Ética e Legislacao Profissional Unidade III

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    Unidade III5 tica

    5.1 O que tica

    Segundo o Dicionrio Houaiss (2009), tica

    a parte da Filosofia responsvel pela investigao dos princpios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo [...] a respeito da essncia das normas, valores, prescries e exortaes presentes em qualquer realidade social; conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivduo, de um grupo social ou de uma sociedade (HOUAISS, 2009).

    Durante o exerccio de nossas atividades pessoais e profissionais, estamos sujeitos s opinies prprias e de terceiros, acerca de regras de conduta comportamentais, insuficientes para definir as formas de agir nas mais diversas situaes. Portanto, em algum momento, surge um dilema de como proceder em relao a colegas de trabalho, amigos, parentes e todos aqueles com quem direta ou indiretamente nos relacionamos. Agir bem ou mal, voluntria ou involuntariamente, um dos desafios que se sucedem continuamente, sobretudo, quando os conceitos de tica e de moral so malcompreendidos, mal-interpretados ou desconhecidos.

    Derivada do grego, a palavra ethos significa costume. De origem latina moralis, significa moral, que corresponde a usos e costumes.

    Em suas origens gregas, a tica propunha-se a auxiliar o homem a cultivar um bom carter, influenciando as boas prticas pessoais. Com isso, seria possvel o alcance da felicidade, por meio da prtica da tica.

    Em sua obra, tica a Nicmaco, Aristteles (sculo IV a.C.) formula uma pergunta para si prprio: qual o bem supremo que podemos conseguir em todos os atos de nossa vida?, e responde: a palavra que designa o bem supremo, aceita por todos, a felicidade e, segundo a opinio comum, viver bem, agir bem, sinnimo de ser feliz. (ARISTTELES, 2002).

    No entanto, esse tema, estudado e debatido atravs dos sculos, continua a gerar controvrsias, diante dos diferentes processos de mudana dos costumes e das culturas que se sucedem ao longo dos tempos.

    Nos tempos atuais, em que presenciamos um acentuado processo migratrio, motivado pela crescente onda de globalizao, e um intenso intercmbio de pessoas, ideias e culturas, proporcionado

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    pelas novas tecnologias de transportes de pessoas e de informaes, a assimilao dos conceitos ticos torna-se cada vez mais complexa.

    Nesse cenrio, a conduta humana vem sendo cada vez mais observada, comentada e julgada. Quando boa, uma conduta considerara moral ou tica, e a conduta m, qualificada como imoral ou antitica:

    tica a cincia da conduta humana, segundo o bem e o mal, com vistas felicidade.(ALONSO, CASTRUCCI e LPEZ, 2006).

    Como, em to pouco tempo, assimilar e praticar princpios ticos e morais, vistos e interpretados sob diferentes pontos de vista? Como adaptar-se moral de uma sociedade especfica? So questes que fustigam as mentes daqueles que aspiram felicidade, buscando interagir da melhor maneira possvel com seus semelhantes e com a natureza que os cerca:

    Moral o conjunto das prescries e normas admitidas numa poca por determinada sociedade. (LALANDE, 1993).

    Dotado de faculdades superiores, o ser humano, capaz de formular e disseminar ideias e conhecimentos, de prever atos e suas respectivas consequncias, de emitir julgamentos de atos e fatos pessoais e coletivos, v-se na busca da felicidade, condicionado a adaptar-se s condies temporais, sociais e ambientais do meio em que vive.

    Segundo Alonso, Castrucci e Lpez (2006), so faculdades superiores do homem: a inteligncia, a vontade e a amorosidade:

    inteligncia: mediante a inteligncia, o ser humano conhece os outros seres e a si prprio;

    vontade: a faculdade que permite ao ser humano determinar-se, decidir-se, optar por isto ou aquilo, por agir bem ou agir mal;

    amorosidade: a aproximao envolvente do ser humano com as outras pessoas (ALONSO, CASTRUCCI e LPEZ, 2006, p. 33-8).

    5.2 Princpios e normas ticas

    No Dicionrio Houaiss (2009), encontramos algumas acepes para o termo princpio, tais como: ditame moral; regra, lei, preceito; dito ou provrbio que estabelece norma ou regra; proposio elementar e fundamental que serve de base a uma ordem de conhecimentos; proposio lgica fundamental sobre a qual se apoia o raciocnio.

    Durante seu processo evolucionrio, iniciado em tempos remotos, o ser humano vem buscando a satisfao de suas necessidades fisiolgicas, de segurana, sociais, de autoestima e de autorrealizao, o que no deixa de ser, de certa forma, a busca da felicidade.

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    Entretanto, para a realizao desse ideal de felicidade, o homem envolveu-se em diversos conflitos, em razo da escassez de recursos capazes de satisfazer a suas necessidades. Muitas vezes, viu-se obrigado a disputar com outrem aquilo que poderia garantir sua sobrevivncia ou mesmo impor sua superioridade.

    Desde aquela poca, passando por vrios perodos da Histria, at o momento atual, a deciso de agir moralmente prerrogativa livre e soberana do indivduo, que, consequentemente, responsabilizado por seus atos, bons ou maus, considerando-se os costumes da poca e do local em que exerce suas atividades pessoais e profissionais.

    Com o passar do tempo, o homem foi aprendendo que a instituio e a adoo de princpios particulares e gerais seriam de vital importncia para viabilizar a conquista da felicidade, mesmo efmera e fugidia. Tais princpios foram estabelecidos por estudiosos da natureza humana, em especial os filsofos gregos dos anos 500 a.C., e pelos demais estudiosos que se seguiram, at o perodo atual.

    Os princpios clssicos da tica social dizem respeito:

    dignidade humana, que independe de posses, dos cargos e dos ttulos;

    ao direito de propriedade, correspondente ao direito das pessoas de possurem bens visando ao atendimento de suas necessidades;

    primazia do trabalho, atividade realizada pelo homem para sua subsistncia e seu crescimento como pessoa;

    Lembrete

    O trabalho, na atividade econmica, apresenta uma permanente histria da explorao do homem pelo homem, fato que retarda ou impossibilita o seu pleno desenvolvimento. Durante a Revoluo Industrial, com problemas trabalhistas entre trabalhadores e detentores do capital, surgiram e foram formuladas as bases da tica social moderna.

    primazia do bem comum, conjunto de condies sociais que permite e favorece aos membros da sociedade o seu desenvolvimento pessoal e integral;

    solidariedade, que promove a incluso social;

    subsidiariedade, na qual o subsdio corresponde ao auxlio dado, que estimula e promove a participao ativa de todas as pessoas e de todos os grupos sociais nas esferas superiores, econmicas, polticas e sociais, de cada pas e do mundo.

    Na atualidade, deparamo-nos com inmeras normas de comportamento criadas e estabelecidas de acordo com interesses de grupos de pessoas, para atender a finalidades diversas e especficas. Muitas

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    dessas normas so transformadas em lei, de acordo com a expresso espontnea e formal dos integrantes de uma comunidade ou sociedade. As leis de trnsito so exemplos da formalizao de normas que visam manter organizado o fluxo de pessoas e veculos em uma determinada localidade ou regio, garantindo os direitos individuais e coletivos dos membros de uma sociedade.

    As normas escritas, como os cdigos de tica, so de grande importncia, notadamente no aspecto educativo, porm no devem ser substitudas pelas normas naturais, estabelecidas pelas famlias para a formao das pessoas.

    Em todos os agrupamentos familiares, tribais, citadinos, nacionais ou internacionais, a criao e a adoo de princpios da tica social so de profunda importncia no tocante aos aspectos comportamentais do indivduo em sociedade, bem como ao comportamento das organizaes em diferentes nveis, naturezas e dimenses.

    5.3 tica social, famlia, empresa, nao e globalizao

    O ncleo familiar a sociedade primordial e indispensvel, na qual o ser humano recebe as primeiras lies para sua formao e educao. Essas primeiras lies influenciaro seu comportamento e suas atitudes no convvio com seus semelhantes por toda a sua vida.

    Nos ltimos anos, notadamente a partir dos anos 1950, o ncleo familiar vem sofrendo fortes desgastes em razo de impactos provocados pelo elevado ritmo do crescimento populacional, no qual a luta pela subsistncia se acirra intensamente. Nesse cenrio, as famlias se desagregam muito cedo, com a sada precoce das crianas e dos adolescentes do ambiente domstico para o mercado de trabalho, geralmente informal, sem que tenham assimilado os conceitos de formao e educao bsicos fornecidos por seus pais, que, por sua vez, tambm sacrificam sua responsabilidade formadora na busca dos recursos para a subsistncia do grupo.

    Os integrantes do ncleo familiar passam, ento, a desenvolver atividades internas e externas para a sobrevivncia desse grupo. A criao de pequenas hortas e de animais para o abate uma atividade que, realizada conjuntamente e com vistas ao bem comum, constitui-se em atividade organizacional, ou empresarial. Essas incipientes organizaes empresariais, ao evolurem com o passar dos anos, so consideradas essenciais para a existncia da sociedade e para o desenvolvimento humano.

    Segundo Linton (1971, p. 107), a sociedade pode ser definida como: [...] todo grupo de pessoas que vivem e trabalham juntas durante um perodo de tempo suficientemente longo para se organizarem e para se considerarem como formadoras de uma unidade social, com limites bem-definidos.

    Todo o processo econmico, de formao e distribuio de riquezas, originado das sociedades mais primitivas, do ncleo familiar at a sociedade de capital surgida no sculo XV, foi fundamentado por meio de aes empreendedoras e empresariais, que promoveram mudanas visando melhoria das condies de produo e da distribuio de produtos e servios, para o bem comum.

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    A integrao dos ncleos familiares, por vnculos de parentesco e de interesses econmicos e polticos, vem ocorrendo desde a formao do primeiro agrupamento, as tribos. Do crescimento e da reunio de diversas delas, surgiu a cidade, em que a tica, como cincia, comeou a ser elaborada, no sculo V a.C. Com o crescimento dos agrupamentos humanos, a educao geral das pessoas evoluiu e regrediu, de maneira sucessiva, notadamente no sentido tico.

    A partir da Idade Moderna, iniciada em 1453 com a tomada de Constantinopla pelos turcos, surgem as primeiras naes, em que grupos tribais sediados em determinados territrios tomam conscincia de suas razes comuns, com etnias, lnguas e culturas prximas. A nao composta por famlias e agrupamentos situados em determinado territrio e que possuem caractersticas comuns, passando a adotar uma forma de governo com vistas ao bem de toda a coletividade.

    Com o crescimento e o fortalecimento das naes, em diversos continentes, surgem as primeiras associaes internacionais da iniciativa privada e as organizaes transnacionais, que culminam com o incio da organizao internacional, no sculo XIX. Em 1945, criada a Organizao das Naes Unidas (ONU), com a finalidade de manter a paz e a cooperao entre as naes.

    Dentre os rgos do sistema das Naes Unidas, direta ou indiretamente, voltados para os temas da tica, podem-se destacar:

    Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados (ACNUR);

    Comisso de Direitos Humanos (CDH);

    Comisso de Desenvolvimento Sustentvel (CDS);

    Comisso para o Desenvolvimento Social (CsocD);

    Comisso sobre a Situao da Mulher CSW);

    Departamento das Operaes de Manuteno da Paz (DPKO);

    Agncia para a Coordenao de Assuntos Humanitrios (Ocha);

    Fundo das Naes Unidas para a Infncia (Unicef).

    Com o crescimento das relaes internacionais, originado da migrao dos povos, passando pela conquista e submisso de naes, e no qual se destacam as relaes comerciais, a globalizao vem se impondo e impactando, diretamente, o cotidiano das pessoas.

    A globalizao atual resultante das novas tecnologias da informtica e das telecomunicaes, que permitem um crescente e intenso inter-relacionamento cultural, poltico, econmico e social entre os povos. Atrelados aos benefcios proporcionados pela tecnologia facilitadora da interao global, surgem tambm mais e maiores conflitos ticos.

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    6 cdigOs de tica PrOfissiOnaL e emPresariaL

    6.1 cdigos de tica

    A tica a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definio e avaliao do comportamento de pessoas e organizaes.(MAXIMINIANO, 2004).

    Em todo e qualquer tipo de relacionamento, constatamos diversos tipos de comportamentos pessoais ou coletivos fundamentados em valores adquiridos durante a formao familiar, educacional e profissional, alm daqueles ditados pelos diversos segmentos da sociedade em que se desenvolve e atua o indivduo. No entanto, em todos esses comportamentos, ajustveis a cada situao, existe uma marca pessoal prpria que identifica cada ser humano, demonstrada em cada atitude ou gesto.

    Nesse cenrio h a busca de um comportamento ideal para cada situao, definido por meio de padres ou cdigos de conduta estabelecidos, formal ou informalmente, por grupos sociais, profissionais ou organizacionais. Tais cdigos, com suas normas e regras de conduta, por definirem o que permitido, aceito e vlido em ocasies distintas, so conhecidos como cdigos de regulao ou regimentos. Quando sustentados por princpios ticos, so denominados cdigos de tica e servem para nortear aes pessoais e organizacionais vlidas em qualquer contexto da sociedade.

    6.1.1 O cdigo de tica profissional

    6.1.1.1 A tica da rea de Exatas

    tica profissional um conjunto de normas de conduta que devero ser postas em prtica no exerccio de qualquer profisso. (S, 2005).

    Todo trabalho individual influencia e recebe influncias do meio em que praticado, da a importncia do estabelecimento de um conjunto de valores e princpios que, fundamentados em condutas ticas, orientem as aes para o exerccio das atividades profissionais e empresariais, com vistas ao bem comum de toda uma sociedade.

    Tais valores e princpios, inerentes cultura de uma empresa, podem ser formalizados e expressos por meio de um determinado cdigo de tica, cujo contedo formado por um conjunto de polticas e prticas especficas que devem servir de parmetro para determinados comportamentos e tornar claras as responsabilidades.

    Os aspectos referentes ao respeito s leis do pas e transparncia nas relaes com seus pblicos internos (dirigentes e funcionrios) e externos (clientes, fornecedores, comunidade e demais stakeholders) devem ser abordados no cdigo de tica, notadamente aqueles relacionados com os consumidores, por estarem sujeitos ao que estabelece o Cdigo de Defesa do Consumidor e reparao de danos causados pelas prticas de propaganda e de danos ambientais.

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    Numa poca em que o elevado e crescente ndice da capacidade de armazenamento, tratamento, difuso e captao de informaes vem assumindo propores de grande vulto, graas clere evoluo da Tecnologia da Informao e da Comunicao (TIC), os temas da privacidade e da transparncia so fundamentais, uma vez que devem estabelecer e fazer cumprir o cdigo de tica, definido por S (2005) como um acordo explcito entre os membros de um grupo social. E deve descrever um modelo de conduta para seus membros.

    Nesse cenrio, fazem-se presentes, e cada vez mais atuantes, as organizaes representativas de diversas categorias profissionais, como os conselhos federais e regionais, que buscam, na criao e no estabelecimento de normas de conduta tica pautadas pela integridade e pela observncia de regulamentos, padres e leis, o reconhecimento de suas competncias e atribuies.

    Para muitos autores, a tica profissional estaria relacionada ao estudo e regulao do relacionamento do profissional com seus clientes, fornecedores e parceiros, visando dignidade humana e construo de um bom ambiente sociocultural no qual possa exercer sua profisso.

    Na rea da informtica, as questes relativas influncia do computador na vida das pessoas, a pirataria de software e o Direito autoral dos sistemas e programas so as que mais comumente afetam os profissionais do setor.

    A intensificao do uso dos computadores nos ambientes domsticos e empresariais agiliza o processo de execuo das atividades, ao mesmo tempo que provoca profundas alteraes nas formas de relacionamento, agora mais virtuais do que reais. Enquanto isso, empresas e profissionais produtores de software tm prejuzos incalculveis com a pirataria. Mesmo considerando a crescente utilizao de software livre, que pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribudo sem restrio, os desenvolvedores de outros aplicativos, como os jogos eletrnicos, ressentem-se da reduo de suas receitas em decorrncia da pirataria.

    No tocante natureza jurdica dos softwares, e a suas tratativas, o tema vem sendo amplamente discutido por diversos segmentos da sociedade, na busca da preservao dos direitos de seus desenvolvedores e proprietrios.

    No que diz respeito privacidade e proteo das informaes das empresas e dos profissionais responsveis pelo provimento dos servios de tecnologia da informao, devem buscar a garantia, por meios tcnicos ou legais, e a inviolabilidade dos referidos servios, principalmente quando esse ato for cometido por algum que fira os preceitos ticos e morais.

    importante ressaltar que a violao de um contrato de licena de software ou de qualquer outro que envolva a propriedade intelectual (como trabalhos literrios, fotografias e vdeos) pode trazer riscos legais contra a empresa e o indivduo responsvel. Cabe lembrar tambm que, em muitos casos, infraes ticas graves so crimes sujeitos s leis penais do pas.

    Primar pela segurana fsica e virtual da rede e dos equipamentos, pela confidencialidade e integridade das informaes, pelo treinamento e aprimoramento pessoal e de terceiros quanto ao uso correto e

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    adequado dos equipamentos e sistemas e, principalmente, pela orientao sobre as consequncias decorrentes do no cumprimento do estabelecido no cdigo de tica profissional e/ou empresarial so atitudes esperadas, se no exigidas, daqueles que atuam num dos mais importantes e significativos setores da economia, a informtica.

    6.1.2 O cdigo de tica empresarial

    Uma organizao um sistema de trabalho que transforma recursos em produtos e servios. (MAXIMINIANO, 2004).

    As organizaes constitudas pelo homem fornecem os mais diversos produtos e servios para a comunidade em geral e proporcionam condies de subsistncia para os que ali trabalham, como dirigentes e funcionrios, por meio do pagamento de algum tipo de remunerao. Alm disso, investidores e acionistas tambm so remunerados por meio da participao nos resultados obtidos pelo empreendimento.

    De importncia capital para o crescimento e o desenvolvimento das sociedades, a atividade empresarial abrange diversos tamanhos, tipos e setores, como padarias, fbricas, escritrios contbeis, instituies de ensino, igrejas e rgos pblicos, dentre outros.

    Cabe destacar diversas instituies que no visam ao lucro, formadas por associaes, fundaes e demais movimentos engajados, principalmente nos aspectos voltados para fins assistenciais e preservacionistas.

    Com o advento da Revoluo Industrial, no sculo XVIII, e a consequente mecanizao da produo, as relaes de trabalho sofrem profundas transformaes, notadamente no tocante ao relacionamento entre empregadores e empregados. Com a priorizao do capital e dos bens de produo, em detrimento do trabalho, surgem os conflitos ticos. A dignidade humana, princpio tico fundamental, colocada prova. As condies de trabalho, aviltantes e exaustivas, impostas aos trabalhadores, com o aumento do rendimento do trabalho e do acelerado acrscimo da produo, comprometem os resultados obtidos.

    Tais condies de trabalho foram gradualmente contestadas por diferentes setores da sociedade, que passaram a organizar-se na busca de solues alternativas, capazes de promover um equilbrio justo nas relaes trabalhistas.

    Desde aquela poca at os tempos atuais, continuam a ocorrer graves comportamentos antiticos em empresas de todo tipo e tamanho, dentre elas as multinacionais, ocasionando grandes prejuzos, notadamente no aspecto referente imagem empresarial perante a sociedade:

    Tudo isso tem levado muitas empresas a criarem cdigos de tica, auditorias, programas de treinamento e contratao de assessorias especializadas em

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    tica, cdigos do consumidor, polticas de valorizao dos empregados e outros (ALONSO, CASTRUCCI e LPEZ, 2006, p. 146).

    O resultado desses esforos comea a ter efeito a partir dos anos 1960, nos Estados Unidos, onde o conceito de tica nos negcios passa a evoluir com intensidade, motivado principalmente pelas presses s indstrias automobilsticas efetuadas por movimentos ligados aos direitos dos consumidores. Tais movimentos questionavam a segurana dos produtos, a proteo do meio ambiente e o comportamento de alguns empresrios, que nada ou pouco se preocupavam com as implicaes negativas de suas condutas profissionais.

    Nas dcadas de 1960 e 1970, o ensino da tica impulsionado nas universidades americanas, com especial nfase em tica nos negcios. No fim desta ltima dcada, so incentivadas as criaes de cdigos de tica corporativos, para minimizar ou reduzir os conflitos de padres ticos de diversas culturas, ento mais interdependentes.

    A partir da dcada de 1980, formam-se redes acadmicas de estudos da tica na Europa e nos Estados Unidos, universalizando e disseminando o conceito.

    No Brasil, na dcada de 1990, criado o Centro de Estudos de tica nos Negcios, pela Fundao Getlio Vargas, em So Paulo. Em 1998, tambm em So Paulo, criado o Instituto Ethos, de empresas e responsabilidade social. Em 2003, fundado o Instituto Brasileiro de tica Concorrencial, que tem como objetivo a promoo da melhoria no ambiente de negcios.

    Atualmente, os conceitos e princpios da tica empresarial, admitidos e assumidos por crescente nmero de empresas, so de vital importncia na formulao e na implantao das estratgias empresariais. Os cdigos de tica empresarial, alm de formalizar compromissos, tambm so instrumentos de comunicao de seus valores e prticas para todos aqueles que, direta ou indiretamente, relacionam-se com a empresa. A ateno especial aos aspectos relacionados ao meio ambiente e responsabilidade social na conduo dos negcios constitui-se em diferencial competitivo, que contribui decisivamente para o crescimento e a sobrevivncia das empresas num cenrio de alta competitividade.

    [...] a introduo da reflexo tica nas organizaes serve para elucidar as questes que suscitam polmicas ou controvrsias morais, pois corre-se o risco de patinar na indefinio e de estimular abusos por parte do corpo funcional. Ao revs, se houver respostas consistentes aos dilemas, a nervura central da cultura organizacional ser consolidada, porque tais respostas transformam-se em orientaes emblemticas; dizem o que justo e injusto, certo e errado, lcito e ilcito; esclarecem o que se espera dos funcionrios e dos dirigentes; demarcam os padres culturais validados pela organizao; anunciam o que ser recompensado e inibem possveis racionalizaes individuais, ao formular proibies e licenas (SROUR, 1998, p. 307).

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    saiba mais

    O filme Crash: no limite aborda as diferenas culturais e, especificamente, o tema do Direito e da moral, ao contar a histria de pessoas completamente diferentes, mas que tm de compartilhar o mesmo espao, tendo de lidar com conflitos e aprender a compreenso mtua. Para saber mais, veja: CRASH: no limite. Direo de Paul Haggis. EUA/Alemanha, 2004 (100 min.).

    6.2 a responsabilidade social

    Responsabilidade social pode ser definida como o compromisso que uma organizao deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo especfico [...] Assim, numa viso expandida, responsabilidade social toda e qualquer ao que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade (ASHLEY, 2002, p. 6-7).

    O Princpio da responsabilidade social est apoiado na concepo de que as empresas, criadas por integrantes da sociedade, utilizam os recursos dessa mesma sociedade, afetando, positiva ou negativamente, a qualidade de vida das pessoas. Os efeitos causados pela poluio e pela degradao ambiental acelerada nos ltimos anos estimularam o debate acerca de tais problemas.

    Fundamentada em amplos estudos cientficos, produzidos pela comunidade acadmica, em especial a partir da dcada de 1960, empresas e instituies representativas dos diversos segmentos sociais passaram a ter mais conscincia dos malefcios produzidos pela atividade empresarial descontrolada, poltica, econmica, tcnica e eticamente. O trabalho infantil e a divulgao de produtos nocivos sade so exemplos de condutas antiticas frequentes.

    Com a mobilizao da sociedade pelas causas sociais, em especial pelas ambientais, a comunidade empresarial comeou a perceber que a prtica dos valores ticos, a transparncia de suas relaes com seus pblicos e a integridade de suas atividades administrativas e produtivas so capazes de trazer melhores retornos em produtividade e lucratividade, dentre outros indicadores de desempenho.

    No tocante tica empresarial e responsabilidade social, Srour (2000) define duas frentes:

    Na frente interna das empresas, equacionam-se os investimentos dos proprietrios (detentores do capital) e as necessidades dos gestores e dos trabalhadores. Na frente externa, so levadas em considerao as expectativas dos clientes, fornecedores, prestadores de servios, fontes de financiamentos (bancos, credores), comunidade local, concorrentes,

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    sindicatos de trabalhadores, autoridades governamentais, associaes voluntrias e demais entidades da sociedade civil (SROUR, 2000, p. 195).

    Da decorre que a empresa deve desenvolver e implementar programas que beneficiem a comunidade, principalmente aquela em que est inserida, por sofrer direta e imediatamente as reaes por atitudes e comportamentos antiticos.

    Para a aferio do comprometimento das empresas com as causas sociais e ambientais, foram criados alguns indicadores que consistem na adoo e na implantao de normas de qualidade, como as certificaes ISO 14000 referente gesto ambiental , a ISO 9000 relativa gesto da qualidade e a AS 8000 que atesta a qualidade das relaes trabalhistas, pela anlise de fatores como trabalho infantil, discriminao, segurana e sade dos trabalhadores, dentre outros. Esta ltima certificao est fundamentada nas convenes da Organizao Internacional do Trabalho (OIT), na legislao do pas, na Declarao Universal dos Direitos Humanos e na Declarao dos Direitos da Criana.

    Como consequncia de um novo posicionamento da sociedade com relao s questes sociais, muitas empresas brasileiras esto adotando posturas socialmente responsveis, de modo consciente ou por convenincia, para poder atuar num mercado cada vez mais exigente no tocante a produtos, servios e comportamentos ticos.

    6.3 O direito autoral

    Segundo Campos (2006), a proteo do direito do autor vem consagrada na Constituio Federal, em seu art. 5, incisos XXVII a XXIX, dizendo que a ele pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suas obras, transmitindo-se esses direitos aos herdeiros no tempo que a lei fixar. Tambm assegurado aos autores de inventos industriais o privilgio de registr-los em rgos pblicos, para fazer valer, perante terceiros, seu direito exclusivo de explorao por determinado tempo. Com isso fica assegurado, tambm pela lei, o direito dos autores de obter a reparao por perda e danos que lhes forem causados por terceiros, em razo do uso indevido ou desautorizado do bem por eles criado, podendo utilizar-se da ao de busca e apreenso, com efeitos imediatos de cessao do abuso.

    A Lei do Direito Autoral, n 9.610, reeditada em 1998, est sendo muito comentada e discutida, mas pouco conhecida e compreendida, principalmente por aqueles que produzem obras literrias, artsticas, cientficas e intelectuais.

    Casos de violao dos direitos autorais so cada vez mais frequentes, como a falta de crditos em textos, ilustraes, fotografias e composies musicais, dentre outras. A prtica dessas violaes ocorre de forma voluntria e involuntria, pelo desconhecimento da lei, o qual no isenta de punio pelo ato cometido.

    Com o progresso acentuado da tecnologia, so disponibilizados, a cada instante, centenas ou milhares de recursos de fcil utilizao e manejo que auxiliam na produo de obras diversas. Tais recursos, entretanto, tambm so utilizados para a reproduo de outras tantas obras publicadas ao longo dos tempos, como aquelas que so copiadas quase no mesmo instante em que so criadas.

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    A Lei do Direito Autoral (BRASIL, 1998b) determina que seja creditada a autoria de um trabalho intelectual para que no ocorra uma violao do direito moral do autor da obra criada. Esse crdito deve ser efetuado mesmo quando ocorre um processo de cesso ou licenciamento de direito patrimonial, pois o reconhecimento da autoria da obra irrenuncivel e inegocivel.

    Visando evitar questionamentos legais, recomendvel a realizao de contratos de cesso de direitos patrimoniais, mediante condies especficas, para a disponibilizao de qualquer criao intelectual.

    Para que determinada obra possa ser protegida, necessrio que, de acordo com o expresso no art. 7 da referida Lei, sejam expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangvel ou intangvel, conhecido ou que se invente no futuro (BRASIL, 1998b).

    A lei tambm determina que os direitos patrimoniais do autor, que lhe permitem usar sua criao para fins de benefcios econmicos, perdurem por setenta anos, contados de 1 de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessria da lei civil. Decorrido esse prazo de proteo, a obra passa a pertencer ao domnio pblico.

    A leitura e o estudo da lei so de fundamental importncia para os criadores de trabalhos intelectuais, que, no entanto, devem contar com a assistncia jurdica especfica para que possam ter as garantias legais sobre suas obras.

    saiba mais

    Para saber mais sobre a Lei do Direito Autoral, acesse:

    6.4 cdigo de defesa do consumidor (cdc) Lei n 8.078/90

    A regulamentao das relaes de consumo, mais precisamente a defesa dos direitos do consumidor, vem durante muito tempo se tornando cada vez mais forte, uma matria de interesse mundial.

    Com o avano da expanso do comrcio e a globalizao, os pases foram obrigados a regular regras para a comercializao de produtos e servios, estipulando padres de qualidade, no intuito de proteger fornecedores e, sobretudo, consumidores, principais figuras dessa relao.

    As regras fundamentais que devem ser adotadas, no plano mundial, visando defesa e proteo efetiva dos consumidores deram-se com a elaborao, pela ONU, da Resoluo 39/248, de 16 de abril de 1985, inspirada na famosa Declarao dos Direitos do Consumidor, proferida pelo Presidente John Fitzgerald Kennedy em 15 de maro de 1962.

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    O contedo da Resoluo visa: proteger o consumidor quanto a prejuzos sua sade e segurana, diante de produtos e servios perigosos ou nocivos, promover e proteger seus interesses econmicos, fornecer-lhe informaes adequadas para educ-lo, criar possibilidades de real ressarcimento, garantir a liberdade para formao de grupos de consumidores e outras organizaes de relevncia, bem como oportunidades para que essas organizaes possam intervir nos processos decisrios referentes s relaes de consumo (ONU, 1985).

    O Cdigo de Defesa do Consumidor, em seu art. 4, tem como objetivo no apenas o atendimento das necessidades dos consumidores, mas o respeito sua dignidade, sua sade e sua segurana, alm da proteo de seus interesses econmicos, da melhoria de sua qualidade de vida e da imprescindvel transparncia e harmonia nas relaes de consumo.

    6.4.1 Relao de consumo

    A relao jurdica ser qualificada como de consumo, e assim regulada pelo CDC, quando em seus polos figurarem um consumidor e um fornecedor.

    A relao jurdica de consumo envolve duas partes bem-definidas: de um lado, o adquirente de um produto ou servio, chamado de consumidor; de outro, o fornecedor ou vendedor de um produto ou servio.

    Essa relao de consumo pode ser efetiva (exemplo: compra e venda de automvel) ou potencial (exemplo: propaganda).

    Portanto, para haver relao de consumo, nos termos do CDC, no necessrio que o fornecedor, concretamente, venda bens ou preste servios; basta que, mediante oferta, coloque os bens disposio de consumidores potenciais.

    6.4.2 Conceito de consumidor

    A Lei 8.078/90, o CDC, define consumidor como toda pessoa fsica (ser humano) ou jurdica (empresa, por exemplo) que adquire (de modo oneroso ou gratuito) ou utiliza (consome) o produto ou servio como destinatrio final (BRASIL, 1990b).

    Dessa forma, a princpio, existem duas espcies de consumidores:

    pessoa fsica (pessoa humana);

    pessoa jurdica (empresas).

    Como j foi dito, o consumidor pode ser efetivo, ou seja, aquele que concretamente adquire o produto ou servio; ou potencial, ou seja, aquele que alvo da oferta ou da publicidade dos produtos e servios colocados no mercado disposio para compra.

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    Equipara-se consumidor ao grupo de pessoas, ainda que indeterminvel, que haja intervindo nas relaes de consumo. Exemplos: os doentes de hospitais ou alunos de escolas, que adquirem ou utilizam bens e servios, ou, ainda, os associados a planos de sade.

    Como vimos, as pessoas jurdicas tambm esto includas na lei, como consumidoras, mas apenas aquelas que so as destinatrias finais do produto, e no as que adquirem bens ou servios como matria-prima necessria ao desempenho de sua atividade lucrativa. Exemplo: um supermercado que compra produtos de uma fbrica leo, leite etc. para revender no considerado consumidor, no recebendo, portanto, a proteo da legislao do CDC, justamente porque no o consumidor final do produto. Quando algum compra um produto para revender, tambm considerado fornecedor.

    Em contrapartida, se o mesmo supermercado comprar produtos para utilizar na limpeza de seu prprio estabelecimento, com relao a esses produtos, ser considerado consumidor, pois foi o destinatrio final dos produtos adquiridos.

    Assim, pode-se concluir que consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza o produto ou servio como destinatrio final.

    Nunes (2010) apresenta uma lista, exemplificativa dos apelidos que caracterizam os consumidores nos dias atuais, a qual auxilia na identificao destes:

    adquirente (de produtos em geral: imvel, automvel, de ingressos [...] etc.);

    beneficirio (segurado no caso de seguro);

    cliente (do banco, do barbeiro, da loja etc.);

    comprador (de qualquer produto ou servio);

    compromissrio-comprador (na compra de imvel);

    emitente (do cheque, do ttulo);

    espectador (no teatro, no cinema etc.);

    estudante (de escolas em geral);

    financiado (no emprstimo pessoal, no financiamento de veculo, de imveis etc.);

    hspede (do hotel, da penso etc.);

    leitor (de jornais, revistas etc.);

    paciente (do hospital, de clnica, do mdico);

    passageiro (de avio, nibus, trem, navio, txi etc.);

    [...]

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    prestamista (quem tem emprstimo de financiamento de imvel pelo SFH);

    telespectador (do servio de TV a cabo);

    turista;

    usurio (do sistema de carto de crdito, do sistema de sade etc.);

    viajante;

    vtima (no acidente de consumo) (NUNES, 2010, p. 19).

    Lembrete

    Os consumidores sempre devero adquirir ou utilizar os produtos ou os servios como destinatrio final.

    6.4.3 Conceito de fornecedor

    O CDC define, no seu art. 3, fornecedor como toda pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que desenvolvem atividades de produo, montagem, criao, construo, transformao, importao, exportao, distribuio ou comercializao de produtos ou prestao de servios.

    Exemplos de fornecedores: fabricante, financeira, banco, cabeleireiro, construtor, mdico, padaria, supermercado, revendedora, vendedor ambulante, prestador de servios em geral etc.

    Dessa forma, a princpio, o fornecedor pode ser dividido em trs tipos:

    pessoa fsica;

    pessoa jurdica, pblica ou privada, nacional ou estrangeira;

    ente despersonalizado, sendo considerados aqueles que no possuem uma personalidade jurdica (exemplo: empresa falida, camels).

    Assim, so considerados fornecedores de produtos tanto os supermercados, as grandes lojas de departamentos, quanto o feirante, a pequena mercearia e outros.

    Da mesma forma, so consideradas fornecedores de servios tanto as companhias areas, as agncias ou as operadoras de viagens quanto o eletricista, o marceneiro, o encanador, os pequenos empresrios etc.

    O fornecedor pode ser o prprio Poder Pblico, por si ou por suas empresas autorizadas que, direta ou indiretamente, prestem servios pblicos. Exemplo: as concessionrias que administram as estradas e rodovias, cobrando por esse servio o valor correspondente ao pedgio.

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    Por fim, os entes despersonalizados tambm so considerados fornecedores pela nossa legislao. Exemplo: a massa falida (pessoa jurdica falida) possui no mercado produtos e servios que ela ofereceu e efetivou antes de ocorrer a sua falncia, que podem, mesmo aps esta, continuar sob a proteo da lei do consumidor. Assim, a quebra de um fabricante de televisores no pode eliminar a garantia do funcionamento dos aparelhos pelo prazo da garantia contratual e legal.

    Tambm so considerados entes despersonalizados as chamadas pessoas jurdicas de fato, ou seja, aquelas que, sem constituir legalmente uma pessoa jurdica, desenvolvem, efetivamente (de fato), uma atividade industrial, comercial, de prestao de servios etc. Exemplo: a figura do camel ou do vendedor ambulante, que no deixam de ser fornecedores, at mesmo porque suprem de maneira relevante o mercado de consumo, estando, portanto, obrigados a obedecer s regras contidas no CDC, pois se enquadram no termo ente despersonalizado.

    No termo pessoa fsica est inclusa a figura do profissional liberal como prestador de servio e tambm daquele que desenvolve atividade habitual ou rotineira de venda de produtos, sem ter-se estabelecido como pessoa jurdica (empresa). Exemplo: o estudante que, para pagar a mensalidade da escola, compra roupas, joias, produtos de maquiagem etc. para revender entre os colegas, desde que faa isso com habitualidade, fornecedor.

    6.4.3.1 Espcies de fornecedores

    Fornecedor real nessa espcie de fornecedor esto includos o fabricante, o produtor e o construtor:

    fabricante quem fabrica e coloca o produto no mercado, que abrange tambm o montador e o fabricante de pea ou componente;

    produtor quem coloca no mercado produtos no industrializados (in natura), de origem animal ou vegetal (carnes, frutas, legumes etc.).

    construtor quem introduz produtos imobilirios no mercado de consumo, respondendo pela construo, bem como pelo material empregado na obra.

    Fornecedor presumido importador do produto industrializado ou in natura, porque os verdadeiros fabricantes ou produtores no podem, em razo da distncia, ser alcanados pelos consumidores.

    Fornecedor aparente tambm chamado de quase fornecedor, quem coloca seu nome ou sua marca no produto final, aquele que se apresenta como fornecedor. Nesse caso, aplica-se a Teoria da Aparncia, que se justifica pela apropriao que a empresa distribuidora faz do produto. Exemplo: franquia = o franqueador (titular da marca) o fornecedor aparente. O concessionrio franqueado tem responsabilidade solidria.

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    Comerciante e demais participantes do ciclo produtivo e distributivo Exemplos: os supermercados, as lojas varejistas, as distribuidoras de bebidas etc.

    6.4.4 Conceito de produto

    Nos termos do art. 3, 1, do CDC, produto qualquer bem, mvel ou imvel, material ou imaterial, objeto da relao de consumo.

    Em outras palavras, so os bens econmicos, suscetveis de apropriao, que podem ser durveis, no durveis, de convenincia, de uso especial etc.

    6.4.4.1 Classificao dos produtos (bens)

    Produtos (bens) materiais: so aqueles tangveis, com consistncia (peso, formato), que podem ser tocados. Exemplos: roupas, automveis, frutas, carne etc.

    Produtos (bens) imateriais: so aqueles intangveis, ou seja, que no podem ser tocados, mas so objetos de consumo. Exemplos: programas/softwares de computadores que contm o trabalho intelectual do seu criador.

    Produtos (bens) durveis: so aqueles que no se extinguem com o uso, levam tempo para desgastar-se, podem e devem ser utilizados muitas vezes. Exemplos: eletrodomsticos, automveis etc.

    Produtos (bens) no durveis: so aqueles que se acabam com o uso, no tm durabilidade. Usando o produto, ele se extingue, ou, pelo menos, vai-se extinguindo enquanto usado. Exemplos: alimentos, remdios, cosmticos, bebidas etc.

    Observao

    Um produto descartvel o no durvel que, na maioria das vezes, utilizado somente uma vez. Exemplo: copos ou pratos de plstico ou de papelo.

    Produtos (bens) in natura: so aqueles que no passam pelo sistema de industrializao, que vo ao mercado consumidor diretamente do stio ou da fazenda, do local de pesca, da produo agrcola ou pecuria etc. Cumpre ressaltar que os produtos in natura no perdem essa caracterstica quando so vendidos embalados em sacos plsticos aps serem limpos, lavados ou selecionados. Exemplos: legumes, cereais, gros, carnes, vegetais, frutas etc.

    Diante da classificao dos produtos descrita, pode-se observar que um mesmo produto, objeto das relaes de consumo, pode ser classificado de vrias formas. Exemplo: banana um produto in natura, material e no durvel.

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    O eminente economista Philip Kotler pondera que a primeira classificao de bens durveis e bens no durveis que se aplica igualmente, tanto a bens de consumo, como a bens industriais, distingue: bens durveis que normalmente sobrevivem a muitos usos (exemplo: roupas); e bens no durveis que normalmente so consumidos em um ou em alguns poucos usos (exemplo: carne, sabonete etc.).

    6.4.5 Conceito de servio

    Nos termos do art. 3, 2 do CDC, servio qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remunerao, inclusive as de natureza bancria, financeira, de crdito e securitria, salvo as decorrentes das relaes de carter trabalhista.

    No entendimento da expresso remunerao, excluem-se os tributos, as taxas e as contribuies de melhoria, ou seja, excluem-se as relaes inseridas na rea tributria, que se referem ao Fisco e ao contribuinte.

    Por sua vez, incluem-se as tarifas ou preos pblicos, cobrados pela prestao de servios feita pelo Poder Pblico, ou mediante concesso ou permisso a empresas de iniciativa privada. Exemplo: transportes, telefonia, gua, luz etc.

    O CDC tambm classificou os servios como durveis e no durveis.

    6.4.5.1 Classificao dos servios

    Servios no durveis: so aqueles que cumpriram suas obrigaes uma vez prestados. Exemplos: servios de transporte, de diverses pblicas, de hospedagem etc.

    Servios durveis: so aqueles que tm continuidade no tempo em decorrncia de uma estipulao contratual ou por deixarem como resultado um produto. Exemplos: a prestao dos servios escolares, os chamados planos de sade, bem como a pintura de uma casa, a instalao de um carpete, a colocao de um boxe, os servios de assistncia tcnica e de consertos etc.

    6.4.6 Direitos bsicos do consumidor

    Segundo Campos (2006), o Cdigo do Consumidor tem por escopo defender os interesses do consumidor, considerado a parte mais fraca da relao de consumo. Suas normas se prestam a atingir as seguintes finalidades:

    proteger o consumidor quanto a prejuzos sade e segurana;

    educar o consumidor sobre o consumo adequado, com liberdade de escolha;

    prestar informao adequada e clara sobre produtos, sua composio, especificao, caractersticas e qualidades;

    proteger contra publicidade enganosa;

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    modificar clusulas contratuais que estabeleam prestaes desproporcionais ou excessivamente onerosas;

    a efetiva preveno e reparao de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

    acesso ao Judicirio para busca da reparao de danos;

    a facilidade da defesa do consumidor, com inverso do nus da prova, observadas a verossimilhana e a hipossuficincia;

    adequada prestao dos servios pblicos em geral.

    Observao

    A poltica nacional de relaes de consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesses econmicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparncia e a harmonia das relaes de consumo.

    saiba mais

    Para saber mais sobre a proteo, os diretos e as obrigaes do consumidor, acesse: .

    resumo

    Nesta unidade, vimos que o Cdigo de tica formaliza um padro de conduta, considerado adequado para uma organizao.

    Em contrapartida, pode-se resumir o Direito como um sistema de normas jurdicas que, em determinado momento histrico, regula as relaes de um povo, embasadas pela moral e pela tica.

    Nas relaes de consumo, esto presentes, obrigatoriamente, as figuras do consumidor e do fornecedor de bens (produtos) ou de servios. O consumidor classificado como toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza o produto ou servio como destinatrio final. Por sua vez, fornecedor aquele responsvel pela colocao de produtos e servios disposio do consumidor, com a caracterstica da habitualidade.

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    Estudamos, ainda, que os objetos dessa relao de consumo configuram-se no produto, que se refere a qualquer objeto de interesse em uma relao de consumo e destinado a satisfazer uma necessidade do adquirente (consumidor) como destinatrio final; servio refere-se a toda atividade fornecida, ou melhor, prestada no mercado de consumo.

    Nesta obra, destacamos que todos os produtos ou servios colocados no mercado de consumo devem apresentar o termo de garantia padronizado e que esclarea, de maneira adequada, em que consiste a garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exigida, devendo ser entregue corretamente preenchida pelo fornecedor no ato do fornecimento do produto ou servio, acompanhada do manual de instruo, de instalao e uso do produto em linguagem didtica, com ilustraes.

    Por fim, apreendemos que, em relao s clusulas contratuais, o Cdigo de Defesa do Consumidor dispe sobre sua interpretao da forma mais benfica ao consumidor em caso de obscuridade. Entretanto, se as clusulas forem consideradas abusivas, o artigo 51 do Cdigo de Defesa do Consumidor determina sua nulidade.