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1 Estudo de Caso: A Acessibilidade de Portadores de Deficiência no Edifício Celso Haddad. Alzira Raquel Akel Beniz Lima 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia 2 [email protected] Pós-graduação em Ergonomia Faculdade Ávila Resumo Este artigo pretende focalizar nossas atenções em um objeto de estudo bem específico e delimitado: Pretendemos investigar as condições de acessibilidade existentes no prédio Edifício Celso Haddad, utilizado pela Amazonas Energia. A edificação em questão abriga uma série de empresas que atuam nas mais diferentes áreas. No entanto, nosso foco será apenas a área utilizada pela empresa Amazonas Energia. Utilizaremos como metodologia básica a observação direta, mediante análise técnica das condições de acessibilidade das dependências do edifício citado, visualizando as adequações e inadequações daquela realidade com as normas legais que estabelecem os critérios gerais a serem avaliados. Registraremos os potenciais problemas e discordâncias com as normas técnicas em fotografias que serão inseridas no corpo da pesquisa para melhor visualização da realidade em questão. Como não poderia ser diferente, utilizaremos também pesquisa bibliográfica com o objetivo de conhecer o conteúdo destas normas e quais os critérios utilizados pela legislação para definir as condições de acessibilidade das pessoas com necessidades especiais. A bibliografia também é importante para realizarmos a fundamental discussão conceitual e teórica sobre o que seria essa “acessibilidade” e quais as condições efetivas para sua efetivação. Pretendemos, portanto, responder às seguintes perguntas: Estão as dependências daquele prédio adequadas para o recebimento de pessoas com necessidades especiais? Os deficientes físicos possuem acesso facilitado de acordo com as normas legais estabelecidas? Quais os possíveis pontos críticos daquele prédio em se tratando de acessibilidade? Palavras-chave: Acessibilidade; Portador de Deficiência; Edificação. 1. Introdução Iniciamos nossas considerações com uma breve reflexão histórica: Até tempos relativamente recentes, o Brasil foi palco de inúmeros governos autoritários, golpes de Estado e ditaduras militares. A tradição autoritária brasileira deita suas raízes no passado mais longínquo e se manifesta nos diversos mandonismos e na exclusão social. O autoritarismo na esfera política- institucional era um sintoma e ao mesmo tempo um reflexo de uma sociedade profundamente hierarquizada e preconceituosa, cuja cultura anti-democrática se revelava também nas mais diversas esferas sociais e instâncias de poder: as igrejas, escolas, empresas, hospitais, prisões, etc. Essa sociedade não via problemas em erguer um modelo ideal rígido no qual as pessoas deveriam se enquadrar: o do homem branco, católico, bem sucedido, heterossexual, etc. Diferenças e dissonâncias em relação a esse padrão eram encaradas como desvios absurdos, 1 Pós-graduanda em Ergonomia pela Faculdade Ávila. 2 Orientadora: Graduado em Fisioterapia, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, mestrando em Aspectos Bioéticos e Jurídicos da Saúde.

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Estudo de Caso: A Acessibilidade de Portadores de Deficiência no

Edifício Celso Haddad.

Alzira Raquel Akel Beniz Lima1

[email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia2

[email protected] Pós-graduação em Ergonomia – Faculdade Ávila

Resumo

Este artigo pretende focalizar nossas atenções em um objeto de estudo bem específico e

delimitado: Pretendemos investigar as condições de acessibilidade existentes no prédio

Edifício Celso Haddad, utilizado pela Amazonas Energia. A edificação em questão abriga

uma série de empresas que atuam nas mais diferentes áreas. No entanto, nosso foco será

apenas a área utilizada pela empresa Amazonas Energia. Utilizaremos como metodologia

básica a observação direta, mediante análise técnica das condições de acessibilidade das

dependências do edifício citado, visualizando as adequações e inadequações daquela

realidade com as normas legais que estabelecem os critérios gerais a serem avaliados.

Registraremos os potenciais problemas e discordâncias com as normas técnicas em

fotografias que serão inseridas no corpo da pesquisa para melhor visualização da realidade

em questão. Como não poderia ser diferente, utilizaremos também pesquisa bibliográfica

com o objetivo de conhecer o conteúdo destas normas e quais os critérios utilizados pela

legislação para definir as condições de acessibilidade das pessoas com necessidades

especiais. A bibliografia também é importante para realizarmos a fundamental discussão

conceitual e teórica sobre o que seria essa “acessibilidade” e quais as condições efetivas

para sua efetivação. Pretendemos, portanto, responder às seguintes perguntas: Estão as

dependências daquele prédio adequadas para o recebimento de pessoas com necessidades

especiais? Os deficientes físicos possuem acesso facilitado de acordo com as normas legais

estabelecidas? Quais os possíveis pontos críticos daquele prédio em se tratando de

acessibilidade?

Palavras-chave: Acessibilidade; Portador de Deficiência; Edificação.

1. Introdução

Iniciamos nossas considerações com uma breve reflexão histórica: Até tempos relativamente

recentes, o Brasil foi palco de inúmeros governos autoritários, golpes de Estado e ditaduras

militares. A tradição autoritária brasileira deita suas raízes no passado mais longínquo e se

manifesta nos diversos mandonismos e na exclusão social. O autoritarismo na esfera política-

institucional era um sintoma e ao mesmo tempo um reflexo de uma sociedade profundamente

hierarquizada e preconceituosa, cuja cultura anti-democrática se revelava também nas mais

diversas esferas sociais e instâncias de poder: as igrejas, escolas, empresas, hospitais, prisões,

etc. Essa sociedade não via problemas em erguer um modelo ideal rígido no qual as pessoas

deveriam se enquadrar: o do homem branco, católico, bem sucedido, heterossexual, etc.

Diferenças e dissonâncias em relação a esse padrão eram encaradas como desvios absurdos,

1 Pós-graduanda em Ergonomia pela Faculdade Ávila.

2 Orientadora: Graduado em Fisioterapia, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, mestrando em

Aspectos Bioéticos e Jurídicos da Saúde.

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diabólicos, aberrantes. Nessa sociedade, a transgressão é loucura, e as deficiências humanas

são pensadas como limitações absolutas, não como desafios a serem superados. Ao portador

de necessidades especiais, bastariam o silêncio do desemprego e da exclusão e a dor implícita

nos olhares de compaixão dos transeuntes atarefados. Vistos como incapazes, os portadores

de necessidades especiais eram vistos naquela sociedade, mais ou menos como párias, dignos

na melhor das hipóteses de pena e comiseração. O mundo urbano, profissional, escolar,

acadêmico, eclesiástico fora construído por pessoas que não sabiam ou não se importavam

com suas dores, anseios, angústias e aflições, e desconheciam profundamente as

potencialidades e virtudes daquelas pessoas vistas como “estranhas” ou simplesmente

diferentes. O olhar autoritário, fruto da nossa herança histórica secular, havia ensinado a ver a

diferença (qualquer diferença) como uma ameaça aos padrões idealizados e à estabilidade

social. Conforme Luciane Carniel Wagner:

“Pessoas com deficiência (PCD’s) enfrentam comumente limitações em sua vida

diária. Essas limitações estão intimamente relacionadas a problemas de

acessibilidade, ou seja, às condições que permitam o exercício da autonomia e a

participação social do sujeito, podendo interferir ou prejudicar no seu

desenvolvimento ocupacional, cognitivo e psicológico, contribuindo para a sua

exclusão social” (WAGNER, 2010)

Naquele mundo, não havia lugar para eles...

Quase 30 anos se passaram desde que os militares “voltaram aos quartéis”, as liberdades e

direitos civis foram restabelecidos e a sociedade brasileira caminha a passos largos para a

construção de um Estado Democrático de Direito. Obviamente, os séculos de tradição

autoritária não puderam ser simplesmente suprimidos com uma simples mudança

institucional. “A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro

dos vivos” já dizia um velho pensador alemão chamado Karl Marx. A democracia em nosso

país, ainda é um processo incipiente, ainda caminhou cambaleante em alguns momentos, mas

parece se consolidar como um fenômeno inovador. Mas, a democracia se aprende

processualmente, através de um lento, tortuoso, ambíguo e contraditório processo de longa

duração. Engana-se quem pensa que a democracia se traduz unicamente na expressão absoluta

da vontade e dos desejos das maiorias. Ao lado disso, a proteção às minorias e sua inclusão

social são tão importantes para a construção de uma cultura democrática como as eleições

livres ou a liberdade partidária. A Constituição Federal de 1988 reconhece a necessidade de

integração das minorias historicamente excluídas, incluindo é claro, os portadores de

necessidades especiais. Aos poucos, as pessoas foram percebendo que os chamados

“deficientes físicos” são tão inteligentes, aptos, produtivos ou competentes como qualquer

outra pessoa, desde que atendidas suas necessidades logísticas e operacionais especiais.

Caberia então ao Estado que se pretende democrático e inclusivo, criar ou estimular a criação

de condições objetivas para que os deficientes possam interagir, trabalhar, se deslocar, enfim,

viver com dignidade, tendo respeitadas suas condições de cidadania.

“O direito à acessibilidade de pessoas com deficiência se fundamenta nos direitos

humanos e de cidadania,sendo regulamentado, no Brasil, pela Norma Brasileira

9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/NBR, 2004). É um

direito universal, solidificado no direito constitucional de igualdade, representando

uma concretização dos objetivos e princípios traçados por Constituições,

Declarações e Conferências de vários estados e nações, incluindo o Estado

Brasileiro e a Constituição de 1988. Esta igualdade não deve ser compreendida em

um sentido de igualdade formal, mas como uma isonomia de oportunidades sociais,

acesso a trabalho, educação e lazer” (CANOTILHO, 2000).

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Mesmo um olhar baseado na simplicidade do senso comum percebe a grande inadequação em

que se encontra a maior parte das cidades brasileiras em termos de adequação às normas

vigentes em termos de acessibilidade. Não obstante isso, podemos perceber que importantes

melhorias ocorreram nos últimos anos, principalmente em termos de melhor fiscalização

policial dos direitos e prerrogativas dos deficientes físicos.

2. Objetivos

Iremos focalizar nossas atenções em um objeto de estudo bem específico e delimitado:

Pretendemos investigar as condições de acessibilidade existentes no prédio utilizado pela

Eletrobrás Amazonas Energia para os portadores de necessidades especiais, quanto ao simples

direito de ir e vir e permanecer. A edificação em questão abriga uma série de empresas que

atuam nas mais diferentes áreas.

Pretendemos, portanto, responder às seguintes perguntas: Estão as dependências daquele

prédio adequadas para o recebimento de pessoas com necessidades especiais? Os deficientes

físicos possuem acesso facilitado de acordo com as normas legais estabelecidas? Quais os

possíveis pontos críticos daquele prédio em se tratando de acessibilidade?

O presente trabalho se justifica na medida em que como vimos anteriormente, a inclusão

social das pessoas com alguma deficiência é um dos objetivos centrais de uma sociedade

democrática. E o primeiro passo para atenuar os obstáculos reais inibidores da acessibilidade

destas pessoas é a visualização científica do problema a ser enfrentado. Ou seja, uma reflexão

sobre a realidade que as pessoas com necessidades especiais enfrentam em sua cotidiana luta

por inserção social na coletividade e no mercado de trabalho.

3. Uma breve reflexão teórica e conceitual.

Como vimos, a reflexão conceitual em torno da inserção social e profissional das pessoas com

necessidades especiais é historicamente recente e de aplicação prática ainda insuficiente nos

dias atuais. A questão passou a ser mais bem visualizada e discutida principalmente a partir

dos anos 1940 do século XX e isso não ocorreu por acaso. Sabemos que o século passado fora

um período de grandes inovações tecnológicas e melhorias concretas nos índices de qualidade

de vida e desenvolvimento humano, mas também foi um período de catástrofes, guerras,

genocídios e violências de massa em escala nunca antes vista na história humana (REIS

FILHO, 2000). A tecnologia passou a ser cada vez mais aplicada também no setor bélico,

passando a ser possível arrasar cidades inteiras com um simples apertar de botões. A morte de

pessoas foi revestida de um perfil impessoal, trazendo o fenômeno perturbador da

“banalização do mal” como chamou uma famosa filósofa alemã (ARENDT, 1999). As

grandes guerras do século XX tornaram o fenômeno das pessoas com inúmeras deficiências

físicas e psicológicas um problema de massa que passou a ser uma realidade para todos os

países envolvidos no conflito, seja do lado vencedor ou do perdedor. Como reinserir pessoas

arrasadas física e psicologicamente na monótona rotina da vida civil após tantos traumas e

privações? Essas pessoas não poderiam ser simplesmente ignoradas ou desprezadas, pois além

do reconhecimento social pelo seu esforço, havia após a Segunda Grande Guerra toda uma

atmosfera política favorável aos valores democráticos e inclusivos. Afinal, não fora aquela

guerra travada em nome da democracia e sua carnificina justificada como uma luta contra a

“tirania” e a “opressão”? (HOBSBAWM, 2000). Lembrando que os nazistas chegaram a

eliminar doentes mentais, deficientes físicos ou pessoas consideradas portadoras de algum

mal incurável e hereditário. Tudo isso sob a justificação As inúmeras declarações de

princípios que iriam reger as relações internacionais a partir dali, incluindo as declarações

sobre os direitos humanos, desautorizavam a prática de simplesmente ignorar e excluir

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aqueles imensos contingentes de pessoas desfiguradas pelo conflito. Foi assim que a reflexão

e a ação concreta sobre a questão da acessibilidade dos portadores de deficiência física passou

a ganhar maior consistência.

“O termo acessibilidade, historicamente, tem sua origem na década dos quarenta,

para designar a condição de acesso das pessoas com deficiência vinculada ao

surgimento dos serviços de reabilitação física e profissional. Inicialmente era

descrita como condição de mobilidade e eliminação das barreiras arquitetônicas e

urbanísticas, numa clara alusão às condições de acesso a edifícios e meios de

transporte”. (ARAÚJO ET AL, 2009)

Podemos dizer assim que este conceito se ampliou profundamente e, atualmente, a

acessibilidade configura-se como um paradigma da inclusão, entendo-se que as barreiras são

mais complexas e vão além da questão mobilidade. Não foi, portanto, por coincidência que

justamente no período após as duas guerras mundiais que a reflexão e a prática sobre a

questão da acessibilidade passaram a ficar em evidência. A catástrofe humanitária ensejou

uma profunda reflexão sobre as formas de inserção das pessoas com necessidades especiais no

ambiente social e profissional. “A consideração do termo acessibilidade não poderá ser ditada

por meras razões da solidariedade, mas, sobretudo, por uma concepção de sociedade

realmente, onde todos deverão participar, com direito de igualdade, e de acordo com as suas

características próprias” (CONDORCET, 2006).

A acessibilidade está, portanto, profundamente relacionada com a dignidade da pessoa

humana, com sua inserção no convívio social de forma autônoma e independente. Um

convívio livre de barreiras e limitações que o excluam da zona marginal da sociedade nas

quais seus direitos e anseios mais simplórios são mitigados ou até mesmo ignorados.

De forma mais simples, a acessibilidade pode ser entendida como aquilo que se tem acesso de

forma fácil e inteligível. Um outro conceito interessante dado por Tavares Filho, conceituando

como sendo a possibilidade e condição de alcance para a utilização, com segurança e

autonomia dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes

e dos sistemas e meios de comunicação pelos portadores de deficiência ou com mobilidade

reduzida. (TAVARES FILHO, 2002).

Conforme o art. 8o inciso I do decreto n

o 5.926 de 2 de dezembro de 2004, considera-se a

acessibilidade como sendo “condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou

assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de

transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa

portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.”

Segundo a convenção de 24 de julho de 2008 das Organização das Nações Unidas – ONU,

tratando sobre os direitos das pessoas com deficiência, expressa em seu art. 9 o objetivo de

possibilitar às pessoas com deficiência que vivam com autonomia e participem plenamente de

todos os aspectos da vida. Informando ainda, que os Estados Partes deverão tomar as medidas

apropriadas para assegurar-lhes o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais

pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e

tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos

ou propiciados ao público, tanto na zona urbana como na rural.

Estas medidas, que deverão incluir a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras à

acessibilidade, deverão ser aplicadas, entre outros, a todos os que possuem alguma limitação

em sua condição motora, física ou intelectual. Ainda segundo a ONU, a definição de

acessibilidade é o processo de conseguir a igualdade de oportunidades em todas as esferas da

sociedade. A acessibilidade tem como escopo primário permitir que pessoas com alguma

limitação seja ela física, mental, auditiva ou visual, permanente ou temporária saiam da

situação de vulnerabilidade social e adentrem na sociedade com todos os direitos que lhes são

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assegurados pelo ordenamento jurídico desse país.

Lembrando ainda que a acessibilidade não se restringe apenas ao espaço físico ou à dimensão

arquitetônica de uma construção. Há um conjunto de fatores imprescindíveis para a adequada

inserção das pessoas em um convívio social mais democrático. Para Romeu Sassaki, o

conceito de acessibilidade deve ser dividido em seis dimensões: arquitetônica,

comunicacional, metodológica, instrumental, programática e atitudinal, mostrando que todas

essas dimensões são importantes. “Se faltar uma, compromete as outras”(SASSAKI, 2004).

4. Metodologia

Utilizaremos como metodologia básica a observação direta, mediante análise técnica das

condições de acessibilidade das dependências do edifício citado, visualizando as adequações e

inadequações daquela realidade com as normas legais que estabelecem os critérios gerais a

serem avaliados. No que se refere ao estudo, serão analisados garagem até o terceiro andar,

dependências que são utilizadas pela empresa Eletrobrás Amazonas Energia. Registraremos

os potenciais problemas e discordâncias com as normas técnicas em fotografias que serão

inseridas no corpo da pesquisa para melhor visualização da realidade em questão. Como não

poderia ser diferente, utilizaremos também pesquisa bibliográfica com o objetivo de conhecer

o conteúdo destas normas e quais os critérios utilizados pela legislação para definir as

condições de acessibilidade das pessoas com necessidades especiais. A bibliografia também é

importante para realizarmos a fundamental discussão conceitual e teórica sobre o que seria

essa “acessibilidade” e quais as condições efetivas para sua adequação.

4. A legislação referente à acessibilidade

A lei 10098 de 19 de dezembro de 2000 estabelece de maneira bastante objetiva quais são os

critérios considerados para garantir a acessibilidade e a integração dos portadores de

necessidades especiais e pessoas com mobilidade reduzida. Interessa-nos com mais atenção

especificamente os artigos 11, 13, 14 e 15 da lei em questão. O primeiro estabelece os

critérios de acessibilidade em prédios públicos ou “de uso coletivo”, situação em que se

enquadra o edifício em questão, já que o prédio abriga empresas públicas e permite o acesso

de pessoas que irão tratar de interesses pessoais. Já os demais artigos tratam da mesma

questão em edifícios privados A definição dada pelo inciso VI da lei 5296 corrobora essa

classificação. Vejamos primeiramente o que nos diz o artigo 11:

“Art. 11. A construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados

destinados ao uso coletivo deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem

acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, na construção, ampliação ou

reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser

observados, pelo menos, os seguintes requisitos de acessibilidade:

I – nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a

estacionamento de uso público, deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos

de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem

pessoas portadoras de deficiência com dificuldade de locomoção permanente;

II – pelo menos um dos acessos ao interior da edificação deverá estar livre de

barreiras arquitetônicas e de obstáculos que impeçam ou dificultem a acessibilidade

de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;

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III – pelo menos um dos itinerários que comuniquem horizontal e verticalmente

todas as dependências e serviços do edifício, entre si e com o exterior, deverá

cumprir os requisitos de acessibilidade de que trata esta Lei; e

IV – os edifícios deverão dispor, pelo menos, de um banheiro acessível,

distribuindo-se seus equipamentos e acessórios de maneira que possam ser utilizados

por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.” (Redação dada

pelo Decreto nº 5.296, de 2004).

Vejamos agora o que nos dizem os artigos 13, 14 e 15:

“Art. 13. Os edifícios de uso privado em que seja obrigatória a instalação de

elevadores deverão ser construídos atendendo aos seguintes requisitos mínimos de

acessibilidade:

I – percurso acessível que una as unidades habitacionais com o exterior e com as

dependências de uso comum;

II – percurso acessível que una a edificação à via pública, às edificações e aos

serviços anexos de uso comum e aos edifícios vizinhos;

III – cabine do elevador e respectiva porta de entrada acessíveis para pessoas

portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Art. 14. Os edifícios a serem construídos com mais de um pavimento além do

pavimento de acesso, à exceção das habitações unifamiliares, e que não estejam

obrigados à instalação de elevador, deverão dispor de especificações técnicas e de

projeto que facilitem a instalação de um elevador adaptado, devendo os demais

elementos de uso comum destes edifícios atender aos requisitos de acessibilidade.

Art. 15. Caberá ao órgão federal responsável pela coordenação da política

habitacional regulamentar a reserva de um percentual mínimo do total das

habitações, conforme a característica da população local, para o atendimento da

demanda de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.”

Já a lei 5.296 de 02 de dezembro de 2004 regulamentou a legislação anterior, estabelecendo

critérios e parâmetros mais específicos. O art. 22 § 4o afirma que nas edificações de uso

coletivo já existentes, onde haja banheiros destinados ao uso público, os sanitários preparados

para o uso por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida deverão estar

localizados nos pavimentos acessíveis, ter entrada independente dos demais sanitários, se

houver, e obedecer as normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

Quanto aos estacionamentos, a lei supra em seu art. 25 explicita sobre a importância de serem

reservadas pelo menos 2% das vagas para veículos que transportem pessoas portadoras de

deficiência física ou visual, assegurando, no mínimo, uma vaga, próxima a entrada principal

ou próximo ao elevador para transporte facilitado dos portadores de deficiência.

Segundo a ABNT, o número de vagas para estacionamento de veículos que conduzam ou

sejam conduzidos por pessoas com deficiência deve ser estabelecido conforme tabela abaixo.

Número Total de vagas Vagas Reservadas

Até 10 -

De 11 a 100 1

Acima de 100 1%

Tabela 01. Reserva de vagas em garagem para portador de deficiência, conforme ABNT

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No art. 26, fala da obrigatoriedade da sinalização visual e tátil para os deficientes visuais e

auditivos, a fim de orientá-los no local, conforme segue abaixo:

Art. 26. Nas edificações de uso público ou de uso coletivo, é obrigatória a

existência de sinalização visual e tátil para orientação de pessoas portadoras de

deficiência auditiva e visual, em conformidade com as normas técnicas de

acessibilidade da ABNT.

No entanto, quem seria o portador de deficiência?

Conforme o art. 4 do Decreto 3298 de 20 de dezembro de 1999, que regulamenta a lei

7852/89, conceitua: “Art. 4

o É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas

seguintes categorias:

I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do

corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se

sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,

tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou

ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade

congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam

dificuldades para o desempenho de funções; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296,

de 2004)

II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis

(dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz

e 3.000Hz; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)

III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que

0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa

acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os

casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual

ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;

(Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)”.

5. Resultados e Discussão

5.1 Entre o “real” e o “ideal”: as condições de acessibilidade do prédio.

Podemos observar nas imagens abaixo o desnível para passagem de cadeirantes. O problema é

que o local está sem a sinalização adequada no piso ou através de placas. Para piorar a

situação, o local se encontra obstruído pelo carro estacionado na fig. 1.

Observamos na figura 3 a porta de acesso principal para o prédio. Outra forma de entrar no

prédio é através da garagem onde existe uma escada e um elevador. A porta não possui

qualquer sinalização para o portador de deficiência, apenas uma rampa móvel que não

compreende toda a área de entrada do prédio podendo ocasionar queda do desnível para o

cadeirante em uma manobra irregular ocasional. Além disso, podemos observar que uma das

portas costuma ficar fechada com um ferrolho prejudicando que o cadeirante possa entrar de

maneira livre e sem obstáculos.

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Fonte: (LIMA, 2013)

Fig.1. Desnível na calçada para o cadeirante, sem sinalização.

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 2 Desnível na calçada para acesso do cadeirante.

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 3 - Entrada do prédio

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Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 4 - Entrada de acesso à garagem

Visualizamos na figura 5, o corredor principal. As paredes estão limpas e livres de

sinalização. A pequena bancada é a recepção. Não existe sinalização no chão (piso tátil) para

o deficiente visual que pode esbarrar na própria bancada da recepção.

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 5. Corredor de entrada no térreo

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 6. Bancada de Recepção

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Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 7. Bancada de Recepção

Em seguida, existe um elevador. Como podemos ver nas figuras 7 a 9, o elevador em questão

não possui sinalização no piso (piso tátil), na parede não possui dispositivo em Braille ou

placas de identificação para os deficientes visuais (fig. 05). Para complicar um pouco mais as

coisas, no centro do piso do elevador há simplesmente um inexplicável buraco não vedado,

que obviamente representa um risco real não apenas para os portadores de necessidades

especiais. As paredes do elevador são metálicas e uma camada dessa parede empenou e teve

que ser retirada como mostrada abaixo. Esse é o único elevador existente no prédio que se

inicia no subsolo (garagem) e vai até o quinto andar, cuja estrutura se encontra em reforma

(pintura, instalação de portas etc...). Vale ressaltar que todos os andares seguem um mesmo

modelo arquitetônico, sendo que foram feitas algumas alterações como é o caso do segundo

andar onde foi inserida uma parede como divisória entre as escadas, elevador e o corredor de

acesso às salas (fig.8).

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 8. Segundo andar.

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Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 9. Elevador área interna.

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 10. Escada Terceiro Andar.

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 11. Corredor localizado no terceiro andar.

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Obervamos nas imagens acima que ao lado do elevador existe uma escada (figuras 7 e 10).

Percebemos que nos locais – escadas e entrada do elevador, não possuem sinalização visual

nos degraus ou antes do início da escada (piso tátil) pra indicar a existência dos objetos ao

deficiente visual, conforme veremos mais adiante segundo as normas da ABNT. Também

notamos a ausência de um corrimão sinalizado em Braille no início, meio e término da escada,

assim como o anel da escada.

Todas as escadas seguem o mesmo padrão arquitetônico.

De acordo com a figura 11, os corredores se encontram desprovidos de qualquer sinalização

adequada para o portador de necessidades especiais. Não há qualquer sinalização para desvio

dos obstáculos podendo ocasionar a queda de pessoas com deficiciência visual.

Estes pontos revelam discordâncias com diversos itens presentes nas normas da ABNT.

Pudemos elencar as seguintes questões: Em seu ponto 5.12 a ABNT recomenda o uso de

sinalização tátil nos corrimãos.

“É recomendável que os corrimãos de escadas e rampas sejam sinalizados através

de:

a) anel com textura contrastante com a superfície do corrimão, instalado 1,00 m

antes das extremidades, conforme figura 10;

b) sinalização em Braille, informando sobre os pavimentos no início e no final das

escadas fixas e rampas,instalada na geratriz superior do prolongamento horizontal

do corrimão.”

Fonte: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-

filefield-description%5D_24.pdf .

Fig. 12. Corrimão de acordo com a ABNT

No item 5.13 é recomendado o uso de sinalização visual de degraus: “Todo degrau ou escada deve ter sinalização visual na borda do piso, em cor

contrastante com a do acabamento, medindo entre 0,02 m e 0,03 m de largura. Essa

sinalização pode estar restrita à projeção dos corrimãos laterais, com no mínimo

0,20 m de extensão, localizada conforme figura 11.”

Fonte: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-

filefield-description%5D_24.pdf

Fig.13: Escadas conforme a ABNT

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O ponto 5.14 versa sobre a sinalização tátil do piso, outro dos muitos problemas

encontrados na edificação. Conforme a ABNT: “A sinalização tátil no piso pode ser do tipo de alerta ou direcional. Ambas devem

ter cor contrastante com a do piso adjacente, e podem ser sobrepostas ou integradas

ao piso existente...

5.14.1.2 A sinalização tátil de alerta deve ser instalada perpendicularmente ao

sentido de deslocamento nas seguintes situações:

a) obstáculos suspensos entre 0,60 m e 2,10 m de altura do piso acabado, que

tenham o volume maior na parte superior do que na base, devem ser sinalizados com

piso tátil de alerta. A superfície a ser sinalizada deve exceder em 0,60 m a projeção

do obstáculo, em toda a superfície ou somente no perímetro desta, conforme figura

60;

b) nos rebaixamentos de calçadas, em cor contrastante com a do piso, conforme

figuras 61 e 62;

c) no início e término de escadas fixas, escadas rolantes e rampas, em cor

contrastante com a do piso, com largura entre 0,25 m a 0,60 m, afastada de 0,32 m

no máximo do ponto onde ocorre a mudança do plano, conforme exemplifica a

figura 63;

d) junto às portas dos elevadores, em cor contrastante com a do piso, com largura

entre 0,25 m a 0,60 m, afastada de 0,32 m no máximo da alvenaria, conforme

exemplifica a figura 64;

e) junto a desníveis, tais como plataformas de embarque e desembarque, palcos,

vãos, entre outros, em cor contrastante com a do piso. Deve ter uma largura entre

0,25 m e 0,60 m, instalada ao longo de toda a extensão onde houver risco de queda,

e estar a uma distância da borda de no mínimo 0,50 m, conforme figura 65.”

Fonte: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-

filefield-description%5D_24.pdf

Fig. 14. Sinalização tátil de alerta em obstáculos suspensos conforme a ABNT

Fonte: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-

filefield-description%5D_24.pdf

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Fig. 15. Sinalização tátil de alerta nos rebaixamentos das calçadas conforme a ABNT

Fonte: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-

filefield-description%5D_24.pdf

Fig. 16. Sinalização tátil de alerta nas escadas conforme a ABNT

Fonte: http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-

filefield-description%5D_24.pdf

Fig. 17. Sinalização tátil de alerta nas escadas conforme a ABNT

No que se refere à garagem e aos banheiros do prédio também estes também se encontram em

conflito com as normas estabelecidas. Não há lugar para cadeirantes ou deficientes físicos em

geral. Não há também nenhum local reservado especificamente para o deficiente esperar

socorro em caso de sinistros.

Em relação às vagas de estacionamento reservadas para cadeirantes e deficientes físicos, a

ABNT é bastante clara a respeito (ver tabela 01). Locais públicos devem reservar uma fração

das vagas para portadores de necessidades especiais.

“A lei estabelece que todos os locais públicos e privados de uso coletivo como

shoppings e parques devem ter no mínimo 2% de suas vagas de estacionamento

reservadas para deficientes físicos. Se este porcentual der um resultado menor do que

um, ainda assim é necessário ter no mínimo uma vaga específica para deficientes.”

(FAGNANI, 2012).

No prédio em questão a garagem é no subsolo, um ambiente totalmente desprovido de

qualquer sinalização ou vaga com destinação ao portador de deficiência, conforme será visto a

seguir:

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Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 18. Garagem no subsolo.

.

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 19. Pouca Iluminação.

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 20. Acesso ao prédio por elevador sem piso tátil.

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Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 21. Garagem sem reserva de vaga para deficientes.

Ainda em relação à garagem foi constatado que o ambiente possui iluminação precária e sem

sinalização sonora, placas informativas, piso tátil alertando quanto às barreiras presentes

(colunas), a existência de elevador ou da escada ao lado.

Em se tratando dos banheiros adaptados aos portadores de necessidades especiais, a ABNT é

bastante detalhada. Para melhor visualizarmos as modificações e adaptações necessárias para

o uso de deficientes, observemos a figura 21 abaixo:

Fonte: http://www.deficienteonline.com.br/principais-adaptacoes-para-pessoas-com-deficiencia-fisica___8.html

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Figura 22: Banheiro para deficientes. Imagem apenas ilustrativa que traz as especificações que estão em

conformidade com a ABNT

No local do estudo, não existe um banheiro social destinado exclusivamente ao público. O

que encontramos são banheiros de uso comum em cada sala para utilização dos colaboradores

que ali laboram.

Dessa forma, foi constatado que no que se refere a esse tópico, a edificação também não

atende as especificações presentes na ABNT conforme figura supramencionada, uma vez que

não existe apoio para utilização do vaso sanitário pelo portador de deficiência, o sanitário não

possui área de giro, ou o box assento ou barras verticais e horizontais, as torneiras não são

acionadas por alavancas, célula fotoelétrica ou sistema similar.

Abaixo apresentamos algumas fotos tiradas dos banheiros existente no terceiro andar para

melhor visualização do que fora exposto neste artigo. Salientando que todos os banheiros

seguem o mesmo modelo arquitetônico:

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 23. Banheiro sala 305, terceiro andar.

Fonte: (LIMA, 2013)

Fig. 24. Banheiro da sala 310, terceiro andar.

6. Conclusão

Ao longo do processo de pesquisa, pudemos perceber os inúmeros avanços verificados ao

longo das últimas décadas em termos de melhorias de acessibilidade aos portadores de

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necessidades especiais. Ao mesmo tempo, percebemos porém as inúmeras limitações quando

analisamos aspectos mais concretos da nossa realidade. No caso específico do edifício Celso

Haddad, percebemos que ainda há um grande trabalho a ser feito para adequar os padrões

estruturais do prédio às normas gerais da ABNT e à legislação vigente. Como se trara de um

edifício utilizado por empresas públicas ou que prestam serviços de interesse público, fica

ainda mais flagrante a distância entre as normas legais e a realidade observada. Afinal, em

uma sociedade que se pretende democrática e inclusiva, em tese, o Estado deveria ser o

primeiro a dar o exemplo e obedecer às normas por ele mesmo aprovadas, inclusive

verificando tais especificações antes de realizar qualquer locação de prédios que serão por

eles utilizadas.

Percebemos portanto, que em termos globais há avanços muito significativos em termos de

acessibilidade e inclusão. Entretanto, a mesma realidade que muda constantemente reage às

mudanças teimosamente, como as pedras das margens dos rios que resistem à incessante

pressão das águas. Ao visualizarmos a distância entre o “real” e o “ideal”, percebemos a

dimensão do quanto ainda precisa ser feito.

7. Referências Bibliográficas

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consolida as normas de proteção.

BRASIL, Decreto 5296 de 02 de Dezembro de 2004. Disponível em:

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