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I FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO PROFISSIONAL EM TECNOLOGIAS APLICÁVEIS À BIOENERGIA JÚLIO MÁCIO SOARES DE OLIVEIRA ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA PARA PRODUÇÃO DE ETANOL EM PEQUENA PROPRIEDADE. Salvador 2011

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I

FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS

DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

MESTRADO PROFISSIONAL EM TECNOLOGIAS APLICÁVEIS À

BIOENERGIA

JÚLIO MÁCIO SOARES DE OLIVEIRA

ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA PARA PRODUÇÃO DE

ETANOL EM PEQUENA PROPRIEDADE.

Salvador – 2011

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II

ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA PARA PRODUÇÃO DE ETANOL EM PEQUENA PROPRIEDADE.

JÚLIO MÁCIO SOARES DE OLIVEIRA

Orientador: Prof. Me. Roberto Antonio Fortuna Carneiro

SALVADOR – 2011

Dissertação apresentada como pré-requisito à

obtenção do título de Mestre Profissional em

Tecnologias Aplicáveis à Bioenergia do Curso

de Mestrado Profissional em Tecnologias

Aplicáveis à Bioenergia da Faculdade de

Tecnologia e Ciências de Salvador.

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III

JÚLIO MÁCIO SOARES DE OLIVEIRA

ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA PARA PRODUÇÃO DE ETANOL EM PEQUENA PROPRIEDADE.

Dissertação apresentada como pré-requisito à obtenção do título de Mestre

Profissional em Tecnologias Aplicáveis à Bioenergia do Curso de Mestrado

Profissional Tecnologias Aplicáveis à Bioenergia da Faculdade de Tecnologia e

Ciências de Salvador

APROVADA EM: / /

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Prof. Me. Roberto A. F. Carneiro

Orientador – Faculdade de Tecnologia e Ciências / SEPLAN - BA

____________________________________________

Prof. Dr. Cleber Andre Cechinel

Faculdade de Tecnologia e Ciências

____________________________________________

Prof. Dr. Ildo Luís Sauer

Diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia / USP

Salvador - 2011

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IV

RESUMO

A substituição gradativa dos combustíveis fósseis com o intuito de diminuir as

emissões de gases do efeito estufa é requerida pelo Protocolo de Quioto. O etanol mostra-se como uma fonte de energia para suprir a necessidade de consumo de energia do mercado nacional em longo prazo, pois tem um impacto expressivo na redução da emissão de CO2 em comparação à gasolina. A obtenção do etanol em pequena propriedade é uma opção para produção de bioenergia e alternativa de incremento na renda familiar do pequeno produtor rural. Para avaliar a produção de etanol em pequenas propriedades, foi desenvolvido o estudo da viabilidade financeira da produção de etanol em micro-usinas com base no modelo da Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil (COOPERBIO). Esse estudo prevê a adaptação do modelo às condições do Sul da Bahia e conjuga a produção de biocombustível, alimentos e preservação ambiental, bem como a geração de trabalho e renda planejados de forma sustentável. A análise é centrada na interferência das metodologias financeiras para a qual foram delineadas as demonstrações de resultado, partindo das estimativas de produção, receitas, custos fixos, variáveis e investimento fixo por um período de dez anos. A apreciação da viabilidade financeira é realizada por meio da análise de dados levantados durante visita feita à COOPERBIO. Os indicadores financeiros, Custo/Benefício, o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR) mostram que o projeto é rentável e o Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) e a rentabilidade simples apontam valores positivos quando a comercialização é realizada, amparados pela legislação, através de ato cooperativo. O estudo aponta para a necessidade de inclusão do etanol em programa de produção de energia específico nos moldes do Selo Combustível Social, com a finalidade de estimular o incentivo à produção de etanol para os pequenos produtores de forma cooperativada de maneira a provocar o desenvolvimento e o incremento na pesquisa científica para a pequena indústria sucroalcooleira. Essas medidas poderão estimular a disseminação do modelo implantado pela COOPERBIO em Frederico Westphalen -RS para outras cidades com as devidas adequações promovendo a geração de energia com mão de obra familiar e diversificação da renda agrícola.

Palavras- chave: Etanol, micro-usina, viabilidade financeira, pequeno produtor rural, agroecologia.

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V

ABSTRACT

Replacing gradual fossil fuels aiming decreasing emissions greenhouse gases is protocol demands Kyoto. Ethanol shows as one energy source for provide required energy market national long run because has an impact expressive in reducing CO2 emission compared gasoline representing one source less polluting renewable. Obtaining ethanol smallholding is one option for production bioenergy and alternative increment income familiar yeoman producer. The acquisition of ethanol on a small property is an option for production of bioenergy and alternative increase in family income of small farmers. To evaluate the ethanol production on small farms has been developed to study the financial viability of ethanol production in micro-power plants based on the model of Cooperative Production, Processing and Marketing of Biofuels in Brazil (COOPERBIO). This study provides for the adjustment of the model to conditions in southern Bahia and combines the production of biofuel, food and environmental preservation, as well as employment and income generation planned in a sustainable manner. The analysis is centered on the interference of financial methodologies for which were outlined in the statements of operations, from estimates of production, revenues, fixed and variable costs and fixed investment for a period of ten years. The assessment of financial viability is performed by analyzing data collected during visit to COOPERBIO. The financial indicators, Benefit/ Cost, Net Present Value and Internal Rate of Return shows that the project is profitable, and earnings before interest, taxes, depreciation and amortization and profitability simple point positive values when the marketing is done, protected by legislation, through cooperative acts. The study points to the need to include ethanol production program in specific energy along the lines of the Social Fuel Seal, in order to stimulate ethanol production incentive for small farmers in a cooperative in order to lead the development and enhancement in scientific research for the small ethanol industry. Such measures may encourage the spread of the approach taken by Frederick Cooperbio in other cities with the necessary adaptations to promote power generation using family labor and diversification of agricultural income.

Keywords: ethanol, small farmers, micro power plants, financial viability, agroecology.

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VI

Saldo Negativo

Dói muito mais arrancar um cabelo de um europeu

que amputar uma perna, a frio, de um africano.

Passa mais fome um francês com três refeições por dia

que um sudanês com um rato por semana.

É muito mais doente um alemão com gripe

que um indiano com lepra.

Sofre muito mais uma americana com caspa

que uma iraquiana sem leite para os filhos.

É mais perverso cancelar o cartão de crédito de um belga

que roubar o pão da boca de um tailandês.

É muito mais grave jogar um papel ao chão na Suíça

que queimar uma floresta inteira no Brasil.

É muito mais intolerável o xador de uma muçulmana

que o drama de mil desempregados em Espanha.

É mais obscena a falta de papel higiênico num lar sueco

que a de água potável em dez aldeias do Sudão.

É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda

que a de insulina nas Honduras.

É mais revoltante um português sem celular

que um moçambicano sem livros para estudar.

É mais triste uma laranjeira seca num kibutz hebreu

que a demolição de um lar na Palestina.

Traumatiza mais a falta de uma Barbie de uma menina inglesa

que a visão do assassínio dos pais de um menino ugandês

e isto não são versos; isto são débitos

numa conta sem provisão do Ocidente.

Fernando Correia Pina, poeta português

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VII

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AGRINVEST Programa de Investimento para Modernização da

Agricultura

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis

BAHIABIO Programa Estadual de Bioenergia

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

BRIX (Bx) Escala numérica que mede a quantidade de sólidos

solúveis em uma solução de sacarose

CO2 Dióxido de Carbono

CONFAZ Conselho Nacional de Política Fazendária

COOPERBIO Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e

Comercialização de Biocombustíveis do Brasil

DBO Demanda Biológica de Oxigênio

DESENVOLVE Programa de Desenvolvimento Industrial e de

Integração Econômica do Estado da Bahia

EBITDA Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and

Amortization. ( Lucro Antes dos Juros, Impostos,

Depreciação e Amortização)

EECM Estação Experimental de Combustíveis e Minérios

ELETROBRAS Centrais Elétricas Brasileiras S.A

FNE Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste

G.L. Gay Lussa – Unidade de Medida utilizada para medir

teor alcoólico das bebidas

Gwh Gigawatt-hora

IAA Instituto do Açúcar e do Álcool

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

Mtep Milhões de toneladas equivalentes de petróleo

oINPM Porcentagem de Álcool em Peso utilizado pelo

Instituto Nacional de Pesos e Medidas

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo

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VIII

PCH Pequenas Centrais Hidroelétricas

PH Potencial Hidrogeniônico

PNPB Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel

ppmv Partes por milhão por volume

PROÁLCOOL Programa Nacional do Álcool

PROGRAMA

BIOSUSTENTÁVEL.

Inclusão de agricultores familiares na base de

produção e de beneficiamento das culturas

fornecedoras de óleo para biodiesel

PROINFA Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de

Energia Elétrica

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar

SIN Sistema Elétrico Interligado Nacional

ÚNICA União da Indústria de Cana-de-açúcar

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IX

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Total de energia primária no mundo utilizada para combustível em 1973 e

2008 .......................................................................................................................... 17

Figura 2: Evolução mundial do fornecimento de energia primária para combustíveis

.................................................................................................................................. 17

Figura 3: Oferta Interna de Energia ........................................................................... 18

Figura 4: Evolução da Participação das fontes de energia no Brasil ......................... 19

Figura 5: Oferta Interna de Energia - Brasil ............................................................... 20

Figura 6: Produção e custo do etanol no Brasil - 1980 a 2005 .................................. 26

Figura 7: Produção histórica de produção de etanol no Brasil e projeção entre as

safras 2005/06 e 2015/16 .......................................................................................... 28

Figura 8: Produção de etanol no Brasil ..................................................................... 29

Figura 9: Curva de Keeling: Concentrações de CO2 Atmosférico medidas em Mauna

Loa, Havai Mauna Loa Observatory .......................................................................... 21

Figura 10: Estimativas de mudanças na temperatura Global .................................... 21

Figura 11: Elementos construtivos da agroecologia .................................................. 30

Figura 12: Evolução dos Consumos Setoriais de bioenergia no Brasil entre 1970 e

2007 .......................................................................................................................... 37

Figura 13: Processo produtivo e integração dos derivados da cana-de-açúcar ........ 44

Figura 14: Moenda Simples....................................................................................... 46

Figura 15: Decantador de caldo ................................................................................ 46

Figura 16: Destilação Contínua ................................................................................. 49

Figura 17: Estrutura da cana-de-açúcar .................................................................... 32

Figura 18: O Complexo Lignocelulósico. ................................................................... 34

Figura 19: Projeto de Validação Tecnológica de Produção de Álcool e Alimentos. .. 41

Figura 20: Localização geográfica de Frederico Westphalen .................................... 42

Figura 21: Dornas de fermentação (ao fundo) em micro-usina ................................. 56

Figura 22: Coluna de destilação de micro-usina ....................................................... 43

Figura 23: Análise de Rentabilidade Simples ............................................................ 66

Figura 24: Payback Simples ...................................................................................... 68

Figura 26: Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) .......................................................... 71

Figura 27: Cenários e Rentabilidades ....................................................................... 74

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X

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Composição química em porcentagem da cana-de-açúcar madura ........ 32

Quadro 2: Composição química do vinhoto .............................................................. 35

Quadro 3: Composição média da Torta de filtro ........................................................ 36

Quadro 4: Levantamento custos ano 0 ..................................................................... 57

Quadro 5: Levantamento custos anos 1 a 5 .............................................................. 58

Quadro 6: Gastos produção cana-de-açúcar/ha/ano ................................................ 58

Quadro 7: Equipamentos e serviços para implantação de micro-usina 500 l/dia ...... 59

Quadro 8: Gastos fixos e variáveis ao ano ................................................................ 60

Quadro 9: Condições de Financiamento por porte de Empreendimento ................... 74

Quadro 10: Indicadores de Viabilidade econômica/ financeira .................................. 74

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XI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Fluxo de Caixa Anual Estimado e Resumido (Cenário: 500 litros por dia) 69

Tabela 3: Ponto de Equilíbio Contábil ....................................................................... 72

Tabela 4: Gastos de Produção .................................................................................. 76

Tabela 5: EBITDA (Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) 78

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XII

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 14

1.1. Definição, problema e objetivo ............................................................................................ 14

1.2. Etanol e matriz energética no Mundo ................................................................................. 16

1.3. Etanol e matriz energética no Brasil ................................................................................... 17

1.4. Consumo energético e suas implicações sócio-ambientais ........................................... 20

1.5. A produção de etanol no Brasil ........................................................................................... 24

1.6. Perspectivas do etanol no Brasil - Mercado e Produção ................................................ 27

1.7. O etanol na Bahia .................................................................................................................. 28

1.8. Agroecologia e aproveitamento de subprodutos do etanol ............................................. 30

1.8.1.1. Cana de açúcar como fonte de biomassa .................................................................. 31

1.8.1.2. Ponta da Cana ................................................................................................................ 33

1.8.1.3. Bagaço ............................................................................................................................. 33

1.8.1.4. Vinhoto ............................................................................................................................. 34

1.8.1.5. Torta de Filtro .................................................................................................................. 36

1.8.1.6. Levedura .......................................................................................................................... 36

1.9. Biomassa como fonte energética ........................................................................................ 37

1.10. Programas de incentivo à produção de energia alternativa ........................................... 38

2. PRODUÇÃO DE ETANOL EM PEQUENA ESCALA: O CASO COOPERBIO ............ 40

2.1. COOPERBIO .......................................................................................................................... 40

2.2. Características do Etanol ..................................................................................................... 43

2.3. Descrição do processo de obtenção do etanol em micro-usina – Modelo

COOPERBIO. ..................................................................................................................................... 44

2.3.1. Plantio, colheita e preparo da cana-de-açúcar ................................................................. 45

2.3.2. Moagem .................................................................................................................................. 45

2.3.3. Tratamento do caldo ............................................................................................................. 46

2.3.4. Ajuste do Brix ......................................................................................................................... 47

2.3.5. Fermentação .......................................................................................................................... 47

2.3.6. Destilação ............................................................................................................................... 48

2.3.6.1. Processo de destilação .................................................................................................. 49

2.4. Regulamentação para produção e comercialização do etanol produzido em pequena

propriedade. ........................................................................................................................................ 50

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XIII

2.5. Tributação do Etanol Hidratado ........................................................................................... 52

3. ANÁLISE E VIABILIDADE FINANCEIRA DA PRODUÇÃO DE ETANOL EM

PEQUENA ESCALA: O CASO COOPERBIO ............................................................................... 55

3.1. A unidade básica de observação e de análise ................................................................. 55

3.2. Coleta de dados ..................................................................................................................... 56

3.3. Análise de dados ................................................................................................................... 61

3.3.1. Custeio Pleno ......................................................................................................................... 63

3.3.2. Receitas .................................................................................................................................. 63

3.3.3. Estrutura de Capital ............................................................................................................... 63

3.3.4. Demonstrações Financeiras ................................................................................................ 64

3.3.5. Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE) ........................................................ 64

3.3.6. Fluxo de Caixa ....................................................................................................................... 65

3.3.7. Avaliação Econômica ............................................................................................................ 65

3.3.8. Rentabilidade Simples .......................................................................................................... 65

3.3.9. Valor Presente Líquido (VPL) .............................................................................................. 66

3.3.10. Taxa Interna de Retorno (TIR) ............................................................................................ 67

3.3.11. Payback ................................................................................................................................... 67

3.3.12. EBITDA ................................................................................................................................... 70

3.3.13. Ponto de Equilíbrio ................................................................................................................ 70

3.3.14. Análise de Sensibilidade ...................................................................................................... 73

3.4. Apresentação, discussão e análise dos resultados. ........................................................ 75

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ....................................................... 80

5. REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 83

ANEXO 1 ............................................................................................................................................. 91

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14

1. INTRODUÇÃO

1.1. Definição, problema e objetivo

As projeções para o crescimento da população indicam um contingente de

207 milhões de pessoas em 2020 (IBGE, 2008), com o consumo final de energia

passando de 1,4 para 2,8 tep/hab/ano. A preocupação da sociedade com o uso de

combustíveis e tecnologias menos poluentes e a obrigação de reduzir os gases do

efeito estufa, contida no Protocolo de Quioto1, são aspectos que reforçam a

necessidade de diversificar a matriz energética e reduzir a importância do petróleo

no mundo, substituindo as fontes fósseis por renováveis (BNDES 2007). Por isso, a

produção e a utilização de energias renováveis adquirem grande valor quando

associam uma atividade ecologicamente correta e financeiramente viável, levando à

valorização da biomassa para esse fim.

A biomassa é uma das principais escolhas para a diminuição da dependência

dos combustíveis fósseis (BRASIL, 2003). O etanol produzido a partir da cana-de-

açúcar representa uma resposta eficiente à redução das emissões de gases do

efeito estufa, sendo que o etanol de micro-usina pode tornar-se uma importante

alternativa de incremento à produção de energia assim como à melhoria da renda

familiar do pequeno produtor.

Nesse sentido este estudo foi estruturado de forma a avaliar a viabilidade

financeira de uma micro-usina baseada na mão-de-obra familiar em pequena

propriedade rural tendo como modelo de produção a Cooperativa Mista de

Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustíveis do Brasil

(COOPERBIO). A micro-usina é definida como sendo uma planta de produção de

etanol entre 100 e 1000l/dia. Visto que não há na ANP uma classificação para usina

de etanol quanto ao volume de produção, é utilizada a definição proposta pelo prof.

1 O Protocolo de Quioto é um acordo internacional ligado às Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

A principal característica do Protocolo de Quioto é que estabelece metas obrigatórias para 37 países industrializados e a Comunidade Européia para reduzir gases de efeito estufa (GEE) Estes equivalem a uma média de cinco por cento face aos níveis de 1990 durante o período de cinco anos de 2008. - 2012. Disponível em:< http://unfccc.int/kyoto_protocol/items/2830.php> Acesso em: 18 mai 2011.

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15

Enrique Ortega em seu trabalho A produção de etanol em micro e mini-destilarias

(ORTEGA, 2006).

A produção de etanol historicamente tem sido atividade desenvolvida por

grandes produtores, ou usineiros e observa-se que não há incentivo à produção de

etanol para os pequenos produtores. Questiona-se nesse projeto quais seriam as

ações necessárias para tornar viável financeiramente a produção de etanol em

pequenas propriedades?

Para responder a esta questão, definiu-se como objetivo geral investigar a

viabilidade financeira da produção de etanol em pequena propriedade transpondo a

realidade encontrada na COOPERBIO na região de Frederico Westphalen, Rio

Grande do Sul, para a mesorregião do sul da Bahia, com as adequações

necessárias por conta das diferenças de cultura, clima e solo.

Para atingir esse fim foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:

Descrever o processo produtivo e a tecnologia utilizada pela COOPERBIO

para obtenção do etanol;

Inventariar os gastos relacionados ao processo de obtenção de etanol em

micro-usina no sul da Bahia;

Analisar as possibilidades de ganhos através de ato cooperativo.

O trabalho está estruturado em quatro capítulos, assim organizados:

Capítulo 1 - Descreve a motivação que levou ao desenvolvimento

deste trabalho, assim como seus objetivos. Apresenta uma revisão da

literatura definindo os conceitos básicos, o histórico da produção de

etanol no Brasil, a matriz energética mundial e as questões ambientais.

Capítulo 2 – Apresenta a COOPERBIO como modelo de estudo, os

programas de incentivo à biomassa, as matérias primas, os processos

de obtenção do etanol a partir do modelo em estudo e as normas da

ANP que regem a produção e comercialização desse produto. Elabora

a análise financeira a partir dos dados levantados no Sul da Bahia e

adaptados ao modelo observado na visita à COOPERBIO, análise do

custeio pleno, receitas, estrutura de capital, demonstrações financeiras,

fluxo de caixa, avaliação econômica, custo benefício, valor presente

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liquido (VPL), taxa interna de retorno (TIR), payback, EBITDA, análise

de sensibilidade e de cenário

Capítulo 3 – Apresenta a avaliação e discussão dos resultados obtidos

na avaliação econômica a partir dos dados levantados no Sul da Bahia

e adaptados ao modelo observado na visita à COOPERBIO, incluindo

os índices financeiros, e da análise de sensibilidade em quatro

cenários distintos.

Capitulo 4 - Aborda as considerações finais do trabalho entre elas as

conclusões obtidas e as indicações de trabalhos futuros.

1.2. Etanol e matriz energética no Mundo

Matriz energética é uma representação quantitativa dos recursos energéticos

oferecidos por um país ou região. A análise da matriz energética, ao longo do tempo,

é essencial para nortear os programas do setor energético, que visam garantir a

produção, a distribuição e o uso adequados da energia, permitindo projeções futuras

(ELETROBRAS, 2010). Essas previsões são de grande valia devido à importância

da energia nas atividades do homem e a forte correlação entre consumo de energia

e produção industrial.

A maior parte de toda a energia consumida no mundo provém do petróleo, do

carvão mineral e do gás natural. Juntas, essas fontes de carbono fóssil somam

aproximadamente 87% na participação da matriz energética mundial conforme se vê

na Figura 1.

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Figura 1: Total de energia primária no mundo utilizada para combustível em 1973 e

2008.

Fonte: International Energy Agency, 2010

Apesar da oferta de energia passar de 6.115 para 12.267 Mtep entre 1973 e

2008 (Figura 1) e dos avanço tecnológicos na área da energia, ainda assim a matriz

se transformou muito pouco (Figura 2), continuando a depender em mais de 80%

das fontes de energia não renováveis.

Figura 2: Evolução mundial do fornecimento de energia primária para combustíveis

Fonte: Key World Energy Statistics, 2010

Conforme apresentado na Figura 2, historicamente, o petróleo, o gás e o

carvão mineral representam a maior parte da produção de energia primária do

mundo e o etanol entre os combustíveis renováveis e resíduos, ainda permanece

incipiente na matriz energética mundial (representado na cor laranja). Observa-se

que a produção de energia através de fontes renováveis continua sem

representatividade frente à produção mundial de energia primária.

1.3. Etanol e matriz energética no Brasil

A matriz energética no Brasil baseia-se na utilização de fontes de energias

renováveis, representando 47,3% da matriz (Figura 3). A matriz nacional é mais

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18

limpa que a mundial pela importância que a hidroenergia, somada à Biomassa,

exerce (JANNUZZI, 1997). Destaca-se a produção de energia a partir dos produtos

da cana-de-açúcar, que contribuem com 18,1% do total.

Figura 3: Oferta Interna de Energia Fonte: BRASIL/EPE, 2010

Na Figura 3 nota-se a ocorrência de um processo de transição na utilização

da biomassa no Brasil com a maior inserção das fontes renováveis na matriz

nacional, especialmente se confrontadas com os dados representativos da matriz

mundial. Nos anos 70 havia a predominância da utilização da biomassa conhecida

como tradicional, formada pela lenha e carvão vegetal. Atualmente predomina o uso

da “biomassa moderna” que está relacionada ao uso das tecnologias utilizadas com

a finalidade de gerar energia na forma de eletricidade, calor para a indústria e

produção de combustíveis.

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19

O grupo do etanol e bagaço de cana registrou maior variação positiva dentro do

histórico apresentado, como mostra a

Figura 4 o que justifica a consolidação da cana-de-açúcar como segunda

maior fonte primária para produção de energia no Brasil.

Figura 4: Evolução da Participação das fontes de energia no Brasil

Fonte: BRASIL, EPE, 2009

A ampliação da participação do etanol na matriz energética pode propiciar a

oportunidade de realizar políticas de cunho social, ambiental e econômico, além de

alinhar-se com ações de caráter estratégico no âmbito internacional (BRASIL, 2005).

Apesar do crescimento do etanol, o petróleo e derivados continua com a

participação majoritária de 37,8%.

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20

A Oferta Interna de Energia (OIE) no Brasil, em 2009, foi de 243,9 milhões de

toneladas equivalentes de petróleo – Mtep, montante 272% superior ao de 1970 e

próximo a 2% da demanda mundial. Atualmente a indústria de energia no Brasil

responde pelo abastecimento de 92% do consumo nacional sendo os 8% restantes

importados, na forma de carvão mineral e derivados, gás natural, energia elétrica,

petróleo e seus derivados (BRASIL/EPE 2009; BRASIL/EPE 2010).

A Figura 5 apresenta o Balanço Energético Nacional de 2009, mostrando de

uma maneira geral que a tendência tem sido de aumento do consumo de energia.

Figura 5: Oferta Interna de Energia - Brasil

Fonte: BRASIL/EPE, 2009

1.4. Consumo energético e suas implicações sócio-ambientais

O crescimento rápido e mal planejado da produção e do consumo energético

causa impactos ambientais que podem comprometer o desenvolvimento tanto em

nações emergentes como nas industrializadas. Isto inclui poluição atmosférica,

sedimentação nas bacias dos rios, desmatamento e erosão do solo.

Do ponto de vista da poluição atmosférica, a queima dos derivados de

petróleo gera a emissão de gases como o CO2, CO, NOX e SOX. O setor de energia

é o mais representativo nos inventários de emissão de gás causadores do efeito

estufa contribuindo com 90% (noventa por cento) das emissões de CO2 e 75%

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21

(setenta e cinco por cento) das emissões desses gases em países desenvolvidos

(IPCC, 2006).

A ação conjunta desses poluentes agrava o efeito estufa aumentando a

temperatura da terra e provocando graves implicações para a humanidade.

A “Curva de Keeling2” mostra a variação da concentração de CO2 na

atmosfera de Mauna Loa – Hawaii. As observações foram realizadas entre 1958 e

1997, constituindo-se no mais longo registro contínuo de concentração atmosférica

de CO2 (Figura 6). Os registros do Mauna Loa3 apontam um aumento de 15,2% na

concentração média, a partir de 315,83 partes por milhão por volume (ppmv) em

1959 até 363,82 ppmv em 1997 (Figura 6). Anualmente, a concentração atmosférica

de CO2 varia entre um valor alto no inverno, devido à respiração da biosfera e um

valor baixo no verão, por conseqüência do aumento da atividade de fotossíntese.

Assim, gera-se um padrão de onda em relação ao ano anterior com tendência de

crescimento.

Figura 6: Curva de Keeling: Concentrações de CO2 Atmosférico medidas em Mauna Loa, Havai Mauna Loa Observatory

Fonte: 40 Years of Mauna Loa CO2 Data from Keeling

2 Em 1958 o cientista David Keeling iniciou uma série de medições de dióxido de carbono

atmosférico, no observatório de Mauna Loa, no Hawai. A iniciativa deu origem a uma das mais polémicas descobertas científicas da segunda metade do século XX, a "curva de Keeling", que mostra o gradual aumento do teor de dióxido de carbono na atmosfera. 3 40 Years of Mauna Loa CO2 Data from Keeling. Disponível em

http://cdiac.ornl.gov/new/keel_page.html. Acesso em 10 ago. 2010.

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22

Figura 7: Estimativas de mudanças na temperatura Global

Fonte: JONES, 2006

A série temporal apresentada na Figura 7 mostra os registros da temperatura

global desde 1850 até 2000. Nota-se claramente uma tendência de alta das médias

anuais de temperatura, ou seja, as indicações de variação de temperaturas

publicadas por Jones apontaram, a partir de 1910 até os dias de hoje, um aumento

médio de 0,90C na média de temperatura.

De acordo com o quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre

Mudanças Climáticas (IPPC, 2007), a temperatura média da Terra terá um aumento

médio de 1,8 a 4°C até 2100, que influenciará o regime de chuvas e secas afetando

plantações e florestas. Outro fator de risco é o derretimento das geleiras da

Antártida, que em ritmo acelerado aumentará o nível do mar e conseqüentemente

poderá inundar cidades à beira mar. Sendo assim, a utilização de combustíveis

fósseis derivados do petróleo gera um impacto expressivo na qualidade do meio

ambiente, determinando a procura por fontes renováveis e menos poluidoras.

Benefícios relacionados à geração de energia pela biomassa já foram

tratados em vários estudos, não somente reduzindo as emissões de poluentes, mas

também gerando vantagem em anular a emissão de CO2 através do balanço da

biomassa. A adição de álcool anidro à gasolina contribui com a diminuição do

percentual de chumbo tetraetila causando um efeito positivo na qualidade do ar.

Além disso, testes indicam que o veículo movido com etanol é menos poluente que o

carro à gasolina, principalmente no que se refere às emissões de monóxido de

carbono. Apesar de todos as evidencias das mudanças climáticas na Terra no último

século (Figura 7), até o momento observa-se que a adoção de biocombustíveis,

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ainda são de pouca relevância na matriz energética mundial, não obstante todas as

vantagens para o meio ambiente.

A utilização do etanol combustível em função de suas características e

benefícios levou ao desenvolvimento no Brasil de motores movidos a etanol e

motores adaptáveis a qualquer proporção de mistura etanol/gasolina, conhecidos

como flex fuel. A entrada desses motores provocou uma conseqüência imediata na

melhora da qualidade do ar das grandes cidades e um dos motivos foi a redução de

aditivos como o chumbo à medida que o volume de etanol na gasolina aumentava.

Em 1992 o Brasil foi o primeiro país a eliminar totalmente o chumbo tetraetila de sua

matriz energética. A adição de etanol também elevou a octanagem da gasolina,

além de reduzir consideravelmente as emissões de monóxido de carbono,

hidrocarbonetos, compostos oxigenados e aldeídeos com a queima. Também os

hidrocarbonetos aromáticos como o benzeno, presentes na gasolina, foram

suprimidos (NEGRÃO & URBAN, 2005; PEREIRA JÚNIOR, 2008).

O etanol aumenta sua importância na matriz energética à medida que os

efeitos ambientais decorrentes da queima de hidrocarbonetos fósseis vêm criando

um conjunto de conseqüências negativas, que ameaçam desequilibrar o meio

ambiente, pelos impactos do aquecimento global (NEGRÃO & URBAN, 2005).

Deste modo, mais que os debates sobre o esgotamento das fontes de

combustíveis fósseis, especialmente o petróleo, a política dos países produtores e

os interesses corporativos da indústria petrolífera no mundo, o uso do etanol vem se

colocando como fator decisivo na redefinição da matriz energética em favor dos

combustíveis renováveis e ambientalmente limpos.

Diversos estudos foram feitos com esse fim e todos os resultados são

extremamente favoráveis, ou seja, para cada unidade de energia utilizada para

produzir etanol gera-se uma produção de energia de oito a dez vezes maior

(MACEDO, 2004). Isso mostra a grande capacidade desse sistema para economizar

energia fóssil, especialmente se comparando com o etanol de amido de milho

produzido nos Estados Unidos.

Diferentemente das inegáveis vantagens energéticas e ambientais do etanol

da cana-de-açúcar, do caráter de energia limpa e renovável que distingue o etanol

brasileiro e das promessas de redução das desigualdades de renda regionais e

individuais (GUARNIERI, 1992), o PROÁLCOOL transformou-se num programa que

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beneficiou os grandes usineiros e empresas de equipamentos. Como conseqüência

negativa houve um aumento do número de empregos de baixa qualidade (bóias-

frias) no setor, práticas de trabalho escravo e infantil, a migração sazonal de

trabalhadores em várias regiões do Brasil (RICO, 2010) e a invasão de áreas antes

produtoras de grãos.

Atualmente as áreas produtoras de etanol apresentam ampla concentração

de terras. Nesses locais, a monocultura eliminou a agricultura familiar e ocupou-se

com trabalhadores informais, empregados somente durante as colheitas e

submetidos a condições de insalubridade e de injustiça social (ZHOURI, 2006). Isso

mostra que mesmo a produção de combustíveis renováveis, como o etanol, pode

provocar impactos sociais negativos, sem modelos de produção que propiciem a

inclusão social.

1.5. A produção de etanol no Brasil

Desde o período colonial a fabricação e o comércio de açúcar se mantiveram

como atividades fundamentais para assegurar a estabilidade econômica brasileira. O

modelo no qual o proprietário de engenho era também o das terras que cultivava se

manteve em expansão até meados do século XVII (CARVALHO, 1993). A partir

desse período, o Brasil passou a ter maior concorrência de outros países, o que

gerou grande variação na cotação internacional do açúcar.

Devido à estagnação do setor açucareiro gerada pela perda do mercado

externo que foi agravado com a Primeira Grande Guerra, a elite agrária do Nordeste,

inspirada nos conhecimentos adquiridos na França, Cuba, Austrália e Estados

Unidos, iniciou experimentos com álcool combustível a partir da segunda década do

século vinte. Em mensagem presidencial, Epitácio Pessoa em 1922 já se referia a

esses trabalhos, acentuando que "a importância deste problema ressalta, de um

lado, da colossal importação da gasolina no Brasil, e, de outro, do amparo que a sua

solução prestaria à nossa indústria açucareira" (CASTRO, 1981), com problemas de

superprodução e falta de mercado.

Num primeiro momento a promoção do álcool como combustível teve um

papel de redirecionar o excedente da produção da cana-de-açúcar para outro

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25

produto e manter estável o preço do açúcar. O mais importante da diversificação era

assegurar os rendimentos dos produtores e protegê-los das flutuações do preço do

açúcar e não como instrumento de inovação tecnológica, ou a abertura de novas

fronteiras comerciais (RICO, 2010).

A partir dos resultados obtidos pela Estação Experimental de Combustíveis e

Minérios (EECM), o governo de Getúlio Vargas publicou o Decreto n. 19.717, de 20

de fevereiro de 1931 que estabelecia a obrigatoriedade da adição de um mínimo de

5% de álcool à gasolina importada. O decreto ainda instituía a isenção de impostos

de qualquer tipo sobre o álcool produzido no país, e tornava obrigatório o consumo

de álcool ou, na falta deste, carburante que contivesse álcool na proporção de 10%

para todos os veículos de propriedade pública (BRASIL, 1931). Com as medidas

adotadas para a inserção do álcool anidro para a mistura álcool-gasolina, abriu-se a

perspectiva de ampliação da capacidade produtiva dos grandes produtores de cana-

de-açúcar.

Em 1º de Junho de 1933, Vargas publicou o Decreto nº 22.789 que criava o

Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Este Instituto foi de grande valor para a

ampliação do uso do álcool automotivo4 e diversificação da indústria sucroalcooleira

no Brasil. Essa iniciativa do Governo Brasileiro assinala a defesa de interesses dos

grandes produtores de açúcar mantendo o preço do produto a um nível adequado e

direcionando o excedente da produção para o fabrico de etanol anidro. O IAA

também atuava como agente de fomento através de financiamento à instalação de

destilarias, isenção de taxas e impostos e controle dos preços de compra e venda do

etanol.

Após a Segunda Grande Guerra, o etanol tornou-se menos interessante

devido à queda nos preços do petróleo. Sendo assim, reduziu-se o percentual de

mistura do etanol à gasolina chegando a 2,9% no início dos anos 1970. Nesse

período houve uma nova reviravolta no panorama econômico mundial. O excesso de

produção de açúcar e a crise mundial de petróleo provocaram um enorme déficit na

balança comercial brasileira. A pressão dos usineiros que estavam à beira da

falência, a disponibilidade da tecnologia do carro movido a álcool sendo

aperfeiçoada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

e a possibilidade da diminuição da dependência do petróleo almejada pelo governo

4 A Resolução ANP nº 9, de 1º.4.2009 estabelece que o álcool etílico combustível para efeito de

regulamentação da ANP terá como nomenclatura obrigatória, etanol combustível.

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26

militar criou um ambiente propício para criação do PROÁLCOOL, um programa que

previu transformar um subproduto do açúcar, num produto estratégico na economia

brasileira, aproveitando a capacidade ociosa das destilarias anexas às usinas

açucareiras e, conseqüentemente, diminuindo a dependência energética estrangeira

a partir do aperfeiçoamento e aprofundamento das políticas de incentivo que

estavam em vigor desde 1931 (RICO, 2010). Mais uma vez o Governo Brasileiro

operou para impulsionar a agroindústria canavieira no país.

Como benefícios adicionais do PROÁLCOOL pode-se citar a melhora na

qualidade do ar, em virtude da eliminação do chumbo tetraetila empregado para

aumentar o nível de octanagem da gasolina automotiva, maior flexibilidade na

produção de açúcar, desenvolvimento de uma tecnologia sucroalcooleira nacional,

acumulada a partir da sua implantação, além de ser uma fonte renovável e reduzir a

emissão de monóxido de carbono e particulados. Jannuzzi & Swisher (1997)

definem uma fonte de energia como renovável quando seu uso não causa uma

variação significativa em seus potenciais e sua reposição em curto prazo é

relativamente certa. Entre outros objetivos oficiais do PROÁLCOOL estavam a:

maior flexibilidade na produção de açúcar, redução das desigualdades regionais e

individuais de renda, aumento da renda interna, avanço da produção de bens de

capital e geração de postos de trabalho (BRASIL, 1975)

Passadas mais de três décadas restaram uma longa evolução tecnológica na

produção, introdução de novas variedades de cana, ganho de escala, uma estrutura

logística montada e a utilização dos subprodutos da cana-de-açúcar que

contribuíram para diminuição do custo (Figura 8) tornando-o competitivo quando

comparado à gasolina.

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Figura 8: Produção e custo do etanol no Brasil - 1980 a 2005 Fonte: http://www.biodieselbr.com/energia/alcool/etanol.htm

Atualmente o etanol brasileiro apresenta o menor custo de produção do

mundo e esse bom desempenho é resultado de vários fatores tais como: baixo valor

da terra, da mão-de-obra agrícola e industrial; evolução tecnológica e gerencial das

empresas brasileiras (BRASIL, 2007), e o fato da cana-de-açúcar ser a matéria-

prima com maior riqueza em sacarose, o que garante maior produtividade. Por fim,

há a economia da energia utilizada no processo de fabricação do açúcar e do etanol,

tendo em vista que grande parte das usinas brasileiras utiliza energia própria,

cogerada a partir da queima do bagaço da cana em caldeiras.

A previsão de produção de etanol para a safra 2010/2011 é de 27 bilhões de

litros (BRASIL, 2011) em mais de 430 unidades produtivas. Atualmente o álcool é

exportado para os EUA, Japão, Jamaica, Nigéria, Coréia do Sul, Suécia, Países

Baixos, Costa Rica, El Salvador e México, além de países da União Européia num

volume que atinge cerca de 777 milhões de litros para estes países (BRASIL 2010).

A evolução tecnológica e incremento da produção de etanol no Brasil, ao

longo de sua história, são assinalados por estímulos governamentais em pesquisa e

incentivos fiscais marcadamente direcionados aos grandes produtores. O que por

um lado corrobora com o valor de estimular a utilização de combustíveis de fontes

renováveis, por outro aponta para a necessidade de impulsionar alternativas e

estratégias de produção do etanol como é o caso da sua produção em pequenas

propriedades.

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1.6. Perspectivas do etanol no Brasil - Mercado e Produção

O desempenho do mercado mundial de etanol no futuro ainda não está

definido. Seu desenvolvimento e estabilização vão depender de cenários

geográficos, econômicos e políticos que se alteram, assim como de tecnologias de

produção e conversão, muitas delas ainda em desenvolvimento (MAPA, 2006 e

BNDES, 2008).

Atualmente o mercado internacional de etanol é incipiente frente ao petróleo e

precisa superar dificuldades, como segurança no fornecimento, falta de infra-

estrutura, padronização de normas técnicas que contenham especificações acerca

da qualidade e segurança e barreiras comerciais e políticas em algumas partes do

planeta. Ainda assim, o consumo mundial de etanol alcançou 91,1 bilhões de litros

em 2009 com previsão de chegar a aproximadamente 150 bilhões de litros em 2020

(ROCHA, 2010). Em 2011 o Brasil deve produzir cerca de 27 bilhões de litros de

etanol e exportar em torno de cinco bilhões de litros. Seguindo o mesmo raciocínio

(Figura 9), em 2015 a projeção é que a produção brasileira seja de trinta e seis

bilhões de litros, dos quais vinte e oito bilhões de litros para o mercado interno e

cerca de oito bilhões de litros para exportação, considerando-se uma produtividade

de 85 toneladas e 6.600 litros de etanol por hectare e um aumento de 6,45% na área

plantada (TORQUATO, 2005).

Figura 9: Produção histórica de produção de etanol no Brasil e projeção entre

as safras 2005/06 e 2015/16

Fonte: Torquato, 2005

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O alcance de metas ambiciosas em biocombustíveis pressupõe fortes

investimentos em logística, uma política de atração e retenção de capitais

internacionais, condições para ampliação da oferta de matéria-prima e uma política

de Ciência e Tecnologia que consolide o Brasil na liderança em tecnologia de

biocombustíveis. Essas intervenções necessitam de um plano de ação bem

projetado, pois o alcance das metas em biocombustíveis ocorre no longo prazo.

1.7. O etanol na Bahia

Apesar de oferecer condições de clima e solo favoráveis ao plantio da cana-

de-açúcar, atualmente a Bahia não acompanha o crescimento na produção do

etanol que está ocorrendo no Brasil (Figura 10). A UNICA, maior organização

representativa do setor de açúcar e etanol do Brasil, registrou que a Bahia produziu

um total de 141 milhões de litros de etanol na safra de 2008/09, volume 0,67%

superior ao registrado no período entre 2007 e 2008 com produtividade no estado de

56,4 t/ha (IBGE, 2009) contra 85 t/ha da média do país. Esses valores são

inexpressivos frente à produção nacional de cerca de 27.513 bilhões de litros, como

resultado o estado importa 85% do etanol que consome (ANSELMI, 2007). O

crescimento desse setor na Bahia dependerá de investimentos governamentais, em

especial, da criação de um programa de infra-estrutura de irrigação para áreas de

novos plantios e logística de armazenamento e transporte.

Figura 10: Produção de etanol no Brasil

Elaborado pelo autor ( UNICA, 2010 b)

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

30.000.000

90/9

1

91/9

2

92/9

3

93/9

4

94/9

5

95/9

6

96/9

7

97/9

8

98/9

9

99/0

0

00/0

1

01/0

2

02/0

3

03/0

4

04/0

5

05/0

6

06/0

7

07/0

8

08/0

9

BAHIA

REGIÃO CENTRO-SUL

REGIÃO NORTE-NORDESTE

BRASIL

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30

A fim de reverter esses números o governo da Bahia se prepara para atrair

empresas que investem no mercado de etanol melhorando a infra-estrutura logística

com a construção da ferrovia Oeste-Leste, passando pelo Oeste baiano e por

Caetité, na Chapada Diamantina, que terminará em Ilhéus, no Porto Sul, que

segundo o Governo da Bahia atenderá às necessidades dos produtores de minério

de ferro, grãos e também de açúcar e etanol dos cerrados do oeste baiano, porém

sabe-se que até o momento nada de concreto foi realizado com vistas à utilização

da ferrovia e porto para escoamento dos produtos derivados da cana-de-açúcar; Há

previsão de investimento em formação profissional como, por exemplo, a criação em

Porto Seguro do segundo curso de nível médio em biocombustível do país. Também

estão previstas ações direcionadas às pesquisas sobre o etanol com o apoio do

Programa Estadual de Bioenergia, aplicação dos benefícios previstos nos programas

AGRINVEST e DESENVOLVE assim como a implementação de incentivos

adicionais com redução de alíquotas de ICMS (BAHIA, 2006) até 2020. Com esse

conjunto de iniciativas a Bahia pretende chegar ao ano de 2013 com dois milhões de

hectares de cana-de-açúcar e 20 novas usinas produtoras de etanol, em dois pólos

produtivos para beneficiamento da cana-de-açúcar, no Oeste e no Sul do Estado

(Polo, 2008). Tendo em vista que a produção de etanol na Bahia ainda é

inexpressiva e que a ampliação da produção se encontra em fase embrionária, é

importante que se observe as implicações sócio-ambientais de sua produção.

1.8. Agroecologia e aproveitamento de subprodutos do etanol

Durante o último século, a modernização da agricultura implicou em elevado

aumento de produção. Essa profunda mudança foi apoiada por um enorme

investimento econômico em P&D e em inovações tecnológicas, advindos tanto da

indústria química, de maquinários, da genética, quanto das políticas regulatórias e

de fomento do governo (ORTEGA, 2002).

A agricultura convencional mostrou-se à primeira vista mais lucrativa nas

análises econômicas simples, porém quando se consideraram todos os custos

diretos e indiretos do novo sistema ela demonstrou não ser tão rentável quanto se

julgava, pois resultam grandes perdas do meio ambiente como: erosão e perda de

fertilidade do solo, eliminação da biodiversidade, êxodo rural, degradação das

fontes, assoreamento e contaminação dos fluxos de água (ELICHER, 2008).

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A agroecologia recentemente se tornou mais popular, pois está preocupada

com os aspectos ecológicos e sociais da produção e sua sustentabilidade.

Considera a propriedade como um organismo onde as áreas preservadas, culturas

animais e vegetais interagem para construir um sistema diversificado, organizado

para ser sustentável (Figura 11).

Figura 11: Elementos construtivos da agroecologia

Fonte: www.agroecologia.inf.br

Assim, o uso do termo Agroecologia traz a idéia e a expectativa de uma nova

agricultura capaz de fazer bem ao homem promovendo a inclusão social e

proporcionando melhores condições econômicas aos agricultores e ao meio

ambiente (ELICHER, 2008). A agroecologia apresenta diversas características

presentes à realidade encontrada na COOPERBIO como: a) O emprego de técnicas

de produção de leite e biomassa de baixo custo e poupadoras de insumos

industriais; b) O aproveitamento de recursos naturais na produção de alimentos e

energia; c) A utilização de medicamentos fitoterápicos, possível de serem

produzidos pelas famílias com recursos presentes em suas propriedades em

substituição aos medicamentos sintéticos, naturalmente mais caros. Essas práticas

adotadas em Frederico Westphalen podem ser reproduzidas com as devidas

adaptações ao Sul da Bahia.

Na perspectiva agroecológica o aproveitamento dos resíduos da produção de

etanol têm se destacado por contribuir na diminuição dos gastos com insumos,

reaproveitamento na propriedade e pelo seu valor comercial. Devido à importância

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adquirida, os resíduos no modelo COOPERBIO passaram a ser tratados como

subprodutos sendo os mais importantes: a ponta de cana, o bagaço, o vinhoto, a

torta de filtro e a levedura (LANZOTTI, 2000).

1.8.1.1. Cana de açúcar como fonte de biomassa

Desde o início do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil, pouca atenção foi

destinada ao aproveitamento de seus principais resíduos. Com o início do

PROÁLCOOL e, conseqüente aumento na produção de cana-de-açúcar e etanol,

tornou-se necessário cuidar dos resíduos. A solução encontrada foi a reciclagem

total dos resíduos para o campo.

A cana-de-açúcar é uma planta herbácea, cespitosa e perene, da família das

gramíneas do gênero Saccahrum com trinta e duas espécies catalogadas

(ANDRADE, 2004) e origem na Oceania ou Ásia a depender da espécie.

Possui tronco fino e comprido com folhas alongadas e verdes e alto teor de

açúcar (Figura 12). Precisa de solo com profundidade de 1m, precipitação

pluviométrica que varia de 1.000 a 3.000 mm anuais e temperaturas entre 20 e

30°C.

Figura 12: Estrutura da cana-de-açúcar

Fonte: Plano Nacional de Energia 2030, 2007

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33

Na média, durante todo um ciclo da produção a produtividade varia de 50 a

100 t/ha.ano de acordo com as práticas agrícola que forem adotadas. No Brasil, a

cana-de-açúcar pode ser produzida em quase todas as partes do país, porém ela é

cultivada em menos de 1% das terras agricultáveis que produzem cerca de 570

milhões de toneladas de cana (ÚNICA, 2010) e geraram o equivalente a 44,1

milhões de tep em 2009 (BEN, 2010).

A composição química em porcentagem da cana-de-açúcar madura, normal e

sadia é a apresentada no Quadro 1:

Quadro 1: Composição química em porcentagem da cana-de-açúcar madura

ELEMENTO %

Água 74,50 (65 – 75%)

Acúcares 14,00 (12 – 18%)

Fibras 10 (8,0 – 14,0%)

Cinzas 0,50 (0,30 – 0,80)

Materiais Nitrogenados 0,40 (0,30 – 0,60)

Outros 0,60 Fonte: ANDRADE, 2004

O teor de fibra é muito importante para a manutenção energética das

indústrias que processam a cana-de-açúcar. Em média a cana-de-açúcar possui

10% de fibras e 14% de açúcares (Quadro 1). Quanto maior o teor de fibra maior o

gasto de energia e o desgaste das moendas para a extração de sacarose.

1.8.1.2. Ponta da Cana

A ponta da cana é a denominação popular para as partes “não colmos” da

cana-de-açúcar, ou seja, toda parte aérea da planta menos os colmos

industrializáveis. Sendo assim, trata-se de um resíduo agrícola composto de três

partes distintas: lâmina, bainha e uma quantidade variável de cana imatura.

Apresenta variações importantes em sua composição, em função do local de coleta

do material, condições climáticas no local, estágio de desenvolvimento vegetativo da

cultura, o que torna inviável a generalização da sua composição (CTC,2010).

Apresenta até 18% da produção total de cana, constituindo aproximadamente 19

t./ha de matéria verde, sendo suficiente para alimentar 15 bovinos de massa

corpórea média de 300 kg durante 120 dias (EVANGELISTA, 2004).

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A ponta da cana constitui-se uma boa opção de volumoso quando usada

como alimento para bovinos de baixo custo e disponível nos períodos críticos de

alimentação animal propiciando estabilidade na produção leiteira, porém devido ao

baixo teor de proteína requer suplementação protéica.

1.8.1.3. Bagaço

O bagaço é o produto fibroso resultante da extração do caldo da cana-de-

açúcar após o esmagamento das moendas. Sua composição química pode variar

dependendo da variedade de cana da qual é obtido, época de corte e eficiência da

extração do caldo da cana.

As fibras do bagaço da cana contêm, como principais componentes, cerca de

40% de celulose, 35% de hemicelulose e 15% de lignina (TEIXEIRA, 2007), sendo

este último responsável pelo seu baixo aproveitamento na alimentação animal caso

seja oferecida in natura (Figura 13). O valor nutritivo desse resíduo lignocelulósico é

baixo quando usado para ração animal, devido às ligações que ocorrem na parede

celular entre a celulose, a hemicelulose e a lignina que impedem que as enzimas

tenham acesso às células de celulose (SOUZA, 2002). Também se pode usar o

bagaço como adubo orgânico, usando-se técnicas de compostagem em superfície.

Figura 13: O Complexo Lignocelulósico.

Fonte: PEREIRA Jr., 2007

O processo de moagem da cana-de-açúcar na indústria sucro-alcooleira, visa

à máxima extração do caldo rico em açúcar e modelos com quatro ternos de

moendas podem ultrapassar 96% de extração do açúcar. Para as pequenas

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indústrias, as moendas utilizadas extraem entre 60 e 70% do açúcar total contido na

cana. Sendo assim, espera-se que o bagaço de cana proveniente de mini-destilarias

contenha um teor residual de açúcar alto e, conseqüentemente maior valor

energético para ruminantes (EVANGELISTA, 2004).

1.8.1.4. Vinhoto

Vinhoto é o resíduo da destilação do fermentado do caldo de cana de açúcar.

Quimicamente a composição do vinhoto varia de acordo com o tipo de solo, a

variedade da cana, o método de colheita, o processo empregado, o conteúdo sólido

e total e a acidez. Conforme afirma MACEDO (2002) cada litro de etanol produzido a

partir do mosto da cana-de-açúcar gera-se cerca de 10 a 15 litros de vinhoto como

subproduto do processo. Teixeira, apud Pupo (1982) descreve a composição do

vinhoto conforme Quadro 2.

Quadro 2: Composição química do vinhoto

Componentes Vinhoto

Água (%) 44,96

Matéria Seca (%) 47,88

Proteína Bruta (%) 4,92

Fosfato (%) 0,12

Magnésio (%) 0,46

Potássio (%) 1,66

Fonte: TEIXEIRA apud PUPO, 1982.

Geralmente o vinhoto apresenta uma cor marrom-clara e um baixo conteúdo

total de sólidos quando é obtido do caldo de cana. As substâncias nocivas presente

no vinhoto geram uma Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) muito alta, que varia

de 30.000 a 40.000 mg/l e um pH baixo, entre 4 e 5 por causa dos ácidos orgânicos

corrosivos presentes em sua composição (BRAUNBECK, 2005). O vinhoto contém

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também açúcares não convertidos, carboidratos não fermentados, fermento inativo e

uma variedade de compostos inorgânicos que contribuem para a DBO.

Devido à sua alta DBO, a prática de descarte do vinhoto in natura nos rios

lagos e baixios foi proibida a partir de fevereiro de 1967 no governo Jânio Quadros

pelo Decreto Lei no303, buscando evitar sérios danos à vida aquática e ao meio

ambiente. Atualmente, as três principais tecnologias de aproveitamento do vinhoto

são as seguintes:

Fertirrigação: Método mais comum de recolhimento empregado no Brasil. O

método consiste em bombear ou transportar o vinhoto até as plantações de cana-de-

açúcar e aplicado por meio de canais abertos ou sistemas convencionais de

irrigação. O custo inicial é baixo e aproveita o potencial de fertilização do vinhoto. O

uso do vinhoto como adubo reduz fortemente a necessidade de fertilizantes

químicos para a produção agrícola da cana de açúcar e pode aumentar a

produtividade entre 5% e 10%. Apesar de ser considerado o seu uso como

substituto parcial na fertilização das áreas agrícolas e seu valor equivalente não foi

considerado nas despesas com adubação.

Ração animal: O vinhoto é diretamente usado como ração para animais,

geralmente para o gado.

Biodigestão: A geração de energia através da biodigestão do vinhoto tem a

vantagem de recolhimento nas próprias instalações das destilarias, ao mesmo

tempo em que se produz um bom fertilizante e se recupera energia por meio do

biogás. Esse método de aproveitamento do vinhoto é muito interessante do ponto de

vista da substituição de energia, pois a indústria da cana-de-açúcar produz uma

grande quantidade de vinhoto ao mesmo tempo em que depende da energia elétrica

para movimentar sua indústria e óleo diesel para os caminhões (ROBRA, 2009).

1.8.1.5. Torta de Filtro

A torta de filtro é um resíduo da agroindústria canavieira, obtida nos filtros

rotativos após separação da sacarose residual da borra. No início da década de

1980, a torta de filtro deixou de ser um resíduo industrial, e passou a ser empregada

como um fertilizante, pois contém cerca de 80% de matéria orgânica além de outros

nutrientes que trazem benefícios à cultura da cana-de-açúcar (CORTEZ, 1992).

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Quadro 3: Composição média da Torta de filtro

Nutriente ( g.kg ⁻ ¹) N P K Ca Mg S

Média 6,8 1,9 5,7 4,3 3,9 0,9

Fonte: NARDIN, 2007

O Quadro 3 mostra que a composição média dos nutrientes da torta de filtro é

rica em cálcio (Ca), nitrogênio (N) e potássio (P). A composição química da torta de

filtro é variável, em função da variedade da cana, tipo de solo, maturação da cana,

processo de clarificação do caldo e outros (NARDIN, 2007).

1.8.1.6. Levedura

A levedura utilizada para a industrialização da cana-de-açúcar constitui uma

fonte de proteína, portanto, um resíduo de interesse na alimentação animal. A

composição química desse material pode variar em função do substrato utilizado nos

processos de fermentação, espécie da levedura, método de fermentação, idade das

células e processo de obtenção (lavagem das dornas).

Nas pequenas destilarias a lavagem das dornas ocorre normalmente no final

do período da safra e em quantidade relativamente pequena e freqüência de

obtenção desuniforme (EVANGELISTA, 2004). Devido à sua composição química

rica em proteínas e minerais a levedura úmida in natura tem sido usada em misturas

como material volumoso para alimentação de ruminantes ou como fertilizantes.

1.9. Biomassa como fonte energética

A biomassa é o resultado da fotossíntese e depende essencialmente da

energia solar e da presença de água e dióxido de carbono (CO2), que se combinam

para a formação de glicose e oxigênio. Essa energia acumulada na biomassa pode

ser convertida em combustíveis ou em eletricidade.

As fontes de energia oriundas da biomassa têm despertado grande interesse

por serem renováveis, terem grande potencial de geração de empregos (MAPA

2006) e admitirem um balanço energético mais sustentável devido à assimilação de

dióxido de carbono na fase agrícola, o que não ocorre com a energia gerada a partir

de combustíveis fósseis.

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No Brasil o consumo da biomassa, que inclui o bagaço de cana, lenha e

carvão vegetal, etanol e outras fontes primárias renováveis, está distribuído entre o

setor industrial, com 70%, o setor de transportes com 14% e o residencial com cerca

de 13% (Figura 14). O alto acréscimo do uso industrial de biomassa, na primeira

metade da década de 80, ocorreu por conta do carvão vegetal, em substituição ao

óleo combustível; do bagaço de cana utilizado como fonte de calor na produção de

etanol e à expansão da siderurgia a carvão vegetal (BRASIL/EPE, 2008).

Figura 14: Evolução dos Consumos Setoriais de bioenergia no Brasil entre 1970 e 2007

Fonte: BRASIL/EPE 2008

O balanço da matriz energética brasileira entre fontes fósseis e renováveis

mostra-se positivo em relação ao balanço mundial. Segundo o Relatório do Balanço

Energético Nacional - 2010, as fontes renováveis representam mais de 47% da

matriz energética, sendo que as estimativas mais aceitas indicam que a média

mundial representa 13% do consumo de energia primária (BRASIL, 2009).

O Brasil utiliza largamente a biomassa na matriz energética e dispõe de

grande potencial para aumentar a geração de energias renováveis, pois aproveita

apenas 1% da área agricultável na produção de cana-de-açúcar, ou seja, existe uma

grande área disponível para a exploração agrícola, permitindo o plantio de diversos

insumos para a produção de biocombustível.

Percebe-se a possibilidade de ampliar o plantio de cana-de-açúcar e a

produção de etanol como alternativa de incremento do fornecimento energético em

um novo modelo visualizado na COOPERBIO e adaptado às condições do Sul da

Bahia.

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1.10. Programas de incentivo à produção de energia alternativa

Para estimular o aproveitamento energético dos cultivos de biomassa e uso

de energias alternativas de modo a agregar a maior variedade de fontes energéticas

possível, o governo brasileiro criou alguns programas dentre eles, o Programa

Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB).

O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) é formado por

quatorze ministérios que tem como objetivo a produção e uso do biodiesel, com foco

na inclusão social e no desenvolvimento regional, através da criação de emprego e

geração de renda. O programa privilegia a participação da agricultura familiar,

estimulando a formação de cooperativas e consórcios entre produtores.

Para aumentar ainda mais o sucesso dos programas, o Governo Federal criou

o Selo Combustível Social, que é formado por diversas medidas para estimular a

inclusão social da agricultura na cadeia produtiva. O enquadramento social de

projetos ou empresas produtoras de biodiesel permite acesso a melhores condições

de financiamento junto ao BNDES e outras instituições financeiras, além de dar

direito de concorrência em leilões de compra de biodiesel. As indústrias produtoras

também terão direito a desoneração de alguns tributos, mas deverão garantir a

compra da matéria-prima, preços pré-estabelecidos, oferecendo segurança aos

agricultores familiares. Há, ainda, possibilidade dos agricultores familiares

participarem como sócios ou quotistas das indústrias extratoras de óleo ou de

produção de biodiesel, seja de forma direta, seja por meio de associações ou

cooperativas de produtores (BRASIL, 2004).

Na Bahia existem dois programas que têm por finalidade diversificar a matriz

energética do estado em substituição à energia de origem fóssil, O BAHIABIO e o

BIOSUSTENTÁVEL.

O Programa BIOSUSTENTÁVEL objetiva Inserir os agricultores familiares na

base de produção e de beneficiamento das culturas fornecedoras de óleos para fins

de biodiesel. O escopo do programa BAHIABIO é fomentar ações para o

desenvolvimento, através das aplicações, pesquisa e uso de biomassa. Para

alcançar esses objetivos o BAHIABIO prevê o desenvolvimento de oito pólos com

produção estimada em 6,2 milhões de m³ de etanol, implantação de um parque

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industrial alcooleiro e de um parque de extração de óleo com produção de 1,24

milhão m³ de biodiesel e a exploração de 1,237 milhão de hectares de oleaginosas,

além do aproveitamento dos subprodutos oriundos do processo de industrialização

para co-geração de 3,6 mil GWh de energia elétrica. Essas metas permanecem em

um contexto sustentável que consolide a cadeia produtiva dos biocombustíveis com

desenvolvimento tecnológico e fortalecimento da agricultura familiar. Para a

implementação desse programa será necessário um investimento de

aproximadamente R$ 12,3 bilhões até o ano de 2012 (SEAGRI, 2008).

Apesar de diversos programas nacionais e estaduais de incentivo à produção

de energia elétrica e ao biodiesel apresentarem as vantagens da diversificação da

matriz energética, geração de empregos diretos, melhoria qualidade de vida e

fixação do homem ao campo até o momento os governos não apresentaram

qualquer programa de estímulo à produção de etanol para o pequeno produtor, ou

seja, todos esses benefícios apontados poderiam ser estendidos ao pequeno

produtor rural para a produção de etanol.

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2. PRODUÇÃO DE ETANOL EM PEQUENA ESCALA: O CASO COOPERBIO

A produção de etanol em pequena escala, ou realizada por pequenos

produtores não tem tradição no Brasil. Embora seja conhecida a necessidade de

ampliar a geração de energia de fontes renováveis e que a produção de etanol é

uma opção viável, esta sempre se deu em grande escala e através de grandes

produtores. A fabricação de etanol em pequena escala é um projeto que se encontra

em implantação pela COOPERBIO.

2.1. COOPERBIO

As Cooperativas são organizações que surgiram ao mesmo tempo com os

Sindicatos, como resultado da Revolução Industrial, no fim do século XIX e são, por

natureza e princípios, organizações socialistas constituídas para prestar serviços

aos associados (art. 4º da Lei 5.764/76). Porém, podem ou não, na sua prática,

estarem vinculadas a um projeto socialista.

As cooperativas vêm respondendo à competitividade do mercado através da

ênfase na capitalização introduzindo novos métodos organizacionais e gerenciais,

investindo em inovações tecnológicas e na qualificação da mão-de-obra, buscando

parcerias e a conquista de novos mercados. A capacidade e agilidade das

cooperativas de implementar as mudanças tão necessárias no atual contexto de

globalização define o sucesso de suas práticas (SANCHES, 2002).

A Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de

Biocombustíveis do Brasil (COOPERBIO) foi fundada no dia 08 de setembro de

2005, em Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul engloba 63 municípios do

noroeste gaúcho e representa aproximadamente 25 mil famílias de agricultores

dessa região. Tem por objetivo desenvolver um processo de validação tecnológica

de formatos de produção de álcool, dentro de um novo modelo tecnológico que

envolve os princípios de agroecologia, conjugando a produção de biocombustível,

alimentos e a preservação ambiental (Figura 15). Também objetiva a geração de

trabalho e renda planejados, que respondam à necessidade de socializar os

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rendimentos e, venha a influenciar o desenvolvimento socioeconômico e ambiental

da região de forma sustentável (LEAL, 2009). Este modelo de produção de

combustível tem diferenças significativas nas fases agrícolas, de produção e

distribuição em relação ao padrão tradicional.

O projeto das micro usinas foi implementado em parceria com a PETROBRAS

(ANEXO 1) que ofereceu consultoria para o desenvolvimento de projeto de validação

tecnológica de produção de biocombustíveis tendo como foco a descentralização da

produção e criação de oportunidades para a agricultura familiar de forma

cooperativada e integrada com a produção de alimentos. A parceria pretende

analisar a viabilidade de modelos produtivos com organização e tecnologia

alternativas, mais adequadas às características da agricultura familiar, que tem por

base as relações com a natureza e seus meios de produção.

Figura 15: Projeto de Validação Tecnológica de Produção de Álcool e Alimentos.

FONTE: LEAL, 2009

Dentre as metas do projeto encontra-se a implantação de nove micro-

destilarias em diversos municípios da região de Frederico Westphalen; Fomento à

produção de cana-de-açúcar e amiláceas consorciadas com a produção de cultivos

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alimentícios de forma agroecológica; aumento da produção de leite à base de rações

alternativas feitas a partir de subprodutos da cana e criação de um novo sistema

logístico na cadeia produtiva do álcool e uma nova rota de insumos na região.

Foram localizadas apenas duas cooperativas no Brasil com o padrão de

produção com características que se aproximam aos objetivos do trabalho. Por este

motivo escolheu-se na região de Frederico Westphalen – RS para ser realizada a

coleta de dados. A COOPERBIO, por meio de seu Diretor Marcelo Leal,

disponibilizou o acesso aos dados que compõe esse estudo que foi desenvolvido

considerando os dados de implantação de uma micro usina de etanol construída e

que já teve produções experimentais, mas aguarda a liberação de licença ambiental

para entrar em operação. Até o momento não foram apontados elementos que

permitem afirmar que o modelo da COOPERBIO é viável financeiramente.

A micro usina, objeto deste estudo está localizada no município de Caiçaras,

região de Frederico Westphalen, localizada na região Noroeste do estado do Rio

Grande do Sul, a uma distância de 448 km da capital, Porto Alegre (Figura 16).

Figura 16: Localização geográfica de Frederico Westphalen Fonte: Google maps

A micro usina de etanol tem capacidade de produção de 500 litros por dia.

Implantada num conjunto de pequenas propriedades rurais, envolve cerca de 20

famílias cooperativadas, com plantio de menos de dois hectares de cana-de-açúcar

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por família. A produção prevê a utilização de mão-de-obra familiar e aproveitamento

dos resíduos gerados durante o processo de produção de etanol, sob a forma de

adubação do solo e elaboração de rações alternativas.

Figura 17: Coluna de destilação de micro-usina

Fonte: acervo fotográfico do autor, 2010

2.2. Características do Etanol

O etanol é uma substância pura, incolor, volátil, inflamável, pode ser diluída

em água e é composta por um único tipo de molécula: C2H5OH. É considerado um

dos mais curiosos compostos orgânicos contendo oxigênio, dado suas propriedades

como solvente, germicida, anti-congelante, combustível, depressivo, componente de

bebidas, além de grande versatilidade como intermediário químico (KIRK, 1980).

Na produção industrial do etanol, o tipo hidratado é o que sai diretamente das

colunas de destilação. Para transformá-lo em anidro é necessário utilizar um

processo adicional que retira a maior parte da água presente.

Além do uso como combustível, o etanol pode ser usado como anti-séptico,

solvente, agente reservante e precipitador, óleos essenciais, drogas, ceras,

elaboração de bebidas alcoólicas entre outros (LANZOTTI, 2000).

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Quando comparado à gasolina, pode-se afirmar que a combustão do etanol

puro em motores emite menores níveis de monóxido de carbono (CO), óxidos de

enxofre (SOx) e hidrocarbonetos. Porém, aldeídos e alguns óxidos de nitrogênio

(NOx) podem ser liberados em maior volume.

O etanol pode ser produzido a partir de diferentes variedades de plantas,

porém a cana-de-açúcar é a que proporciona melhor benefício energético e

econômico.

2.3. Descrição do processo de obtenção do etanol em micro-

usina – Modelo COOPERBIO.

Existem diversas tecnologias para a obtenção de etanol que diferem em

maquinário e tecnologias. Neste trabalho vamos abordar a destinada para micro-

usinas, referindo-se ao etanol produzido a partir da cana-de-açúcar com o processo

produtivo mais simples e iniciando-se a partir do plantio do canavial. Em seguida são

descritas as etapas subseqüentes do processo de obtenção do etanol como a

moagem, tratamento de caldo, ajuste do Brix, fermentação e destilação. Assim como

são apontados os possíveis aproveitamentos dos subprodutos e resíduos da

produção de etanol na perspectiva de agroecologia conforme ilustrado na Figura 18.

Fonte: CORTEZ, 1992

Figura 18: Processo produtivo e integração dos derivados da cana-de-açúcar

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2.3.1. Plantio, colheita e preparo da cana-de-açúcar

Devem-se levar em consideração as variedades que mais se adéqüem às

características do solo e clima, a produtividade e teor de açúcar. Anualmente

surgem novas variedades, sempre com melhorias tecnológicas quando comparadas

àquelas que estão sendo cultivadas.

Para a indústria, a matéria-prima que interessa são os colmos de cana-de-

açúcar. O ponto de colheita interfere diretamente nas etapas seguintes, pois a

proporção entre as partes moles (internódios) e duras (nós e cascas) é que vai

determinar o rendimento na extração. Normalmente essa relação é de 3:1

(VEIGA,2004) e quanto maior a quantidade de partes moles, por apresentar menor

teor de fibras e oferecer menor resistência no esmagamento da cana-de-açúcar,

maior é a recuperação da sacarose.

Após a colheita e transporte para o local de moagem deve haver a lavagem e

o preparo da cana-de-açúcar que tem por função: destruir a resistência das partes

duras, romper os vasos celulares e aumentar a capacidade da moenda pelo

aumento da densidade da massa. Como vantagens o preparo proporciona um

aumento na eficiência das moendas com menor desgaste e melhora as condições

absortivas do bagaço.

2.3.2. Moagem

A extração do caldo de cana-de-açúcar por moagem é a operação que

permite dividir o colmo em duas frações: o caldo, rico em água e açúcar e o bagaço,

rico em fibras. Esta separação é alcançada fazendo a cana passar entre dois rolos,

submetidos à determinada pressão e rotação, sendo o volume gerado menor que o

volume da cana. O excesso volumétrico, desprezando-se o volume de caldo

reabsorvido pelo bagaço, deve ser deslocado, correspondendo, portanto, ao volume

de caldo extraído (CASTRO, 2006).

Fundamentalmente existem dois tipos de moenda: A de ternos múltiplos

usada principalmente pelos grandes usineiros e a moenda de apenas um terno,

usada pelos fabricantes de cachaça artesanal (Figura 19).

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Figura 19: Moenda Simples

Fonte: MARQUES, 2007

A moenda simples é composta de base, castelos, engrenagens mancais,

rolos, bagaceira, reguladores de abertura dos rolos, transmissão e motor, (Figura

19).

2.3.3. Tratamento do caldo

Por mais criteriosa que seja a colheita, preparo e moagem para a cana-de-

açúcar é indispensável o tratamento do caldo através do uso de peneiras de malhas

finas e decantador para a retirada das impurezas conforme mostrado na Figura 20.

Figura 20: Decantador de caldo

Fonte: TERRA, 2005

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As peneiras têm o objetivo de eliminar as impurezas grosseiras como

bagacilhos e areia que aumentam a deterioração dos equipamentos e as

incrustações, além de diminuírem a produção e inibirem a recuperação do fermento.

Em seguida o caldo atravessa o decantador que tem por objetivo maximizar a

eliminação de partículas coloidais. Essas partículas são responsáveis pela maior

formação de espuma e também por dificultarem a recuperação do fermento

(ALCARDE, 2010).

2.3.4. Ajuste do Brix

O ajuste no Brix ocorre antes de iniciar a fermentação nos tanques de

fermentação, conhecido como dornas. Esse procedimento justifica-se, pois a

fermentação ideal ocorre quando a concentração de açúcares esteja entre 14º e 16º

Bx. Acima dessa concentração a fermentação ocorre de maneira mais lenta e,

freqüentemente, mais incompleta e favorecem o acúmulo de glicogênio, acarretando

uma diminuição no rendimento alcoólico e perda de qualidade no produto final

(SCHWAN, 2004).

2.3.5. Fermentação

O termo fermentação é derivado do verbo latim fervere, que significa ferver,

que descreve a aparência da ação de leveduras no mosto durante a produção de

bebidas alcoólicas (STANBURY et al., 1994). Pode ser denominado como processo

em que microrganismos catalisam a conversão de uma substância num determinado

produto. Esse procedimento pode demandar ou não O2 e os próprios

microrganismos podem estar incluídos entre os produtos constituídos.

O processo de fermentação para produção de etanol é realizado em duas

etapas distintas. A primeira é a propagação do microorganismo, que é feita sob

intensa aeração e em caldo diluído com teores de açúcar próximo a 5º Bx, visto que

concentração mais alta prejudica a respiração da célula, que é indispensável para

crescimento eficiente. Na segunda etapa o mosto apresenta uma quantidade de O2

necessária para a multiplicação inicial das leveduras e observa-se somente o

crescimento do número de células do microorganismo.

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Após a fermentação, que dura em média 24 horas, os substratos açucarados

passam a se chamar vinhos, com uma composição incerta, mas contendo sempre

substâncias gasosas, sólidas e líquidas. As primeiras representam-se principalmente

pelo dióxido de carbono, dissolvida em pequena proporção no vinho. Os sólidos São

representados pelas células de leveduras, bactérias, sais minerais, açúcares

infermentados e impurezas mecânicas em suspensão. Os principais líquidos são a

água (88-93%) e o etanol (12 – 7%) respectivamente nos vinhos comuns. Os álcoois

amílico, isoamílico, propílico, butílico, isobutilico, aldeídos, ácidos, furfural, glicerina,

ésteres e ácidos orgânicos constituem outra parcela de líquidos de pequeno volume,

(VICENZI, 2004).

Terminada a fermentação o vinho está pronto para ser destilado. Isto deverá

ser feito o quanto antes, pois nessas condições há maiores probabilidades de

contaminação que implica em perda de qualidade do levedo restante no fundo da

dorna.

2.3.6. Destilação

A destilação é um processo físico que permite separações químicas. Consiste

da passagem da fase liquida de uma substância ou mistura, sob aquecimento, ao

estado gasoso, que em seguida, retorna ao estado liquido por meio de resfriamento

(LIMA et al, 2001). É realizado para separar o álcool presente dos líquidos

fermentados. Através desse método, o líquido fermentado é aquecido até o álcool

entrar em ebulição. O vapor, uma vez condensado, forma um líquido de maior

concentração alcoólica.

Durante o aquecimento, a composição química dos vapores formados se

torna diferente da mistura inicial; são mais ricos em componentes mais voláteis da

mistura remanescente. Após a condensação dos vapores, o líquido final adquire

componentes voláteis mais concentrados do que na mistura original. Este é o

princípio da concentração por destilação (DIAS, 2004).

Quando o vinho é destilado, resultam duas frações chamadas de flegma e

vinhaça. A flegma é formada por uma mistura hidroalcoólica impura, cuja graduação

depende do tipo de destilador utilizado.

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50

2.3.6.1. Processo de destilação

O processo de destilação do vinho pode ser realizado de duas maneiras:

Destilação simples e destilação contínua.

A destilação simples é utilizada para pequena produção resultando em um

flegma impuro de graduação entre 45ºC a 55ºC. O processo de destilação contínua

é possível obter-se um flegma de até 96º. Para esse processo de destilação

emprega-se uma coluna de destilação contínua que é mantida por um filete contínuo

de vinho que gera um fluxo ininterrupto de destilado e outro de vinhaça.

As colunas de destilação que produzem destilados com teores alcoólicos de

90 a 96°G.L. são compostas por cerca de 30 a 38 tanques de destilação

superpostos, que são chamados de pratos ou bandejas (NOGUEIRA, 2005). Cada

bandeja forma uma unidade de destilação que se superpõem dando ao conjunto a

aparência de uma coluna vertical com o nome de tronco de destilação (Figura 21).

Figura 21: Destilação Contínua

Fonte: TERRON, 2011

De forma resumida o vinho inicia o processo de destilação na parte superior

da coluna e desce de bandeja em bandeja liberando-se do etanol em forma de vapor

que percorre em sentido inverso, misturando-se em flegmas cada vez mais

alcoólicos, de menor ponto de ebulição, acumulando-se no topo da coluna.

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2.4. Regulamentação para produção e comercialização do etanol produzido em pequena propriedade.

Na Constituição brasileira o artigo 22 dispõe acerca da competência privativa

da União para legislar, dentre outros casos, sobre energia, ou seja, todos os atos

normativos a serem editados relativos às atividades do petróleo, gás natural e dos

biocombustíveis, são de responsabilidade da União.

Para regular, contratar e fiscalizar as atividades econômicas relacionadas à

indústria do petróleo, gás natural e biocombustíveis, o presidente Fernando

Henrique Cardoso através da Lei nº 9.47819 de 6 de agosto de 1997 instituiu a

Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Entre outras

atribuições a ANP autoriza e fiscaliza as operações das empresas que distribuem e

revendem etanol e estabelece as especificações técnicas (características físico-

químicas) dos biocombustíveis e realiza permanentemente monitoramento da

qualidade desses produtos nos pontos-de-venda. Atualmente, a ANP regula apenas

a qualidade de produção do etanol e não tem fiscalização da produção nem metas

pré-estabelecidas, de modo que seu preço e oferta variam de acordo com sua

demanda.

Para que o fornecedor5 possa comercializar o etanol, é necessário que este

esteja cadastrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com a

finalidade de, posteriormente pleitear o Certificado de Cadastramento de Fornecedor

de Etanol Combustível para Fins Automotivos emitido pela ANP (Resolução ANP Nº

43/2009, art. 5º). Este documento habilita o fornecedor a iniciar a comercialização de

álcool etílico para fins automotivos. Ainda assim, o produto só poderá ser negociado

no mercado interno se o comprador for cadastrado, ou autorizado pela ANP. No

caso de cooperativa de produtores, juntamente com a ficha cadastral, deverão ser

entregues os seguintes documentos, conforme Resolução ANP Nº 43/2009, art. 3º

§6:

i) comprovação de que esse estabelecimento possui instalação de

armazenamento própria com cópia autenticada do Registro Geral de Imóveis,

contrato de arrendamento ou contrato de cessão de espaço com instalação de

armazenamento;

5 Resolução n º 43 art 2º Define fornecedor como “produtor com unidade fabril instalada no território

nacional, cooperativa de produtores de etanol ou empresa comercializadora de etanol”.

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ii) comprovante de inscrição e de situação cadastral no Cadastro Nacional de

Pessoa Jurídica;

iii) comprovante da regular inscrição estadual.

A Resolução no 12, de 2007 da ANP, em vigor desde 1º de janeiro de 2008,

regulamenta a instalação, funcionamento e desativação do Ponto de Abastecimento.

Todo o processo de autorização e atualização cadastral é realizado através do

Sistema de Ponto de Abastecimento – SPA, disponível em

“https://www.anp.gov.br/SPA”.

O Ponto de Abastecimento é uma instalação dotada de sistemas destinados

ao armazenamento de combustíveis, com equipamento medidor de volume

submetido ao controle metrológico por parte do Instituto Nacional de Metrologia,

Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) para o abastecimento de veículos

automotores, dentre outros. Somente os Pontos de Abastecimento com capacidade

total de armazenagem de combustível de 15m3 ou acima necessitam de autorização

da ANP. A aquisição de combustíveis está prevista no art. 14 da Resolução no 12 e

estabelece que poderá adquirir combustíveis de fornecedor, dentre outros, podendo

o fornecedor ser uma cooperativa.

A oportunidade para o pequeno agricultor comercializar o etanol encontra-se

descrita no artigo 10 dessa Resolução.

“No caso de o detentor das instalações estar identificado em forma de

grupo fechado de pessoas físicas ou jurídicas, previamente associadas em

forma de cooperativa, poderão ser abastecidos na instalação do Ponto de

Abastecimento os veículos automotores terrestres, que estejam registrados em

nome das pessoas físicas ou jurídicas que o integram e em nome do próprio

grupo fechado.”

Ou seja, por esse artigo inserido na Resolução No 12, de 2007 todos os

cooperados, sejam pessoas físicas, ou jurídicas podem abastecer seus veículos no

Ponto de Abastecimento, desde que haja uma relação dos veículos cadastrados na

ANP com uma cópia no Ponto de Abastecimento.

A Resolução ANP nº 7, de 2011, institui em seu artigo 4º a obrigatoriedade de

envio, à ANP, de informações referentes aos testes laboratoriais cujos resultados

das análises compõem o certificado da qualidade para etanol hidratado combustível.

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Todo produto disponibilizado no país deve estar especificado de acordo com a

Resolução ANP nº 7/2011. Cabe ao fornecedor de etanol hidratado combustível

encaminhar as amostras coletadas para os laboratórios habilitados pela ANP para

emitirem o certificado da qualidade do produto.

Após análise das Resoluções da ANP que tratam de etanol combustível,

verificou-se que não há qualquer referência aos pequenos produtores, ou alguma

regulamentação que flexibilize a comercialização e controle de qualidade para os

pequenos produtores, apenas o abastecimento em Ponto de Abastecimento para os

cooperados através de ato cooperativo.

2.5. Tributação do Etanol Hidratado

O refino, a distribuição e revenda do etanol combustível são passíveis de

tributação. Conforme definição constante no Código Tributário Nacional (Lei nº

5.172/1966), o imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação

independente de qualquer atividade estatal específica, caracterizado por não ter sua

arrecadação com destino específico, que não constitua sanção de ato ilícito,

instituída em lei, sendo destinado a atender as necessidades gerais da

administração pública, sem assegurar ao contribuinte qualquer proveito direto em

contraprestação à parcela que pagou (Brasil, 1966).

Os tributos atualmente incidentes sobre as operações envolvendo etanol

combustível são:

Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e

sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e

Intermunicipal e de Comunicação (ICMS);

Contribuição para o Programa de Integração Social do Trabalhador e

de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP);

Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social

(COFINS);

O ICMS é um tributo de competência estadual cujas alíquotas, que podem ser

diferentes, incide sobre as atividades de refino, distribuição e revenda.

De forma geral o etanol possui tributação elevada devido às suas funções

sociais. O combustível é consumido por uma parcela da população que é

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normalmente capaz de pagar algo a mais por possuir ou utilizar um meio de

locomoção particular (CAVALCANTE, 2011). Entretanto, bens com a mesma

finalidade social podem ter um patamar tributário diferenciado. Neste sentido, o

diferencial tributário favorável ao etanol produzido por pequeno agricultor pode ser

enquadrado com uma renúncia fiscal, uma vez que o Estado está “abrindo mão” de

arrecadação que teria com o etanol em favor da promoção de políticas sociais ou

setoriais e têm por objetivo principal o de diminuir desigualdades. A renúncia fiscal,

poderia então ocorrer para viabilizar um setor incipiente ou estratégico que por hora

não é competitivo (Ministério da Fazenda, 2000).

As operações econômicas do etanol em condições normais são tributadas,

porém quando realizadas no sistema de cooperativismo não há cobrança de ICMS e

COFINS. Neste sentido, o artigo 79 e parágrafo único, da Lei nº 5.764/71 que define

a Política Nacional de Cooperativismo traz o conceito legal do ato cooperativo. Ato

cooperativo são os atos praticados entre as cooperativas e seus associados sem

implicar operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou

mercadoria. Visto que o ato cooperativo não proporciona a transmissão de

propriedade de mercadoria, não gera faturamento nem receita e, conseqüentemente

não gera lucro, portanto não ocorre o fato gerador para a cobrança de ICMS e

incidência da COFINS. A isenção só inclui os atos tipicamente cooperativos, que são

aqueles correspondentes à atividade-fim das cooperativas (NISTA, 2004).

O Cooperativismo no Brasil é estimulado através de uma política de apoio

segundo prevê a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 174, § 2º, estabeleceu

uma política de apoio ao cooperativismo,

"§ 2º. A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de

associativismo."

Ainda, ao traçar as normas gerais sobre o sistema tributário nacional, o

constituinte, a fim de conferir maior estabilidade às operações praticadas pelas

cooperativas, em seu artigo 146, inciso III, alínea "c", estabeleceu "Art. 146. Cabe à

lei complementar: III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,

especialmente sobre: c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado

pelas sociedades cooperativas".

Para as cooperativas, como entidades sem fins lucrativos de que trata o art.

13 da Medida Provisória nº 2.158-35, de 2001 a Contribuição para o PIS/PASEP é

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calculada com base na folha de salários, à alíquota de 1%. Este estudo, para avaliar

a viabilidade financeira da produção de etanol em pequena propriedade, adotou

esse percentual prevendo que as operações econômicas do etanol serão realizadas

por meio de ato cooperativo.

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3. ANÁLISE E VIABILIDADE FINANCEIRA DA PRODUÇÃO DE ETANOL EM PEQUENA ESCALA: O CASO COOPERBIO

O estudo e a construção de conhecimentos acerca da produção de etanol em

pequena escala no Brasil ainda é incipiente. Existem alguns trabalhos que apontam

a adequação de tecnologias e equipamentos para produção de etanol, porem carece

da análise de viabilidade financeira. A COOPERBIO em especial desenvolveu a

adaptação de tecnologias e equipamentos da qual surge um modelo de fabricação

que se caracteriza pela produção consorciada de alimentos e biocombustíveis

através da agricultura familiar, cuja mão-de-obra é dos integrantes da família.

Também prevê o aproveitamento dos resíduos ou subprodutos do processo de

produção de etanol, como a ponta de cana, o bagaço, o vinhoto, a torta de filtro e a

levedura, como adubo e/ou alimentação de animais, encerrando em seu escopo o

conceito de agroecologia, pois está preocupada com os aspectos ecológicos e

sociais da produção e sua sustentabilidade. Considera a propriedade como um

organismo onde as áreas preservadas, culturas animais e vegetais interagem para

construir um sistema diversificado, organizado para ser sustentável.

Este estudo objetiva investigar a viabilidade financeira da produção de etanol

em pequena propriedade transpondo a realidade encontrada na COOPERBIO na

região de Frederico Westphalen para a região do sul da Bahia. Foram considera as

diferenças culturais, de clima e solo entre essas regiões. Neste sentido, adota para

efeitos de análise, a produção por meio da agricultura familiar, e o sistema de

cooperativa. Tendo como foco específico inventariar os gastos relacionados ao

processo de obtenção de etanol em micro-usina para, a partir daí, analisar os gastos

e possibilidades de ganhos.

3.1. A unidade básica de observação e de análise

O foco principal das observações e análise foram os custos de implantação e

receitas da usina de produção de etanol;

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3.2. Coleta de dados

Para coletar os dados referentes aos custos de produção da cana-de-açúcar

e etanol e implantação da micro-usina, foram utilizados/aplicados diferentes

instrumentos e técnicas:

a) Visita de observação, para avaliar e acompanhar os processos e práticas

específicas da implantação, produção e comercialização do etanol, as dificuldades e

perspectivas da Cooperativa; conhecer a planta e contato dos fornecedores (Figura

22 e Figura 17);

Figura 22: Dornas de fermentação (ao fundo) em micro-usina Fonte: acervo fotográfico do autor, 2010

b) Roteiro semi-estruturado para entrevistas;

c) Análise de documentos secundários, para levantamento de

informações de custos.

As fontes de informação, para obtenção dos dados, foram:

O projeto de implantação da usina de etanol, seus custos agrícolas, de

imobilizado, serviços de implantação e produção da usina de produção de etanol;

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Os relatos de experiência da implantação do projeto da usina de

produção de etanol;

Planilhas com informações de preços de equipamentos, com ICMS da

Bahia e frete incluído.

Levantamento de dados

Os itens levantados durante visita à COOPERBIO referentes ao custo de

plantação da cana-de-açúcar foram relacionados no Quadro 4 e os preços revistos

para a realidade do sul da Bahia. Conforme mostra o quadro abaixo, para o ano 01

foi de R$ 4.272,00/ha. Para a análise financeira esse custo será dividido em cinco

anos, que é o tempo de vida do canavial.

Insumos Unidade Quant valor Unit Total

Mudas t/ha 11 R$ 50,00 R$ 550,00

Fertilizante Orgânico t/ha 2 R$ 160,00 R$ 320,00

Fertilizante Verde t/ha 60 R$ 3,00 R$ 180,00

Fosfato Natural t/ha 1,5 R$ 600,00 R$ 900,00

Calcário, t/ha 1 R$ 102,00 R$ 102,00

Herbicida L/ha 0 R$ 33,00 R$ 0,00

Preparação do solo

Distribuição de calcário h/trator/ha 2 R$ 60,00 R$ 120,00

Arado h/trator/ha 3 R$ 60,00 R$ 180,00

Gradagem h/trator/ha 1 R$ 60,00 R$ 60,00

Sulcamento Dia/homem/ha 1 R$ 25,00 R$ 25,00

Distribuição mudas h/trator/ha 1 R$ 60,00 R$ 60,00

Cobertura de mudas Dia/homem/ha 8 R$ 25,00 R$ 200,00

Tratos culturais.

Aplicação cobertura (mudas) Dia/homem/ha 1 R$ 25,00 R$ 25,00

Capina manual Dia/homem/ha 12 R$ 25,00 R$ 300,00

Colheita e transporte.

Corte Dia/homem/ha 23 R$ 25,00 R$ 575,00

Carregamento Dia/homem/ha 3 R$ 25,00 R$ 75,00

Transporte h/trator/ha 5 R$ 60,00 R$ 300,00

Aluguel da terra R$/ha 1 R$ 300,00 R$ 300,00

Total por hectare R$ 4.272,00

Quadro 4: Levantamento custos ano 0

Fonte: dados de pesquisa

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Os elementos coletados durante visita à COOPERBIO referentes ao custo de

manutenção do canavial para os anos 01 a 05 e revistos para o sul da Bahia estão

relacionados no Quadro 5 com o gasto de R$ 1.727,50/ha/ano, com renovação do

canavial no sexto ano.

Insumos Unidade Quant valor Unit Total

Fertilizante Orgânico t/ha 1 R$ 160,00 R$ 160,00

Fertilizante Verde (Feijão de porco)

t/ha 60 R$ 3,00 R$ 180,00

Preparação do solo

Distribuição de adubo Dia/homem/ha 1 R$ 25,00 R$ 25,00

Distribuição de adubo verde

Dia/homem/ha 0,5 R$ 25,00 R$ 12,50

Aluguel da terra R$/ha 1 R$ 300,00 R$ 300,00

Tratos culturais.

Capina manual Dia/homem/ha 4 R$ 25,00 R$ 100,00

Colheita e transporte.

Corte Dia/homem/ha 23 R$ 25,00 R$ 575,00

Carregamento Dia/homem/ha 3 R$ 25,00 R$ 75,00

Transporte h/trator/ha 5 R$ 60,00 R$ 300,00

Total por hectare R$ 1.727,50

Quadro 5: Levantamento custos anos 1 a 5 Fonte: dados de pesquisa

Os gastos por hectare com o cultivo da cana-de-açúcar (plantio e

manutenção) são expressos no

Quadro 6 todos os custos com plantio e manutenção até o quinto ano.

Observa-se a utilização apenas de fertilizantes naturais e a ausência de gastos com

herbicidas, mostrando na prática a preocupação com as questões agroecológicas.

Gastos produção cana-de-açúcar/ha/ano ano 01 - 05 no Sul da Bahia

Ano 01 Ano 02 Ano 03 Ano 04 Ano 05 Acumulado/ha

Plantio 854,40 854,40 854,40 854,40 854,40 R$ 4.272,00

Manutenção

1727,50 1727,50 1727,50 1727,50 6.910,00

Total/ha/ano R$ 854,40 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 11.182,00

Gastos produção cana-de-açúcar/ha/ano ano 01 - 05 no Sul da Bahia

Ano 01 Ano 02 Ano 03 Ano 04 Ano 05 Acumulado/ha

Plantio 854,40 854,40 854,40 854,40 854,40 R$ 4.272,00

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Quadro 6: Gastos produção cana-de-açúcar/ha/ano Fonte: dados de pesquisa

O valor para a implantação da micro-usina no Sul da Bahia, tendo como

modelo os equipamentos e instalações utilizados em Frederico Westphalen Quadro

7 foi de R$ 325.902,00. Esse montante incluiu a construção de galpão, serviços e

equipamentos com ICMS e frete para a Bahia.

Valores para Instalação de Micro-destilarias de Álcool Combustível SUL DA BAHIA

Equipamento Capac. Nominal Quant ICMS BA

Micro-destilaria 4ol/hora 40L/hora 1 86.000,00

Moenda Móvel de 01 Terno 10 x 14" 1,5 ton/hora 1 33.500,00

Decantador cinco estágios 1.000L/h 1 1.000,00

Dorna de Diluição (Polietileno) 1.000L 1 200,00

Dornas de Fermentação (Polietileno) 3.000 L 3 2.000,00

Piscina para Vinhoto (8 x 6 x 1,5 m) PEAD 2 mm 150 m2 1 1.275,00

Caldeira 300kg. vapor/h 1 20.000,00

Construção Civil 120 m2 1 30.000,00

Bomba alimentadora de Vinho 3/4 CV 1 746,00

Instalações Hidraulicas 0 1 950,00

Canos p/ Vinhoto 2' pol/16 mm 5 400,00

Cano Galvanizado (linha de vapor) 1' pol 1 570,00

Manta Isolante - Termica (linha de vapor) 200 °C * 200,00

Instalações Eletricas 0 * 1.500,00

Reservatorio Alcool (Tambores) 200 L 3 180,00

Reservatorio Álcool (Polietileno) 5000 L 1 1.220,00

Bomba p/ transferencia de álcool 3/4 CV 1 746,00

Transporte dos equipamentos - Frete 1300 km 1 3.250,00

Kit de trabalho (Alcoolmetro, Sacar., Termometro, pipeta) 0 1 650,00

Reservatório de H2O 3000 L 1 700,00

Trator 55 CV 55 CV 1 65.000,00

Carreta - Tanque (Transporte vinhoto) 4000 L 1 6.400,00

Carreta Agricola (Transporte cana/bagaço) 4000 L 1 4.100,00

Moto Bomba (Gasolina) 2,5 CV 1 1.400,00

Triturador/Picador de Forragem-Motor De 10 Hp Trifasico 10 Hp 1 915,00

Capital de Giro 0 1 20.000,00

Licenciamento ambiental (taxas, art's, mapas) - 1 3.000,00

Honorários técnico - - 10.000,00

Área p/ instalação (0,5 ha)* - - 0,00

Despesas Diversas (terraplanagem, Instalações,...) - - 30.000,00

TOTAL 325.902,00

Obs: * Valor não incluso. Quadro 7: Equipamentos e serviços para implantação de micro-usina 500 l/dia

Fonte: Dados de pesquisa

Manutenção

1727,50 1727,50 1727,50 1727,50 6.910,00

Total/ha/ano R$ 854,40 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 11.182,00

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Os gastos Fixos e variáveis levantados para a micro-usina estão descritos no

Quadro 8 e totalizam R$ 13.510,00 ao ano.

Unidade Quant valor Unit Total

Assistência Técnica

1 R$ 1.000,00 R$ 1.000,00

Contratos externos

1 R$ 500,00 R$ 500,00

Água m3/ano 1400 R$ 1,35 R$ 1.890,00

Mão de obra sal/mes 2 R$ 900,00 R$ 1.800,00

Eletricidade Kwh/mes 8500 R$ 0,26 R$ 2.210,00

manutenção

12 R$ 300,00 R$ 3.600,00

Enzimas kg/mes 60 R$ 0,18 R$ 10,80

Transporte km/ano 1000 R$ 2,50 R$ 2.500,00

Total por ano R$ 13.510,80

Quadro 8 Gastos fixos e variáveis ao ano Fonte: dados de pesquisa

Este estudo faz a transposição analítica de um modelo de produção de etanol

em micro-usina com capacidade de produção de 500 l/dia de etanol a 940 GL

conforme capacidade do equipamento durante 190 dias, baseada em

cooperativismo e na mão-de-obra familiar na região de Frederico Westphalen para a

mesorregião de Ilhéus, no sul da Bahia. Para esse nível de produção, a destilaria

consome cerca de 520 litros/hora de vinho, material fermentado e pronto para

destilação, sendo este o referencial utilizado para definir a necessidade de produção

de cana-de-açúcar, considerando a produção de mosto por tonelada de produto e

produtividade por hectare cultivado, originando na combinação dos dados, a

necessidade de área de lavoura para o cultivo. Portanto para a produção anual de

95.000 litros de etanol é necessário uma área cultivada de 16 ha.

Para calcular a área de plantio verificou-se que a produtividade de cana-de-

açúcar da região de Ilhéus é de 65 t/ha, bem abaixo da média nacional que é de 85

t/ha. Cada tonelada de cana-de-açúcar rende cerca de 80 litros de etanol. Esse é um

valor médio, pois o rendimento muda conforme a variedade da cana, condições de

cultivo e climáticas e métodos colheita, além de eficiência no processo produtivo

como ajuste da moenda, fermentação e destilação.

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A formação do preço do álcool sofre forte influência da colheita da cana-de-

açúcar no Brasil central, principalmente em São Paulo, maior produtor nacional, o

que causa uma flutuação sazonal típica dos preços pagos ao produtor, com

decréscimo no preço no segundo semestre do ano. Para este trabalho utilizou-se

como base referencial a média de preços praticados nos postos de Ilhéus em Junho

de 2011 no Estado da Bahia para se estipular o valor de venda de R$ 1,80. Bem

abaixo dos praticados nos postos em Junho de 2011, cerca de R$ 2,35 para o etanol

e inferior aos 70%, da gasolina. A diferença de tarifas entre o combustível produzido

de pequena propriedade rural e o vendido pelos postos de combustíveis é de R$

0,55 para o etanol e R$ 0,99 para a gasolina o que garante uma atratividade pelos

preços praticados pela cooperativa. Considerou-se que a produção do etanol será

comercializada no mês de produção, sem estocagem para venda na entressafra.

3.3. Análise de dados

Por dados entende-se cada um dos elementos de informação que se recolheu

durante o desenvolvimento da investigação e com base nos quais,

convenientemente sistematizados, poderão ser extraídas conclusões de relevância

em relação ao problema de investigação estabelecido. Neste estudo os dados

coletados foram tabulados usando-se o Microsoft Excel 2007 para seu

processamento e análise.

A partir dos resultados financeiros encontrados foi efetuada a análise de

sensibilidade para fixação dos parâmetros críticos e uma análise de cenários com

tais parâmetros para determinar se o investimento é atrativo ou não para seus

proprietários.

Um investimento é considerado atrativo quando vale mais no mercado do que

seu custo de aquisição. As decisões de investimento de um determinado projeto

devem ser baseadas em uma análise de viabilidade financeira, como forma de

instrumento de suporte no estabelecimento de prioridades; ou, até mesmo, na

determinação das rentabilidades inerentes a cada um dos participantes da estrutura

de financiamento do projeto.

O projeto foi avaliado para um horizonte de 10 anos, sem inflação. Foi

estipulado um Custo de Oportunidade de 10% ao ano, baseado na remuneração

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63

garantida pelo governo Federal através da Poupança, que remunera o capital a 6%

ao ano mais a Taxa Referencial (TR), que repõe a inflação.

O custo da destilaria e dos equipamentos necessários para preparação da

matéria-prima (limpeza, moagem e trituração), bem como das instalações (galpão

pré-moldado de 120 m²), foram depreciados em 10 anos, sem valor residual. Quanto

às máquinas agrícolas necessárias ao cultivo da cana-de-açúcar, e a galpões para

abrigar a micro-usina ignorou-se a pré-existência dos mesmos na propriedade e seu

compartilhamento com outras atividades, sendo incluídas no montante de

investimento inicial.

Para efeito de análise deste trabalho considerou-se toda a mão-de-obra

envolvida na operacionalização das atividades como não existente na propriedade,

mesmo se tratando de uma pequena propriedade rural, gerando a necessidade da

existência de vínculos empregatícios no processo, sendo sua remuneração

procedente do rendimento do negócio. Após o levantamento dos custos de lavoura,

foi montado um fluxo de despesas agrícolas para o período de 10 anos, no qual se

agregou replantio da cana-de-açúcar no sexto ano. Para o custo de utilização da

terra foi utilizado o valor de 10% ao ano do valor de venda sendo remunerada

também pela receita negócio.

Outro aspecto importante é a existência de linhas de financiamento e seus

respectivos custos para viabilizar a implantação de projetos de maior envergadura

em relação ao fluxo financeiro da pequena propriedade rural. Para a pequena

propriedade, foi considerado o uso de linhas de crédito do FNE AGRIN - Programa

de Apoio ao Desenvolvimento da Agroindústria do Nordeste com 10 anos de prazo,

3 anos de carência e juros de 5,% ao ano. O limite atual por família para esta linha

de crédito é de R$100.000,00 ao ano, o que requer a formação de associação

familiar ou cooperativa para a implantação do projeto, pois o valor total excede este

limite de investimento. Tal associação é permitida pelo sistema PRONAF, além de

ser benéfica ao atender a área agrícola necessária para a produção da cana-de-

açúcar, comprometendo apenas uma parte da terra de cada família com a cultura

destinada à produção de etanol e dividindo os custos e a implantação da micro-usina

em Ilhéus – Bahia. Foi considerada a linha de financiamento oferecida pelo Banco

do Nordeste do Brasil através do Fundo Constitucional de Financiamento do

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64

Nordeste, este um importante instrumento de política de fomento para o

desenvolvimento do Nordeste.

A junção de todas as despesas operacionais permitiu a construção do fluxo

esperado de desembolso durante os 10 anos de avaliação. Este fluxo será composto

pelas despesas de depreciação, juros sobre investimento de capital externo, gastos

agrícolas, gastos fixos e variáveis além dos valores referentes aos salários,

compondo desta forma o total de despesas do projeto.

3.3.1. Custeio Pleno

Existem vários métodos de apropriação de custos, utilizaremos o modelo de

custeio pleno que, consiste no método em que todas as despesas tanto de

produção, agrícola, da administração, diretos e indiretos, fixos e variáveis são

rateadas, sem exceção (MARQUES, 2010).

3.3.2. Receitas

Receitas, segundo a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC T 1) são

aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de

entrada de recursos ou aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultem

em aumento do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de aporte dos

proprietários da entidade. Nesse caso será calculada a partir dos preços e

quantidades produzidas de etanol.

Na planilha de avaliação financeira foi utilizada a seguinte fórmula para

calcular a receita:

Receita = pd *dp * v

pd = produção diária

dp = dias de produção

v =valor etanol

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No estudo a previsão de produção diária é de 500 litros/dia em 190 dias de

produção. O valor proposto para o etanol é de R$ 1,80. Substituindo os valores

temos que a Receita = 500 * 190 * 1,80 = R$ 171.000,00.

3.3.3. Estrutura de Capital

A estrutura de capital refere-se à combinação entre capital de terceiros e

capital próprio que a empresa utiliza para financiar suas atividades.

Participando como capital de terceiros, o Banco do Nordeste do Brasil através

do FNE financia a implantação, ampliação e reforma de projetos de geração de

energia a partir de fontes renováveis (BRASIL, 2010). Essa democratização de

investimentos contribui para a diminuição das diferenças sociais e regionais com a

correspondente geração de emprego e renda através do desenvolvimento de

empreendimentos e atividades econômicas que estimulem a preservação,

conservação e recuperação do meio ambiente, com foco na sustentabilidade e

competitividade das empresas e cadeias produtivas.

Regulamentado pela Lei nº 7.827/1989, o FNE é um instrumento de política

pública federal, com orçamento federal operado pelo Banco do Nordeste – BNB,

instituição financeira de caráter regional, importante instrumento de política de

fomento para o desenvolvimento do Nordeste.

O Banco do Nordeste financia até 100% do investimento com prazo de até

doze anos e quatro anos de carência. Para esse estudo o investimento começa a

ser amortizado no ano 1 e concluído no ano 10.

3.3.4. Demonstrações Financeiras

A demonstração financeira é um resumo da rentabilidade da empresa durante

um período de tempo, por exemplo, um ano. Esta apresenta as receitas, despesas e

impostos gerados durante o período e os lucros líquidos, que são a diferença entre

as receitas e despesas (BODIE, 2000).

3.3.5. Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE)

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66

A demonstração dos resultados do exercício (DRE) afere o desempenho

durante um determinado período de tempo. O período mais conhecido é o anual que

é o obrigatório determinado pela legislação tanto comercial como fiscal No trabalho

atual foi estimado DRE de um ano (PADOVEZE, 2004).

Os componentes divulgados na demonstração de resultados são receitas,

despesas das atividades operacionais da empresa, depreciação, despesas

financeiras, impostos e o lucro líquido. É importante destacar com relação ao

conteúdo dessas demonstrações que os dados são apresentados de forma sintética,

ou seja, com características de grande agregação de valores, portanto não são

considerados analíticos.

3.3.6. Fluxo de Caixa

Fluxo de Caixa é um relatório gerado pelas operações da empresa, dos

investimentos e das atividades financeiras em determinado período (BODIE, 2002).

É um suplemento útil para a demonstração de resultado do exercício anterior porque

focaliza a atenção para o que está acontecendo com a posição de caixa da empresa

ao longo de um determinado período.

3.3.7. Avaliação Econômica

Para a análise de viabilidade econômica foram montadas planilhas usando

software Microsoft Excel 2007 e avaliados valor presente líquido (VPL), taxa interna

de retorno (TIR), rentabilidade simples, payback, ponto de equilíbrio e EBITDA.

Essas técnicas são utilizadas na avaliação de seus projetos de orçamento de

capital para tomada de decisão. Cada uma fornece informações próprias, possui

vantagens e desvantagens, de modo que o ideal é retirar o máximo de subsídios,

pela análise e comparação das técnicas aplicadas (BRIGHAM, 2007).

3.3.8. Rentabilidade Simples

Rentabilidade simples é o método mais comum para a avaliação de um

investimento, é a relação do lucro médio provável anual e o total do investimento

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inicial que recebe o nome de rentabilidade simples. Possui este nome porque é de

fácil resolução, a partir do conhecimento do orçamento de receitas e custos

operacionais, econômicos e financeiros do empreendimento, num só ano

(PADOVEZE, 2004).

Para o cálculo da rentabilidade simples do projeto tomou-se como base o

resultado do Lucro Antes do Imposto de Renda (LAIR) de cada ano e divido pelo

valor do investimento inicial.

Figura 23: Análise de Rentabilidade Simples Fonte: Dados da pesquisa

Calculando-se a rentabilidade simples do projeto tem-se a informação que

haverá retorno positivo logo a partir do primeiro ano, ou seja, a cada R$ 1,00

investido neste período o retorno será de R$ 1,34 ou 34% (Figura 23). A média

prevista para a rentabilidade simples nos dez primeiros anos do projeto é de 27%.

3.3.9. Valor Presente Líquido (VPL)

O Valor Presente Líquido (VPL) de um projeto é o montante com o qual se

espera aumentar a riqueza dos acionistas, ou proprietários ao final de toda a sua

vida útil, ou seja, representa o retorno líquido atualizado determinado pelo

empreendimento (FESS, 1999). Declarado como um critério de investimento para os

gestores da empresa é utilizado para tomar decisão em investimento em

determinado projeto caso o VPL proposto seja positivo. O VPL pode ser calculado

através da equação abaixo:

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Rentabilidade Simples %

Rentabilidade Simples %

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68

P

Onde:

FCj - representa os valores dos fluxos de caixa de ordem "j", sendo j = 1, 2, 3,

..., n;

i - a taxa de juro da operação financeira

I - é o investimento inicial.

t - quantidade de tempo (em anos)

No presente projeto, considerou-se 10% o custo de oportunidade. Com

relação ao tempo, trabalhou-se com 10 anos.

O VPL encontrado durante o período estudado do projeto é de R$

742.686,07, ou seja, como o valor presente das entradas de caixa é maior do que o

valor presente das saídas de caixa existe a recomendação para investir no negócio.

3.3.10. Taxa Interna de Retorno (TIR)

A Taxa Interna de Retorno equivale ao percentual de desconto que iguala o

valor atual líquido dos fluxos de caixa de um projeto a zero. Como instrumento

utilizado na determinação do mérito do investimento, a taxa obtida deverá ser

confrontada à que representa o custo de oportunidade da empresa e só deverá

sinalizar a aceitação do projeto quando a sua taxa interna de retorno ultrapassar o

custo de oportunidade, significando que as aplicações do empreendimento estarão

rendendo mais que o custo dos recursos usados na empresa.

O chamado custo de oportunidade representa os benefícios ou suas

vantagens perdidas, resultantes de uma escolha de uma alternativa no lugar de

outra que poderia fornecer um retorno financeiro maior (DAVIS, 1999).

A TIR para esse projeto foi igual a 36,19%, ou seja, maior que o custo de

oportunidade do capital que nas planilhas financeiras deste estudo foi considerado

um custo de oportunidade de 10% ao ano. Portanto, nesta situação a técnica

recomenda que se aceite o projeto, o que significa que se tudo ocorrer conforme

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planejado, o produtor terá uma rentabilidade maior que outros investimentos, como a

poupança.

3.3.11. Payback

Payback é o período necessário para reaver o capital investido inicialmente,

ou seja, consiste em dividir a somatória dos investimentos, custos e despesas pelo

total das receitas auferidas no projeto para saber quanto tempo se dá o retorno de

capital investido (PILÃO, 2003), ou seja, ocorre quando a somatória dos fluxos de

caixa de um investimento se iguala a seu custo.

A partir das informações contidas na Tabela 1 e resumidas na Figura 24

podemos concluir que o Payback simples do investimento deste estudo é de dois

anos e sete meses. Esta metodologia possui como fragilidade o critério de

recuperação do valor investido, pois não leva em conta a vida útil que possa ter o

projeto além do tempo necessário para o retorno. Como todo investimento é uma

permuta entre gastos recentes e ganhos futuros, uma comparação desse

intercâmbio exige a utilização da correção.

Figura 24: Payback Simples Fonte: dados de pesquisa

-R$ 400.000,00

-R$ 200.000,00

R$ 0,00

R$ 200.000,00

R$ 400.000,00

R$ 600.000,00

R$ 800.000,00

R$ 1.000.000,00

1 3 5 7 9 11

Fluxo de Caixa Acumulado

Ano

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70

Tabela 1: Fluxo de Caixa Anual Estimado e Resumido (Cenário: 500 litros por dia)

Itens Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 Acumulado

Receitas 0,00 171.000,00 171.000,00 171.000,00 171.000,00 171.000,00 171.000,00 171.000,00 171.000,00 171.000,00 171.000,00 R$ 1.710.000,00

Gastos 0,00 -61.400,11 -89.040,11 -89.040,11 -89.040,11 -89.040,11 -61.400,11 -89.040,11 -89.040,11 -89.040,11 -89.040,11 R$ (835.121,10)

Total Gastos -61.400,11 -89.040,11 -89.040,11 -89.040,11 -89.040,11 -61.400,11 -89.040,11 -89.040,11 -89.040,11 -89.040,11 R$ (835.121,10)

LAIR 0,00 109.599,89 81.959,89 81.959,89 81.959,89 81.959,89 109.599,89 81.959,89 81.959,89 81.959,89 81.959,89 R$ 874.878,90

PIS/Pasep 1% 0,00 -210,94 -210,94 -210,94 -210,94 -210,94 -210,94 -210,94 -210,94 -210,94 -210,94 R$ (2.109,38)

Lucro Líquido 0,00 109.388,95 81.748,95 81.748,95 81.748,95 81.748,95 109.388,95 81.748,95 81.748,95 81.748,95 81.748,95 R$ 293.311,80

Amortização (+) 0,00 32.590,20 32.590,20 32.590,20 32.590,20 32.590,20 32.590,20 32.590,20 32.590,20 32.590,20 32.590,20 R$ 325.902,00

Investimento 325.902,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 R$ 325.902,00

Fluxo de Caixa -325.902,00 141.979,15 114.128,21 114.128,21 114.128,21 114.128,21 141.979,15 114.339,15 114.339,15 114.339,15 114.339,15 R$ 871.925,77

Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10

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71

3.3.12. EBITDA

EBITDA é o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

Representa a geração operacional de caixa da empresa, sem levar em conta o

capital de giro, os efeitos financeiros e de impostos, medindo com mais precisão a

produtividade e a eficiência do negócio (NETO, 2007). A Equação abaixo define a

fórmula do EBITDA.

EBITDA= R – I - C

Onde:

R - Receita de vendas;

I - imposto sobre a venda;

C - o custo operacional.

Esse indicador serve de parâmetro para conhecimento do valor da empresa.

Quanto maior o EBITDA em relação aos recursos investidos, melhor a qualidade da

gestão. Assim verifica-se na Erro! Fonte de referência não encontrada.que o

BITDA do empreendimento nos primeiros dez anos de atividade é de 35%.

3.3.13. Ponto de Equilíbrio

O ponto de equilíbrio é o indicador de segurança para as empresas. Indica em

que momento, a partir das projeções de vendas a empresa estará igualando suas

receitas e seus custos. A análise do ponto de equilíbrio é utilizada pelas empresas

para determinar o nível de operação necessário para cobrir todos os custos

operacionais aos vários níveis de vendas (GITMAN, 2006). O ponto de equilíbrio

operacional de uma empresa é o nível de vendas necessárias para cobrir os custos

operacionais.

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72

Figura 25: Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC)

Fonte: dados de pesquisa

Observando-se os dados da Tabela 2, resumidas na Figura 25, verifica-se

que a produção e venda necessárias para cobrir os gastos no Ano 01 e 06 é de

34.111 litros de etanol enquanto nos demais anos é de 49.700 litros. A média de

produção por ano para atingir-se o ponto de equilíbrio durante os dez anos avaliados

é de 46.400 litros/ano. Este indicador demonstra até que volume a empresa pode

operar aquém de sua capacidade operacional sem pôr o empreendimento em risco.

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

100.000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

PEC (Litros)

Produção de etanol (litros)

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Tabela 2: Ponto de Equilíbio Contábil

Ponto de Equilíbrio Contábil - PEC (com parcela de amortização do investimento)

Ano 01 Ano 02 Ano 03 Ano 04 Ano 05 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10

Gastos Totais (R$) 61.400,11 89.040,11 89.040,11 89.040,11 89.040,11 61.400,11 89.040,11 89.040,11 89.040,11 89.040,11

Valor litro de etanol (R$) 1,80 1,80 1,80 1,80 1,80 1,80 1,80 1,80 1,80 1,80

(=) PEC (litros 34.111 49.467

49.467 49.467 49.467

34.111 49.467 49.467 49.467 49.467

Qtde. Litros produzido no ano 95.000,00 95.000,00 95.000,00 95.000,00 95.000,00

95.000,00 95.000,00 95.000,00 95.000,00 95.000,00

Déficit ou Superávit (em litros) 60.888,83 45.533,27 45.533,27 45.533,27 45.533,27

60.888,83 45.533,27 45.533,27 45.533,27 45.533,27

Déficit ou Superávit (em R$) 109.599,89 81.959,89 81.959,89 81.959,89 81.959,89 109.599,89 81.959,89 81.959,89 81.959,89 81.959,89

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74

3.3.14. Análise de Sensibilidade

A análise de sensibilidade tem por fim avaliar o nível de risco do

empreendimento e demonstrar os efeitos que diferentes cenários podem ter sobre

os vários elementos que gerarão o fluxo de caixa de um projeto. Enquanto o cenário

busca determinar “o que poderia mudar”, a análise de sensibilidade pergunta “por

quanto?” (O DCORN, 1998). Essa técnica procura demonstrar o impacto sobre os

retornos do investimento, causados pela variação do faturamento gerado pelo

investimento durante sua vida útil. É feita manipulando-se algumas variáveis e

fixando as outras de forma a verificar quão sensível é a estimativa de VPL a

mudanças de valores dessa variável. Caso os parâmetros sejam críticos, ainda que

variem pouco, motivam grande transformação nos resultados da avaliação

financeira.

Para o cálculo da rentabilidade utiliza-se a formula: r = (R-C) / I

r = rentabilidade

R = Receita

C = Custo

I = Investimento.

Na

Figura 26 apresentam-se quatro cenários, a saber:

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

1 2 3 4 5

Gastos e receitas previstos

+ 10% em gastos e receitas

- 10% nas receitas e + 10% nos gastos

Gastos previstos e preço de distribuidoras

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75

1. Para o cenário onde as previsões de gastos e receitas se concretizam

representada pela linha azul, a rentabilidade será de 34% no primeiro

ano, e 25% nos anos seguintes.

2. Em um ambiente onde as variáveis de gastos e receitas são ampliadas

em 10%, desenhada pela linha vermelha, com o mesmo valor de

financiamento a rentabilidade percentual aumentou em torno de 03%

em relação ao “cenário previsto” ficando em 37% no primeiro ano e

28% nos anos seguintes.

Figura 26: Cenários e Rentabilidades

Fonte: dados de pesquisa

3. Na simulação de um cenário pessimista com a diminuição da receita e

aumento dos gastos apresentou uma redução de 10%, representada

pela linha verde, no valor das receitas totais e aumento em 10% nos

valores relativos aos gastos e investimentos a rentabilidade ficou

reduzida para 26% no primeiro ano e 17% nos anos seguintes.

4. Criou-se uma quarta visão, representada pela linha roxa, que mostra

os resultados caso o preço do etanol fosse vendido ao mesmo valor de

compra das distribuidoras de combustível em janeiro de 2011 que era

de R$ 1,10 o litro. Nesse quadro a rentabilidade foi de 13% no primeiro

ano e 5% nos anos seguintes.

Nesse último cenário os indicadores fixaram-se nos seguintes valores:

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

1 2 3 4 5

Gastos e receitas previstos

+ 10% em gastos e receitas

- 10% nas receitas e + 10% nos gastos

Gastos previstos e preço de distribuidoras

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76

Indicadores de viabilidade

econômica/financeira

VP R$ 334.072,35

B/C 1,03 B/C maior que um - o projeto é rentável.

VPL R$ 8.170,35 VPL maior que zero - aceitar o projeto.

TIR 10,61% TIR maior que o Custo de Oportunidade - aceita-se o projeto.

Quadro 9: Indicadores de Viabilidade econômica/ financeira Fonte: dados da pesquisa

A análise de sensibilidade contribui para verificar as possibilidades de

modificação nos resultados caso ocorram alterações nos valores originais do projeto.

Verifica-se que nos quatro cenários montados a única que apresentou

indicadores que no limite do aceitável para recomendação do investimento foi o

quarto cenário, onde o valor de venda do etanol foi o mesmo praticado pelos

grandes produtores às distribuidoras.

3.4. Apresentação, discussão e análise dos resultados.

Nessa etapa são apresentados e discutidos os resultados do estudo de

viabilidade financeira do modelo em estudo aplicado à região de Ilhéus. Para isso,

inicialmente foram projetadas as demonstrações de resultado partindo das

estimativas de vendas, custos fixos e variáveis e investimento fixo.

A Tabela 3 sintetiza os gastos gerados para a produção do etanol:

Depreciação; Juros sobre investimento inicial; gastos agrícolas e Gastos fixos e

variáveis. O valor de R$ 325.902,00 é referente à implantação da micro-usina

discriminado no Quadro 7 e está dividido em dez parcelas de R$ 34.000,00,

juntamente com as parcelas dos juros para pequeno produtor de 5% a.a. que

equivalem a R$ 2.295,00. Os gastos agrícolas são decorrentes dos custos de plantio

e manutenção descritos no

Gastos produção cana-de-açúcar/ha/ano ano 01 - 05 no Sul da Bahia

Ano 01 Ano 02 Ano 03 Ano 04 Ano 05 Acumulado/ha

Plantio 854,40 854,40 854,40 854,40 854,40 R$ 4.272,00

Manutenção

1727,50 1727,50 1727,50 1727,50 6.910,00

Total/ha/ano R$ 854,40 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 2.581,90 R$ 11.182,00

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Quadro 6 multiplicado pelos 16 ha da área a ser plantada. As despesas

agrícolas têm uma participação média de 38% nos gastos de produção, o que indica

que a eficiência agrícola é de suma importância para o sucesso financeiro devido ao

impacto no custo do etanol.

A produtividade do canavial sofre o efeito de sua idade, do acometimento de

pragas e doenças. Sendo assim, torna-se fundamental que no sexto ano seja

renovado o canavial. Os gastos agrícolas respondem por cerca de 46% do custo do

etanol. Esses valores mostram a importância dessa etapa do processo produtivo,

nesse sentido é importante estar atento para as alternativas que contribuem para a

diminuição desses custos, seja na busca das variedades de cana-de-açúcar mais

adequadas à região, ou na procura das melhores técnicas de plantio e colheita.

Outra alternativa para minimizar os valores despendidos na produção e melhorar a

atratividade do investimento é o reaproveitamento dos resíduos gerados durante o

processo como o vinhoto, o bagaço, a palha da cana-de-açúcar e a torta como

fertilizantes agrícola, mostrando sintonia com o modelo agroecológico utilizado pela

COOPERBIO e transformando resíduos em um elemento redutor dos custos de

produção.

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Tabela 3: Gastos de Produção

Gasto de Produção ano 01 - 05

Ano 01 Ano 02 Ano 03 Ano 04 Ano 05

Depreciação R$ 32.590,20 R$ 32.590,20 R$ 32.590,20 R$ 32.590,20 R$ 32.590,20

Juros Inv Inicial R$ 1.629,51 R$ 1.629,51 R$ 1.629,51 R$ 1.629,51 R$ 1.629,51

Agrícolas (16 ha) R$ 13.670,40 R$ 13.670,40 R$ 13.670,40 R$ 13.670,40 R$ 13.670,40

Gasto Agrícola ano 01

R$ 27.640,00 R$ 27.640,00 R$ 27.640,00 R$ 27.640,00 Gasto Agrícola ano 02 a 05

Gastos Fixos R$ 13.510,00 R$ 13.510,00 R$ 13.510,00 R$ 13.510,00 R$ 13.510,00

Total R$ 61.400,11 R$ 89.040,11 R$ 89.040,11 R$ 89.040,11 R$ 89.040,11

Valor litro etanol

R$ 0,65 R$ 0,94 R$ 0,94 R$ 0,94 R$ 0,94

Gasto de Produção ano 06 - 10

Ano 06 Ano 07 Ano 08 Ano 09 Ano 10

Depreciação R$ 32.590,20 R$ 32.590,20 R$ 32.590,20 R$ 32.590,20 R$ 32.590,20

Juros Inv Inicial R$ 1.629,51 R$ 1.629,51 R$ 1.629,51 R$ 1.629,51 R$ 1.629,51

Agrícolas (16 ha) R$ 13.670,40 R$ 13.670,40 R$ 13.670,40 R$ 13.670,40 R$ 13.670,40

Gasto Agrícola ano 06

R$ 27.640,00 R$ 27.640,00 R$ 27.640,00 R$ 27.640,00 Gasto Agrícola ano 07 a 10

Gastos Fixos R$ 13.510,00 R$ 13.510,00 R$ 13.510,00 R$ 13.510,00 R$ 13.510,00

Total R$ 61.400,11 R$ 89.040,11 R$ 89.040,11 R$ 89.040,11 R$ 89.040,11

Valor litro etanol R$ 0,65 R$ 0,94 R$ 0,94 R$ 0,94 R$ 0,94

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A partir da demonstração de resultados foi projetado o fluxo de caixa para o

projeto de micro-usina. Com as projeções de fluxo de caixa foram obtidos índices

para a avaliação econômica. O mais comum dentre eles, o Valor Presente Líquido

encontrado apresenta R$ 742.686,00. Como o projeto origina VPL positivo ao final

de 10 anos, indica que seu valor de mercado é superior ao seu custo, gerando valor

para os proprietários.

Na

Figura 24 foi apresentado o Payback com o objetivo de validar os resultados

encontrados. O Payback Simples mostrou que os fluxos de caixa se igualam ao

investimento total no segundo ano.

Pode-se ainda verificar que os valores de TIR encontra-se em concordância

com os resultados dos índices financeiros VPL e Payback já obtidos, confirmando a

indicação para a realização do projeto e atendendo à premissa do custo de

oportunidade a 10%. A TIR do processo de produção de etanol combustível supera

em 10% esse valor, ou seja, para cada unidade de real investido, obtém-se R$ 1,36

de retorno no processo.

-R$ 400.000,00

-R$ 200.000,00

R$ 0,00

R$ 200.000,00

R$ 400.000,00

R$ 600.000,00

R$ 800.000,00

R$ 1.000.000,00

1 3 5 7 9 11

Fluxo de Caixa Acumulado

Ano

-R$ 400.000,00

-R$ 200.000,00

R$ 0,00

R$ 200.000,00

R$ 400.000,00

R$ 600.000,00

R$ 800.000,00

R$ 1.000.000,00

1 3 5 7 9 11

Fluxo de Caixa Acumulado

Ano

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O EBITDA é calculado a partir da diferença entre receitas, despesas somadas

com os impostos (Tabela 4). Sinaliza eficiência no projeto para a Mesorregião de

Ilhéus para o qual a geração operacional de caixa tem média de 35% durante os 10

anos de acompanhamento deste. Os resultados obtidos nesse estudo indicam a

viabilidade de realização do projeto.

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Tabela 4: EBITDA (Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization)

EBITDA (Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization)

Anos (anos ) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Receitas R$ 171.000,00 R$ 171.000,00 R$ 171.000,00 R$ 171.000,00 R$ 171.000,00 R$ 171.000,00 R$ 171.000,00 R$ 171.000,00 R$ 171.000,00 R$ 171.000,00

(-) Despesas de Salários R$ (21.093,80) R$ (21.093,80) R$ (21.093,80) R$ (21.093,80) R$ (21.093,80) R$ (21.093,80) R$ (21.093,80) R$ (21.093,80) R$ (21.093,80) R$ (21.093,80)

(-) Desp. Deprec/ Amortiz R$ (32.590,20) R$ (32.590,20) R$ (32.590,20) R$ (32.590,20) R$ (32.590,20) R$ (32.590,20) R$ (32.590,20) R$ (32.590,20) R$ (32.590,20) R$ (32.590,20)

(-) Despesas Financeiras R$ (1.629,51) R$ (1.629,51) R$ (1.629,51) R$ (1.629,51) R$ (1.629,51) R$ (1.629,51) R$ (1.629,51) R$ (1.629,51) R$ (1.629,51) R$ (1.629,51)

(=) LAIR R$ 115.686,49 R$ 115.686,49 R$ 115.686,49 R$ 115.686,49 R$ 115.686,49 R$ 115.686,49 R$ 115.686,49 R$ 115.686,49 R$ 115.686,49 R$ 115.686,49

(-) PIS/PASEP (1%) R$ (210,94) R$ (210,94) R$ (210,94) R$ (210,94) R$ (210,94) R$ (210,94) R$ (210,94) R$ (210,94) R$ (210,94) R$ (210,94)

(=) Lucro Líquído R$ 115.475,55 R$ 115.475,55 R$ 115.475,55 R$ 115.475,55 R$ 115.475,55 R$ 115.475,55 R$ 115.475,55 R$ 115.475,55 R$ 115.475,55 R$ 115.475,55

EBITDA % 35% 35% 35% 35% 35% 35% 35% 35% 35% 35%

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Os tributos, PIS/PASEP colaboram com 1% na formação do preço do

combustível (Tabela 4), visto que o cooperativismo está isento da cobrança de ICMS

e COFINS. Subsídios ou renúncias fiscais para a produção de energias alternativas

voltados à população de mais baixa renda como o Programa Nacional de Produção

e Uso do Biodiesel (PNPB), o BIOSUSTENTÁVEL ou o BAHIABIO podem servir de

exemplo para um novo modelo aplicado à de produção de etanol em pequena

propriedade rural, pois haverá uma contribuição direta da renúncia fiscal à sociedade

em forma de aumento da demanda por mão de obra, produção de energia, como

também do aumento do investimento e inovação tecnológica em equipamentos e

processos produtivos, mais as vantagens ambientais. Estes efeitos justificariam os

benefícios diretos obtido pelos pequenos agricultores com relação aos incentivos

tributários.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Durante o desenvolvimento deste estudo foram coletadas e apresentadas

informações que agora serão sistematizadas, retomando todo o trabalho de análise

realizado.

Apesar do grande desenvolvimento tecnológico da indústria sucroalcooleira e

da ampla difusão no conhecimento no processo de produção de etanol para grandes

usinas, ainda há poucos dados referentes a fabricantes de equipamentos de micro-

usinas o que representou uma limitação na realização deste estudo. Em

contraposição, encontra-se com facilidade produtores de grandes usinas, ou de

alambiques de cachaça que fabricam pequenas torres de destilação para

aproveitamento da cauda e cabeçada, destilado rejeitado da boa cachaça e que pelo

processo de redestilação pode ser transformado em etanol. Outra limitação foi a

ausência de um modelo produtivo como o da COOPERBIO no Estado da Bahia.

Considera-se que existam diferenças significativas de organização social, cultural,

climáticas e de solo, entre a região de Frederico Westphalen, onde está localizada a

COOPERBIO e a Mesorregião de Ilhéus. Assim foram adequados à Bahia os valores

dos equipamentos para instalação da micro usina, considerando-se as diferenças de

ICMS e frete, todos os demais custos que cercam a produção de etanol, como a

produtividade de cana-de-açúcar, revistos e ajustados à região, mantendo-se a

tecnologia envolvida no processo. Os demais fatores não foram objeto de análise

desse estudo, mas podem ser temas de estudos futuros e/ou para aprofundamento

de conhecimento nessa área.

Para pesquisar a viabilidade financeira da produção de etanol em pequena

propriedade com o modelo de produção adaptado da COOPERBIO, apresentou-se o

processo produtivo e a tecnologia que envolvem os princípios de agroecologia,

conjugando a produção de biocombustivel e alimentos com o objetivo de gerar

trabalho e renda. Foram arrolados os gastos com a implantação da micro usina,

plantio e manutenção do canavial pautados no processo da COOPERBIO realizando

as adaptações necessárias para o sul da Bahia com a finalidade de oferecer

informações para realizar a análise financeira. Para essa tarefa foram delineadas as

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demonstrações de resultado, partindo das estimativas de produção, receitas, custos

fixos e variáveis e investimento fixo.

Do ponto de vista dos indicadores financeiros, o Custo/Benefício (B/C) foi

maior que um, o Valor Presente Líquido (VPL) positivo e a Taxa Interna de Retorno

(TIR) maior que o custo de oportunidade do capital mostrando que o projeto é

rentável. O Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (EBITDA)

com 35% e a Rentabilidade Simples de 27% também apontam valores positivos e

aconselham o investimento, desde que o produto seja negociado entre cooperados,

através de um ato cooperativo.

As possibilidades de ganhos com etanol mostrou-se real, pois além da

viabilidade financeira a comercialização está prevista na resolução número 12 de

2007 em que está previsto o fornecimento de combustíveis nos Postos de

Abastecimento para os veículos dos cooperados, configurando-se, portanto um ato

cooperativo.

Esses resultados reforçam que deve haver por parte do governo um programa

político específico que fomente e estimule a produção de etanol em pequena

propriedade, a exemplo do Selo Combustível Social para o pequeno produtor de

biodiesel, proporcione um conjunto de medidas equivalentes voltadas para o

pequeno produtor de etanol proveniente da cana-de-açúcar e de outras matérias

primas típicas da agricultura familiar. Esse programa estimulará o incentivo à

produção de etanol para os pequenos produtores de forma cooperativada de

maneira a provocar o desenvolvimento e o incremento na pesquisa científica para a

pequena indústria sucroalcooleira, como já houve para os grandes produtores de

açúcar e álcool.

As medidas adotadas com essa finalidade estimularão que o modelo

implantado pela COOPERBIO em Frederico Westphalen seja disseminado para

outras cidades com as devidas adequações promovendo a geração de energia com

mão de obra familiar e diversificação da renda agrícola.

Essas ações implementadas estimulariam cooperativas a adotarem atividade

agroindustrial de produção de energia renovável e alimentos. Os benefícios

minimizariam o impacto do aporte financeiro inicial elevado diminuindo os riscos,

melhorando as condições de competitividade das micro-usinas de etanol, e

conseqüente, aumento da atratividade para o investimento privado em etanol

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combustível, de modo a permitir o ingresso e fortalecimento do pequeno produtor

rural no mercado de energia. Historicamente verifica-se que apenas grandes

produtores de cana-de-açúcar foram favorecidos com programas do governo.

Além de todos os benefícios associados à adoção de uma micro-usina de

etanol pelas cooperativas ela pode ser empregada como ferramenta de apoio e

estimulo à agroecologia promovendo conservação destas famílias no campo,

melhoria e diversificação na renda familiar, melhorias ao meio ambiente e

contribuindo para a ampliação dos combustíveis renováveis e ambientalmente

limpos na matriz energética brasileira.

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ANEXO 1