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Estudo experimental do efeito da reparação de fendas
no comportamento de vigas de betão armado
reforçadas à flexão com laminados de CFRP
Pedro Colaço Franjoso da Silva Duarte
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Professor Doutor Jorge Manuel Calico Lopes de Brito
Orientadores: Professor Doutor João Paulo Janeiro Gomes Ferreira
Professor Doutor João Pedro Ramôa Ribeiro Correia
Vogal: Professor Doutor Paulo Miguel de Macedo França
Dezembro 2011
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
i
Resumo
O comportamento estrutural do betão armado leva a que a sua fendilhação seja bastante
recorrente e, naturalmente, tida em conta no dimensionamento de estruturas de betão armado.
No entanto, a existência de aberturas de fendas excessivas pode comprometer a durabilidade,
estética e funcionalidade da estrutura em questão. A existência de um excesso de cargas pode
levar a que estes valores limite sejam ultrapassados, tornando também necessária a aplicação
de um reforço estrutural. Para o excesso de esforços de flexão, uma das soluções de reforço
possíveis consiste na colagem de laminados de CFRP, sendo recomendada a reparação das
fendas numa fase prévia à aplicação do reforço, sendo a injecção de resinas epóxidas uma das
técnicas de maior utilização quando se pretende repor os níveis de desempenho e o
monolitismo do elemento.
Esta dissertação tem como objectivos a avaliação da influência da injecção prévia com resinas
epóxidas no comportamento do betão armado, aquando da aplicação de um reforço estrutural.
Para tal, foi realizada uma campanha experimental com base em ensaios de flexão de vigas de
betão armado, reforçadas com laminados de CFRP. No total, foram ensaiadas à flexão seis
vigas com os seguintes tratamentos: duas vigas padrão; duas vigas fendilhadas e reforçadas e
duas vigas fendilhadas, reparadas e reforçadas.
Com base nos resultados obtidos conclui-se que a reparação das fendas, previamente à
aplicação do sistema de reforço, confere uma maior rigidez inicial às vigas enquanto o seu
efeito na resistência última das vigas não é conclusivo.
Palavras-chave: fendilhação, vigas, injecção, resinas epóxidas, reforço, laminados de CFRP.
Resumo
ii
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
iii
Abstract
Due to the structural behaviour of reinforced concrete, cracking is a common phenomenon.
However, concrete cracking is already considered in the design of reinforced concrete
structures, where the crack width is limited to certain values, so it does not compromise the
durability of the structure. The existence of an overload may lead to exceeding crack width
values, indicating the need for structural strengthening. When the overload develops mainly
due to flexural stresses, one of the possible solutions consists of the bonding of CFRP
laminates, though crack repair is recommended before the application of the retrofitting system.
Crack repair through resin injection is one of most used techniques, where epoxy resin is the
best material to reestablish the original performance level of a structural element.
The main objectives of this dissertation comprise the determination of the influence of previous
crack repair with epoxy resins in reinforced concrete’s behavior, when a strengthening system is
applied. For this purpose, an experimental campaign was conducted based on flexural tests of
reinforced concrete beams, strengthened with CFRP laminates. Altogether, six T-shaped
beams were tested: two reference beams; two cracked and strengthened beams and two
cracked, repaired and strengthened beams.
The achieved results show that repairing the cracks before the application of the retrofitting
system ensures higher initial stiffness while the effect on the beam’s maximum load wasn’t
conclusive.
.
Keywords: cracking, beams, injection, epoxy resin, strengthening, CFRP laminates
Abstract
iv
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
v
Agradecimentos
A realização desta dissertação apenas foi possível graças ao apoio e colaboração de várias
pessoas e entidades às quais presto os meus profundos agradecimentos.
Aos orientadores deste trabalho, Prof. João Gomes Ferreira e Prof. João Ramôa Correia por
todo o auxílio prestado, pela disponibilidade demonstrada para resolução de dúvidas e
problemas existentes, pela informação concedida e principalmente pelas sugestões e
orientação dada durante todo o trabalho.
À empresa H Tecnic, Lda., cujo contributo foi essencial na realização da campanha
experimental, nomeadamente no fornecimento de mão-de-obra e materiais necessários para o
fabrico de vigas e para as operações de reparação e reforço das mesmas. Um agradecimento
especial ao Eng. João Farinha e ao Eng. Nuno Cerqueira pela experiência transmitida e pelo
rápido apoio prestado durante todo o trabalho.
Às empresas Secil e Unibetão pelo fornecimento do betão pronto utilizado no fabrico das vigas
e dos provetes de ensaio.
À empresa S&P - Clever Reinforcement Company, pelo fornecimento da resina de colagem e
dos laminados de CFRP usados na campanha experimental.
Aos técnicos do Laboratório de Estruturas e Resistência de Materiais, Fernando Costa e
Fernando Alves pelo auxílio imprescindível para a realização dos ensaios experimentais.
Por fim, quero agradecer à minha família e à Diana, cujo apoio, motivação e confiança, foram
essenciais para a realização deste trabalho.
Agradecimentos
vi
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
vii
Índice
Resumo .......................................................................................................................................... i
Abstract ......................................................................................................................................... iii
Agradecimentos............................................................................................................................. v
Índice ............................................................................................................................................ vii
Índice de Figuras ........................................................................................................................... ix
Índice de Tabelas ........................................................................................................................ xiii
Índice de Gráficos ....................................................................................................................... xiii
Simbologia .................................................................................................................................... xv
1 Introdução .............................................................................................................................. 1
1.1 Enquadramento geral .................................................................................................... 1
1.2 Objectivos ...................................................................................................................... 1
1.3 Metodologia ................................................................................................................... 2
1.4 Organização do documento .......................................................................................... 2
2 Estado da arte ....................................................................................................................... 5
2.1 Introdução à reabilitação de estruturas de betão armado ............................................ 5
2.1.1 Anomalias em betão armado ................................................................................ 5
2.1.2 Projecto de reabilitação ....................................................................................... 10
2.1.3 Técnicas de reparação ........................................................................................ 11
2.1.4 Técnicas de reforço ............................................................................................. 14
2.2 Reparação de fendas com injecção de resinas .......................................................... 16
2.2.1 Fendilhação do betão armado ............................................................................. 16
2.2.2 Materiais de injecção ........................................................................................... 22
2.2.3 Técnicas de injecção de fendas .......................................................................... 27
2.2.4 Mecanismos de injecção e processos de mistura ............................................... 32
2.2.5 Efeito das resinas no comportamento mecânico do betão armado .................... 33
2.3 Reforço por colagem de laminados de CFRP ............................................................. 35
2.3.1 CFRP como material estrutural ........................................................................... 35
2.3.2 Processo de fabrico de laminados de CFRP ...................................................... 37
2.3.3 Processo executivo do reforço de laminados de CFRP ...................................... 39
Índice
viii
2.3.4 Dimensionamento de laminados de CFRP ......................................................... 40
3 Programa experimental ....................................................................................................... 49
3.1 Objectivos .................................................................................................................... 49
3.2 Plano de ensaios ......................................................................................................... 49
3.3 Materiais e equipamento ............................................................................................. 50
3.4 Esquema de ensaio ..................................................................................................... 55
3.5 Procedimento experimental ......................................................................................... 57
3.5.1 Fabrico das vigas ................................................................................................ 57
3.5.2 Ensaios experimentais ........................................................................................ 59
3.5.3 Reparação por injecção de resinas ..................................................................... 60
3.5.4 Reforço das vigas com laminados de CFRP....................................................... 63
3.6 Dimensionamento dos laminados de CFRP ............................................................... 66
3.6.1 Resistência mecânica das vigas de betão armado ............................................. 66
3.6.2 Capacidade resistente das vigas após reforço ................................................... 68
3.6.3 Dimensões dos laminados de CFRP .................................................................. 68
3.6.4 Comprimento dos laminados de CFRP ............................................................... 70
3.6.5 Verificações de segurança .................................................................................. 71
3.6.6 Modo de rotura .................................................................................................... 74
4 Resultados e discussão ...................................................................................................... 77
4.1 Ensaios aos provetes .................................................................................................. 77
4.1.1 Provetes cúbicos de betão .................................................................................. 77
4.1.2 Provetes cilíndricos de betão .............................................................................. 79
4.1.3 Varões de aço ..................................................................................................... 81
4.2 Ensaios às vigas de betão armado ............................................................................. 83
4.2.1 Vigas padrão ....................................................................................................... 83
4.2.2 Vigas apenas reforçadas ..................................................................................... 92
4.2.3 Vigas reforçadas e reparadas com injecção de resinas ................................... 101
4.2.4 Síntese de resultados ........................................................................................ 113
5 Conclusões e perspectivas de desenvolvimentos futuros ................................................ 115
5.1 Conclusões ................................................................................................................ 115
5.2 Perspectivas de desenvolvimentos futuros ............................................................... 116
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
ix
6 Anexos ............................................................................................................................... 121
A. Sikadur®-52 Injection .................................................................................................... 121
B. Emaco S88 .................................................................................................................... 127
C. S&P Laminates CFK...................................................................................................... 131
D. S&P Resin 220 .............................................................................................................. 135
Índice de Figuras
Figura 2.1 - Fendilhação devido a retracção plástica ................................................................... 7
Figura 2.2 - Fendilhação devido a retracção hídrica (secagem) ................................................... 7
Figura 2.3 - Aplicação de betão projectado ................................................................................ 13
Figura 2.4 - Reparação de fendas com injecção de resinas ....................................................... 13
Figura 2.5 - Reforço de uma laje com recurso a chapas coladas ............................................... 15
Figura 2.6 - Reforço de um pilar com tecidos de CFRP ............................................................. 15
Figura 2.7 - Exemplo de fissuras com humidade ........................................................................ 18
Figura 2.8 - Exemplo de uma fissura com infiltração, sem pressão ........................................... 18
Figura 2.9 - Variação dos valores de com a espessura do elemento ...................................... 21
Figura 2.10 - Reacções químicas de formação de resinas epóxidas ......................................... 23
Figura 2.11 - Resina epóxida ...................................................................................................... 24
Figura 2.12 - Espuma de poliuretano .......................................................................................... 26
Figura 2.13 - Injecção de resina de poliuretano numa fenda ...................................................... 26
Figura 2.14 – Micro-cimento ........................................................................................................ 27
Figura 2.15 - Aplicação de selagem na fenda ............................................................................. 29
Figura 2.16 - Ordem de injecção para: a) fendas verticais e b) fendas horizontais ................... 29
Figura 2.17 - Colocação de um injector num dos furos realizados ............................................. 30
Figura 2.18 – Purga da resina no buraco subsequente, após injecção da mesma .................... 30
Figura 2.19 - Colocação da resina nos balões de injecção ........................................................ 31
Figura 2.20 - Injecção com recurso a molas ............................................................................... 31
Figura 2.21 - Bomba monocomponente manual ......................................................................... 33
Figura 2.22 - Bomba monocomponente eléctrica Sika® Injection Pump EL-1 ............................ 33
Figura 2.23 - Diagrama carga-flecha de uma viga sujeita a injecção das fendas com rotura por
flexão ........................................................................................................................................... 34
Figura 2.24 - Diagrama carga-flecha de uma viga sujeita a injecção das fendas com rotura por
corte ............................................................................................................................................. 34
Figura 2.25 - Diagrama carga-flecha de três vigas sujeitas a injecção das fendas com rotura por
flexão ........................................................................................................................................... 34
Figura 2.26 - Diagrama tensão-extensão de distintos tipos de fibras, do aço convencional e de
cordões aço de pré-esforço ......................................................................................................... 36
Figura 2.27 - Representação de um processo de pultrusão ....................................................... 38
Índice de Figuras
x
Figura 2.28 - Preparação da superfície com um jacto de areia e água ...................................... 39
Figura 2.29 - Aplicação dos laminados ....................................................................................... 40
Figura 2.30 - Tipos de rotura da ligação do laminado ................................................................ 41
Figura 2.31 - Análise da secção transversal de uma viga para o estado limite último de flexão:
(a) geometria, (b) distribuição de extensões e (c) distribuição de tensões ................................ 43
Figura 3.1 - Geometria da secção transversal das vigas ............................................................ 50
Figura 3.2 - Pormenorização das armaduras .............................................................................. 50
Figura 3.3 - Cofragens com as armaduras das vigas ................................................................. 51
Figura 3.4 – Viga de betão armado pronta para ensaio ............................................................. 51
Figura 3.5 – Embalagem do componente A de Sikadur®-52 Injection ........................................ 52
Figura 3.6 – Embalagem do componente B de Sikadur®-52 Injection ........................................ 52
Figura 3.7 - Argamassa Emaco S88 ........................................................................................... 52
Figura 3.8 - Rolo de laminado de CFRP ..................................................................................... 53
Figura 3.9 - Embalagem da resina de colagem .......................................................................... 53
Figura 3.10 - Bomba manual monocomponente de injecção ..................................................... 54
Figura 3.11 - Injector de fixação mecânica ................................................................................. 54
Figura 3.12 - Macaco hidráulico e célula de carga ..................................................................... 55
Figura 3.13 – Unidade de pressão .............................................................................................. 55
Figura 3.14 - Deflectómetro TML 50 ........................................................................................... 55
Figura 3.15 - Disposição dos extensómetros nas vigas ............................................................. 55
Figura 3.16 - Colocação e ligação dos extensómetros às armaduras longitudinais ................... 55
Figura 3.17 - Esquema de ensaio das vigas ............................................................................... 56
Figura 3.18 - Aspecto real do esquema de ensaio ..................................................................... 56
Figura 3.19 - Montagem das cofragens ...................................................................................... 57
Figura 3.20 - Montagem das armaduras ..................................................................................... 57
Figura 3.21 - Aspecto final das cofragens com as armaduras no seu interior ............................ 58
Figura 3.22 - Espaçadores .......................................................................................................... 58
Figura 3.23 - Colocação e vibração do betão ............................................................................. 58
Figura 3.24 - Eliminação de excessos de betão ......................................................................... 58
Figura 3.25 - Regularização da superfície do betão ................................................................... 59
Figura 3.26 - Fabrico dos provetes de betão .............................................................................. 59
Figura 3.27 - Ligações ao aparelho de aquisição de dados ....................................................... 60
Figura 3.28 - Medidor óptico ou lupa de fendas .......................................................................... 60
Figura 3.29 - Criação de furos no betão com uma broca ........................................................... 61
Figura 3.30 - Colocação dos injectores nos furos ....................................................................... 61
Figura 3.31 - Processo de mistura dos componentes da resina ................................................. 61
Figura 3.32 - Limpeza da bomba ................................................................................................ 61
Figura 3.33 - Injecção da resina nas fendas ............................................................................... 62
Figura 3.34 - Injecção das resinas num injector na face inferior ................................................ 62
Figura 3.35 - Exemplo de formação de novas fendas ................................................................ 63
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
xi
Figura 3.36 - Aspecto final da viga após a injecção e extracção dos injectores ........................ 63
Figura 3.37 - Humidificação dos orifícios .................................................................................... 63
Figura 3.38 - Aspecto final dos orifícios após a sua reparação com argamassa ....................... 63
Figura 3.39 - Delimitação da área sujeita a preparação ............................................................. 64
Figura 3.40 - Martelo de agulhas ................................................................................................ 64
Figura 3.41 - Limpeza do laminado com acetona ....................................................................... 64
Figura 3.42 - Mistura dos componentes da resina ...................................................................... 64
Figura 3.43 - Aplicação de uma camada de resina no betão ..................................................... 65
Figura 3.44 - Aplicação da resina no laminado ........................................................................... 65
Figura 3.45 - Colocação dos laminados nas vigas ..................................................................... 65
Figura 3.46 - Aspecto final das vigas após reforço ..................................................................... 65
Figura 3.47 - Secção transversal das vigas de betão armado .................................................... 66
Figura 3.48 - Condições de apoio e de carregamento das vigas e respectivos diagramas de
momentos e esforços transversos .............................................................................................. 67
Figura 3.49 - Delimitação da zona .......................................................................................... 70
Figura 4.1 - Ensaio de compressão a um cubo de betão ........................................................... 77
Figura 4.2 - Evolução da tensão resistente do betão à compressão ao longo do tempo ........... 78
Figura 4.3 - Ensaio de compressão diametral a um cilindro de betão. ....................................... 79
Figura 4.4 - Evolução da tensão resistente do betão à tracção ao longo do tempo ................... 80
Figura 4.5 - Diagrama tensão-deslocamento dos ensaios à tracção dos varões de 8 mm ........ 81
Figura 4.6 - Diagrama tensão-deslocamento dos ensaios à tracção dos varões de 12 mm ...... 81
Figura 4.7 - Deformações registadas pelos deflectómetros na viga V1 ..................................... 84
Figura 4.8 - Diagrama de deformações registadas na viga V2. .................................................. 85
Figura 4.9 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros nas vigas V1 e V2 ...................... 85
Figura 4.10 - Deformação da viga V1 perto da sua rotura .......................................................... 86
Figura 4.11 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais superiores das vigas V1 e V2
..................................................................................................................................................... 86
Figura 4.12 – Extensões registadas nas armaduras longitudinais superiores das vigas V1 e V2
..................................................................................................................................................... 88
Figura 4.13 - Posição da linha neutra ao longo do carregamento das vigas V1 e V2 ................ 89
Figura 4.14 - Relações momento-curvatura nas vigas V1 e V2 ................................................. 90
Figura 4.15 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V1 e V2 ............................................... 90
Figura 4.16 – Caracterização da fendilhação das vigas ............................................................. 91
Figura 4.17 - Rotura da viga V1 por compressão do betão ........................................................ 92
Figura 4.18 - Rotura da viga V2 por compressão do betão ........................................................ 92
Figura 4.19 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V3 e V4 previamente à aplicação de
reforço ......................................................................................................................................... 92
Figura 4.20 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros na viga V3 ................................ 93
Figura 4.21 - Rotura da ligação do laminado na viga V3 ............................................................ 94
Figura 4.22 - Deslocamentos registadas pelos deflectómetros na viga V4 ................................ 94
Índice de Figuras
xii
Figura 4.23 - Rotura da ligação do laminado na viga V4 ............................................................ 95
Figura 4.24 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais nas vigas V3 e V4 ...... 95
Figura 4.25 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais para as vigas V1, V2, V3
e V4 ............................................................................................................................................. 96
Figura 4.26 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais superiores das vigas V3 e V4
..................................................................................................................................................... 97
Figura 4.27 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais inferiores das vigas V3 e V4 97
Figura 4.28 - Posição da linha neutra ao longo do carregamento das vigas V3 e V4 ................ 98
Figura 4.29 - Relações momento-curvatura nas vigas V1, V2, V3 e V4..................................... 99
Figura 4.30 – Identificação das fendas na viga V3 previamente ao ensaio à rotura .................. 99
Figura 4.31 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V3 e V4 na fase de fendilhação e nos
ensaios até à rotura ................................................................................................................... 100
Figura 4.32 - Distribuição de fendas na viga V3 antes da sua rotura ....................................... 100
Figura 4.33 – Distribuição de fendas na viga V4 antes da sua rotura ...................................... 101
Figura 4.34 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V5 e V6 previamente à aplicação do
reforço ....................................................................................................................................... 101
Figura 4.35 – Deslocamentos a meio vão das vigas V5 e V6 durante o carregamento e
descarregamento associado à operação de reparação ............................................................ 102
Figura 4.36 – Extensões das armaduras de tracção das vigas V5 e V6 durante o carregamento
e descarregamento associado à operação de reparação ......................................................... 102
Figura 4.37 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros na viga V5 .............................. 103
Figura 4.38 - Rotura da ligação do laminado de CFRP na viga V5 .......................................... 104
Figura 4.39 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros na viga V6 .............................. 104
Figura 4.40 - Rotura da ligação do laminado de CFRP na viga V6 .......................................... 105
Figura 4.41 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais nas vigas V5 e V6 .... 105
Figura 4.42 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais nas vigas V1, V2, V5 e
V6 .............................................................................................................................................. 106
Figura 4.43 - Deslocamentos registadas pelos deflectómetros centrais nas vigas V3, V4, V5 e
V6 .............................................................................................................................................. 106
Figura 4.44 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais inferiores das vigas V5 e V6
................................................................................................................................................... 107
Figura 4.45 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais superiores das vigas V5 e V6
................................................................................................................................................... 108
Figura 4.46 - Posição da linha neutra ao longo do carregamento das vigas V5 e V6 .............. 109
Figura 4.47 - Relações momento-curvatura nas vigas V5 e V6 ............................................... 109
Figura 4.48 - Relações momento-curvatura nas vigas V3, V4, V5 e V6................................... 110
Figura 4.49 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V5 e V6 nos ensaios à rotura ........... 110
Figura 4.50 - Identificação das fendas na viga V6 previamente ao ensaio à rotura ................. 111
Figura 4.51 - Aberturas de fendas registadas nos ensaios à rotura das vigas V3, V4, V5 e V6
................................................................................................................................................... 111
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
xiii
Figura 4.52 - Distribuição de fendas na viga V5 antes da sua rotura ....................................... 112
Figura 4.53 - Distribuição de fendas na viga V6 antes da sua rotura ....................................... 112
Índice de Tabelas
Tabela 2.1 - Etapas de um projecto de reabilitação.................................................................... 11
Tabela 2.2 - Técnicas de reforço existentes e sua aplicabilidade .............................................. 14
Tabela 2.3 - Classificação de fendas de acordo com a sua abertura máxima ........................... 16
Tabela 2.4 - Valores limite de abertura de fendas consoante a classe de exposição ................ 19
Tabela 2.5 - Valores limite para z consoante o tipo de exposição do betão armado ................. 20
Tabela 2.6 - Diâmetros e espaçamentos de varões máximos para controlo de fendilhação ..... 22
Tabela 2.7 - Principais características de resinas epóxidas ....................................................... 24
Tabela 2.8 - Resultados de ensaios à compressão de cubos fendilhados e reparados com
resinas epóxidas.......................................................................................................................... 35
Tabela 2.9 - Características físicas e mecânicas dos diferentes FRPs ...................................... 36
Tabela 2.10 - Valores do factor de segurança ...................................................................... 43
Tabela 3.1 - Propriedades físicas e mecânicas da resina aplicada na injecção ........................ 51
Tabela 3.2 - Propriedades físicas e mecânicas do laminado de CFRP...................................... 52
Tabela 3.3 - Propriedades da resina de colagem dos laminados ............................................... 53
Tabela 3.4 - Características dos equipamentos de medição ...................................................... 54
Tabela 3.5 - Características das vigas ........................................................................................ 66
Tabela 3.6 - Características mecânicas do betão e do aço ........................................................ 67
Tabela 3.7 - Tipos e dimensões de laminados de CFRP da marca S&P ................................... 69
Tabela 4.1 - Resultados dos ensaios de compressão nos provetes cúbicos aos 28 dias ......... 78
Tabela 4.2 - Resultados dos ensaios de compressão diametral dos provetes cilíndricos aos 28
dias .............................................................................................................................................. 79
Tabela 4.3 - Valores médios das tensões de cedência e tensões últimas dos varões ensaiados
..................................................................................................................................................... 82
Tabela 4.4 - Resultados principais obtidos nas vigas V1 e V2 ................................................. 113
Tabela 4.5 - Resultados principais obtidos nas vigas V3 e V4 ................................................. 113
Tabela 4.6 - Resultados principais obtidos nas vigas V5 e V6 ................................................. 114
Índice de Gráficos
Gráfico 1 – Comparação dos valores de rigidez e carga de rotura das vigas padrão e vigas
apenas reforçadas ..................................................................................................................... 113
Gráfico 2 - Comparação dos valores de rigidez e carga de rotura das vigas padrão, vigas
apenas reforçadas e vigas reparadas e reforçadas .................................................................. 114
Índice de Gráficos
xiv
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
xv
Simbologia
Letras maiúsculas latinas
área efectiva por armadura
área da secção de betão
área de betão efectiva
área da secção de betão traccionado
área da secção do laminado de CFRP
área da secção de armaduras adicional para responder às novas solicitações
área da secção de armadura longitudinal
área da secção de armadura longitudinal de tracção
área da secção de armadura longitudinal de compressão
área da secção de armaduras necessária para responder às novas solicitações
área mínima da secção de armadura longitudinal
área por metro de armadura transversal
coeficiente de segurança das propriedades resistentes do CFRP
modulo de elasticidade do betão
módulo de elasticidade do CFRP
módulo de elasticidade do aço
valor absoluto da força de tracção no banzo no momento imediatamente antes
ao aparecimento da primeira fenda
força de tracção existente no laminaod
momento de inércia
momento de inércia para o estado fendilhado
momento aplicado
valor de cálculo do momento resistente da secção de uma viga
valor de cálculo do momento resistente da secção após reforço
valor de cálculo do momento flector existente
força existente no betão
força existente no laminado de CFRP
valor de cálculo do esforço normal actuante
somatório das forças de tracção
força existente nas armaduras longitudinais de tracção
força existente nas armaduras longitudinais de compressão
Simbologia
xvi
carga aplicada nos provetes cilíndricos
pressão máxima admissível de injecção
relação entre as futuras sobrecargas e cargas permanentes actuantes
curvatura de um elemento estrutural
valor nominal da carga actuante
cargas permanentes
sobrecargas
força máxima existente na zona de ancoragem do laminado de CFRP
valor de cálculo do esforço transverso existente.
valor de cálculo do esforço transverso resistente
Letras minúsculas latinas
flecha elástica
flecha instantânea
largura da zona comprimida de betão de uma viga
largura a secção do laminado de CFRP
espessura de recobrimento
distância da linha neutra à superfície superior do elemento
distância das armaduras longitudinais de tracção à superfície superior da viga
distância das armaduras longitudinais de compressão à superfície superior de
uma viga
distância do conjunto armaduras-laminado à superfície superior da viga
distância do reforço à superfície superior da viga
tensão máxima de aderência do betão
valor de cálculo da resistência do betão à compressão
valor característico da resistência à compressão do betão
tensão de tracção máxima do betão
valor característico da resistência do betão à tracção
valor médio da resistência do betão à tracção
valor médio da resistência à tracção do betão na idade em que se espera que o
corram as primeiras fendas
valor de cálculo da tensão máxima do CFRP
valor característico da tensão máxima resistente do CFRP
valor de cálculo da tensão de cedência do aço
valor característico da tensão de cedência do aço
altura do elemento
coeficiente dependente da altura ou espessura do elemento estrutural
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
xvii
coeficiente que considera o estado de fendilhação e o efeito das armaduras
coeficiente que considera o efeito da distribuição de tensões
coeficiente dependente da aderência das armaduras ao betão
coeficiente dependente do tipo de esforço actuante
factor geométrico que relaciona a largura da base da viga com a largura do
laminado de CFRP
coeficiente dependente da distribuição de tensões imediatamente antes do
aparecimento da primeira fenda
coeficiente dependente das condições de compactação do betão
comprimento de laminado necessária para cobrir a zona de cedência das
armaduras
comprimento máximo de amarração do laminado de CFRP
comprimento total do laminado
número de camadas do reforço de CFRP
numero de amostras
espaçamento médio entre fendas
espaçamento máximo entre fendas
espessura do laminado de CFRP
perímetro de ligação do laminado de CFRP
perímetro de ligação das armaduras
valor da abertura de fendas
valor característico da abertura de fendas
distância da linha neutra à superfície superior do elemento
valor da tensão ultima obtida em determinada amostra
valor da menor tensão ultima obtida num conjunto de amostras
distância do centro de gravidade à superfície superior da viga
factor de controlo da fendilhação
braço entre forças de tracção e compressão, igual a 0,9d
braço existente entre os conjuntos de forças e
Letras gregas
variação da extensão do aço na zona da fenda
relação entre os módulos de elasticidade do aço e do betão
factor de integração da distribuição de extensões
factor de redução da distância ao centro de aplicação de esforços de
compressão
extensão do betão aquando da aplicação do sistema de reforço de CFRP
extensão ao nível das armaduras de tracção
Simbologia
xviii
extensão do betão
extensão média do betão
extensão do betão devido à retracção
extensão máxima de compressão do betão
extensão do CFRP
valor de cálculo da extensão máxima do CFRP
valor limite da extensão do laminado de CFRP
extensão máxima do CFRP
valor de cálculo da extensão máxima do CFRP
extensão do aço
extensão das armaduras longitudinais de tracção
extensão das armaduras longitudinais de compressão
extensão média do aço
extensão do aço existente na zona da fenda
extensão do aço a zona da fenda imediatamente antes da formação da mesma
extensão do aço a zona da fenda imediatamente depois da formação da
mesma
extensão média relativa entre o aço e o betão
diâmetro das armaduras longitudinais
factor de redução para determinação da resistência nominal
diâmetro da base dos provetes cilíndricos
diâmetro médio das armaduras longitudinais de tracção
factor de redução da resistência do CFRP
momento flector reduzido
ângulo de propagação de esforços transversos
percentagem de armadura
percentagem de armadura efectiva
desvio padrão
tensão no betão
tensão nas armaduras
tensão de tracção obtida nas amostras
tensão de corte existente no interface CFRP/betão
valor médio da tensão de aderência do laminado de CFRP
valor médio da tensão de aderência das armaduras
percentagem mecânica de armadura
parâmetro de ligação do laminado de CFRP
factor de redução da área de secção de betão comprimido
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
1
1 Introdução
1.1 Enquadramento geral
Após o elevado número de construções realizadas durante o séc. XX, o mercado das
construções novas tem vindo a abrandar nos últimos anos e prevê-se uma viragem para a
execução de obras de reabilitação das construções existentes [1]. Dentro das anomalias que
surgem em construções de betão armado, o aparecimento de fendas, ou fendilhação, destaca-
se pelo número de casos ocorridos, de certa forma justificado pelo facto de ser também uma
manifestação da existência de outras anomalias [2].
Quando a fendilhação ou outras anomalias se verificam, deve elaborar-se um plano de
inspecção com o intuito de analisar a origem e a gravidade da anomalia e, se necessário,
intervir de forma a restabelecer ou aumentar a capacidade resistente do elemento afectado. A
decisão de aplicação de reforço ou de técnicas de reparação prende-se com a relação custo-
benefício de cada opção e o tipo de serviço a que o elemento ou a estrutura estará sujeito [3].
Neste trabalho, procura-se estudar a reparação de fendas em betão armado através da
injecção de resinas epóxidas. Este processo consiste na reparação do elemento estrutural
afectado através do preenchimento das fendas com resinas epóxidas que garantem a ligação
entre as secções de betão e procuram repor o monolitismo do elemento. É normalmente
utilizada resina epóxida para este efeito devido à sua resistência mecânica elevada e elevados
níveis de aderência e resistência química [4].
Complementarmente, estuda-se o reforço de vigas de betão armado, com polímeros reforçados
com fibras de carbono (CFRP). Esta técnica de reforço é amplamente aceite e considerada
como conveniente e eficaz [5]. A sua inserção no âmbito deste trabalho prende-se com o facto
de, quando se pretende reforçar elementos de betão armado fendilhados, ser, na maioria dos
casos, efectuada uma reparação estrutural do elemento em causa antes da aplicação do
reforço [2]. A injecção de resinas epóxidas nas fendas é uma técnica bastante utilizada na
reparação estrutural do betão fendilhado, desconhecendo-se, no entanto, o efeito que esta
reparação tem no comportamento final do elemento reforçado.
1.2 Objectivos
O objectivo principal deste trabalho assenta no estudo da reparação de fendas em betão
armado com injecção de resinas epóxidas. Em particular, pretende-se determinar a influência
da injecção de resinas previamente a operações de reforço, nomeadamente com laminados de
Introdução
2
fibras de carbono. Este estudo tem o intuito de servir de suporte a futuras intervenções de
reabilitação estrutural de elementos de betão armado que apresentem fendas de flexão, na
medida em que poderá ser útil no momento de determinação das técnicas de reabilitação.
Como objectivo complementar, mas igualmente relevante, refere-se a aquisição de
conhecimentos ao nível de fundamentos teóricos e de experiência técnica. Estes
conhecimentos passam pela consciencialização do papel das resinas como material de
reparação e da acção dos laminados de CFRP no reforço de vigas de betão armado. Por fim,
no contexto mais técnico, pretende-se conhecer alguns cuidados ou obstáculos a considerar
durante o processo experimental.
1.3 Metodologia
Com o intuito de cumprir os objectivos referidos, o trabalho em questão assenta em dois
componentes principais. O primeiro consiste na pesquisa bibliográfica nos âmbitos da
reparação de fendas em betão armado com o recurso a injecção de resinas e do reforço
estrutural com laminados de CFRP. Mais especificamente, pretende-se uma familiarização com
as resinas de reforço estrutural e os métodos existentes de injecção.
Para melhor compreensão da problemática em estudo, realizou-se uma campanha
experimental baseada numa série de ensaios de flexão em vigas de betão armado que
apresentam dimensões a uma escala considerável que pretende ser representativa de casos
reais. De forma a caracterizar a acção das resinas no reforço das vigas com laminados, os
objectos ensaiados consistem em vigas de betão armado reforçadas com laminados de CFRP
que tenham sido injectadas com resinas e vigas reforçadas sem qualquer tratamento de
reparação.
O efeito da reparação das vigas no comportamento mecânico das vigas foi determinado
através da análise dos deslocamentos das vigas e extensões das armaduras, verificadas
durante os ensaios de carga. Analisou-se ainda o processo de fendilhação verificado durante o
carregamento dos diferentes tipos de viga.
1.4 Organização do documento
Este documento encontra-se dividido em 5 capítulos, iniciando-se este trabalho com uma
secção introdutória, onde se apresenta o âmbito do mesmo, os seus objectivos principais e a
metodologia aplicada para os atingir.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
3
No segundo capítulo procura-se apresentar o estado da arte dos aspectos com maior
relevância para este trabalho, estando dividido em três partes principais. Este inicia-se com
uma introdução à reabilitação de estruturas de betão armado, através da descrição das
anomalias mais frequentes, das diferentes etapas associadas a um projecto de reabilitação e
das técnicas de reparação e reforço de maior utilização. Com maior especificidade, aborda-se
na segunda parte deste estado da arte, a técnica de reparação de fendas em betão armado
através da injecção de resinas. Para tal, é feita uma caracterização do fenómeno de
fendilhação e descrevem-se os materiais de injecção actualmente disponíveis, bem como as
diferentes técnicas e equipamentos existentes para a realização da injecção das fendas.
Procura-se ainda comprovar a eficiência das resinas epóxidas na reparação estrutural do betão
armado, através da apresentação de casos de estudo anteriores. A última parte do estado da
arte é reservada ao reforço estrutural com recurso à colagem de laminados de CFRP. Aqui são
dadas a conhecer as características mecânicas deste material compósito e a sua aplicabilidade
no âmbito da construção civil. Descreve-se também o processo de fabrico dos laminados de
CFRP, bem como o processo executivo da operação de reforço com recurso a este material.
Por fim, é ainda considerado o dimensionamento dos laminados de CFRP, apresentando-se
diferentes abordagens de cálculo, tendo em conta os modos de rotura possíveis.
A campanha experimental levada a cabo neste trabalho é descrita no terceiro capítulo, onde se
indicam os objectivos a esta associados e os ensaios que foram realizados. É feita uma
descrição dos materiais e equipamentos utilizados, do esquema de ensaio e do procedimento
experimental aplicado nas diferentes fases da campanha, nomeadamente, o fabrico das vigas
de betão armado, a reparação das fendas com recurso a injecção de resinas, a colagem dos
laminados de CFRP para reforço estrutural e o próprio carregamento à flexão das vigas. Com
base nas características das vigas e das suas condições de apoio, apresentam-se ainda os
cálculos efectuados para o dimensionamento dos laminados de CFRP.
No quarto capítulo, são apresentados os resultados dos ensaios realizados na campanha
experimental, particularmente o comportamento mecânico das vigas no que toca à deformação
apresentada, extensão das armaduras e propagação da fendilhação. Apresentam-se ainda os
resultados dos ensaios de resistência aos provetes dos materiais utilizados, para controlo da
qualidade dos mesmos.
Finalmente, no quinto capítulo são apresentadas as principais conclusões, baseadas
principalmente nos resultados experimentais e sugerem-se tópicos para estudos futuros a
realizar nesta área.
Introdução
4
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
5
2 Estado da arte
2.1 Introdução à reabilitação de estruturas de betão armado
O betão armado possui várias características que, comparativamente com outros materiais de
construção, o tornam bastante vantajoso, tais como a sua resistência mecânica, a sua fácil
acessibilidade ou a sua capacidade de assumir diferentes formas geométricas, entre outras.
Em Portugal, este facto levou a que, em meados do século XX, se tenha verificado uma
proliferação no uso deste material para a construção de novas estruturas.
Contrariamente à filosofia inerente às suas primeiras primeiras aplicações, o betão armado é
um material relativamente sensível, sendo que a sua degradação ocorre naturalmente com o
tempo e pode manifestar-se de diferentes modos. Com o elevado número de construções de
betão armado existentes hoje em dia, a solicitação de operações de reabilitação das mesmas é
cada vez maior. Devido a esta recente necessidade, têm-se verificado inúmeros avanços ao
nível das possíveis técnicas de reabilitação e dos materiais aplicados [2].
2.1.1 Anomalias em betão armado
As anomalias que se manifestam em estruturas de betão armado podem assumir diferentes
formas e afectar de maneiras distintas o comportamento do betão armado. Esta afectação
pode ir desde a simples alteração da componente estética até ao comprometimento severo da
durabilidade e integridade estrutural das estruturas de betão armado.
Neste ponto pretende-se apresentar uma introdução às anomalias passíveis de serem
observadas em elementos de betão armado e que, de certa forma, provocam danos mais
consideráveis.
O aparecimento de anomalias em betão armado pode ser resultado de acções que se podem
verificar ao longo das várias fases da vida de uma estrutura, ou seja, desde a fase de projecto
até ao ponto de exploração normal, enumerando-se de seguida as principais causas:
Erros de projecto/concepção;
Erros de construção;
Acções ambientais;
Alteração do tipo de serviço da estrutura;
Ocorrência de fenómenos naturais ou acidentes.
Estado da arte
6
De acordo com Helene [6], cerca de noventa por cento das anomalias detectadas são
consequência de erros de concepção e projecto (46%) ou de execução e qualidade dos
materiais (44%), enquanto que apenas 10% destas anomalias estão associadas à utilização da
estrutura. Segundo o autor, as anomalias mais comuns consistem em fendas, eflorescências,
deformações excessivas, manchas no betão e corrosão das armaduras, sendo que a
fissuração, as deformações excessivas e a corrosão das armaduras correspondem a mais de
50% das anomalias verificadas em estruturas de betão armado.
É também necessário ter em conta que a identificação da causa que origina as anomalias
existentes pode ser de dificuldade considerável, visto que é possível a mesma causa produzir
anomalias diferentes no betão armado e, em muitos casos, uma anomalia pode ser resultado
de várias acções em simultâneo [2].
Fendilhação
Como foi referido, a fendilhação do betão é uma anomalia bastante comum em estruturas de
betão armado. Isto deve-se principalmente ao facto de o aparecimento de fendas ser, para
além de um indicador de problemas estruturais, um sinal da existência de outras anomalias no
betão. A fendilhação no betão armado dá-se quando a tensão existente no betão ultrapassa os
valores de resistência máxima à tracção do mesmo. Algumas das anomalias do betão
provocam o aumento de tensões internas no material, pelo que é comum esse betão
apresentar algum nível de fendilhação.
No que toca à fendilhação do betão armado devido a acções físicas, uma das razões para o
aparecimento de fendas consiste na retracção do betão. A retracção do betão é, na sua
essência, uma redução de volume que se pode verificar de diferentes formas e para diferentes
idades do betão. A sua distinção é feita da seguinte forma:
Retracção plástica (Figura 2.1) - actua nas primeiras idades do betão (estado plástico)
e é resultado da perda da água por evaporação capilar ou por absorção dos
agregados;
Retracção térmica - o calor libertado pela hidratação do cimento, juntamente com o seu
posterior arrefecimento, origina variações de volume e a consequente fissuração do
betão. Processa-se durante o período de presa e após a descofragem do betão;
Retracção química – é consequência do facto dos produtos de hidratação do cimento
possuírem um volume inferior, relativamente à soma dos volumes da água e do
cimento que os formam. Ocorre durante o período de hidratação do cimento, com
maior intensidade nas primeiras idades;
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
7
Retracção hídrica – é consequência da perda de água pela pasta de cimento, pelo que
é possível dividi-la em dois grupos: retracção autogénea, fenómeno que ocorre durante
as primeiras semanas e que consiste no consumo da água durante as reacções de
hidratação, e retracção de secagem (Figura 2.2), processo que se prolonga durante
vários anos até o betão se encontrar totalmente seco.
solução mais eficaz no controlo da retracção do betão assenta na aplicação de uma dosagem
de relação água/cimento o mais reduzida possível sem que comprometa a trabalhabilidade do
betão [7].
Figura 2.1 - Fendilhação devido a retracção plástica [8]
Figura 2.2 - Fendilhação devido a retracção hídrica (secagem) [8]
Dentro das acções físicas a que o betão está sujeito pode-se ainda considerar o efeito da
fluência que pode levar a deformações excessivas e consequente fendilhação.
As variações de temperatura a que o betão armado se encontra exposto, em conjunto com
uma deficiente concepção de juntas de dilatação, podem levar ao aparecimento de fendas no
betão armado.
Por fim, as fendas de carácter estrutural são maioritariamente provocadas por erros ao nível de
projecto e da construção ou a alteração do tipo de serviço da estrutura. Os erros mais comuns
ao nível de projecto baseiam-se em deficiências na pormenorização de elementos construtivos,
tais como os materiais a utilizar, recobrimento a aplicar ou na pormenorização das armaduras,
sendo também possível verificarem-se erros na consideração de cargas e esforços actuantes.
Relativamente aos erros comuns ocorridos durante a execução da obra, destacam-se as falhas
na aplicação, compactação e cura do betão, colocação de armaduras, o mau escoramento das
cofragens ou a retirada precoce das mesmas [9].
Os assentamentos de terreno são outra causa provável do aparecimento de fendas e podem
ser classificados como uniformes ou diferenciais. Os assentamentos uniformes são pouco
preocupantes, excepto se apresentarem valores elevados, enquanto que os assentamentos
diferenciais são mais danosos, sendo que a fendilhação resultante em paredes costuma
apresentar uma inclinação aproximadamente de 45º [2].
Estado da arte
8
Corrosão das armaduras
A corrosão de armaduras dá-se quando estas se encontram em contacto com água e oxigénio
e o seu produto final consiste em óxidos de ferro cuja contribuição para a resistência mecânica
é praticamente desprezável. Esta perda de secção resistente das armaduras leva a que, por
vezes, se verifique a rotura das mesmas [2].
No caso de existência de fendas no betão armado, estas não são muito preocupantes quando
se desenvolvem com uma orientação transversal às armaduras, pelo menos com aberturas
inferiores a 0,4 mm, desde que o recobrimento de betão seja apropriado, ao nível da espessura
e densidade, e que este não se encontre exposto a ataques de cloretos. Relativamente às
fendas paralelas às armaduras, estas aumentam de forma considerável a exposição das
armaduras e, consequentemente, o seu risco de corrosão. Em muitos casos, as fendas que se
desenvolvem paralelamente às armaduras são resultado da corrosão das mesmas. A formação
de óxidos de ferro tende a provocar um aumento de volume das armaduras, principalmente em
espessura, que provoca o aumento de tensões no betão e propicia o aparecimento de fendas.
A melhor iniciativa na minimização do perigo de corrosão das armaduras consiste em aplicar
um recobrimento suficientemente espesso e denso [10].
Despassivação do betão
O betão possui uma alcalinidade relativamente elevada que, em contacto com o aço, lhe
garante uma protecção contra a corrosão através da formação de uma película passivante em
volta da armadura.
A carbonatação do betão é resultado da reacção entre o dióxido de carbono presente no ar e o
hidróxido de cálcio, presente no betão, que leva à formação de carbonato de cálcio e à
diminuição do pH. Verifica-se uma perda de alcalinidade que, quando atinge as armaduras,
provoca o desaparecimento da película de protecção, aumentando o risco de corrosão das
armaduras. Esta reacção vai-se propagando da superfície exterior do betão para o seu interior
a uma profundidade que depende aproximadamente da raiz quadrada do tempo.
A película passivante das armaduras pode também ser atacada por acção dos iões cloreto,
caso um valor limite da concentração de iões cloreto seja ultrapassado. Tanto o dióxido de
carbono como os iões cloreto propagam-se por difusão para o interior do betão, sendo que os
iões cloreto efectuam essa difusão através dos poros de betão com presença de água. Estes
iões cloreto são normalmente originários da água do mar, sendo a penetração dos mesmos no
betão é mais preocupante quando existe um ciclo de molhagem e secagem do betão. O ritmo
de propagação dos iões cloreto encontra-se também aproximadamente dependente da raiz
quadrada do tempo.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
9
Ataques químicos
Os ataques químicos no betão armado caracterizam-se principalmente por reacções entre
agentes exteriores e constituintes do betão que alteram as características de resistência do
mesmo. É possível distinguir os ataques químicos em três classes diferentes: ataques de
ácidos, sulfatos e álcalis.
Existem vários agentes, gasosos, líquidos ou sólidos, que, ao entrar em contacto com o betão,
reagem com os compostos de cálcio e produzem novos compostos incoerentes e expansivos.
Entre estas reacções incluem-se os ataques de ácidos que podem provocar a desagregação
de partes de betão ou uma fendilhação generalizada.
Os ataques de sulfatos distinguem-se dos ataques de ácidos, na medida em que os ataques de
sulfatos consistem em reacções entre iões de sulfato e determinados compostos do cimento,
reacções essas com um carácter expansivo, que tendem a causar o aumento da porosidade do
betão, uma fendilhação de padrão irregular ou a consequente desagregação do betão.
Por fim, os ataques de álcalis dão-se quando os agregados do betão possuem uma
concentração elevada de sílica reactiva que reage com os álcalis que se podem encontrar nos
poros do betão. A reacção é altamente expansiva e o seu produto final consiste num gel de
álcali-silica, pelo que o betão fica fendilhado ou mesmo desintegrado e composto por um
material de resistência mecânica inferior [2].
Outras anomalias
Pode-se considerar que a existência de vazios ou zonas porosas é uma anomalia no betão
armado uma vez que, embora de índole maioritariamente estética, pode trazer outros
problemas ao nível da facilidade de penetração no betão por agentes exteriores ou alguma
influência no comportamento estrutural para casos mais gravosos. As causas principais destas
anomalias assentam na deficiente aplicação e compactação do betão, ou mesmo nas
características dos seus constituintes.
A ocorrência de descasques ou desagregação do betão mencionados anteriormente é também
considerada como anomalia do betão embora esteja bastante ligada à ocorrência de outras
anomalias, nomeadamente, ataques químicos, corrosão de armaduras ou excesso de cargas.
É necessário ter também em conta os fenómenos biomecânicos, tais como a abrasão e a
cavitação, cuja acção, se apresentar uma intensidade elevada, podem provocar danos
consideráveis no betão. Por fim, salientam-se ainda os agentes biológicos, vegetais ou
animais, que, em contacto com o betão, podem provocar reacções químicas com o mesmo,
alterando as características mecânicas deste, ou mesmo, o desenvolvimento dos agentes
vegetais que pode provocar o aumento de tensões internas no betão [2].
Estado da arte
10
2.1.2 Projecto de reabilitação
Antes de se avançar para a abordagem do processo de reabilitação de uma estrutura é
necessário ter presente as correctas noções sobre os termos normalmente utilizados neste
âmbito, nomeadamente os seguintes: reabilitação, reparação e reforço. Estes três conceitos
podem ser diferenciados através do seu objectivo principal.
Reabilitação – Operação que tem como intuito o aumento da durabilidade de uma
estrutura e pode ser realizado através da reparação, reforço ou uma combinação das
duas acções.
Reparação - todas as acções que visam repor totalmente ou parcialmente os níveis de
desempenho iniciais da estrutura.
Reforço - acção que incide sobre o comportamento de uma estrutura, visando o
aumento da resistência e/ou ductilidade dos seus elementos, garantindo um
desempenho superior relativamente ao seu estado inicial.
Existem actualmente vários métodos de reforço e reparação de estruturas, pelo que é
necessário realizar uma análise cuidada da situação existente da estrutura a reabilitar, e
futuras aplicações para a mesma, de forma a ser possível determinar a intervenção que melhor
cumpra os requisitos estabelecidos.
Um projecto de reabilitação tem como principal objectivo caracterizar as condições existentes
numa determinada estrutura e avaliar a sua compatibilidade com a futura utilização da mesma.
Devido às condicionantes e especificidades de cada estrutura, não existe um método universal
para a realização deste tipo de projectos. Existe, no entanto, uma série de passos que se
consideram essenciais para a correcta realização de um projecto de reabilitação, tendo sempre
em conta os objectivos pretendidos pelo dono de obra, e que são apresentados na Tabela 2.1.
Relativamente à avaliação estrutural, é de referir que se recomenda uma maior exigência,
comparativamente com estruturas novas, ao nível dos coeficientes de majoração para as
cargas actuantes e dos coeficientes de minoração da capacidade resistente da estrutura,
sendo que estes últimos podem ser ajustados através de um valor denominado de relação de
capacidade, com os valores apresentados no CEB Bulletin D’Information nº162, que variam de
acordo com os danos existentes na estrutura [11].
Um passo essencial em qualquer operação de reabilitação consiste na identificação das
causas das anomalias existentes, sendo que se for possível eliminar a acção que desencadeia
o aparecimento das anomalias, esta deve ser feita previamente à operação de reabilitação. A
determinação do tipo de intervenção e da técnica de reabilitação a aplicar deve então ser
realizada tendo em conta as condicionantes existentes [12].
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
11
Tabela 2.1 - Etapas de um projecto de reabilitação
1 – Recolha de
documentação
I. Projectos da obra – Memórias descritivas, peças
desenhadas, especificações técnicas.
II. Registos da construção - Origem e ensaios de materiais,
registos de fiscalização, livro de obra.
III. Registo de alterações no uso da estrutura ou intervenções
de reabilitação anteriores
2 – Inspecção da
estrutura
I. Medição de geometrias dos elementos estruturalmente mais
relevantes.
II. Identificação de fissuras e respectiva caracterização,
deslocamentos e deformações perceptíveis e outras zonas
com indícios de deterioração futura.
III. Quantificação das propriedades mecânicas do betão e do
aço através de ensaios in-situ ou em laboratório.
3 – Avaliação
estrutural
I. Verificação da segurança da estrutura face às condições
iniciais de projecto.
II. Verificação da segurança da estrutura face às novas
exigências de utilização.
4 – Avaliação final
Determinação do tipo de intervenção:
1. Conservação preventiva
2. Reparação/Reforço da estrutura
3. Mudança/limitação do uso da estrutura
4. Abandono ou demolição da estrutura
Dentro do mesmo âmbito, a vertente económica é fundamental na tomada de decisão, pelo que
por vezes é possível proceder à reabilitação da estrutura mas, devido a esta solução não ser
economicamente viável, é escolhido outro tipo de solução [3].
2.1.3 Técnicas de reparação
Como foi referido, a reparação tem como objectivo o restabelecimento das características
mecânicas iniciais de uma estrutura. As acções de reparação possuem uma grande gama de
técnicas possíveis com diferentes níveis de intervenção, ou seja, as acções de reparação
abrangem desde o preenchimento de pequenos vazios até à reconstrução parcial de
Estado da arte
12
elementos. Neste ponto pretende-se apresentar resumidamente os diferentes procedimentos
de reparação existentes face às anomalias anteriormente referidas.
De entre as várias técnicas existentes, é possível identificar dois tipos de abordagens, a
reparação através do preenchimento de falhas na continuidade do betão ou através da
substituição dos materiais danificados. Na substituição dos materiais danificados é
frequentemente aplicado um material semelhante, mas com determinadas propriedades que
previnem a recorrência de determinadas anomalias. Caso esta substituição seja feita com
materiais de resistências mecânicas superiores, esta operação pode ser considerada como
uma operação de reforço.
Não existe um método único de reparação de uma anomalia, pelo que a escolha da técnica e
dos materiais a utilizar encontra-se dependente das condições existentes e da gravidade e
extensão da anomalia.
Considerando inicialmente a reparação de vazios ou zonas porosas, esta é feita com recurso a
pequenas perfurações no betão com a frequência que se verificar necessária, desde que estas
consigam interceptar os vazios existentes. É posteriormente feita uma limpeza do interior de
forma a retirar possíveis partículas soltas. Para o preenchimento de vazios de pequeno volume
aconselha-se a utilização de resinas epóxidas enquanto que para maiores volumes
recomenda-se a utilização da argamassas não retrácteis à base de cimento com possíveis
aditivos.
Face à existência de descasques ou desagregações de betão, o procedimento de reparação
passa essencialmente pela remoção de todo o betão afectado e cuja integridade esteja em
risco, sendo este substituído por materiais novos. Dentro dos possíveis materiais de
substituição, encontram-se as argamassas epóxidas ou argamassas de cimento não retrácteis,
para lacunas relativamente pequenas, ou mesmo betão convencional, normalmente aplicado
em reparações de grande extensão.
É possível que, aliado a estas anomalias, se verifiquem danos nas armaduras, como
deformações ou corrosão das mesmas, pelo se deve proceder à sua substituição através da
soldadura ou empalme de novos varões. O betão deve então ser retirado deixando as
armaduras expostas e com uma folga razoável até ao ponto de soldadura ou de empalme.
Normalmente, devido às grandes quantidades de betão a substituir, recorre-se à aplicação de
betão normal, betão não retráctil ou betão projectado.
A aplicação do betão de substituição pode ser realizada basicamente de duas formas: através
de métodos tradicionais com recurso a cofragens, ou então através do sistema de betão
projectado, sendo este ultimo método normalmente utilizado quando se está perante grandes
superfícies de betão a reparar. Em ambos os casos, é necessário garantir a aderência entre o
betão novo e o existente.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
13
O sistema de reparação de betão projectado consiste, como o nome indica, em projectar betão
na superfície a reparar, como é visível na Figura 2.3. O betão utilizado para projecção é
semelhante ao convencional, sendo que neste caso existe um maior controlo ao nível da
dimensão máxima dos agregados. O betão projectado tem a vantagem de dispensar cofragens,
na medida em que a projecção garante a compactação do betão e transmite-lhe uma grande
aderência, mesmo em superfícies verticais ou horizontais invertidas (tectos). Aos betões a
projectar pode-se ainda adicionar outros materiais que melhoram as suas características de
resistência ou durabilidade, tais como fibras de aço ou fibras de vidro (GRC).
Relativamente à acção de ataques químicos no betão armado, o método de reparação habitual
consiste na substituição do betão e armaduras afectadas. No entanto, se for verificado que o
processo de contaminação se encontra estabilizado, é possível recorrer ao preenchimento das
falhas existentes, desde que a aderência dos materiais de preenchimento ao betão não esteja
comprometida.
Por fim, e com maior relevância para este trabalho, refere-se a reparação de fendas em betão
armado. Em primeiro lugar, é necessário fazer uma correcta caracterização das fendas
existentes, na medida em que as características das fendas condicionam o tipo de reparação e
os materiais a aplicar.
O preenchimento de fendas com recurso a injecção de resinas é o procedimento mais comum
para este tipo de anomalia e consiste na injecção, sob pressão, de resinas através de
injectores colocados junto das fendas (Figura 2.4). As características das resinas,
nomeadamente ao nível da sua aderência ao betão e resistência mecânica permitem realizar
uma reparação estrutural do elemento de betão armado em causa. Este método será abordado
de forma mais detalhada mais à frente neste trabalho.
Figura 2.3 - Aplicação de betão projectado [13] Figura 2.4 - Reparação de fendas com injecção de resinas [14]
Caso não seja necessária a reparação estrutural do betão armado, é também possível realizar
a reparação de fendas através da sua selagem. Esta operação consiste na abertura da
superfície da fenda e o seu preenchimento com um material selante. O campo de utilização
desta técnica baseia-se em situações em que é necessário realizar a impermeabilização das
Estado da arte
14
fendas à água ou ao ar, tais como zonas onde existe pressão hidrostática aplicada sobre a
superfície do betão. Dentro dos materiais de selagem passíveis de aplicação encontram-se as
resinas de poliuretano, silicones, polisulfuretos ou argamassas poliméricas [2, 15].
2.1.4 Técnicas de reforço
O reforço de betão armado pressupõe, geralmente, a introdução ou adição de novos materiais
resistentes nos elementos que demonstrem uma resistência mecânica inferior à que lhe é
exigida pelo tipo de acções a que se encontram sujeitos. Na Tabela 2.2 enumeram-se as várias
técnicas de reforço existentes e indica-se em quais elementos estruturais de betão armado
estas são aplicadas mais habitualmente.
Tabela 2.2 - Técnicas de reforço existentes e sua aplicabilidade
Técnicas de reforço
Elemento estrutural
Pilares Vigas
Lajes Paredes Flexão Corte
Encamisamento de betão x x x x x
Colagem de chapas metálicas x x x x x
Aplicação de sistemas de CFRP x x x x
Introdução de perfis metálicos x x x x
Introdução de pré-esforço x x
O encamisamento de betão, como se pode observar na Tabela 2.2, é uma técnica que pode
ser utilizada no reforço de qualquer elemento estrutural e a sua realização assenta no aumento
das dimensões da secção de um determinado elemento. Associada a esta técnica de reforço
está, normalmente, a adição de armaduras resistentes à tracção e ao esforço transverso. A
aderência entre os materiais existentes e os novos é de grande importância pelo que, antes de
se aplicar o betão novo, deve-se remover o betão existente até deixar as armaduras expostas.
A colagem de chapas metálicas pode ser aplicada em vigas e lajes e é, na maioria dos casos,
usada no aumento da resistência à flexão, pelo que, nestes casos, a sua forma assemelha-se à
de um laminado que percorre o elemento longitudinalmente. A colagem é feita com recurso a
colas epóxidas, sendo aplicada uma pressão uniforme sobre a chapa até o adesivo ganhar
resistência, de modo a que este apresente a espessura desejada. As chapas metálicas podem
também ser utilizadas no reforço da resistência das vigas ao esforço transverso pelo que as
chapas são colocadas verticalmente nas faces laterais das vigas e normalmente soldadas à
chapa metálica longitudinal. Na Figura 2.5 é possível observar a utilização da colagem de
chapas metálicas para reforço à flexão de uma laje.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
15
Relativamente à utilização de sistemas de CFRP (Carbon Fibre Reinforced Polymers), o
sistema de aplicação é relativamente semelhante ao empregue na colagem de chapas
metálicas para reforço de vigas e lajes. No reforço de vigas e lajes podem ser utilizados, para
colagem, laminados ou mantas de CFRP para reforço à flexão. No reforço ao esforço
transverso de vigas, podem ser coladas mantas de CFRP, que envolvem transversalmente a
viga, ou laminados em “L”, aplicados em ambos os lados da viga e ancorados no banzo da
mesma. A técnica de envolvimento dos elementos é também utilizada para o reforço de pilares,
sendo que nesta operação são colados tecidos de CFRP que actuam multidireccionalmente
(Figura 2.6). O reforço à flexão de vigas de betão armado com recurso a laminados de CFRP
irá ser apresentado de forma mais pormenorizada no ponto 2.3 deste trabalho.
Figura 2.5 - Reforço de uma laje com recurso a chapas coladas [14]
Figura 2.6 - Reforço de um pilar com tecidos de CFRP [17]
O reforço de pilares através da introdução de perfis metálicos é feito geralmente através da
colagem de cantoneiras às arestas dos pilares, com argamassas epóxidas, e unidas entre si
por soldadura de chapas metálicas ou varões. As cantoneiras são também ligadas a capitéis
que fazem a ligação entre o pilar e as lajes superior e inferior através de um adesivo à base de
epóxidos. No reforço de vigas pode ser utilizada a colagem de cantoneiras nos cantos da viga
ou pode-se recorrer à criação de um elemento misto em que um perfil metálico, por exemplo
em “I” é colado à superfície inferior da viga, existindo um aumento significativo da altura do
elemento. A colagem de vigas metálicas pode ser também utilizada no reforço de lajes,
embora, em ambos os casos exista uma maior dificuldade em garantir o monolitismo da
solução final. Para o reforço de lajes, existe a alternativa de introduzir os perfis metálicos nas
mesmas, garantindo uma melhor transmissão de esforços, apesar de implicar maiores
trabalhos na laje existente. No reforço de paredes são abertos roços na mesma onde são
introduzidas cantoneiras e fixadas com argamassas epóxidas, formando uma estrutura
quadrilátera na qual as cantoneiras estão unidas entre si através da soldagem de chapas
metálicas.
A aplicação de pré-esforço pode ser utilizada no reforço de vigas, na medida em que o traçado
dos cabos, que podem ser exteriores ou interiores à peça a reforçar, permite contrariar as
Estado da arte
16
acções existentes. Este método tem a vantagem de não necessitar da descarga do elemento,
mas pode trazer problemas na zona de ancoragem e tem efeitos estéticos consideráveis [2,11].
2.2 Reparação de fendas com injecção de resinas
O tipo de fendas existentes no betão armado influencia, de certa forma, as características da
operação de injecção. Assim sendo, para além de neste ponto se expor as diferentes técnicas
e materiais que melhor se adequam a cada situação, é também referida alguma informação
acerca das caracterizações possíveis das fendas e dos mecanismos de formação das mesmas.
2.2.1 Fendilhação do betão armado
O betão armado como material estrutural pretende tirar partido das características dos
materiais que o compõem, na medida em que este funciona de modo a que o betão suporte os
esforços de compressão e que as armaduras resistam aos esforços de tracção. No entanto,
continua a existir uma secção de betão sob a acção de esforços de tracção pelo que este irá
eventualmente fendilhar.
Caracterização de fendas
Como foi referido, é necessário analisar as fendas de forma a escolher correctamente o tipo de
reabilitação a efectuar. A caracterização das fendas pode ser feita em diferentes níveis:
Abertura máxima das fendas;
Actividade das fendas;
Acções e esforços de fendilhação;
Teor de humidade.
Relativamente ao primeiro modo de classificação, a abertura das fendas é o primeiro indicador
da gravidade da situação presente, sendo que estas se encontram discriminadas como se
indica na Tabela 2.3 [2].
Tabela 2.3 - Classificação de fendas de acordo com a sua abertura máxima [2]
Tipo de fendas Largura máxima
Microfissuras ≤ 0,05 mm
Fissuras intermédias Entre 0,05 mm e 0,4 mm
Macrofissuras ≥ 0,4 mm
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
17
As microfissuras são pequenas fendas que se desenvolvem apenas na zona do betão
envolvente das armaduras. A existência destas microfissuras foi comprovada
experimentalmente por Broms (1965) [18] e por Goto e Otsuka (1971) [19]. Tanto as fissuras
intermédias como as macrofissuras podem-se apresentar em qualquer zona do betão [10].
As fendas podem também ser classificadas de acordo com a sua actividade, isto é, a
estabilidade que apresentam. Uma fenda é considerada inactiva se, ao longo de um período
tempo suficientemente representativo, a fenda não apresenta variações referentes à sua
abertura. Pelo contrário, se a fenda apresenta variações de abertura de índole cíclica ou
crescente, a fenda considera-se activa. A actividade de uma fenda pode ser monitorizada
através de “testemunhos” colocados sobre a fenda, como calços de gesso ou tiras de vidro ou
de papel, mas que apenas indicam se existe actividade ou não. A caracterização quantitativa
da actividade de uma fenda pode ser feita com recurso a fissurómetros mecânicos ou eléctricos
[16].
Como foi demonstrado anteriormente, a fendilhação do betão é uma manifestação possível de
diferentes acções, sendo que cada acção é responsável por uma distribuição de esforços
distinta e, consequentemente, por fendas distintas. Assim sendo, é de certa forma possível
caracterizar as fendas consoante a acção que levou à sua formação. No caso de existir um
excesso de cargas nos elementos de betão armado é possível observar a existência de fendas
características de cada tipo de esforço existente. Se a fendilhação for consequência da acção
de tracção pura, as fendas desenvolvem-se em planos paralelos ao longo do elemento. Se as
fendas se manifestarem devido à flexão excessiva do elemento, então estas desenvolver-se-ão
desde a face de tensão de tracção máxima até à linha neutra. As fendas provocadas por
excesso de esforço transverso desenvolvem-se nas faces laterais e apresentam uma
inclinação correspondente às bielas de transmissão de esforços. Por fim, o excesso de
esforços de torção provoca fendas que se desenvolvem de forma helicoidal [10].
O teor de humidade existente nas fendas é também um factor condicionante na escolha dos
materiais de injecção a aplicar. Assim, pode-se atribuir as seguintes classificações de fendas
consoante o teor de humidade existente [20]:
Fissuras secas – Sem infiltrações de água e com nenhum resíduo de água detectável
na zona fissurada (Figura 2.7);
Fissuras com humidade – Manchas na zona fissurada, mas sem presença de água.
Sinais de infiltração recente ou com água ou humidade visível nos bordos da fissura ou
no seu interior;
Fissuras com infiltração, sem pressão – Possui água visível na zona fissurada ou
apresenta um ligeiro gotejar através da fissura (Figura 2.8);
Fissuras com infiltração, com pressão – Saída contínua de água através da fissura.
Estado da arte
18
Figura 2.7 - Exemplo de fissuras com humidade [20]
Figura 2.8 - Exemplo de uma fissura com infiltração, sem pressão [20]
Controlo de fendilhação
Um dos pressupostos que se deve ter em consideração no dimensionamento de estruturas de
betão armado é que o fenómeno da fendilhação é, na maioria dos casos, inevitável. É, no
entanto, necessário obedecer a determinados princípios que permitem, de certa forma, exercer
um controlo sobre a fendilhação, nomeadamente ao nível da abertura de fendas que se venha
a verificar. Este controlo pode ser feito de através de duas abordagens: o controlo directo e o
controlo indirecto.
Segundo o CEB/FIB [10] o controlo directo da fendilhação assenta no cálculo da abertura de
fendas característica ( ) cuja fórmula de cálculo se apresenta de seguida:
(2.2-1)
Onde, corresponde ao espaçamento máximo entre fendas, e representam a
extensão média do aço e do betão, respectivamente, e corresponde à extensão do betão
devido à retracção, assumindo geralmente um valor negativo, embora, na maioria das vezes,
desprezável.
Para o cálculo do espaçamento máximo entre fendas é muitas vezes empregue a fórmula
indicada no Eurocódigo 2, que se apresenta de seguida:
(2.2-2)
onde corresponde ao recobrimento das armaduras, é um coeficiente que tem em conta a
aderência entre a armadura e o betão, podendo assumir dois valores: 0,8 para varões de alta
aderência, ou seja, nervurados ou rugosos, e 1,6 para varões lisos. Na mesma expressão é
um coeficiente que representa o tipo de esforço actuante, seja ele de flexão ou tracção pura
(varia entre 0,5 e 1, respectivamente), corresponde ao diâmetro das armaduras longitudinais
e refere-se à percentagem de armadura efectiva, ou seja, tem em conta a área de betão
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
19
sob acção das tensões transmitidas pelas armaduras, . De notar que esta fórmula apenas
é válida se o espaçamento entre armaduras longitudinais for inferior a , caso
contrário assume-se que a distância máxima entre fendas corresponde a [21]:
(2.2-3)
Onde h corresponde à altura do elemento e à distância da linha neutra à superfície superior
do elemento.
Considerando a extensão do betão por retracção desprezável para o âmbito deste trabalho, a
diferença entre as extensões médias do aço e do betão, também denominada de extensão
média relativa entre o aço e o betão ( ), pode ser determinada da seguinte forma:
(2.2-4)
e sendo,
então,
(2.2-5)
onde corresponde à extensão do aço existente na zona da fenda, corresponde à relação
entre os módulos de elasticidade do aço e do betão, é um factor de integração da distribuição
de extensões, que assume o valor de 0,6 para acções de curta duração e de 0,38 para acções
de longa duração ou cíclicas, e correspondem à extensão do aço na zona da fenda,
imediatamente antes e depois da formação da mesma, respectivamente, e assume o valor
médio de resistência do betão à tracção [10].
O Eurocódigo 2 limita a abertura de fendas aos valores indicados na Tabela 2.4, que se
encontram dependentes da classe de exposição do elemento em causa. A definição das
classes de exposição encontra-se no mesmo documento.
Tabela 2.4 - Valores limite de abertura de fendas consoante a classe de exposição [22]
Classe de exposição Valores máximos para (mm)
X0, XC1 0,4
XC2, XC3, XC4
XD1, XD2
XS1, XS2, XS3
0,3
O American Concrete Institute aborda também o controlo directo da fendilhação no ACI 318-89,
onde se recomenda o cálculo de um factor , determinado da seguinte forma:
Estado da arte
20
(2.2-6)
onde, corresponde à tensão nas armaduras, corresponde a uma área efectiva por
armadura, ou seja, a relação entre a área efectiva de betão e o nº de varões e à espessura
de recobrimento de betão. A utilização desta fórmula pretende dar ênfase ao papel da tensão
nas armaduras no controlo de fendilhação. O princípio de limitação deste valor consoante o tipo
de exposição em que o elemento de betão armado se encontra é também utilizado neste caso,
apresentando-se estes valores na Tabela 2.5
Tabela 2.5 - Valores limite para z consoante o tipo de exposição do betão armado [23]
Tipo de exposição Valor limite de
Interior de estruturas 30,6 kN/mm
Exterior de estruturas 25,4 kN/mm
Estruturas retentoras de líquidos 20,1 kN/mm
Estruturas expostas a condições ambientais severas
16,6 kN/mm
Relativamente ao controlo indirecto da fendilhação, o primeiro passo consiste em garantir a
presença de uma quantidade de armadura mínima, . Esta armadura mínima assegura a
ductilidade do elemento em questão após a formação da primeira fenda. Caso contrário a
armadura plastifica, impossibilitando a transmissão de tensões do aço para o betão e o
consequente aparecimento de novas fendas. Na expressão (2.2-7) demonstra-se qual a
quantidade de armadura que impede a plastificação após o aparecimento da primeira fenda, no
caso de existência de tracção pura.
(2.2-7)
Nesta expressão, representa a tensão de tracção máxima do betão, corresponde à área
de betão traccionado, corresponde à área de armadura, representa a percentagem de
armadura, corresponde à tensão de cedência do aço e corresponde à relação entre os
módulos de elasticidade do aço e do betão
De acordo com o Eurocódigo 2, o cálculo da armadura mínima assume a seguinte forma:
(2.2-8)
onde representa a área de betão traccionada, corresponde ao valor médio da
resistência à tracção do betão na idade em que se espera que ocorram as primeiras fendas,
sendo que geralmente assume o valor de , tensão média de resistência à tracção do betão
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
21
aos 28 dias de idade, representa um coeficiente que considera o efeito não uniforme das
tensões auto-equilibradas na diminuição de , assumindo valores dependentes da
espessura ou altura do elemento, de acordo com o gráfico da Figura 2.9.
Figura 2.9 - Variação dos valores de com a espessura do elemento [22]
Para fendilhação devido a cargas aplicadas, . Por fim corresponde a um coeficiente
que tem em conta a distribuição de tensões imediatamente antes do aparecimento da primeira
fenda, assumindo então os seguintes valores:
Para tracção simples,
Para flexão simples ou composta
o Para secções rectangulares ou almas de secções em “caixão” ou em “T”
(2.2-9)
o Para banzos de secções em “caixão” ou em “T”
(2.2-10)
onde, representa a tensão média actuante na zona em questão ( , sendo o valor
do esforço normal actuante), corresponde a um coeficiente que considera o efeito dos
esforços normais na distribuição de tensões, assumindo o valor de 1,5 para esforços normais
de compressão e para esforços normais de tracção, corresponde ao menor valor
entre e 1,0 m, e representa o valor absoluto da força de tracção no banzo no momento
imediatamente antes ao aparecimento da primeira fenda [22].
O Eurocódigo 2 recomenda um método de controlo indirecto da fendilhação baseado na
imposição de limites no diâmetro das armaduras a utilizar e no espaçamento entre armaduras
consoante a tensão no aço e a abertura de fendas que se pretende obter. No entanto, a
Estado da arte
22
limitação do espaçamento entre armaduras é apenas uma condição alternativa para a acção de
cargas verticais. Estes valores limite podem ser observados na Tabela 2.6.
Tabela 2.6 - Diâmetros e espaçamentos de varões máximos para controlo de fendilhação
Tensão no aço (MPa)
Máximo diâmetro do varão (mm) Máximo espaçamento entre varões (mm)
wk = 0,40 mm wk = 0,30 mm wk = 0,20 mm wk = 0,40 mm wk = 0,30 mm wk = 0,20 mm
160 40 32 25 300 300 200
200 32 25 16 300 250 150
240 20 16 12 250 200 100
280 16 12 8 200 150 50
320 12 10 6 150 100 -
360 10 8 5 100 50 -
400 8 6 4 50 - -
450 6 5 - - - -
2.2.2 Materiais de injecção
Quando é determinada a utilização de resinas de injecção para preenchimento de fendas é
necessário considerar o tipo de resina a aplicar tendo em conta a sua função. Existem duas
qualidades principais de resina que serão abordadas de seguida: resinas epóxidas e resinas de
poliuretano. De notar que, devido ao seu custo relativamente elevado, a injecção de resinas
não é aconselhável quando se pretende reparar betão com vazios consideráveis ou em que a
superfície do betão se encontre muito fendilhada. Nestes casos é preferível dar uso a
argamassas cimentícias, no preenchimento de grandes vazios, ou a reconstrução da superfície
do betão, para os casos de fendilhação generalizada [24].
A distribuição dos materiais de injecção para reparação do betão encontra-se, actualmente,
dependente da marcação CE. De modo a estes produtos obterem a etiqueta de conformidade
CE, é necessário que cumpram os requisitos da norma europeia EN 1504-5. A parte 5 da EN
1504 especifica os requisitos para a identificação, comportamento (que inclui aspectos de
durabilidade) e segurança dos produtos para preenchimento de fendas e cavidades internas no
betão, por injecção ou por gravidade. Dentro dos produtos abrangidos pela norma EN 1504-5
encontram-se as resinas epóxidas, as resinas de poliuretano e o micro-cimento, embora não
estejam incluídas as espumas de poliuretano [20, 25]
Resinas epóxidas
As resinas epóxidas consistem em copolímeros que são formados através da mistura entre um
polímero epóxido e um agente catalizador (ou endurecedor), que interagem de forma a obter
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
23
produtos fortemente ligados e cruzados, com uma elevada resistência mecânica, aderência e
resistência química. O agente principal na polimerização é a funcionalidade epóxi, um anel de
três membros, composto por um átomo de oxigénio e dois de carbono. A grande maioria das
resinas epóxidas é constituída pela mistura entre epiclorohidrina e bisfenol-a, sendo o processo
químico visível na Figura 2.10 [26].
Figura 2.10 - Reacções químicas de formação de resinas epóxidas [26]
As primeiras tentativas comerciais do fabrico da resina através da epiclorohidrina aconteceram
em 1927 nos Estados Unidos da América. O mérito da primeira síntese de uma resina baseada
no bisfenol-a foi partilhado entre o Dr. Pierre Castan da Suíça e o norte-americano Dr. S. O.
Greenlee em 1936. Hoje em dia, as resinas epóxidas possuem uma grande diversidade de
funções, tais como as seguintes [4]:
Tintas anticorrosivas e protecção de pinturas;
Adesivos estruturais;
Sistemas electrónicos;
Aglutinantes para fabrico de compósitos;
Indústria automóvel e aeronáutica.
No âmbito da construção civil, as resinas epóxidas são comercializadas no estado líquido,
juntamente com uma embalagem de endurecedor em que a mistura é realizada de acordo com
as indicações do fabricante. A aplicação das resinas epóxidas é feita logo a seguir à mistura
dos dois componentes durante um período denominado de pot life, período de tempo durante o
qual o material apresenta as condições indicadas de trabalhabilidade, sendo que, no caso das
resinas, corresponde ao tempo de polimerização.
O pot life de uma resina epóxida encontra-se dependente da temperatura ambiente, diminuindo
à medida que a temperatura aumenta. Como a reacção de polimerização é exotérmica, a
quantidade de resina misturada também influencia o pot life, na medida em que maiores
quantidades de mistura levam a uma maior libertação de calor. [2].
Estado da arte
24
A variedade de resinas epóxidas disponíveis no mercado actual é bastante alargada, devido ao
seu elevado número de aplicações possíveis. Estas encontram-se principalmente diferenciadas
de acordo com a sua utilização, referindo-se o preenchimento de fissuras, a execução de
selagens ou a colagem de reforços estruturais, tais como chapas de aço ou laminados de fibras
sintéticas. De acordo com a utilização a que se propõem, as características que as resinas
apresentam, como a sua viscosidade, pot life, aspecto físico, entre outras, variam de modo a
melhor cumprirem os objectivos em questão.
O tempo necessário para a resina ganhar resistência varia entre 0.5 a 10 horas, atingindo-se a
máxima resistência por volta dos 7 dias. Quando a resina endurece, é inútil tentar que esta
adira a qualquer material pois esta adquire uma consistência vítrea sem qualquer aderência,
sendo possível observar o seu aspecto final na Figura 2.11.
No que toca à utilização das resinas epóxidas para reparação de betão armado, estas
destacam-se pela sua boa aderência ao betão, a boa protecção conferida contra a corrosão
das armaduras e por serem capazes de repor, quase na sua totalidade, a capacidade
resistente de estrutura, quando devidamente aplicadas. Comparativamente com o betão, estas
apresentam uma resistência superior, tanto à compressão como à tracção. No entanto, o seu
elevado módulo de elasticidade faz com que, para fendas activas, estas resinas não sejam as
mais indicadas, na medida em que é provável o aparecimento de novas fendas junto à zona
reparada. Na tabela 2.7 pode-se observar os valores das características mecânicas das resinas
epóxidas.
Tabela 2.7 - Principais características de resinas epóxidas [2]
Resistência à compressão 80 – 120 MPa
Resistência à tracção 40 – 55 MPa
Módulo de elasticidade 2 – 3 GPa
Deformação na rotura 1 – 9 %
Peso específico 10.8 – 12.7 kN/m3
Retracção volumétrica na cura 1 – 3 %
Temperatura de transição vítrea 50 – 260 ºC
Coeficiente de dilatação térmica 45 – 90 µm/m/ºC Figura 2.11 - Resina epóxida [20]
A aplicação das resinas epóxidas como material de preenchimento de fendas encontra-se
limitada a fendas que apresentem uma abertura entre 0,1 e 6 milímetros pois, abaixo do
primeiro limite é praticamente impossível que as resinas penetrem em espaços mais reduzidos
e, no segundo limite, é difícil reter as resinas nas fendas. Uma das soluções praticadas
consiste na alteração da viscosidade das resinas para uma melhor penetração ou aderência ao
betão. Pode-se ainda recorrer ao enchimento de resinas com agregados finos (filler) quando se
pretende executar o preenchimento de fendas com uma abertura considerável, prática que
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
25
permite reduzir os custos do material e os problemas relacionados com a retracção, fluência e
calor de reacção [2,22].
Resinas de poliuretano
Do ponto de vista químico, os poliuretanos podem-se considerar uma família de polímeros
devido ao elevado número de variações que podem assumir, facto que os torna aplicáveis para
inúmeras funções. Um poliuretano é formado através de uma reacção que envolve mais do que
uma ligação em cadeia de uretano, sendo estas criadas através da reacção entre dois
compostos, isocianatos e hidroxilas. Os isocianatos possuem na sua composição azoto,
carbono e oxigénio, e a reacção com as hidroxilas é provocada pelo elemento hidrogénio
presente neste composto.
Assim sendo, a produção de resinas de poliuretano é normalmente realizada através da
reacção entre um poliol, que é meramente um álcool que contém mais do que um átomo de
hidrogénio, e um diisocianato, composto que possui dois isocianatos. É necessária a
introdução de calor ou catalisadores para a reacção ficar completa, ponto a partir do qual a
resina começa a assumir a sua forma final e irreversível, mesmo sujeita novamente a altas
temperaturas [27].
Relativamente à aplicação das resinas de poliuretano na construção civil, estas podem ser
utilizadas como revestimento para pavimentos, membranas de impermeabilização e para selar
e eliminar ou reduzir a infiltração de águas nas fendas ou juntas do betão [28]. Estas também
podem ser aplicadas em fendas que apresentem um reduzido nível de actividade. No entanto,
é importante salientar que as resinas de poliuretano não devem ser utilizadas para reparar
estruturalmente o betão, pois a sua resistência não é muito significativa.
Tal como as resinas epóxidas, estas resinas não podem ser injectadas em fendas com uma
abertura inferior a 0,1 milímetros.
As resinas de poliuretano encontram-se disponíveis numa grande variedade relativa às suas
propriedades físicas. A reacção dos componentes destas resinas é, geralmente, expansiva e o
seu produto final pode-se assumir como uma espuma flexível, visível na Figura 2.12, ou como
sólidos semi-flexíveis de elevada densidade que podem ser utilizados para estabelecer a
ligação entre secções de betão sujeitas a movimento. Apesar de ambos os produtos serem
resinas de poliuretano, o produto final na forma de espuma é normalmente designado de
espuma de poliuretanto enquanto o produto final na forma de sólido semi flexível é designado
de resina de poliuretano. A grande maioria das resinas de poliuretano inicia o seu processo de
reacção e cura através da interacção com a água, tornando-as ideais na reparação de betão
que esteja em contacto com água ou em ambientes muito húmidos [24].
A distribuição das resinas para consumo é feita em dois componentes. Um dos componentes
consiste na resina de poliuretano pura, enquanto o segundo é um reagente composto
Estado da arte
26
basicamente por água. O pot-life deste tipo de resinas é de curta duração, após a mistura da
resina com a água, pelo que é aconselhada a utilização de equipamentos de injecção que
realizem a mistura poucos instantes antes da injecção da resina, visto não ser possível realizar
a injecção de apenas a resina de poliuretano no seu estado puro. [24]. Na Figura 2.13 é
possível observar a saída da resina de poliuretano de uma fenda, resultado da injecção da
mesma.
Micro-cimentos
Apesar de este material estar fora do âmbito da injecção de resinas, ele pode também ser
utilizado na reparação de fendas em betão armado. Na reparação de betão armado, a sua
aplicação assenta essencialmente na selagem de fissuras e como grout de injecção para
preenchimento de vazios, incluído fissuras. No entanto, a injecção deste material pode também
ser executada para a consolidação e impermeabilização de solos ou rochas fragmentadas.
Como o nome indica, o micro-cimento é composto por partículas de dimensão bastante
reduzida, com a máxima dimensão dos agregados a rondar os 10 a 20 micrómetros. A sua
distribuição é normalmente feita através de dois componentes. O componente principal
consiste no pó de cimento que é posteriormente misturado com um líquido, maioritariamente
composto por água, que pode conter adjuvantes. A relação água/cimento da mistura é superior
à unidade pelo que o produto final apresenta uma viscosidade relativamente reduzida. Este
facto, aliado às dimensões dos agregados, faz com que os limites de abertura de fendas em
que se pode usar este material sejam bastante similares aos existentes para as resinas. Na
Figura 2.14 é possível observar a aparência do micro-cimento após a mistura dos seus
componentes.
A introdução de micro-cimento no betão armado permite a recuperação de alguma alcalinidade
no recobrimento das armaduras, contribuindo assim para a protecção contra corrosão das
mesmas. Comparativamente com as resinas epóxidas, o micro-cimento possui um período de
trabalhabilidade ou pot-life de maior duração, mas a razão da menor utilização deste material
Figura 2.12 - Espuma de poliuretano [20]
Figura 2.13 - Injecção de resina de poliuretano numa fenda [29]
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
27
na reparação de fendas assenta essencialmente no facto de os micro-cimentos não garantirem
uma adesão ao betão existente tão elevada como a verificada na utilização de resinas, o que a
torna menos aconselhável para reparação estrutural de elementos fendilhados [20]
Figura 2.14 – Micro-cimento [20]
2.2.3 Técnicas de injecção de fendas
A injecção da resina nas fendas pode ser efectuada de diferentes modos. A determinação do
método de injecção não se encontra associada a nenhum critério explícito, pelo que a escolha
é normalmente feita com base nos requisitos do dono de obra ou nas recomendações de quem
realiza a reparação, através do aproveitamento de materiais que possui ou na experiência
adquirida em determinadas técnicas.
Um dos principais aspectos a ter em conta numa operação de injecção consiste na pressão
utilizada, existindo sistemas de baixa e alta pressão. Na determinação do sistema a utilizar é
necessário ter em conta tanto a viscosidade da resina como a abertura da fenda. Para
aberturas de fendas elevadas recomenda-se a utilização do sistema de baixa pressão, embora
seja requerido um pot-life das resinas mais duradouro. Caso se esteja perante fendas com uma
abertura reduzida, então pode ser essencial a utilização de sistemas de alta pressão para uma
correcta penetração da resina, que deverá apresentar uma viscosidade reduzida. No entanto, a
utilização deste método pressupõe a limitação da pressão utilizada, de modo a que a injecção
não provoque tensões adicionais no betão e a consequente verificação da abertura de novas
fendas ou o prolongamento das existentes.
Neste ponto pretende-se descrever os procedimentos executivos das várias técnicas existentes
de injecção de fendas. Uma acção comum a todas técnicas de injecção consiste na preparação
e limpeza da fenda, de forma a garantir uma boa aderência entre os materiais injectados e o
betão. Esta operação pode ser feita recorrendo a pequenas escovas na superfície da fenda ou
com a utilização de ar comprimido para retirar possíveis poeiras ou outros resíduos no interior
da fenda.
Estado da arte
28
Injecção com injectores colados à superfície
Neste tipo de injecção, o primeiro passo consiste numa preparação prévia da superfície do
betão junto à fenda, com o propósito de melhorar a operação posterior de selagem. Para tal, é
realizado um alargamento da abertura da fenda à superfície em forma de “V”, recorrendo a
brocas, pequenos martelos pneumáticos ou discos de corte, que introduzem uma certa
rugosidade no betão, sendo que a profundidade desta abertura deve ser aproximadamente de
10 a 20 milímetros.
Posteriormente, são colados os injectores ao longo da fenda, com adesivos próprios para o
efeito, e com uma distância entre si que se considere razoável, tendo em conta a espessura do
elemento a reparar. A distância entre injectores normalmente utilizada varia entre uma e uma
vez e meia a espessura do elemento a reparar, sendo também condicionante se a reparação é
feita de um lado, ou em ambos os lados do elemento, a profundidade da fenda, a viscosidade
do material de injecção ou a pressão de injecção. No caso de existirem bifurcações no
desenvolvimento da fenda, recomenda-se a colocação de um injector no ponto de bifurcação.
Recomenda-se ainda a inserção de um prego no interior dos injectores para comprovar que a
cola de fixação dos mesmos não põe em causa a passagem do material de injecção.
Concluída a colagem dos injectores, pode-se proceder à selagem da fenda (Figura 2.15), que é
realizada com aplicação de um material tixotrópico com resinas epóxidas ou com argamassas
à base de cimento, sendo que neste caso, aconselha-se molhar a superfície da fenda
previamente, de modo a que o material selante proceda a uma correcta secagem. Existe a
possibilidade de realizar furos no material selante e apenas colocar nesta altura os tubos de
injecção, embora desta forma se comprometa, até certo ponto, a eficácia da selagem da fenda.
Relativamente aos equipamentos de injecção, estes encontram-se disponíveis com uma certa
diversidade, pelo que a sua diferenciação pode basear-se na fonte de pressão ou no processo
de mistura dos componentes dos materiais de injecção. Estes equipamentos serão abordados
posteriormente com maior detalhe.
Após a colocação dos injectores e a selagem das fendas, estão reunidas as condições para se
realizar a injecção das fendas. O processo de injecção possui um carácter iterativo, na medida
em que se inicia com a colocação de uma válvula anti-retorno no injector onde se vai iniciar a
injecção, procedendo-se à realização de referida operação. Quando o material de injecção
começa a sair pelo injector adjacente, é interrompida a injecção e coloca-se a válvula anti-
retorno no injector onde se verificou a purga, procede-se à injecção no referido injector e assim
sucessivamente. Perante fendas que se desenvolvam na vertical, a injecção deve ser feita de
baixo para cima, de forma a tirar partido da acção da gravidade para um melhor preenchimento
das fendas. Quando a fenda é horizontal, a injecção deve-se iniciar num ponto intermédio,
sendo que posteriormente se pode optar pela injecção completa de um dos lados e de seguida
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
29
se realizar a injecção do lado em falta, ou realizar a injecção em lados alternados. Esta ordem
pode ser observada na Figura 2.16
Caso exista um consumo superior ao esperado de material de injecção sem que este saia pelo
tubo existente, deve ser interrompida a injecção devido à possibilidade de existir alguma rotura
na selagem ou uma comunicação com um vazio de grandes dimensões [2,20].
Injecção com injectores fixados mecanicamente
O processo executivo para este tipo de injecção é, na sua essência, bastante similar ao
verificado para os injectores colados à superfície. Neste caso, é também efectuada uma
abertura da superfície da fenda e a respectiva limpeza, seguido da aplicação do material
selante.
Posteriormente, procede-se à execução de furos no betão armado onde irão ser colocados os
injectores, que podem ser também denominados de packers. Como, na grande maioria dos
casos, a orientação da fenda no interior do elemento é desconhecida, estes furos são
realizados em lados alternados da fenda e com uma inclinação de aproximadamente 45º,
considerando um plano perpendicular à superfície do betão, e com uma profundidade que
permita ao furos intersectar a fenda.
É então colocado um injector no furo, por onde se pretende começar a injectar, como se pode
observar na Figura 2.17, e este é apertado de forma a fixar-se no betão. Enquanto os injectores
que são colados à superfície consistem basicamente em tubos ordinários, estes injectores
encontram-se dotados com um segmento de borracha que envolve uma zona roscada. Este
facto faz com que, ao rodar os injectores, se esteja a aplicar uma força de compressão na
borracha que, consequentemente, começa a expandir-se radialmente, aumentando
consideravelmente a sua força de fixação e a estanqueidade do furo.
Visto estes injectores possuírem uma válvula anti-retorno de origem, é necessário deixar
desimpedido o buraco por onde se prevê que o material de injecção comece a sair (Figura
Figura 2.15 - Aplicação de selagem na fenda [20]
Figura 2.16 - Ordem de injecção para: a) fendas verticais e b) fendas horizontais [2]
Estado da arte
30
2.18), ou seja, os injectores são apenas colocados após a realização da injecção no buraco
anterior. De notar que neste caso é utilizada a mesma ordem de injecção.
Após a conclusão da injecção e da cura do material injectado, é possível retirar a parte exterior
do injector, desenroscando a mesma. O resto do injector fica perdido no interior do betão [30].
Injecção com injectores de pressão
Deve-se notar, em primeiro lugar, que este método de injecção de fendas tem níveis de
utilização algo reduzidos, não existindo também muita documentação neste âmbito. Estes
injectores de pressão são constituídos por duas partes: um tubo de injecção, em tudo
semelhante aos injectores colados à superfície, excepto no facto de este ser adaptável ao
segundo componente que consiste numa cápsula, onde é inserido o material de injecção,
sendo esta cápsula responsável pela criação da pressão de injecção. Esta pressão pode ser
exercida através da utilização de pequenos balões ou molas e assume valores relativamente
reduzidos. O facto de a injecção ser feita a baixa pressão faz com que os materiais de injecção
necessitem de ter um pot-life consideravelmente mais longo e, consequentemente, se tornem
mais onerosos.
A preparação prévia à injecção é feita através da colocação dos tubos de injecção na superfície
da fenda, seguida da selagem da mesma e, por fim, são encaixadas as cápsulas nos
respectivos tubos.
Relativamente ao sistema de injecção com balões, a introdução da resina nos balões é
possível através da existência de uma ligação tripla que une o tubo de injecção, o balão e a
boca de introdução da resina. Esta ligação possui válvulas anti-retorno que garantem o
correcto deslocamento do material de injecção pela boca de introdução até ao balão e,
posteriormente, até ao tubo de injecção. Na Figura 2.19 é visível a realização da injecção de
fendas através desta técnica.
Figura 2.17 - Colocação de um injector num dos furos realizados [30]
Figura 2.18 – Purga da resina no buraco subsequente, após injecção da mesma [30]
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
31
Para a injecção de fendas com recurso a molas, visível na Figura 2.20, esta é feita através da
introdução do material de injecção num compartimento que é posteriormente colocado na
cápsula de injecção, liga-se a cápsula ao tubo de injecção e solta-se a mola para pressurizar o
material de injecção e introduzi-lo na fenda.
Figura 2.19 - Colocação da resina nos balões de injecção [31]
Figura 2.20 - Injecção com recurso a molas [31]
Neste caso, não existe uma ordem de injecção definida, na medida em que todos os injectores
se encontram em funcionamento em simultâneo, embora seja habitual começar a introdução do
material de injecção numa cápsula de um dos extremos da fenda e prosseguir esta acção nas
restantes cápsulas até chegar ao outro extremo. Feita a introdução do material de injecção em
todas as cápsulas, regressa-se às primeiras cápsulas onde se iniciou o processo de injecção
para verificação da necessidade de introduzir mais material. Prossegue-se esta verificação
para as restantes cápsulas, repetindo este processo até se dar a injecção por concluída.
Estes mecanismos de injecção permitem ao utilizador observar visualmente o progresso da
injecção através das variações de volume, sendo que se conclui que a injecção está completa
quando não existem variações de volume nas cápsulas, passado um determinado período de
tempo [31, 32].
Impregnação
A técnica de impregnação consiste na aplicação directa do material de preenchimento nas
fendas, sem qualquer uso de pressão, não podendo, portanto, ser considerada uma injecção.
No entanto, devido ao seu carácter de reparação de fendas com materiais de preenchimento
semelhantes aos utilizados em injecções, será feita uma descrição breve deste método.
A impregnação é uma técnica que pretende tirar partido da gravidade, pelo que o seu processo
executivo é de relativa simplicidade. A aplicação do material de preenchimento é feita com
Estado da arte
32
recurso a pincéis, pelo que também é possível criar uma abertura da superfície da fenda, como
nas técnicas de injecção descritas anteriormente, e verter o material de preenchimento
directamente sobre a abertura. À medida que o material vai desaparecendo da superfície e
penetrando nas fendas, vai-se adicionando novas camadas de material até a impregnação
parar, dando-se a operação por completa.
Uma limitação de bastante relevância para esta técnica de reparação consiste no facto de ela
apenas ter aplicabilidade em superfícies horizontais, ou com pouca inclinação, e que não
apresentem infiltrações [20].
2.2.4 Mecanismos de injecção e processos de mistura
A injecção sob pressão pode ser feita de diferentes formas, nomeadamente as seguintes
[2,33]:
Ar comprimido;
Bombas manuais;
Bombas hidráulicas;
Cápsulas de pressão;
Vácuo.
Relativamente às bombas manuais, estas podem-se apresentar como dispositivos semelhantes
a seringas ou como bombas de pistão manuais, visível na Figura 2.21. No caso de bombas
hidráulicas, estas são accionadas por motores eléctricos, sendo possível observar um destes
equipamentos na Figura 2.22 [2]. A injecção de fendas com recurso ao vácuo é uma técnica
mais recente, mais cara e alvo de alguma controvérsia. É alegado que este método traz
vantagens ao nível da capacidade de penetração do material de injecção e na minimização das
tensões acrescidas ao betão. Existem, no entanto, algumas entidades que contestam estes
factos e que garantem que não compensa o custo acrescido e a complexidade que este
método acarreta [34].
Para a pressão de injecção aplicada, a empresa SIKA [20] recomenda a utilização de uma
expressão para limitação da pressão aplicada que se apresenta de seguida,
(2.2-11)
onde representa o valor característico da resistência à compressão do betão e o resultado
final desta expressão é dado em bar (1MPa = 10 bar).
No que toca aos processos de mistura, estes podem realizar-se de um modo contínuo ou
descontínuo. No modo contínuo, os dois componentes do material de injecção são colocados
dentro dos equipamentos que possuem elementos doseadores e que posteriormente realizam
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
33
a mistura dos componentes, consoante as necessidades de injecção. O modo descontínuo
assenta na mistura dos componentes previamente à sua colocação nos equipamentos de
injecção pelo que este modo implica uma maior atenção às quantidades misturadas para que a
injecção da mistura se efectue totalmente num período de tempo inferior ao pot-life. O modo
contínuo tem a vantagem de não carecer desta atenção, o que permite também a utilização de
materiais com um pot-life mais reduzido. Independentemente do modo de mistura aplicado,
deve haver respeito pelas indicações dos fabricantes no que toca às relações de mistura entre
componentes. Uma das características principais das bombas de injecção refere-se ao modo
de mistura, na medida em que as bombas monocomponentes e bicomponentes estão
associadas ao modo descontínuo e contínuo, respectivamente.
Figura 2.21 - Bomba monocomponente
manual [35] Figura 2.22 - Bomba monocomponente eléctrica
Sika® Injection Pump EL-1 [20]
Os equipamentos de injecção disponíveis estão, na maioria das vezes, associados aos
fabricantes dos materiais de injecção, existindo uma grande variedade neste campo. Esta
variedade é também resultado do facto de existirem diferentes modelos de equipamentos de
injecção para cada material que se pretende injectar.
2.2.5 Efeito das resinas no comportamento mecânico do betão armado
Como foi demonstrado anteriormente, as características mecânicas das resinas epóxidas
apresentam valores superiores aos verificados para o betão, pelo que é válido afirmar que as
resinas epóxidas são capazes de repor as características inicias do betão armado. Existem
resultados experimentais que comprovam este facto, apresentando-se alguns exemplos de
seguida.
Nas Figuras 2.23 e 2.24 são apresentados os resultados de uma investigação experimental
levada a cabo por Hewlett e Morgan [36] sobre a resposta estática e cíclica de vigas de betão
armado reparadas com resinas epóxidas. Neste caso foi efectuada uma análise da resistência
Estado da arte
34
das vigas a esforços de flexão e a esforços transversos. Na Figura 2.25 pode-se observar os
resultados de uma campanha experimental semelhante, tendo sido utilizadas três vigas de
betão armado sujeitas a esforços de flexão.
Em ambos os casos foi efectuado um carregamento prévio das vigas, para além da cedência
das armaduras, e foi posteriormente aplicada a técnica de reparação com injecção de resina
nas fendas [36, 37].
Figura 2.23 - Diagrama carga-flecha de uma viga sujeita a injecção das fendas com rotura por flexão
[36]
Figura 2.24 - Diagrama carga-flecha de uma viga sujeita a injecção das fendas com rotura por corte
[36]
Figura 2.25 - Diagrama carga-flecha de três vigas sujeitas a injecção das fendas com rotura por flexão [37]
Como é possível observar, a introdução de resinas epóxidas no betão armado é capaz de
replicar as características originais do betão armado e, de certa forma, ainda de provocar um
ligeiro aumento da sua capacidade resistente.
Ainda no âmbito da reparação de betão com resinas epóxidas, foi realizada uma investigação
por Issa e Debs [38] que consistiu no estudo da resistência à compressão de cubos com 15
centímetros de aresta sujeitos a este tipo de reparação. Foram ensaiados cubos padrão, cubos
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
35
com fendas e cubos com as fendas preenchidas com resinas. As fendas foram criadas com
recurso a chapas metálicas colocadas nas cofragens dos cubos, tendo sido utilizadas duas
chapas de dimensões distintas para testar dois tipos de fendas. Na Tabela 2.8 observa-se os
resultados dos ensaios à compressão dos diferentes cubos, sendo que os tipos de fendas
foram feitos com chapas, ligadas perpendicularmente às faces das cofragens, de 150 x 35 mm
e 70 x 50 mm, ambas com 2 mm de espessura, para o primeiro e segundo tipo de fendas,
respectivamente.
Tabela 2.8 - Resultados de ensaios à compressão de cubos fendilhados e reparados com resinas epóxidas [38]
Tipo de cubo (MPa) % de redução
Padrão 33,0 -
Fendilhado 1 19,1 40,93
Fendilhado 2 22,2 32,71
Fendilhado 1 e reparado 29,3 11,25
Fendilhado 2 e reparado 30,3 8,23
2.3 Reforço por colagem de laminados de CFRP
A utilização de laminados de CFRP no reforço à flexão de elementos de betão armado, como
lajes e vigas, tem vindo a provar ser bastante eficaz no melhoramento dos níveis de resistência
dos mesmos. Neste ponto do trabalho é feita uma apresentação dos diferentes aspectos
inerentes a esta operação, nomeadamente ao nível das características dos materiais
empregues, a sua aplicação e o seu desempenho estrutural.
2.3.1 CFRP como material estrutural
O CFRP consiste basicamente num material compósito constituído por fibras de carbono
embebidas numa matriz polimérica e corresponde à abreviatura de Carbon-Fibre Reinforced
Polymers, ou seja, tratam-se de polímeros reforçados com fibras de carbono. O CFRP por sua
vez pertence à família dos polímeros reforçados com fibras que também abrange os polímeros
reforçados com fibras de vidro (GFRP) ou de aramida (AFRP) que possuem igualmente alguma
aplicação no campo da engenharia civil. As fibras constituem uma elevada percentagem
volumétrica do produto final, assumindo valores entre os 20 a 60% [39].
De entre os três tipos de fibras mencionados, as fibras de carbono são as que apresentam
melhores propriedades mecânicas, possuem uma maior resistência à acção de agentes
químicos, são imunes à corrosão e não absorvem água. As fibras de vidro são as de menor
custo, têm maior peso específico, apresentam grande sensibilidade a meios alcalinos e têm
menor resistência a acções de fadiga. As fibras de aramida apresentam dificuldades de
Estado da arte
36
moldagem, têm baixa resistência à compressão, são sensíveis à fluência, à acção dos raios
ultra-violetas e às temperaturas elevadas.
Na Figura 2.26 e na Tabela 2.9 é possível observar as características mecânicas dos materiais
em questão, sendo também feita a comparação com os constituintes do betão armado. De
notar na Figura 2.26, a apresentação do desempenho de fibras de carbono de elevado módulo
de elasticidade (HM) e das fibras de carbono de elevada resistência (HS).
Figura 2.26 - Diagrama tensão-extensão de distintos tipos de fibras, do aço convencional e de cordões aço de pré-esforço [40]
Tabela 2.9 - Características físicas e mecânicas dos diferentes FRPs [40]
Material Módulo de
elasticidade (GPa) Resistência à tracção
(MPa) Densidade (kg/m
3)
Betão 20-40 1-3 2400
Aço 200-210 240-690 7800
Fibras de vidro 69-72 1860-2680 1200-2100
Fibras de aramida 69-124 3440-4140 1200-1500
Fibras de carbono 200-800 1380-6200 1500-1600
Perante estes dados, comprova-se a melhor aptidão das fibras de carbono para suportar
esforços, pelo que é justificado o facto de estas serem as mais utilizadas na execução de
reforços estruturais com materiais compósitos.
No que toca à matriz polimérica utilizada, a sua escolha recai em resinas termoendurecíveis
como as epóxidas, de poliéster ou de viniléster. Estas resinas têm a função de distribuir as
tensões pelas diversas fibras, protegê-las dos danos mecânicos, das agressões ambientais e
dos fenómenos de instabilidade [39, 40].
Relativamente ao reforço estrutural com elementos de CFRP, estes têm vindo a aumentar a
sua utilização, na medida em que esta técnica evita os problemas mais comuns associados às
técnicas de reforço tradicionais. O reforço estrutural com componentes de CFRP tem como
principais vantagens o facto de a sua execução ser fácil e simples e a sua afectação ser
mínima, no que toca ao aspecto final do elemento reforçado.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
37
Os elementos estruturais de CFRP podem assumir diferentes formas, possuindo cada sistema,
características próprias e objectivos distintos. Estes sistemas podem ser divididos em sistemas
pré-fabricados e sistemas curados in-situ.
Nos sistemas pré fabricados podem-se incluir os sistemas em forma de varões e os que
apresentam a forma de laminado. Os varões de CFRP desempenham um papel semelhante
aos varões de aço, tendo a vantagem de serem resistentes à corrosão, pelo que a sua
utilização, apesar de ainda ser reduzida, tem vindo a crescer nos últimos anos. No que toca
aos laminados de CFRP, a sua aplicação já foi mencionada, pelo que é importante mencionar
que ambos estes sistemas pré-fabricados possuem as suas fibras no sentido longitudinal ao
elemento, tirando o maior partido da sua resistência à tracção.
Nos sistemas curados in situ, a matriz e as fibras são fornecidas em separado e o processo de
fabrico do compósito de CFRP é efectuado na zona a reforçar. Com a resina de saturação
efectua-se a impregnação plena das fibras e a ligação ao substrato de betão. Os sistemas
curados in situ são classificados em termos da direcção que as fibras apresentam. Estes são
considerados como mantas se as suas fibras estiverem dispostas unidireccionalmente, e como
tecidos, caso as fibras se encontrem dispostas em várias direcções. Ao contrário dos varões e
dos laminados, as mantas e os tecidos são materiais flexíveis, sendo assim apropriados para
aplicações em superfícies curvas [40].
Uma das características mais relevantes dos compósitos de CFRP consiste no facto de estes
se comportarem de um modo elástico linear, pelo que não possuem uma tensão de cedência,
mas apenas uma tensão de rotura. Este facto faz com que em muitos casos não se tire um
maior partido da capacidade de resistência dos CFRP devido à diferença de comportamentos
entre o aço do betão armado e o CFRP. No caso dos laminados de CFRP, a aplicação de pré-
esforço sobre os mesmos permite uma maior eficiência por parte dos laminados, embora
implique um acréscimo ao nível da complexidade e dos custos associados à operação [41].
2.3.2 Processo de fabrico de laminados de CFRP
Como foi referido, os laminados de CFRP são pré-fabricados, pelo que o seu fabrico é de
carácter industrial, sendo, após a cura, enviados para a obra, onde é feita a sua instalação. O
método de fabrico que é geralmente utilizado para este caso e para outros perfis de CFRP
denomina-se de pultrusão.
A pultrusão assenta basicamente na acção de puxar as fibras de carbono através de várias
etapas, semelhante a uma linha de montagem, onde o produto final se encontra pronto para
aplicação em obra. Existem diferentes máquinas que cumprem este propósito, sendo que em
muitos casos esta máquina de pultrusão é desenhada e construída pelo próprio fabricante dos
materiais. Apesar deste facto, existem uma série de acções comuns executadas em todas as
máquinas e que são características das operações de pultrusão.
Estado da arte
38
O inicio do procedimento da pultrusão dá-se no puxe das fibras de carbono, provenientes de
diversos rolos, colocados em suportes numa das extremidades da máquina. As fibras são
então levadas até um “banho” de resinas onde se dá a impregnação das fibras. Este banho,
onde também estão presentes os agentes de reacção das resinas, é constantemente
reabastecido e tem normalmente a superfície livre de forma a estar exposto à ventilação. Após
este passo, as fibras, cobertas de resina, são encaminhadas até molde de cura das resinas
que funciona igualmente como forma para o produto apresentar a forma desejada. Este
processo de cura é feito através do aquecimento das superfícies do molde com recurso a
resistências eléctricas ou óleo de aquecimento. A temperatura de aquecimento utilizada não é
constante, pelo que é normal a separação em diferentes zonas de aquecimento com diferentes
temperaturas, para uma melhor cura das resinas. Previamente à entrada das fibras no molde é
normalmente feito um arrefecimento do material para que não se verifique uma cura prematura
das resinas. Para a superfície dos produto final ser suficientemente lisa, é introduzido um véu
de protecção, normalmente à base de polyester. De notar que o encaminhamento das fibras ao
longo destes passos é feito para que as fibras ocupem posições especificas no produto final.
Após a saída do material pelo molde de cura, este atravessa o mecanismo de puxe e dirige-se
à zona final onde é cortado com uma lâmina diamantada, de forma a que este possua o
comprimento desejado. A espessura transversal dos elementos criados por pultrusão pode não
ser totalmente constante, embora seja necessário garantir a continuidade longitudinal da
espessura. Na Figura 2.27 apresenta-se um exemplo de uma máquina de pultrusão, com a
descrição dos seus componentes [39]. Apesar de os laminados serem semi-rígidos, a sua
espessura reduzida transmite-lhes uma flexibilidade que permite que estes sejam guardados,
armazenados e transportados para a obra em rolos.
Figura 2.27 - Representação de um processo de pultrusão [39]
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
39
2.3.3 Processo executivo do reforço de laminados de CFRP
Uma das principais vantagens da utilização de laminados de CFRP para reforço estrutural
consiste na rapidez e simplicidade verificadas na operação de reforço. Como as fibras dos
laminados se encontram dispostas unidireccionalmente, esta técnica de reforço assenta na
colagem dos laminados à superfície do elemento na direcção longitudinal, de modo a que as
fibras do laminado se encontrem o mais paralelamente possível às forças de tracção.
Esta técnica de reforço inicia-se com a preparação da superfície do betão para a colagem dos
laminados. No entanto, e com principal relevância para este trabalho, deve ser feita uma
observação prévia das condições do elemento a reforçar e efectuar as reparações que se
considerarem necessárias. De forma a que exista uma maior aderência entre a resina de
colagem e a superfície do betão procura-se aumentar a rugosidade do substrato, com recurso
a jactos de areia e água (Figura 2.28) ou com um martelo de agulhas. Esta acção assenta na
extracção da camada superficial do betão, pelo que é recomendado que a profundidade
utilizada seja tal que deixe expostos alguns agregados grossos do betão e a sua área de
aplicação deve ter, no mínimo, as dimensões do laminado que irá ser colocado. Completada
esta fase, deve ser feita a limpeza do substrato, preferencialmente com ar comprimido, para
retirar possíveis poeiras resultantes da operação anterior.
Figura 2.28 - Preparação da superfície com um jacto de areia e água [17]
No que toca à aplicação do laminado, existe ainda a opção de aplicar um primário no substrato
para melhorar a aderência e resistência superficial do betão. É feita uma limpeza da superfície
do laminado com recurso a solventes como, por exemplo, acetona. A aplicação da resina de
colagem é feita tanto no substrato como no laminado, sendo que no substrato aplica-se apenas
uma pequena camada de regularização e no laminado é que é feito o controlo da espessura da
resina. A espessura final da resina deve ser suficiente para garantir uma boa aderência entre o
laminado e o betão, mas não deve ultrapassar o valor de aproximadamente 5 mm, pois a alta
deformabilidade da resina pode por em causa a eficácia do sistema de reforço. Tal como foi
mencionado para os materiais de injecção, as indicações do fabricante relativamente às
dosagens e mistura dos componentes da resina devem ser obedecidas, tendo também atenção
Estado da arte
40
ao pot-life da mesma. A aplicação do laminado é feita com uma pressão reduzida sobre o
mesmo, como é visível na Figura 2.29, de modo a não reduzir em demasia a espessura da
resina, mas com a atenção de minimizar a existência de vazios ou bolhas de ar entre o adesivo
e o laminado [2, 40].
Figura 2.29 - Aplicação dos laminados [42]
2.3.4 Dimensionamento de laminados de CFRP
A caracterização das tensões existentes num elemento reforçado com elementos de CFRP é
de relativa complexidade devido, principalmente, à interacção dos diferentes comportamentos
mecânicos dos materiais envolvidos. Assim sendo, o recurso a resultados experimentais tem
vindo a ser essencial para efectuar um correcto dimensionamento dos laminados de CFRP de
tal forma que o elemento reforçado mantenha a sua integridade quando é sujeito ao esforço
para qual o reforço foi dimensionado.
Modos de rotura
Quando o elemento reforçado, seja este uma laje ou uma viga, atinge a rotura, é preferível que
esta se verifique por compressão do betão, precedida pela cedência das armaduras. No
entanto, observa-se que, na maioria dos casos, a rotura deste elemento acontece devido a
falhas na ligação entre o betão e o laminado. Estas falhas na ligação podem-se dar em
diferentes níveis:
Arrancamento do betão perto da superfície – Caso mais comum na perda da ligação,
pelo que esta se dá em camadas mais frágeis do betão, como na zona de ligação às
armaduras;
Rotura do adesivo – Pouco usual na medida em que a resina possui uma resistência
mecânica superior à do betão. Pode ocorrer, caso se verifique uma quebra da
resistência mecânica da resina devido a temperaturas elevadas;
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
41
Falha na ligação do adesivo ao betão ou ao laminado – Como a tensão máxima de
tracção da resina é inferior à tensão máxima de aderência da mesma, este fenómeno
tende a verificar-se quando existem falhas na preparação da superfície do betão ou do
laminado.
Rotura do laminado – Este modo de rotura pode ocorrer se for utilizado um betão de
elevada resistência e é, de certa forma, aceitável, pois indica que foi tirado um grande
partido das características resistentes do reforço [43].
Sendo o betão o elo mais fraco da ligação de reforço, ilustram-se na Figura 2.30 os diferentes
tipos de rotura das ligações associados à superfície do betão [17]:
Arrancamento do betão na zona
de ancoragem
Arrancamento devido a fendas de
corte
Arrancamento nas fendas de
flexão
Rotura por corte na extremidade
do reforço
Arrancamento devido a
imperfeições no suporte
Figura 2.30 - Tipos de rotura da ligação do laminado [17]
Estado da arte
42
Abordagens de dimensionamento
Existem actualmente alguns documentos de apoio ao dimensionamento de laminados de
CFRP, de onde se destacam os seguintes:
Bulletin 14 de The International Federation for Structural Concrete;
ACI-440.2R-08 de American Concrete Institute;
Technical report 55 de The Concrete Society;
Design Manual No. 4 de ISIS Canada (Intelligent Sensing for Innovative Structures).
Neste ponto do trabalho serão apresentados vários aspectos a ter em conta no
dimensionamento de laminados de CFRP para reforço de vigas de betão armado, tendo como
base o documento Bulletin 14 de International Federation for Structural Concrete, também
conhecido como Fib 14.
Considerando a rotura do elemento através da compressão do betão após a cedência das
armaduras, o cálculo do momento resistente após o reforço, pode ser efectuado, determinando,
em primeiro lugar, a posição da linha neutra, através da seguinte expressão,
(2.3-1)
onde , corresponde ao valor de cálculo da tensão de cedência do aço,
corresponde ao valor de cálculo da tensão máxima de compressão no betão, corresponde
ao módulo de elasticidade do laminado e as restantes variáveis se podem observar na Figura
2.31, sendo que,
(2.3-2)
(2.3-3)
O valor de cálculo do momento resistente da secção, , é determinado da seguinte forma,
(2.3-4)
onde . Para que se verifique a rotura do elemento por compressão do betão, é
necessário que as seguintes condições sejam respeitadas:
(2.3-5)
(2.3-6)
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
43
Figura 2.31 - Análise da secção transversal de uma viga para o estado limite último de flexão: (a) geometria, (b) distribuição de extensões e (c) distribuição de tensões [43]
Caso a condição (2.3-6) não seja respeitada e se antes se verificar uma rotura do laminado,
então o método de determinação do valor de cálculo do momento resistente da secção é
análogo ao apresentado anteriormente, devendo-se considerar, no entanto, a alteração de
para , de para , passando e a ser determinados da seguinte forma:
(2.3-7)
(2.3-8)
Outro aspecto importante consiste nos factores de segurança utilizados na redução das
características mecânicas do CFRP. O Fib Bulletin 14 recomenda a divisão do valor
característico da tensão máxima do CFRP, , por
, para determinação do valor de
cálculo da tensão máxima do CFRP, . Já o ACI 440 recomenda a multiplicação do mesmo
por um coeficiente, que se encontra dependente das condições de aplicação, cujos valores
se podem observar na Tabela 2.10.
Condições de exposição Valor de
Exposição interior 0,95
Exposição exterior 0,85
Ambientes agressivos 0,85
Tabela 2.10 - Valores do factor de segurança [44]
Segundo o ACI 440, o valor final do momento resistente deve ser ainda multiplicado por um
factor = 0,8 para consideração do momento de resistência nominal.
Estado da arte
44
Como já foi referido, verifica-se que na maioria dos casos existe uma perda da integridade da
ligação entre o betão e o laminado, antes de se atingir a rotura do elemento. Devido à
complexidade da distribuição de tensões existentes neste sistema de reforço e os diferentes
tipos de rotura que a ligação pode exibir, não existe um método universal de cálculo que
permita garantir a não ocorrência da rotura precoce. Existem, no entanto, algumas tentativas
de compreender os esforços actuantes para cada um dos tipos de rotura mencionados, através
de ensaios experimentais, que permitiram formular algumas verificações para cada tipo de
rotura. Relativamente às roturas precoces provocadas pelo esforço transverso, ou seja, o
arrancamento devido a fendas de corte e a rotura por corte na extremidade do reforço, as
formulações existentes baseiam-se na redução da capacidade resistente do elemento a
esforços transversos, mas a sua aplicabilidade ainda não se encontra totalmente comprovada.
No que toca ao arrancamento devido a imperfeições no suporte, este apenas pode ser evitado
com um maior cuidado nos processos executivos, ou com a reparação destas imperfeições.
Para o arrancamento na zona de ancoragem devido às fendas de flexão existem verificações
que são recomendadas, pelo que podem-se considerar três abordagens distintas para esta
problemática:
Abordagem 1 – Verificação na zona de ancoragem e limitação da extensão do CFRP
As verificações utilizadas nesta abordagem são de relativa simplicidade, pelo que esta
abordagem é muitas vezes utilizada. A verificação na zona da ancoragem é feita a dois níveis.
O primeiro assenta na limitação da força de tracção existente no laminado na zona de
ancoragem. Este valor limite, , pode ser determinado da seguinte forma,
(2.3-9)
em que representa um coeficiente de monolitismo, assumido o valor 1 para um monolitismo
perfeito, corresponde a um valor representativo do estado de compactação do betão,
assumindo valores perto da unidade para condições normais, e é um factor geométrico que
relaciona a largura da base da viga com a largura do laminado, através da seguinte expressão:
(2.3-10)
A segunda parte da verificação na zona de ancoragem é feita através da determinação de um
comprimento de amarração máximo. Este comprimento de amarração é o que garante o maior
nível de resistência à ligação na zona de ancoragem, sendo que valores superiores de
comprimento deixam de contribuir para esta resistência. O comprimento de amarração, b,máx, é
então dado pela seguinte expressão:
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
45
(2.3-11)
Para as restantes zonas do elemento fora da zona de ancoragem, a verificação da integridade
da ligação é feita com recurso à limitação da extensão do laminado. Existem alguns
documentos que abordam este assunto e que recomendam diferentes valores para a limitação
da extensão dos laminados, apresentando-se de seguida:
Fib Bulletin 14 [43]:
ACI 440 2R-08 [44]:
S&P, 2008 [45]:
Technical Report 55 [46]:
De notar que apenas o ACI 440 é que considera explicitamente a espessura do laminado e o
seu módulo de elasticidade na determinação do valor limite da extensão do mesmo. De facto,
a falha na consideração de determinadas características e factores do sistema de reforço é
apontado como um dos defeitos principais nesta abordagem. Outra das lacunas nesta
abordagem assenta no facto de a tensão de rotura do laminado estar também dependente da
relação momento-esforço transverso, da extensão das armaduras e da distribuição de fendas.
Abordagem 2 – Verificação de acordo com o desenvolvimento dos esforços de tracção
Nesta abordagem o fenómeno do arrancamento do laminado é tratado de forma igual tanto na
zona de ancoragem com nas restantes zonas do elemento. Este método é possivelmente o que
melhor caracteriza a distribuição de esforços existente, considerando o efeito da fendilhação no
betão na transferência de esforços entre o betão e o laminado. São três os passos principais a
realizar neste método:
o Determinação do espaçamento entre fendas mais desfavorável;
o Determinação das forças de tracção existentes entre duas fendas
subsequentes;
o Determinação do acréscimo máximo de tensões de tracção na ligação.
A principal desvantagem desta abordagem assenta no facto de esta ser de uma complexidade
considerável, que torna difícil a sua aplicação.
Estado da arte
46
Abordagem 3 – Verificação na zona de ancoragem e da transferência de forças no
interface CFRP/betão
O método de verificação da segurança da ligação para esta abordagem assume também a
separação em zona de ancoragem e restantes zonas. Para a zona de ancoragem a verificação
feita é a mesma que é aplicada na Abordagem 1.
Para as restantes zonas do elemento é feita uma restrição das tensões de corte presentes no
interface laminado/betão, de modo a que estas não ultrapassem a resistência à tracção do
betão, local onde se verificou que a rotura é mais provável. A verificação para esta zona é feita
através das seguintes expressões,
(2.3-12)
(2.3-13)
onde corresponde ao esforço transverso aplicado no elemento e pode ser assim
determinado:
(2.3-14)
Antes da utilização das fórmulas (2.3-12) e (2.3-13) é necessário delimitar as zonas onde a
armadura longitudinal se encontra em cedência de forma a contabilizar a contribuição da
mesma para a resistência ao esforço transverso. Esta abordagem tem um nível de utilização
elevado devido à sua simplicidade, embora seja mais precisa, comparativamente com a
Abordagem 1 [43].
Existe uma proposta de verificação da integridade da ligação sugerida por Appleton e Costa
[17] que consiste numa simbiose das abordagens 1 e 3, efectuando-se a verificação comum a
ambas na zona de ancoragem e realizando, para as restantes zonas, tanto a restrição da
extensão do laminado, ao valor máximo de 0,65%, como das tensões de corte no interface
laminado/betão.
Fendilhação do betão após reforço
Tal como no dimensionamento de estruturas novas, é necessário determinar certos aspectos
como flechas e abertura de fendas para os estados limite de serviço. Neste caso, e com
especial interesse para este trabalho, apresenta-se os modo de determinação da abertura de
fendas tendo em conta a adição do sistema de reforço. O cálculo da abertura de fendas
assume o mesmo princípio da expressão (2.2-1), obtendo o produto do espaçamento entre
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
47
fendas com a extensão média relativa entre o betão e as armaduras, sendo que neste caso é
necessário fazer alterações na determinação de ambos estes factores de modo a
contemplarem a presença dos laminados de CFRP. A extensão média relativa entre o betão e
as armaduras é substituída pela extensão ao nível das armaduras de tracção, , que se
calcula da seguinte forma,
(2.3-15)
onde ou , sendo o braço entre os conjuntos de forças e
. Relativamente ao espaçamento entre fendas, é utilizado o seu valor médio,
determinado através da seguinte expressão,
(2.3-16)
sendo e , que correspondem aos valores médios das tensões de
aderência das armaduras e do laminado, respectivamente. Já e correspondem ao
perímetro de ligação das armaduras e do laminado, respectivamente, e
representa um
parâmetro de ligação que pode ser calculado através da seguinte expressão,
(2.3-17)
onde
corresponde ao diâmetro médio das armaduras. Assim sendo, e assumindo que a
deformação inicial do betão, , é nula, a fórmula de cálculo da abertura de fendas adopta a
seguinte forma:
(2.3-18)
Com base nesta expressão, é possível determinar a largura mínima do laminado que faça com
que uma determinada abertura de fendas não seja ultrapassada, apresentando-se de seguida
uma expressão para uma abertura de fendas de 0,3 mm [40]:
(2.3-19)
Estado da arte
48
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
49
3 Programa experimental
3.1 Objectivos
O programa experimental realizado tem como intuito o estudo do efeito da reparação, por
injecção de resinas nas fendas, no comportamento de vigas reforçadas com laminados de
CFRP. Dada a ausência de estudos e resultados concretos neste âmbito, a campanha
experimental centra-se na rotura por flexão de vigas de betão armado que tenham sido
fendilhadas, reparadas e posteriormente reforçadas e vigas apenas fendilhadas e reforçadas.
Assim sendo, pretende-se retirar destes ensaios resultados que permitam tirar conclusões
acerca da possibilidade de optimização deste processo de reforço.
3.2 Plano de ensaios
Como foi mencionado, os objectos de análise desta campanha experimental consistem em
vigas de betão armado que foram sujeitas à fendilhação por flexão. No total, foram ensaiadas
seis vigas de betão armado, tendo estas vigas sido sujeitas a tratamentos distintos e que se
descrevem de seguida:
Duas vigas padrão, para caracterização do desempenho das mesmas sem qualquer
tratamento – vigas V1 e V2;
Duas vigas sujeitas a um carregamento de fendilhação e apenas reforçadas através
da colagem de laminados de CFRP – vigas V3 e V4.
Duas vigas sujeitas a um carregamento de fendilhação, posteriormente reparadas com
injecção de resinas nas fendas e finalmente reforçadas através da colagem de
laminados de CFRP – vigas V5 e V6;
De modo a que estas vigas fossem submetidas às condições indicadas delineou-se um
conjunto de etapas na campanha experimental que foram executadas pela seguinte ordem:
1. Ensaio à rotura por flexão das vigas V1 e V2;
2. Aplicação de carga nas vigas V3 a V6 para fendilhação;
3. Reparação das vigas V5 e V6 com injecção de resinas (em carga);
4. Descarga e colagem dos laminados de CFRP nas vigas V3 a V6;
5. Ensaio à rotura por flexão das vigas V3 a V6;
Apesar de ser de certa forma possível determinar analiticamente o comportamento do betão
armado, nomeadamente ao nível das cargas de cedência das armaduras, cargas de rotura,
flechas ou aberturas de fendas, os resultados obtidos experimentalmente nem sempre
Programa experimental
50
correspondem às previsões. Não só com este facto em mente, mas também para se avaliar
com mais rigor o comportamento real das vigas, optou-se por ensaiar inicialmente duas vigas
padrão à rotura por flexão. Com base nos resultados observados nas vigas padrão,
determinou-se um patamar de carregamento, utilizado nas restantes vigas, que provocaria uma
abertura de fendas que justificasse a necessidade de injecção de resinas. Relativamente à
aplicação do reforço por colagem dos laminados de CFRP, esta operação estaria mais perto de
uma situação real caso esta tivesse ocorrido com a viga sujeita a carregamento. No entanto, tal
procedimento acarretaria gastos consideravelmente superiores em termos temporais e de mão-
de-obra. Encontrando-se, por fim, as restantes quatro vigas reforçadas, procedeu-se ao ensaio
final das mesmas até à rotura.
De carácter complementar e para controlo dos materiais utilizados, foram fabricados provetes
de betão e de aço, utilizados no fabrico das vigas, para determinação da resistência mecânica
destes materiais. Para tal, foram realizados os seguintes ensaios:
Cubos de betão - Resistência à compressão;
Cilindros de betão – Resistência à tracção por compressão diametral;
Varões de aço – Resistência à tracção.
3.3 Materiais e equipamento
As vigas ensaiadas são constituídas por betão da classe C20/25 e por armaduras da classe
A500 NR. O comprimento total das vigas é de 3,30 metros, sendo observável a geometria da
secção transversal e a disposição das armaduras no seu interior nas Figuras 3.1 e 3.2.
Relativamente ao recobrimento utilizado, este assumiu o valor de 2,0 cm, excepto na superfície
superior onde o recobrimento é de aproximadamente 4,0 cm.
Figura 3.1 - Geometria da secção transversal das vigas
Figura 3.2 - Pormenorização das armaduras
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
51
Como em várias construções de betão armado, utilizou-se madeira para cofragens, sendo
estas visíveis na Figura 3.3. Já na Figura 3.4 observa-se a viga, após o período de cura, pronta
a ser ensaiada.
Figura 3.3 - Cofragens com as armaduras das vigas
Figura 3.4 – Viga de betão armado pronta para ensaio
Para os provetes de betão, os cubos apresentam uma aresta de 15 centímetros e os cilindros
possuem uma base de 15 centímetros de diâmetro e 30 centímetros de altura.
No processo de injecção de resinas, aplicou-se a resina epóxida Sikadur®-52 Injection da
marca SIKA, que consiste numa resina de alta resistência e baixa viscosidade de dois
componentes, desenvolvida para o preenchimento de fissuras em betão, argamassa, pedra,
aço e madeira. No entanto, é no betão que esta resina possui uma maior eficácia na
recuperação do monolitismo do elemento fendilhado. Na Tabela 3.1 apresentam-se as
principais características físicas e mecânicas desta resina, sendo visível nas Figuras 3.5 e 3.6
as embalagens de ambos os componentes da resina para mistura.
Tabela 3.1 - Propriedades físicas e mecânicas da resina aplicada na injecção [47]
Sikadur®-52 Injection
Massa volúmica 1,1 g/cm3
Viscosidade
1200 mPa.s para +30ºC
430 mPa.s para +20ºC
220 mPa.s para +10ºC
Coeficiente de dilatação térmica 8,9 x 10-6
m/m/ºC
Resistência à compressão 52 MPa (após 7 dias a 23ºC)
Resistência à tracção 37 MPa (após 7 dias a 23ºC)
Tensão de aderência > 4 MPa (ruptura no betão)
Módulo de elasticidade 1,8 GPa (após 7 dias a 23ºC)
Pot-life
10 minutos para +30ºC
25 minutos para +20ºC
80 minutos para +10ºC
Programa experimental
52
Para o preenchimento dos orifícios resultantes da operação de injecção, foi aplicada uma
argamassa Emaco S88 tixotrópica da marca BASF, visível na Figura 3.7. Esta é uma
argamassa à base de cimento, que apresenta uma boa compatibilidade com o betão e possui
aditivos especiais e fibras sintéticas de poliacrilonitrilo.
Figura 3.7 - Argamassa Emaco S88
Os materiais utilizados no sistema de reforço de CFRP pertencem à marca S&P, sendo que se
utilizou no total cerca de 10 metros de laminado S&P Laminates CFK 150/2000 com a secção
transversal de dimensões 80 x 1,4 mm2, sendo que o rolo de laminado fornecido apresenta-se
na Figura 3.8. Segundo o fabricante, o laminado apresenta as características mencionadas na
Tabela 3.2.
Tabela 3.2 - Propriedades físicas e mecânicas do laminado de CFRP [48]
S&P Laminates CFK 150/2000 – 80 / 1,4
Área de secção 112 mm2
Módulo de elasticidade (médio) 165 GPa
Força / Tensão de tracção para extensão de 0,6% 112,0 kN / 1000 MPa
Força / Tensão de tracção para extensão de 0,8% 145,6 kN / 1300 MPa
Figura 3.5 – Embalagem do componente A de Sikadur
®-52 Injection
Figura 3.6 – Embalagem do componente B de Sikadur
®-52 Injection
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
53
Para a colagem estrutural dos laminados foi utilizada a resina S&P Resin 220 epoxy adhesive,
ou seja, uma resina epóxida desenvolvida para colagem de laminados de CFRP, também
distribuída em dois componentes para mistura, como é visível na Figura 3.9. Esta resina pode
ser utilizada para colagem dos laminados em betão ou em aço e possui as vantagens de ser
tixotrópica, logo não escorre ou goteja, e possui uma retracção muito reduzida após a cura. As
propriedades desta resina podem ser observadas na Tabela 3.3.
De notar que as fichas técnicas dos vários materiais referidos (Sikadur®-52 Injection, Emaco
S88, S&P Laminates CFK e S&P Resin 220) podem ser observadas nos Anexos, onde é feita
uma descrição mais detalhada das suas características e métodos de aplicação.
Figura 3.8 - Rolo de laminado de CFRP Figura 3.9 - Embalagem da resina de colagem
Tabela 3.3 - Propriedades da resina de colagem dos laminados [49]
No que toca ao equipamento utilizado nas operações mencionadas anteriormente, há que dar
destaque à bomba e injectores utilizados na operação de injecção das resinas. No que toca à
bomba usada, esta era monocomponente e a pressão era originada por acção manual, como
se pode ver na Figura 3.10. Relativamente aos injectores, estes eram de fixação mecânica, do
tipo MPS, com um comprimento de 115 mm e um diâmetro de 13 mm (Figura 3.11).
Nas operações de betonagem, reparação e reforço foram também utilizados outros
equipamentos e ferramentas que, por possuírem uma menor relevância para este trabalho,
serão apenas mencionadas no procedimento experimental dos ensaios.
S&P Resin 220
Massa volúmica 1,75 g/cm3
Resistência à tracção > 30 MPa
Resistência à compressão > 90 MPa
Tensão máxima de aderência > 3 MPa (na colagem ao betão e aos laminados)
Pot life > 60 minutos para +20ºC
Programa experimental
54
Figura 3.10 - Bomba manual monocomponente de injecção
Figura 3.11 - Injector de fixação mecânica
Durante os ensaios às vigas de betão armado foi utilizado uma série de equipamentos, tanto
para carregamento como para aquisição de dados. É preciso referir que para as diferentes
fases dos ensaios foi, por vezes, necessário utilizar equipamentos diferentes para a mesma
função, consoante a disponibilidade dos mesmos.
A aquisição das diferentes leituras efectuadas durante o carregamento foi feita com recurso ao
aparelho UPM 100, da marca HBM, nos ensaios às vigas padrão, e com o aparelho Spider8, do
mesmo fabricante, para os restantes ensaios.
O carregamento das vigas foi realizado com um macaco hidráulico Enerpac (Figura 3.12) com
capacidade de carga de 30 toneladas, que se encontrava ligado a uma unidade de pressão da
marca Walter & Bai AG. (Figura 3.13). A leitura da carga aplicada nas vigas foi levada a cabo
por uma célula de carga Novatech (aparelho vermelho da Figura 3.12) com uma capacidade de
40 toneladas.
Em cada ensaio foram utilizados 3 deflectómetros eléctricos para medição da deformação da
viga em diferentes pontos, sendo que, no total, foram utilizados 8 deflectómetros diferentes
devido a razões já mencionadas. Contam-se neste conjunto, 3 deflectómetros TML 25, 1
deflectómetro TML 50 (Figura 3.14), 1 deflectómetro TML 100, 2 deflectómetros HS-50 e um
deflectómetro HS-100. Os diferentes equipamentos utilizados são enumerados na Tabela 3.4.
Tabela 3.4 - Características dos equipamentos de medição
Equipamento Modelo Nº Série Sensibilidade Capacidade
Célula de carga Novatech F203 14328 0,916 mV/V 400 kN
Deflectómetros
TML CDP 25 521287; 521289; 521290 6,25 mV/V 25 mm
TML CDP 50 511662 5 mV/V 50 mm
TML CDP 100 561656 5 mV/V 100 mm
APEC HS-50 5495; 5521 3,7 mV/V 50 mm
APEC HS-100 2454 5,136 mV/V 100 mm
Extensómetros TML FLK 6-11 - (Gauge factor: 2.12) -
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
55
Figura 3.12 - Macaco hidráulico e célula de carga
Figura 3.13 – Unidade de pressão
Figura 3.14 - Deflectómetro TML 50
Por fim, decidiu-se obter medições da extensão das armaduras, através da colocação de
extensómetros nas armaduras longitudinais previamente à operação de betonagem das vigas.
Foram utilizados 4 extensómetros por viga, colocados a meio-vão. A disposição destes
extensómetros pode ser observada nas Figuras 3.15 e 3.16.
Figura 3.15 - Disposição dos extensómetros nas vigas
Figura 3.16 - Colocação e ligação dos extensómetros às armaduras longitudinais
3.4 Esquema de ensaio
Como já foi referido, as vigas foram ensaiadas à flexão, com o carregamento perpendicular ao
desenvolvimento longitudinal da viga. As condições de carregamento e de apoio utilizadas
nesta campanha experimental foram determinadas tendo em conta as dimensões das vigas e
trabalhos prévios onde se tinha ensaiado vigas de betão armado à flexão. O esquema de
ensaio pode ser observado na Figura 3.17.
Programa experimental
56
Figura 3.17 - Esquema de ensaio das vigas
Como é possível observar, o carregamento foi feito através de duas cargas pontuais com um
metro de distanciamento entre si. As condições de apoio consistiram num apoio fixo e num
apoio móvel. Relativamente à medição da deformação da viga ao longo do carregamento,
determinou-se que, esta seria feita em três pontos diferentes: a meio vão e nos pontos de
carregamento da viga. Na Figura 3.18 é possível ter uma visão geral do esquema de ensaio.
Figura 3.18 - Aspecto real do esquema de ensaio
De notar, nesta figura, a utilização de uma viga metálica de distribuição. Este facto permitiu a
utilização de apenas um macaco hidráulico, mantendo a aplicação de duas cargas pontuais. A
transmissão de força do macaco para a viga de distribuição foi feita através duma rótula
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
57
esférica, de apoio fixo, e, da viga de distribuição para a viga de betão armado, com recurso a
rótulas cilíndricas, também de apoio fixo, colocadas nos pontos de carregamento. Em relação à
fixação do macaco hidráulico, este encontrava-se ligado a um pórtico metálico, ancorado à laje
do laboratório com varões pré-esforçados.
3.5 Procedimento experimental
A campanha experimental seguiu uma série de etapas que foram descritas no plano de
ensaios. No entanto, neste ponto do trabalho pretende-se efectuar uma descrição mais
detalhada destas etapas e das diferentes acções efectuadas durante esta campanha.
3.5.1 Fabrico das vigas
O inicio desta campanha experimental deu-se com o fabrico das vigas de betão armado. Não
existindo qualquer particularidade de relevo na constituição destas vigas, o seu fabrico foi
efectuado de forma semelhante aos elementos de betão armado comuns.
Assim sendo, começou-se por montar as cofragens de madeira (Figura 3.19) e por criar o
“esqueleto” das vigas através do corte, dobragem e ligação entre os varões de aço (Figura
3.20), de modo a que estes apresentassem a disposição indicada anteriormente. De notar na
Figura 3.21 que foi aplicado um sistema de escoramento com barrotes de madeira para evitar
possíveis deformações na cofragem e evitar possíveis inclinações ou tombos das cofragens,
visto tratarem-se de vigas em ”T”. Antes da colocação das armaduras dentro da cofragem,
foram colados e identificados os extensómetros, de acordo com o mencionado anteriormente, e
aplicados os espaçadores nas armaduras para cumprimento do recobrimento exigido (Figura
3.22). Nos extensómetros, houve o cuidado de os seus fios se encaminharem junto às
armaduras e saírem da viga num ponto comum, e ainda a colocação da parte que ficaria
exterior à viga, num saco de plástico para protecção durante a betonagem.
Figura 3.19 - Montagem das cofragens Figura 3.20 - Montagem das armaduras
Programa experimental
58
Encontrando-se as cofragens totalmente preparadas, procedeu-se à betonagem. O betão
utilizado foi transportado em estado húmido para o LERM (Laboratório de Estruturas e
Resistência de Materiais), por um camião cisterna, tendo sido directamente aplicado nas
cofragens, ou com o auxílio de um balde, para zonas mais afastadas. Como é norma, para o
correcto funcionamento estrutural do betão, foi utilizado um vibrador, de modo a compactar o
betão à medida que este ia sendo colocado nas cofragens, como é visível na Figura 3.23.
Figura 3.21 - Aspecto final das cofragens com as armaduras no seu interior
Figura 3.22 - Espaçadores
Encontrando-se a colocação e vibração do betão nas cofragens concluída, foi utilizado um
barrote de madeira sobre a superfície para eliminar o excesso de betão (Figura 3.24) e,
posteriormente, uma talocha para regularizar a superfície do mesmo (Figura 3.25). Durante
esta operação, foram também criados os provetes de betão que sofreram o mesmo tratamento
(Figura 3.26).
Figura 3.23 - Colocação e vibração do betão Figura 3.24 - Eliminação de excessos de betão
Durante a primeira semana após a betonagem, de forma a realizar a cura, o betão foi sendo
regado com água, pelo menos uma vez por dia, de forma a minimizar o efeito da retracção no
betão, sendo coberto por uma capa de plástico. Aproximadamente uma semana depois da
betonagem, realizou-se a descofragem das vigas.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
59
Figura 3.25 - Regularização da superfície do betão
Figura 3.26 - Fabrico dos provetes de betão
Ao contrário das vigas que foram armazenadas no interior do LERM, sem protecção especial,
os provetes de betão foram descofrados passadas 24 horas da betonagem dos mesmos e
levados para uma câmara húmida, sendo apenas retirados no momento de realização de
ensaios, de acordo com o especificado na norma EN 12390-2 [50].
3.5.2 Ensaios experimentais
Os diversos ensaios e carregamentos efectuados sobre as vigas foram na sua essência
bastante semelhantes, na medida em que foi sempre seguido o esquema de ensaios referido.
A diferença entre ensaios assentou no plano de carregamento em curso, nomeadamente na
fase de fendilhação onde a viga não foi levada até à rotura, mas sim até um valor de carga,
igual para todas as vigas, que provocasse uma certa abertura de fendas.
Após a colocação das vigas na estrutura de carregamento, foi necessário estabelecer as
ligações necessárias para obter os dados durante o carregamento. Durante os ensaios
encontravam-se ligados ao aparelho de aquisição de dados, um total de 8 canais nos quais
eram registadas as devidas medições, que se enumeram de seguida:
Carga aplicada - célula de carga;
Deformação da viga – deflectómetros a meio-vão e nos pontos de carregamento;
Extensão das armaduras – quatro extensómetros dispostos de forma indicada.
Um dos pormenores da ligação dos extensómetros ao aparelho de aquisição de dados consiste
no facto de estes terem sido ligados em meia ponte, tendo sido necessário utilizar
extensómetros passivos, de modo a obter uma medição correcta dos valores das extensões.
Na Figura 3.27 é possível observar estes extensómetros “passivos” juntamente com as
restantes ligações efectuadas ao aparelho de aquisição de dados.
As medições, mencionadas até aqui, foram todas registadas electronicamente. No entanto, foi
feita outra medição com base na observação visual, nomeadamente, a medição da abertura de
Programa experimental
60
fendas ao longo do carregamento. No planeamento do carregamento foi estabelecida uma
série de patamares de carga, nos quais se procedeu à marcação do desenvolvimento das
fendas e à medição da sua abertura, com recurso a um medidor óptico (Figura 3.28). Após o
aparecimento das primeiras fendas, determinou-se um local para medição da abertura das
fendas, na superfície lateral da viga, geralmente em zonas mais inferiores da viga e na fenda
mais perto do meio-vão, onde se esperava que a abertura de fendas fosse máxima.
3.5.3 Reparação por injecção de resinas
De modo a ser possível realizar correctamente a injecção de resinas, é necessário que as
fendas apresentem uma abertura considerada suficiente. Assim, foi essencial efectuar o
carregamento das vigas que provocasse tal abertura de fendas. Tendo em conta as medições
efectuadas nas vigas padrão e as características da resina utilizada, determinou-se que iria ser
feito um carregamento no qual fosse possível verificar-se fendas com uma abertura
aproximadamente igual a 0,3 mm.
Encontrando-se o carregamento estabilizado no valor designado, efectuou-se uma verificação
e marcação das fendas que apresentavam uma maior abertura e aparentemente poderiam ser
injectadas.
Nesta operação foram utilizados injectores de fixação mecânica, pelo que o passo inicial
consistiu na execução de furos no betão, que interceptavam os planos das fendas. Estes furos
foram feitos, inicialmente, em ambas as superfícies laterais da viga, criando dois furos por
plano de fenda, sendo esta acção visível na Figura 3.29. Posteriormente, foram colocados e
apertados os injectores, como se pode verificar na Figura 3.30. De notar que a acção de
furação provocou o aparecimento de algumas novas fendas na zona circundante.
Em seguida foi realizada a mistura dos dois componentes da resina epóxida Sikadur®-52
Injection segundo as indicações do fabricante, nomeadamente, uma relação entre os
componentes A e B de 2:1. O pot-life da resina foi também tido em conta, na medida em que
Figura 3.27 - Ligações ao aparelho de aquisição de dados
Figura 3.28 - Medidor óptico ou lupa de fendas
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
61
foram apenas misturadas as quantidades que se consideraram suficientes para o trabalho a
realizar. O processo de mistura, visível na Figura 3.31, deu-se por concluído quando a mistura
apresentou um aspecto homogéneo.
Figura 3.29 - Criação de furos no betão com uma broca
Figura 3.30 - Colocação dos injectores nos furos
Antes da colocação da resina na bomba para injecção, procedeu-se à limpeza da bomba
através da introdução de acetona na mesma, posteriormente bombeada, até sair totalmente
pela ponta da mangueira da bomba, como se pode observar na Figura 3.32. Posteriormente, foi
então colocada a resina na bomba de injecção e a ligação da mangueira ao primeiro injector foi
apenas feita após ter-se verificado a saída de resina pela ponta da mangueira.
Figura 3.31 - Processo de mistura dos componentes da resina
Figura 3.32 - Limpeza da bomba
Procedeu-se então à injecção de resinas epóxidas nas fendas após a ligação da mangueira à
boca dos injectores. Não tendo sido efectuada qualquer selagem das fendas, devido
principalmente às características das fendas que não justificavam tal operação, o controle da
penetração da resina foi feito através da observação da saída da resina ao longo da fenda,
como se pode verificar na Figura 3.33. Aquando da injecção da primeira viga, notou-se, que a
resina estava a ter dificuldade em penetrar nas zonas mais profundas das fendas, visto não
estar a sair qualquer resina na superfície inferior das vigas. Foi então decidido realizar furos na
superfície inferior da viga para ultrapassar este problema, sendo que na injecção da segunda
viga foram também adoptados estes novos furos para injecção (Figura 3.34).
Programa experimental
62
Figura 3.33 - Injecção da resina nas fendas Figura 3.34 - Injecção das resinas num injector na face inferior
A injecção de resinas prosseguiu da mesma forma até ter sido efectuada em todos os
injectores. Durante a realização desta operação notou-se que a resina misturada e que era aos
poucos colocada na bomba de injecção apresentava um estado avançado de polimerização
através do elevado calor libertado, indicando que o pot-life teria sido ultrapassado. Nestas
ocasiões foram realizadas novas misturas dos componentes, sendo realizada também a
limpeza imediata da bomba, com acetona, antes da colocação da nova mistura. Quando foi
dada como concluída a injecção das resinas nas fendas, procedeu-se novamente à limpeza da
bomba, pois a presença de resina no seu interior pode danificar permanentemente o
equipamento.
Relativamente à pressão de injecção aplicada, esta encontrou-se entre os 2 e 3 bar, bastante
distante do limite de pressão indicado pela expressão (2.2-11) [20] e cujo valor, para os
materiais utilizados, se apresenta de seguida,
Apesar deste facto, aquando da injecção das resinas nas fendas, verificou-se a saída de resina
por fendas não verificadas previamente à operação de reparação. Esta ocorrência pode ter
como explicação um aumento de abertura, devido à penetração das resinas, de fendas já
existentes, provocadas pela realização dos furos no betão. Como se observa na Figura 3.35, a
maioria destas novas fendas interceptava os furos realizados.
Aproximadamente 24 horas após esta operação a resina apresentava uma resistência bastante
considerável, pelo que se procedeu à extracção da parte exterior dos injectores. Concluída esta
extracção procedeu-se então à descarga da viga, após o que esta apresentava o aspecto final
ilustrado na Figura 3.36.
Inclui-se nesta operação de reparação das vigas, a fase de aplicação da argamassa, à base de
cimento, para preenchimento dos buracos resultantes dos furos para os injectores. Como se
referiu, para tal finalidade, foi utilizada a argamassa BASF Emaco S88 tixotrópica.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
63
Figura 3.35 - Exemplo de formação de novas fendas
Figura 3.36 - Aspecto final da viga após a injecção e extracção dos injectores
Visto estar-se perante orifícios de pequenas dimensões, a quantidade de argamassa produzida
foi relativamente reduzida, sendo a mistura da argamassa com a água feita manualmente num
balde. Antes da aplicação da argamassa nos orifícios, os mesmos foram molhados com água,
de forma a minimizar a absorção da água da argamassa pelo betão (Figura 3.37). A argamassa
foi colocada nos orifícios com recurso a uma talocha e uma espátula. De seguida foi passada
uma esponja húmida pela superfície da argamassa para a sua regularização e eliminação de
excessos. Em certos casos, aplicou-se uma segunda camada de modo a que o orifício ficasse
devidamente preenchido, seguido da passagem com a esponja. Na Figura 3.38 observa-se o
aspecto final de uma viga após a reparação dos orifícios.
3.5.4 Reforço das vigas com laminados de CFRP
Nesta operação foi seguido o procedimento recomendado pelo fabricante, iniciando-se a acção
de reforço com a preparação da superfície do betão. Em primeiro lugar foi delimitada, na face
das vigas, a área e posição que o laminado iria ocupar, de forma a identificar a zona de
preparação da superfície, sendo esta delimitação visível na Figura 3.39. Esta preparação
Figura 3.37 - Humidificação dos orifícios Figura 3.38 - Aspecto final dos orifícios após a sua reparação com argamassa
Programa experimental
64
consiste no aumento da rugosidade da superfície do betão para uma melhor aderência da
resina de colagem. Para tal, foi utilizado um martelo de agulhas (Figura 3.40) para a remoção
da camada superficial do betão, procurando deixar expostos os agregados.
Figura 3.39 - Delimitação da área sujeita a preparação
Figura 3.40 - Martelo de agulhas
Como os laminados de CFRP foram fornecidos na forma de um rolo com um comprimento
aproximado de 10 metros, foi necessário proceder ao seu corte, de acordo com as dimensões
desejadas, sendo utilizado uma serra eléctrica para a função em questão. De modo a melhorar
a aderência entre o laminado e a resina, a superfície do laminado foi limpa com acetona, como
se observa na Figura 3.41.
A mistura dos dois componentes, visível na Figura 3.42, foi feita com recurso a um misturador
eléctrico, sendo que se utilizou a totalidade do conteúdo das embalagens na mistura,
perfazendo uma relação entre componentes A e B de 4:1, tal como indicado pelo fabricante.
Figura 3.41 - Limpeza do laminado com acetona Figura 3.42 - Mistura dos componentes da resina
Após a conclusão da mistura da resina procedeu-se à aplicação da resina no betão e no
laminado. A espessura da resina a utilizar tem grande relevância no desempenho do laminado
como reforço estrutural, tendo em conta os valores recomendados pelo fabricante [51] foi
determinado que esta espessura deveria rondar os 3 milímetros. Assim sendo, aplicou-se a
resina no betão (Figura 3.43), para regularizar a sua superfície, com um bom espalhamento
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
65
para garantir que esta apresentava a mínima espessura possível. A resina aplicada no
laminado sofreu um maior controlo na medida em que foram feitas várias medições da
espessura em diversos pontos do laminado. Este controlo foi efectuado através da verificação
da profundidade de penetração de um pequeno objecto, semelhante a um prego, na resina.
Inicialmente, foi aplicada no laminado uma espessura de resina em excesso (Figura 3.44),
procedendo-se a um processo iterativo de medição da profundidade da mesma e retirada de
camadas em excesso até se atingir a espessura desejada. Existindo já uma camada de resina
no betão, o valor desejado da espessura da resina no laminado rondou os 2 milímetros.
Figura 3.43 - Aplicação de uma camada de resina no betão
Figura 3.44 - Aplicação da resina no laminado
O laminado foi colocado na viga na posição pretendida, com algum cuidado, sendo seguro
pelas suas extremidades, como se pode verificar na Figura 3.45. Aquando da aplicação do
laminado na viga, procurou-se não exercer pressão excessiva sobre o laminado, de forma a
não alterar a espessura da resina, aplicando-se apenas uma pressão ligeira para libertação de
possíveis bolhas de ar. Na Figura 3.46 observa-se o aspecto final das vigas reforçadas com os
laminados de CFRP.
Figura 3.45 - Colocação dos laminados nas vigas
Figura 3.46 - Aspecto final das vigas após reforço
Programa experimental
66
3.6 Dimensionamento dos laminados de CFRP
Neste trabalho pretende-se realizar o reforço de vigas de betão armado através do incremento
da resistência das mesmas à flexão. O conhecimento das propriedades do elemento estrutural
a reforçar e dos materiais utilizados na operação de reforço são determinantes para o correcto
dimensionamento do reforço a aplicar.
O dimensionamento e verificação do sistema de reforço pode ser feito de maneiras distintas,
existindo exemplos de cálculo nos documentos ACI 440 2R-08 [44], em Bank [39], e no Fib 14
[43]. Tendo em conta que no ponto 2.3.4 deste trabalho o dimensionamento de laminados de
CFRP é apresentado com base nas recomendações do Fib 14, teve-se como referência o
mesmo documento no dimensionamento dos laminados de CFRP a utilizar na campanha
experimental. De mencionar ainda que este dimensionamento foi realizado antes da campanha
experimental pelo que as propriedades mecânicas dos materiais consideradas neste ponto não
têm em conta os resultados dos ensaios de resistência aos provetes dos materiais utilizados.
3.6.1 Resistência mecânica das vigas de betão armado
Como foi referido a campanha experimental tem como alvo de estudo seis vigas de betão
armado com 3,3 metros de comprimento com as dimensões e características apresentadas na
Figura 3.47 e na Tabela 3.5, onde, ycm corresponde ao centro de massa da secção da viga,
considerando o ponto de origem como a superfície superior da viga, e corresponde à
distância entre a superfície superior da viga e as armaduras longitudinais inferiores.
O betão utilizado nas vigas pertence à classe C20/25 e o aço é do tipo A500 NR,
apresentando-se as características mecânicas destes materiais na Tabela 3.6.
As condições de apoio das vigas de betão armado consistem numa viga simplesmente apoiada
com aplicação de cargas pontuais a ⅓ e ⅔ do vão, como se pode verificar na Figura 3.48.
Figura 3.47 - Secção transversal das vigas de betão armado
Tabela 3.5 - Características das vigas
ycm 12,47 cm
Área 0,078 m2
Inércia 6,99x10-4
m4
Recobrimento 2,0 cm
d 28,8 cm
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
67
Tabela 3.6 - Características mecânicas do betão e do aço
C20/25 A500
fck 20 MPa fyk 500 MPa
fcd 13,3 MPa fyd 435 MPa
fctm 2,2 MPa εyd 2,18 x 10-3
Ec 30 GPa Es 210 GPa
As (3Ø12) 3,39 cm2
Figura 3.48 - Condições de apoio e de carregamento das vigas e respectivos diagramas de momentos e esforços transversos
Com base nos dados anteriores é possível determinar o valor de cálculo do momento
resistente da viga de betão armado, MRd,
(3.6-1)
(3.6-2)
(3.6-3)
onde ω e μ são grandezas adimensionais que representam a percentagem mecânica de
armadura e o momento flector reduzido, respectivamente.
O esforço transverso resistente das vigas é igualmente relevante para este dimensionamento
na medida em que é necessário verificar se as vigas conseguem suportar o incremento de
esforços transversos resultantes das futuras de cargas aplicadas após a aplicação do reforço.
O valor de cálculo do esforço transverso resistente é dado pelo menor valor resultante das
expressões (3.6-4) e (3.6-5):
Programa experimental
68
(3.6-4)
(3.6-5)
Pelo que . Nas expressões (3.6-4) e (3.6-5)
corresponde à área de
armadura transversal por metro, é a igual a 0,9 , corresponde ao ângulo estimado de
propagação de esforços transversos (30º) e à largura da alma das vigas.
3.6.2 Capacidade resistente das vigas após reforço
O primeiro passo para o dimensionamento do laminado de CFRP consiste então na
determinação da resistência mecânica que a viga terá de assegurar após a operação de
reforço. Neste caso, o critério escolhido consistiu num acréscimo percentual mínimo de 30% do
valor de cálculo do momento flector resistente das vigas, sendo este valor calculado pela
seguinte expressão:
(3.6-6)
Em casos práticos o ACI 440 2R-08 [44] recomenda que seja verificada a seguinte condição,
(3.6-7)
de forma a garantir que a viga possui capacidade resistente suficiente para suportar as novas
cargas, caso existam problemas no laminado ou na sua ligação à viga devido a situações
acidentais. Em (3.6-7), corresponde ao valor nominal da máxima carga actuante na
viga original e e correspondem às futuras cargas permanentes e sobrecargas,
respectivamente.
3.6.3 Dimensões dos laminados de CFRP
Pretende-se utilizar laminados do tipo S&P Laminates CFK, existindo diferentes formatos
disponíveis consoante a sua área de secção e módulo de elasticidade. Estes diferentes
formatos podem ser observados na Tabela 3.7.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
69
Tabela 3.7 - Tipos e dimensões de laminados de CFRP da marca S&P [48]
Tipo de laminado Área de secção
[mm2] 150/2000
(Ef =150 GPa) 200/2000
(Ef =200 GPa)
50 x 1,2 - 60
50 x 1,4 50 x 1,4 70
60 x 1,4 60 x 1,4 84
80 x 1,2 - 96
80 x 1,4 80 x 1,4 112
90 x 1,4 90 x 1,4 126
100 x 1,2 - 120
100 x 1,4 100 x 1,4 140
120 x 1,2 - 144
120 x 1,4 120 x 1,4 168
A partir do valor obtido em (3.6-6) é possível determinar a área de secção do laminado de
CFRP da seguinte forma:
(3.6-8)
(3.6-9)
onde corresponde à armadura de aço necessária para responder às novas solicitações e
corresponde a uma modificação do valor de devido à consideração do laminado na
secção da viga, sendo, neste caso, considerada uma estimativa no valor de 0,3 m. Esta
estimativa pode ser considerada aceitável, considerando o valor exacto de:
(3.6-10)
Quando tal não se verificar deve-se repetir o processo iterativamente até se atingir a solução
desejada. Em (3.6-10), refere-se à armadura de aço adicional a colocar e à distância
entre a superfície superior da viga e esta armadura adicional. Como a armadura adicional
consiste em laminados colocados na face inferior da viga, é igual à altura da viga.
Por fim, a área de secção do laminado de CFRP, é calculada pela seguinte expressão:
(3.6-11)
Programa experimental
70
na qual se refere ao valor de cálculo da tensão de rotura do laminado de CFRP. O valor do
mesmo foi calculado admitindo que a deformação máxima admissível do laminado, , é de
0,65% e adoptando um laminado com módulo de elasticidade, , de 150 GPa, tendo, desta
maneira, um maior leque de formatos de laminados disponíveis (ver Tabela 3.7).
(3.6-12)
Com base no valor obtido em (3.6-11) verifica-se que se pode utilizar o laminado de secção (50
x 1,2) mm2, que possuiu uma área de secção de 60 mm
2.
3.6.4 Comprimento dos laminados de CFRP
Com o intuito de optimizar a utilização dos laminados de CFRP deve-se determinar o
comprimento necessário dos mesmos, tendo em conta as tensões existentes. O primeiro
aspecto em consideração assenta na necessidade de o laminado cobrir, no mínimo, a zona
onde o momento actuante é superior ao momento resistente original, ou seja, a zona da viga
onde as armaduras originais não são suficientes para suportar as novas cargas. Esta zona, de
comprimento , encontra-se indicada na Figura 3.49.
Figura 3.49 - Delimitação da zona
O cálculo do valor de pode ser efectuado da seguinte forma:
(3.6-12)
A este comprimento deve ser adicionado o valor de , obtendo-se o seguinte resultado:
(3.6-13)
Por fim, deve-se ainda considerar um comprimento final de amarração, b,máx, com base na
expressão (2.3-11):
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
71
Este valor corresponde a um valor máximo de comprimento de amarração, visto ter sido
demonstrado que prolongamentos do laminado não oferecem qualquer aumento de resistência
à ligação laminado-betão. Considerando então este último resultado, o comprimento total do
laminado de CFRP perfaz o seguinte valor:
(3.6-14)
3.6.5 Verificações de segurança
Neste ponto de situação, em que se encontram definidas todas as características dimensionais
do laminado de CFRP é necessário verificar que a viga reforçada vai apresentar o modo de
rotura desejado, nomeadamente, a rotura por compressão do betão.
Tendo em conta as abordagens de dimensionamento mencionadas neste trabalho, no ponto
2.3.4, recorreu-se à terceira abordagem para verificação da ligação. Assim, a primeira
verificação tem o intuito de procurar evitar o efeito de peel-off do laminado na zona de
amarração. Para tal, é necessário verificar que as forças de tracção no laminado, na zona de
amarração, não ultrapassam um limite de resistência, , com base na expressão (2.3-9):
em que representa um coeficiente de monolitismo, assumido-se o valor 1 para um
monolitismo perfeito, corresponde a um valor representativo das condições de aplicação do
laminado e refere-se a um valor que representa a relação entre a largura da base da viga e
a largura do laminado usando a expressão (2.3-10):
A força de tracção existente no laminado, , é determinada pela seguinte expressão:
(3.6-15)
Programa experimental
72
Desta forma, verifica-se que o comprimento e as dimensões da secção do laminado são
suficientes para evitar a ocorrência do fenómeno de peel-off. Os valores de e
considerados na expressão anterior correspondem aos seus valores na zona anterior à zona
de amarração, sendo, portanto, calculado da seguinte forma:
(3.6-16)
Nas restantes zonas da viga deve-se realizar a verificação das tensões de corte na ligação
laminado-betão, para se garantir que esta se mantém intacta durante o carregamento. Para tal,
a seguinte condição deve ser verificada:
(3.6-17)
O valor de pode ser calculado com recurso à formula mencionada em (2.3-14):
Quanto ao valor de , este possui duas maneiras distintas de se calcular, consoante a zona da
viga que se considera, como se pode verificar nas expressões (2.3-12) e (2.3-13). Com base
nestas expressões e tendo em conta que não existe esforço transverso actuante no terço
central do vão da viga, é necessário determinar o ponto da viga a partir do qual as armaduras
se encontram em cedência, de forma a assim se confirmar a necessidade de aplicar a
verificação referida em (2.3-12). Este ponto pode ser determinado da seguinte forma:
(3.6-18)
(3.6-19)
(3.6-20)
Este resultado mostra que as armaduras se encontram em cedência numa zona onde ainda se
verifica a existência de esforço transverso actuante, pelo que a verificação através da
expressão (2.3-12) se torna válida. Apresenta-se, então, a verificação das tensões de corte na
ligação laminado/betão da seguinte forma:
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
73
Face a esta situação, pode-se admitir que existe o risco de se verificar um arranque prematuro
do laminado. Assim sendo, optou-se por alterar o formato do laminado de forma a aumentar a
largura do mesmo. Foi então escolhido um laminado com uma largura de 80 mm e uma
espessura de 1,4 mm, tendo esta escolha sido definida por disponibilidade do fabricante. Para
o critério de aumento mínimo do Mrd de 30%, são verificadas as seguintes tensões de corte:
Apesar de, na zona em que o aço está em cedência, o valor da tensão de corte continuar a ser
superior ao valor de determinado anteriormente, poderá ser observado mais à frente que
os valores de resistência à tracção do betão apresentados pelos provetes correspondentes
indicam que a classe de resistência do betão é na realidade de C25/30. Assim sendo, o valor
de será de 2,16 MPa, pelo que, dada a maior proximidade de valores de e e não
sendo desejável a aplicação de um reforço excessivo nas vigas, determinou-se que a secção
80 x 1,4 mm2 do laminado de CFRP seria aceitável.
Realizando as restantes verificações para o novo formato escolhido obtêm-se os seguintes
resultados:
Programa experimental
74
3.6.6 Modo de rotura
As vigas de betão armado reforçadas com laminados podem apresentar diferentes modos de
rotura, caso a ligação entre o laminado e o betão seja garantida durante todo o carregamento.
Existem dois modos de rotura principais, que consistem no esmagamento do betão e na rotura
do laminado, sendo que estes podem ocorrer antes ou após a cedência das armaduras:
Modo 1a: Esmagamento do betão após a cedência do aço;
Modo 1b: Esmagamento do betão antes da cedência do aço;
Modo 2a: Rotura do laminado FRP após a cedência do aço;
Modo 2b: Rotura do laminado FRP antes da cedência do aço.
De entre os modos de rotura referidos, os modos 1a e 2a são os que têm uma maior
probabilidade de ocorrer devido à relação entre as propriedades mecânicas do laminado e do
aço, na medida em que o FRP possui, na maioria dos casos, um módulo de elasticidade
inferior e maior capacidade de deformação, comparativamente com a extensão de cedência do
aço, estando ambos os materiais em posições próximas nas vigas. Tendo conhecimento das
características das vigas e do reforço a aplicar, é possível prever qual dos modos de rotura se
vai verificar.
Para o modo de rotura 1a admite-se que as forças actuantes na equação de equilíbrio são as
seguintes, desprezando a contribuição das armaduras longitudinais superiores:
(3.6-21)
(3.6-22)
(3.6-23)
Assim sendo, apresenta-se, desta forma, a subsequente equação de equilíbrio, e a
correspondente determinação da posição da linha neutra:
(3.6-24)
Determinada a posição da linha neutra, é possível calcular as extensões do aço e do laminado,
de forma a confirmar a existência do modo de rotura considerado.
(3.6-26)
(3.6-25)
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
75
Como se pode observar, ambas as condições são respeitadas, pelo que é válido afirmar-se
que a rotura será por compressão do betão.
Assim sendo, o valor do momento resistente da viga, após reforço, pode ser determinado da
seguinte forma
(3.6-27)
De notar que este valor só será atingido se a ligação do laminado ao betão se mantiver até se
atingir esta carga de rotura, tendo, ao mesmo tempo em conta que, para estas cargas as
verificações de segurança da ligação não são respeitadas.
Programa experimental
76
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
77
4 Resultados e discussão
4.1 Ensaios aos provetes
São apresentados neste ponto os resultados dos ensaios de resistência mecânica dos provetes
retirados dos materiais utilizados, nomeadamente os cubos e cilindros de betão e os varões de
aço, destes provetes, de modo a poder controlar a qualidade do betão e correlacionar os
resultados obtidos com os valores de resistência dos materiais considerados nos pontos
anteriores.
4.1.1 Provetes cúbicos de betão
A execução dos provetes cúbicos de betão teve o propósito de realizar sobre os mesmos
ensaios de resistência à compressão. No total foram fabricados 15 cubos com as dimensões
referidas de 15 centímetros de aresta. O carregamento dos provetes foi levado a cabo por uma
prensa, que aplica a carga através da aproximação de duas placas de superfície lisa, como é
visível na Figura 4.1.
Figura 4.1 - Ensaio de compressão a um cubo de betão
Passados 28 dias após a betonagem das vigas e dos provetes, realizou-se os primeiros
ensaios de compressão. Para tal foram utilizados 3 cubos, sendo que os resultados destes
ensaios são visíveis na Tabela 4.1, onde fcm corresponde ao valor médio das tensões de rotura
dos cubos.
Resultados e discussão
78
Tabela 4.1 - Resultados dos ensaios de compressão nos provetes cúbicos aos 28 dias
Cubos Peso (g) Carga (kN) Tensão (MPa)
X1 7861,5 711,0 31,6
X2 7853,5 693,1 30,8
X3 7891,2 688,7 30,6
fcm 31,0
Visto a prensa aplicar um esforço normal aos cubos, a tensão existente nos cubos é
simplesmente o resultado do quociente entre a carga aplicada e a área de contacto do cubo, ou
seja, a área da sua face.
Com base nestes resultados pode ser calculado o valor característico da resistência à
compressão do betão, , determinado da seguinte forma,
(4.2-1)
na qual representa o desvio padrão das amostras consideradas, apresentando-se de seguida
o seu cálculo:
(4.2-2)
Deve-se ter em atenção que o cálculo do desvio padrão é feito para uma amostra reduzida e
que tal facto pode afectar a exactidão e credibilidade do valor obtido. Com base no valor de
obtido e no facto de os betões das classes C20/25 e C25/30 apresentarem o como 25 e 30
MPa, respectivamente, chega-se à conclusão que nos cálculo futuros deve-se considerar o
betão utilizado na campanha experimental como pertencente à classe de resistência C25/30.
Complementarmente, os restantes cubos foram ensaiados em grupos de três, em diferentes
alturas da campanha experimental, de modo a observar as variações da resistência do betão
ao longo do tempo. Os valores médios obtidos nestes ensaios são visíveis na Figura 4.2.
Figura 4.2 - Evolução da tensão resistente do betão à compressão ao longo do tempo
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 50 100 150 200 250 300 350
Te
nsã
o [M
Pa
]
Dias
Rotu
ra d
a v
iga V
1
Rotu
ra d
a v
iga V
2
Rotu
ra d
as v
igas V
3,V
4,V
5 e
V6
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
79
Como seria de esperar, verificou-se um ligeiro aumento da resistência do betão com o tempo.
4.1.2 Provetes cilíndricos de betão
A caracterização da resistência à tracção do betão utilizado é possível graças aos ensaios
realizados sobre os provetes cilíndricos de betão. Tal como se verificou para os provetes
cúbicos, também foram criados 15 provetes cilíndricos, possuindo 30 centímetros de altura e
15 centímetros de diâmetro. Foram realizados sobre os provetes cilíndricos ensaios de
compressão diametral, recorrendo à mesma prensa, onde o provete se encontra deitado de
forma que a carga seja aplicada na face lateral do provete cilíndrico, como é possível observar
na Figura 4.3
Figura 4.3 - Ensaio de compressão diametral a um cilindro de betão.
O plano de ensaios dos provetes cilíndricos foi idêntico ao dos provetes cúbicos, sendo,
inicialmente, ensaiados três provetes com 28 dias de idade. Os resultados destes ensaios são
visíveis na Tabela 4.2, onde fctm corresponde ao valor médio das tensões máximas de tracção
do betão.
Tabela 4.2 - Resultados dos ensaios de compressão diametral dos provetes cilíndricos aos 28 dias
Cilindros Peso (g) Carga (kN) Tensão (MPa)
X1 12443,6 197,0 2,8
X2 12539,3 165,0 2,3
X3 12442,1 180,1 2,6
fctm 2,6
Resultados e discussão
80
Dadas as condições de carregamento dos provetes cilíndricos, a tensão de tracção obtida nos
mesmos, , é calculada através da seguinte expressão [52],
(4.2-5)
onde P corresponde à carga aplicada e refere-se ao diâmetro da base dos provetes
cilíndricos.
Para a determinação da classe de betão, relativamente aos ensaios do betão à tracção, utiliza-
se como referência o valor médio da resistência do betão à tracção, ou fctm. Tendo em conta o
valor de retirado das amostras dos provetes e que, para as classes de betão C20/25 e
C25/30, o mesmo valor assume-se como 2,2 e 2,6 MPa, respectivamente, verifica-se que o
betão utilizado insere-se mais uma vez na classe de betão C25/30 devido à elevada
proximidade dos seus respectivos valores de .
No que toca aos restantes provetes cilíndricos, estes pretenderam demonstrar a variação da
resistência à tracção do betão com o tempo, sendo que, como já se referiu, o plano de ensaios
foi idêntico ao dos provetes cúbicos. Assim sendo, os valores médios obtidos nestes ensaios
são visíveis na Figura 4.4.
Figura 4.4 - Evolução da tensão resistente do betão à tracção ao longo do tempo
A análise da Figura 4.4 permite observar que, através das variações observadas, a resistência
do betão à tracção não se diferenciou consideravelmente do valor médio da resistência do
betão à tracção aos 28 dias, pelo que, no geral, a média da totalidade dos valores registados,
encontra-se bastante próximo da resistência obtida aos 28 dias.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
0 50 100 150 200 250 300 350
Te
nsã
o [M
Pa
]
Dias
Rotu
ra d
a v
iga V
1
Rotu
ra d
a v
iga V
2
Rotu
ra d
as v
igas
V3,V
4,V
5 e
V6
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
81
4.1.3 Varões de aço
Os ensaios realizados sobre as amostras dos varões de aço utilizados nas vigas de betão
armado tiveram como principal finalidade a confirmação das características mecânicas das
armaduras fornecidas, nomeadamente a sua tensão de cedência. Os ensaios foram levados a
cabo por uma máquina da marca Instron que, tendo os varões seguros com “garras”, provoca
esforços de tracção, através do afastamento das mesmas.
No total, foram ensaiadas seis amostras de varões, três varões de 8 milímetros, aplicados nas
armaduras de compressão, e três varões de 12 milímetros, aplicados nas armaduras de
tracção, pelo que os resultados dos seus ensaios estão representados nas Figuras 4.5 e 4.6,
respectivamente.
Figura 4.5 - Diagrama tensão-deslocamento dos ensaios à tracção dos varões de 8 mm
Figura 4.6 - Diagrama tensão-deslocamento dos ensaios à tracção dos varões de 12 mm
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 5 10 15 20 25
Te
nsã
o [M
Pa
]
Deslocamento [mm]
A8-1
A8-2
A8-3
0
100
200
300
400
500
600
700
0 5 10 15 20 25 30 35
Te
nsã
o [M
Pa
]
Deslocamento [mm]
A12-1
A12-2
A12-3
Resultados e discussão
82
Na Tabela 4.3 encontram-se indicados os valores médios das tensões de cedência (fsy) e
tensões últimas (fsu) obtidas nos ensaios de resistência aos varões de aço.
Tabela 4.3 - Valores médios das tensões de cedência e tensões últimas dos varões ensaiados
Diâmetro (mm) fsy (MPa) fsu (MPa)
8 583,1 691,4
12 535,4 646,3
Como já foi referido neste trabalho, foi considerada a utilização de armaduras da classe A500
NR, pelo que os resultados dos ensaios, visíveis nas Figuras 4.5 e 4.6 e os valores da Tabela
4.3 permitem confirmar esse facto, na medida em que o comportamento observado é bastante
semelhante ao que seria esperado por parte de um aço da classe referida. Como curiosidade,
regista-se o facto de os varões de 8 milímetros não apresentarem um patamar de cedência que
é visível nos varões de 12 milímetros, ou seja, os varões foram sujeitos a tratamentos de
endurecimento diferentes.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
83
4.2 Ensaios às vigas de betão armado
No seguimento da descrição do programa experimental levado a cabo neste trabalho,
apresentam-se, neste ponto, os resultados obtidos nos ensaios de carregamento das vigas de
betão armado. É igualmente feita uma análise do comportamento das vigas, face às diferentes
fases da campanha. Nos seguintes pontos é feita a seguinte classificação das vigas:
V1 e V2 – vigas padrão;
V3 e V4 – vigas apenas reforçadas;
V5 e V6 – vigas reparadas e reforçadas.
4.2.1 Vigas padrão
Os primeiros ensaios de carregamento incidiram sobre duas vigas de betão armado, no seu
estado original. Como já foi referido, estas vigas foram utilizadas como referência do
comportamento original do betão armado e para observação do desenvolvimento da
fendilhação no mesmo.
Apresenta-se na Figura 4.7 o diagrama dos deslocamentos registados pelos deflectómetros, ao
longo do carregamento durante o 1º ensaio, juntamente com os correspondentes valores
teóricos a meio-vão. Estes valores teóricos foram determinados através da fórmula de cálculo
da flecha instantânea, , que se apresenta de seguida, não considerando a acção da fluência:
(4.2-1)
Esta expressão é referente ao método dos coeficientes globais, na qual é um coeficiente
que tem em conta o estado de fendilhação e o efeito das armaduras, e refere-se à flecha
elástica. Para a determinação do coeficiente foram consideradas as características físicas e
mecânicas das vigas e o seu momento de fendilhação (Mcr = 9,31 kNm). Para o cálculo de
foi aplicado o principio dos trabalhos virtuais na determinação da seguinte expressão:
(4.2-2)
Aplicando as fórmulas (4.2-1) e (4.2-2) a diferentes níveis de carregamento foi possível delinear
o desenvolvimento da deformação das vigas a meio-vão. O cálculo das deformações foi
realizado para carregamentos iguais ou inferiores a 100 kN, carga esperada para a cedência
das armaduras, determinada analiticamente com base nos resultados dos ensaios de
resistência aos materiais utilizados (Mr = 50,3 kNm)
Resultados e discussão
84
Figura 4.7 - Deformações registadas pelos deflectómetros na viga V1
Nas curvas experimentais da Figura 4.7 é possível observar os três estados principais do
comportamento de vigas de betão armado. Inicialmente, a viga encontra-se num estado não
fendilhado, com um comportamento elástico, até perto dos 15 kN, onde se verifica a
fendilhação do betão. Nesta fase as vigas apresentam uma rigidez consideravelmente elevada
que ronda os 40 kN/mm. A passagem para o estado fendilhado é comprovada pela mudança
de inclinação das curvas, ou seja, pela perda considerável de rigidez, para perto dos 7 kN/mm,
mas mantendo o comportamento linear. Por fim, perto dos 110 kN, verifica-se a cedência das
armaduras, passando a assumir um comportamento plástico, onde a viga começa a apresentar
um aumento considerável da flecha, para um acréscimo de carregamento reduzido. É também
verificado, como seria de esperar, uma maior flecha a meio-vão, comparativamente com os
pontos de carregamento, aspecto confirmado pela menor inclinação da linha correspondente
ao deflectómetro central, antes da cedência. Neste caso, e como será verificado em vários
resultados posteriores, o alcance inferior dos deflectómetros laterais impede o registo de
valores de deslocamento superiores. Comparativamente com os valores teóricos, parece existir
uma concordância bastante satisfatória entre os valores esperados e os valores obtidos
experimentalmente até à cedência das armaduras.
Na Figura 4.8 apresenta-se o diagrama dos deslocamentos registados pelos deflectómetros, ao
longo do carregamento da viga V2, juntamente com os valores teóricos do deslocamento da
viga a meio-vão.
Os resultados obtidos neste ensaio, no que toca à deformação da viga, são bastantes
semelhantes aos verificados no primeiro ensaio, nomeadamente, no comportamento do betão
e na diferença entre deflectómetros. No entanto, verifica-se alguma diferença no valor de carga
para o qual as armaduras entram em cedência, na medida em que, neste ensaio, este
fenómeno acontece por volta dos 100 kN, como era espectável, enquanto que no primeiro
0
20
40
60
80
100
120
140
0 20 40 60 80 100
Ca
rga
[kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central
Desl. Esquerdo
Desl. Direito
Desl. Central Teórico
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
85
ensaio tal só aconteceu para cargas perto dos 110 kN. Neste diagrama é, de certa forma mais
visível a recuperação da viga, sem deformações residuais consideráveis, após o
descarregamento da viga durante o estado elástico. De notar mais uma vez a semelhança
entre os resultados obtidos experimentalmente e os valores determinados analiticamente.
Figura 4.8 - Diagrama de deformações registadas na viga V2.
Para comparação entre os resultados obtidos no 1º e 2º ensaio, pode-se observar na Figura
4.9 as medições obtidas nos deflectómetros centrais de ambos os ensaios e os valores teóricos
da deformação a meio-vão. A observação desta figura permite confirmar a proximidade entre
os valores teóricos e os obtidos experimentalmente e a diferença entre as cargas de cedência
das vigas V1 e V2. É também possível detectar uma rigidez ligeiramente inferior por parte da
segunda viga tornando-a susceptível a maiores deformações.
Figura 4.9 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros nas vigas V1 e V2
0
20
40
60
80
100
120
0 20 40 60 80 100
Ca
rga
[kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central
Desl. Esquerdo
Desl. Direito
Desl. Central Teórico
0
20
40
60
80
100
120
140
0 20 40 60 80 100
Carg
a [kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central (V1)
Desl. Central (V2)
Desl. Central Teórico
Resultados e discussão
86
Visualmente, a deformação das vigas não foi muito perceptível anteriormente à cedência das
armaduras que, como é possível observar nas medições dos deflectómetros, praticamente não
ultrapassa os 15 mm. Como já foi referido houve um aumento significativo da deformação das
vigas após a cedência das armaduras, pelo que a deformação observada se tornou bastante
evidente como se pode verificar na Figura 4.10.
Figura 4.10 - Deformação da viga V1 perto da sua rotura
Na Figura 4.11 apresentam-se os valores obtidos pelos extensómetros colocados nas
armaduras longitudinais inferiores das vigas, nomeadamente, os extensómetros C e D (Figura
3.15), sendo também possível observar na mesma figura a extensão teórica destas armaduras.
Figura 4.11 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais superiores das vigas V1 e V2
Tal como é verificado nos diagramas de deslocamentos das vigas, é possível caracterizar o
comportamento das mesmas através dos diagramas de extensão das armaduras inferiores. Os
diferentes estados de comportamento são identificados de forma idêntica, embora aqui, para
0
20
40
60
80
100
120
0 2000 4000 6000 8000 10000
Carg
a [kN
]
Extensão [μm/m]
Ext. C (V1)
Ext. D (V1)
Ext. C (V2)
Ext. D (V2)
Ext. Teórica
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
87
além da mudança da inclinação nos valores registados devido à fendilhação do betão, é
possível também observar um incremento súbito das extensões das armaduras, resultante da
transmissão das tensões existentes no betão para as armaduras aquando da fendilhação.
Considerando as características do aço e os resultados obtidos nos testes de resistência dos
varões de aço, a cedência das armaduras ocorreu perto da extensão prevista de 2700 m/m
( ). Ao observar as Figuras 4.9 e 4.11 é possível notar que a cedência das armaduras
não teve um efeito imediato sobre a rigidez das vigas. De facto a perda da rigidez das vigas
verifica-se apenas para cargas ligeiramente superiores às registadas na cedência das
armaduras. A cedência das armaduras observada na Figura 4.11 refere-se apenas à secção a
meio-vão, onde foram feitas as medições, pelo que os deslocamentos da viga devem ser
apenas afectados quando a cedência das armaduras se estende às zonas adjacentes. Por
outro lado, a cedência das armaduras a meio-vão deve ter provocado uma redução imediata da
rigidez das vigas, embora consideravelmente reduzida e que, aliada à escala do diagrama da
Figura 4.19, a torna de difícil visibilidade.
O desenvolvimento das extensões teóricas das armaduras de tracção ( ), foi determinado
através da seguinte expressão,
(4.2-3)
na qual, representa a posição da linha neutra, que assume a cota do centro de massa
durante o estado não fendilhado, e que, para o estado fendilhado pode ser determinado
através da seguinte expressão,
(4.2-4)
Já refere-se à curvatura da secção, determinada da seguinte forma,
(4.2-5)
onde a inércia correspondente ao estado fendilhado, , se calcula da seguinte forma,
(4.2-6)
Analisando os resultados determinados analiticamente e os obtidos experimentalmente, pode-
se afirmar que estes não são muito díspares, apresentando valores semelhantes, sendo que a
diferença entre aqueles valores pode ser resultado de pequenas deformações residuais, fruto
das acções de carga e descarga das vigas e dos inevitáveis erros experimentais.
Resultados e discussão
88
Na Figura 4.12 apresentam-se os valores obtidos pelos extensómetros colocados nas
armaduras longitudinais superiores das vigas, nomeadamente, os extensómetros A e B. É
também apresentada, nesta figura, a extensão teórica destas armaduras de compressão.
Tendo inicialmente apenas em conta os resultados obtidos experimentalmente é possível
observar um desenvolvimento, de certa forma linear, da extensão das armaduras.
Considerando a perda de rigidez observada na Figura 4.11 aquando da fendilhação do betão,
seria de esperar que essa perda se verificasse também nas armaduras superiores. No entanto,
a subida da linha neutra após a fendilhação do betão produz um efeito contrário ao da perda de
rigidez, não sendo notável uma mudança de inclinação na extensão das armaduras superiores.
Apesar dos valores de extensões registados pelos extensómetros A e B apresentarem um
desenvolvimento semelhante, verifica-se, em ambos os ensaios, uma diferença nos respectivos
valores que, pode ser resultado de alguma falta de simetria na aplicação da carga e pela menor
precisão relativa das leituras dos extensómetros para esforços de compressão, dado que os
valores obtidos são reduzidos. Para carregamentos elevados nota-se ainda a “quebra” nos
valores da extensão das armaduras que pode ser resultado do efeito do esmagamento do
betão nas leituras dos extensómetros.
Figura 4.12 – Extensões registadas nas armaduras longitudinais superiores das vigas V1 e V2
Uma primeira análise da Figura 4.12 permite detectar uma considerável diferença entre os
valores obtidos experimentalmente e os determinados analiticamente. O cálculo das extensões
teóricas destas armaduras foi análogo ao cálculo efectuado para as armaduras de tracção. Os
valores da extensão das armaduras superiores registados experimentalmente sugerem uma
posição da linha neutra, no estado fendilhado, inferior à determinada analiticamente. Assim,
com base nos resultados observados nas Figuras 4.11 e 4.12, apresenta-se na Figura 4.13 a
posição da linha neutra ao longo dos carregamentos de ambos os ensaios, tendo como origem
a superfície superior das vigas.
0
20
40
60
80
100
120
-250 -200 -150 -100 -50 0 50
Carg
a [kN
]
Extensão [μm/m]
Ext. A (V1)
Ext. B (V1)
Ext. A (V2)
Ext. B (V2)
Ext. Teórica
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
89
Neste diagrama é possível observar que a linha neutra se encontra, inicialmente, relativamente
próxima da cota do centro de massa da viga, verificando-se uma alteração súbita para níveis
superiores aquando da fendilhação (Carga de ≈ 15 kN). Com o aumento de carga
subsequente, a linha neutra passa a assumir uma distância à superfície superior de
aproximadamente 6,5 cm e posteriormente, distâncias ainda menores após se verificar a
cedência das armaduras. Quando o betão atinge o seu limite linear elástico, a linha neutra sobe
mais uma vez, permitindo uma melhor distribuição de tensões sobre a zona comprimida. Este
facto, embora com algumas reservas, pode ser justificativo da quebra das extensões das
armaduras para carregamentos elevados, caso a linha neutra se tenha posicionado acima
destas armaduras, que provocaria uma passagem de esforços de compressão para esforços
de tracção.
Figura 4.13 - Posição da linha neutra ao longo do carregamento das vigas V1 e V2
Relativamente à diferença entre os resultados experimentais e os determinados analiticamente,
deve-se fazer notar o facto de a cota da linha neutra teórica e a cota das armaduras superiores
serem quase idênticas. Este resultado, aliado ao facto de se estar perante uma grandeza de
valores de extensões obtidas nas armaduras inferiores bastante reduzida, comparativamente
com os valores de extensões que se podem observar na Figura 4.11, permite concluir que
pequenos desvios verificados na posição da linha neutra, das armaduras ou mesmo na
orientação dos próprios extensómetros, aparentam provocar grandes discrepâncias nos
resultados finais.
Outro método de análise consiste na representação da relação momento-curvatura ao longo do
carregamento. Esta relação pode ser observada na Figura 4.14, tanto para o comportamento
verificado experimentalmente como para os valores determinados analiticamente, tendo como
base os valores da extensão das armaduras. É de evidenciar que, de acordo com as condições
de apoio e de carregamento, o valor do momento existente corresponde a metade da carga
aplicada.
0
20
40
60
80
100
120
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25
Carg
a [kN
]
Posição [m]
Viga V1
Viga V2
Lin
ha n
eutr
a te
órica n
o e
sta
do I
Lin
ha n
eutr
a te
órica n
o e
sta
do I
I
Resultados e discussão
90
O desenvolvimento da curvatura é semelhante ao da extensão das armaduras inferiores,
embora neste caso seja mais evidente a diferença entre os resultados experimentais e
analíticos, apesar de ainda se poderem considerar relativamente próximos. Tal como foi
referido a diferença de resultados pode ser resultado das acções de carga e descarga, embora
seja necessário reconhecer uma rigidez das vigas inferior à que seria esperada.
Figura 4.14 - Relações momento-curvatura nas vigas V1 e V2
No que respeita à fendilhação das vigas, a abertura das fendas foi monitorizada ao longo do
carregamento, de acordo com o procedimento descrito no ponto 3.5.2. Os resultados das
medições realizadas encontram-se representados na Figura 4.15, juntamente com os valores
característicos da abertura de fendas, determinados de acordo com o método indicado no
ponto 2.2.1 deste trabalho.
Figura 4.15 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V1 e V2
0
10
20
30
40
50
60
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
Mo
me
nto
[kN
m]
Curvatura [x10-6 m-1]
Viga V1
Viga V2
Teoria
0
20
40
60
80
100
120
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Carg
a [kN
]
Abertura de fendas [mm]
Viga V1
Viga V2
Wk
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
91
Apesar dos resultados do primeiro ensaio serem pouco representativos, visto apenas terem
sido realizadas medições para metade do carregamento, é valido afirmar que existe uma certa
proximidade nas medições realizadas em ambos os ensaios. O aumento súbito da abertura das
fendas para um carregamento perto de 100 kN é uma consequência da cedência das
armaduras e do seu comportamento plástico. Relativamente aos valores característicos da
abertura de fendas, embora sejam ligeiramente mais reduzidos, comparativamente com as
medições efectuadas, as variações da abertura das fendas ao longo do carregamento, para as
medições efectuadas e os valores determinados analiticamente, são algo similares. É
necessário também ter em conta a reduzida grandeza das diferenças observadas e a elevada
dispersão que está associada ao processo de fendilhação.
Com base nestes resultados, e devido ao critério de uma abertura de fendas mínima de 0,3 mm
para a realização da injecção de resinas, determinou-se que esta operação seria executada
com um carregamento perto dos 90 kN, com um controlo especial na extensão das armaduras
inferiores, de modo a não se verificar a cedência das armaduras.
Relativamente ao desenvolvimento da fendilhação, apesar de ser caracterizada por uma certa
aleatoriedade, esta desenvolveu-se de acordo com o padrão esperado, pelo que as primeiras
fendas surgiram na zona de meio-vão, propagando-se para as extremidades à medida que se
verificava o aumento da carga aplicada. As fendas a meio-vão eram praticamente verticais e a
sua inclinação aumentava à medida que estas se aproximavam dos apoios. Com a aplicação
de cargas mais elevadas, mas previamente à cedência das armaduras, foi possível também
observar algumas fendas devidas a esforço transverso, junto aos apoios, e a propagação das
fendas centrais até ao banzo da viga. A Figura 4.16 é retirada do ensaio à viga V2, onde se
pode observar alguns exemplos da fendilhação mencionada.
Figura 4.16 – Caracterização da fendilhação das vigas
Não se verificando sinais claros da ocorrência da rotura das armaduras, a viga foi
descarregada após se ter verificado o esmagamento significativo (por compressão) do betão.
Tal facto pode ser verificado nas Figuras 4.17 e 4.18 onde se observa a rotura das vigas V1 e
V2, respectivamente.
Resultados e discussão
92
4.2.2 Vigas apenas reforçadas
Visto o objectivo principal deste trabalho incidir sobre a necessidade da reparação das fendas
previamente a operações de reforço, a acção de fendilhação das vigas foi essencial para esta
campanha experimental. Tal como foi referido, esta fendilhação foi realizada aplicando um
carregamento de 90 kN sobre as vigas, sendo posteriormente descarregadas para aplicação do
reforço. Infelizmente, devido a erros no registo e gravação dos dados, não é possível
apresentar os valores das medições realizadas durante esta fase da campanha experimental.
No entanto, é possível afirmar que, durante o carregamento das vigas, as extensões das
armaduras de tracção foram controladas, pelo que estas não atingiram valores que indicassem
a ocorrência da cedência das armaduras. A juntar a este facto, após a descarga das vigas, não
se observou qualquer deformação residual das mesmas. Durante a aplicação de carga nas
vigas foram também monitorizadas as aberturas de fendas no betão pelo que se apresentam
na Figura 4.19 os valores registados neste âmbito e os valores característicos da abertura de
fendas.
Figura 4.19 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V3 e V4 previamente à aplicação de reforço
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35
Carg
a [kN
]
Abertura de fendas [mm]
Viga V3
Viga V4
Wk
Figura 4.17 - Rotura da viga V1 por compressão do betão
Figura 4.18 - Rotura da viga V2 por compressão do betão
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
93
No diagrama da Figura 4.19 há a registar uma maior proximidade entre os valores das
aberturas de fendas medidos e os seus valores característicos, por comparação com o
verificado nas vigas V1 e V2, proximidade essa que também pode ser considerada entre os
valores registados nas vigas V3 e V4, dado a grandeza dos valores presentes e a maior
dispersão inerente ao processo de fendilhação.
Apresenta-se na Figura 4.20 os resultados das medições dos deslocamentos da viga V3, com
o sistema de reforço aplicado, registados pelos deflectómetros, durante o carregamento até à
rotura.
Neste diagrama nota-se um comportamento de certa forma linear por parte da viga V3. No
início do carregamento, foram efectuadas duas acções de carga-descarga pelo que é válido
afirmar que houve uma recuperação praticamente total por parte da viga, voltando ao seu
estado inicial. Visto a viga ter sido reforçada após a fendilhação do betão e sem ter sofrido
qualquer tratamento, a rigidez da viga é constante, alterando-se para uma carga de
aproximadamente 120 kN, devido à cedência das armaduras. Este facto faz com que, a partir
deste ponto, apenas o laminado seja capaz de suportar os esforços de tracção adicionais e
portanto, se verifique uma quebra na rigidez da viga. Para uma carga ligeiramente inferior a
160 kN verifica-se a perda da ligação do laminado ao betão. Esta rotura deu-se através do
arranque do betão de recobrimento na zona de ancoragem do laminado, como é possível
verificar na Figura 4.21. Aquando da perda da ligação do laminado, verifica-se uma redução
súbita da carga aplicada, mantendo-se praticamente a deformação existente, excepto para o
deflectómetro direito, lado onde se verificou a perda da ligação. Sem a ligação do laminado, a
viga passou a ter um comportamento plástico para o carregamento seguinte, suportando
cargas semelhantes às verificadas durante o estado plástico das vigas padrão. Com a
progressão do carregamento, a perda da ligação foi-se propagando para a zona central da viga
e, visto a rotura da ligação ter ocorrido do lado direito da viga, é com alguma naturalidade que
a deformação registada tenha sido crescente do lado esquerdo para o direito.
Figura 4.20 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros na viga V3
0
20
40
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100
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160
180
0 10 20 30 40 50 60
Carg
a [kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central
Desl. Direito
Desl. Esquerdo
Resultados e discussão
94
Figura 4.21 - Rotura da ligação do laminado na viga V3
Na Figura 4.22 apresenta-se os resultados das medições dos deflectómetros no carregamento
até à rotura da viga V4.
Figura 4.22 - Deslocamentos registadas pelos deflectómetros na viga V4
Analisando este diagrama verifica-se um desenvolvimento dos deslocamentos bastante similar
ao obtido para a viga V3. Mais uma vez, as acções de carga e descarga para cargas de 15 e
30 kN não provocaram qualquer deformação residual e a cedência das armaduras aparenta ter
ocorrido para um nível de carregamento ligeiramente superior (≈140 kN). Relativamente à
rotura da ligação do laminado ao betão, esta verificou-se para uma carga ligeiramente superior
a 160 kN, ocorendo também do lado direito da viga, na zona de ancoragem, arrancando o
recobrimento de betão existente, como é visível na Figura 4.23. Pouco depois desta rotura da
ligação, verificou-se um descolamento do laminado ao nível da ligação laminado-resina, desde
a zona do arrancamento até à zona de meio-vão, que provocou o derrube do deflectómetro
direito e o aumento substancial das leituras no deflectómetro central, pelo que se procedeu ao
descarregamento da viga e à paragem da recolha de dados.
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80
100
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140
160
180
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Ca
rga
(kN
)
Deslocamento (mm)
Desl. Central
Desl. Esquerdo
Desl. Direito
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
95
Figura 4.23 - Rotura da ligação do laminado na viga V4
Para comparação entre ambos os ensaios, encontram-se representadas na Figura 4.24 os
deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais nas vigas V3 e V4.
Figura 4.24 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais nas vigas V3 e V4
Tendo apenas em consideração o período em que o conjunto viga+reforço actuou como um
todo, pode-se afirmar que o comportamento observado nas duas vigas é bastante semelhante,
verificando-se deformações quase coincidentes até ao ponto de cedência das armaduras, que
ocorreu num nível de carregamento ligeiramente superior para a viga V4, tal como a rotura da
ligação do laminado. Recuperando o valor mínimo de cálculo do momento resistente da viga
após reforço, MRd = 52,13 kNm, determinado na expressão (3.6-6), e que equivale a um valor
de carregamento de aproximadamente 105 kN, verifica-se que os valores da rotura da viga
ficaram acima do esperado, pelo que é valido afirmar que a resistência da ligação do laminado
ao betão foi superior à esperada, dadas as verificações de segurança consideradas no
dimensionamento dos laminados.
Com o intuito de mostrar o efeito do reforço com laminados de CFRP, pode-se observar na
Figura 4.25 os deslocamentos medidos nas vigas apenas reforçadas e nas vigas padrão.
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20
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60
80
100
120
140
160
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0 10 20 30 40 50
Carg
a [kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central (V3)
Desl. Central (V4)
Resultados e discussão
96
Figura 4.25 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais para as vigas V1, V2, V3 e V4
Da observação deste diagrama confirma-se o aumento considerável da resistência e rigidez da
viga, resultado do reforço com laminados de CFRP. Relativamente à resistência das vigas, as
vigas apenas reforçadas apresentam uma resistência 34% superior à das vigas padrão,
considerando em ambos os casos a carga máxima atingida. No âmbito da utilização em serviço
destas vigas, se for apenas considerado o comportamento linear das vigas padrão, ou seja,
considerando a carga de perda de rigidez das vigas padrão (≈ 100 kN) provocada pela
cedência das armaduras e a carga máxima atingida nas vigas apenas reforçadas, este
aumento de resistência passa para aproximadamente 49%. A rigidez inicial das vigas sofreu
um aumento substancial de aproximadamente 83%, tendo em conta que a rigidez inicial das
vigas reforçadas foi determinada através da rigidez secante para uma carga de 60 kN e nas
vigas padrão foi apenas considerado o estado fendilhado. É ainda visível que a aplicação do
sistema de reforço provocou uma perda de ductilidade nas vigas. Este facto é justificado pelo
comportamento mecânico do CFRP, que não possui patamar de cedência, ao contrário do aço,
aliado ao facto de se considerar a rotura das vigas reforçadas quando existe perda da ligação
do laminado, enquanto que nas vigas padrão a rotura é apenas determinada pelo
esmagamento do betão.
Na Figura 4.26 observa-se os valores obtidos pelos extensómetros colocados nas armaduras
longitudinais inferiores das vigas V3 e V4, nomeadamente, os extensómetros C e D (Fig. 3.15).
Analisando o diagrama da Figura 4.26 nota-se uma certa proximidade entre os valores obtidos,
excepto no caso do extensómetro C da viga V4. Uma diferença notável nos resultados obtidos
por este extensómetro consiste na falta de linearidade no início do carregamento, que pode ser
resultado duma falha inerente ao extensómetro ou duma distribuição de esforços de tracção
anormal entre as armaduras e o laminado, embora menos provável. Nos extensómetros D é
possível observar a cedência das armaduras para um carregamento perto dos 150 kN e para
uma extensão de aproximadamente 2500 m/m, não muito distante dos 2700 m/m esperados.
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0 20 40 60 80 100
Ca
rga
[kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central (V1)
Desl. Central (V2)
Desl. Central (V3)
Desl. Central (V4)
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
97
Após a rotura da ligação do laminado ao betão ocorre uma perda de carga que se reflecte
numa redução dos momentos flectores e, consequentemente, nas extensões, que também
sofrem uma redução.
Figura 4.26 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais inferiores das vigas V3 e V4
Na Figura 4.27 encontram-se representadas as extensões registadas pelos extensómetros
colocados nas armaduras superiores das vigas V3 e V4.
Figura 4.27 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais superiores das vigas V3 e V4
Nas medições das extensões das armaduras superiores, são poucos os resultados
considerados válidos. As medições realizadas pelo extensómetro A da viga V3 não se
encontram representadas, pois não representam minimamente o comportamento e a grandeza
de valores esperados, atribuindo-se este facto a erros de leitura. Já para o extensómetro B da
0
20
40
60
80
100
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0 1000 2000 3000 4000 5000
Ca
rga
[kN
]
Extensão [μm/m]
Ext. C (V3)
Ext. D (V3)
Ext. C (V4)
Ext. D (V4)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
-350 -300 -250 -200 -150 -100 -50 0
Carg
a [kN
]
Extensão [μm/m]
Ext. B (V3)
Ext. A (V4)
Ext. B (V4)
Resultados e discussão
98
viga V4, a validade dos resultados obtidos é também altamente questionável na medida em
que as extensões obtidas são consideravelmente inferiores ao esperado e, uma análise mais
pormenorizada do desenvolvimento das extensões ao longo do carregamento, permite
identificar aumentos de extensão intermitentes para aumentos de carregamento constantes.
Por fim, para os restantes extensómetros, os resultados são relativamente similares, pelo que
seriam mais próximos, se no extensómetro B da viga V3 não tivessem ocorrido os aumentos
súbitos nos valores da extensão, nomeadamente, quando se aplicou uma carga constante aos
15 kN e aos 100 kN. Assim sendo, considera-se os resultados obtidos no extensómetro A da
viga V4 como os que melhor representam o comportamento das armaduras longitudinais
superiores.
Comparativamente com as vigas padrão, os valores da extensão obtida são relativamente
semelhantes pois, apesar de haver um aumento da rigidez da viga após o reforço, que
provocaria menores extensões, a colagem do laminado provoca também uma descida da
posição da linha neutra, comparativamente com as vigas padrão. Alterando a expressão (4.2-4)
a posição da linha neutra nas vigas reforçadas é determinada da seguinte forma:
(4.2-7)
Tendo em consideração apenas os resultados das medições dos extensómetros considerados
válidos, ou seja, excluindo os valores obtidos pelo extensómetro A da viga V3 e pelo
extensómetro B da viga V4, apresenta-se na Figura 4.28 a posição da linha neutra ao longo
dos carregamentos das vigas V3 e V4.
Figura 4.28 - Posição da linha neutra ao longo do carregamento das vigas V3 e V4
Tal como aconteceu nas vigas padrão, a linha neutra situou-se abaixo da posição esperada,
sendo que se foi aproximando, com o decorrer do carregamento, de uma distância de 7,5 cm
da superfície superior da viga, considerando os valores obtidos na viga V4 como mais fiáveis.
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160
180
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25
Carg
a [kN
]
Posição [m]
Viga V3
Viga V4
Lin
ha n
eutr
a te
órica
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
99
Na Figura 4.29 encontra-se representada a relação momento-curvatura verificada durante o
carregamento das vigas V3 e V4 e das vigas padrão. Para esta representação foram também
apenas utilizados os resultados dos extensómetros considerados válidos mencionados
anteriormente.
Figura 4.29 - Relações momento-curvatura nas vigas V1, V2, V3 e V4
Pode-se afirmar que as curvaturas observadas em ambas as vigas são relativamente
semelhantes, apresentando um desenvolvimento linear, tal como verificado para os
extensómetros. A diferença entre resultados encontra-se algo amplificada devido aos desvios
observados nos extensómetros B da viga V3 e C da viga V4. Comparativamente com os
valores padrão, confirma-se o aumento de rigidez nas vigas reforçadas.
No que toca à fendilhação das vigas, quando ensaiadas até à rotura, antes de se iniciar a
aplicação de carga, procedeu-se à identificação das fendas existentes, resultantes do
carregamento efectuado antes da aplicação do reforço. Na Figura 4.30 pode ser observada
esta identificação, realizada na viga V3.
Figura 4.30 – Identificação das fendas na viga V3 previamente ao ensaio à rotura
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0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
Mo
me
nto
[kN
m]
Curvatura [x10-6 m-1]
Viga V1
Viga V2
Viga V3
Viga V4
Resultados e discussão
100
Tal como foi efectuado para as vigas padrão e no carregamento inicial de fendilhação destas
vigas, realizou-se a medição das aberturas de fendas durante o carregamento das vigas V3 e
V4 até á rotura (R), nos quais se obteve os resultados ilustrados na Figura 4.31, sendo também
visível os valores obtidos durante a fase de fendilhação das vigas (F).
Neste caso, é valido afirmar que os valores obtidos são semelhantes em ambas as vigas.
Comparando os valores das aberturas de fendas antes e depois da aplicação do reforço, é
válido afirmar que a colagem de laminados de CFRP provoca também uma diminuição dos
valores das aberturas de fendas, facto que era esperado, dado o aumento da quantidade de
reforço na zona traccionada.
Relativamente à propagação das fendas, não se verificou nenhuma diferença notável ao nível
do espaçamento entre fendas e altura das mesmas, comparativamente com o que se observou
nas vigas padrão, sendo visível nas Figuras 4.32 e 4.33 as fendas existentes nas vigas V3 e V4
pouco antes da rotura da ligação do laminado, respectivamente.
Figura 4.32 - Distribuição de fendas na viga V3 antes da sua rotura
Figura 4.31 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V3 e V4 na fase de fendilhação e nos ensaios até à rotura
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120
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35
Ca
rga
[kN
]
Abertura de fendas [mm]
Viga V3 (F)
Viga V4 (F)
Viga V3 (R)
Viga V4 (R)
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
101
Figura 4.33 – Distribuição de fendas na viga V4 antes da sua rotura
4.2.3 Vigas reforçadas e reparadas com injecção de resinas
De forma a ser possível tirar conclusões acerca do efeito de reparação de fendas previamente
a operações de reforço, procedeu-se à aplicação do carregamento das vigas, que foram então
reparadas com a injecção de resinas epóxidas e subsequentemente reforçadas com laminados
de CFRP. De modo a ser possível realizar a sua reparação, a criação de fendas no betão foi
efectuada de forma análoga à descrita para as vigas V3 e V4.
Na Figura 4.34 observa-se os valores das medições das aberturas de fendas registadas na
fase de fendilhação das vigas V5 e V6, juntamente com o valor característico da abertura de
fendas.
Figura 4.34 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V5 e V6 previamente à aplicação do reforço
Tal como se tinha verificado nas vigas V3 e V4, existe também, neste caso, uma maior
proximidade entre os valores de aberturas de fendas medidos e os valores previstos para a
abertura de fendas, comparativamente com as vigas padrão.
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0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35
Carg
a [kN
]
Abertura de fendas [mm]
Viga V5
Viga V6
Wk
Resultados e discussão
102
As vigas foram descarregadas no dia seguinte à injecção. Pode-se notar nas Figuras 4.35 e
4.36 a existência de deformações residuais ao nível da flecha e da extensão das armaduras de
tracção, respectivamente.
Figura 4.35 – Deslocamentos a meio vão das vigas V5 e V6 durante o carregamento e descarregamento associado à operação de reparação
Figura 4.36 – Extensões das armaduras de tracção das vigas V5 e V6 durante o carregamento e
descarregamento associado à operação de reparação
Quanto aos valores do deslocamento e extensão das armaduras de tracção aquando da
descarga das vigas, estes foram obtidos para uma descarga quase instantânea e não
consideram a fase de injecção das vigas pelo que estas curvas de descarga foram colocadas
nas Figuras 4.36 e 4.37 de modo os valores iniciais do deslocamento ou extensão coincidem
com os respectivos valores das curvas de carregamento. Assim sendo, deve ser apenas
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Ca
rga
[kN
]
Deslocamento [mm]
Viga V5
Viga V6
Viga V5 (corrigido)
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40
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0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
Carg
a [kN
]
Extensão [μm/m]
Ext. C (V5)
Ext. D (V5)
Ext. C (V6)
Ext. D (V6)
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
103
considerado o seu desenvolvimento e a variação de valores observada, na medida em que os
valores indicados nas figuras possam ter sido afectados pela ocorrência de fluência nas vigas
ou por alguma perda de carga durante a fase de injecção ou durante o período posterior de 24
horas, tempo que o processo de reparação durou. Existe ainda a possibilidade de se verificar
alguma fluência nas vigas após a sua descarga, no sentido de haver uma maior recuperação
das deformações, na medida em que, devido à existência de deformações após a descarga, as
armaduras ainda se encontram sobre tensão. Deve ainda ser notada a falha inicial na
representação dos deslocamentos a meio-vão da viga V5, consequência de o deflectómetro
não se encontrar devidamente colocado no inicio do ensaio e apenas ter começado a registar
as medições para um carregamento perto dos 15 kN. Assim sendo apresenta-se na Figura 4.35
uma proposta de correcção dos valores dos deslocamentos a meio–vão da viga V5.
Para os ensaios até à rotura das vigas V5 e V6, após se ter aplicado o reforço com laminados
de CFRP, começa-se por apresentar na Figura 4.37 os valores das medições dos
deflectómetros durante o ensaio realizado à viga V5.
Figura 4.37 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros na viga V5
Durante a fase inicial do carregamento, aos 15 e 30 kN de carga, é mais uma vez possível
observar a recuperação praticamente total das deformações existentes após a descarga da
viga visto que as curvas de carga, descarga e recarregamento encontram-se praticamente
sobrepostas. Relativamente ao desenvolvimento dos deslocamentos da viga ao longo do
carregamento verifica-se que, inicialmente, este é linear, pelo que perto dos 80 kN, parece
ocorrer uma redução gradual da rigidez da viga. A rotura aconteceu perto dos 170 kN, tendo-se
verificado mais uma vez através da perda da ligação do laminado devido ao arranque do betão
na zona de ancoragem, que ocorreu do lado esquerdo da viga, justificando a inexistência de
dados após a rotura da viga do deflectómetro esquerdo. A rotura da ligação do laminado pode
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0 5 10 15 20 25 30
Carg
a [kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central
Desl. Esquerdo
Desl. Direito
Resultados e discussão
104
ser observada na Figura 4.38. De assinalar ainda a correspondência quase total entre os
valores dos deflectómetros esquerdo e direito antes da rotura.
Figura 4.38 - Rotura da ligação do laminado de CFRP na viga V5
Na Figura 4.39 encontram-se representados os deslocamentos registados pelos deflectómetros
durante o ensaio até à rotura da viga V6.
Figura 4.39 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros na viga V6
As mesmas considerações que foram feitas para os deslocamentos medidos na viga V5 podem
ser aplicadas para os resultados observados na Figura 4.39, sendo que a diferença principal
assenta no valor da carga de rotura que, neste caso, se aproxima dos 162 kN. A rotura
verificou-se do lado esquerdo, mais uma vez através da rotura da ligação devido ao arranque
do betão na zona de ancoragem, propagando-se até quase o meio-vão, como é visível na
Figura 4.40.
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0 5 10 15 20
Carg
a [kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central
Desl. Esquerdo
Desl. Direito
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
105
Na Figura 4.41 é feita uma representação dos valores dos deslocamentos a meio-vão
registados nos ensaios das vigas V5 e V6.
Figura 4.40 - Rotura da ligação do laminado de CFRP na viga V6
Figura 4.41 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais nas vigas V5 e V6
Comparando os valores obtidos em ambos os ensaios, é notável a semelhança dos resultados
de ambos os ensaios, à parte da diferença entre valores da carga de rotura. Tal como se tinha
verificado nas vigas V3 e V4, a rigidez das vigas V5 e V6 também aparenta sofrer uma redução
gradual ao longo do carregamento, sendo esta redução mais notória por volta dos 140 kN,
ponto a partir do qual se verifica a cedência das armaduras.
Ainda referente às deformações da viga apresenta-se na Figura 4.42 as deformações a meio-
vão registadas nas vigas padrão V1 e V2, juntamente com as medições análogas das vigas V5
e V6.
Tal como já se tinha observado para as vigas V3 e V4, as vigas V5 e V6 apresentam uma
rigidez inicial e resistência consideravelmente superiores (em média 161,7% e 41%,
respectivamente) às existentes nas vigas padrão, confirmando-se assim os efeitos da colagem
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0 5 10 15 20 25 30
Ca
rga
[kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central (V5)
Desl. Central (V6)
Resultados e discussão
106
de laminados de CFRP no betão armado. De mencionar ainda o facto de, nas vigas reparadas,
não se ter observado uma redução tão significativa na rigidez provocada pela fendilhação do
betão como nas vigas padrão. Este facto pode ser resultado da acção do reforço no aumento
da rigidez da viga, atenuando a quebra da rigidez e do efeito do próprio reforço no controlo da
abertura de fendas que era o responsável por essa redução de rigidez.
Figura 4.42 - Deslocamentos registados pelos deflectómetros centrais nas vigas V1, V2, V5 e V6
Com maior relevância para o âmbito deste trabalho, e de forma a se poder analisar o efeito da
reparação do betão armado, previamente à aplicação do reforço, encontram-se representados
na Figura 4.43 os valores dos deslocamentos a meio-vão registados nos ensaios até à rotura
das vigas V3, V4, V5 e V6.
Figura 4.43 - Deslocamentos registadas pelos deflectómetros centrais nas vigas V3, V4, V5 e V6
0
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160
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0 20 40 60 80 100
Ca
rga
[kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central (V1)
Desl. Central (V2)
Desl. Central (V5)
Desl. Central (V6)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0 10 20 30 40 50
Carg
a [kN
]
Deslocamento [mm]
Desl. Central (V3)
Desl. Central (V4)
Desl. Central (V5)
Desl. Central (V6)
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
107
Analisando os resultados da Figura 4.43, uma das conclusões que se pode retirar baseia-se no
facto de as vigas que foram sujeitas a reparação das fendas com injecção de resinas epóxidas,
apresentarem uma rigidez inicial superior às das vigas que não foram reparadas. Considerando
apenas a rigidez inicial, as vigas reparadas e reforçadas apresentaram, em média, uma rigidez
43% superior à das vigas apenas reforçadas. Não é possível afirmar que a reparação das vigas
tenha trazido benefícios ao nível da carga última de rotura, apesar da carga de rotura da viga
V5 ser claramente superior. Em média a carga de rotura das vigas reparadas e reforçadas foi
apenas 5% superior à das vigas apenas reforçadas. É também de notar que, para além do
verificado na viga V5, a deformação existente aquando da rotura da ligação do laminado é
bastante semelhante em ambos os tratamentos, pelo que as vigas reparadas tendem a sofrer
uma maior quebra na sua rigidez quando ocorre a cedência das armaduras.
Apresenta-se na Figura 4.44 as extensões observadas nas armaduras de tracção das vigas V5
e V6.
Figura 4.44 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais inferiores das vigas V5 e V6
Observando os resultados da Figura 4.44, destaca-se, em primeiro lugar, a proximidade dos
resultados obtidos em ambos os ensaios, facto que já tinha sido verificado para os
deslocamentos das vigas. O desenvolvimento das extensões é aproximadamente linear, com
uma ligeira quebra de rigidez por volta dos 80 kN, sendo que, tal como se esperava, verificou-
se a cedência das armaduras para um carregamento de 140 kN. Um pormenor interessante
consiste nos valores de extensão das armaduras aquando da sua cedência, que rondam os
1800 μm/m, consideravelmente inferiores aos 2700 μm/m que se esperava e que foi verificado
nos ensaios anteriores. Este facto justifica-se com a existência de extensões residuais,
demonstradas na Figura 4.36. A presença das resinas no interior das fendas, impede a
recuperação total das vigas, pelo que as armaduras adquirem extensões residuais e,
naturalmente, tensões residuais de tracção. Visto que as armaduras já apresentam extensões
0
20
40
60
80
100
120
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160
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0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
Carg
a [kN
]
Extensão [μm/m]
Ext. C (V5)
Ext. D (V5)
Ext. C (V6)
Ext. D (V6)
Resultados e discussão
108
antes do inicio do carregamento até à rotura das vigas, é normal que a extensão de cedência
seja inferior à esperada, pelo que se pode de certa forma afirmar que a extensão residual das
armaduras era de aproximadamente 900 μm/m.
Os resultados das medições dos extensómetros colocados nas armaduras longitudinais de
compressão encontram-se representados na Figura 4.45
Da observação dos resultados da Figura 4.45 retira-se a disparidade entre os valores das
extensões de ambos os ensaios. Uma observação conjunta com a Figura 4.44 permite verificar
que, tal como já foi sugerido, a posição da linha neutra tem grande influência nas extensões
das armaduras de compressão. De notar ainda uma certa estabilidade nas extensões
verificadas após a cedência das armaduras de tracção para uma carga de 140 kN, que deveria
resultar em extensões superiores nas armaduras de compressão mas que são compensadas
pela subida da linha neutra.
Figura 4.45 - Extensões registadas nas armaduras longitudinais superiores das vigas V5 e V6
Com base nos resultados obtidos nos extensómetros, observa-se nas Figuras 4.46 e 4.47 a
posição da linha neutra e a relação momento-curvatura com o decorrer do carregamento,
respectivamente.
Relativamente à posição da linha neutra nas vigas V5 e V6, os valores são consideravelmente
díspares, resultado da diferença observada nas extensões das armaduras de compressão. O
seu desenvolvimento indica que a linha neutra se eleva a um ritmo relativamente constante,
excepto quando se verifica a cedência das armaduras, onde, como se verificou nos restantes
ensaios, a linha neutra tem uma subida mais acelerada. Comparativamente com os ensaios
anteriores verifica-se que a linha neutra nas vigas V5 e V6 se encontra a um nível inferior,
consequência dos valores inferiores das extensões das armaduras de tracção, devido à
existência de extensões residuais.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
-800 -700 -600 -500 -400 -300 -200 -100 0
Carg
a [kN
]
Extensão [μm/m]
Ext. A (V5)
Ext. B (V5)
Ext. A (V6)
Ext. B (V6)
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
109
Figura 4.46 - Posição da linha neutra ao longo do carregamento das vigas V5 e V6
Figura 4.47 - Relações momento-curvatura nas vigas V5 e V6
Pelo contrário, os valores da curvatura das vigas revelam uma diferença mais reduzida, sendo
que também é necessário ter em conta a grandeza dos valores em questão. No que toca ao
seu desenvolvimento, observa-se um comportamento dentro do esperado, semelhante ao
verificado na extensão das armaduras de tracção.
Na Figura 4.48 encontram-se representadas as relações momento-curvatura das vigas V3, V4,
V5 e V6 para análise do efeito da reparação das fendas no mesmo âmbito.
Comparando os resultados obtidos nas diferentes vigas, pode-se afirmar que as vigas
reparadas possuem um comportamento menos linear no que toca à sua curvatura. No entanto,
na fase anterior à cedência das armaduras de tracção, os valores da curvatura das vigas
0
20
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80
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160
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35
Ca
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[kN
]
Posição [m]
Viga V5
Viga V6
0
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40
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0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
Mo
me
nto
[kN
m]
Curvatura [x10-6 m-1]
Viga V5
Viga V6
Resultados e discussão
110
encontram-se relativamente próximos pelo que não se identifica qualquer efeito considerável
da reparação das fendas no desenvolvimento da curvatura das vigas. Já na fase posterior à
cedência das armaduras de tracção, verifica-se que as vigas não reparadas apresentam
curvaturas bastante inferiores, resultado duma menor perda de rigidez. Deve ser ainda referido
que a curvatura é resulta duma medição local, numa secção, enquanto o deslocamento é um
parâmetro que, sendo também local, reflecte o comportamento global das vigas.
Figura 4.48 - Relações momento-curvatura nas vigas V3, V4, V5 e V6
Abordando a fendilhação das vigas durante o seu carregamento até à rotura apresenta-se na
Figura 4.49 as medições das aberturas das fendas realizadas nas vigas V5 e V6. Apesar de a
superfície do betão se encontrar algo alterada após as operações de reparação efectuadas
sobre o mesmo, foi igualmente realizada a identificação das fendas existentes antes do inicio
do ensaio, sendo que esta marcação é visível na Figura 4.50.
Figura 4.49 - Aberturas de fendas registadas nas vigas V5 e V6 nos ensaios à rotura
0
10
20
30
40
50
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0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
Mo
me
nto
[kN
m]
Curvatura [x10-6 m-1]
Viga V3
Viga V4
Viga V5
Viga V6
0
20
40
60
80
100
120
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35
Carg
a [kN
]
Abertura de fendas [mm]
Viga V5
Viga V6
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
111
Os valores das aberturas de fendas que se observam na Figura 4.49 estão consideravelmente
afastados, devido principalmente às grandes diferenças na abertura inicial das fendas. Para
além do facto do desenvolvimento da fendilhação no betão possuir um carácter algo
imprevisível, a própria reparação das fendas, que assenta na penetração das resinas nas
fendas, está também condicionada pelo desenvolvimento das fendas e, por tal razão, não
garante um produto final constante para todas as fendas (uma maior penetração de resinas nas
fendas leva a menores recuperações da abertura de fendas aquando do descarregamento). De
notar ainda, que a medição das aberturas de fendas foram feitas em apenas uma fenda por
viga o que é pouco representativo. Tais factos podem ser justificativos da diferença das
aberturas de fendas após a reparação e subsequente descarregamento das vigas.
Procurando analisar o comportamento da fendilhação para os dois tipos de tratamentos
efectuados nas vigas, apresenta-se na Figura 4.51 os valores das medições das aberturas das
fendas observadas nos ensaios à rotura das vigas V3, V4, V5 e V6.
Figura 4.50 - Identificação das fendas na viga V6 previamente ao ensaio à rotura
Figura 4.51 - Aberturas de fendas registadas nos ensaios à rotura das vigas V3, V4, V5 e V6
0
20
40
60
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100
120
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35
Carg
a [kN
]
Abertura de fendas [mm]
Viga V3
Viga V4
Viga V5
Viga V6
Resultados e discussão
112
Como seria de esperar, verificam-se aberturas de fendas inicias superiores nas vigas
reparadas devido à presença da resina no interior das fendas e a consequente existência de
deformações residuais. O desenvolvimento das aberturas de fendas ao longo do carregamento
é semelhante nos dois tipos de vigas pelo que se assume que a operação de reparação não
produziu qualquer efeito neste campo. No entanto, se for feita a comparação dos resultados da
Figura 4.51 com os resultados obtidos nas vigas padrão, nota-se que as vigas reforçadas
apresentam uma variação de aberturas de fendas significativamente mais reduzida,
consequência da acção do sistema de reforço.
No que toca à propagação das fendas, são visíveis nas Figuras 4.52 e 4.53 as fendas
existentes no betão, das vigas V5 e V6, respectivamente, antes de se verificar a rotura do
laminado.
Figura 4.52 - Distribuição de fendas na viga V5 antes da sua rotura
Figura 4.53 - Distribuição de fendas na viga V6 antes da sua rotura
Comparativamente com as fendas verificadas nas vigas V3 e V4, pode-se afirmar que, para as
vigas reparadas, o número de fendas que surgem na zona inferior das vigas, quando sujeitas a
cargas mais elevadas, é relativamente inferior. Como se observou anteriormente, a variação
das extensões das armaduras de tracção foram inferiores nas vigas reparadas, o que pode
justificar o aparecimento de menos fendas para o mesmo carregamento.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
113
4.2.4 Síntese de resultados
Este ponto do trabalho pretende sumarizar os vários resultados obtidos nos ensaios de carga
às vigas de betão armado de forma a analisar e comparar melhor o comportamento mecânico
dos diferentes tipos de vigas.
Na Tabela 4.4 encontram-se os resultados principais dos ensaios de carga às vigas padrão (V1
e V2), tendo como base as medições registadas pelo deflectómetro a meio-vão. Nesta tabela
as características Rigidez (I) e Rigidez (II) dizem respeito à rigidez das vigas padrão no estado
não fendilhado e no estado fendilhado, respectivamente.
Tabela 4.4 - Resultados principais obtidos nas vigas V1 e V2
Rigidez (I) Rigidez (II) Carga de cedência Carga de rotura
Viga V1 42,3 kN/mm 7,8 kN/mm 107,4 kN 125,0 kN
Viga V2 41,5 kN/mm 6,4 kN/mm 100,3 kN 111,9 kN
Média 41,9 kN/mm 7,1 kN/mm 103,9 kN 118,5 kN
Na Tabela 4.5 apresentam-se os principais resultados dos ensaios de carga às vigas apenas
reforçadas (V3 e V4) sendo feita a comparação entre estes resultados e os obtidos nas vigas
V1 e V2 (Gráfico 1). A comparação das propriedades mecânicas dos diferentes tipos de vigas é
feita com base nos valores médios obtidos para cada tipo de viga. Nas vigas reforçadas não é
considerada a carga de cedência, visto que a cedência das vigas é de certa forma inexistente
face ao efeito do sistema de reforço no seu comportamento mecânico. Relativamente à rigidez
das vigas reforçadas, considerou-se apenas a rigidez inicial das mesmas visto que a rigidez
das vigas reforçadas não é tão constante quanto a rigidez das vigas padrão.
Tabela 4.5 - Resultados principais obtidos nas vigas V3 e V4
Rigidez Carga de rotura
Viga V3 12,2 kN/mm 155,5 kN
Viga V4 12,3 kN/mm 162,2 kN
Média 12,3 kN/mm 158,9 kN
Acréscimo face às vigas V1 e V2 73,2 % 34,1 %
Gráfico 1 – Comparação dos valores de rigidez e carga de rotura das vigas padrão e vigas apenas
reforçadas
0
5
10
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Rigidez [kN/mm]
0
50
100
150
200
Carga de rotura [kN]
V1
V2
V3
V4
Resultados e discussão
114
Por fim, apresenta-se na Tabela 4.6 os resultados principais dos ensaios de carga às vigas
reparadas e reforçadas (V5 e V6) sendo que é também analisado o acréscimo nas
propriedades mecânicas das vigas V5 e V6 face às vigas padrão e às vigas apenas reforçadas.
As considerações aplicadas aos valores da Tabela 4.5 aplicam-se da mesma forma aos valores
apresentados na Tabela 4.6.
Tabela 4.6 - Resultados principais obtidos nas vigas V5 e V6
Rigidez Carga de rotura
Viga V5 17,1 kN/mm 170,6 kN
Viga V6 18,0 kN/mm 163,5 kN
Média 17,6 kN/mm 167,1 kN
Acréscimo face às vigas V1 e V2 148,9 % 41,0 %
Acréscimo face às vigas V3 e V4 43,4 % 5,1 %
Gráfico 2 - Comparação dos valores de rigidez e carga de rotura das vigas padrão, vigas apenas reforçadas e vigas reparadas e reforçadas
0
5
10
15
20
Rigidez [kN/mm] 0
50
100
150
200
Carga de rotura [kN]
V1
V2
V3
V4
V5
V6
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
115
5 Conclusões e perspectivas de desenvolvimentos futuros
5.1 Conclusões
Os objectivos principais desta tese consistiram na análise da contribuição da reparação das
fendas, com injecção de resinas epóxidas, no comportamento mecânico de vigas de betão
armado posteriormente reforçadas com laminados de CFRP.
A investigação bibliográfica levada a cabo neste trabalho permitiu verificar que a reparação de
fendas no betão armado com recurso à injecção de resinas epóxidas é capaz de cumprir o
papel de restabelecer os níveis de desempenho inicias dos diferentes elementos de betão
armado, justificando assim, o elevado nível de utilização desta técnica perante a anomalia em
questão.
Na observação dos resultados da campanha experimental, nomeadamente os ensaios de
carga nas diferentes vigas, não é clara a mais-valia da reparação das fendas no acréscimo de
resistência por comparação com a simples aplicação do sistema de reforço, sem qualquer
tratamento precedente. Por outro lado, a rigidez inicial observada nas vigas reparadas é
claramente superior à das vigas apenas reforçadas.
No que toca à resistência última, ambas as vigas reparadas apresentaram valores superiores,
embora apenas uma delas se tenha destacado relativamente aos valores obtidos nas vigas
apenas reforçadas, o que deixa algumas dúvidas quanto à influência da reparação das fendas
neste parâmetro.
Com um comportamento mais distinto e considerando apenas a fase anterior à cedência das
armaduras, verificou-se uma rigidez inicial 43% superior nas vigas reparadas, apresentando
deformações inferiores para o mesmo nível de carregamento. Todavia, nas mesmas vigas,
para além de se assistir à cedência das armaduras de tracção para cargas inferiores, a
redução de rigidez após a cedência das armaduras é mais notória, pelo que, perto do ponto de
rotura, a deformação das vigas é semelhante em ambos os tipos de tratamento. Deve ser ainda
tida em conta a existência de deformações residuais nas vigas reparadas, resultado do efeito
das resinas epóxidas na recuperação elástica (apenas parcial) das vigas após a descarga das
mesmas para aplicação do reforço.
Por outro lado, a introdução de resinas nas fendas trouxe benefícios referentes à fendilhação
do betão, visto que se verificou um reduzido surgimento de novas fendas para as vigas
reparadas, ao contrário do verificado nas vigas que não foram alvo de reparação, onde foi
observável o aparecimento de fendas na zona inferior das vigas, diminuindo o espaçamento
entre as mesmas.
Conclusões e perspectivas de desenvolvimentos futuros
116
Não tendo sido comprovado de forma evidente o aumento da resistência mecânica por parte
das vigas reparadas, continua a ser aconselhável a reparação das fendas com injecção de
resinas, antes da aplicação do reforço. Um elemento estrutural de betão armado que apresente
fendas, encontra-se, na maioria dos casos, com um risco superior de corrosão das suas
armaduras, pelo que o preenchimento das fendas com resinas epóxidas permite reverter esta
situação, garantindo a protecção das armaduras. Como foi referido no estado de arte deste
trabalho, existem outras técnicas e materiais que também podem ser utilizados com o objectivo
de proteger as armaduras, embora não sejam recomendados para reparação estrutural.
Considerando ainda que, nesta situação, a utilização de outros materiais de injecção também
conduz à existência de deformações residuais na viga, a execução de uma reparação
estrutural com injecção de resinas epóxidas considera-se mais recomendável.
5.2 Perspectivas de desenvolvimentos futuros
Os fabricantes dos materiais de preenchimento de fendas têm vindo a disponibilizar no
mercado uma variedade cada vez maior de produtos de reparação de betão armado de modo a
fazer face à diversidade de situações patológicas que são passíveis de se encontrar. Os
desenvolvimentos e inovações verificadas neste âmbito têm em vista, na maioria dos casos,
um melhor desempenho das técnicas e dos materiais aplicados relativamente ao seu papel na
reparação do betão armado, pelo que a interacção destes com futuros sistemas de reforço, que
venham a ser utilizados, não tem sido alvo de grande investigação.
Sugere-se então a realização de estudos complementares de modo a obter uma noção mais
clara e abrangente desta problemática e poder assim optimizar as operações de reforço
estrutural em betão armado. Para tal, e tendo em conta que não ficou totalmente provado o
incremento de resistência por parte das vigas reparadas, propõe-se a realização de um estudo
idêntico ao deste trabalho, tendo como alvo de investigação um maior número de vigas para
ensaio. Outros trabalhos passíveis de realização, para melhor compreensão dos diversos
factores em causa, podem passar pelo estudo da influência do tipo de reforço aplicado, ou
como foi referido, pela verificação do comportamento de vigas reforçadas que tenham sido alvo
de técnicas de reparação diferentes, tais como a simples selagem das fendas ou o
preenchimento das mesmas como outro tipo de material. Sugere-se também o estudo desta
problemática através do desenvolvimento de modelos numéricos que consigam ter em conta a
fendilhação do betão e as diferentes particularidades do sistema de reforço aplicado.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
117
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Conclusões e perspectivas de desenvolvimentos futuros
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[38] Issa, C., Debs, P., “Experimental study of epoxy repairing of cracks in concrete”,
Construction and Building Materials, No. 21, pp 157- 163, 2007.
[39] Bank, L.C., “Composites for construction: Structural design with FRP materials”, Wiley,
Hoboken, NJ, 2006.
[40] Barros, J., “Materiais Compósitos no Reforço de Estruturas”, Universidade do Minho,
2004.
[41] Gemert, D., Ignoul, S., Brosens, K., “Strengthening of concrete constructions with
externally bonded reinforcement: Design concepts and case studies”, IMTCR 2004
innovative materials and technologies for construction and restoration, University of
Lecce, Italy, 2004.
Conclusões e perspectivas de desenvolvimentos futuros
120
[42] S&P – Clever Reinforcement Company AG, http://www.sp-reinforcement.ch/menu-2/frp-
fiber-reinforced-polymer/application-areas-references/flexural/?L=1, visitado em
10/04/2011.
[43] FIB – Bulletin 14, “Externally bonded FRP reinforcement for RC structures”, 2001.
[44] ACI 440 2R-08, “Guide for the Design and Construction of Externally Bonded FRP
Systems for Strengthening Concrete Structures”, American Concrete Institute, 2008.
[45] S&P – Clever Reinforcement Company AG, “Design Guide Line for S&P FRP Systems”,
Ficha Técnica. 2007.
[46] Technical Report 55, “Design guidance for strengthening concrete structures using fibre
composite materials”, The Concrete Society, 2004.
[47] SIKA Portugal, S.A., “Sikadur®-52 Injection – Resina de epoxi de baixa viscosidade para
injecções”, Ficha de produto, Julho 2007.
[48] S&P – Clever Reinforcement Company AG, “S&P Laminates CFK”, Ficha de produto,
Julho 2007.
[49] S&P – Clever Reinforcement Company AG, “S&P Resin 220 epoxy adhesive – Two
component epoxy-resin based adhesive for S&P FRP Systems”, Ficha de produto,
Janeiro 2008.
[50] European Committee for Standardization (CEN), “EN12390-2 – Testing Hardened
Concrete – Part 2: Making and curing specimens for strength tests”, CEN, Brussels,
October 2000.
[51] S&P – Clever Reinforcement Company AG, “Guide for the application of S&P FRP
Systems”, Ficha Técnica, Outubro 2006.
[52] ASTM International, “ASTM C496 / C496-11 Standard Test Method for Splitting Tensile
Strength of Cylindrical Concrete Specimens” Vol. 04.02, 2011.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
121
6 Anexos
A. Sikadur®-52 Injection
Anexos
122
Ficha de Produto Edição de Julho de 2007 Nº de identificação: 6.32 Versão nº 7 Sikadur®-52 Injection
1/3 Sikadur®-52 Injection
Construction
Sikadur®-52 Injection Resina de epoxi de baixa viscosidade para injecções
Descrição do produto
Sikadur®-52 Injection é um fluído de baixa viscosidade para injecção, à base de
resinas epoxi de elevadas resistências, em dois componentes e sem solventes.
Utilizações � Como resina de injecção em betão, argamassa, pedra, aço e madeira. � Enchimento e selagem de cavidades e fissuras em elementos estruturais como
pilares, vigas, fundações, lages e estruturas em betão para contenção de água. � Forma uma barreira eficaz contra a infiltração de água. � Reconstituição monolítica de estruturas em betão através de colagem estrutural.
Características / Vantagens
� Isento de solventes. � Pode ser utilizado sobre superfícies secas ou húmidas. � Aplicável a baixas temperaturas. � Endurece sem retracção. � Altas resistências mecânicas e elevada aderência. � Duro mas não quebradiço. � Muito baixa viscosidade – elevada capacidade de penetração. � Injectável com bombas monocomponentes.
Certificados / Boletins de ensaio
Cumpre os requisitos da norma ASTM C 881-78, tipo 1, grau 1, classe B+C.
Dados do produto
Aspecto / Cor Componente A: amarelo translúcido. Componente B: acastanhado. Mistura A+B: amarelo translúcido.
Fornecimento 1 e 5 kg.
Armazenagem e conservação
O produto conserva-se durante 2 anos a partir da data de fabrico, na embalagem original não encetada. Conservar em local seco e ao abrigo da luz solar directa.
Dados técnicos
Base química Resina de epoxi modificada.
Massa volúmica Componente A: Aprox. 1,1 kg/dm3 (a +20 ºC).
Componente B: Aprox. 1,0 kg/dm3 (a +20 ºC).
Mistura A+B (2:1): Aprox. 1,1 kg/dm3 (a +20 ºC).
Viscosidade Temperatura Mistura A+B (2:1)
+10 ºC Aprox. 1200 mPa.s
+20 ºC Aprox. 430 mPa.s
+30 ºC Aprox. 220 mPa.s
2/3 Sikadur®-52 Injection
Coeficiente de dilatação térmica
Aprox. 89 x 10-6, por ºC (de -20 ºC a +40 ºC). (EN ISO 1770)
Propriedades físicas / Mecânicas
Resistência à compressão
Aprox. 52 N/mm2 (após 7 dias a +23 ºC). (ASTM D 695-96)
Resistência à flexão Aprox. 61 N/mm2 (após 7 dias a +23 ºC). (DIN 53452)
Resistência à tracção Aprox. 37 N/mm2 (após 7 dias a +23 ºC). (ISO 527)
Tensão de aderência Sobre betão: (DafStb-Richtlinie, parte 3)
> 4 N/mm2 (ruptura coesiva no betão, após 7 dias a +23 ºC).
Módulo de elasticidade, E Aprox. 1800 N/mm2 (após 7 dias a +23 ºC). (estático) (DIN 53452)
Informações sobre o sistema
Pormenores de aplicação
Consumo 1 kg de Sikadur®-52 Injection equivale aproximadamente a 1 l de resina de injecção.
Preparação da base Requisitos da base: Deve estar sã, limpa, sem óleos ou gorduras, e sem resíduos de antigos revestimentos de protecção.
Preparação para uma boa aderência: Betão, argamassa e pedra devem ser lavados com jacto de água de alta pressão ou outro método mecânico adequado (lixagem, picagem, etc.). As fissuras devem ser limpas com ar comprimido para remoção integral de poeiras.
Condições de aplicação / Limitações
Temperatura da base e ambiente
Mínima: +5 ºC. / Máxima: +30 ºC.
Humidade da base A base pode estar húmida mas sem água visível.
Instruções de aplicação
Relação de mistura Componente A : B = 2 : 1 (partes em peso ou em volume).
Mistura Embalagens pré-doseadas: Adicionar todo o componente B ao componente A. Misturar durante pelo menos 3 minutos com um misturador eléctrico de baixa rotação (máx. 250 rpm). Evitar a introdução de ar durante a mistura.
Aplicação Fissuras em planos horizontais: Aplicar o produto sobre a fissura com um pincel até à saturação ou vazar Sikadur
®-
52 Injection sobre a fissura, delimitando a área de vazamento com duas “barreiras” feitas com Sikaflex
®. As fissuras que atravessem toda a espessura da estrutura
devem ser seladas pela face inferior com Sikadur®-31 CF ou com argamassas Sika
®
de base cimentosa.
3/3 Sikadur®-52 Injection
Fissuras em planos verticais: Sikadur
®-52 Injection pode ser injectado sob pressão em fissuras utilizando bombas
de injecção monocomponentes, como p. ex. Aliva AL-1200 ou AL-1250. Os injectores devem ser colocados espaçados em 25 cm e a fissura deve ser selada superficialmente com Sikadur
®-31 CF, de forma a evitar fugas de resina durante o
processo de injecção. As fissuras devem ser injectadas de baixo para cima. Assim que a resina refluir pelo segundo injector, deve selar-se o primeiro e continuar o processo de injecção pelo seguinte. Findo o processo de injecção e após polimerização (24 horas, a 20ºC), remover os injectores e o material de selagem.
Limpeza de ferramentas Limpar imediatamente após utilização com Soluto de Limpeza Colma. O material endurecido só pode ser removido mecanicamente.
Tempo de vida útil da mistura (pot-life)
Temperatura Pot-life (1 kg de mistura A+B)
+5 ºC Aprox. 120 minutos
+10 ºC Aprox. 80 minutos
+20 ºC Aprox. 25 minutos
+30 ºC Aprox. 10 minutos
+40 ºC -
Importante Largura máxima das fissuras a injectar: 5 mm. Sikadur
®-52 Injection é adequado para utilização sobre bases húmidas ou secas,
mas não é possível utilizar na presença de água.
Nota Todos os dados técnicos referidos nesta Ficha de Produto são baseados em ensaios laboratoriais. Ensaios realizados noutras condições para determinação das mesmas características podem dar resultados diferentes devido a circunstâncias que estão fora do nosso controlo.
Risco e segurança
Medidas de segurança Sikadur®-52 Injection é inerte e inócuo depois de curado.
No estado líquido, o componente B pode causar irritação em pessoas com pele sensível. Usar luvas e óculos de protecção. Se a pele for contaminada, lavar com água e sabão e com uma solução de vinagre. Se por acidente Sikadur
®-52 Injection salpicar para os olhos, lavar de imediato com
muita água limpa e morna e consultar o médico imediatamente. Para mais informações, consultar a Ficha de Dados de Segurança do produto e respectivo rótulo.
"O produto está seguro na Cª Seguros XL Insurance Switzerland (Apólice nºCH00003018LI05A), a título de responsabilidade civil do fabricante".
A informação e em particular as recomendações relacionadas com aplicação e utilização final dos produtos
Sika, são fornecidas em boa fé e baseadas no conhecimento e experiência dos produtos sempre que
devidamente armazenados, manuseados e aplicados em condições normais, de acordo com as
recomendações da Sika. Na prática, as diferenças no estado dos materiais, das superfícies, e das condições
de aplicação em obra, são de tal forma imprevisíveis que nenhuma garantia a respeito da comercialização ou
aptidão para um fim em particular, nem qualquer responsabilidade decorrente de qualquer relacionamento
legal, poderão ser inferidas desta informação, ou de qualquer recomendação por escrito, ou de qualquer
outra recomendação dada. O produto deve ser ensaiado para aferir a adequabilidade do mesmo à aplicação
e fins pretendidos. Os direitos de propriedade de terceiros deverão ser observados. Todas as encomendas
aceites estão sujeitas às nossas condições de venda e de entrega vigentes. Os utilizadores deverão sempre
consultar a versão mais recente da nossa Ficha de Produto específica do produto a que diz respeito, que
será entregue sempre que pedida.
Construction
Sika Portugal, SA R. de Santarém, 113 4400-292 V. N. Gaia Portugal
Tel. +351 22 377 69 00 Fax +351 22 370 20 12 www.sika.pt
Anexos
126
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
127
B. Emaco S88
Anexos
128
Emaco S88 Tixotrópico Argamassa de elevada compatibilidade com o betão, para repara-ções estruturais. Descrição EMACO S88 Tixotrópico é uma argamassa à base de cimento, agregados seleccionados, aditivos especiais e fibras sintéticas de poliacrilonitrilo. Campos de aplicação • Aplicável em interiores, exteriores, na vertical e na hori-
zontal. • Reparações em elementos estruturais (vigas de betão
armado ou pré-esforçado sob acção de cargas estáticas ou dinâmicas).
• Reparação de qualquer tipo de betão deteriorado. • Trabalhos de manutenção em portos e outras obras marí-
timas. • Trabalhos de manutenção em indústrias mecânicas,
nomeadamente em presença de óleos minerais, lubrifi-cantes, etc.
• Protecção do betão contra a agressividade da água con-tendo sulfatos e cloretos, etc.
Para outras aplicações contactar a BASF C. C. Portugal. Vantagens • Elevadas resistências mecânicas, tanto iniciais como
finais. • Retracção compensada. • Tixotrópico • Não contém cloretos nem agregados metálicos. • Boa trabalhabilidade. Sem exsudação • Elevada aderência ao betão com ponte de união. • Excelente durabilidade em ambientes agressivos. • Pronto a usar apenas necessita de ser misturado c/ água. • Reduzida absorção de água por capilaridade • Elevada impermeabilidade. • Permeável ao vapor de água • Elevada resistência à carbonatação • Elevada compatibilidade dimensional com o betão • Elevada compatibilidade química e electroquímica com o betão.
Características técnicas
Densidade da argamassa: aprox. 2,2 g/cm3 Água de amassadura aprox.: 3,8 l / saco 25 Kg Temperatura de aplicação (supor-te e material):
+5 a +30ºC
Tempo de maturação: aprox. 3 min. Tº de trabalhabilidade: aprox. 60 min. Espessuras aplicáveis: 10 a 40 mm Absorção capilar, UNE-EN 13057:
< 0,5 Kg/m2/h0,5
Resistência à carbonatação, UNE-EN 13295:
< 1 mm (betão padrão 4,8)
Conteúdo de cloretos, UNE-EN 1015-17:
< 0,05 %
R. à compressão, UNE-EN 12190 após 1 dia: após 7 dias: após 28 dias:
aprox. 25 N/mm2
aprox. 55 N/mm2
aprox. 70 N/mm2 R. à flexotracção, UNE-EN 12190
após 1 dia: após 7 dias: após 28 dias:
aprox. 5 N/mm2
aprox. 9 N/mm2
aprox. 10 N/mm2
BASF Construction Chemicals Portugal, S.A. Sede: R. de S. Sebastião, 57 - Cabra Figa - 2635-047 RIO DE MOURO - T. 21 915 85 50 - F. 21 915 88 63
D. Norte: R. do Comércio, lote 185 - 4785-706 TROFA - T. 252 450 885 - F. 252 413 720 www.basf-cc.pt
M. elasticidade após 28 dias, UNE-EN 13412:
aprox. 32.000 N/mm2
Aderência ao betão, UNE-EN 1542:
> 2,2 N/mm2
Aderência ao betão após ciclos térmicos, UNE-EN 13687:
> 2,2 N/mm2
Expansão, UNE-EN 12617-4: < 0,08%
Retracção, UNE-EN 12617-4: < 0,08 %
Tempos de endurecimento obtidos a 22ºC e 65% de H.R. com excepção daqueles resultados que indicam parâmetros diferentes. Temperaturas superiores e/ou humidades infe-riores podem reduzir estes tempos e vice-versa. Os dados técnicos são fruto de resultados estatísticos e não represen-tam mínimos garantidos. Modo de aplicação Preparação da base: a superfície de aplicação deverá estar sã, firme (resistência à tracção mínima de 1 N/mm2) e livre de óleos, gorduras, pinturas antigas, descofrantes e produ-tos de cura. A leitada e o betão deteriorado devem ser eli-minados por meios mecânicos, até obter uma superfície com irregularidades de pelo menos 5 mm, com o objectivo de proporcionar à argamassa a aderência necessária. A decapagem deve ser suficiente para conseguir uma pro-fundidade de reparação com o mínimo de 1 cm. Se a pro-fundidade de reparação é superior a 20 mm deve fixar-se uma malha electrosoldada no betão a tratar, deixando um espaço entre ambos através de separadores. Se o enchi-mento é inferior a 20 mm não é necessária a colocação da malha. No caso de existirem armaduras à vista deverão ser deca-padas com jacto de areia e deverá ser aplicada protecção anti-corrosiva LEGARAN. Se se utiliza LEGARAN como ponte de união é necessário que o suporte esteja seco. Ponte de união: para assegurar a boa aderência do EMACO S88 TIXOTRÓPICO, pode aplicar-se uma ponte de união como REPAHAFT (sobre suportes húmidos) ou LEGARAN (sobre suportes secos). O EMACO S88 TIXOTRÓPICO deve aplicar-se sobre a ponte de união fresca, ou seja antes de 30 min. no caso do REPAHAFT e antes de 3 h no caso do LEGARAN. A aplicação de ponte de união não é imprescindível em aplicações por projecção. Mistura: juntar o produto à água correspondente, pouco a pouco, misturando com agitador tipo M34 ou betoneira ade-quada, durante no mínimo 4 minutos até obter uma arga-massa homogénea e sem grumos. Colocação da argamassa: depois de amassado, o EMACO S88 TIXOTRÓPICO pode aplicar-se com talocha ou por projecção. No caso da aplicação sobre ponte de união deve
realizar-se enquanto esta estiver fresca. Compactar e/ou alisar de acordo com o tipo de aplicação. Não juntar mais água à argamassa que tenha perdido a sua consistência uma vez que perderia as suas propriedades No caso de serem aplicadas várias camadas de argamassa deve aplicar-se a segunda antes que termine a presa da primeira ou lixar a superfície endurecida e aplicar ponte de união. Cura: as argamassas hidráulicas devem ser curadas com água ou aplicação de um produto de cura da gama BASF para evitar a evaporação da água de hidratação. A cura é imprescindível em quaisquer condições ambientais, deven-do ser incrementada em caso de sol, vento ou tempo seco. Limpeza de ferramentas: A limpeza pode ser feita com água, enquanto o produto estiver fresco. Depois de endurecido só pode ser removido mecanicamente. Rendimento / Dosagem O consumo é de aproximadamente 2,2 Kg de argamassa amassada por m2 e mm de espessura (aprox. 1,8 kg de argamassa seca por m2 e mm de espessura). Este consu-mo é teórico e depende da rugosidade do suporte devendo ser ajustado a cada obra em particular através da realiza-ção de ensaios. Embalagem e armazenamento EMACO S88 TIXOTRÓPICO é fornecido em sacos de 25 Kg. Armazenar em local fresco e seco, nas embalagens ori-ginais fechadas até 12 meses aproximadamente. Precauções de segurança Este produto contém cimento que ao reagir com a água e/ou humidade forma produtos alcalinos. Salpicos desta mistura podem provocar irritações na pele e/ou queimadu-ras nos olhos e mucosas. Para a sua manipulação deve usar-se protecção para os olhos. Não é um produto de transporte rodoviário perigoso. Deve ter-se em conta • Não aplicar sobre bases a temperaturas inferiores a
+5°C ou superiores a +30°C. • Não adicionar cimento, areia ou substâncias que possam
afectar as propriedades do material. • Não adicionar mais água nem reamassar a argamassa
que tenha perdido a sua consistência. • Não é aconselhável a utilização de jacto de areia uma
vez que com este método não se conseguirá a irregulari-dade mínima de 5 mm na superfície.
Não aplicar em zonas submetidas a contaminação por sul-fatos. Nestas circunstâncias aplicar produtos do Sistema Kana.
Revisão 0 em Outubro de 2006 A presente Ficha Técnica perde a sua validade com a emissão de uma nova edição. O aconselhamento técnico sobre como usar os nossos produtos, verbal ou de forma escrita, é baseado nos nossos melhores conhecimentos científicos e práticos. Não são assumidas quaisquer garantias e/ou responsabilidades em relação aos resultados finais dos trabalhos executados. O dono de obra, o seu representante ou o empreiteiro, devem verificar a adequabilidade dos nossos produtos aos usos e finalidades pretendidas, bem como as dosagens e consumos.
Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
131
C. S&P Laminates CFK
Anexos
132
S&P Laminates CFK Prefabricated carbon fibre plates 07/07 • Technical data of S&P Laminates CFK Type: S&P Laminates CFK 150 / 2000 Type: S&P Laminates CFK 200 / 2000 Surface-applied laminates:
Laminate type Cross section
Tensile strength at elongation 0.6 %
Tensile strength at elongation 0.8 %
150/2000 Modulus of elasticity:
>165'000 N/mm2
(average)
[mm2] Theoretical tensile
strength for the design:
1000 N/mm2
Theoretical tensile strength for the design:
1300 N/mm2
50 / 1.2 60 60.0 kN 78.0 kN 50 / 1.4 70 70.0 kN 91.0 kN 60 / 1.4 84 84.0 kN 109.2 kN 80 / 1.2 96 96.0 kN 124.8 kN 80 / 1.4 112 112.0 kN 145.6 kN 90 / 1.4 126 126.0 kN 163.8 kN 100 / 1.2 120 120.0 kN 156.0 kN 100 / 1.4 140 140.0 kN 182.0 kN 120 / 1.2 144 144.0 kN 187.2 kN 120 / 1.4 168 168.0 kN 218.4 kN
200/2000 Modulus of elasticity:
>210’000 N/mm2
(average)
[mm2] Theoretical tensile
strength for the design:
1250 N/mm2
Theoretical tensile strength for the design:
1650 N/mm2
50 / 1.4 70 87.5 kN 115.5 kN 60 / 1.4 84 105.0 kN 138.6 kN 80 / 1.4 112 140.0 kN 184.8 kN 90 / 1.4 126 157.5 kN 207.9 kN 100 / 1.4 140 175.0 kN 231.0 kN 120 / 1.4 168 210.0 kN 277.2 kN
Slot-applied laminates:
Laminate type Cross section
Recommended tensile strength for the design:
150/2000 Modulus of elasticity: >165 kN/mm2
(average) [mm2]
Recommended tensile strength for the design: 1650 N/mm2
10 / 1.4 14 23.1 kN 20 / 1.4 * 28 46.2 kN 200/2000
Modulus of elasticity: >210 kN/mm2
(average) [mm2]
Recommended tensile strength for the design: 2050 N/mm2
10 / 1.4 * 14 28.7 kN 20 / 1.4 * 28 57.4 kN
*) Upon request, only larger quantities!
• Delivery Rolls of 100 m, 150 m or cut to size. An unwinding reel is available upon request. Special dimensions upon request.
• Application S&P Laminates CFK are used as externally bonded reinforcement for flexural strengthening of load-bearing elements made of RC-structures, wood and natural stone.
• Application areas
Retrofitting of RC-structures to new requirements: - Modifications in the static system - Increase of working load
Enhancement of the performance capability: - Reduction of deflection - Absorbing of vibrations - Seismic retrofitting
Repairs to defective RC-structures: - Damage caused by corrosion - Accidents, e.g. fire, impact, explosion, etc. - Planning and execution errors
• Advantages
- Low dead weight - Low application thickness - Economical application without lifting gear or placing and support devices - Very high strength - High modulus of elasticity - Excellent fatigue behaviour - Corrosion resistance - Can be coated with paints
• Special CFK laminates, e.g. with a modulus of elasticity of 300,000 N/mm2, are
available upon request. However, the application of these high modulus laminates is not economical as the utilisation of their tensile strength is only marginal.
As of all other technical indications and information provided by us, the only purpose of this data sheet is to describe the nature of this product, as well as its possible applications and fields of use. However, it does not guarantee certain properties of this product or its suitability for a determined purpose of application; furthermore, the directions for use given in this data sheet are not complete. Since this data sheet is subject to modification, it is the duty of our clients to ensure that they refer to the latest version. The updated data sheets can be obtained at all times from all our locations. In addition, the current general terms of business are applicable.
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Estudo experimental do efeito da reparação de fendas no comportamento
de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP
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D. S&P Resin 220
Anexos
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S&P Resin 220 epoxy adhesive Two-component epoxy resin-based adhesive for S&P FRP Systems 01/08 Areas of application • pressure-bonding • S&P laminates CFK on concrete and steel Product description S&P Resin 220 epoxy adhesive is a solvent-free, thixotropic, grey two-component epoxy resin adhesive that has been specially developed for bonding carbon fibre laminates (S&P laminates CFK). The material characteristics of the fresh and hardened adhesive are designed specifically to satisfy the special requirements of the S&P structural component reinforcement system. The adhesive has been system-tested as a compound for the FRP Lamella dimensioning software. Advantages • ready-to-use (no need to add filler) • convenient pot life • high adhesive strength and bond strength • thixotropic, so does not run or drip • bonds to damp substrates • high mechanical strength • hardens with minimum shrinkage • solvent-free Substrate preparation Reinforcement may only take place if the substrate for the laminates CFK has an inherent tensile strength of at least 1.5 N/mm². The substrate must be free from substances which may impair adhesion (oil, grease, wax, etc.), and must additionally be dust-free, clean, more or less dry and sound. Max. substrate humidity: 4 % Age of concrete depending on climate: at least 3 to 6 weeks. Important points When reinforcing structural components with the S&P FRP System, it must be possible to transmit the tensile forces from the laminates to the load-bearing substrate through the adhesive. Mechanical processing (cleaning) of the substrate is therefore always essential. The usual methods, such as grinding, milling, sandblasting, etc, may be used. Any unevenness in the substrate must be eliminated before the laminates CFK are fitted. This operation is essential to prevent any deflection forces arising under tension. Variation in level must not exceed 0.5 cm over a length of 200 cm. Suitable material: S&P Resin 230 levelling mortar. Application Mixing: Stir the individual components separately and then add component A to component B and mix thoroughly until the colour is uniformly grey and free of any streaks. Place the mixed material in a different container in order to reveal any inadequacies in the mix. Mix slowly to minimise air inclusions. Mixing ratio: Comp. A : Comp. B = 4 : 1 by weight and volume Pot life approx. 60 minutes at +20 °C Before the adhesive is applied, the surface of the laminate must be cleaned with a cloth soaked in S&P Cleaner. Where appropriate, first apply a layer of adhesive onto the substrate with a spatula to a thickness of approx. 1 mm. Apply adhesive uniformly onto the laminate in a "roof" shape in a layer approx. 2 mm thick.
Within the time the adhesive remains workable, press the laminate into the layer of adhesive previously applied and bed it in uniformly with a pressure roller until adhesive is pressed out of the joint on both sides. Residual minimum adhesive thickness: 1 mm, maximum thickness: 3 mm. Important points Adhesive is best applied to the laminate using a special gluing set. After the adhesive has hardened, check for bonding over the entire area by tapping. Fire protection requirements must be complied with, as epoxy adhesives generally have limited temperature resistance. The surface of the laminates may be painted over to ensure visual uniformity. Cleaning Material which has not yet hardened can be washed off with S&P Cleaner. Material which has hardened can be removed only by mechanical means. Safety instructions Please refer to the safety, hazard and disposal instructions in the safety data sheet and on the container label. Consumption Approx. 1.75 kg/m²/mm Technical data Form Paste Comp. A and B Colour light grey Comp. A black Comp. B Density approx. 1.75 g/cm³ Comp. A approx. 1.75 g/cm³ Comp. B approx. 1.75 g/cm³ A+B mixed Mixing ratio. A:B 4 : 1 by weight 4 : 1 by volume Glass transition temperature > 56 °C Pot life > 60 minutes at +20 °C Bending tensile strength > 30 N/mm² Compression strength > 90 N/mm² Adhesive strength > 3 N/mm² on concrete; 3 days; 20°C > 3 N/mm² on S&P laminates CFK > 2 N/mm² on S&P Resin 230 levelling mortar Availability 5 kg and15 kg (A+B) units Application temperature and storage May be used from +10° C to +35° C Substrate temperature must be at least 3° C above dewpoint temperature. Components A + B May be stored for 1 year Store between +5° C and +25° C Homogenise before use; slowly warm up and homogenise frozen or supercooled material.
Bond behaviour Bonding tests with S&P Resin 220 and S&P laminates CFK, surface-bonded onto concrete components: TU Kassel Germany EIA Fribourg, Switzerland TU Braunschweig Germany CHUNGBUK National University Korea TU Lisbon Portugal and others Fig. 1: Experimental investigation of bonded areas A (end of laminate) and B (between two cracks). Fig. 2: Simulation of the different shear stresses on S&P Resin 220 adhesive. Fig. 3: Determination of the bond stresses for a 2-mm thick layer of adhesive. The dimensioning models for the software FRP Lamella are based on bond tests using S&P Resin 220 adhesives and S&P laminates CFK. Detailed test reports can be obtained from the S&P Clever Reinforcement Company. As of all other technical indications and information provided by us, the only purpose of this data sheet is to describe the nature of this product, as well as its possible applications and fields of use. However, it does not guarantee certain properties of this product or its suitability for a determined purpose of application; furthermore, the directions for use given in this data sheet are not complete. Since this data sheet is subject to modification, it is the duty of our clients to ensure that they refer to the latest version. The updated data sheets can be obtained at all times from all our locations. In addition, the current general terms of business are applicable.
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