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ISSN: 2446-6549 DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2446-6549.v2n7p115-128
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ESTUDO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS EM FUNÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR NO CENTRO-OESTE BRASILEIRO
Amaury de Souza Doutor em Tecnologias Ambientais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.
Flavio Aristone Doutor em Física pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse – INSA/Toulouse,
França. Professor Titular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. [email protected]
RESUMO Para o presente trabalho foi desenvolvido um estudo de um sistema fotovoltaico, com armazenamento de energia, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus Campo Grande, durante o ano de 2014. Foi avaliada a eficiência de painéis fotovoltaicos em função dos valores da componente de radiação solar global no plano horizontal de incidência; das temperaturas ambiente e de operação do painel; e da tensão e corrente do sistema fotovoltaico. Os resultados mostram que a eficiência média mensal oscilou entre 8,65 e 9,17%, com média anual de 8,84%. O módulo apresentou eficiência média 50% inferior aos valores propostos pelos fabricantes. Palavras-chave: Eficiência Fotovoltaica Celular; Radiação Solar; Conversão da Irradiação Solar; Temperatura da Célula Fotovoltaica. STUDY OF ENERGETIC EFFICIENCY OF PHOTOVOLTAIC CELLS AS
A FUNCTION OF SOLAR RADIATION IN BRAZIL’S MIDWEST REGION
ABSTRACT
In this paper, we developed a study of a photovoltaic system (PV) with energy storage installed at the Federal University of Mato Grosso do Sul, campus of Campo Grande, during 2014. It has been evaluated the efficiency of photovoltaic panels according to the data of the solar radiation components in the horizontal plane of incidence, the local and operating temperatures, and the current - voltage response of the PV system. The results show that the average monthly efficiency oscillated between 8.65% and 9.17%, with an annual average of 8.84%. The modules showed an average efficiency that is 50% smaller compared to the values provided by manufacturers. Keywords: Photovoltaic Cell Efficiency; Solar Irradiation; Conversion of Solar Irradiation; Photovoltaic Cell Temperature.
ESTUDIO DE LA EFICIENCIA ENERGÉTICA DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS COMO FUNCIÓN DE LA RADIACIÓN SOLAR EN LA
REGIÓN CENTRAL DE BRASIL
RESUMEN
ISSN: 2446-6549
Estudo da eficiência energética de células fotovoltaicas em função da radiação solar no Centro-oeste brasileiro
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En el presente trabajo se ha desarrollado un estudio para un sistema fotovoltaico con almacenamiento de energía, durante el año 2014 en el campus de Campo Grande de la Universidad Federal de Mato Grosso do Sul. Se evaluó la eficiencia de paneles fotovoltaicos en función de los valores de la componente de radiación solar global en el plano horizontal de incidencia; de las temperaturas ambiente y de funcionamiento del panel; y de la tensión y corriente generada en el sistema fotovoltaico. Los resultados muestran que la eficiencia media mensual osciló entre 8.65% y 9.17%, con una media anual de 8.84%. El módulo ha presentado una eficiencia media 50% inferior a los valores propuestos por los fabricantes. Palabras clave: Eficiencia de Células Fotovoltaicas; Irradiación Solar; Conversión de Irradiación Solar; Temperatura de las Células Fotovoltaicas.
INTRODUÇÃO
A radiação solar é a fonte de energia responsável e necessária ao desenvolvimento
de todos os ciclos da natureza, no entanto seu aproveitamento sempre foi limitado.
Inicialmente, a ideia do aproveitamento desse recurso surgiu com as teorias de
termodinâmica, por meio do aquecimento de líquidos ou gases; posteriormente, com os
estudos sobre o efeito fotoelétrico.
A população mundial tem crescido rapidamente nas últimas décadas e uma das
principais consequências desse aumento populacional é o aumento da demanda por
energia, necessária para impulsionar os princípios da vida em sociedade. O homem, desde
os primórdios, vem utilizando a energia solar para sua sobrevivência, desenvolvendo várias
formas de captação e produção energética. De acordo com Palz (1995), o consumo de
combustíveis fósseis era insignificante até o século XVIII, muito embora eles já fossem
conhecidos desde a antiguidade. O aumento das preocupações com as questões ambientais
internacionalmente, em particular com as mudanças climáticas, causadas pela acumulação
de CO2 na atmosfera, tem sido um forte argumento a favor do uso de tecnologias que não
emitem dióxido de carbono nas futuras estratégias para a produção e uso de energia.
As fontes de energia são derivadas, em sua maioria, direta ou indiretamente, da
energia solar (PALZ, 1995). É a partir da energia solar que se dá a evaporação, origem do
ciclo das águas, que possibilita o represamento da água e a consequente geração de
eletricidade (hidroeletricidade). A radiação solar também induz a circulação atmosférica em
larga escala, provocando os ventos. Petróleo, carvão e gás natural são fontes finitas de
energia e foram gerados a partir de resíduos de plantas e animais, que obtiveram a energia
necessária ao seu desenvolvimento da radiação solar (fontes indiretas de energia solar). A
energia geotérmica e a energia nuclear são as que fogem inteiramente à regra. A energia
motriz das marés é derivada em parte do Sol e em parte da Lua.
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Para que a energia solar fotovoltaica seja mais bem avaliada, vários autores vêm
estudando o desempenho e rendimento de sistemas fotovoltaicos na geração de energia
elétrica, dentre eles: Treble (1980), Overstraeten; Mertens (1996), Parreta et al. (1998),
Cardona; Lopez (1999), Camargo (2000), Van Dyk et al. (2002), Seraphim et al. (2004),
Diniz e Silva; Seraphim (2005), Fiorentino, Seraphim (2005), Gnoatto et al. (2005); Gnoatto
et al. (2008), Mirjanic et al. (2013).
A eficiência energética de módulos fotovoltaicos depende das condições ambientais
de funcionamento, tais como a temperatura, a intensidade da irradiação solar, o ângulo de
inclinação e tipo de módulos solares. Parâmetros fundamentais para atingir o melhor
desempenho em eficiência energética são o ângulo de inclinação dos painéis e o tipo de
módulos. Parâmetros indiretos e de grande importância para a eficiência de
funcionamentos incluem a temperatura e velocidade dos ventos. Este artigo trata
especialmente com a investigação da influência da temperatura e velocidade do vento sobre
as características físicas dos módulos de silício monocristalino.
Recentemente, várias bases de dados climáticos, obtidos através de sensoriamento
por satélite geoestacionário do clima da Terra, foram divulgadas na internet. Estes incluem
a NASA-SSE (NASA, 2012), HelioClim (EUMETSAT, 2012), SoDa (SoDa Service, 2012),
PVGIS (PVGIS, 2012), NCDC-NOAA (Departamento de Comércio dos Estados Unidos,
2012), etc. Essas bases de dados oferecem a vantagem clara de uma cobertura espacial e
temporal uniforme e mais extensa. Eles fornecem entre 10 a 22 anos de dados médios de
inúmeras variáveis climáticas para locais de todo o mundo, com os tamanhos de grade de 1
km², por hora, por dia, por mês e por ano. Esses dados são suficientemente de alta precisão
para todos os locais do globo, Suri et al.(2008), Blanc et al. (2011).
A base de dados da NASA-SSE, em particular, tem sido mais amplamente utilizada
para estimativas da intensidade de radiação solar, Fadare (2009), Zawilska e Brooks (2011),
a velocidade do vento, Khan et al. (2004), Jewer et al. (2005), e potencial de geração de
eletricidade solar, Mond e Denich (2010), Mondal e Islam (2011). Trata-se de um banco de
dados online de mais de 200 parâmetros climáticos obtidos a partir de observações feitas
pelo satélite Goddard Earth Observing System (GEOS) do NASA’s Global Modelling and
Assimilation Office (GMAO). Esses parâmetros estão apresentados como médias de 22
anos, com uma resolução espacial de 1º na longitude e 1º na latitude ao longo de toda a
superfície do globo, NASA (2012), Chandler et al. (2010). Essa densidade de grade é maior
do que a dos sítios de monitorização do tempo em várias partes do país.
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Dados de irradiação solar são indispensáveis para a análise aprofundada do recurso
energético disponível em um país, Tan et al. (2012), por exemplo. No entanto, quando se
apresentam sob a forma de cartas de radiação solar ou tabelas, os potenciais para geração
de eletricidade a partir de recursos de energia solar que existem em um país ou região
podem não ser prontamente apreciados pelas pessoas sem formação técnica específica. O
objetivo deste trabalho é avaliar a eficiência de painéis fotovoltaicos como função da
radiação solar incidente.
MATERIAIS E MÉTODOS
A presente pesquisa foi realizada na Estação Experimental Agrometeorológica do
Centro de Monitoramento de Clima e Recursos Hídricos de Mato Grosso do Sul,
localizada na latitude 20.447195 Sul e longitude 54.722615 Oeste, a altitude de 528 m, no
período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2014. Depois de examinar as informações
coletadas, a energia produzida pelos painéis foi calculada e expressa em forma de médias
diárias e médias mensais, juntamente com o desvio padrão, para todo o período
considerado (um ano). Em seguida, dois gráficos foram construídos para análise: um do
comportamento médio diário da radiação global para os 365 dias do ano (24 horas em
função da radiação média), e outro do comportamento mensal (12 meses em função da
radiação média). Foram feitas análises de regressão linear e quadrática para estudar o
comportamento obtido.
Por último, foi feita uma estimativa da produção de energia elétrica através de
painéis fotovoltaicos, usando como exemplo o módulo solar de silício monocristalino
(Figura 1). Eficiência: 15,4%; Tensão em Pmax: 29,8V; Corrente em Pmax 8,39ª; Tensão de
circuito aberto: 37,6V; Corrente de curto circuito: 8,92A. Parâmetros elétricos em condição
de operação nominal (NOCT: operação em curto circuito com irradiância de 800W/m²,
temperatura ambiente de 20º C, velocidade do vento de 1 m/s); Potência de saída: 182,4W;
Tensão em Pmax: 27,2V; Corrente em Pmax: 6,71ª; Tensão de circuito aberto: 34,7V;
Corrente de curto circuito: 7,21A (dados do fabricante do equipamento).
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Figura 1 - Foto do módulo solar utilizado. Fonte: http://d9no22y7yqre8.cloudfront.net/assets/uploads/products/downloads/YGE-60Cell-29b-35mm.PDF
A eficiência do módulo fotovoltaico é definida pela relação entre a potência gerada
e a irradiação incidente. Segundo Treble (1980) e Overstraeten e Mertens (1996), a
eficiência do módulo pode ser obtida pela equação:
(1)
onde:
Ic = irradiância solar (W/m²);
A = área útil do módulo (m²);
Imp = corrente máxima de pico (A);
Vmp = tensão máxima de pico (V).
Sandnes e Reskstad (2002) utilizaram essa equação para calcular a eficiência do
painel fotovoltaico em um sistema experimental híbrido, fotovoltaico/coletor solar para
gerar eletricidade e água a baixa temperatura. O experimento foi efetuado em condições
diferentes das de teste (STC). Hady e Al-Janaby (1998) estudaram durante dois anos o
efeito do clima do Kuwait na eficiência de dois tipos de células fotovoltaicas e também
utilizaram a mesma técnica.
De acordo com Cardona e Lopez (1999), a eficiência de um conjunto fotovoltaico
em um sistema de geração de energia elétrica pode ser obtida em uma relação entre toda
energia diária produzida e a energia diária incidente na superfície do módulo. O rendimento
diário do conjunto fotovoltaico é representado pela equação:
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(2)
onde:
Epvd= potência diária fornecida pelo módulo (W/m2);
Erd= irradiação diária na superfície do conjunto fotovoltaico (W/m2). A média mensal do
rendimento diário é obtida por:
(3)
onde D é o número de dias com dados.
A eficiência dos módulos foi calculada como a razão entre a irradiância e a potência
gerada por unidade de área de cada módulo. Foram obtidas médias diárias e mensais.
Sendo Hcol a densidade de energia solar incidente no plano do módulo fotovoltaico, que
tem uma superfície de capitação (S), a energia total que atinge o painel é dada por .
Chamando a energia elétrica gerada de EG, pode-se calcular a Eficiência Energética de
conversão do módulo (EF) pela razão entre os dois valores, em acordo com a metodologia
apresentada por Lorenzo (1994) e Salviando (2001):
O valor de EG é simplesmente a integral da potência gerada durante o intervalo
considerado, que para um período de 24 pode ser escrita como:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 1(a) encontra-se a eficiência diária do módulo fotovoltaico, mostrando
seu o comportamento para todos os dias do ano de 2014. O ponto de eficiência máxima foi
de 9.11%, em 19 de setembro, e o ponto de eficiência mínima foi de 8.47%, em 17 de
julho.
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a)
b)
9.19.08.98.88.78.68.5
40
30
20
10
0
efficiency
Fre
qu
en
cy
c)
Figura 1 – a) eficiência do módulo fotovoltaico em função dos dias para o ano de 2014; b) frequência de distribuição da eficiência; c) eficiência do módulo fotovoltaico e índice de limpidez em função dos dias.
Com base nos resultados da eficiência média diária obtida, analisou-se o
comportamento da frequência de ocorrências, representado na Figura 1(b). Pode-se
observar que 43% das ocorrências registraram valores de 8.9% de eficiência. A baixa
eficiência indicada por esses dados está relacionada com dias nublados. Os índices podem
ser melhor observados no gráfico da Figura 1(c).
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a)
b)
c)
35.032.530.027.525.0
9.2
9.1
9.0
8.9
8.8
8.7
8.6
8.5
8.4
8.3
Temperature C
eff
icie
ncy
(%
)
Figura 2 – a) Valores diários observados para a temperatura ambiental e a densidade de potência incidente sobre o módulo fotovoltaico; b) frequência média diária horária da eficiência do módulo fotovoltaico e energia solar (W/m2) em função das horas; c) eficiência da célula fotovoltaica em função da temperatura ambiente.
Salienta-se, dessa forma, que embora exista uma pequena variação percentual entre
os índices máximo e mínimo obtidos para a eficiência do painel fotovoltaico, ela não
apresenta valores extremamente significativos em todo o intervalo considerado, ou seja, de
janeiro a dezembro. Esse fato é importante, pois mostra que esses índices podem ser
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utilizados para o dimensionamento otimizado de sistemas fotovoltaicos. Nossas análises
refletem um percentual de variação do índice de eficiência ao longo do ano que é inferior
ao encontrado por Cardona e Lopez (1999) e também por Camargo (2000), demonstrando
que Campo Grande apresenta condições mais estáveis para esses tipos de sistemas
fotovoltaicos. A eficiência média mensal dos módulos em condições reais de campo sofre,
portanto, redução de 67.4% com relação ao padrão de teste STC, pois segundo dados do
fabricante, a eficiência esperada para esses módulos é de 15.4%.
Energia fornecida pelo painel fotovoltaico
O comportamento da energia diária fornecida por um sistema fotovoltaico com
relação à irradiância solar disponível no plano do painel e a sua temperatura, durante o
período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2014, foi analisado mediante regressão
quadrática e regressão linear. Observou-se que a eficiência do painel está diretamente
relacionada com o nível de irradiação e temperatura. Considerando a temperatura a
descrição é feita por meio da equação quadrática Y = -1.66 + 0.68 X - 0.0107 X2,
apresentando coeficiente de determinação de 0.66%. “Y” é a eficiência energética e “X” a
temperatura no plano de incidência do painel, com uma correlação de 88%.
Em função da irradância, um sistema linear descreve o sistema satisfatoriamente
através da equação Y= 7.12+0.00797 X, com um coeficiente de correlação de 59%. Esse
comportamento ocorre porque a corrente fornecida pelo painel depende linearmente da
irradiância, enquanto a tensão mantém-se praticamente constante, limitada pelas baterias e
pelo controlador de carga.
Tal comportamento pode ser observado diariamente, comparando-se resultados
obtidos para dias de céu limpo, parcialmente nublado e nublado, segundo classificação de
Ricieri (1998), expressos na Figura 1(c). Verifica-se que, para qualquer tipo de cobertura do
céu, os coeficientes de correlação encontrados foram superiores a 59%, afirmando que o
comportamento generalizado para o ano também pode ser observado diariamente, em
forma de um sistema linear. Isso permite, com pequena variação, a especificação desse tipo
de painel fotovoltaico em função da irradiação global anual no plano do painel. Dessa
forma, têm-se subsídios para a análise das características do painel e a determinação da sua
eficiência.
Outros fenômenos também observados são as respostas da corrente e da tensão em
função da irradiância. A intensidade de corrente que o painel fotovoltaico é capaz de
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fornecer varia linearmente como função da intensidade solar, enquanto a tensão sofre uma
variação bem menor, mantendo-se praticamente constante, pois seu valor é mais
fortemente relacionado com a carga estável do sistema do que com o nível de irradiância. A
média da energia produzida pelo painel permite que se estime a quantidade necessária de
módulos para se alcançar uma dada potência, visando suprir as necessidades de cargas
acopladas a sistemas fotovoltaicos e, dessa forma, estimar valores de custo do kWh
produzido.
É possível, ainda, avaliar a viabilidade de implantação de sistemas híbridos, com
mais de uma forma de fonte alternativa de energia, ou acoplamento com sistemas
convencionais de energia elétrica. Deve-se ressaltar que essa produção de energia varia em
função da inclinação do painel e que se pode otimizar o sistema de acordo com a exigência
da carga acoplada aos módulos, o tipo de aplicação e a função da relação desta com o
comportamento do clima durante o ano.
O módulo fotovoltaico estudado produziu, durante os 12 meses da pesquisa, a
média mensal de 85.0 kWh. A menor produção de energia foi de 62.0 kWh durante o mês
de junho e a maior, em janeiro, de 101.0 kWh. Considerando a média sazonal observa-se
que a maior produção de energia ocorreu no verão, e a menor no inverno.
Aladali, Celik e Munir (2013) apresentam, em seu artigo, modelagem e teste
experimental de conversão da radiação solar para superfícies horizontais e inclinadas, em
função da temperatura da célula fotovoltaica, juntamente com uma análise de eficiência de
conversão fotovoltaica. A modelagem e a validação dos modelos foram realizadas com base
em medições extraídas de um sistema experimental situado ao sul da Turquia. Além disso a
corrente, a tensão, a temperatura das células do módulo fotovoltaico e variáveis ambientais,
tais como temperatura ambiente e irradiação solar, foram medidas e utilizadas para fins de
validação. As análises de correlação da conversão de radiação solar em energia elétrica, para
superfícies horizontais e inclinadas de painéis fotovoltaicos, indicam que o modelo
utilizado é bem-sucedido. Os parâmetros de ajuste que encontrados são: coeficiente de
determinação R2 = 0.97, o erro de polarização MBE = -2.2. Da mesma forma, o modelo
de temperatura da célula usada no presente artigo é validado pelos seguintes parâmetros de
correlação: R2 = 0.97, MBE = 0.7, e erro quadrático médio RMSE = 2.1.
Para Howard O. Njoku (2014), os potenciais de geração de energia elétrica
fotovoltaica (PV), para a Nigéria, foram estimados utilizando uma relação linear simples
entre o potencial de geração de energia, E / Pk (kWh / kWp) e a insolação (kWh / m² /
dia). Foram utilizados dados de insolação diária e de média mensal incidente em superfícies
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horizontais, obtidos a partir de banco de dados meteorológicos de superfície da NASA
online e banco de dados de Energia Solar (NASA-SSE).
GREEN et al. (2014) consolidaram tabelas, confirmando eficiências para células
solares e módulos. Eles apresentaram diretrizes para a inclusão dos resultados nessas
tabelas, delineando novas entradas desde janeiro de 2014, que estão sendo revistos.
Skoplaki e Palyvos (2009) apresentam uma breve discussão sobre a temperatura de
funcionamento da base de silício, usada para a fabricação de células e módulos
fotovoltaicos comerciais. Efeitos sobre o desempenho elétrico de instalações fotovoltaicas
são discutidos juntamente com os aspectos térmicos dos principais métodos de notação
potência / energia.
CONCLUSÃO
Através dos resultados obtidos foi possível concluir que a eficiência energética dos
painéis fotovoltaicos é dependente da temperatura, existindo um valor que maximiza o
resultado. Por outro lado, a eficiência energética medida ao longo do ano não sofre
variação de amplitude considerável, sendo a média anual de 8.84% oscilante entre 8.65% e
9.17%. A energia média diária fornecida pelo sistema fotovoltaico é linearmente
dependente da irradiação solar incidente no plano do painel solar, apresentando coeficiente
de determinação linear maior de 59% para qualquer tipo de cobertura do céu. Já em função
da irradiância e temperatura, o coeficiente de determinação chega a 88%. O módulo
fotovoltaico apresentou como eficiência média um valor medido que é da ordem de 50%
menor do que o valor apresentado pelo fabricante.
REFERÊNCIAS
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Estudo da eficiência energética de células fotovoltaicas em função da radiação solar no Centro-oeste brasileiro
Amaury de Souza; Flavio Aristone
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ISSN: 2446-6549
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Recebido para avaliação em 21/06/2016 Aceito para publicação em 19/04/2017
http://www.ncdc.noaa.gov/oa/ncdc.html