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ESCOLA DIACONAL SÃO JOÃO PAULO II
ESTUDO SOBRE O LIVRO ATOS DOS APÓSTOLOS: Paróquia Nossa Senhora da Esperança
Welington César de Oliveira, Turma 2016
Ipatinga Julho 2016
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ESTUDO SOBRE O LIVRO ATOS DOS APÓSTOLOS
1- INTRODUÇÃO
Sabemos que toda a “escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3,16), isso significa
que Deus é o autor primordial da bíblia. Porém, é preciso que saibamos o que
a Igreja quer dizer com esses termos e, depois, nos é necessário tornar
pessoal essa compreensão. O modo como lemos a Bíblia determina o que nós
tiramos de suas páginas sagradas. A Igreja nos fala, através da Constituição
Dogmática Dei Verbum: “Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação
da Escritura, está sujeito ao juízo último da Igreja, que tem o divino mandato e
o ministério de guardar e interpretar a palavra de Deus (10). Isso porque a
Igreja é a guardiã da Revelação Divina e para que a fé seja transmitida de
forma reta cabe a ela a interpretação e transmissão da doutrina de forma
exegética.
Está implícito nessas doutrinas o desejo de Deus de se fazer conhecido por
todo o mundo e de estabelecer uma relação de amor com cada homem, mulher
e criança que Ele criou. E o Altíssimo comunica conosco, por
condescendência, quando se inclina a nós assumindo a maneira de se
comunicar dos homens e por elevação, quando carrega as palavras de poder
divino (profetas). Ou seja, Deus usa de argumentos, palavras e articulações
humanas para se comunicar conosco.
A palavra de Deus, que é virtude de Deus para a salvação de todos os crentes
(cfr. Rom. 1,16), apresenta-se e manifesta o seu poder dum modo eminente
nos escritos do Novo Testamento. Com efeito, quando chegou a plenitude dos
tempos (cfr. Gál. 4,4), o Verbo fez-se carne e habitou entre nós cheio de graça
e verdade (cfr. Jo. 1,14). Cristo estabeleceu o reino de Deus na terra,
manifestou com obras e palavras o Pai e a Si mesmo, e levou a cabo a Sua
obra com a sua morte, ressurreição, e gloriosa ascensão, e com o envio do
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Espírito Santo. Sendo levantado da terra, atrai todos a si (cfr. Jo. 12,32 gr.), Ele
que é o único que tem palavras de vida eterna (cfr. Jo. 6,68). (DV 17)
2- AUTORIA DO TEXTO
A tradição da Igreja atribui a autoria do livro Atos dos Apóstolos a São Lucas,
um médico gentio, companheiro de viagem de Paulo (2Tm 4,11; Fm 24), uma
pessoa de certa posição social e que conhecia muito bem a língua grega. Fica
bem claro que o autor do livro é o mesmo do evangelho de Lucas. O que nos
leva a esse entendimento é que ambos os livros são dedicados ao mesmo
homem (Teófilo), há também argumentos médicos nas narrativas, mesmo estilo
gramatical e a semelhança do estilo literário.
A datação do escrito se dá antes dos anos 70dc, logo após a prisão e morte de
Paulo (60 a 63dc). Essa dedução se dá com base no que Lucas não nos diz.
Por exemplo, ele não faz menção do incêndio que atingiu Roma em 64dc e a
feroz perseguição de Nero aos cristãos. Lucas também não relata o martírio de
Pedro e Paulo e não dá indícios de que Jerusalém já tivesse sido destruída
pelos romanos em 70dc.
3- TEMÁTICA
O Ato dos apóstolos é um livro histórico escrito originalmente em grego, sendo
a segunda parte de uma mesma obra, onde o evangelho de São Lucas é a
primeira parte. É organizado dando foco às principais figuras do livro, podendo
dizer que os capítulos 1 a 12 narram a trajetória de Pedro na fundação da
Igreja e a partir do capítulo 13 narram os esforços missionários de Paulo para a
sua expansão. A narrativa gira da cidade de Jerusalém à capital do Império
Romano, tendo como principal agente o Espírito Santo que impele a jornada
dos apóstolos, os quais passam pela Judéia, Samaria e depois por todo
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Império Romano. O fim do curso da história de dá em aberto com Paulo
pregando o evangelho ainda em Roma.
O livro passa pelo fim da missão de Jesus, quanto homem aqui na terra, pelo
inicio da missão da Igreja em nome de Cristo até a expansão da Igreja pelo
mundo, traçando os primeiros 30 anos da história cristã. Ou seja, da ascensão
de Jesus à prisão de Paulo. As fontes utilizadas para a construção do texto são
os relatos daqueles que também foram testemunhas oculares da vida de Jesus
e toda trajetória da Igreja, das tradições escritas e o seu próprio testemunho,
sendo evidenciado quando Lucas utiliza a primeira pessoa do plural “nós”.
Segundo o autor todo esse estudo e transmissão foi realizado de forma precisa
e metódica para garantir que toda verdade fosse transmitida de forma reta e
sólida. (Jo 1,1-4)
Aqui Lucas demonstra um interesse evidente em narrar a ação do Espírito
Santo, tendo como protagonistas Pedro e Paulo na ação evangelizadora da
Igreja, a tal ponto que alguns denominam o Atos dos Apóstolos como o
evangelho do Espírito Santo. Para evidenciar a pregação querigmática, de um
Jesus morto e ressuscitado, desses dois personagens Lucas traça um paralelo
entre o ministério desses grandes apóstolos:
a) Ambos pregam seu sermão inaugural com enfoque na Antiga Aliança (2,22-
36; 13,26-40);
b) Ambos apelam ao Salmo 16 para explicar a ressurreição de Jesus (2,25-28;
13,35);
c) Ambos Têm o poder de curar aleijados (3,1-10; 14,8-10);
d) Ambos são preenchidos com o Espírito Santo (4,8; 13,9);
e) Ambos são conhecidos pelos milagres extraordinários (5,15-16; 19,11-12);
f) Ambos conferem o Espírito pela imposição das mãos (8,14-17; 19,6);
g) Ambos confrontam e repreendem feiticeiros (8,18-24; 13,6-11);
h) Ambos ressuscitam mortos (9,36-41; 20,9-12);
i) Ambos se recusam a aceitar adoração divina (10, 25-26; 14,11-15);
k) Ambos são milagrosamente libertados da prisão (12,6-11; 16.25-34).
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Isso ratifica que a pregação de Pedro é a mesma de Paulo, que a inspiração do
Espírito Santo se dá nos dois apóstolos e que os dois são enviados em nome
de Cristo Jesus.
4- CONTEXTO DE ÉPOCA
A característica do governo do Império Romano é a forma autocrática liderada
por um imperador, com extensão territorial em volta do mar mediterrâneo na
Europa, África e Ásia. A área territorial era dividida em reinos , tendo o
imperador como o rei dos reis, o qual devia ser respeitado como uma pessoa
divina. Só se podia falar em um único reino que era o do Império, caso
contrário estava automaticamente afrontando o imperador. Para se
considerado súdito desse reino era necessário ter o título de cidadão romano
por nascença ou através de compra do título. Assim, eram garantidos direitos
que as demais pessoas não tinham, como por exemplo, o livre transito e
viagens dentro do império e a garantia de serem condenados somente após
julgamento. O governo era tão controlador que a vida, crença, relacionamento,
morte, tudo era norteado pelo império. Absolutamente todas as ações! O direito
que o povo tinha era de servir ao império. Com essa medida o Imperador
garantia a “Pax Romana”, que era a imposição da paz a força. A ponto de
qualquer vestígio de brigas e confusões ser passíveis de punições, como
prisões e chibatadas. O que retrata bem essa situação é a vigilância que se
tinha nos pórticos (átrios) anexo ao templo destinados a reunião dos pagãos,
onde cada um podia falar de sua crença livremente, pois os estrangeiros eram
proibidos de entrar no espaço dos judeus, e isso gerava uma situação propicia
para atritos. Para coibir tais conflitos centuriões ficavam de guarda para intervir
e prender caso necessário. O rigor da Pax era tão grande que até os centuriões
eram proibidos de portar armas de metal, tendo suas armas construídas de
madeira, somente os soldados romanos tinham essa permissão.
Nos últimos dois séculos antes de Cristo, o Império Romano foi estendendo
sempre mais o seu domínio sobre os países que confinavam com o
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Mediterrâneo oriental: Tornam-se província romana a Macedônia em 148ac,
em 63ac a Síria e Palestina e em 31ac o Egito. Por decreto do senado em 40ac
Herodes Magno foi decretado rei da Judéia. Governou até 4ac e apesar de ser
excelente administrador, fazendo o reino crescer e prosperar era
completamente submisso e controlado pela capital romana.
Depois de sua morte a Palestina foi divida em três grandes áreas, sendo: A
Judéia, governada por Arquelau, que mais tarde será substituído por Pôncio
Pilatos, a Galiléia, governada por Herodes Antipas e Traconítides, governanda
por Herodes Filipe. Os Hebreus dessa região(Palestina) tornam-se parte
problemática do império, pois tinham um culto monoteísta radical e o Império
Romano impunha a supremacia do culto aos deuses romanos. Quanto aos
hebreus helenistas, estes eram religiosamente indiferentes e liberais. Para eles
o Império era uma pátria política natural e os cidadãos romanos eram seus
amigos e mantinham entre si relações de negócios e colaboração.
Herodes Antipas não sendo descendente de Davi não tinha direito legítimo ao
trono, com isso teme a tomada do poder e defende o seu reinado com
perseguições e matanças. Vale ressaltar a ordem de assassinar as crianças
menores de 2 anos por medo do messias prometido (Mat 2,16-18). Com isso,
ao chegar um profeta e um movimento anunciando um novo rei dos judeus e
um novo reino torna-se uma ameaça ao império.
O primeiro grande conflito interno aparece com as novas lideranças que
surgem. Os apóstolos junto com a camada mais pobre da sociedade e
excluídos, tendo como maioria prosélitos de origem pagã são encarados como
risco ao reino, então inicia-se a perseguição aos cristãos que desencadeia a
prisão e morte de Pedro e Paulo. Com o avançar e crescer da Igreja há um
rompimento com o Judaísmo, pois os então chamados Cristãos (Ato 1,26)
aceitavam a conversão, por meio do batismo, dos gentios e impuros, passaram
a não praticar a circuncisão e acreditavam que Jesus era verdadeiramente o
Messias enviado pelo Pai criador, ou seja, Jesus filho de Deus. Nesse
momento a Igreja reconhece sua identidade.
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É importante destacar que o livro de Atos narrar a rejeição contínua do
Evangelho pela maioria dos judeus, o que levou à proclamação da Boa Nova
aos povos gentios. Com essa missionaridade da Igreja nascente Jesus
continua sua missão. Tendo o ponto de partida Jerusalém indo até os confins
do mundo (Mar 16,16).
A intenção de Lucas não é retratar a situação política ou a história e sim
apresentar o ideal cristão quisto por Cristo. É notório que toda narrativa busca
uma analogia do Primeiro Testamento com o Segundo e finalmente
desaguando em Jesus Cristo.
5- DESENROLAR DOS ATOS
5.1. Capítulo 1
No primeiro capítulo Lucas tem uma dedicatória similar ao Evangelho, ao
direcionar o escrito ao Teófilo. Aqui ele faz questão de retratar que todo seu
relato foi construído de forma meticulosa. O evangelista deixa implícito que o
ministério de Jesus continua através de seus discípulos e que o Espírito Santo
guia toda a missão da Igreja e é a força motora por trás dela. Neste capítulo
Jesus ressuscitado fica em evidencia e os instrui a ficar em Jerusalém até a
descida do Espírito Santo Paráclito(2,3), o qual os impelirá a serem
testemunhas de Cristo até o confins do mundo.
O período da instrução dura quarenta dias, o que na linguagem bíblica significa
que toda a instrução foi transmitida por completo. Vemos que os Apóstolos
ainda tinham uma visão romantizada do Messias prometido, pois esperavam
aquele que resgatasse Israel da opressão romana e reconstruísse o reino de
Davi. Jesus ao subir aos céus é encoberto por nuvens, o que a teofania quer
dizer que a presença de Deus está ali (Exo 13, 21). Neste instante realiza-se a
glorificação de Jesus e sua volta para a vida de Deus, ou seja, a sua missão
aqui na terra chega ao fim e com o Pentecostes inicia-se a missão da Igreja.
Os dois anjos portadores da palavra após a ascensão nos remete aos dois
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personagens que anunciaram a ressurreição junto ao túmulo vazio. Sua
palavras são uma chamada à realidade. Não se pode mais ficar parado, é
necessário sair de uma posição estática para cumprir o designo de Deus.
A tradição situa o local da ascensão no ume do Monte das Oliveiras, no leste
de Jerusalém. Teologicamente, o desaparecimento da presença visível do
Cristo no mundo não significa o desaparecimento de sua presença real. Ele
continua a viver e agir através do ministério da Igreja peregrina.
Aos onze apóstolos, Lucas acrescenta as mulheres e os irmãos de Jesus.
Entre as mulheres, é ressaltada a presença de Maria, mãe de Jesus. É a sua
última menção nos escritos sagrados. Aqui a presença de Maria representa a
Igreja em Gestação, a comunidade é o útero no qual a Igreja está se formando.
A menção dos irmãos de Jesus significa que a sua família está sendo formada.
Como os apóstolos eram fieis aos escritos sagrados era necessário completar
o grupo dos 12, símbolo das tribos reestabelecidas de Israel reunidas em volta
do Messias. Como critério para concorrer à vaga no grupo apostólico os
candidatos tinham que ter testemunhado todas as fases do ministério de
Jesus(1,22). Com a eleição de Matias a preparação para pentecostes se
conclui e vemos também a evidência da primazia de Pedro ao a liderar a
eleição na assembleia dos 120 reunidos. Número o qual nos remete a
expansão da Igreja (12 X 10 = 120).
5.2. Capítulo 2
O ponto marcante desse capítulo é o cumprir de Pentecostes que inicialmente
era uma das três festas de peregrinação que solicitavam a viagem dos homens
adultos de Israel a Jerusalém. Era uma festa de celebração da colheita,
comemorada 50 dias após a Páscoa. Com o tempo essa festa ganhou um
significado teológico, onde celebrava-se a Torá entregue ao povo de Israel no
Monte Sinai. Para os cristãos, o Pentecostes celebra a nova lei do Espírito, que
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supera a lei de Moisés. Nos lembra a descida grandiosa e ardente do Senhor
no Monte Sinai durante o Êxodo (Ex 19, 16-19).
O Espírito é a graça fundadora da Nova Aliança e a alma que anima o corpo da
comunidade cristã. No ato de Pentecostes ocorre o contrário da tragédia de
Babel (Gn 11,1-9), o Espírito, através da glossolalia, permite que todo o povo
ali reunido compreendesse o anuncio querigmático de Pedro em sua própria
língua materna. O Espírito se manifesta justamete como línguas de fogo, a qual
é instrumento de comunicação e fala, que é o meio dos homens se
comunicarem.
No discurso de Pedro o mistério da incorrupção é sustentado pela ascensão de
Jesus no terceiro dia, pois, segundo a tradição judaica, o processo de
decomposição dos corpos só tinha início quatro dias após a morte (CIC 627).
Vemos também o tamanho poder de Jesus, pois a tradição judaica diz que
aquele que senta a direita do rei tem poder supremo de decisão, é também o
mais querido, o mais amado. Tanto que os cristãos referia-se a Jesus como
Senhor que na linguagem messiânica é utilizada para denominar tanto rei
quanto Deus.
O autor evidencia, também, as inúmeras conversões que houve após o
discurso de Pedro, lhes revelando a condição de se arrependerem e serem
batizados para a remissão dos pecados. Então, é relatado o modelo da
primeira comunidade cristã que partilhavam tudo em comum, eram assíduos
nas orações, perseverantes na doutrina dos apóstolos(didaquê) e na fração do
pão (Eucaristia).
A título de curiosidade ressalto os fatos que atestam que Pedro é o príncipe
dos apóstolos:
a) Quando o evangelista recontam a escolha dos doze apóstolos colocam
Pedro no topo da lista (Mac 3,16; Luc 6,4);
b) Quando os evangelistas mencionam os apóstolos juntos, Pedro é
normalmente citado singularmente (Mc 1,36; 16,7; Lc 9,32);
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c) Quando Pedro conversava com Jesus o fazia em nome dos doze (Mc 8,29;
Lc 12,41; Jo 6,66-69);
d) Embora João ultrapassasse Pedro o permitiu entrar no sepulcro primeiro(Jo
20,3-8);
e) Jesus aparece a Pedro fazendo-o testemunhar a ressurreição(Lc 24,34);
f) Jesus prometeu a Pedro construir a sua Igreja, tendo-o como pedra de
fundação(Mt 16,18) e que deteria as chaves do reino(Mt 19,19);
g) Pedro faz o primeiro sermão da Igreja(Atos 2);
h) Pedro fez a primeira cura da Igreja nascente(At 3,1-10);
i) Foi Pedro que depôs no sinédrio(At 4, 5-12);
j) No Concílio de Jerusalém foi Pedro que tomou a palavra e encerrou o debate
(Ato 15,6-11).
5.3. Capitulo 3 e 4
Pedro e João estão quase sempre juntos e durante a oração das três da
tarde(ora nona) no templo se deparam com um aleijado logo na porta que pede
esmolas. Porém, Pedro lhe entrega o maior tesouro que tinha, a fé e conversão
por meio de Jesus Cristo. Ao dizer: “Em nome de Jesus Cristo Nazareno,
levanta-te e anda!”, assim revela que a cura que acabara de acontecer não foi
por ele mesmo, mas em nome do ressuscitado. Assim o ministério de cura de
Jesus continua por meio dos apóstolos (3,6). Mais uma vez Lucas faz uma
analogia ao Antigo Testamento narrando as palavras de Pedro ao proferir a
fórmula de Moisés na sarça ardente: “O Deus de Abraão, de Isaac de Jacó o
Deus de nossos pais glorificou seu servo Jesus...” Identificando Jesus como o
Servo messiânico do Senhor, exaltado e elevado de forma gloriosa. Outro
dogma de fé descrito nesse capítulo (3,15) é a respeito da co-particiação de
Cristo no ato da criação e renova o mundo com o Espírito Santo.
Contudo, essa boa ação acaba levando os apóstolos para a prisão por meio
dos saduceus que eram membros da aristocracia sacerdotal de Jerusalém e
que eram oponentes ferrenhos dos apóstolos e não criam na doutrina da
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ressurreição dos mortos. Com isso se apresentam diante dos chefes, anciãos e
dos escribas, com Anás, que era sumo sacerdote, Caifás, genro de Anás, e
João filho de Anás, sucessor direto de Caifás, que julgavam segundo a lei
mosaica. E Pedro cheio do Espírito Santo proclama que Jesus e a pedra que
os construtores rejeitaram (Sal 117, 22). Quando o apóstolo diz construtores
ele se refere aos líderes de Israel e que agora são representados pelo sinédrio.
Apesar de todos os esforços não conseguem repreender e intimidar Pedro que
movido pelo Espírito Santo afirma que não pode ficar calado frente a verdade
revelada.
Pedro e João libertos se encontram com a comunidade cristã relatam tudo que
haviam vivido e regozijando todos experimentaram mais uma vez um novo
pentecostes e é relatado mais uma vez o modelo da perfeita comunidade
cristã.
5.4. Capitulo 5 a 8
Na imagem da perfeita comunidade que vive a comunhão fraterna temos os
personagens de Ananias e Safira, que ao vender seus bens escondem parte
para eles mesmos ao em vez de entregar para os apóstolos. O erro desse
casal não foi a entrega do dinheiro e sim a mentira que empreenderam para
que fossem beneficiados de alguma maneira e quebrando a comunhão com a
comunidade. O que pesa não é a mentira a Pedro e sim ao Espírito Santo, o
que acaba levando os dois a morte. A mentira não era necessária, uma vez
que a entrega dos bens não era obrigatória. O casal poderia ter mantido ma
parte ou até todo o dinheiro, mas acabaram induzindo os apóstolos a pensar
que eles tivessem doado tudo o que tinham.
Novamente os Sumo Sacerdotes prendem os apóstolos, uma vez que
desobedeceram o aviso durante a primeira prisão, e enquanto reuniam o
sinédrio um anjo do Senhor os liberta das cadeias. No que se refere ao anjo
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alguns acreditam que esse seja a imagem do Anjo da Guarda que Deus nos
confia aos teus cuidados (Gn 41,14; Jr 40.4; Zc 9,11).
Obedecendo a ordem do Anjo eles se colocam a pregar no templo e são
reencontrados pelos guardas e Pedro ratifica que sua obediência repousa no
Senhor, exaltando que não estavam sós e sim com o Espírito Santo. A
presença da comunidade de Jerusalém se faz sentir fortemente no meio do
povo, e isso via suscitar medo nas autoridades judaicas. As autoridades temem
tudo o que possa lhes tirar o povo do controle, pois todo o seu privilégio
repousa no controle do povo. Lucas deixa bem claro quem é o adversário: o
Sumo Sacerdote e o seu partido, os saduceus, a nobreza sacerdotal e a leiga
que dominam o templo e, assim, o poder econômico, político e ideológico
matem o povo submisso.
O sinédrio não sabe por onde começar. Então Gamalieu, o mesmo mestre e
professor de Saulo, levanta e com bom senso e sabedoria e tendo eu seu
discurso uma sensibilidade tamanha às coisas de Deus e na leitura dos fatos
(5,33-39), advoga a causa dos apóstolos propondo soltá-los com o argumento
de que se o movimento fosse divino o homem não seria capaz de contê-lo, se
não o for ele se diluiria até findar. Aceitando sua argumentação, os membros
do sinédrio não desistem de abafar aquele movimento nascente que
representava para eles uma ameaça e só os liberta após torturas intimidatórias,
a qual não gera efeito porque os apóstolos continuam a ensinar nas sinagogas.
Vemos então o primeiro conflito dentro da comunidade nascente. A Igreja
antiga de Jerusalém era totalmente composta por filhos de Israel, alguns eram
de língua grega e ouros de língua hebraica. Os primeiros eram imigrantes
helenos(helenistas) provenientes de inúmeros povoados judaicos no mundo
romano. Os segundos eram nativos, falantes do aramaico, que vivam a
Palestina. No caso em questão os helenos reclamaram da discriminação e
injustiça contra suas viúvas, que eram especialmente vulneráveis na
sociedade. O problema é que os hebreus não comiam na mesma mesa com os
helenistas e prosélitos, pois, segundo a lei, ficavam impuros. Devido a tudo isso
as viúvas dos helenistas não eram recebidas nas refeições devido a separação
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de mesa entre os judeus e os outros. As viúvas helenistas recebem um
tratamento pior, ou seja, a diferença de língua é origem de discriminação e esta
é agente corrosivo da unidade.
Para correção desse conflito os apóstolos solicitam que os próprios helenistas
elejam entre eles 7 pessoas de boa índole ( diáconos) para representar os
interesses de sua própria comunidade. Os apóstolos faz a imposição de mãos
e os 7 recebem o munos de profetizar. Assim os apóstolos desprenderiam
esforços somente no ministério da palavra.
Estevão, um dos sete, se destaca como cheio de graça e fortaleza. Sua morte
é resultado de tensões que tiveram início no debate, se agravaram com filas
acusações e culminaram numa erupção de violência coletiva, fazendo com que
Estevão fosse levado a morte.
Em seu discurso de defesa Estevão apresenta um panorama de toda a história
da Aliança. Ele atenta para as incessantes refeições que compõe a história de
Israel, dando ênfase à José, de Moises, da lei, dos profetas, e finalmente à
rejeições de Jesus. Sua vida prefigura a vida de Jesus, seguindo o mesmo
padrão de rejeição, resgate e redenção. Desde os testemunhos falsos diante
do sinédrio até o seu martírio final. Assim Estevão se torna o primeiro mártir da
Igreja.
No versículo 58 do capitulo 7 aparece uma figura chamada Saulo, que mais
tarde se tornará Paulo. Aqui temos uma particularidade que não está descrito
na sagrada escritura. O talmude norteia o rito de apedrejamento, onde o
promotor(Líder) deveria ficar num lugar mais alto para fique visível e veja caso
alguém surja com evidências novas a favor do condenado e os mantos
deveriam ser depostos aos seus pés. Então, alguns teólogos defendem que
Paulo era o líder do apedrejamento. Porém não é possível afirmar tal fato,
apesar de sua qualificação vir por ser o melhor aluno de Gamalieu e ter
consentido com o apedrejamento de Estevão (Ato 22,20).
14
Estevão então, momentos antes de morrer pronuncia as mesmas palavra de
Jesus no calvário, pedindo a Deus que os perdoasse porque não sabiam o que
estavam fazendo (Ato 7,60; Luc 23,34), prefigurando aquilo que a Igreja
deveria passar ao seguir o modelo de vida de Cristo.
A morte de Estevão marca o inicio da perseguição dos Cristãos, o que acaba
ocasionando uma migração dos discípulos por toda Judéia e Samaria,
chegando também à Fénicia, Chipre e Antioquia,o que culmina na expansão da
Igreja através do anuncio desses imigrantes. Os Apóstolos ainda permanecem,
pois com o discurso de Gamalieu no sinédrio sugere que os líderes do
movimento cristão fiquem em paz (5,38) de certa maneira eles ficam
preservados por um tempo. Mas, um grande perseguidor de nome Saulo se
levanta de forma feroz a perseguir e prender todos os cristãos que encontrava
em seu caminho.
Temos, também, a narrativa do Simão mago que ao modelo de Ananias e
Safira tenta manipular as coisas divinas para beneficio próprio. Simão não é
censurado por ser mago e sim por querer comprar o dom de Deus, fazendo a
prática da simonia.
No relato temos também um fato contrário que é o eunuco etíope convertido. O
Judaísmo conquistou admiradores de muitas nações do mundo antigo. O
eunuco é um exemplo destes admiradores, mas devido a sua condição física,
que o impossibilitava a circuncisão, não podia entrar no Templo e se unir
completamente à comunidade da Antiga Aliança. A conversão do eunuco é
muito importante, primeiro por a Etiópia ficar ao sul do Egito, e era como que a
porta da África negra, e em segundo por se tratar de um etíope negro, o que
significa que o evangelho transpõem a fronteira das raças. A aurora desta nova
era em Cristo convence Filipe de que não há mais nenhum impedimento ao
batismo do eunuco para o ingresso à família de Deus (8,36-36). Assim o etíope
é convertido e batizado, tornando-se o primeiro cristão a evangelizar a Etiópia.
Mais uma vez o Espírito Santo atua na vida da Igreja arrebatando Filipe e o
transportando para Azot.
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5.5. Capitulo 9
Neste capítulo se dá a conversão de Saulo, logo após empreender a
perseguição contra os cristãos tendo em posse recomendações de Damasco
com livres poderes para prender os cristãos. A conversão de Saulo a missão é
explosiva. Já se pode prever que ele vai assumir a nova causa com todo o
ardor com que antes a perseguia.
Sente-se a importância fundamental da comunidade através de Ananias a
quem Saulo devia apresentar-se para recobrar a vista. Lembra a lei que
mandava o leproso curado apresentar-se ao sacerdote para ser reintegrado no
convivo social. É na comunidade que se dá a iniciação de Saulo que ficou
algum tempo com os discípulos. Saulo passou por um processo de morte e
ressurreição. E através do batismo e da queda das escamas de seus olhos
morre para uma visão antiga e nasce para uma nova visão.
Este implacável perseguidor da Igreja converteu-se num dos mais enérgicos
apóstolos através de um encontro milagroso com Cristo. Inicia suas pregações
em damasco e Jerusalém acompanhado do prestigio de Barnabé e depois na
presença de Pedro e Tiago. A Igreja, então, passa por um período de
tranquilidade e mais uma vez auxiliada pelo Espírito Santo crescia em número.
Voltando à figura de Pedro vemos a ação de Cristo por meio dele ao curar
Enéias e a ressurreição de Tabita em Jope. A cura de Enéias se assemelha à
cura do paralítico em Carfanaum (Luc 5,17-26) e a ressurreição de Tabita se
aproxima da ressurreição de Lázaro e a ressurreição da filha de Jairo (Mc
5.41). Além disso Pedro começa a quebrar paradigmas ao ficar na casa de um
curtidor de pele (9,43), pois esse vivia num estado perpétuo de impureza ritual
devido ao seu contato frequente com peles de animais e carniça. Embora os
judeus religiosos fosse instruídos a não manter relações com estas pessoas,
Pedro aceita sem restrições a hospitalidade de Simão.
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5.6. Capitulo 10-12
O batismo de Cornélio e de sua família abre um novo capítulo na história da
cristandade. Pela primeira vez, gentios aceitam o evangelho e se tornam
membros completos da Igreja. É interessante ressaltar que essa família
pertencia a classe alta da sociedade, o que quer dizer que a evangelização
inicia-se pela parte nobre da sociedade. De acordo com o anjo as orações e
esmolas do gentio Cornélio sobem aos Céus como sacrifício, para ser
lembrado diante de Deus. E este obediente à ordem do anjo solicita a presença
de Pedro em tua casa.
Pedro, paralelamente, tem uma visão durante um êxtase na hora nona e vê
revelar-se o rompimento das leis humanas com o querer divino. Fiel aos
preceitos judaicos, Pedro se nega a comer o alimento proibido pela Torá.
Porém, a visão ensina que a lei de Moisés que distingue os alimentos está
abolida nesta Nova Aliança. A suspensão desta proibição mosaica é um sinal
para que os gentios sejam aceitos plenamente na família divina da Aliança
(10,28).
Pedro recebe os enviados pagãos em sua casa e os hospeda, para no outro
dia chegar à casa de Cornélio. Pedro ao adentrar na casa recusa ser tratado
como divindade e direciona toda exaltação para a pessoa de Jesus Cristo.
Temos mais um quebrar da velha lei, pois os judeus palestinos chegavam a
mudar seu trajeto e percorriam grandes distâncias para evitar contato com os
gentios. Eles geralmente declinavam sua hospitalidade e sua comida pelo
medo da contaminação. A visão ensinou a Pedro que judeus e gentios não
estavam mais separados pelas barreiras da lei.
O discurso de Pedro começa pelo Batismo de João e termina no mandato
evangélico de Jesus, o Espírito Santo desce sobre os que ouvem a Palavra e
acontece o Pentecostes dos pagãos, com os mesmos sinais do Pentecostes.
Assim Pedro vê que não pode negar o batismo aos pagãos e Deus concede o
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perdão pela invocação do nome de Cristo no Batismo a todos que estavam na
casa.
Com a acolhida de Cornélio no seio da comunidade, Pedro abrira um
precedente. Com a fundação de uma comunidade no grande centro pagão de
Antioquia na Síria, concretiza-se historicamente a marcha do Evangelho entre
os pagãos. A Antioquia será um novo centro dinâmico que se irradiará num
movimento missionário no mundo grego e romano. Pouco a pouco as
lideranças cristãs se deslocam de Jerusalém para Antioquia. Não se trata
apenas de um deslocamento geográfico, aos poucos o cristianismo forma sua
identidade própria e se separa do judaísmo oficial, sediado em Jerusalém.
Como a comunidade de Antioquia não fora fundada pelos apóstolos era
necessário um reconhecimento oficial. Para isso a Igreja de Jerusalém envia
Barnabé para confirmar a conversão e esse se alegra. Lucas encerra dizendo
que pela primeira vez os discípulos são chamados de cristãos.
No capitulo 12 temos o final da missão de Pedro e a história da Igreja
descentraliza de Jerusalém e passa para Antioquia da Síria, de onde o
Evangelho se irradiará pela Ásia e Europa. É relatado também a primeira vez
que os apóstolos são perseguidos e a segunda perseguição da igreja, o que
desemboca na morte de Tiago, segundo mártir) e prisão de Pedro.
Pedro acaba liberto da prisão por meio da ação de um anjo (possível anjo da
guarda), nos remetendo ao êxodo (Ex 14,19), o que resulta na morte dos
guardas que o vigiavam como prescrito na lei romana, pois era extremamente
grave a fuga de um prisioneiro. A comunidade reunida na casa de Maria está
em oração em prol da libertação de Pedro, recebendo-o após o auxilio divino.
No versículo 17 do capitulo 12 a Sagrada Tradição identifica Tiago como o
primeiro bispo de Jerusalém instituído por Pedro. E assim se da o fim da
narrativa sobre a missão de Pedro e o inicio dos relatos sobre a missionaridade
de Paulo, iniciando nas companhias de Barnabé e Marcos.
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5.7. Capitulo 13-14
Temos nesse trecho a primeira viagem Missionária de Paulo com Barnabé, e
na Igreja de Antioquia se reúnem com cinco homens judeus de língua grega. E
após orações o Espírito Santo separa Barnabé e Paulo e os envia para
missões distintas. Então a comunidade os abençoa através da imposição de
mãos e iniciam sua jornada.
Paulo, junto com Barnabé e João em Chipre promove a conversão do
procônsul, cujo titulo indicava o mais alto escalão do Império Romano nas
províncias. Essa conversão vem logo após o apóstolo vencer o mago em nome
de Jesus. Saulo assume o nome de Paulo e, após o fato, seguem para
Antioquia da Pisídia, onde Marcos se aparta deles gerando desgosto a Paulo e
recobrando os lanços posteriormente (Cl 4,10; 2Tm 4,11). Anunciam a palavra
em uma sinagoga, iniciando o argumento desde o êxodo até a ressurreição de
Jesus. A alegria do povo foi tanta que pediram a eles que voltassem no dia
seguinte para proferir tais palavras, o que gerou inveja nos judeus que se
puseram a protestar, fazendo com que Paulo leve a palavra aos pagãos.
Denota-se que mais uma vez os discípulos ficaram cheios de alegria e do
Espírito Santo.
No capítulo 14 Paulo e Barnabé são referidos com o título de apóstolos e
continuam a sua estratégia de proclamar a boa nova nas sinagogas. Fugindo
da cidade de Icônio se direcionam para Listra e Derbe. Em Listra ao curar o
coxo o povo reage em adoração como se eles fossem deuses em forma de
homens. Conta-se que algumas divindades gregas uma vez se disfarçaram e
fizeram uma visita a esta aldeia, mas os nativos recusaram-se a recebê-los e
os enxotaram de lá. Apenas um casal devoto os recebeu. Em agradecimento,
os deuses transformaram a casa do casal em um templo maravilhoso, e com
raiva do resto destruíram suas habitações. Portanto agiram para evitar o erro
trágico de seus ancestrais. Após esse episodio Paulo é levado para fora da
cidade e é apedrejado até quase morrer.
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A primeira missão se encerra como retroceder para Antioquia da Síria e no
trajeto iam animando as novas comunidades e instituindo líderes.
5.8. Capitulo 15
Aqui ocorre o primeiro Concílio da Igreja (Concílio de Jerusalém 49dc),
momento centro do livro narrado por Lucas. Foi um evento decisivo para a
história do cristianismo. Foi convocado para avaliar o andamento das
conversões dos gentios que enchiam as igrejas. Alguns insistiam que eles
deviam ser circuncidados, mas o concílio refutou a necessidade deste adendo
para a admissão da graça salvadora de Cristo. Este cisma decisivo com a
religião nacional de Israel faz do Concílio de Jerusalém o cetro teológico do
livro dos Atos dos Apóstolos. Mostra que a Igreja é a aliança de uma
comunidade dista do judaísmo e sim uma comunidade católica, que abrange
todas as nações. Pedro, em sua primazia, encerra o debate com um
pronunciamento de que judeus e gentios recebem a mesma salvação. O fruto
dessa primeira reunião é o esclarecimento de que a salvação cristã depende
exclusivamente da Fé em Jesus, e que não é necessário antes ser judeu para
depois tornar-se cristão.
“Então pareceu bem aos apóstolos” (15,22ª) enviar a Síria e à Cilícia
testemunhas e uma carta referente ao concílio. Junto ao documento voltam
Paulo e Barnabé para Antioquia, acompanhados da delegação de Judas e
Silas para esclarecer toda a questão causadora do conflito. Ressaltamos a
citação do Espírito Santo na carta ao dizer: “Com efetito, pareceu bem ao
Espírito Santo a nós ao vos impor outro peso” (15, 28).
Na segunda viagem de Paulo há uma separação entre ele e Barnabé, pois este
preferiu acompanhar Marcos. Com isso Paulo inicia sua jornada na companhia
de Silas.
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5.9. Capitulo 16-18
No inicio do capitulo 16 vemos um fato curioso. Por que mesmo após o
primeiro concilio Timóteo teve que ser circuncidado? Timóteo era filo de uma
judia convertida ao cristianismo e de um pai grego. Na tradição judaica para
casamento misto o filho deveria ser criado na religião da mãe. Caso contrário,
poderia ser encarado como um judeu renegado o que lhe impediria de entrar
nas sinagogas e atrapalhando a estratégia de Paulo.
Paulo faz questão de mostrar que sua jornada é guiada pelo Espírito Santo, por
duas vezes diz que o Espírito os impediu de tomar a direção de Éfeso. Paulo
parte para Macedônia, após uma visão. Aí Lídia é batizada, uma escrava é
liberta do espírito de Piton e também da exploração dos seus senhores que
utilizavam das adivinhações pra ganhar dinheiro. Aqui as pregações se dão
fora da sinagoga porque Filipo não atendia o requisito de se ter no mínimo 10
chefes de família pra construir um a sinagoga, pois tinha como característica
uma população miscigenada.
Os amos da escrava, cheios de ira contra Paulo e Silas, os acusam de pregar
um modo de vida que contraria o estilo Romano. Com isso foram levados à
presença do magistrados. A partir deste capitulo a presença ocular de Lucas se
torna evidente na narrativa quando diz “íamos” ou “procuramos”.
Paulo e Silas são flagelados e presos E mesmo em cadeias cantam hinos a
Deus e veio então um grande tremor que abriu todas as portas e cadeias. O
carcereiro pensando que haviam fugido pensa em suicidar-se e Paulo o
Impede, convertendo-o e este após levá-los para sua casa.
No dia seguinte o magistrado emite ordem para soltá-los, porém Paulo apela
para o título de cidadão romano e denuncia a prisão e açoites sem julgamento.
O que feria a lei. Há um pedido de desculpas formal e soltura dos apóstolos.
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Tessalônica era um grane centro, capital da província da Macedônia, onde os
quadros do império estavam bem organizado e era residência do governador.
Enquanto os acusadores de Filipos eram pagãos, aqui são os judeus que
acusam. Em termos muito semelhantes à acusação feita contra Jesus diante
da autoridade romana. Paulo procurava as sinagogas onde anunciava a
identidade messiânica de Cristo pela escritura.
A insatisfação com o mundo romano favorece a expansão do judaísmo,
prosélitos e tementes a Deus eram arrebanhados por toda parte. Podemos
perceber a composição das comunidades paulinas e principalmente lucanas,
composta por judeus, pagãos gregos, simpatizantes do judaísmo, mulheres e
membros da alta sociedade.
Em Atenas ocorre um fato de grande importância, onde Paulo utiliza da figura
de um Deus desconhecido, que os gregos cultuavam, para revelar o Deus
criador de todas as coisas e a Jesus o redentor. A cidade era um centro
religioso e de debates filosóficos e o discurso de Paulo acaba envolvendo os
intelectuais que desejam aprender sobre essa nova crença que surge. Os
filósofos que escutavam Paulo eram epicureus que acreditavam que para se
viver em era preciso evitar ao máximo a dor e o desconforto. Nos tempos do
NT essa filosofia já havia se degradado e resumia-se a uma busca desenfreada
pelos prazeres sensuais. Muitos discípulos acreditavam que se os deuses
existiam, eles não tinham interesse pelas questões da humanidade. Contra
essa filosofia Paulo insiste que Deus existe e está ao alcance d todos e julgará
o mundo por sua conduta. Apesar de alguns escarnecedores o discurso atine e
converte o aeropagista Dionísio e uma mulher chamada Dâmaris (17,34).
Depois disso Paulo dirige-se a Corinto, cidade situada entre dois mares, o
Egeu e o Adriático, que favorecia o comércio entre o ocidente e o oriente e a
troca de culturas. O ambiente favorecia também o fervilhar das religiões. É aqui
que o fermento cristão criou personalidade, deixando a cultura judaica.
Em grande crise devido o fracasso de Atenas, Paulo tem a providência de
encontrar Áquila e Priscila que, tudo indica, já eram cristãos. Então liga-se a
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eles profissionalmente. Seu ardor missionário esfria e só volta a pleno vapor
com a chegada de Silas e Timóteo ao dedicar-se inteiramente a evangelização.
A orientação de Paulo era a de anunciar a Boa Nova primeiro aos judeus, mas
Diante da oposição deles, sente-se desincumbido e livre para evangelizar os
pagãos. Durante a permanência em Corinto escreveu as duas cartas aos
Tessalonicenses.
5.9. Capitulo 19-20
Neste trecho Paulo está em sua terceira missão. A fundação de uma Igreja era
um trabalho sério e demorado. Durante dois anos Paulo se entreteve com os
discípulos, assim como em Corinto. Com essa ação Paulo promoveu a
fundação de Igrejas em muitas cidades da Ásia durante a sua missão.
Com a relação as curas de Paulo o poder divino fluía tão fortemente através
dele que até suas roupas de trabalho eram usadas pra expulsar demônios e
doenças. Isso nos remete a tradição católica que nos diz que os corpos dos
santos e até seus pertences podem ocasionar grandes milagres na presença
da fé.
No ato do exorcismo, os filhos do sumo sacerdote Ceva são dominados pelo
demônio porque fizeram uso não autorizado da fórmula exorcista cristã,
invocando o nome de Jesus sem fé. Isso culmina na conversão de muitos
outros que queimam seus livros, que somados geravam um valor de 50 mil
salários.
O tumulto em Éfeso mostra que Paulo e o Evangelho proclamado mexem
também com toda estrutura econômica da sociedade. A boa nova do
Evangelho era má notícia para os ídolos e também para os artesãos que
utilizavam desse culto pagão para obterem dinheiro para os seus negócios. E
mesmo com denuncias ao magistrado saem livres, pois o caráter da denuncia
era somente de fé e culto.
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Paulo no capitulo 20 nos remete a participação na Eucaristia no primeiro dia da
semana. Essa passagem é uma das primeiras evidências de que os cristãos se
reuniam aos domingos para instruções catequéticas e adoração sacramental. A
sequencia de pregações apostólicas seguintes da celebração eucarística
reflete a estrutura essencial da liturgia cristã, onde cristo vem ao nosso
encontro através da palavra sacramento.
Em mileto Paulo faz um discurso de despedida aos líderes de Éfeso. Paulo os
relembra de sua própria conduta e os alerta dos perigos que virão. Pede a eles
perseverante, coragem e humildade.
6- O FIM DA JORADA DE PAULO (21-28)
Nesse decurso é narrado o regresso de Paulo à Jerusalém e a tentativa das
comunidades em detê-lo, mas Paulo é fiel à ordem de Jesus quando diz que
era necessário que ele testemunhasse também em Roma. Temos a
personificação de todo julgamento injusto até a prisão para posterior morte a
imagem de Jesus e Estevão.
Paulo diante do sinédrio utiliza da divisão entre fariseus, que acreditavam na
ressurreição, e saduceus, que seguiam fielmente a tora, para jogar um contra o
outro. E diante de tamanho conflito Paulo é escoltado para fora do sinédrio.
A transferência de Paulo para Cesaréia é realizada as pressas frente a
intenção dos judeus de assassinar Paulo pelo caminho. Paulo então só é
julgado quanto os seus acusadores chegam. O discurso do advogado é
bajulador, o de Paulo é de enorme dignidade. O advogado chama o
cristianismo de partido, Paulo o repele chamando de caminhada. Paulo ainda
fica preso 2 anos até o sucessor de Felix assumir o poder.
Há então um novo julgamento no governo de Festo o que leva Paulo a clamar
o direito de ser julgado por Cezar, pois era cidadão romano. Com a chegada do
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rei Agripa Paulo é escutado por ele, e tanto Agripa quanto Festo não
encontravam culpa em Paulo, porém como ele tivesse apelado para César não
podiam soltá-lo. Todo cidadão romano tinha o direito de apelar que seu caso
fosse encaminhado ao imperador, depois ou até antes que o veredito saísse.
Paulo exerce este direito para proteger sua própria vida, sabendo que em não
fariam justiça em Jerusalém.
Paulo, então, é enviado para Roma para ser julgado e no caminho a
embarcação onde estavam naufraga, pois os tripulantes não acreditam no
aviso de Paulo e acabam naufragando e por promessa divina todos sobrevivem
e acabaram náufragos na ilha de Malta e ficam aí três meses.
Chegando em Roma Paulo ganha o direito de ficar em prisão domiciliar. “Paulo
permaneceu por dois anos inteiros no aposento alugado e recebia a todos os
que vinha procurá-lo. Pregava o Reino de Deus e ensinava as coisas a
Respeito do Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade e sem proibição”. (Atos
28,30-31)
A tradição sustenta que Paulo foi solto e preso mais uma vez e sofreu o
martírio, sendo decapitado, em Roma em meados de 60dc.
CONSIDERAÇÕES
A pregação de Paulo em Roma é apenas o início do cumprimento do mandato
de Jesus, de testemunhar até os confins da terra. Estudiosos geralmente
sustentam que a missão da igreja ao mudo, longe desenhar seu desfecho,
apenas começou. Também o fato da narrativa de Lucas chegar ao fim com
Paulo ainda cativo sugere que o Livro dos Atos tenha sido escrito nesse
período (+-63dc). Essa conclusão não é auto-evidente, mas, combinada com
outros fatores, torna-se muito convincente para datarmos os Atos no início dos
60dc.
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ALGUNS SIGNIFICADOS
Sinédrio: O Sinédrio (Sanhedrim) era a Corte Suprema da lei judia,
com a missão de administrar justiça, interpretando e aplicando a Torá. Ao mesmo tempo, representava o povo judeu frente à
autoridade romana.
Saduceus: Eram pessoas da alta sociedade, membros de famílias
sacerdotais, cultos, ricos e aristocratas. Dentre eles haviam saído desde o início da ocupação romana os sumos sacerdotes que, nesse
momento, eram os representantes judeus diante do poder imperial.
Helenistas: são os judeus que viveram longe da Judéia, geralmente
em terras de influência grega, e que adotaram hábitos como o estudo da Lei e dos Profetas em grego, o que não era bem aceito pelos
judeus.
Imperador: Detinha o poder sobre os demais Reis do Império, o
governador supremo.
Gentios: Considerado os pagãos, bárbaros, idólatras, ou seja todas as pessoas que não pertenciam ao povo judeu.
Fariseus: Dedicavam sua maior atenção às questões relativas à observância das leis de pureza ritual, inclusive fora do templo.
Zelotes: Movimento judeu de oposição ao Império Romano.
Parusia: Volta gloriosa de Jesus Cristo.
Querigmático: Pregação tendo o centro a encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Escatólogia: A segunda vinda de Cristo.
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REFERÊNCIAS
ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. Livraria Tavares Martins. 1956. Pt. Centro de Estudos Bíblicos. Comentário aos Atos dos Apóstolos. Paulinas. 1983. STORNIOLO, Ivo. Como Ler os Atos dos Apóstolos. Paulus. 1993. LAPPLE, Alfred. Bíblia: Interpretação Atualizada e Catequese. Paulinas. 1980. HAHN, Scott. O Livro dos Atos dos Apóstolos: Caderno de Estudos. Ecclesiae. 2016.