiográfico em direção às margens da sociedade; suas temáticas t idas como desviantes, outrora inibidas pelos modelos tradiciona.is da história. emergem agora com força expl icativa,

Poucault também reconsidera conceitos que antes eram inadntiss í­veis cm uma investigação histórica. É o caso, por exemplo, da noção de descontinuidade, que segundo Lévi-Strauss constituía ao lado do caro­ter taxinômico os fundamentos do conhecimento histórico. No projeto foucau ldiano a descontinuidade deixa de ser pensada como um obs tá<."l•­lo à pesquisa- "o estigma da dispersão temporal"- e torna-se um elemento CC!\Lral no discurso do histmiador.

Seria ilusório enlretanto, hnaginar que este deslocamento teria ocorrido pacificamente. Ao contrário, hou"e problemas que se resumem na {·crítica do documento,.,.~ outra dilneosão c...xmcci tual do ~1mpo históri ­co rcavoliado por Foucault. Mas que se evi temi ncompreensões: não existem dúvidas acerca da importância dos documentos para a constitui­ção do s aber histórico. Através deles cristalizavam-se o passado: "o do­cumento semp re era tratado como a l inguagem de uma voz agora redu­zida ao silêncio; seu rastro era frágil mas, por sorte decifrável".'-' Porém Foucault identif ica uma " mutação ''neste comportamento:

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odocuJnefltOJ pois, não é ma i~ para a hisró ria, essa matéria inerte atra­vés da qual ela tenta reconsíiíuir o q;<e os homens fizeram ou disse· rauz, o que é pas:utdo e o que dei.\-a apenas rasrtos: ela pTVCuraJ 110 próprio tecido docutucnta~. uniclt1des, conjunto!>~ séries, rela~:ões .. M·

Por meio <lc um jogo de palavras Fouc~ult sinte tiza a crítica: e n·

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q uanto a história trad iciona l memorizava os monumentos do passado transformando-os cm documento, hoje a !Jjstôria é que transforma "os documentos em monumentos" voltando-se para a sua descrição intrín · seca." A revisão da forma de intervir-se nas fontes documentais impli· ca, por outro Jado, uma alteração no es tatuto do próprio historiador: ain · da um h istori ado!~ mas com mãos arqueológicas.

Estar-se-ia nes te plano, segundo H a bermas, diante de uma despe­dida da hermenêutica, posto que:

L'éffont llemténeutiqtte 1-ise l 'appropriaricm du sens, ii f!aire dans choque document une voix réduite au ::;ilenc.:e qu ' if doit ranuuu:r à lc1 vi e. C eu e idée du documentporteur de sens doi I é tre remise en ques­iion au même titre que I 'emreprise iJUerprétatiw ( .. .) L'archéologue (. .. )fera cn sorte que les documems parlants n>deviellne/lt des mo· numents muets, des objets devam être lil>érés de leu r co11texte afin à Ül por tée d 'u11c dcscrptÍOII de f)pe SITilCillra/istc.~<

A crítica de Habcnnas é compartilhada por outros estudiosos,<!"" vêem no projeto de Foucault uma empresa dest inada a desconstruir nas ciências hun1Mtas c particulanncnlc na hislória suas marcas de d entifi­cidade. Ne.ste sentido, de acordo com Alla n Megi ll nos trabalhos fou­cauJdlanos cncontrarwse·ia arli<..:ulados.ob uJna aparente nova metodolog ia científica uma verdadeira tentativa de demolir tudo o que até agora se credi tou ao nome da clência:w

i': a realidade Foucault procurou verificar <t constituição histórica das ciências huma nas através da análise da formação de seus conceitos, objetos teóricos e métodos <:orrespoodentes, com a intenção final de sabe r como e porque elas tornaram-se ciências. E Foucault faz esta descrição desv iando-se completamente do modelo evolucionis ta das ciências . Mantendo-se fiél i•s concepções de descontinuidade, !t ncgaçiio da idéh• de progresso na história das ciências, às diferentes posicional idades que o sujei lo ocupcl cn1 umt• formação tHscursiva, u;jo é de se admirar, por .. tanto, que Foucault tenha sido percebido como um iconoclasta teórico, ou um <lflarquista epistemológico.

Este ponto de vista, contudo, náo parece correto. Na his tória dos d iscursos sobre a loucura, sobre a disciplinarização do soda!, sobre a sexual idade, e ainda para reconstituir as formas como o poder e o saber relacionam-se, Foucault perseguiu resolutamentecr iiérios d(! r igor;'" mas sob uma noção de h istória heterodoxa (afinada à crít ica no documctmo) na qual é preciso

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établirles séries di verses, emrecroisées, divergentes souvent mais 11011 aucononres, qui permettent de cin:onscril-e le licu de l't!~.c·éneJneru, les marges de son aléa, les conditions de son apparition. Les 11otions fon­damelltales (. . .) som celles de l'évé11emem et de la série, a"-cc /e jcu eles no1i01~~ qui leur sont liécs; regularité, aléa, discominuité, dépeJt­dance, trcmsformation; c'est par Wl rel ensenú>le que cefle analyse des discours à laquelle j e songe s 'articule 11011 point certes sur la tlufma­tique traditionelle que les plrilosophes d'hier prennent encore pour l'hL~toire vivante mais sur !e travai/ effecti;f des histotiem•'

AJéro disto, para a dinâmica que movi menta este jogo os conceitos de causas originárias ou n)OnOC<HISas deixam de ter sentido:Foucault nos deu tun jogo scnr causas. E u1n unillerso de rup turas e partSas, mas, mesn1o assim, um universo. Ele não foi ne11Jzum atwrquista pós-estmturalisw. Seu j ogo tem regras c um ob}elo.""

O conjunto de questões decorrentes das noções desenvolvidas por Foucault acerca da história o levaram a uma renovação do seu projeto por interméd io da introdução do conceito de genealogia. Alguns auto­res afirmam que entre a Arqueologia do Saber c sua aula inaugural no "College de France" teria ocorrido uma espécie de corte onde a análise arqueológica seria substituída pela genealógica.•' É desnecessário entrar nesta <.-eleuma no momento. O importame é que Foucault havia encon­trado cm l"ietzsche um suporte teórico - a genealogia - que de modo geral não acusa uma n•ptura com seus tnobalbos precedentes.

O método genealógico, tal como o arqueológico evita as recorrências e as evoluções e tem por objetivo descrever e isolar as diferenças:

(. . .) a genealogia e.xige, portanto, a mimícia do sabet; um grc:mcle nú­mero de materwis acumulados, exige paciência. Ela deve construir seus monumemos ciclópicos não a golpes de grandes erros benfaze­jos mas de pe.quenas verdades inaparentes es tabelecidas pO( um método severo. T:m suma, uma cerca obst iJwção na erudição. Age­nealogia não se opõe à história como a visão altiva e profunda do filósofo ao olhar de loupeira do cientista, ela se opõe, ao comrário, ao desdobramento mew-histórico das significações ideais e das in­definidtiS leleologit~s. Ela se opõe à pesquisa da origem:•·•

O recurso genealógico tem por objetivo instmmentalizar a varia· ção temática experimentada por FoucauiL cm su:os pesquisas a part ir da década de setenta, período no qual se volta para a análise de como e

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porquê o s aber e o poder vinculam-se e através de que dispos itivos for­mam suas estratégias de atuaçiio. O exercido do binômio poder-saber efetiva-se historicameme segundo Foucault sobre

O corpo: superfície de inscrição dos acomecimentos (enquamo que a linguagem os marca e as idéias os dissob·cm), lugar de di~-soci­ação do Eu (que supõe a quimera de uma unidade subswncitd), volume em perpétua pulverização. A. genealogia, como análise da p rOFcniência, está portanto no ponto de articuluçüo do corpo com a história. Ela deve mo.Hrar o cotpo imeirameme marcado de ltis­rória e a história arruimmdo o corpo."'

Vigiar e Punir será um belo exemplo de como se reconstitui uma história que incide sobre o corpo. Neste livro Foucault recorda que estu­dar a história do corpo não é uma novidade para os historiadores. Sua aná­lise não parte portanto de um ponto zero, apenas insere a historicidade do corporal no nível das relações de poder cujo saber não retrata suas regras de fu ncionamento, mas conslilllem uma tecnologia polí!ica do corpo, "difusa e rarameme formulada em discu rsos contínuos e sistem:iticos".~•

Imbricados, poder e saber não dependem de um suje ito do conhecimento que s eria livre ou não dia nte do poder. Segundo Foueauli o sujeito que conhece é efeito de sua própria relaç.'ío e mudança histórica:

( .. .) resrmrindo, não é a arividade do sujeito de conhecimento que produziria um sabe1; rítil ou arredio ao poder, mas o poder-saber, os pmce.<t.,.·sos e as lutas que o acravessam e que o constituem, qtt<1 dererlllinan! as fonnas e os campos possíveis do conhecilnento . 47

A genealogia acrescenta à noção de história um esclarecimento ceórico: o modelo histórico não deve ser buscado na Hngua ou nos sig ... nos (duas ciências fundamentais do programa es truturalista) mas em seu caráter belicoso; ou seja, a histoticidade é antes re lação de poder do que relação de sentido. Para Foucault a história não 1em sentido, o que 11<io quer dizer que sej" absurda ou illcoercntc. Ao contrário, é imeiigível e deve p oder ser analisada em seus menores detalhes, mas segundo a inteligibilidade das ltttas, das estratégias, das fálicas!'

Muito se tem comentado sobre estes caminhos inaugun1dos por Foucaull. bntre os historiadores a recep~ão de seus trabalhos, como em LOdos os domínios, <:aractcriza-sc pela polêmica. P~1 ra Paul Vcync, Foucault apenas lembrou aos historiadores que :

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( . .. ) vocês podem conlinuar a explicar alris lúria como sempre o f i­zeram: sontente, atençdo: se obsen·arent com exatidão, despojan­do os esboços, verificarão que cxislcm mais coisas que de•·em ser explicadas do que ·vocês pensav(J)n; existem contornos bizarros que não eram percebidos. 49

Outros, menos devotados que Veyne, dizem que se Foucault faz his­tória nito é uma boa história, é passional, genéri ca, sem método, fora os descuidos cronolúgicos. A estes historiadores Foucaull respondia com iro­nia: f.lão sou um historiador profissional - IIW."i ninguénz é perfeito.~~ '

Foucaull, filósofo por formaçito, revi\'e - em uma analogia forçada -uma espécie modernizada do dilema do Proudton no século X[X, que de acor­do com Marx passav<1 por bom filósofo e mau economista na França, en­quanto na Alemanha passa por mau fi lósofo c bom cconomist<L Foucault seria entre os historiadores antes apenas um filósofo e não um historiador. e ao que tudo indica. para os filósofos scri<l mais um historiador do que um filósofo.

Ta l como Marx fez em relação a Proudhon, só que em sentido inver­so, é preciso protestar contra este duplo erro. Foucault tomou-se para os his!oriadores sell(io um modelo, pelo menos uma mâ consciência/ ' par­que rompeu com os !.imites (Lem{tlicos mas também epistemológicos) a que estava submetida a disciplina histól'ica e parece difícil hoje ignorar sua conlribuiçiio.lncondicionalmente aceito ou totalmente rejeitado, talvez os historiadores não tenham atingido o idea l metodológico que o próprio Foucaull reivindicava para s i: quanto a mim, os tJutores que gosro) t~u os urilizo.52 Lê-lo c ntilizft-lo mais do que cit;:l-lo, eis a questão.

CO /\SIDERAÇÓES Fl!\AIS

!\a introduç.ão desle trabalho afirmot•-~c que o~ historiadores de­veriam responder, de algum modo, aos argumentos estrut uralista c pós­estruturalista. Ko entanto, é forçoso reconhecer que os histori.adores têm um hábito estranho: cst fto acostumados a receberem ataques, mas tam­bém a ignorá-los; postura hermét ica que se em certos momentos consti­tui-se em sábia virtude, cm outros revela ortodoxia ou insuficiente refle­xão teórica.

As duas úllirnas ca.ractcrís1icas ptucc.:cn1 Jnarçctr atualmente as re­lações entre a história, o estruturalismo e o pós-estruturalismo. De falo a especi(icidadc dcs1c rclacionamcnlo n>lO foi explorado de forma propor-

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cional às suas variaçócs tcm<itiC<ls em implicações relalivas à produção do conhecimento histórico.

Neste sentido, muitos historiadores na m~ior parte das vezes de extração marxista. atribuem ao I>Ó~·~truturalismo os signos do irracio­nalismo, da condição pós moderna ou de mero epifcnõmeno dos modis­mos intelectuais com os qu<ÚS. segundo eles, os franceses nos brindari­tun de vez em quando.

ent re tanto. houve criticas ao estruturalismo e 110 pós-estruturalis­mo CJUC ultrapassaram o rúvcl ncintu:.umemc prcconccituoso ou antiacadê­mico. Em primeiro lugar, a répl ic.1 de Pcrry Anderson ao estruturalismo e ao pós-estruturalismo continua sendo Ulllll referência obrigatória e apropriado dos historiadores assumidamcnte marxistas, embora mereça reparo~. Em segundo lugar é preciso vcriricar a validade da inserção de 1-oucault ou do pós-estruturalismo como rcpresentame da pós-modcrni· dadc c ad,·crsário da razão. Ambas as que~tõcs ~crão apenas expostas com a intenção de contr..1star com as duas panes descnvol"idas até aqui.

I • Paris é hoje a capital da reação mtelcctual européia, de modo muito semc/ha111e ao que Londres era há 30 anos." Assim Pcrry Ander­son clil~ifica a orientação cm voga no f'ntnça onde o estruturalismo c o pós-estrutural ismo impuseram-se ao marxismo, que havia desfrutado de unw ascendência culwral no imcdüHo pós-guel"f:t.

l!stn situaçf•o é definida pe lo historiador inglês através de uma mclfifora bélica: teria havido urna guerra lcórica, e o marxismo, sobrctu 8

do latino, forn derro tado. Mas a ritórw do estruturalismo e pós-estrutu­ru lismo !cria ocorrido em um C<~mpo do batalha não estranho ao marxis­mo. Por exemplo, as relações entre estrutura c sujeito na história são recorrentes a Marx e ao materialismo histódco.

A guerra teria ainda causas históricas. Segundo Perry Anderson, a discu~s3o no interior da corrente marxista n:io havia assumido uma conotação política ou hisroriogrMica. mas filosófica por três motivos principai~: 1) devido a orientação do stalinista do l'CF; 2) devido ao amplo domínio dos 1\nnales na r rança: 3) devido a innuência da fenome­nologia e do existencialismo.

Por outro lado, o marxismo althusseriano que deveria ter forneci­do alguma resposta ao estrutumlismu capiltulou diante do inimigo. Mas n Ahhu:.scr Pcrr,· Al1derson reserva adjctiv'1' a menos: ti nm·idade « u i11genuidade ertun por si só inegáveis.$'

Afi nal, cm que consistiu a vitó ria da Crente ampla estruturalista e pós-cstrutma l i~ta? Pcrry Andcrson dema rca três temas ou asserções que

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para ele congregam tanto o estrutura lismo q uanto o pós-estruturalismo em um campo comum, onde ocorreu a batalha e houve a de rrota para um exérc it.o cujos argumentos nfto parecian1 muiLO convinccnLes.

1) 11. cxorbitação da linguagem. De acordo com Perry Anderson, as re lações emre a língua e fala constituem uma bússola aberta para mapear as diversas posições da estrutura c do sujeito t\0 mundo exterior à lingua­gem po r três razões : a) as es truturas ling(iís ticas tem um coefid cntc muilo baixo de mudança histórica q uando comparadas as demais estrutums so­ciais; b) a língua é congenitamellle inventiva: o sujeito é livre para falar, enquanto as o utras práticas são coagidas por regularidades c a leis de es­cassez na tural, sendo que os efeitos da fala na história são quase nu los; c) o sujeito da fala é axiologicamente ind ividual, enquanto os sujeitos re le­vantes nas outras estrutt1ras sociais são <.:Olclivo:) : cxércilo, nação~ classes, grupos. e tc. Des te modo, so mente a ação destes sujeitos é que alteram e modificam as estruturas. Ou seja, não há como legitimamente transpor os modelos lingiiísticos para o processo h istó rico-'S

2) Atenuaç.'ioda verdade. A dicotomia queSaussure opera no interior do signo entre significante (imagem acústica) e significado (conceito) teria nas versões estrutural e pós-estrutural sofrido um deslocamento que g radu­almente foi gerando uma megalomcmia do significante. Isto é, cmre as pal<t­vras c as coisas haveriam múltiplas correspondências: o real do ravante per­de seu referente concreto. l'erry Anderson vê nesta assimetria a impossibi­lidade de se dislingt1ir em uma pesquisa o que é ve rdadeiro c mo q ue é falso, premissa."> fundamemais "de qualquer conhec imento racional"."

3) A causalização da h istória. Efeito da adaptação do paradigma ling iiístico às ciêndas humanas ~~ idéia de causas determ ináve is se en­fraq uece em detrimento dos jogos da d iferença, sentido. significado. A caus alidade deixa de ser pensada como nexo ncccss~rio para se construir a in teligibilidade do processo hisrórico ."

A conclusão de Perry Anderson é de que as armas do es truturalis­mo c pós·cstruturalisrno eram mais virtuais do que reais, e que fica ram devendo respostas para as questões pelas qua is tanto se criticou o m<Jr­x ismo. Na verdade "ocorreu pouco CJúrentamento d ireto e autêntico entre os dois antagonistas", havendo de fato ';unta adaptação passiva ~lS n10 ..

das e d isposições predominantes nn época.".5'

S eria impossíve l nos limites deste a rtigo es tabelecer uma tréplica a Perry Anderson e espe ra-se q ue a leitura dos pontos an te rio res a renham induzido avan! la leure. Conrudo, fica claro que l'erry Anderso n man­tém-se atrelado a uma concep~'âo segundo a qual criticar o marxismo é afrontá-lo. ainda que por ingenuidade ou infidelidade.

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II - I-Ia bermas em 1980 pmfere uma palestra intilulada Modemida­de- w11 projeto incompleto na qual identifica três tipos de conservadores: J) os velhos conservadores (pré-modernos) que pretendem uma volta a um período <lntcrior à modernidade; 2) neoconservadores (pós-modernos) que rejeitam os conteúdos subversivos da modernidade mas apóiam suas estruturas sociais, inclusive a aplicação da ciêncüo c da técnica para es ti­mu lar o crescimento econõmico; 3) jovens conservadores (antimodemos) <1uc se opõem à razão instrumental associada a modcrnidade atravésde um princípio transcendente <."'mo a vontade de poder, o Ser ou a força dionisíaca do poético, onde encontram-se ButaiUe, Derrida e Foucault."'

Em 1985, Haberrmas redefi ne a posição de Foucault a partir de sua teoria definida agora: c 0 1n0 une rlléorie fXJSt-modenre.u.1 Para o f ilósofo alemfto a pós-modernidade divic;le-sc agora em pós-modernidade neocon­servadora e pós-modernidade anarquista: a primei<a rejcit~ ~modernidade cultural e apóia a modernidade social; a segunda realiza uma dupla rc­jciçáo c é nesta <IIIC é enquadrado l'oucauJL

A noção de modernidade para H a bermas também divide-se cm dois blocos: a modernidade cultural que se caracteriza pela dessacralização das visões de mundo tradicionais e sua subs tituição po< esferas axioló­gicas diferenciadas, reg idas pela ratito c sujeitas à ação consciente do homem; a modernidade social caracteriza-se pelos complexos institucio­nais (Estado e economia) c corresponde ao processo de btuocrat ização da sociedade.

O ponto central da divisão da modern idade e pós-modernidade é port<t nto a modernidade cultural admitida pela primeira e negada peJa segunda. T amhém '' aceitação e rejeição subdividem-se cada qual em apreensões conservadoras ou críticas. Consequentemente aqueles que aceitam a modernidade cultural e a social ao mesmo tempo são conser­vadores ; enquanto aqueles que aceitam apenas a modernidade cultural envocam a razão iluminista para denunciar a perversidade da moderni­dade social são os críticos, onde se si tu;oria o próprio Habermas. Já aqueles que rejeitam a modernidade cu ltural em nome de valores pré-capitalis­tas c defendem a modernidade social são pós-modernos conservadores; por outro lado, os que rejeitam a modernidade cultural just ificando o a to pelo fato de a razão iluminista ser um s imples agente da dorninaçiio, e nega m a modernidade social por ser o locus da repressão políti ca econô­mica são os pós-modernos críticos, e aí estaria Foucault-

i\'(as quais são os argumentos p:lr ;.• H verten1e pós-estruLuralista centrada em Foucault ser considerada pós-moderna? Parece inquestionável que Foucault é \ l lll crítico mas isto não bastaria para classificá-lo como pós-

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modemo. Rouanct enumera quatro contra-argumemos : 1) Foucauh não contes ta o iluminismo mas sua filantropia. Se para

ser moderno é preciso acreditar na bondade dos reformadores iluministas é necessário "cassat· as credenciais de Marx", que denuncia a parciali­dade da emancipação conduzida pelo idcãrio iluminista em favor da domin<lÇãO de classe bmguesa;

2) Foucaul! não pretendeu destruir a ciência, e sim mostrar os con­d icionamentos pré-científicos de cada campo de saber (as contlgurac;:ões de podet) e sua utili zação extra-científicos, o que csi<Í na melhor tradi­ção da filosofia não-positivista. Propõe à historiografia tradicio nal uma arqueogenealogia que atenda a princípios de cientificidade pelo menos tão exigentes quanto os aplicados a ciências tradiciomlis;

3) T<l l corno Marx desconfia do progresso burguês, Foucault des­contla da própria noção de progresso. Segundo Rouanel, acreditar na idéia de progresso fonn ulada teoricamente pelo iluminismo é ser infiel com a prÓpria modernidade no que ela tem de mais profundo: a capacidade de aprender com a experiência. Nérn disso, a crença cm uma bistória con­tínua condu7. a expectativas finalistas e futuras através das quais a luta presente é amortecidt>.

4) Foucault por fi m, para Rouanet, não foi um niilista, porque lu­tou pela reforma penal, contra os regimes autoritários c as instituições repressoras. Foucault se auto-insere na tradição de Kant à escola de Frank­furt, passando por Nietzsche e Max Weber. Te ria s ido e nfim um pe nsa­dor moderno pela sua visão crítica da sociedade, mas como não situa claramente sua obra dentro da modernidade produz interpretaçi'les plau­síveis como a de Harbcrmas . Desta forma, para Rouanet o Foucault pós­Jnoderno se evaporo6 1

Em sentido semelhante mas de modo m;tis geral Andreas Huyssen afirma que

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O pós-estrutura il:•m1o é p rinclj)(drnente um discurso do c? sobre o nlO­demismo e que, se queremos localizar o pós-moderno no pós -esmuu­ralisnu> teremos q ue buscá~lo na mane ira como várias formas do pós­estruturalismo tem apontado para novas problemáticas no modernis ­mo e têm reinscriw este últim o nas fomwções discursivas da nossa própria época( ... ) o pós-estruturalismo pode ser emendido, num grau s ignificativo, como uma teoria do modernismo (. . .)se é verdade que a pôs -modemidade é condição histórica rínica e difere me du moderni­dade, impressiona constawr as pmjimdas raíres que o discur.w críti­co do pós-csmmmlfismo finca na tmdição modema."

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Em termos históricos, entretanto, a q tte!;tào da p6s-modcnúdadc conlioua sendo mais comumente associada ao pós-estruturalismo e ao retorno das teorias narr;.ujvus ;,tos domínios d0:s csLUdos ltislóricos. De acordo com T- Hutcheon : (.._j i! is narrative rlutl mosr clearly m ·erlaps willt 1he concems of posimodem fiction a11d th.eOJy"

Esta j(i é uma questão correlata, mas que surpreendentemente vem sendo mais discutida entre os historiadores do que foi a própria análise das relações do saber histórico, o cslnllurillismo c o pós-estruturalismo: de cena forma. os códigos teóricos queape11aspossibilitaram um repensar na historiogntfia conten1porânea.

NOTAS E RE FEilli'<ClAS

I. BENNIGTON. G ./YOUI'\G, R.·' lntruduetion: posing thc qucst ion", in ,\T­Tt\IDGE, D./ BEI'\1'\ING.mN. G.!YOUNG, R. (ed) Pmt-smtcwralism and tlw questicm oflds tor}'. Camhridgc Universi ty Pre."-s~ 1987, p- J .

"') A poli~scmi a do ':oc:1huln c~tn1 tural h:mo-é destacada por vários autores. Para R. Ooudon: ··parmi lcs oonccpts clés. dcs scicnccs humaines. lc com.·cpt de StruCturC CSl sauS dou tê UJI dCS plus ohSCurs:·-;\ quoi .sert /anmion t/e uS!YUC­

Utre'!-• J::xsai ::.ur lu :úgnijication ( / (! /(t 1wtüm de scntcw re dcms le.'i sciences lwma ines . Paris. G;:lllim~lrd, 19(-,8 p. 13 . Snbrc o descn\·oJvimento elo con­cciro ve r DOSSE. f.. l 1iSJóri(l do Estrituralismo I : o campu do.\·(r:no. 1945/ ! 966. SI': Ensaio, 1993. pp 15-17. L' ma nota para lela: p<>r mot i,·o de e.<pa­ço dois aulo rcs impo rtantes não sáo anal i sados neste ar tigo. RARTHES. R. c MAIRE'L O.

3. Sobre es tas considerações ver: i\;\ RS LEFF- A. From Lccke to Saussure: Essays 011 riJe swdy af language and in te!/ectual history . "-'linncapoli!-i M iun­soia lJniversity Prcss. 1982. Este 1ex10 é c itado no mesmo sentido in :-1ER­QlJIOR , J . G.De Praga a Paris: uma crftiCi~ do essruturalbimo e do pensn­meuiO pós-estruturalista. lU.: Nova Fronteira, 1991, pp. 23-24 . Pa ra con­fi rmar os desdobramentos Uo l ivro de Saus.surc ver DOSSE, F. op. c ii . vol t, pp. 65-scg.

4. BEKKINGT0:-.1. G./YOUNG, R. op. cit. p. L Ver também DOSSE. F. op. cit. pp. 69-7 . O u1 ros concei,os desenvolvidos por S:.lussurc s5o import:mtes. cnttc e les a <!efinição do sig_noli ngüistico çúmo rcsultad<> com hinado da presen­ça de um s ignificado (conceito) c de um sign itlca nte ( imagem ncús1ica) PI'O­duzidos por um laço de união arbiuário intemo à est ru tura da pr·6pria lin­gua 1 afastanUn as.<~õim ~l refcrênci ll externa . Ver SAUSSURE, F. Curso de Lingüí.<lica Cera!. SJ>: Cultrix. l 9S8, pp. S(H:i I.

5 . FlJRET F. ;,Os iorc lectuais franceses c o estruturalismo..,. in -A oficina dtt hisu>ria. Lisboa: Gradi va~ s/d. p. 46.

6. Ver f'URE'I~ F. op. d t. p. 49 .

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7. De LÉVJ-STRAUSS, C, ver "História c Dia lética", in -0 Pet~samemoSelm­gem. S P: Nacional, 19i6. ·'Ra~a e his tória" (1952) e "O campo da antropo ­logia" in - Amropologia estrutum/11. R .I.: Tempo Brasiliense, 19i8. "His ­tó ria c etnologia" ( 1949) in - ltntropc!ogia Esrmtuml. lU. : 'lc rnpo Drasili ­cnse, 1967.

8 . LÉVI-STRAUSS. " História c Dialética, op. cit. p. 292. 9. I dem. O livro de Sanre que Lévi.Strauss refere-se c cril ica é ((Crilique de la

Raison Dia1ctiquc: Vol. l Tbéorie desenscmblcs pratique.~". Paris: Gallimard, 1960.

10. MERQU!OR , J. G. o p. c it. p. '1'1 I . E. Carr, cm ao·t igo publicado em 1961, ofercc<:~ sem considerar em nemhum rnomcnto a crítica cstruturalis1a, uma análise que se tornou clássica sobre as relações entre o historiador~ fontes c fatos . VerG\RRt E. H. •fo historiador e seus fatos" ioQueéhi.o;tól'ia ? RJ: Paz c Terra, 1978, pp. 't1 -29.

1 J . LÊVI-STRAUSS, C. '·Histcíria c Dia lCiica" op. cit. p 294 . 12. Idem. p. 296. 13. MERQt;JO R. op. cit. p. 113. 14. ;\ noção de "Corte epistemológico=' foi influenciaria por Ga.o;ton Bachclard.

Ver BACHEI.ARD. O. Epistemologia. RJ: Zahar, 1983, p. 16. Segundo E. T hompson "a cesura epistemológica": com Ahhusscr: é uma cesura com o autoconhççinwnto <lisçiplinado e um sa lto na au to-gcra~ão dt) conhecimen­to, de acordu com seus proccdünentos rcório.Js. isto é, um salto para fora do conhecimento c para dentro da teologia" A :\1iséria da Te01·in. RJ: Zahi.l r~

1981, p. 43. Sobre a importância c crítica de Altlousscr, ver I'URET, 1'. op. d t. p. 55 c V 1LAR1 P. ~'1-IisEória marxista, hist6ria cm construção .. in LE GOFF, JJNO RA, P. (org).llislóri(t.' novos prol>lemas. R.l: F. Alves, 1988, p. 152. Sobre o marxismo vulgao·, ver I !OBSI3AWM, E. '' r\ contribuição de Karl !'"larx pa.ra a histografia··. in BLACKB URK, R. (org) ltleologia na crl­tica social: ensaios criticos sobre a teoria social . lU : Paz. c 'l(::rra, 1982, pp. 248-249.

15. Al:I'H USSER, L. A favor de Marx ( pour Marx) . RJ: Zahar, 1979, p. 24. O marco desta " irada seria o livro "A Ideologia Alemã" de 184S, nãn publi­cado durante a ' 'ida de Marx.

16. Ver ,\ LTH l;SS ER. LJ BALI BAR, E. Para leer e/ capital. México: Siglo XXI, 1978, pp. 116-130.

17. ALTHVSSER, L. Sobre o rrabafho teórico. l.isho a: Presença. 1988, pp. 40-4 1.

18. Ver DOSS ER, P. op. c it. vol I, p. 340. 19. A LTHUSSER, L. op. cit. ('1979) p. 174. 20. Idem, pp. 202-203. Segundo P. Anderson t>ara Althusser" ns trabalhos de

Luckác~ Korch. Oramsci. Sar1re, Goldmann; Dellil Vo1 pe e ('..oltetti eram suscetíveis de serem classificados como variantes do lris tnricismo: ideoJo .. gi<~ na qual a sociedade se lransfonna nu ma totalidaclcexpressiva circular. a hislória nun1 fluxo homogênco Oc tempo lincart a filosofia numa auto-cons-

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ciência do processo histórico, a luta de classes> num c()mhatc de sujeitos coletin)S, o capital ismo num universo csscncialmcnl.'é definido pela aliena· ção: o comunismo num estado de verdadeiro humanismo para lá da aliena­ção"'. Cnnsideraç6es sobre o marxismo ocidental. Porto: Afrontamen1o. S/ d . PP· 92-93 .

21. O conceito de estrutura hraudel iano cncon1ra-se cm ·• História e Ciência Sociais: a lo nga duração'' in BRAUDEL, F. Escritos sobre " hislóáa. SI' : Perspectiva, ·1978, p. 49. 13rauclcl afirma que tentou "mostrar, não o nso di­zer demonstra(, que toda a nova pesquisa de Claude l .évi-Strauss só é coro­ada de êxilo quando seus modelos navegam nas águas da longa duraliào."­"Hi stória e Scx:iologhl"', in BRAUDEL, F. op. cil. p. 107. i>a.a F. Dossc Brau­del .r tem o mérito de 1cr-sc rcapropriado da noção de estrutura c de lhe 1cr dado a dimeos5o temporal: (BRAUDEL, F essa.-. esjruwras históricas sâo desr endth·eis lle certa maneira Jlh!/Zsuníveis: Srt<t duração J a medida ( BRAt.;DEL, f. Cirili.tation matérielle, J::couomie el capiwnwre. A . Col in, 1979, T2. p . 4 10).'' DOS SE, F. i\ história em m iga/lws: dos Annnlcs à Nm>a H istória. SP: Ensaio, 1992, p. 146. Já para K. Pomian " l'ernand Braudel montreque J•histoirc loin dcs'cnferrnerdane I 'étude desévéncmcnls, cst non sculcrnem capabJe de dégagcr tcs srtucwres, mais que c•e.o;;.t à cede tâchc qu 'c li c duil s 'inléresser en premier I i eu."- " L' histoirc dcs struclurcs" i n LE GOFF, J. (di r) /.-<~ Nouvelle Hisloire. Pa ris: Complcxc, ·1988, p . !09.

22. T H0\1PSON, E. P. op. ci t. p. 13. l'crry Andcrson avaliou a crílica d e T homp­son a Allhusscr em seu livro Argumeuts within eng lish marxism. London: N LB a nd Verso, l9SO.

23. A NDERSON, P. A crise: da crise do marxismo. SP: Brasiliense, 1984, p. 31. 24. Ver A LTJI USSER, L /..enin and phi!osophy. Lo ndon: Newle ft Books, 1971.

pp. 22-22. Ver também ;\ NDF.RSON, P. op. cit. 1984, p. 45. 25. Ver DOSSE, r. Hislória do Eslmt!lra/ismo 2: o canto do cisne, de 1967 a

'!ossos dias. SI' : Ensaio, 1993, pp. 209-218. 26. E o caso de Bcnnington c Young; •· Thc question of thc rcl:.ltions bctween

sr luctu raH.s.tn, post-structuralism and histOf)' is (herefore an cxtrcmcly com­plcx onc~ and the purpose of 1his volume is to bcgin to siwate and untanglc itsc<>mplcxities by engaging with it in a numbcr o f intcrrelated wnys: ( ... )." op. cir. p. 02.

27. Idem. O grande ausenlc deste tó pico é Jacques Derrida porque s ua apreen­são pelos historiadore-S ainda é recente c pouco desenvolvid:t. Sohrc Ocrri­tla ver OOSSE, f . op. cit., vol 2 . i\1TRJDGE, D., DENNIKGTON, G. and YOUNG, R., op. cit. E do próprio Derrida ver Gralllltlologia. SP: Perspec­tiva, 1973. DERRIOA, J. A escriwra c a dijàençfl. SP: Pcrspccliva, 1971 .

28. fOUCAULT, M .As palavm s e <IS coisas. SI' : :-·Janins Fontes, 1981, p. 282. 29. FOUCAULT, M./lrqueo!ogia do S <1ber. RJ: J'Q,·ense, I 987, J). 20. Segundo

A llan 1'-·1egili " Foucault does not so much have a position as a number of succcssivc positions." in ~ The reception of Foucauh by Historians." Jour· na/ nf lhe history of i<let•s. 48 ( !987): p. 255.

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30. Trecho de uma entrevista de FouC(Iult citada em 1\lERQL:IOR. J . G. M ichel Foucau/(, ou o niilismo de cátedra. RJ: L' ova f-ronteira, 1985~ p. III . HaydCil \Vhitc dcsconsidcm esta observação do próprio Foucault c o situa como o fi­lóso fo principa l do mo \·imento estruturalista fr:ltlcê..o; por part i I har •· wilh Lév i­Strauss and Lacan a.n intereS1 i.n tbedcep structuresofhuman consciousncss a oonviclion tha1 srudy of sue h decp s1 ructures nl usl bcgin wilh an analysis of languagc! and a conccplion of languagc \..,. hich h as i1s origins in lhe w ork of thc rccogoizcd falhcr of structural linguis.lics. Fcn.Jinand de Sauss urc." - F<m .... caul! dccodcd : note.~ from undcrground'·. in WH ITE, H. Tropics ofdiscourse. Baltimore nnd L<.mdon: TheJohns Hopkins Uni,·ersity Press. 1990, p. 230.

3 1. FO L!CAULT, M. o p. ci1. 1987, p. 13. Ko mes mo sem ido Paul Vc ync diz <juC '· a oposiÇ{lO diacro nia-sincronia, gêncse-cstrut t• ra, é um falso prob lema" - ·· Fouca ult revoluciona a hist6ria~' in VEYNE~ P. Como se escren! a história. B rasília : EUnB. 1982, p. 173.

32. Ver BARTHES, R. Essais cr i fiques. Paris: Edit ions du Seu ii, 1971. p. 171. 33. DOSSE, r. ' ·I>ouca uh face 1t l'histoirc". ln li.waces{ femps. 30!l9S5, p.12. 34 . O 'BRIEK, P." História da Cultura de Michel F'oucault". ln HUNT, L. (org).

i\ JU'JVa história cu!turtd. S P: Martins Fon1e-s, 1995, pp. 33-3·L 35. T'O UCAIJLT. M. op. cit, 1987. p. 07. 36. Idem. 37. Sobre •·os doct• mcntos transformado~ cm rnonumcnlos"'. Ver Idem. p. OS.

Sobre o co nce ito de ·'arquivo '' ver idem pp . . 14R-1 5 I . 38. HAB ERMAS, J. " Les sdenses humaines dérnas quécs par la critique de ta

raison: Fo ue-au ll'' in- / . .(! di.scmll's philosoplliqLte de la modet·nitt!. Pa ris : Gallimard, 1988, p. 296.

39. MEGJLL. A, " Foucault, s truclura li sm and thc cnd of history" in.Joumal o}' Mm/em 1/is tmy. no 5 1i09 - 1979, p . 4S7.

40. Foucautt d iria que jamais apresentou ··a :trquco logia co mo uma ciêocin ( ... ) mas, em quase lOd~lS as suas dimensões e c-m quase todas as suas arcscas, a empresa relaciona-se a ciências~ a anál ises de tipo cicntífi.co ou a teu rias que respondem a critérios de rigo r: · op. c il., 1 987~ p. 234.

4 1. FOUCAU L:r. M . l.'ordre du di.<co11rs. Paris : Gallimard. 1971, pp. 58-59. 42. O'BRIEK, P. op. cit.. 1995, p. 58 . 43. Ver DR EYFUS. 1-l!RABINOW, P. Michd Fo<~w11lt: /Jeyond stmCt11ralism

tmd hermeneutic~·. Chicago; 1'hc Univcrsily o r Chicago Prcss~ 1983, tam~ bém OOSSE, r. op, c it. 1993, vo l, 2. MEROUIOR, J. G. op. cit., 1985. Suhrc a ge nealogia ver FoucauH, ·1971, pp. 62 .. 72.

44. FO UCAULT, M '·Nietzsche, a genealogia e a história· in - Micr·o{isicn do Poder. RJ : Graal. 1984, pp. 15-16. Obs: os grifos s õo citações e xll'a ídos de Niw:sc heem J-1. D. 1·1 § 3. Ver também O 'BRIE N, P. op. cit. 1995. p. 49 , Segundo t JabCi ma.s: ··L'historiu~~raphic généalogi4uc fait lahle r..1sc non seu­lc men1 de l' autonomlc tlcsdiscours cn autorégulation. mais encorc cle la .su ite epoquale ct dirigêe dc.s formes globales du savoi r' ' . ··Aporics d ' une théorie du pou,·oir'' in- op. cit. p, 318.

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45. Jdem. p. 22. ·· 111c gcnealogist is a dirtgtlO,Siician wbo concenfratcs on thc re lationsofpowcr, knowlcdge and thebody in modero society". DREYFUS. J-liRABI~OW, P. op. cit. p. 105.

46. FOL:CAULT. 1\,1 , Vigiar e punir. PctJ6polis: VO?~. 1984. p. 28. Para 1l.Urc) fus e P. Rabioow <'lguma~ análises conlidas cm Visiar e Punir como a i<lói:l etc organizaçtio espacial ~o anal<>gias quase pcrfeila.s das definições através \.lOS quajs os pensadores cstruturalista.•ç francc:-.es cnconlrarnm princípios univer­sais: .. as. wcsnwearlicr. Fouca.ult wrote "TI\Cordcroflhings··as an :.rchenlogy os srtucwrolism. \\'c are rcadiog "Discipline antl punish" broadl} as a genea­loJ,')' of structuroliSI discoursc and associatcd prn<:ticcs". op. cit.. p. 155. Já I"'''' Habermas "dans la généalogie de Fouc<~uh, lcpou>'Ciir est d'abord synonymc d'une purc tonetion structuralis1e". op.cil., pp. 302-303.

47. Idem. p. 30. 48. FOUCAULT. :0.1. Verdade c poder, op. c it. p. 05. 49. VEYNE, 1'. op. cit. 1982. p. 160. 50. MEGIIL, A . op. cit .. p. 117, citado também cm O'BRIEN, op. c it .. 1\195, p.

37. Outros crít icos no trabalho de FOUCAUL:l~ cm sentido mais geral en­contram-se cm SAH.UP, ~1.A n imnwluctnry guide to post-Slructurtdism muJ JWSI modemi.<m. Athcns. Ocorgia: U. Georg ia Press.I9S9, pp. 88-95.

51. GRISET, Á. "Poucaull. um projeto histórico" in I.F. GOFF. J. cl ali i. A r\ O\ a hi•tória. Lis.bon: Fd. 70. 1986, p. 59.

52. FOUCAUt.:l: M. -Sobre a prisão" (cnlrcvrMa) in • op. cil., 198-1, p. 14). 53. ANDERSO!':. P. up. cit .. p. 38. 54. Idem, pag. 43. O autor h a" ia defendido n contrihuic;ão de Alhusscr cm op.

cil. 19SO. 55. Idem. pp. 47-52. 56. Idem. pp. 52·55. 57. Idem. 1' 1'· 55-59. 5!!. Idem. pp. 65-M. 59. HABER~lAS. J. "Modcrnity ·ao incomplctc project" inAmi-esthetic.>·l:.s·

sttys on p()::.l~mOtlt!rn culuue. Port10wserd: 8ny Pres..", 1983. 60. HABERMAS. J. op. cit. p. 338. 19S8. A análise que seseguee<tá largamcn·

te base:rda cm ROUAKET. S . P. " Foucaull c a modernidade~ in . ,1$ ra:()cs do ilumi11i.wro. SP: Cia das Letras, !987. pp. 217-22S.

61. ROUA~ET. S. P. op. dt. p. 223. Mark Posterconsidcra que ~Fcucault is thc only poststructuralist who activcly souglu lo a.$..~iatc hi.s ' "'ork w ith th:n of the Frankfurt School." Critica i tlteory mui PQjiStructuralism. lthaca: Cor­neli University Prc;,. 1989.

62. HUYSSF.N. A. ' ·Mapeando o pós-moderno" in- HOLLANDA, H. B. (org.) Pás-modemismo "política. RJ: Rocco. I '191, p. 60.

63. HUTCHEON. L. " ll iSioricizing lhe postrnodcm: TI1e problemal izi ng ufhb­tory'' in ·A fXJi!IÍ<:i o[ posullodemism: history, theor}, fict ion. USA: Rou· tledge. 1987. I'· 96. A bibliografia sobre a quc;tão já é bem signitlcativa c polêmica. e seria dcm:c.iado lislá-las neste c>paço.

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