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O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 138 Estudo Vinte e Um: O Interlúdio da Sétima Trombeta [ Apocalipse 10.1-11 ] Antes da sétima trombeta soar haverá um interlúdio (10.1-11.14). Isto faz parte do estilo de João. Entre o sexto e o sétimo selos João inseriu o interlúdio das duas multidões (7.1-7). Entre as sete trombetas e os sete flagelos, João insere o interlúdio do dragão e da mulher (12.1-7), a visão das duas bestas (13.1-18) e a visão do cordeiro sobre o monte Sião (14.1-20). 299 Estes interlúdios incentivam o povo de Deus no meio da fúria do julgamento divino. Durante os interlúdios Deus conforta o seu povo com o conhecimento de que Ele não se esqueceu deles e que eles serão vitoriosos. 300 O capítulo 10 descreve os eventos deste interlúdio e a preparação para o toque de trombeta final. É possível encontrar neste texto, quatro características incomuns: um ânjo incomum, um ato incomum, um anúncio incomum e uma missão incomum. I. Um Anjo Incomum 1 Vi outro anjo forte descendo do céu, envolto em nuvem, com o arco- íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo; Após a sua visão das seis primeiras trombetas (8.6 – 9.21), João visualiza algo que até então não tinha visto, um grande e forte anjo que descia a terra. “Vi outro anjo forte descendo do céu...” – Este anjo forte é distinto dos sete anjos das sete trombetas. Alguns estudiosos observando as semelhanças entre esse anjo e a descrição de Jesus Cristo em 1.12-17, e que o anjo, assim como Cristo, desce em uma nuvem (cf. 1.7), afirmam que esse “anjo forte” é o Senhor Jesus Cristo. 301 Porém, vários fatores argumentam contra essa identificação. Observe abaixo: Primeiro, o uso da palavra allos (que significa, outro da mesma espécie), identifica este anjo como exatamente igual aos anjos das trombetas mencionados anteriormente. Jesus Cristo não poderia ser descrito como um anjo, exatamente como os outros anjos, pois eles foram criados, mas Jesus Cristo é o Deus eterno. Ele não foi criado. Em segundo lugar, sempre que Jesus Cristo aparece no livro de Apocalipse, João lhe dá um título inconfundível. Ele é chamado de “a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra” (1.5), o “filho do homem” 299 LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 104. 300 MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (276). Chicago: Moody Press. 301 Os comentaristas bíblicos: Willian Hendriksen, Warren W. Wiersbe e o brasileiro Hernandes Dias Lopes afirmam que esse “anjo forte” é de fato o Senhor Jesus. Todavia, vários outros comentaristas dizem ao contrário. Por exemplo: George Ladd, John MacArthur, Carson, D. A., Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary e Summers, R.

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Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 138 “Vi outro anjo forte descendo do céu...” – Este anjo forte é distinto dos sete anjos das sete trombetas. Alguns estudiosos observando as semelhanças entre esse anjo e a descrição de Jesus Cristo em 1.12-17, e que o anjo, assim como Cristo, desce em uma nuvem (cf. 1.7), afirmam que esse “anjo forte” é o Senhor Jesus Cristo. 301 Porém, vários fatores argumentam contra essa identificação. Observe abaixo:

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Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 138

Estudo Vinte e Um: O Interlúdio da Sétima Trombeta

[ Apocalipse 10.1-11 ]

Antes da sétima trombeta soar haverá um interlúdio (10.1-11.14). Isto faz parte do estilo de João. Entre o sexto e o sétimo selos João inseriu o interlúdio das duas multidões (7.1-7). Entre as sete trombetas e os sete flagelos, João insere o interlúdio do dragão e da mulher (12.1-7), a visão das duas bestas (13.1-18) e a visão do cordeiro sobre o monte Sião (14.1-20).299 Estes interlúdios incentivam o povo de Deus no meio da fúria do julgamento divino. Durante os interlúdios Deus conforta o seu povo com o conhecimento de que Ele não se esqueceu deles e que eles serão vitoriosos.300

O capítulo 10 descreve os eventos deste interlúdio e a preparação para o toque de trombeta final. É possível encontrar neste texto, quatro características incomuns: um ânjo incomum, um ato incomum, um anúncio incomum e uma missão incomum.

I. Um Anjo Incomum

1 Vi outro anjo forte descendo do céu, envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo;

Após a sua visão das seis primeiras trombetas (8.6 – 9.21), João visualiza algo

que até então não tinha visto, um grande e forte anjo que descia a terra. “Vi outro anjo forte descendo do céu...” – Este anjo forte é distinto dos sete

anjos das sete trombetas. Alguns estudiosos observando as semelhanças entre esse anjo e a descrição de Jesus Cristo em 1.12-17, e que o anjo, assim como Cristo, desce em uma nuvem (cf. 1.7), afirmam que esse “anjo forte” é o Senhor Jesus Cristo.301 Porém, vários fatores argumentam contra essa identificação. Observe abaixo:

Primeiro, o uso da palavra allos (que significa, outro da mesma espécie),

identifica este anjo como exatamente igual aos anjos das trombetas mencionados

anteriormente. Jesus Cristo não poderia ser descrito como um anjo, exatamente como os outros anjos, pois eles foram criados, mas Jesus Cristo é o Deus eterno. Ele não foi criado.

Em segundo lugar, sempre que Jesus Cristo aparece no livro de Apocalipse,

João lhe dá um título inconfundível. Ele é chamado de “a Fiel Testemunha, o

Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra” (1.5), o “filho do homem”

299

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 104. 300

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (276). Chicago: Moody Press. 301

Os comentaristas bíblicos: Willian Hendriksen, Warren W. Wiersbe e o brasileiro Hernandes Dias Lopes afirmam que esse “anjo forte” é de fato o Senhor Jesus. Todavia, vários outros comentaristas dizem ao contrário. Por exemplo: George Ladd, John MacArthur, Carson, D. A., Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary e Summers, R.

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(1.13), o “primeiro e o último” (1.17), “aquele que vive” (1.18), o “Filho de Deus” (2.18), “Aquele que é santo, que é verdadeiro” (3.7), o “Amém, a testemunha fiel e verdadeira,

o “princípio da criação de Deus” (3.14), o “Leão que é da tribo de Judá, a raiz de Davi”

(5.5), o “Cordeiro” (6.1, 16; 7.17, 8.1), o “Fiel e Verdadeiro” (19.11), a “Palavra de

Deus” (19.13), e “Rei dos reis, e Senhor dos Senhores” (19.16). Diante disto, é razoável supor que, se Cristo fosse esse “anjo forte”, João certamente o identificaria de forma especial.

Em terceiro lugar, outros anjos fortes, que claramente não podem ser

identificados com Cristo, aparecem no Apocalipse (5.2; 18.21). Uma vez que outros anjos são assim designados, não há razão para associar esse título com Jesus Cristo. Embora Cristo tenha aparecido freqüentemente como “o anjo do Senhor” no Antigo Testamento (Gn 16.13, 24.7, 31.11, 13 e Jz 6.22), não há evidências de que este ser seja diferente de um poderoso anjo (cf. Ap 5.2), talvez o arcanjo Miguel.302 É interessante observar que o Novo Testamento não faz nenhuma referencia a Cristo como uma anjo.

Finalmente, esse anjo desceu do céu para a terra. John MacArthur

corretamente afirma que, “ao identificar o ‘anjo forte’ com Cristo, corremos o risco de adicionar outra vinda de Jesus a Terra”.303 Algo que não está de acordo com as descrições bíblicas da Segunda Vinda (cf. Mt 24.30, 25.31, 2Tessalonicenses. 1.7-8). Além do mais, outros anjos descritos na Bíblia tem o mesmo esplendor que este anjo (Ezequiel 28.11-15 descreve a aparição angelical e gloriosa de Lúcifer antes de sua rebelião contra Deus). Já o profeta Daniel teve uma visão de um anjo, a quem descreveu como “levantei os olhos e olhei, e eis um homem vestido de linho, cujos

ombros estavam cingidos de ouro puro de Ufaz; o seu corpo era como o berilo, o seu

rosto, como um relâmpago, os seus olhos, como tochas de fogo, os seus braços e os

seus pés brilhavam como bronze polido; e a voz das suas palavras era como o estrondo

de muita gente” (Dn 10.5-6). Logo, é evidente que o anjo da visão de Daniel não é o Senhor Jesus pré-encarnado pelo fato de que o anjo precisou da ajuda do arcanjo Miguel para combater demônios, v. 13.

“... envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça” – João

descreve o anjo como se estivesse vestido com uma nuvem. Ele usava as roupas celestiais sobre os ombros poderosos. Essa roupa simboliza o seu poder, majestade e glória, e também, o fato de que ele vem trazendo julgamento.

“...com o arco-íris por cima de sua cabeça” – Enquanto a nuvem simboliza o

juízo, o arco-íris representa a misericórdia de Deus no meio do julgamento (como aconteceu em 4.3). Após o dilúvio, Deus deu o arco como sinal da sua promessa de nunca mais destruir o mundo através do dilúvio (Gênesis 9.12-16). O arco-íris com o qual o anjo é coroado vai tranqüilizar o povo de Deus de Sua misericórdia no meio dos julgamentos (Malaquias 3.16 a 4.2).

302

Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1983-c1985). The Bible knowledge

commentary : An exposition of the scriptures (2:954). Wheaton, IL: Victor Books. 303

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (279). Chicago: Moody Press.

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“... o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo” – Passando a descrever a aparência do anjo, João diz que o rosto do anjo era como o sol (cf. 1.16). Como o rosto de Jesus “era como o sol quando brilha com todo seu fulgor” (1.16). Mesmo que brilho seja apenas um pálido reflexo da glória, a Shekinah de Deus, que “habita em luz inacessível, a quem nenhum homem viu nem pode ver” (1Tm 6.16), pois, como disse a Moisés: “Você não pode ver o meu rosto, pois nenhum homem pode Me

ver e viver!” (Êx 33.20). Todavia, isso não é prova suficiente para dizer que o anjo é Cristo. Evidencia somente a glória celestial deste anjo forte.304

“... e as pernas, como colunas de fogo” – A imagem das pernas do anjo como

colunas de fogo se refere indiretamente ao cuidado providencial de Deus. O Altíssimo protegeu os israelitas com calor durante as frias noites do deserto, e com a luz oriunda de uma coluna de fogo, e com ela os protegeu do exército egípcio, assim mostrando sua constante intimidade e poder (Êx 13.21, 22; 14.24).305

Willian Hendriksen ao comentar esse texto, acertadamente disse que “a santidade de Deus é simbolizada pela face do anjo, e seu julgamento é mostrado pela nuvem (Sf 1.15; Sl 97.2), mas sua misericórdia e sua aliança cheia de fidelidade são expressas pelo arco-íris.306

“... e tinha na mão um livrinho aberto...” – Em contraste com os sete selos

(biblion), abertos pelo Cordeiro (5.1), este anjo tinha um pequena rolo (biblaridion, também usado em 10.9-10). Este livrinho aparentemente continha uma ordem escrita do anjo para a missão que estava prestes a cumprir.307 A palavra grega para livrinho (v. 2) é diferente da usada em (Ap 5.1). Livrinho não dá a idéia de rolo.308 O livrinho está aberto, no sentido de que seu conteúdo é conhecido. A mensagem do rolo selado revelava o plano de Deus para o mundo inteiro ao longo do tempo cósmico do começo ao fim. Mas o pequeno livro de papiro permanecendo aberto na mão do anjo é evidentemente uma mensagem evangélica relatando o testemunho de Jesus.309

II. Uma Atitude Incomum

“... Pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo, sobre a terra, 3 e bradou em grande voz, como ruge um leão, e, quando bradou, desferiram os sete trovões as suas próprias vozes.”

Aqui está um quadro de um anjo que tem um aspecto colossal e que controla a

criação divina, no mar e na terra, respectivamente.

304

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 105. 305

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 394. 306

HENDRIKSEN, Willian. Mais que Vencedores. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 170. 307

Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1983-c1985). The Bible knowledge

commentary : An exposition of the scriptures (2:954). Wheaton, IL: Victor Books. 308

Jamieson, R., Fausset, A. R., Fausset, A. R., Brown, D., & Brown, D. (1997). A commentary, critical and

explanatory, on the Old and New Testaments. On spine: Critical and explanatory commentary. (Ap 10:2). Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc. 309

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 395.

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“... Pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo, sobre a terra...” – Esta ação do anjo demonstra soberana autoridade de Deus para julgar toda a terra (cf. 7.2; Êx 20.4, 11; Sl 69.34). Paulo escreveu: “A terra é do Senhor, e tudo que ela contém” (1Coríntios 10.26). O ato do anjo também simbolicamente antecipa os julgamentos da sétima trombeta e as sete taças em toda a terra. O versículo comunica a autoridade deste anjo gigantesco sobre a terra e o mar, respectivamente, pois ele vem com uma mensagem que proclama salvação aos que obedecem, e de juízo aos que rejeitam essa mensagem.310

“... e bradou em grande voz, como ruge um leão...” – De acordo com seu

tamanho, o anjo bradou com grande voz como um leão quando ruge. Seu grito reflete o poder, majestade e autoridade de Deus. Os profetas do Antigo Testamento também comparam o rugido de um leão com o julgamento (Jr 25.30). O profeta Oséias escreveu que “Andarão após o Senhor; este bramará como leão, e, bramando, os

filhos, tremendo, virão do Ocidente” (Os 11.10). Enquanto o profeta Joel declarou: “O

Senhor brama de Sião e se fará ouvir de Jerusalém, e os céus e a terra tremerão; mas o

Senhor será o refúgio do seu povo e a fortaleza dos filhos de Israel” (Joel 3.16). Amós também retrata um rugido diante do julgamento de Deus, “Rugiu o leão, quem não

temerá? Falou o Senhor Deus, quem não profetizará?” (Amós 1.2, 3.8). “... quando bradou, desferiram os sete trovões as suas próprias vozes” –

Depois que o anjo gritou algo aconteceu: os sete trovões fizeram soar as suas vozes. O número “sete” fala de perfeição e finalidade. Os trovões é muitas vezes um prenúncio de julgamento nas Escrituras (cf. 8.5, 11.19, 16.18, 1Sm 2.10; 2Sm 22.14; Sl 18.13, João 12.28-30). Êxodo 9.23 registra que “E Moisés estendeu o seu bordão para o céu; o

Senhor deu trovões e chuva de pedras, e fogo desceu sobre a terra; e fez o Senhor cair

chuva de pedras sobre a terra do Egito”. Em 1Samuel 7.10 está escrito: “Enquanto

Samuel oferecia o holocausto, os filisteus chegaram à peleja contra Israel; mas trovejou

o Senhor aquele dia com grande estampido sobre os filisteus e os aterrou de tal modo,

que foram derrotados diante dos filhos de Israel” (1Sm 7.10). Isaías escreveu: “Do

Senhor dos Exércitos vem o castigo com trovões, com terremotos, grande estrondo,

tufão de vento, tempestade e chamas devoradoras” (Is 29.6). É importante observar que o trovão foi separado da voz do anjo, e pode ter

representado a voz de Deus ou a voz de Cristo (cf. 2Samuel 7.10, Sl 4.13).311 João ouviu e entendeu a mensagem dos trovões, porém foi ordenado a não escrever nada sobre o assunto. Certamente, as vozes dos trovões são um aviso de iminentes manifestações da ira de Deus.312 Tanto o rugir do leão quanto os estrondos do trovão induzem ao temor e à trepidação nos corações dos habitantes da terra.313

310

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 395. 311

Carson, D. A. (1994). New Bible commentary : 21st century edition. Rev. ed. of: The new Bible commentary. 3rd ed. / edited by D. Guthrie, J.A. Motyer. 1970. (4th ed.) (Ap 10:1). Leicester, England; Downers Grove, Ill., USA: Inter-Varsity Press. 312

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 106. 313

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 397.

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III. Um Juramento Incomum

5 Então, o anjo que vi em pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita para o céu 6 e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá demora, 7 mas, nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas.

O anjo forte levantou a sua mão direita para o céu no gesto familiar de

juramento. “ ... e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos...” – Em um ato

solene, o anjo que João viu em pé sobre o mar e sobre a terra (v. 2) levantou a mão direita (o pequeno livro estava em sua mão esquerda, v. 2) para o céu (onde Deus habita), o gesto padrão para a tomada de um juramento solene (cf. Dt 32.40; Dn 12.7). Esse voto indica que o que o anjo estava prestes a dizer é da maior importância e veracidade.314

Alguns sugerem que o ato anjo violou a proibição, feita pelo Senhor Jesus Cristo em Mateus 5.34-35. Mas, obviamente, um ser perfeitamente santo não poderia fazer qualquer coisa contrária aos mandamentos de Deus. A Bíblia não proíbe a emissão de votos, mas juramentos evasivos com a intenção de enganar (como os escribas e fariseus fizeram, (cf. Mt 23.16-22). A Escritura registra os juramentos do povo de Deus como Abraão (Gn 21.25-31), Isaque (Gn 26.26-31), Davi (1Sm 20.12-17), e o apóstolo Paulo (Atos 18.18). Além disso, a Bíblia registra que o próprio Deus tomou juramento (por exemplo, Gn 22.16-18, Lucas 1.73, Atos 2.30; Hebreus 6.1).

“... e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos...” – O anjo jurou por

aquele que vive e que criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá demora. Essa designação de Deus salienta Sua eternidade (como em 1.18, 4.9, 10; 15.7) e o Seu poder soberano e sobre cada coisa na sua criação. O anjo anuncia o fim iminente no nome do Deus eterno, que também é criador e Senhor de toda a criação. Ele identifica Deus como à causa última de tudo o que existe (cf. Atos 14.15; Atos 17.22-26; Ap 4.11). A declaração completa de que Deus criou o céu e o que nele há e a terra e as coisas que nele existem, e o mar e as coisas em que revela o alcance do poder criativo de Deus é todo-abrangente (cf. Gn 1.1; Êx 20.11; Sl 33.6, 102.25, 115.15, 124.8, 134.3; 146.5-6; Is 37.16, Jr 42.5, 32.17, 51.15). Seu propósito para a Sua criação será concretizado através do julgamento, a renovação, a destruição e o restabelecimento.

“... Já não haverá demora” – O juramento revela limite de tempo, pois o anjo

diz: “Já não há demora.” Uma tradução literal é: “O tempo já não mais existirá”, significando que um período de espera já expirou, de modo que sem qualquer mais delonga o juízo de Deus começará a concretizar-se.315 O tempo da paciência de Deus é visto como tendo terminado, o tempo para os atos finais do julgamento é visto como

314

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (285). Chicago: Moody Press. 315

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 400.

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estando em suas mãos. O tempo previsto nas perguntas dos discípulos registrado em Mateus 24.3 e Atos 1.6 chegou. As orações de todos os santos de todas as idades pela consumação do reino de Deus estão prestes a ser respondidas (cf. 6.9-11; Mt 18.4-10 Quando a sétima trombeta soar, “ o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do

seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11.15). o anjo está anunciando que não haverá mais tempo antes que o fim venha.316 O fim não será mais adiado; está na hora de responder as orações dos santos.

“ ... quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério

de Deus...” – O mistério de Deus é todo o seu plano de redenção, que inclui o julgamento do mal e a salvação do seu povo. Logo, o povo de Deus receberá sua gloriosa herança final, sua plena salvação conforme a promessa anunciada aos seus servos, os profetas. Deus havia anunciado o mistério (sem todos os detalhes revelados no Novo Testamento) aos Seus servos, os profetas no Antigo Testamento, e os homens como Daniel, Ezequiel, Isaías, Jeremias, Joel, Amós, e Zacarias escreveu a respeito de eventos do fim. Grande parte dos detalhes, porém, estavam ocultos e não foram revelados até o Novo Testamento (por exemplo, Mt 24, 25, e 2Ts 1.5 – 2.12), e mais particularmente no capítulos anteriores de Apocalipse.

Para os crentes que vivem nesse momento em um mundo dominado por demônios, assassinatos, imoralidade sexual, abuso de drogas, roubos, e desastres naturais incomparáveis, a realização desse plano glorioso de Deus está dentro do cronograma, o reino prometido é iminente, quando “a terra será cheia do

conhecimento da glória do Senhor como as águas cobrem o mar” (Hc 2.14), será um grande conforto e esperança no meio do julgamento.

IV. Uma Missão Incomum 8 A voz que ouvi, vinda do céu, estava de novo falando comigo e dizendo: Vai e toma o livro que se acha aberto na mão do anjo em pé sobre o mar e sobre a terra. 9 Fui, pois, ao anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele, então, me falou: Toma-o e devora-o; certamente, ele será amargo ao teu estômago, mas, na tua boca, doce como mel. 10 Tomei o livrinho da mão do anjo e o devorei, e, na minha boca, era doce como mel; quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo. 11 Então, me disseram: É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis.

A voz que proibira o apóstolo de anotar as palavras dos sete trovões agora lhe

pede que vá ao anjo forte e tome o pequeno livro de sua mão esquerda.

“A voz que ouvi, vinda do céu, estava de novo falando comigo...” – João deixou de ser um observador para se tornar um ator no drama. A voz lhe disse: “Vai e

toma o livro que está aberto na mão do anjo que está no mar e na terra”. Esta terceira referência para a localização do anjo chama a atenção. Ou seja, a mensagem do anjo é dirigida a João em primeiro lugar, mas tenciona ser para todo o mundo. Esse anjo

316

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 51.

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poderoso, portanto, vem com a mensagem do Deus Todo-Poderoso. Três vezes sucessivas o escritor descreve a postura desse anjo sobre mar e terra (v. 2, 5, 8).317

“Tomei o livrinho da mão do anjo e o devorei, e, na minha boca, era doce

como mel; quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo” – O ato de comer o rolo simbolizava a absorção e assimilação da Palavra de Deus (cf. Sl 19.10, Jr 15.16; Ez 3.1-3). O gosto reflete a reação dupla por parte do profeta. É doce estar perto de Deus e receber sua palavra. Mas, depois de digerir a mensagem, refletindo sobre as suas implicações, ela ficou amarga em seu estômago.

Conforme George Ladd, “temos aqui uma verdade importante para todos os que pregam a palavra de Deus. O plano de Deus como um todo contém tanto juízo quanto misericórdia, e o mensageiro do evangelho deve ser fiel aos dois aspectos. Só que o homem que conhece o amor de Deus e a compaixão de Cristo nunca pode se alegrar pregando sobre a cólera de Deus, ou ficar satisfeito em seu espírito proclamando os julgamentos divinos. Ele sempre tem de fazer isto com o coração chorando, com o espírito amargo, seguindo o exemplo do seu Senhor que chorou por aqueles que seriam atingidos pelo julgamento de Deus”. 318

“... É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações,

línguas e reis” – Este versículo é uma reafirmação do ministério de João e determina o significado do rolo. O fim ainda não veio, mas está à porta. Neste dia, a ira de Deus será manifestada em proporções nunca vistas, e à vista disto a missão de João é mais uma vez confirmada.319

Portanto, João deveria avisar a todos sobre os julgamentos amargos que estavam prestes a chegar com o soar da sétima trombeta e as sete taças da ira de Deus. Como um exilado na ilha de Patmos (1.9), ele não teve oportunidade de pregar a todas as nações, mas ele deveria escrever as profecias e distribuí-las, de modo a alertar todos os povos da amargura do julgamento por vir, e da morte e do inferno.320

Conclusão: Todos os homens da face da terra, todo os pecadores em todos os lugares

podem saber que, ao soar da última trombeta, o domínio do pecado será quebrado, a liberdade de Satanás e seus demônios vão chegar ao fim, os ímpios serão julgados, e aqueles que confiam e obedecem aos mandamentos de Deus serão glorificados. Este capítulo apresenta um interlúdio de esperança tingido com amargura que recorda a todos os cristãos das suas responsabilidades evangelísticas em advertir o mundo do julgamento vindouro. Este evangelho precisa ser pregado ao mundo inteiro. A tarefa é urgente, porque o juízo se aproxima. Embora a palavra seja doce para os crentes, ele será amarga para os incrédulos.321

317

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 403. 318

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 109. 319

LADD, George. Apocalipse, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1984, p. 110. 320

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (287). Chicago: Moody Press. 321

Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1983-c1985). The Bible knowledge

commentary : An exposition of the scriptures (2:954). Wheaton, IL: Victor Books.