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João Pessoa - PB, 26 a 29 de julho de 2015
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
ESTUDO DAS ELASTICIDADES-RENDA DO DISPÊNDIO E DO CONSUMO DE
FARINHA DE MANDIOCA NO BRASIL
Autor(es): Fábio Isaias Felipe
Filiação: Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea-Esalq/USP
E-mail: [email protected]
Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços
Resumo
O aumento da renda per capita provocou mudanças no padrão de consumo da população
brasileira nas últimas décadas. Diante disso houve alterações no dispêndio e quantidade
consumida de várias categorias de alimentos. Com base nos dados da última Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) para o período 2008/2009 este artigo analisa o dispêndio e
quantidade consumida de farinha de mandioca em função da renda através das elasticidades.
Os resultados indicaram que no Brasil e nas regiões as elasticidades foram negativas na
maioria dos casos, indicando que havendo incremento no rendimento médio per capita haverá
consequentemente diminuição no dispêndio e na quantidade de farinha de mandioca
consumida. Os resultados deste trabalho vão ao encontro de anteriores que já trataram o tema,
indicando que há diminuição no dispêndio e na quantidade de consumida de farinha de
mandioca conforme cresce a renda, o que reforça a tese de que o produto se enquadra na
categoria de bem inferior, conforme os pressupostos da microeconomia.
Palavras-chave: Elasticidades, farinha de mandioca, renda, dispêndio, consumo.
Abstract
The increase in per capita income caused changes in the consumption of the Brazilian
population in recent decades. Thus there were changes in the expenditure and quantity
consumed of various types of foods. Based on the data of the last Household Budget Survey
(POF) for the period 2008/2009 this article analyzes the expenditure and amount consumed
cassava flour depending on income through elasticities. The results indicated that in Brazil
and regions elasticities were negative in most cases, indicating that there is an increase in the
average per capita income will consequently decrease in expenditure and the amount of
cassava flour consumed. These results are in line with previous that have treated the subject,
indicating that there is a reduction in expenditure and the amount of cassava flour consumed
as income grows, which reinforces the view that the product falls into the category of well
lower as the assumptions of microeconomics.
Key words: Elasticities, cassava flour, income, expenditure, consumption
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1. Introdução
A mandioca é um produto amplamente cultivado nas regiões brasileiras, uma vez que
a raiz pode concomitantemente fazer parte da necessidade nutricional de parte da população e
matéria-prima para a agroindústria de farinha e amido (fécula de mandioca). Estudos revelam
que o consumo da fécula tende a aumentar como resultado do crescimento econômico, ao
passo em que neste cenário há diminuição no consumo da mandioca in natura e a farinha.
Vale também destacar que o consumo de farinha está ligado a aspectos culturais,
especialmente nas regiões Norte e Nordeste do país.
De acordo com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015), a quantidade de farinha de mandioca
adquirida em 2008 teve decréscimo de 31,3% na comparação com a pesquisa de 2002. No
entanto, não há dados que apontem em qualquer direção sobre o consumo de farofas semi-
prontas a base de mandioca. Pode-se primeiramente considerar que este cenário está
condicionado ao aumento da renda per capita no Brasil, especialmente nos últimos anos,
contudo, há outros fatores determinantes que devem ser considerados.
De acordo com Coelho et. al. (2009), por conta da urbanização, composição etária,
presença de mulheres na força de trabalho e outras mudanças estruturais influenciaram o total
do dispêndio com alimentos no Brasil. Os autores apontam ainda que estas mudanças também
são potencializadas pelo grau de instrução escolar e também por conta da renda per capita.
Para Moratoya et.al. (2013), os fatores que alteram os padrões no consumo de alimentos são a
urbanização, globalização e a renda. Diante disso, alguns trabalhos já apontam que a
diminuição no consumo de farinha de mandioca está totalmente atrelada ao aumento da renda
per capita no Brasil. Este artigo tem o objetivo de analisar as elasticidades-renda da demanda
pela farinha de mandioca no Brasil e nas cinco grandes regiões geográficas.
A farinha e a fécula são os principais derivados da mandioca destinados a alimentação
humana. No caso da farinha, o consumo está bastante ligado à aspectos culturais,
principalmente nos estados do Norte e Nordeste do Brasil. Por conta disso, naquelas regiões
há várias tipificações da farinha. Nos estados do Centro-Sul, a farinha de mandioca também
tem sua importância, contudo, esta vem diminuindo em detrimento do consumo por
conveniência, neste caso o consumo de farofas prontas. Outro fato a ser destacado é que o
aumento da renda per capita, aliado ao maior poder de compra também influenciaram em
queda no consumo de farinha. Após esta introdução será apresentada a revisão de literatura,
seguida pela metodologia na terceira seção. Para finalizar este trabalho, a na quarta seção
serão apresentados os resultados.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
Com o objetivo de analisar as perspectivas para o crescimento do produto e da renda
dos produtores de farinha de mandioca em função das variações na renda do consumidor, o
trabalho de Almeida e Ledo (2004) apontaram que não se pode esperar que estímulos de
preços produzam efeitos compensatórios sobre a quantidade demandada e renda do produtor
por conta da inelasticidade-preço da demanda do produto. Os resultados dos autores
apontaram que a farinha de mandioca é um bem de consumo inferior nas famílias com ganhos
superiores a 3 salários mínimos enquanto que para aquelas com ganhos de até 3 salários
mínimos é um bem de necessidade. Deste modo, concluíram que há poucas possibilidades
para a demanda crescer.
Com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) referente ao período
1995/1996, Silveira et. al. (2007) estimaram e elasticidade-renda para 36 produtos alimentares
em 11 regiões metropolitanas no Brasil. Segundo os autores, a maioria dos produtos se
apresentar como bens normais, sendo exceção a farinha de mandioca e o leite em pó (bens
inferiores). Regionalmente, a farinha de mandioca é considerada bem normal no Norte,
Nordeste e Distrito Federal, o que está atrelado a renda e fatores culturais.
Hoffmann (2010) estimou elasticidades-renda de várias categorias de despesa
(alimentação no domicílio, fora do domicílio, habitação, educação, transporte saúde etc.) e
para um número expressivo de alimentos. O autor calculou a despesa média para dez classes
de renda familiar per capita e uma função poligonal com três segmentos mostrando que o
logaritmo da despesa per capita média por classe varia em função do logaritmo renda per
capita.
Além disso, também foram estimadas elasticidades-renda do consumo físico de
alimentos, tendo como resultado que a farinha de mandioca se destacou por conta da
elasticidade-renda média fortemente negativa e também por ser negativa nos três segmentos
da poligonal ajustada.
3. METODOLOGIA
Primeiramente nesta seção apresentar-se-á as fontes de dados para a elaboração deste
trabalho, no caso a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente aos anos 2008/2009. Na segunda
subseção será apresentada a metodologia utilizada na elaboração deste artigo a qual é o
ajustamento de uma polinomial com dois vértices (três segmentos) que relacionam o
logaritmo da despesa per capita de farinha de mandioca e do consumo per capita com o
logaritmo do recebimento familiar também per capita.
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3.1. Fonte dos dados
Os dados utilizados nesta pesquisa são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF),
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o IBGE (2015), a
POF objetiva fornecer informações sobre a composição dos orçamentos domésticos, a partir
dos hábitos de consumo, da alocação de gastos e da distribuição dos rendimentos, segundo as
características dos domicílios e das pessoas. A POF considera ainda a autopercepção da
qualidade de vida e as características do perfil nutricional da população brasileira.
Na POF referente ao período 2008/2009 foram levantadas informações sobre as
quantidades de alimentos e bebidas adquiridas por domicílios no Brasil, estratificadas pelas
cinco grandes regiões, considerando o meio urbano e rural.
Segundo IBGE (2015), a metodologia para a pesquisa utilizou várias fontes de
consulta para a obtenção dos resultados, sendo: Tabela de Medidas Referidas para os
Alimentos Consumidos no Brasil e as Tabelas de Composição Nutricional dos Alimentos
Consumidos no Brasil, ambas decorrentes da POF 2008-2009, além de publicações técnico-
científicas.
3.2. Modelo econométrico
Para este se estimar as elasticidades-renda da despesa e consumo de farinha de
mandioca utilizou-se do modelo poligonal. Para Hoffmann (2000), por este modelo
econométrico é possível que a elasticidade-renda tenha variações em diferentes estratos de
despesas. Deste modo, para o cálculo das elasticidades foram utilizados valores médios de
dispêndio e de renda per capita para diferentes estratificações de renda. O modelo poligonal
tem sido bastante empregado para se estimar elasticidade-renda do dispêndio com alimentos
no Brasil, citando-se os trabalhos de Hoffmann e Furtuoso (1981), Martins (1998), Hoffmann
(2000), dentre outros. O modelo proposto por Hoffmann (2000) a ser ajustado pela poligonal
é apresentado na equação a seguir
uXZXY ihihih
hii
lnlnlnln
2
1
(1)
Considerando uma poligonal com três segmentos (dois vértices) θh refere-se a renda
per capita correspondente ao h-ésimo vértice da poligonal (com θ1<θ2) e Zhi é uma variável
binária tal que para Zhi=0 para Xi ≤ θh e Zhi=1 para Xi > θh e ui é o termo aleatório do modelo.
Os três segmentos da poligonal correspondem a três grandes estratos (I, II e III) que
serão delimitados por θ1 e θ2. No estrato I com X≤θ1 a elasticidade-renda é igual a β; no
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estrato II, com θ1<X≤θ2, a elasticidade-renda é igual a β+δ1; e no estrato III, com X>θ2, a
elasticidade é igual a β+δ1+δ2.
O limite entre dois estratos de recebimento per capita (θ1 ou θ2) é o limite entre duas
classes de recebimento familiar na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), dividido pela
média geométrica dos tamanhos médios das famílias nas duas classes mencionadas.
O coeficiente de determinação (R2) é a medida do ajustamento poligonal dos dados,
que pode variar entre 0 e 1. Sendo assim, quanto mais próximo de 1, melhor será o
ajustamento.
Segundo Hoffmann e Furtuoso (1981), em um sistema de eixos cartesianos ortogonais
onde se medem ln Xi no eixo das abscissas e lnYi no eixo das coordenadas, este modelo é
representado por uma poligonal com um segmento de reta representando cada um dos três
estratos, podendo então o modelo ser denominado de poligonal bilogarítimica ou log-log.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para uma melhor compreensão optou-se por dividir a apresentação dos resultados em
quatro subseções. Primeiramente se fez uma descrição da estrutura das famílias e o
recebimento médio no Brasil e nas cinco grandes regiões. Posteriormente será feita a
descrição das variações na quantidade adquirida e o dispêndio anual médio per capita de
farinha de mandioca. Na terceira subseção serão apresentados os resultados dos ajustamentos
das poligonais log-log relativos as despesas com farinha de mandioca com base na Pesquisa
de Orçamentos Familiares (POF) do período 2008/2009. Para finalizar serão apresentados os
resultados dos ajustamentos das poligonais referentes aos dados de consumo de farinha de
mandioca em igual período.
4.1. Distribuição do recebimento médio familiar no Brasil
Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) consideram o rendimento,
gastos e o consumo das famílias no Brasil, subdividido nas cinco grandes regiões (Norte,
Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). Além disso, os dados são subdivididos entre área
urbana e rural. Na POF referente ao período de 2008/2009 são consideradas sete classes de
rendimento e de dispêndio. As faixas de rendimento variam entre R$ 830 e R$ 10.375. O
número médio de famílias por sua vez foi de aproximadamente 57,8 milhões, com número
médio de 3,3 indivíduos por família.
Os dados da POF ilustram que o maior número de famílias – 16,97 milhões tem
rendimentos de R$ 1.772,54 com recebimento médio mensal per capita de R$ 524,42.
Também chamou a atenção no elevado número de famílias com recebimento de até R$ 830,00
e per capita de R$ 177,27. Foi menor o total de famílias com rendimento médio mensal acima
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de R$ 10.735, que foi de 2,2 milhões, tendo recebimento médio per capita mensal de R$
837,42. Importante é destacar que nestas famílias o recebimento médio foi de R$ 17.991,42.
As famílias que rendimento médio mensal entre R$ 4.150 e R$ 6.225 foram as que
tiveram maior número de indivíduos, 3,48. Nestas o recebimento médio per capita foi de R$
1.441,86 por indivíduo. O maior detalhamento sobre as classes de rendimentos, número de
famílias e de indivíduos é feito na Tabela 1.
Tabela 1. Número e tamanho médio das famílias, recebimento mensal familiar e recebimento per
capita em sete classes de rendimento mensal familiar para as áreas da POF de 2008/2009.
Classes de rendimento
(R$)
Número de
famílias
(1000)
Número médio de
indivíduos por
família
Recebimento mensal
(R$)
Por família Per capita
Até R$ 830 12.503 3,07 544,21 177,27
Mais de R$ 830 a R$ 1.245 10.069 3,18 1.034,06 325,18
Mais de R$ 1.245 a R$ 2.490 16.972 3,38 1.772,54 524,42
Mais de R$ 2.490 a R$ 4.150 8.890 3,42 3.175,93 928,63
Mais de R$ 4.150 a R$ 6.225 4.181 3,48 5.017,69 1.441,86
Mais de R$ 6.225 a R$ 10.375 2.995 3,47 7.875,76 2.269,67
Mais de R$ 10.375 2.205 3,30 17.991,42 5.451,95
Total 57.817 3,30 2.763,47 837,42 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015).
Os dados da POF mostraram que 44,1% das famílias se concentram no Sudeste, na
qual os rendimentos médio e per capita foram também os maiores, de R$ 3.348,24 e R$
1.066,38, respectivamente. Na região Nordeste também a concentração de famílias
representou 26,1% do total, com média de 3,55 indivíduos por família. No entanto, aquela
região teve a menor renda média – de R$ 1;764,62 – e também per capita de R$ 497,08.
No Sul, apesar de ter menor número de pessoas por família, concentrou 15,4% do total
de famílias, com rendimento médio familiar elevado – R$ 3.050,82 e per capita de R$ 984,14,
somente abaixo daquele do Sudeste.
O Centro-Oeste brasileiro concentrou na última POF um total de 7,6% das famílias, as
quais tiveram tamanho médio de 3,16 indivíduos. O rendimento médio familiar foi de R$
2.823,75 e per capita de R$ 893,59. Ainda que o tamanho médio das famílias tenha sido o
maior dentre todas as regiões, o Norte brasileiro concentrou 6,8% das famílias, estas com
rendimento médio mensal de R$ 2.092,32 e per capita de R$ 536,49 por pessoa. Os dados por
regiões são apresentados na Tabela 2.
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Tabela 2. Total de famílias e rendimento médio mensal para o Brasil e grandes regiões da POF
2008/2009.
Regiões
Famílias Tamanho médio
das
famílias
Rendimento familiar
(R$)
Total de
famílias
% sobre o
total Médio
Per
capita
Sudeste 25.491.789 44,1% 3,14 3.348,44 1.066,38
Nordeste 15.099.443 26,1% 3,55 1.764,62 497,08
Sul 8.898.449 15,4% 3,10 3.050,82 984,14
Centro-Oeste 4.377.084 7,6% 3,16 2.823,75 893,59
Norte 3.949.838 6,8% 3,90 2.092,32 536,49
Brasil 57.816.604 100,0% 3,30 2.763,47 837,42 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015).
4.2. Despesas com alimentação no Brasil
Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) referentes ao período
2008/2009 indicam que as despesas com alimentação representaram 16,9% do dispêndio total
e 19,8% das despesas com consumo pelas famílias no Brasil. Na área urbana o dispêndio
médio familiar com alimentação representou 15,3% dos rendimentos monetários e não-
monetários, enquanto que na área rural o dispêndio com alimentação era de 24,1% do total.
Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) referente ao período
2008/2009 indicam que as despesas com alimentação naquele período era de R$ 421,72 por
família. Deste total, R$ 290,39 era de alimentação no domicílio, sendo 68,9% do total. Outros
R$ 131,33 (31,1% do total) referiram-se a alimentação fora do domicílio.
Na área urbana as despesas totais com alimentação representaram R$ 437,45, sendo
que o dispêndio de R$ 292,76 (66,9% do total) refere-se a alimentação no domicílio, e R$
144,69 (33,1% do total) referentes ao consumo fora do domicílio. As despesas totais com
alimentação na área rural foram de R$ 336,48 na POF do período 2008/2009. Deste total, R$
277,53 (82,5% do total) foi de alimentação no domicílio enquanto que outros R$ 58,94
(17,5% do total) de alimentação fora do domicílio, dados que são apresentados na Tabela 4.
Tabela 3. Distribuição da despesa monetária e não-monetária média mensal familiar com alimentação
por localização do domicílio, segundo o tipo de despesa no Brasil no período 2008/2009.
Tipos de despesas Total Urbana Rural
Total
(R$)
% do
total
Total
(R$)
% do
total
Total
(R$)
% do
total
Alimentação no domicílio 290,39 68,9% 292,76 66,9% 277,53 82,5%
Alimentação fora do domicílio 131,33 31,1% 144,69 33,1% 58,94 17,5%
Despesas com alimentação 421,72 100,0% 437,45 100,0% 336,48 100,0% Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015).
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Na POF de 2008/2009 a aquisição alimentar domiciliar per capita de farinha de
mandioca foi e 5,33 kg, 31,4% menor que na POF 2002/2003, quando este foi de 7,77 por
pessoa. No meio rural o total adquirido passou de 20,76 kg per capita no período 2002/2003
para 13,97 kg por pessoa na POF de 2008/2009, diminuição de 32,7%. Na amostra urbana o
total adquirido caiu de 5,10 kg na POF de 2002/2003 para 3,56 kg por pessoa na pesquisa de
2008/2009, recuo de 30,2%.
No Brasil entre as POF´s de 2002/2003 e 2008/2009 as despesas com consumo de
alimentos teve crescimento de 38,7%. O crescimento mais expressivo no período se deu na
região Sul, de 44,7%, seguido pela região Norte (+43,1%), Centro-Oeste (+40,6%), Sudeste
(+39,8%) e Nordeste (+39,1%). O total do dispêndio com alimentação nas duas POF´s no
Brasil e por regiões é apresentado na Figura 1.
Figura 1. Despesas de consumo monetário e não-monetário médio mensal familiar com alimentação
nas POF´s de 2002/2003 e 2008/2009.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015).
4.3. Dispêndio e consumo de farinha de mandioca no Brasil
Na POF de 2008/2009 a aquisição alimentar domiciliar per capita de farinha de
mandioca foi e 5,33 kg, 31,4% menor que na POF 2002/2003, quando este foi de 7,77 por
pessoa. No meio rural o total adquirido passou de 20,76 kg per capita no período 2002/2003
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para 13,97 kg por pessoa na POF de 2008/2009, diminuição de 32,7%. Na amostra urbana o
total adquirido caiu de 5,10 kg na POF de 2002/2003 para 3,56 kg por pessoa na pesquisa de
2008/2009, recuo de 30,2% (Figura 2).
Figura 2. Aquisição per capita anual de farinha de mandioca no Brasil, subdividido em meio urbano e
rural nas Pesquisas de orçamentos Familiares de 2002/2003 e 2008/2009.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015).
Em ambas as POF´s o maior dispêndio de farinha de mandioca foi na região Norte do
Brasil, com 23,54 kg per capita anual, referente ao período 2008/2009, queda de 30,4% frente
à do período anterior. A queda mais expressiva ocorreu no Nordeste, de 36,9%, tendo o total
adquirido passado de 15,33 kg/habitante/ano na pesquisa de 2002/2003 para 9,67 quilogramas
per capita/ano na POF de 2008/2009. Na região Sul o total adquirido per capita na POF de
2008 foi de 0,81 kg – o menor dentre todas as regiões – tendo diminuição de 21,9% ante a
pesquisa do período 2002/2003. Na região Sudeste o total de farinha de mandioca adquirido
per capita na POF de 2008/2009 ficou em 1,17 kg, número 17,8% abaixo do apurado na
pesquisa anterior. No Centro-Oeste o total adquirido na POF de 2008/2009 foi de 1,29 kg,
baixando 5,4% na comparação com a pesquisa anterior, sendo o recuo menos expressivo.
Estes dados são detalhados na Tabela 4.
Os dados da POF apontam que o dispêndio com farinha de mandioca tem relação com
o nível de renda. Os grupos familiares com rendimento médio mensal de até R$ 830,00, têm
gastos de R$ 3,09 por mês com farinha de mandioca. O dispêndio médio mensal com farinha
de mandioca é decrescente até a faixa de rendimento entre R$ 6.225 a R$ 10.375, voltando a
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ter ligeiro crescimento nas famílias com rendimento médio mensal entre R$ 6.225 e R$
10.375, caindo posteriormente na faixa de renda seguinte (Figura 3).
Tabela 4. Aquisição alimentar domiciliar per capita anual de farinha de mandioca nas regiões
brasileiras em 2002 e 2008.
Regiões Aquisição per capita
em 2002 (kg/ano)
Aquisição per capita
em 2008 (kg/ano)
Variação
(%)
Nordeste 15,33 9,67 -36,9%
Norte 33,83 23,54 -30,4%
Sul 1,04 0,81 -21,9%
Sudeste 1,43 1,17 -17,8%
Centro-Oeste 1,36 1,29 -5,4%
Brasil 7,77 5,33 -31,4% Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015).
Figura 3. Despesa monetária e não-monetária média mensal familiar com farinha de mandioca na POF
de 2008/2009
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2015).
Em relação a aquisição de alimentos no Brasil, a POF considera seis faixas de renda,
que são: até R$ 830, entre R$ 830 e R$ 1.245, entre R$ 1.245 e R$ 2.490, entre R$ 2.490 e R$
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4.150, entre R$ 4.140 e R$ 6.225 e acima de R$ 6.225. Quanto ao comportamento do
consumo per capita anual em quilogramas, se nota similaridade em relação ao dispêndio,
como se observa na Figura 4.
Figura 4. Aquisição domiciliar per capita anual de farinha de mandioca por classes de rendimento total
e variação patrimonial mensal familiar.
4.4. Elasticidade-renda do dispêndio para a farinha de mandioca
Os resultados obtidos no ajustamento das poligonais por meio dos dados a POF
2008/2009 serão mostrados para as cinco regiões e para o Brasil nesta subseção. Na Tabela 5
estão dispostas as seguintes informações: esquema de agrupamento considerando as 7 classes
de rendimento, coeficiente de determinação (R2), elasticidades em três estratos e elasticidade
média.
Exceto para a região Sudeste, para as demais, os coeficientes de determinação foram
superiores a 0,95. Para o Brasil o mesmo ficou em 0,990, o que justifica que a renda é
variável explicativa para 99% do dispêndio com farinha de mandioca. A região Norte teve
elasticidades decrescentes em todos os estratos, ficando no terceiro em -0,754. No Nordeste
este comportamento foi bastante semelhante, ficando o mesmo decrescente em todos os
estratos. A região Centro-Oeste teve diminuição do primeiro para o segundo estrato e
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voltando a crescer no terceiro, que ficou em 1,003. No Sudeste e Sul houve um crescimento
do primeiro para o segundo estrato, voltando a cair posteriormente no último estrato.
Tabela 5. Coeficientes de elasticidade-renda da despesa per capita com farinha de mandioca, obtidos
pelo ajustamento poligonal (log-log) pela POF 2008/2009.
Regiões Esquema de
agrupamento R
2
Elasticidade no estrato Elasticidade
Média I II III
Norte 3-3-1 1,000 -0,009 -0,398 -0,754 -0,387
Nordeste 4-1-2 0,977 0,026 -1,476 -0,254 -0,568
Centro-Oeste 2-2-3 0,990 0,594 -0,522 1,003 0,358
Sudeste 5-1-1 0,894 -0,475 1,035 -0,871 -0,103
Sul 4-2-1 0,957 -0,334 1,292 -1,668 -0,237
Brasil 3-2-2 0,990 -0,394 -0,798 -0,178 -0,457 Fonte: Resultados da pesquisa
A elasticidade-renda média da despesa com farinha de mandioca teve média de -0,457
para o Brasil, indicando que um acréscimo de 1% na renda implicaria em diminuição de
0,457% no dispêndio com o produto. A queda mais expressiva em termos de elasticidade-
renda média foi calculada para o Nordeste, que ficou em -0,568. Para o Norte a elasticidade
média ficou em -0,387, seguido pelo Sul com -0,237 e Sudeste com -0,103. Apenas para o
Centro-Oeste a elasticidade-renda média ficou positiva (0,358), o que indica que um aumento
de 1% na renda haverá um aumento de 0,358% nos gastos com farinha de mandioca.
4.4. Elasticidade-renda do consumo para a farinha de mandioca
A partir desta subseção passam a ser apresentados os resultados referentes as
elasticidades-renda par ao consumo da farinha de mandioca no Brasil. Importante novamente
ressaltar que as classes de rendimento agora são seis, enquanto que para o dispêndio eram
sete. As informações contidas na Tabela 6 são: esquema de agrupamento, coeficiente de
determinação (R2), elasticidades por estrato e elasticidade média, sendo que a escolha do
esquema de agrupamento se seu através do mais alto coeficiente de determinação.
Para o Brasil, o coeficiente de determinação também foi elevado (0,999), o que
também justifica que a renda influenciar diretamente o total consumido de farinha de
mandioca. Assim, tem-se que um aumento de 1% na renda implicaria em decréscimo de
0,576% na quantidade de farinha de mandioca consumida per capita.
No Nordeste do Brasil, houve aumento do primeiro para o segundo estrado e caiu no
terceiro de forma mais significativa, ficando a elasticidade média em -0,476 para aquela
região. A região Norte, que teve o mais elevado coeficiente de determinação (1,000), teve
comportamento similar quanto ao comportamento das elasticidades nos estratos, ficando a
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média da elasticidade em -0,284. Por fim, a região Sul teve elasticidade crescente ao longo
dos estratos e a média ficou em -0,180.
Tabela 6. Coeficientes de elasticidade-renda do consumo per capita para a farinha de mandioca com
base no ajustamento poligonal (log-log) pela POF 2008/2009.
Regiões Esquema de
agrupamento R
2
Elasticidade no estrato Elasticidade
média I II III
Norte 2-3-1 1,000 -0,228 -0,078 -0,548 -0,284
Nordeste 4-1-1 0,984 -0,004 -0,244 -1,181 -0,476
Centro-Oeste 2-2-2 0,943 0,023 -0,723 1,367 0,222
Sudeste 2-1-3 0,974 0,224 0,014 0,153 0,130
Sul 2-2-2 0,859 -1,141 -0,363 0,964 -0,180
Brasil 3-2-1 0,999 -0,489 -0,957 -0,282 -0,576 Fonte: Resultados da pesquisa
Ainda que tenha diminuído do primeiro para o segundo estrato, houve aumento para o
terceiro e na região Centro-Oeste a elasticidade-renda média para o consumo foi de 0,222, o
que aponta que havendo aumento na renda, a quantidade consumida também será maior. No
Sudeste, ainda que tenha caído do primeiro para o segundo estrato, todos foram positivos e a
média ficou em 0,130, também indicando que com possível aumento da renda poderá haver
crescimento na quantidade consumida.
Considerações finais
Buscou-se através deste trabalho, por meio das Pesquisas de Orçamentos Familiares
(POF), analisar o efeito do aumento da renda sobre o dispêndio e total de farinha consumido
no Brasil e nas cinco grandes regiões. Tanto os o coeficiente de elasticidade-renda do
dispêndio quanto para o consumo, foram negativos na maioria dos casos, havendo indicativos
que a renda de fato tem influência no consumo de farinha de mandioca no Brasil.
Os resultados deste trabalho vão ao encontro de anteriores que já trataram o tema,
indicando que de fato há diminuição no dispêndio e na quantidade de consumida de farinha de
mandioca conforme cresce a renda, o que reforça a tese de que o produto se enquadra na
categoria de bem inferior, conforme os pressupostos da microeconomia.
Importante ressaltar que a farinha de mandioca ainda tem seu consumo determinado
por fatores culturais, ao passo em que nos grandes centros urbanos já é notável a diminuição
no consumo. Contudo, se faz necessário dados adicionais para o consumo de alimentos por
comodidade, caso das farofas semi-prontas que têm a farinha de mandioca como matéria-
prima básica. Além disso, há necessidade de uma nova POF que aponte as mudanças nos
padrões de consumo da população nos anos recentes.
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