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ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS E APLICAÇÃO DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA EM UMA PANIFICADORA Dessyrre Aparecida Peixoto da Silva (IFMG ) [email protected] Debora Cristina de Souza Rodrigues (IFMG ) [email protected] Joao Paulo Lemos Rodrigues (IFMG ) [email protected] Caroline Passos de Oliveira (IFMG ) [email protected] rodrigo herman da silva (IFMG ) [email protected] O segmento de Panificação e Confeitaria no Brasil representa um faturamento ao redor de U$ 16 bilhões, o que corresponde a 2% do PIB Brasileiro. O produto mais produzido e consumido em uma padaria é o tradicional Pão Francês. Sendo assim, eeste trabalho consiste na análise do processo produtivo do tradicional Pão Francês em uma panificadora na região do Centro-Oeste de Minas Gerais, visando a redução de custos e a diminuição de desperdícios através do estudo de tempos e movimentos e da produção mais limpa. Elaborou-se um novo modelo de layout dos equipamentos da panificadora que, se aplicado, poderia aumentar a produção e, consequentemente, o lucro anual da empresa. Além disso, através da aplicação da produção mais limpa foi possível propor a empresa a produção de torradas com os pães não vendidos, o que geraria também um aumento em sua lucratividade e diminuiria os desperdícios. Sendo assim, o presente estudo demonstrou como pequenos ajustes no layout feitos a partir de uma abordagem de tempos e movimentos do processo de panificação, e aplicação de técnicas simples de produção mais limpa, podem contribuir diretamente para uma melhor eficiência do processo e consequentemente para lucro da empresa. Palavras-chave: Panificação, produção mais limpa, tempos e movimentos XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS

E APLICAÇÃO DE PRODUÇÃO MAIS

LIMPA EM UMA PANIFICADORA

Dessyrre Aparecida Peixoto da Silva (IFMG )

[email protected]

Debora Cristina de Souza Rodrigues (IFMG )

[email protected]

Joao Paulo Lemos Rodrigues (IFMG )

[email protected]

Caroline Passos de Oliveira (IFMG )

[email protected]

rodrigo herman da silva (IFMG )

[email protected]

O segmento de Panificação e Confeitaria no Brasil representa um

faturamento ao redor de U$ 16 bilhões, o que corresponde a 2% do

PIB Brasileiro. O produto mais produzido e consumido em uma

padaria é o tradicional Pão Francês. Sendo assim, eeste trabalho

consiste na análise do processo produtivo do tradicional Pão Francês

em uma panificadora na região do Centro-Oeste de Minas Gerais,

visando a redução de custos e a diminuição de desperdícios através do

estudo de tempos e movimentos e da produção mais limpa. Elaborou-se

um novo modelo de layout dos equipamentos da panificadora que, se

aplicado, poderia aumentar a produção e, consequentemente, o lucro

anual da empresa. Além disso, através da aplicação da produção mais

limpa foi possível propor a empresa a produção de torradas com os

pães não vendidos, o que geraria também um aumento em sua

lucratividade e diminuiria os desperdícios. Sendo assim, o presente

estudo demonstrou como pequenos ajustes no layout feitos a partir de

uma abordagem de tempos e movimentos do processo de panificação, e

aplicação de técnicas simples de produção mais limpa, podem

contribuir diretamente para uma melhor eficiência do processo e

consequentemente para lucro da empresa.

Palavras-chave: Panificação, produção mais limpa, tempos e

movimentos

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1. Introdução

No Brasil existem cerca de 63 mil panificadoras que atendem, diariamente, 44 milhões de

brasileiros. Cerca de 96% dos estabelecimentos desse importante setor é composto de micro e

pequenas empresas, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria da Panificação e

Confeitaria. (ABIP, 2010)

O desenvolvimento do setor de panificação acentuou a concorrência, trouxe inovações em

máquinas, equipamentos e processos de fabricação e também proporcionou novos enfoques

nos relacionamentos comerciais (fornecedor – produtor – cliente). (ABIP, 2010)

As padarias tiveram que se adaptar muito rapidamente para sobreviver em meio às novas

exigências do mercado ao enfrentarem a concorrência do setor de padaria das grandes redes

de supermercados e também de padarias “clandestinas” (ou de fundo de quintal) que

produzem sem nenhuma preocupação com a higiene, regularização, registros contábeis ou

trabalhistas, pagamentos de impostos e taxas etc., além de se apropriarem indevidamente de

energia e água, vendendo seus produtos em carros ambulantes ou bicicletas. (ABIP, 2010)

O produto mais produzido e consumido em uma padaria é o tradicional Pão do Dia, se

tornando essencial na mesa do café da manhã dos brasileiros. Segundo a Organização

Mundial de Saúde (OMS), considera-se saudável o consumo de 60 kg de pães ao ano. Dados

da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (ABIP) afirmam que o

consumo de pães no Brasil é de 33,5 kg ao ano por pessoa. Destes dados, 86% (30,5 kg)

correspondem aos pães artesanais, dos quais 58% (aproximadamente 17,7 kg) são o Pão do

Dia (tipo francês), e apenas 14% (aproximadamente 4,6 kg) são pães industrializados (ITPC,

2016).

Segundo ABIP (2010), o índice de crescimento das empresas de Panificação e Confeitaria em

2013 foi de 8,7%, o que representa um faturamento de R$ 76.405 bilhões. Para Masquietto et

al. (2004) o segmento de Panificação e Confeitaria no Brasil representa um faturamento ao

redor de U$ 16 bilhões, o que corresponde a 2% do PIB Brasileiro.

A utilização da ferramenta de estudos de tempos e movimentos tem como objetivos, em

primeiro lugar eliminar esforços desnecessários ao executar uma operação; procurar habilitar

os empregados a sua função; estabelecer normas para execução do trabalho e descobrir

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métodos que venham proporcionar melhorias no processo produtivo (FIGUEIREDO;

OLIVEIRA; SANTOS, 2011).

Segundo CNTL (2005), através da Produção Mais Limpa é possível observar a

maneira como um processo de produção está sendo realizado e detectar em quais etapas

as matérias-primas e os recursos estão sendo desperdiçados. Desta maneira, é possível

melhorar o seu aproveitamento e diminuir ou impedir a geração de resíduos. Isto faz com

que produzir de forma limpa seja, basicamente, uma ação econômica e lucrativa, um

instrumento importante para manter-se adequado à vigente legislação ambiental e ainda

promover o desenvolvimento sustentável.

Este trabalho consiste na análise do processo produtivo do tradicional Pão Francês em uma

panificadora na região do Centro-Oeste de Minas Gerais, visando a redução de custos e a

diminuição de desperdícios.

2. Objetivos

2.1. Objetivo geral

Analisar o processo produtivo do tradicional Pão Francês em uma panificadora na região do

Centro-Oeste de Minas Gerais, visando a redução de custos e a diminuição de desperdícios.

2.2. Objetivos específicos

Propor melhorias que otimizem o processo produtivo do Pão Francês, assim como o lucro

através do estudo de tempos e movimentos e da produção mais limpa ( L+P).

3. Referencial teórico

3.1. Tempos e movimentos

A revolução industrial deu início em meados do século XVIII na Inglaterra e expandiu-se para

o mundo no século a partir do XIX. Propiciou a substituição das ferramentas pelas máquinas,

da energia humana pela energia motriz, do modo de produção doméstico pelo sistema fabril,

marcou o início de um grande avanço para a administração impulsionando a criação de uma

nova realidade para as organizações.

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Foi a partir desse contexto que Frederick Winslow Taylor criou e foi um dos participantes

mais destacado do movimento da administração científica. Junto com outras pessoas,

compartilhavam esforços para desenvolver princípios e técnicas de racionalização do trabalho

do operário, por meio do estudo de tempos e movimentos o objetivo era resolver os grandes

problemas enfrentados pelas empresas industriais. Taylor começou por baixo, junto com os

operários no nível de execução e efetuou um paciente trabalho analisando as tarefas de cada

operário, avaliando seus movimentos e processos de trabalho a fim de aperfeiçoá-los e

racionalizá-los.

O instrumento básico para se racionalizar o trabalho dos operários era o estudo de tempos e

movimentos (motion-time study). O trabalho é executa do melhor e mais economicamente por

meio da análise do trabalho, isto é, da divisão e subdivisão de todos os movimentos

necessários à execução de cada operação de uma tarefa. Observando metodicamente a

execução de cada operação a cargo dos operários, Taylor viu a possibilidade de decompor

cada tarefa e cada operação da tarefa em uma série ordenada de movimentos simples. Os

movimentos inúteis eram eliminados enquanto os movimentos úteis eram simplificados,

racionalizados ou fundidos com outros movimentos para proporcionar economia de tempo e

de esforço ao operário.

A essa análise do trabalho seguia-se o estudo dos tempos e movimentos, ou seja, a

determinação do tempo médio que um operário comum levaria para a execução da tarefa, por

meio da utilização do cronômetro. A esse tempo médio eram adicionados os tempos

elementares e mortos (esperas, tempos de saída do operário da linha para suas necessidades

pessoais etc.) para resultar o chamado tempo padrão. Com isso padronizava-se o método de

trabalho e o tempo destinado à sua execução. Método é a maneira de se fazer algo para obter

um determinado resultado. O estudo dos tempos e movimentos permite a racionalização do

método de trabalho do operário e a fixação dos tempos-padrão para execução das tarefas. Traz

outras vantagens como:

Eliminação do desperdício de esforço humano e dos movimentos inúteis;

Racionalização da seleção e adaptação dos operários à tarefa;

Facilidade no treinamento dos operários e melhoria da eficiência e rendimento da

produção pela especialização das atividades;

Distribuição uniforme do trabalho para que não haja períodos de falta ou excesso de

trabalho;

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Definição de métodos e estabelecimento de normas para a execução do trabalho;

Estabelecer uma base uniforme para salários equitativos e prêmios de produção.

Frank B. Gilbreth (1868-1924) foi um engenheiro americano que acompanhou Taylor em seu

interesse pelo esforço humano como meio de aumentar a produtividade.10 Introduziu o estudo

dos tempos e movimentos dos operários como técnica administrativa básica para a

racionalização do trabalho.

3.2. Produções mais limpa

Produção mais Limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental

e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de

matérias-primas, água e energia, através da não-geração, minimização ou reciclagem de

resíduos gerados em um processo produtivo. Esta abordagem induz inovação nas empresas,

dando um passo em direção ao desenvolvimento econômico sustentado e competitivo, não

apenas para elas, mas para toda a região que abrangem.

Tecnologias ambientais convencionais trabalham principalmente no tratamento de resíduos e

emissões gerados em um processo produtivo. São as chamadas técnicas de fim de tubo. A

Produção mais Limpa pretende integrar os objetivos ambientais aos processos de produção, a

fim de reduzir os resíduos e as emissões em termos de quantidade e periculosidade. São

utilizadas várias estratégias visando a Produção mais Limpa e a minimização de resíduos.

Fluxograma 1 - Fluxograma da Produção Mais Limpa

Fonte: CNTL/SENAI-RS

apud BARBIERE, 2006

A prioridade da Produção mais

limpa está no topo (à esquerda)

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do Fluxograma 1: evitar a geração de resíduos e emissões (nível 1). Os resíduos que não

podem ser evitados devem, preferencialmente, ser reintegrados ao processo de produção da

empresa (nível 2). Na sua impossibilidade, medidas de reciclagem fora da empresa podem ser

utilizadas (nível 3).

A prática do uso da Produção mais limpa leva ao desenvolvimento e implantação de

Tecnologias Limpas nos processos produtivos. Para introduzir técnicas de Produção mais

limpa em um processo produtivo, podem ser utilizadas várias estratégias, tendo em vista

metas ambientais, econômicas e tecnológicas.

3.3. Panificações

O pão é resultado do cozimento da massa feita com farinha de trigo, água, sal e fermento

(biológico ou químico), sendo estes os componentes básicos para a sua produção. O Pão do

Dia é aquele que é feito para consumo imediato, sendo produzido todos os dias na padaria. O

mais difundido e conhecido no Brasil é o Pão do Dia tipo Francês, muito utilizado e apreciado

como acompanhamento de diversos pratos e consumido nas mais variadas refeições.

Visto como ingrediente essencial na mesa de café dos brasileiros, o tradicional Pão do Dia é o

produto mais produzido nas padarias e mais consumido pela população. Segundo a

Organização Mundial de Saúde (OMS), considera-se saudável o consumo de 60 kg de pães ao

ano. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (ABIP)

afirmam que o consumo de pães no Brasil é de 33,5 kg ao ano por pessoa (Fonte: ITPC).

O Pão do Dia (tipo francês) foi o responsável por impulsionar o surgimento das pequenas

padarias em todo o Brasil. Para manter características consideradas importantes (como o pão

fresco e quentinho) é que surgiram as pequenas padarias. Considera-se um excelente Pão do

Dia (tipo francês) aquele que apresenta como características:

Cor da casca: casca de cor dourada, homogênea e brilhante;

Aspecto da casca: crocante, não dura, com aparência de bem assada;

Pestana: os pães cortados (algumas regiões não cortam o pão francês), não devem

apresentar estrangulamentos; os cortes devem ser regulares, bem definidos, de

superfície lisa e com bordas bem destacadas. Uma boa pestana representa mais que o

aspecto beleza, dá uma leitura de quanto foi bem conduzido o processo de

fermentação, por exemplo;

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Volume: o nível ideal se relaciona diretamente com a estrutura do miolo e a resistência

da casca. É de grande importância na determinação da qualidade do pão, por ser

resultado do tratamento correto durante o processamento da massa. Um volume

excessivamente grande (pão isopor) é negativo, pois afeta outros pontos da qualidade,

tais como: textura (que se torna fraca) e alveolagem grosseira (muito aberta);

Cor do miolo: o pão francês deve ter miolo variando de branco a levemente creme;

Estrutura do miolo: homogênea, com células levemente alongadas (de forma oval),

paredes finas e sem buracos.

Portanto, fixar normas é essencial para se ter pães de qualidade e, certamente, manterá a

satisfação e fidelização do consumidor.

O Pão do Dia apresenta grande peso na formação do lucro de uma empresa de panificação,

representando (em média) entre 20% e 30% da margem de contribuição total ou do lucro

bruto da padaria.

No quadro abaixo está listado os ingredientes e em seguida os equipamentos necessários para

a produção do pão francês.

Quadro 1 - Ingredientes necessários para fabricação do pão francês

Fonte: www.abip.org.br /www.sebrae.com.br (2014)

Alimento rico em carboidratos, o pão é o primeiro item que se elimina das dietas, mas quem

assim procede pode sofrer efeitos colaterais, como: fraqueza, mal-estar, desidratação, perda de

massa magra, menor resistência às infecções, entre outros. Os carboidratos são considerados a

base de uma boa alimentação, além de ser a primeira fonte de energia que o corpo utiliza.

Além disso, é importante componente da dieta de emagrecimento por permitir um período

mais longo sem fome, proporcionado pela digestão lenta, deixando a sensação de saciedade

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por um prazo maior de tempo. É alimento rico em fibras que regulam o funcionamento do

intestino, e se consumido sem excesso, não engorda.

4. Materiais e métodos

A empresa objeto deste estudo caracteriza-se como uma empresa de pequeno porte, localizada

na região centro-oeste do estado de Minas Gerais. Esta possui dois funcionários responsáveis

exclusivamente pela produção de pães, enquanto outros colaboradores se revezam na

produção de outros produtos alimentícios como bolos, tortas, patês, doces, salgadinhos etc.

Segundo Yin (2005), a escolha pelo método de estudo de caso é pertinente quando trabalha-se

com questões que necessitam de uma descrição ampla a cerca de algum fenômeno social.

Sendo assim, o presente trabalho caracteriza-se como um estudo de caso cuja a coleta de

dados necessária para o seu desenvolvimento foi realizada através de diversas visitas in loco e

pela observação direta do processo.

Além disso, foram realizadas entrevistas informais aos colaboradores responsáveis pela

produção dos pães e aos funcionários da área administrativa da empresa. Os materiais

utilizados durante a coleta de dados deste trabalho foram: trena, máquina fotográfica,

cronômetro e gravador de voz.

5. Resultados e discussão

5.1 Descrição do processo

Analisou-se o processo do Pão Francês em uma panificadora na região do Centro-Oeste

mineiro, onde o fluxo do mesmo pode ser observado no Fluxograma 2.

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Fluxograma 2 - Fluxograma da produção do Pão Francês (Pão de Sal)

Fonte: Autores (2014)

No processo de pesagem, pesa-se os ingredientes que serão utilizados na produção do

produto, garantindo a uniformidade do produto em cada fornada. Depois de pesadas, as

matérias-primas seguem para a área de produção em recipientes separados.

A finalidade da mistura é homogeneizar as matérias-primas seguindo a uma ordem lógica. O

ponto da mistura ideal é obtido pelo tempo de batida, pelo aspecto visual da massa e,

principalmente, pelo tato do profissional ao abrir um pedaço da massa. A mistura é realizada

na masseira (Figura 1).

Figura 1 - Masseira

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Fonte: Autores, (2014)

Após a mistura, a massa é retirada da masseira e

colocada em uma bancada, onde a mesma é

cortada em pedaços de 1,8 Kg (Figura 2 e Figura 3). Essas porções separadas são colocadas

na divisora fracionando-as em unidades padrão (Figura 4 e Figura 5).

Figura 2 - Corte e pesagem da massa

Fonte: Autores, (2014)

Figura 3 - Porções de massa

Fonte: Autores, (2014)

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Fonte: Autores, (2014)

Figura 4 - Massa na Divisora

Fonte: Autores, (2014)

Figura 5 - Massa fracionada

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Tais unidades são colocadas na modeladora para que sejam modeladas no formato desejado

dos pães. A massa fracionada é inserida uma a uma de um lado do aparelho e sai do outro

lado com o formato final (Figura 6).

A massa necessita de

um período para fermentar e crescer. Assim, depois de passar pela modeladora, a massa é

colocada em assadeiras e postas para descansar dentro de gavetas de armários denominadas

câmaras para crescimento (Figura 7 e Figura 8), onde ficam aguardando o crescimento pelo

período programado pelo padeiro.

Figura 7 - Pães sendo colocados no armário

Figura 6 - Modeladora

Fonte: Autores, (2014)

Figura 8 - Pães sendo colocados na câmara de crescimento

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Após o período de crescimento os pães são assados em um forno (Figura 9) em intervalos

regulados pelo consumo para que estejam disponíveis para os consumidores de forma fresca e

quente.

5.2. Melhoria proposta na abordagem de

Tempos e Movimentos

O layout físico dos equipamentos da panificadora foi coletado, analisado e expresso na Figura

10.

Fonte: Autores, (2014) Fonte: Autores, (2014)

Figura 9 - Forno

Fonte: Autores, (2014)

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Figura 10 - Layout atual da empresa

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Fonte: Autores, (2014)

Observou-se, também, o fluxo do processo da panificadora (Figura 11).

Figura 11 - Layout atual da empresa e a representação do fluxo do processo

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Fonte: Autores, (2014)

De acordo com o fluxo, foram cronometrados os tempos de duração das etapas do processo e

também o tempo gasto na movimentação entre as etapas do layout atual (Tabela 1 e Tabela 2).

Tabela 1 - Tempo de duração de etapas

Etapa Duração média (s)

9- Pesagem e mistura de ingredientes 1800

4- Corte e pesagem das porções de massa 360

7- Dividir a massa 180

6-Modelagem 600

8-Crescimento 10800

1-Assar 1800

2-resfriar 240

Total 15780

Fonte: Autores, (2014) Tabela 2 - Tempo gasto em movimentos

Movimento

entre etapas

Duração

média(s)

0 para 9 60s

9 para 4 60s

4 para 7 120s

7 para 6 240s

6 para 8 5s

8 para 1 26s

1 para 2 5s

2 para 3 5s

Total: 521s

Fonte: Autores, (2014)

Diante da análise dos dados obtidos, constatou-se a necessidade de otimizar o tempo do

processo através de mudanças no layout, exemplificadas na Figura 12.

Figura 12 - Layout proposto da empresa e a representação do fluxo do processo

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Fonte: Autores, (2014)

Defino as alterações no layout da empresa os tempos entre etapas foram modificados e podem

ser observados na Tabela 3.

Tabela 3 - Novos tempos de movimentos entre etapas

Movimento

entre etapas

Duração

média(s)

0 para 9 10

9 para 4 40

4 para 7 60

7 para 6 210

6 para 8 5

8 para 1 26

1 para 2 5

2 para 3 5

Total

361

Fonte: Autores, (2014)

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Levando em consideração que o tempo total do processo é igual ao somatório dos tempos de

cada etapa e os tempos de movimentos, e que a demanda anual de receitas é igual a 1152

receitas/ano, pode-se construir a Tabela 4.

Tabela 4 - Horas gastas e tempos de produção do modelo atual e proposto

Fonte: Autores, (2014)

De acordo com os dados expressos na Tabela 4 foi possível observar que o modelo atual gasta

51,2h a mais por ano em relação ao modelo proposto. Com esta quantidade de horas

disponíveis é possível produzir 11 receitas a mais por ano, o que equivale a produção de cerca

de 347,54kg de pães (considerando que cada receita resulta em aproximadamente 30,435kg de

pães). Sendo assim, este aumento na produção pode gerar em um acréscimo no lucro de

R$2180,39.

5.3. Melhorias propostas de produção mais limpa

Pôde-se analisar durante o estudo que há, por dia, uma média de 100 unidades de pães

sobressalentes nesta produção. Diante deste fato, utilizou-se os conceitos de produção mais

limpa para sugerir um destino aos resíduos (sobra de pães).

A proposta escolhida foi a utilização dos pães sobressalentes na produção de torradas que

seriam comercializadas conforme as informações da tabela abaixo ( Tabela 5).

Tabela 5 - Valores calculados para os pães sobressalentes

Pães

sobressalentes

(unidades)

Pães

sobressalentes

(g)

Quantidade

de torradas

(de 5000g

Pães)

Quantidade

de torradas

por pacote

(g)

Quantidade

de pacotes

de torrada

(de 200g)

Preço

unitário do

pacote de

torrada

Lucro

total (de

25 pacotes

de

Tempo de produção atual Tempos de produção proposto Mensal Anual Mensal Anual

≈ 4,52 hs 5216,32h/ano ≈ 4,48h 5165,12h/ano

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(R$) torrada)

100 5000 500 200 25 1,60 40,00

Fonte: Autores, (2014)

De acordo com os dados fiscais disponibilizados pela empresa, calculou-se que o lucro total

obtido pela mesma por dia deveria ser de R$ 981,28. Porém, em função da sobra de 100

unidades de pães por dia, o lucro é de R$941,28, ou seja, a empresa tem um prejuízo de R$

40,00 por dia.

A produção de 25 pacotes de torradas (200g cada) feitas com as sobras de pães/dia e vendidas

a R$ 1,60 o pacote, renderiam R$40,00 por dia. Desta forma, o prejuízo causado pelas sobras

seria zerado pela venda das torradas, o que reduziria os desperdícios com resíduos (sobra de

pães). Anualmente, esta medida de produção mais limpa renderia um lucro de R$13.440,00.

6. Conclusão

Com o presente estudo observou-se como pequenos ajustes no layout feitos a partir de uma

abordagem de tempos e movimentos do processo de panificação, e aplicação de técnicas

simples de produção mais limpa, podem contribuir diretamente para uma melhor eficiência do

processo e consequentemente para lucro da empresa.

Observou-se que com a aplicação de melhoras no layout no setor de produção a empresa

geraria um acréscimo de R$2180,39 em seu lucro anual e com a produção de torradas com os

pães não vendidos geraria um lucro de R$13.440,00 anuais.

Com isso concluiu-se que um estudo de tempos e movimentos em uma linha de produção,

assim como também a aplicação de técnicas de produção mais limpa, são importantes para

uma melhor eficiência produtiva.

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