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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 1 ESTUDO DA RELAÇÃO DO SOLO COM A VEGETAÇÃO EM TRÊS UNIDADES DA PAISAGEM, NO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA, MS. Hermiliano Felipe Decco (UFMS/CPTL)¹ Frederico dos Santos Gradella (UNESP/Rio Claro)² Raphael Costa Cristovam da Rocha (UFMS/CPTL) ³ Arnaldo Yoso Sakamoto (UFMS/CPTL) 4 ¹ [email protected] ; ² [email protected] ; ³ [email protected] ; 4 [email protected] Introdução O Pantanal Mato-grossense é caracterizado por ser uma área de dimensões continentais, sendo conhecido mundialmente por de ser uma grande planície de inundação localizada no centro do continente Sul-americano, entre as coordenadas 14° e 22° de latitude sul, e 53° e 59° de longitude oeste, composta por extensa superfície de acumulação de sedimentos sujeita às inundações periódicas (SAKAMOTO et al., 1996; SILVA, 2004). Silva e Abdon (1998) descrevem o Pantanal com área de 138.183 km² no território brasileiro, abrangendo áreas dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Silva (1986), afirma que a evolução geomorfológica do Pantanal resultou na formação da complexidade de condições da morfologia da depressão do Rio Paraguai, englobando as planícies e pantanais. Fatores geológicos, climáticos e hidrológicos através do Quaternário conduziram os processos responsáveis pelas características do modelado e da dinâmica de áreas do Pantanal. Segundo Ab’Saber (1988), o Pantanal Mato-Grossense funciona como um notável interespaço de transição de contato comportando fortes penetrações de ecossistemas dos cerrados, participações significativas da flora chaquenha, inclusões de componentes amazônicos e pré amazônicos, ao lado de ecossistemas aquáticos e sub- aquáticos de grande extensão nos pantanais, isso ocorre pela sua posição de área situada entre pelo menos três grandes domínios morfoclimáticos e fitogeográficos sul- americano. Desta forma alguns autores dividem o Pantanal em diversas regiões conforme suas principais características como a vegetação existente. Como por exemplo, Silva e Abdon (1998) propôs o reconhecimento dos seguintes pantanais: Cáceres, Poconé,

ESTUDO DA RELAÇÃO DO SOLO COM A VEGETAÇÃO EM …

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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física

II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física

Universidade de Coimbra, Maio de 2010

1

ESTUDO DA RELAÇÃO DO SOLO COM A VEGETAÇÃO EM TRÊS UNIDADES

DA PAISAGEM, NO PANTANAL DA NHECOLÂNDIA, MS.

Hermiliano Felipe Decco (UFMS/CPTL)¹ Frederico dos Santos Gradella (UNESP/Rio Claro)² Raphael Costa Cristovam da Rocha (UFMS/CPTL) ³

Arnaldo Yoso Sakamoto (UFMS/CPTL) 4 ¹ [email protected] ; ² [email protected] ; ³

[email protected] ; 4 [email protected]

Introdução

O Pantanal Mato-grossense é caracterizado por ser uma área de dimensões

continentais, sendo conhecido mundialmente por de ser uma grande planície de

inundação localizada no centro do continente Sul-americano, entre as coordenadas 14°

e 22° de latitude sul, e 53° e 59° de longitude oeste, composta por extensa superfície

de acumulação de sedimentos sujeita às inundações periódicas (SAKAMOTO et al.,

1996; SILVA, 2004).

Silva e Abdon (1998) descrevem o Pantanal com área de 138.183 km² no território

brasileiro, abrangendo áreas dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Silva (1986), afirma que a evolução geomorfológica do Pantanal resultou na

formação da complexidade de condições da morfologia da depressão do Rio Paraguai,

englobando as planícies e pantanais. Fatores geológicos, climáticos e hidrológicos

através do Quaternário conduziram os processos responsáveis pelas características do

modelado e da dinâmica de áreas do Pantanal.

Segundo Ab’Saber (1988), o Pantanal Mato-Grossense funciona como um notável

interespaço de transição de contato comportando fortes penetrações de ecossistemas

dos cerrados, participações significativas da flora chaquenha, inclusões de

componentes amazônicos e pré amazônicos, ao lado de ecossistemas aquáticos e sub-

aquáticos de grande extensão nos pantanais, isso ocorre pela sua posição de área

situada entre pelo menos três grandes domínios morfoclimáticos e fitogeográficos sul-

americano.

Desta forma alguns autores dividem o Pantanal em diversas regiões conforme suas

principais características como a vegetação existente. Como por exemplo, Silva e

Abdon (1998) propôs o reconhecimento dos seguintes pantanais: Cáceres, Poconé,

Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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Barão de Melgaço, Paiaguás, Nhecolândia, Paraguai, Abobral, Miranda, Aquidauana,

Nabileque e Porto Murtinho. (Figura 1).

Figura 1: Sub-regiões do Pantanal

O local do estudo se compreende na região da Nhecolândia que tem como limite

Norte o Rio Taquari e o Rio Negro ao sul.

A Nhecolândia é constituída de sedimentos arenosos finos (95%) depositados pelo

Taquari dede o inicio do Quaternário, dentro de um dos maiores leques aluviais do

mundo (CUNHA, 1980).

A região compreendida pela Nhecolândia é importante para estudo devido a sua

grande variabilidade de unidades da paisagem (Figura 2).

Sakamoto (1997) levanta a importância de uma compreensão da dinâmica

ambiental na região da Nhecolândia, de que a paisagem da área estaria em estreita

relação com a água, o relevo, o solo e a vegetação.

Nossa proposta baseia-se na consideração da importância, para o desempenho das

atividades pecuárias, em função da atual estrutura fundiária, do conhecimento

detalhado da dinâmica ambiental, em especial da relação solo-água-relevo-planta, que

permitiria, através dos resultados, obter subsídios para contribuir com possíveis

propostas de manejo e uso do solo e/ou buscar alternativas adequadas, que evitem

agressões e danos para ambientes considerados frágeis como é o caso do Pantanal da

Nhecolândia. (SAKAMOTO, 1997, p. 12)

Silva (2007) ao levantar estudos de solos no Pantanal da Nhecolândia descreve que

de acordo com a escala da análise utilizada nas pesquisas científicas na área, a possível

identificação ou caracterização de diferentes fragmentos que são homogeneizados de

acordo com a sua dinâmica de funcionamento e seus elementos constituintes, assim

revelando-se paisagens distintas, apesar de estarem próximas e interligadas.

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“Cordilheira”: são áreas mais elevadas na paisagem geral da planície, tendo como cobertura vegetal de cerrado ou cerradão;

“Baías”: pequenas depressões circulares que contem água com pH ácido durante as cheias;

“Salinas”: pequenas depressões, mais rebaixadas que as “baías”, circulares ou ovaladas, raramente secam, com pH alcalino, circuladas por um cordão arenoso e após geralmente há ocorrência de “cordilheiras”;

“Vazantes”: conjunto de extensas áreas que ficam temporariamente alagadas, com escoamento superficial de água muito lento, apresentando normalmente campos graminosos como vegetação.

Figura 2 – Unidades Fisionômicas

Material e Método

A presente pesquisa foi dividida em duas etapas, sendo uma de campo e outra de

gabinete.

O procedimento de campo pode ser descrito como atividade técnica cientifica

exploratória, onde foi realizado na Fazenda Nhumirim (Figura 4), e neste local realizou-

se o levantamento e descrição das amostras de solos e da vegetação através de

observação local foto-descritivo.

A Fazenda Nhumirim trata-se de uma estação experimental da EMBRAPA/CPAP,

possuindo uma infra estrutura apropriada para a realização de pesquisas no Pantanal e

a EMBRAPA destinou uma área de 680 ha que funciona como uma reserva para a

conservação da biodiversidade do ambiente pantaneiro, onde não é permitida a

presença de gado.

Foram realizadas três tradagens nas seguintes unidades: 1) Campo/Cerrado; 2)

borda da cordilheira (Lagoa Salina da Reserva); 3) interior da cordilheira.

Os procedimentos metodológicos realizados nestes locais se baseiam na

metodologia de Manfredini (2005).

“... a primeira observação a ser feita é a distinção e a diferenciação das camadas ou

horizontes. Para diferenciá-los, usa-se o parâmetro visual das cores. Pela delimitação

Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

4

das diferentes cores apresentadas pelo material, faz-se uma primeira distinção dos

horizontes. Em seguida, com auxilio de uma faca, pode-se acrescentar ao visual, o

parâmetro tátil, que implica sentir a resistência do material a penetração da ponta da

faca por meio de sucessivas e suaves batidas, para testar os limites dos horizontes

efetuados pela diferenciação de cor representam, também, um limite de resistência do

material, já que esses critérios são indicativos de características morfológicas do solo.

Os horizontes se diferenciam um dos outros pelo conjunto de suas características

morfológicas. (MANFREDINI et al. 2005)

Para a execução de tal procedimento foi necessário os seguintes materiais: trado

holandês, tabela Munsell, pedocomparador, sacos de coleta de solo, faca, tabela de

campo para a descrição dos perfis, fita métrica e um GPS Garmin.

A fisionomia da vegetação se deu através da observação in loco e a documentação

de fotografias digitais com o georreferenciamento dos locais.

Os dados coletados foram levados ao Laboratório de Sensoriamento Remoto

Aplicado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Câmpus de Três Lagoas,

onde ali ocorreu o tratamento dessas informações, após foi elaborado e confeccionado

os perfis de solos coletados no campo.

Figura 3 – Localização da Fazenda Nhumirim e Pontos de Coleta (1 - Campo, 2 - Borda

“Cordilheira”, 3 - Interior “Cordilheira”.

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Resultado e Discussões

Resultados:

Os resultados foram organizados respeitando as unidades de vegetação em que

foram realizados os levantamentos de campo.

O primeiro ambiente estudado foi na área de Campo/Cerrado, nas coordenadas:

19º 00’ 617” Sul e 56º 36’ 362” Oeste, averiguada pelo GPS. Caracteriza-se pela

ocorrência de vegetação do tipo cerrado, com árvores esparsas entre a vegetação

forrageira rasteira e também se observa o perfil do solo coletado (Figura 4). Nesta

tradagem foi observado que há presença de solos com a cor base amarelada, uma

estrutura maciça, textura arenosa e consistência fraca, havendo presença de matéria

orgânica e raízes até 40 cm de profundidade, o solo apresentou nódulos pretos entre

as camadas de 60 a 100 cm de profundidade, manchas amareladas ente 100 a 115 cm

e o lençol freático se encontrou a 145 cm de profundidade.

Figura 4 – Disposição da vegetação e perfil do local onde foi realizada a tradagem

Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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PROFUNDIDADE (cm) COR (MUNSELL) ESTRUTURA TEXTURA CONSISTENCIA OUTROS

0-20 10YR 5/4 Maciça Arenosa Fraca Raízes finas; ligeiramente úmido

20-40 10YR 5/4 Maciça Arenosa Fraca Raízes finas; ligeiramente úmido

40-45 10YR 4/4 Maciça Arenosa Fraca Não tem raízes; um pouco mais úmido

45-50 10YR 6/3 Maciça Arenosa Fraca Não tem raízes; um pouco mais úmido

50-60 10YR 7/3 Maciça Arenosa Fraca Não tem raízes; base mais clara; manchas escuras

60-70 10YR 7/3 Maciça Arenosa Fraca Base mais clara; nódulos duros pretos

70-80 10YR 8/3 Maciça Arenosa Fraca Base mais clara; nódulos escuros pequenos

80-90 10YR 8/6 Maciça Arenosa Fraca Cor mais clara; nódulos escuros maiores que 1 cm; umidade

90-100 10YR 7/4 Maciça Arenosa Fraca Cor mais clara; manchas escuras; mais úmido

100-110 10YR 7/4 Maciça Arenosa Fraca Cor mais clara; partes escuras; manchas amareladas

110-115 10YR 7/6 Maciça Arenosa Fraca Cor mais clara; mancha amarelada; muito úmido

115-130 10YR 5/6 Maciça Arenosa Fraca Base amarelada; água livre

130-150 10YR 5/6 Maciça Arenosa Fraca Base amarelada; nível de freático na ponta do trado

150-180 10YR 5/6 Maciça Arenosa Fraca Base amarelada; freático; partes escuras

Tabela 1 – Descrição do perfil do “Campo/Cerrado”.

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A tradagem realizada na borda da “cordilheira”, no contato entre gramínea e a

mata da “cordilheira”, nas proximidades da lagoa denominada “Salina da Reserva”, nas

coordenadas geográficas 18º 57’ 737” Sul e 56º 37’ 413” Oeste pertence a área de

preservação permanente da fazenda Nhumirim.

O local é uma área de transição entre o ambiente de uma lagoa salina e a

cordilheira (Figura 5), a paisagem apresenta uma vegetação que é comum nestes

ambientes, são elas: Capim-rabo-de-burro (Andropogon bicornis L.), palmeira Carandá

(Copernicia alba) e a bromélia conhecida como Caraguatá (Bromélia balansae Mez),

em contato com a mata da cordilheira.

Observa-se que a cor base do solo desta tradagem é cinza e em profundidade segue

para uma tonalidade mais clara, tendo uma estrutura de solo maciça, uma textura

arenosa, e não apresentando consistência. Presença de raízes até a profundidade de

100 cm, sendo, até os 30 cm com presença de raízes finas. Em profundidade foram

encontradas raízes de um porte maior, possivelmente pela presença de vegetação

arbórea densa. O nível do freático foi averiguado a 140 cm, associado a presença da

chamada “Camada Verde” (horizonte de cor esverdeada, em geral com pH básico).

Figura 5 – Disposição da vegetação e perfil do local onde foi realizada a tradagem

(Borda da cordilheira).

A tabela 2 apresenta os resultados que foram constatados na 2ª tradagem.

Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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PROFUNDIDADE (cm) COR (MUNSELL) ESTRUTURA TEXTURA CONSISTÊNCIA OUTROS

0-20 10YR 7/2 Maciça Arenosa Sem consistência Presença de raízes finas

20-30 10YR 6/3 Maciça Arenosa Sem consistência Presença de raízes

30-50 10YR 5/2 Maciça Arenosa Sem consistência Presença de raízes de tamanho médio

50-70 10YR 5/2 Maciça Arenosa Sem consistência Raízes médias; ligeiramente úmido

70-80 10YR 5/2 Maciça Arenosa Sem consistência Raízes médias; ligeiramente úmido

80-95 10YR 5/2 Maciça Arenosa Sem consistência Raízes médias; ligeiramente úmido; manchas escuras

95-100 10YR 5/2 Maciça Arenosa Sem consistência Raízes médias; ligeiramente úmido; manchas escuras

100-110 10YR 6/2 Maciça Arenosa Sem consistência Sem raízes; ligeiramente úmido

110-120 10YR 6/2 Maciça Arenosa Sem consistência Sem raízes; ligeiramente úmido

120-130 10YR 6/2 Maciça Arenosa Sem consistência Sem raízes; ligeiramente úmido

130-140 10YR 6/2 Maciça Arenosa Sem consistência Sem raízes; um pouco mais úmido

140-150 10YR 6/2 Maciça Arenosa Sem consistência Sem raízes; nível do freático

150-160 10YR 6/2 Maciça Arenosa Sem consistência Sem raízes; nível do freático

160-220 10YR 6/2 Maciça Arenosa Sem consistência Freático

220-225 - - - - Camada Verde

Tabela 2 – Descrição do perfil da Borda da “cordilheira”

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A tradagem realizada no interior de uma cordilheira, em direção a lagoa salina da Reserva, as

coordenadas geográficas, são 18° 58’ 439” Sul e 56° 37’ 509” Oeste. Este local se caracteriza por ser

uma área de formação arbórea densa como é observado na figura 6, com bromélias da espécie

Caraguatá (Bromélia balansae Mez) que dificulta a locomoção em seu interior.

A cor base do solo predominante nesta tradagem é de cor levemente amarelada, não

possuindo estrutura, a sua textura sendo composta por areia fina e não apresenta consistência. Nas

tradagens apresentam, até 40 cm de forte presença de matéria orgânica, com presença de raízes até

os 60 cm. Com relação às cores dos solos é observada uma tendência ao clareamento das camadas

em profundidade. Manchas amareladas são dispostas na profundidade de 160 cm até o término da

tradagem que foi concluída com 240 cm, neste local não atingiu o lençol freático.

Figura 6– Disposição da vegetação e perfil do local onde foi realizada a tradagem (cordilheira).

Os dados coletados no interior da “cordilheira” pela tradagem se encontram na tabela 3.

Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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PROFUNDIDADE (cm) COR (MUNSELL) ESTRUTURA TEXTURA CONSISTÊNCIA OUTROS

0-20 10 YR 3/3 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Raízes finas; base de cor escura; matéria orgânica

20-30 10 YR 3/2 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Raízes finas; base de cor escura; matéria orgânica

30-40 10 YR 3/2 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Diminui o nº de raízes; base cor escura; mat. orgânica

40-50 10 YR 4/4 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Diminui raízes; cor um pouco mais clara; mat. orgânica

50-70 10 YR 5/4 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Diminui raízes; cor mais clara

70-80 10 YR 5/6 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara

80-90 10 YR 6/3 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara

90-100 10 YR 6/3 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara

100-110 10 YR 6/3 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara

110-130 10 YR 6/4 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara

130-140 10 YR 7/4 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara

140-150 10 YR 7/4 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara; ligeiramente úmido

150-160 10 YR 7/6 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara; ligeiramente úmido

160-170 10 YR 7/3 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara; ligeiramente úmido; manchas amareladas

170-180 10 YR 7/3 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor clara; ligeiramente úmido; manchas amareladas

180-190 10 YR 7/3 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor clara; ligeiramente úmido; manchas amareladas; base clara

190-200 10 YR 7/4 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Cor mais clara; ligeiramente úmido; manchas amareladas

200-210 10 YR 7/8 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Base amarelada; ligeiramente úmido; manchas claras

210-220 10 YR 6/8 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Base ocre; ligeiramente úmido

220-230 10 YR 7/8 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Base amarelo claro; ligeiramente úmido

230-240 10 YR 7/8 Sem Estrutura Areia fina Sem consistência Base amarelo claro; ligeiramente úmido

Tabela 3 – Descrição do perfil no interior da “cordilheira”

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Discussão:

É observado que conforme a diferença da cobertura vegetal, a morfologia do solo,

apesar de apresentar a mesma textura, apresentam aspectos de coloração e umidade

diferentes nos horizontes.

No Campo/Cerrado os resultados se apresentaram interessantes, por haver uma

presença de raízes e gramíneas nas camadas superficiais, que são provenientes da

vegetação encontrada. Nas camadas abaixo de onde houve a presença de matéria

orgânica, há um clareamento do solo, possivelmente em razão de ser uma área de

transgreção de água, em geral, apresentando solo muito úmido, às vezes, com

escoamento superficial nos períodos de cheia.

No interior da “cordilheira” apresenta horizontes de matéria orgânica até a

profundidade, isto ocorre por dois motivos: 1º) é de haver uma vegetação arbórea

muito densa, assim, existe matéria orgânica em estado de decomposição depositada;

2º) é a relação com a topografia, pois estes locais não são atingidos pela cheia e o

material não é levado pelas águas. Os horizontes seguintes apresentam um

clareamento tendo a base da sua cor amarelada.

Gomes (2002) explica que essa camada mais arenosa, clara e friável são horizontes

com características de iluviação ou lavagem, assim é mais fácil a penetração de água

no solo sendo um grande fator para a organização dos solos já que esta pode levar a

processos físicos e químicos com o solo.

A água é um dos principais agentes causadores da diferenciação dos horizontes do

perfil. A movimentação da água através do solo provoca o arrastamento de partículas

ou de substancias nela dissolvidas, redistribuindo-se pelo perfil e provocando a

formação dos horizontes. (KIEHL, 1979. p.40)

Compreende-se assim a questão da diferenciação de cores que foram constatadas

durante a tradagem que em razão da solubilidade da água em percorrer o perfil até a

sua chegada ao lençol freático ela pode arrastar ou provocar eventos químicos que

modificam o solo.

Lepsch (2002) afirma que solos mal drenados são quase sempre mosqueados

variando de tonalidades de cinzas ou amarelo claro, principalmente onde é encontrado

o lençol freático no perfil. Observou-se também que nos locais tradados no campo e

no interior da “cordilheira” apresentaram manchas amareladas, possivelmente

relacionadas com o nível do freático em razão de processos de oxidação de ferro.

Kiehl (1979) afirma que a característica de freático próximo a superfície é típica de

regiões que sofrem inundações periódicas, o que cria condições de redução e de

Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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oxidação alternada. De acordo com o grau de oxidação e hidratação, os óxidos de

ferro, podem apresentar variações na cor do material que variam entre tonalidades

escuras: ocres, ferruginosas e verdes.

Amaral Filho (1984) ao comentar da profundidade e oscilação do lençol freático,

analisa o fenômeno de lavagem de sais no período de saída da água de inundação.

Sobre a oscilação do nível do freático no Pantanal Sul que, geralmente, ocorre a 1

metro de profundidade, é analisado que como não há grande escoamento lateral, a

tendência é a acumulação de sais provenientes das partes mais altas e havendo um

déficit hídrico, este lençol a pequenas profundidades e com sais em sua água freática

próxima ao processo ativo de evaporação, haverá a ascensão dos sais, assim

provocando salinidade dos solos, que em altos teores são altamente prejudiciais ao

desenvolvimento da vegetação.

Santos (2002) ao ressaltar a importância da dinâmica hídrica regional, constatou

que o ritmo de oscilação do freático no Pantanal da Nhecolândia, apresenta um

período de descarga entre maio até novembro seguindo-se de um período de recarga

de dezembro a abril. Essa dinâmica aciona a flutuação do freático possibilitando assim

os processos decorrentes da percolação da água no perfil.

Em razão de o freático ter sido encontrado em uma profundidade entre 140 a 160

cm, tanto no Campo/Cerrado como na borda da “cordilheira”, foi demonstrado como

está agindo nos perfis destes ambientes. No interior da cordilheira o relevo se

encontra em um patamar mais elevado e o lençol freático em profundidades maiores.

No Campo/Cerrado foi observado próximo do lençol freático, nódulos escuros

(Figura 7) de tamanho milimétrico a centimétrico, possivelmente em razão das

queimadas naturais ou não, que aconteceram no Pantanal em períodos passados,

acredita-se que esta matéria orgânica queimada se depositou no solo e com acumulo

de novas camadas de sedimentos estando em contato com a água e a pressão exercida

tenha sofrido um processo de petrificação, porém, para a melhor compreensão deste

material é necessário análises laboratoriais.

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Figura 7 – Nódulos escuros encontrados nos perfis do solo

Ao fazer a descrição do solo na região de borda da “cordilheira” se constatou a

chamada “camada verde” comum em ambientes salinos do Pantanal. Silva (2007) ao

relatar em sua dissertação sobre a ocorrência de uma camada de coloração

esverdeada e em profundidade próxima a região estudada, se referiu a “camada

verde”. Caracterizou com uma coloração 1 Gley 4/5G, descreveu com um alto teor de

umidade, possuindo uma textura média com indicativo de pegajosidade ao tato,

classificando como argilo-arenosa, estrutura fragmentária, agregados arredondados e

grumosos, tendo um grau de desenvolvimento moderado.

Ao observarmos a vegetação dos locais constatamos, como Adamóli (1987), que ao

comentar sobre a ausência ou presença de determinadas espécies numa região

associou a forte relação com o tipo de solo do local.

Observa-se que em razão da diferenciação da cobertura pedológica, associada a

níveis de oscilação do freático e a sua topografia, a vegetação ocorrerá de forma

diferente em cada unidade de paisagem estudada, havendo locais com maior ou

menor cobertura vegetal e a sua densidade. O Campo/Cerrado por possuir uma

vegetação mais esparsa tem uma maior interferência da água tanto do freático como

do período de cheia, possuindo características de lavagem de solo; a borda da

“cordilheira” por ser uma área de transição com a forte presença de sais apresenta

uma vegetação mais deficiente e rústica; o interior da “cordilheira” por estar em um

patamar topográfico mais elevado não sofrendo com as cheias, tem a ocorrência de

uma vegetação arbórea intensa, contando com a presença marcante de matéria

orgânica em decomposição em seus horizontes superficiais (Figura 9).

Silva (1986) demonstra que os micronutrientes se distinguem, pois a vegetação se

adapta de acordo com a umidade presente no solo.

Demonstra-se que nos locais onde foram realizadas as tradagens, possuem

diferenças quanto às características dos horizontes do solo e a vegetação

Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais

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principalmente, porém um grande fator verificado que modifica o solo em cada um

dos pontos descritos é a presença do lençol freático e do patamar topográfico, em

razão da presença de água no período de cheias.

Conclusões

O estudo evidencia a grande variabilidade de ambientes ou unidades de paisagem

no Pantanal em razão das características do solo e da vegetação associando-se ao nível

de oscilação do lençol freático. Nas amostragens de solo foram observadas relações

entre a morfologia do solo e oscilações do nível freatico que atua nos horizontes e

provocam alterações na morfologia do solo e consequentemente, diferenciação nas

unidades da paisagem, principalmente da vegetação.

Concluiu-se também que no solo da mata do interior da cordilheira apresentou os

horizontes superficiais até 50 cm mais escurecidos, com presença de matéria orgânica

da vegetação arbórea. O solo da área de Campo/Cerrado apresentou nos horizontes

superficiais um solo cinza amarelado, com pouca matéria orgânica, constituído de

vegetação esparsa, em virtude de ser uma área de inundação durante o período das

cheias. No ambiente da lagoa salina, no limite entre a gramínea e a mata da

cordilheira, o solo apresenta uma tonalidade de cinza clara, próprio de ambiente salino

e é constituída de vegetação arbustiva, na área de contato e em direção a parte mais

elevada da vertente é constituída de vegetação arbórea.

A metodologia utilizada se mostrou eficaz quanto a análise da cobertura vegetal

relacionada aos horizontes do perfil pedológico, mas salientando que é necessário

estudos climáticos e maiores informações pedológicas associadas a topografia que

devem ser realizados para contribuir no estudo de uma análise integrada da paisagem

pantaneira.

Concluímos que o Pantanal é um ambiente único e, portanto deve ser preservado

com as características naturais que ainda se encontram hoje presentes.

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Referência Bibliográfica

AB’SABER, A. N. O Pantanal Mato-grossense e a Teoria dos Refúgios. Revista Brasileira

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