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Departamento de Arquitetura e Urbanismo
ESTUDO DE TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM ABRIGO SUSTENTÁVEL
Aluna: Luana de Souza Bergamo Orientador: Fernando Betim
Introdução
O estudo do projeto volta-se para a análise, teórica e prática, de uma técnica construtiva com
o uso de terra, a partir de rocamboles de fibrobarro, constituídos de terra crua, folhas de
bambu trituradas e água enrolados em uma gaze industrial. A partir disso, buscou-se
estabelecer uma conexão entre o fazer artesanal e a transformação dessa técnica construtiva
em um processo de pré-fabricação.
O presente estudo teve como enfoque o desenvolvimento de uma nova técnica de construção
com terra, a partir de rocamboles de fibrobarro para confecção de um abrigo, um espaço que
pode ser utilizado tanto como um refúgio em uma área remota. Este abrigo se apoia na ideia
de conceber uma moradia temporária emergencial, como em casos de cataclismos naturais.
Objetivos
Esta pesquisa tem por objetivo o desenvolvimento de novas tecnologias que viabilizem a
construção de abrigos sustentáveis, a partir da atuação em estudos experimentais e conceituais
de sistemas construtivos.
Metodologia
A metodologia deste trabalho se conduz por meio de revisão bibliográfica referenciada ao
tema, bem como a análise empírica a partir do desenvolvimento de um protótipo em um
canteiro experimental, localizado na PUC-Rio.
Referencial Teórico
A pesquisa teve início a partir da análise bibliográfica das diferentes técnicas utilizadas com o
uso de terra. Dois autores destacaram-se nessa etapa: Lengen e Weimer.
Para Lengen, quase todos os tipos de terras podem ser usados em uma construção, apesar de
cada um necessitar de um tipo diferente de cuidado na hora da coleta e utilização.
Primeiramente, ele ressalta que é indispensável desprezar a camada superficial, já que a
mesma possui excesso de matéria vegetal, o que prejudica a construção.
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Além disso, para o autor, a terra vermelha, castanha e amarela são as melhores para uso,
enquanto que as terras negras e brancas não.
Algumas técnicas amplamente utilizadas com o uso de terra são apresentadas a seguir.
Taipa de Pilão
Segundo Weimer, a técnica da taipa de pilão é encontrada em diversas culturas em todos os
continentes. Essa técnica consiste na compressão da terra entre duas taipas, utilizando um
pilão. Para que não se soltem, as taipas são amarradas entre si com peças chamadas de
cangalhas ou agulhas. A terra deve ser colocada aos poucos e apiloada uniformemente. A
maestria da execução se dá na dosagem da quantidade de água, que deve ser exata. Isso é
importante, já que é necessário ter água suficiente para dar liga, porém o seu excesso gera
excesso de fissuras que comprometem a estrutura. Como as fissuras são inevitáveis para dar
maior solidez são misturados a terra outros substratos, tais como: pedras, fibra vegetal ou
animal. Figura 1: Componentes da Técnica da Taipa de Pilão
Fonte: https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/09/06/tecnicas-construtivas-do-periodo-colonial-i/ Taipa de Mão
Segundo Weimer, a taipa de mãos está diretamente relacionada às construções
de pau-a-pique. A técnica consiste em fazer um trançado com varas, taquaras, bambus inteiros
ou partidos e, segundo Lengen, aplicar terra sob elas. A terra deve ser molhada e amassada
previamente, até adquirir a consistência adequada, sendo após pressionado entre as frestas
com a mão. Ela pode ser aplicada apenas na parte interna ou externa, ou em ambos os lados.
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Figura 3
Fonte: HowStuffWorks Brasil
Adobe
Adobe são blocos de barro moldados, produzidos a mão e secados ao ar livre. A técnica
de construção constitui da compressão de barro molhado em uma molde em formato de
paralelepípedos, tradicionalmente de madeira. Contudo, existem prensas manuais metálicas
para a elaboração do Adobe. Atualmente, os adobes de 10x20x40cm são os mais comuns.
Segundo Lengen (2008) são vantagens do adobe serem:
Bons isolantes do frio, do calor e do ruído.
Resistentes aos insetos e ao fogo.
Fáceis de moldar
Fáceis de trabalhar, perfurar ou consertar.
Figura 4: Prensa de Adobe Mecânica
Fonte: Mink, 2005
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Figura 5: Moldes de Madeira para Adobe
Fonte: Lengen, 2008
Super Adobe
Superadobe é uma técnica de bioconstrução que utiliza sacos de ráfia com terra
comprimida para fazer paredes e coberturas. As fieiras de sacos de ráfia são empilhadas
formando-se a parede. Em cima de uma fundação feita de pedra, concreto ou terra
compactada é colocado os sacos de super adobe. Coloca-se um balde sem fundo na
extremidade do saco e o preenche com terra. A medida que a parede vai se tornando mais
comprida é necessário pilar até que a fieira esteja bem dura. Figura 6
Fonte: http://arrsa.org/2011/11/escaleraasaco1-0-manual-deconstruccion/
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Figura 7: Casa construída com super adobe
Fonte: Prompt, 2008
Estudo em Canteiro Experimental Materiais
1- Terra Crua
A terra crua utilizada foi coletada nas matas adjacentes do canteiro experimental. Foi
realizado um reconhecimento do terreno, a fim de encontrar locais ideais para a coleta do
material, onde havia terra aparente com pouca vegetação. Primeiramente, foi retirada com
enxada a camada superficial da terra que contém excesso de matéria orgânica. Foi utilizada a
terra mais profunda com aparência mais avermelhada, coletada com o uso de pás. Após
coletada, a terra foi levada ao canteiro experimental onde foi peneirada manualmente a fim de
retirar componentes não desejados, tais como: pedras, folhas e gravetos.
2- Água
Foi utilizada água encanada fornecida pela CEDAE.
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3- Folhas de Bambu Trituradas
As folhas de bambu foram coletadas nas matas adjacentes do canteiro experimental e
armazenadas em latões plásticos de lixo. Para serem utilizadas elas passam por um processo e
trituração, utilizando-se um Liquidificador Industrial (marca Croydon, modelo TR04-B6525-
6). Figura 8: Processo de Trituração das Folhas de Bambu
Fonte: Acervo Pessoal
4- Gaze Industrial
A gaze industrial é uma trama formada por micro fios de algodão cru vendidas em rolo
com 1,5m de largura. Para o experimento elas foram cortadas com uma tesoura em pedaços
medindo aproximadamente 75cm x 90cm.
5- Forma Metálica
Uma forma metálica foi utilizada como como base para a confecção dos rocamboles de
fibrobarro, medindo 60 cm x 60 cm.
Figura 9: Processo de Trituração das Folhas de Bambu
Fonte: Acervo Pessoal
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Etapas do Método Construtivo:
1- Coloca-se a gaze na forma e a molha com um borrifador.
2- A terra e as folhas bambu são misturados em um recipiente. De maneira gradativa, é
colocado o mínimo de água necessário pata obter liga entre os dois materiais
3. A massa é colocada sob gaze manualmente, sendo comprimida com os dedos
formando uma camada de cerca de 0,5 cm de espessura.
4. As laterais da gaze são recolhidas cobrindo as extremidades da massa de fibrobarro. A
parte inferior da gaze também é recolhida.
5. Enrola-se a gaze a fim de formar um rocambole, borrifando água para manter a gaze
colada.
6. Posiciona-se o rocambole na estrutura e aguarda-se a secagem
Método de Reaproveitamento:
1. Os rocamboles secos foram imersos em água até se tornarem novamente maleáveis.
2. Coloca-se a gaze industrial esticada e centralizada sob a forma metálica e a molha com
um borrifador.
3. Coloca-se o rocambole alinhado com a lateral inferior da forma metálica.
4. As laterais da gaze são recolhidas cobrindo as extremidades do rocambole de
fibrobarro. A parte inferior da gaze também é recolhida.
5. Enrola-se a gaze a fim de envolver o rocambole, molhando-a para mantê-la colada.
O Experimento O trabalho buscou inicialmente recuperar parte do material que havia sido preparado em
experimentos anteriores com rocamboles de fibrobarro. Para isso, fez-se o desmonte
intencional de uma alvenaria de rocamboles para recompor as peças desmontadas, para
posteriormente realizar nova montagem e recompor as mesmas peças em nova construção de
alvenaria.
Neste processo, foi necessário reconstituir peças que se partiram e que se deterioram pelo
manuseio de desmonte. Apesar da composição utilizada para produzir os rocamboles ter sido
a mesma, diferentes meios foram utilizados. Isto é, suas quantidades e proporções variaram,
como o tamanho das folhas e a quantidade de água utilizada. Para reestabelecer a estrutura,
inicialmente, folhas mais longas foram utilizadas e em maior quantidade, além da quantidade
da água ter sido reduzida em um terço. Desse modo, foi possível observar diferentes reações
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no elemento. Além da necessidade de a água ter sido fator primordial para fixar os
rocamboles como um único organismo, a utilização de mais folhas reforçou sua rigidez.
Figura 10: Processo de Recuperação dos Rocamboles
Fonte: Acervo Pessoal
Posteriormente, novas alterações foram feitas. A quantidade de água foi consideravelmente
acrescida e a terra utilizada não estava tão úmida, entretanto, as folhas permaneceram sendo
utilizadas em sua forma longilínea e em abundância.
Figura 11: Folhas longilíneas
Fonte: Acervo Pessoal
Sob esse aspecto, foi possível observar que a utilização de terra úmida é um grande facilitador
no processo e quando utilizada seca, compromete o processo, já que o mesmo se torna mais
lento para se tornar uma unidade com os outros elementos que formam o rocambole.
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Conclusões
A análise teórica sobre o processo permitiu uma compreensão abrangente sobre o assunto, que
facilitou a experimentação no laboratório. Foi possível realizar diversas aplicações dos
materiais nos rocamboles, o que garantiu uma maior percepção dos impactos de cada um no
que diz respeito à confecção do mesmo como uma estrutura de pré-fabricação.
Percebeu-se a facilidade de recomposição e reaproveitamento total do material desmontado,
de modo que a redução de resíduos e gasto de energia se apresentaram consideravelmente
relevantes em relação a procedimentos convencionais da construção urbana.
A confecção dessa técnica construtiva é muito simples, já que o manejo dos materiais é de
fácil compreensão e pode-se adaptar-se facilmente a qualquer local de construção.
Referências
1 – Weimer, G. Arquitetura Popular Brasileira. São Paulo: Editora WMF- 2ª ed
Martins Fontes, 2012
2 – Prompt, C. Curso de Bioconstrução. MMA, Brasília 2008
3 – Van Lengen, J. Manual do Arquiteto Descalço. Editora Empório do
Livro, São Paulo 2008
4 – Minke, G. Manual de Construccion para viviendas antissísmicas de tierra:
Universidad de Kassel, Kassel 2005