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Sobre o autor
Teólogo, terapeuta holístico e engenheiro
sanitarista.
Profissionalmente atuou como professor de
matemática; engenheiro de obras; engenheiro
sanitarista, desenvolvendo trabalhos em lagoa de
estabilização; massoterapeuta e terapeuta
holístico.
Luta há vários anos por adaptações e
acessibilidade devido à deficiência física, devido à
esclerose múltipla.
INTRODUÇÃO
Quem sou, senão a somatória de planos,
concretizações, sonhos e enganos?
Sou o que fiz ou não fiz.
Realidade. Surrealidade. Sonhos tão concretos.
Realidades abstratas.
Projetos pueris. Poemas tão concretos, como
misturar cimento, areia, brita e água, nas
proporções corretas.
A vida é matemática, meu amigo. Como numa
divisão em que quanto menor o denominador,
maior o resultado. Se diminuo, me agiganto.
Aí a gente aprende na escola que divisão por zero
não existe. Besteira! A verdade é que o resultado
tende ao infinito!
Sou lágrimas, dores, alegria, gemidos, gozo,
suspiros, tristeza, plenitude.
A gente enxerga pouca coisa, meu amigo. A gente
enxerga só a casca da árvore.
Sou criação e destruição. Criei bonança e
tempestade. Destrui pesadelos, mas também
alguns sonhos bons.
Mas aprendi e aprendo, acho que sempre
aprenderei.
Na tempestade aprendo a ser forte.
Sou luz e escuridão.
Sou eternamente aprendiz e caçador de mim
mesmo.
Sou.
Sonhos concretos. Realidades abstratas
Brincando na Rua - Moleque anos 1980
Anos 1980,
Eu, moleque, brincava na rua.
Bola, bike, bets,
Outros tempos, outra cultura.
A molecada da rua vinha em peso,
Pessoal bom, a gente zoava.
Época boa, divertida,
Eu, irmãos, primos,
Com a molecada a gente brincava.
Pegava a bike e rodava,
Saindo da Monte Alto,
Pro Flamboyant e outros lados,
Passando pela Mogi-Guaçu.
Pegava até pista pro Parque Ecológico
Rodava lá dentro e voltava
Pedalava até na Norte-Sul.
Na rua a gente muito brincava
De bets, futebol, queimada.
Tinha festas na rua,
Sem saída, carro nem passava.
Festa Junina na rua!
Outra época, eu sei...
Cada um levava um quitute,
Guloseima, refri, quentão.
Tudo era muito bom!
Hoje em dia é diferente,
Mais violência, coisa e tal.
Difícil brincar na rua,
A brincadeira agora é virtual.
Note, Face, iPhone, iPad,
Tablet, smartphone,
Email, mensagem, sms,
A brincadeira continua,
Agora na internet, virtual!
Cadeirante resolvido,
Com meu filho brinco.
Tenho uma handbike,
Uma cadeira de rodas fantasma.
Moleque anos 1980,
Entro na piscina com guindaste,
Nas praias uso minha prancha.
Moleque anos 1980,
A gente nunca para,
A gente deslancha!
Um dia chamado hoje
Pense bem, amigo. Hoje é o que realmente existe.
Ontem já passou e amanhã ainda não chegou.
Claro que é gostoso recordar momentos bons que
vivemos e projetar nosso futuro. Considero atitude
saudável.
Gosto de me lembrar do tempo em que trabalhei
como engenheiro em diversas obras, ou quando
fui professor de matemática. Também trabalhei
como massoterapeuta e atendi muita pessoas.
Tenho ótimas recordações destes tempos.
Mas tudo isto é passado para mim, pois a
esclerose múltipla me trouxe severas limitações
físicas, impossibilitando tais atividades.
Houve um tempo em que fiquei muito triste por
ter que parar de trabalhar com atividades que eu
gostava muito. Tive que com o tempo aprender a
aceitar a nova realidade e procurar fazer algo que
fosse possível e me deixasse feliz. Foi aí que me
lembrei de algo que sempre quis fazer: escrever.
Comecei em 2011 e escrevi o meu ebook "
APRENDIZ SAMURAI " , que relata um pouco de
minha vida na época já com limitações físicas. Não
parei mais e hoje tenho vários ebooks publicados,
que disponibilizo gratuitamente até em outros
países.
Aí vem para mim um pequeno problema: a
esclerose múltipla é uma doença neurológica
incurável irreversível e degenerativa. E meu
futuro? Vou piorar mais ainda? Vou um dia não
sair mais da cama? O que fazer?
Simples. Não penso nisto. Claro que tomo
medicamentos, faço reeducação alimentar e
exercícios e orações. Mas não fico pensando na
evolução da doença. Sabe por que? Porque senão
eu iria perder tempo, piorar e até desenvolver
uma depressão. Eu não quero isto. Penso no hoje!
Penso e acredito muito em Deus e sua ajuda
sempre presente. Isto me fortalece bastante. Não
tenho medo do amanhã. Vivo o hoje!
Converso, interajo, passeio, escrevo, vejo filmes,
escuto músicas.
Faço o que é possível!
Vivo o dia chamado hoje...
Dias insanos, disparates, desenganos,
Vivo, vivi, viverei.
Chegadas e partidas no trem desta vida,
Etapas vividas, choro, alegria, dor.
Quantos sonhos partidos, alegrias tão efêmeras,
Quantas lágrimas verti.
Num mundo desigual tentei fazer diferente
E muita coisa aprendi.
O mundo não mudei, as pessoa também não,
Mas dentro de mim teve reviravolta,
Tempestade, tufão.
Aprendi a duras penas que meu interior é terra
bruta,
Que tenho que cultivar amor.
Minhas mudas são muitas, difíceis de germinar.
Autoconfiança, autoestima, perdoar a mim
mesmo, me amar.
É a plantação de uma vida, lições eternas vou
levar.
.........................................
ILHA DE SARAH - REALIDADE SURREAL
Quem assistiu o filme Avatar vai entender como
me sinto aqui na ilha de Sarah. Cadeirante no
mundo físico, aqui ando perfeitamente.
Estou na praia do Mar Azul. Sarah e Ann também
estão. Vamos fazer exercícios de Chi Kung,
orientados por Sarah.
Chi Kung é feito com movimentos lentos,
associados com respiração mais profunda. Gosto
de treinar aqui na praia ouvindo o mar. Parece que
o exercício ganha uma força especial perto do mar.
Sarah é um especialista nesta técnica, pois
desenvolveu o treinamento no templo ninja onde
estudou.
Ann sempre treina com Sarah, pois faz parte de
seu tratamento.
Acabamos o exercício e sentamos na areia para
descansar. Sarah e Ann se levantam e conversam
algo distante de mim. Fico olhando para o Mar
Azul e ouvindo o terapêutico som de suas ondas.
Elas agora se sentam perto de mim e parecem
querer me dizer algo.
- André, Ann quer pedir uma coisa a você, mas
está com vergonha. - diz Sarah.
Ann está vermelha, envergonhada.
- Pode falar, Ann! - digo, curioso.
- André, tenho o sonho de participar do musical
que vai ter aqui na ilha. Gosto muito de cantar,
mas não sei tocar nenhum instrumento musical.
Sarah me disse que você toca violão. Você pode
tocar comigo?
Sarah sorri e sabe o tanto que eu gosto de tocar
violão.
- Posso tocar sim, Ann! Você precisa escolher uma
música para ensaiarmos.
Sarah e Ann se olham sorrindo.
- Tem um música que eu adoro. Quer ouvir? - diz
Ann.
- Claro que sim. Cante. - digo.
Ela começa a cantar uma música que eu compus,
chamada Infinito Blue. Ela canta muito bem. Fico
emocionado. Ann acaba de cantar a música e a
abraço. O musical vai ser daqui a um mês. Vamos
ensaiar bastante.
O Mar Azul está lindo nesta noite estrelada...
À noite, corpo dormente, meu espírito livre voa
para a Ilha de Sarah.
Uma realidade surreal. Tão real para mim, como
um prato de feijão com arroz.
Noite.
Um bosque maravilhoso.
A luminosidade da lua cheia me permite ver.
Sei tratar-se de um ambiente espiritual. Meu
corpo físico repousa distante, mas estou aqui
passeando sem ele.
Com a cadeira de rodas me locomovo lentamente.
Estou aqui aparentemente só. Nem aqui no mundo
espiritual consigo andar. Não vejo como sair daqui
sem ajuda.
O aroma vindo das flores é delicioso. Pássaros de
todas as cores cantam harmonicamente. Não sinto
medo neste bosque pacífico.
O tempo passa e a noite avança. Como vou sair?
Agora, braços cansados, mal consigo movimentar a
cadeira de rodas.
Então vejo próximo a mim um banco de madeira e
uma mulher sentada.
Uma linda mulher usando um vestido longo
branco. Uma energia de muita paz emana dela.
Sinto-me bem...
- Oi! - digo apenas.
Ela então olha para mim e sorri.
Então acordo e me sinto bem, me lembrando do
passeio espiritual.
Adormeço e novamente meu espírito é levado ao
bosque da outra noite.
Agora vejo uma cabana e noto que bem próximo
tem uma lagoa que parece ser de água quente
pelo vapor que sai.
Percebo que ela está do meu lado e sorrindo me
diz:
- Vamos entrar na lagoa térmica medicinal?
Logo penso na impossibilidade de tal ação. Será
que ela não percebe que sou cadeirante?
- Não consigo fazer isto... Mas obrigado. - digo,
meio chateado.
Então ela segura minhas mãos e me levanta com
facilidade. Olha então para a cadeira de rodas que
imediatamente fica em chamas e logo se reduz a
cinzas.
- Aqui você não vai usar isto. Pelo menos não
comigo. - ela diz sorrindo.
Então ela tira suas roupas e as minhas e segurando
minha mão caminha em direção ao lago.
..................................................................................
........
ESCLEROSE MÚLTIPLA
Existem combates rápidos e outros não. Os
adversários podem ser de vários tipos. Eles se
apresentam em nossa vida e iniciam a batalha. O
meu adversário se chama esclerose múltipla. É um
combate diário que já dura quase três décadas.
Este adversário poderoso carrega consigo rótulos
de incurável, irreversível, degenerativo,
debilitante. Um oponente deste exige cautela e
uma grande fé e disciplina mental, pois é fácil o
portador desta patologia cair no abismo da
depressão e perder a batalha por desistir do
combate.
Meus aliados são exercícios, medicamentos, fé,
oração, família sempre presente.
Perdi alguns rounds e hoje sou cadeirante. Mas
não joguei a toalha. O combate continua.
Alguns surtos que sofri me causaram lesão
medular e cerebral. Momentos difíceis, mas não
desisti da luta. Como vencer o que a medicina
chama de incurável, cura impossível? Respondo
para você que não desistir já é vencer!
Houve um tempo em que eu procurava causas
para a doença que me afligia. Anos e anos a fio eu
perdi um tempo precioso em busca de causas.
Tudo em vão. Os porquês nunca foram
encontrados. Aprendi que as respostas nem
sempre se revelam e que o mais importante é
continuar. A fé se tornou uma arma poderosa e
comecei a usar este escudo desde então.
Continue! É o que me era dito vez que
desanimava. Apenas continue! Tenha fé!
Quando minha forças desfaleciam, por um futuro
tão incerto, decidi me aprofundar no estudo das
Escrituras Sagradas e iniciei o curso de Teologia.
Foi muito bom para mim. Encontrei no livro
sagrado histórias de heróis e as palavras sábias do
Mestre. Ajudou- me muito!
Depois estudei a filosofia taoísta. Li muitos textos
de Bruce Lee. Tem um ensinamento que diz para
sermos como a água, adaptando-se ao recipiente.
Minha vida até hoje depende de adaptações
devido às restrições físicas. Sou água!
Os anos se passaram convivendo com a esclerose
múltipla e a minha locomoção foi se debilitando.
Bengala, andador, cadeira de rodas.
Quando ficou constatado que eu tinha esta doença
neurológica incurável sofri muito. Era recém
casado. Minha esposa disse que ficaríamos juntos
e que a gente ia superar o que viesse. Ela tinha
razão. Mas devo muito a ela. Ela poderia ter
desistido e eu entenderia. Mas Deus tem seus
anjos e alguns vivem conosco. Não tem um dia em
que eu não reze por ela e agradeça por nossa
união.
...........................................................
Quando meu filho tinha uns seis anos eu já não
conseguia pedalar. Queria muito andar de bicicleta
junto com ele. Pesquisei possibilidades e encontrei
um triciclo manual. Comprei o triciclo e pedalamos
junto várias vezes.
...............................................................
PASSEIO DE TREM
Fazia tempo que queria passear na Maria-Fumaça.
Mas sempre ficava aquela dúvida sobre ser
adaptado para cadeirante. Venci toda aquela
inércia e ligando para o escritório da
Maria-Fumaça na Estação Anhumas fiquei sabendo
que eles colocavam uma rampa para a
cadeira-de-rodas subir no trem. Fui... Foi um
passeio maravilhoso, junto com minha esposa e o
Jônatas, meu filho. Também foram minha mãe,
irmã e o Paulo, cunhado.
..........
RESGATE NA SELVA
Começo então a recordar tantos momentos bons
que vivi na época em que andava perfeitamente.
Lembro-me de quando participei de uma equipe
de resgate na selva e consigo até sentir o aroma
das plantas da floresta e a adrenalina de tais
missões.
...........
RESUMO
Viver com a esclerose múltipla por mais de vinte e
cinco anos não é moleza.
Com dezessete anos embaçou a vista. Tudo bem,
voltou.
Com trinta, comecei a arrastar a perna. Bengala,
andador.
Com trinta e cinco, andador, cadeira de rodas.
Em 2015, quarenta e dois anos, cadeira de rodas,
cadeira de banho...
Tenho esposa e um filho que vai fazer doze anos. A
gente mora numa casa que eu projetei na época
da faculdade de engenharia. Na época antes de ir
para a faculdade, passava para ver a obra.
Na minha vida estudei bastante. Minha carreira
como engenheiro foi breve, porque não consegui
conciliar as obras com a esclerose múltipla e a
depressão.
Mas nunca parei. Massoterapeuta, caixa do
restaurante da família (continuo indo).
Hoje em dia também escrevo um pouco e
componho algumas músicas que pouca gente vai
ouvir.
....................
Passeios na Praia
Sempre adorei o mar. Mesmo cadeirante em 2011
fui à Praia do Engenho (Ubatuba, SP) e em 2014 fui
à Praia Dura (Ubatuba, SP). Nestas duas praias
meus familiares me ajudaram a entrar no mar com
a cadeira de rodas e nadava segurando uma
prancha nessas praias de pouca onda. Passeios
inesquecíveis.
..................
Lavando a Louça - 2011
Na pia tem alguns copos e facas para lavar. Vou ao
banheiro aqui na sala e depois já me dirijo em
direção a pia. Seguro firme na borda desta, então
encosto aí minha barriga para dar apoio e com
cautela lavo a louça suja. Mais uma vitória para o
aprendiz samurai!
...................
ESPÍRITO ERRANTE
Espírito errante
Momentos de angústia... Momentos de aflição e
de dor...
Entre a fé e o pecado, entre a esperança e a
desilusão.
Há dias de intensa luta, dias de intensa sombra,
Momentos de intensa apatia, sem forças para
ação.
Nestes instantes lembro-me...
Lembro que DEUS me deu, acima de qualquer
penar,
A FÉ que me guarda e ensina a nunca desanimar!
Por trás da noite de espinhos, da provação
vexatória,
Quem sabe não esteja no alvorecer da vitória?
Por isto, sigo e não temo... Que nada me faça
fugir...
Quando tudo seguir mal, a hora é de resistir!
Espírito errante...
Meu espírito livre corre pelo mar...
Corpo adormecido está a sonhar.
Sem limites corro, sorrindo estou.
Neste momento sou veloz,
Sou chama, sou clamor!
Espírito errante...
Qual pássaro perdido,
Sem rumo ou meta,
Ando perdido às vezes...
Então a Bússola Destino
Mostra-me a direção.
Espírito errante,
Perambulo, rio e choro...
Hoje estático recordo-me
Dos mares por que passei.
Espírito errante,
Não trago muitas palavras...
Às vezes o silêncio fala
O que o coração quer calar
E a lágrima que não quer cair...
Espírito errante,
Sou luz e sombra,
Sou sol, sou lua,
Quente e frio,
Fé e pecado...
Espírito errante,
Feliz, triste, vivo neste mundo,
Mas sei que um dia...
Para minha casa regressarei!
..........................................................................
REALIDADE SURREAL
Nesta noite fria novamente me encontro naquele
lindo bosque espiritual. O aroma das plantas e o
som vindo das águas da cascata próxima tornam
ainda mais agradável o local. Parece cenário de um
lindo filme!
Aqui consigo andar normalmente! No mundo físico
sou cadeirante.
Sarah, num vestido longo vermelho, olha para
mim e me convida a tomar chá na mesa da
varanda de sua cabana. As pessoas também se
alimentam aqui.
Gosto de vir neste bosque espiritual. Sinto-me
bem e quando acordo em meu corpo físico estou
revigorado. Aprendo muito sobre a continuidade
da vida. Aqui tem casa, comida, trabalho, amizade,
plantas, pássaros e outras coisas. Conversar com
Sarah é muito agradável. Ela é um espírito
bondoso que ajuda as pessoas e que tem me
ensinado bastante e me ajudado com sua energia
positiva e banhos medicinais. A cabana onde ela
mora é rústica porém muito agradável, limpa e
cheirosa. Agora ela está regando alguns vasos de
violeta azul em sua varanda. Ela percebe que estou
olhando e sorri para mim. Vou ajudá-la então a
regar as plantas.
........................................
NO MUNDO MENTAL
Mais do que a névoa vespertina ou a escuridão da
noite, existem as sombras na alma a trazer a
penumbra a quem voluntariamente insiste em
pensar, falar ou fazer o mal ou por outro lado,
aqueles que desistem de lutar.
Sempre que pensamos coisas negativas, as
sombras nos circundam numa espécie de ligação
energética negativa, em que tais forças afins
alimentam-se.
Por que às vezes um vazio toma conta de nós,
mesmo quando tudo segue bem e nós
conseguimos o que nós mais queríamos? Por que
pensamentos de morte, ciúme, suicídio e
abandono às vezes povoam nosso campo mental?
No plano do espírito, os pensamentos têm força,
cor, cheiro e forma.
Nossos pensamentos de amor e carinho fazem
com que se aproximem de nós forças positivas,
criando um halo de cores claras a nos envolver e
um aroma melhor do que o dos melhores
perfumes.
..........................................................
REALIDADE SURREAL - PASSEIO NO MAR
Sarah me conhece muito bem e sabe do fascínio
que sinto pelo mar. Nesta minha nova visita ao
bosque espiritual ela me diz que iremos conhecer
um lugar que vou gostar muito.
- André, não dá para ir andando para este lugar.
Segure firme minhas mãos e vamos voar para lá.
Passamos voando por bosques, rios, vales,
casinhas em montanhas e por algumas pequenas
vilas, onde pessoas caminham tranquilas. Depois
passamos por uma floresta muito bonita e logo
avisto a cena mais linda que vi naquele mundo: o
mar. Águas azuis e límpidas, ondas espumantes e
na praia, lindos e enormes coqueirais.
O lugar e´tão maravilhoso que emocionado,
lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Então descemos na praia deserta e linda. O som
das ondas me faz bem e olhar tamanha beleza é
um bálsamo para minha alma.
- André, estas águas são remédio para você.
Vamos!
Sem delongas nos despimos e caminhamos pela
areia morna até as águas do mar.
- Posso nadar? - pergunto.
- Tente me acompanhar!, ela responde já nadando
naquelas águas tonificantes.
........................................................................
COTIDIANO
Estou na cadeira de rodas observando pais
correrem brincando com seus filhos, jogando bola,
pulando corda. Nunca pude fazer isto com meu
filho, mas sempre adaptei brincadeiras e passeei
com ele como pude.
Às vezes a vida é como estar num mar revolto,
onde ondas gigantes tragam-me e afogam sonhos
e metas. É um eterno nadar em meio à
tempestade buscando a ilha da paz, inacessível e
distante, uma busca externa sem fim por algo
interior tão próximo, porém tão impossível de ser
alcançado.
O que é a vida se não uma eterna sucessão de
fatos que ecoam nos tempos sem fim.
RESGATE NA SELVA
Se tem uma época de minha vida que guardo boas
lembranças é o tempo que participei de um
grupamento de resgate na selva. Tínhamos
treinamentos de resgate, sobrevivência na selva e
outras atividades relacionadas. Muitas vezes estes
treinamentos eram feitos na madrugada.
É uma região de mata fechada e muitas
montanhas. Em alguns treinamentos o helicóptero
lançava um manequim na floresta e nos
dividíamos em equipes para resgata-lo.
Em um destes treinos, tinha chovido bastante na
madrugada e de manhã o mato estava bem
molhado. O helicóptero lançou o manequim, que a
gente chamava de gaguinho, e saímos em equipes
para encontra-lo. Minha equipe avistou o
manequim, que estava lá embaixo da montanha
onde estávamos. Resolvemos descer de rapel, mas
um colega escorregou e não conseguiu prender o
equipamento, ficando pendurado no penhasco. Eu
estava próximo dele e a Deus consegui agarrar
seus braços. Lembro-me de seu rosto assustado,
pois seria um tombo de uns trinta metros. Ele me
disse:
- Por favor, não me deixe cair!!!
Nestes momentos parece que criamos uma força
extra. Consegui puxa-lo e continuamos o resgate.
Sempre me recordo das pessoas que conheci em
minhas atividades profissionais. Guardo boas
lembranças. Tudo o que eu quis ser em matéria de
profissões, consegui. Foram carreiras rápidas, de
poucos anos cada, mas que fazem parte de mim.
Em cada lugar que trabalhei conheci boas pessoas.
Sempre agradeço a Deus
Teve o pessoal das obras, equipe das estações de
tratamento de água e esgoto, clientes do
restaurante. Também tive alunos de matemática,
alunos de massoterapia e também pessoas que
atendi com as terapias holísticas e massoterapia.
De cada lugar trago lembranças e histórias. Se
tenho saudades? Claro que sim, mas tudo é
passageiro mesmo. O importante é seguir em
frente.
Sou o engenheiro terapeuta professor atendente
escritor.
Recordações Pessoais
1-Obra
Meu trabalho: supervisionar a construção.
Na obra é interessante observar o comportamento
do pessoal.
Chega o carregamento de tijolos. Baiano, pedreiro,
e Nabô, servente, estão no canteiro de obras e
descarregam a mercadoria.
-Nabô! Vai lá ligar o toca-fitas. Tem a fita do
Altemar Dutra, diz Baiano.
Ele vai em direção ao aparelho de som que está
sobre a laje do 1º pavimento.
Passam-se dez minutos e Nabô não retorna.
-O som sai ou não sai? -berra Baiano.
-Eu apertei o botão vermelho e o som não quer
sair, diz Nabô.
Baiano fica vermelho de raiva porque sabe que o
botão vermelho desgrava a fita.
-Nabô, seu filho-da-puta, destruiu minha fita!-
berra Baiano e sai de faca ao encontro do
servente.
Nabô sai correndo e Baiano cai na gargalhada...
Melhor assim...
Desabafo
Cara, quanta indecisão! Não sei como não fiquei
louco... Se bem que sobre isto as opiniões
divergem...
Lembranças vêm e vão a minha mente. É um
monte de peças dispersas que eu tento juntar,
como em um quebra-cabeça.
Hoje uma pessoa me elogiou, disse-me que sou
esforçado. Em minha opinião eu tento fazer o
melhor que consigo.
2-Professor
O cenário é este: escola estadual de ensino
fundamental. Um lugar até que bonito e
arborizado.
Sou contratado como professor substituto de
ciências e matemática.
Ela, aluna, não tira os olhos de mim num romance
tão improvável... Faz bem para o ego como
dizem...
Sexta-feira, 6ª B. Um aluno totalmente
indisciplinado... Não consigo dar aula.
-Por favor, você pode ir dar uma volta, digo a ele.
Por um instante, a classe fica em silêncio.
O rapaz é enorme e tem fama de não levar
desaforo.
-Professor, eu só vou sair porque considero você.
E sai da classe dando risadas...
3-Aeronáutica
-Por favor, senhor, não me deixe cair!
Sou membro de uma equipe de resgate na selva,
tenho a patente de cadete.
Este colega de equipe pendendo num penhasco
me pede auxílio para subir.
-Senhor, eu não quero morrer!
Deito-me na pedra e estendo minhas mãos que
servem de apoio para que o soldado suba.
-Obrigado, cadete. Você salvou minha vida!
Até hoje guardo boas lembranças desta época em
que participei deste grupamento...
4-Guitarrista
Show político. Somos convidados a tocar no
evento.
Nossa banda de Rock/MPB se chama Íbis, o
pássaro devorador de energias negativas.
O showmício começa. Temos uma música de nossa
autoria. Chama-se “Guerra”.
“Um novo dia nasce
E com ele novas batalhas.
Nossa lei é uma só:
Matar para não morrer.
Assassinar nossos irmãos,
A quem chamamos de inimigos.
Corpos espalhados em todos os lugares
Num mito onde a Pátria vale mais que a vida,
Mesmo sendo por orgulho e egoísmo
Muitos morrem e nada se resolve”.
O pessoal dança, se diverte.
A banda vai bem. O som está harmônico...
................................................
Interajo em realidades diversas, onde a mentira e
a verdade tentam coexistir.
Como crer num mundo descrente? Como aceitar
dogmas sem nexo? Como viver e não apenas
existir?
Paralítico, andei na montanha sagrada, onde
respostas havia sobre a vida e a morte, a felicidade
e o amor.
A verdade é simples, a verdade é pura, não tem
ódio, raiva, pessimismo, rancor.
A gente encontra a verdade e também alegria
quando contempla a chuva, o céu, o raio, o trovão.
A felicidade também está no raiar do novo dia, no
pão quentinho, no sorriso, no olhar apaixonado,
na esperança e no amor.
Chorar de alegria, chorar emocionado com um
filme, rir sem motivo, gargalhar. Ser feliz é sentir
alegria dentro do coração.
Por tantos lugares caminhei em busca de
respostas. Orgulhoso, fui pensando que tudo
sabia. E nesta tarde, um tanto quanto fria,
reconheço que muitas vezes os conhecimentos são
vãos, quando nos esquecemos dos Ensinamentos
Essenciais:
Que na verdadeira humildade Tu revelas, que na
simplicidade Tu habitas.
Busquei respostas sem buscar-Te. Sem a
verdadeira Fé tudo se torna vazio.
Um frio me corta como a dizer-me:
Ajoelha-te para agigantar-te! Levanta o
pensamento a teu Criador!
Pouco vale o conhecimento sem o Amor.
Sempre me recordo das pessoas que conheci em
minhas atividades profissionais. Guardo boas
lembranças. Tudo o que eu quis ser em matéria de
profissões, consegui. Foram carreiras rápidas, de
poucos anos cada, mas que fazem parte de mim.
Em cada lugar que trabalhei conheci boas pessoas.
Sempre agradeço a Deus
Teve o pessoal das obras, equipe das estações de
tratamento de água e esgoto, clientes do
restaurante. Também tive alunos de matemática,
alunos de massoterapia e também pessoas que
atendi com as terapias holísticas e massoterapia.
De cada lugar trago lembranças e histórias. Se
tenho saudades? Claro que sim, mas tudo é
passageiro mesmo. O importante é seguir em
frente.
Sou o engenheiro terapeuta professor atendente
escritor.