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Evangelho Segundo o Espiritismo Capítulo V – itens 19, 27 e 28 O mal e o remédio 19. Será a Terra um lugar de gozo, um paraíso de delícias? Já não res- soa mais aos vossos ouvidos a voz do profeta? Não proclamou Ele que ha- veria prantos e ranger de dentes para os que nascessem nesse vale de dores? Esperai, pois, todos vós que aí viveis, causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas sejam as vossas dores, volvei o olhar para o Céu e bendizei o Senhor por ter querido experimentar-vos... Ó homens! dar-se-á não reconheçais o poder do vosso Senhor, senão quando Ele vos haja curado as chagas do corpo e coroado de beatitude e ventura os vossos dias? Dar-se-á não reconheçais o seu amor, senão quando vos tenha ador- nado o corpo de todas as glórias e lhe haja restituído o brilho e a brancura? Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Tendo chegado ao último grau da abjeção e da miséria, deitado sobre uma estrumeira, disse ele [Jó] a Deus: “Senhor, conheci todos os deleites da opulência e me reduzistes à mais absoluta miséria; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes que- rido experimentar o vosso servo!” Até quando os vossos olhares se deterão nos horizontes que a morte limita? Quando, afinal, vossa alma se decidirá a lançar-se para além dos limites de um túmulo? Houvésseis de chorar e sofrer a vida inteira, que seria isso, a par da eterna glória reservada ao que tenha sofrido a prova com fé, amor e resignação? Buscai consolações para os vossos males no porvir que Deus vos prepara e procurai-lhe a causa no passado. E vós, que mais sofreis, considerai-vos os afortunados da Terra. Como desencarnados, quando pairáveis no Espaço, escolhestes as vossas provas, julgando-vos bastante fortes para as suportar. Por que agora murmurar? Vós, que pedistes a riqueza e a glória, queríeis sustentar luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para lutar de corpo e espírito contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais forte fosse a prova, tanto mais gloriosa a vitória e que, se triunfásseis, embora devesse o vosso corpo parar numa estrumeira, dele, ao morrer, se desprenderia uma alma de rutilante alvura e purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento. Que remédio, então, prescrever aos atacados de obsessões cruéis e de cruciantes males? Só um é infalível: a fé, o apelo ao Céu. Se, na maior acerbidade dos vossos sofrimentos, entoardes hinos ao Senhor, o anjo, à vossa cabeceira, com a mão vos apontará o sinal da salvação e o lugar que um dia ocupareis... A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sem- pre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente punido, porque logo sente as pungitivas angústias da aflição. O Senhor apôs o seu selo em todos os que nele creem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores lhe serão as primeiras notas alegres da eter-

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  • Evangelho Segundo o Espiritismo

    Captulo V itens 19, 27 e 28

    O mal e o remdio

    19. Ser a Terra um lugar de gozo, um paraso de delcias? J no res-soa mais aos vossos ouvidos a voz do profeta? No proclamou Ele que ha-veria prantos e ranger de dentes para os que nascessem nesse vale de dores?Esperai, pois, todos vs que a viveis, causticantes lgrimas e amargo sofrere, por mais agudas e profundas sejam as vossas dores, volvei o olhar para oCu e bendizei o Senhor por ter querido experimentar-vos... homens!dar-se- no reconheais o poder do vosso Senhor, seno quando Ele voshaja curado as chagas do corpo e coroado de beatitude e ventura os vossosdias? Dar-se- no reconheais o seu amor, seno quando vos tenha ador-nado o corpo de todas as glrias e lhe haja restitudo o brilho e a brancura?Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Tendo chegado ao ltimograu da abjeo e da misria, deitado sobre uma estrumeira, disse ele [J]a Deus: Senhor, conheci todos os deleites da opulncia e me reduzistes mais absoluta misria; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes que-rido experimentar o vosso servo! At quando os vossos olhares se deteronos horizontes que a morte limita? Quando, afinal, vossa alma se decidira lanar-se para alm dos limites de um tmulo? Houvsseis de chorar esofrer a vida inteira, que seria isso, a par da eterna glria reservada ao quetenha sofrido a prova com f, amor e resignao? Buscai consolaes paraos vossos males no porvir que Deus vos prepara e procurai-lhe a causa nopassado. E vs, que mais sofreis, considerai-vos os afortunados da Terra.Como desencarnados, quando pairveis no Espao, escolhestes asvossas provas, julgando-vos bastante fortes para as suportar. Por que agoramurmurar? Vs, que pedistes a riqueza e a glria, quereis sustentar lutacom a tentao e venc-la. Vs, que pedistes para lutar de corpo e espritocontra o mal moral e fsico, sabeis que quanto mais forte fosse a prova,tanto mais gloriosa a vitria e que, se triunfsseis, embora devesse o vossocorpo parar numa estrumeira, dele, ao morrer, se desprenderia uma almade rutilante alvura e purificada pelo batismo da expiao e do sofrimento.Que remdio, ento, prescrever aos atacados de obsesses cruis ede cruciantes males? S um infalvel: a f, o apelo ao Cu. Se, na maioracerbidade dos vossos sofrimentos, entoardes hinos ao Senhor, o anjo, vossa cabeceira, com a mo vos apontar o sinal da salvao e o lugar queum dia ocupareis... A f o remdio seguro do sofrimento; mostra sem-pre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos diasbrumosos do presente. No nos pergunteis, portanto, qual o remdio paracurar tal lcera ou tal chaga, para tal tentao ou tal prova. Lembrai-vosde que aquele que cr forte pelo remdio da f e que aquele que duvidaum instante da sua eficcia imediatamente punido, porque logo sente aspungitivas angstias da aflio.O Senhor aps o seu selo em todos os que nele creem. O Cristo vosdisse que com a f se transportam montanhas e eu vos digo que aquele quesofre e tem a f por amparo ficar sob a sua gide e no mais sofrer. Osmomentos das mais fortes dores lhe sero as primeiras notas alegres da eter-

  • nidade. Sua alma se desprender de tal maneira do corpo que, enquanto elese estorcer em convulses, ela planar nas regies celestes, entoando, comos anjos, hinos de reconhecimento e de glria ao Senhor.Ditosos os que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porqueDeus as cumular de bem-aventuranas. Santo Agostinho. (Paris, 1863.)

    Dever-se- pr termo s provas do prximo?

    27. Deve algum pr termo s provas do seu prximo quando o possa, oudeve, para respeitar os desgnios de Deus, deixar que sigam seu curso?J vos temos dito e repetido muitssimas vezes que estais nessa Terra deexpiao para concluirdes as vossas provas e que tudo que vos sucede con-sequncia das vossas existncias anteriores, so os juros da dvida que tendesde pagar. Esse pensamento, porm, provoca em certas pessoas reflexes quedevem ser combatidas, devido aos funestos efeitos que poderiam determinar.Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que asprovas sigam seu curso. Outros h, mesmo, que vo at o ponto de jul-gar que, no s nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrrio,devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as maisvivas. Grande erro. certo que as vossas provas tm de seguir o curso quelhes traou Deus; dar-se-, porm, conheais esse curso? Sabeis at ondetm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso no ter dito ao sofrimentode tal ou tal dos vossos irmos: No irs mais longe? Sabeis se a Provi-dncia no vos escolheu, no como instrumento de suplcio para agravaros sofrimentos do culpado, mas como o blsamo da consolao para fazercicatrizar as chagas que a sua justia abrira? No digais, pois, quando virdesatingido um dos vossos irmos: a Justia de Deus, importa que siga oseu curso. Dizei antes: Vejamos que meios o Pai misericordioso me psao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmo. Vejamos se as minhasconsolaes morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderoajud-lo a vencer essa prova com mais energia, pacincia e resignao. Veja-mos mesmo se Deus no me ps nas mos os meios de fazer que cesse essesofrimento; se no deu a mim, tambm como prova, como expiao talvez,deter o mal e substitu-lo pela paz.Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas pro-vaes e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa ideiadeve revoltar-se todo homem de corao, principalmente todo esprita,porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a exten-so infinita da bondade de Deus. Deve o esprita estar compenetrado deque a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faaele o que fizer para se opor s decises do Senhor, estas se cumpriro. Pode,portanto, sem receio, empregar todos os esforos por atenuar o amargorda expiao, certo, porm, de que s a Deus cabe det-la ou prolong-la,conforme julgar conveniente.No haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se considerarno direito de, por assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De aumen-tar a dose do veneno nas vsceras daquele que est sofrendo, sob o pretextode que tal a sua expiao? Oh! considerai-vos sempre como instrumentopara faz-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas to-dos, sem exceo, deveis esforar-vos por abrandar a expiao dos vossossemelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. Bernardino, Esp-

  • rito protetor. (Bordeaux, 1863.)

    Ser lcito abreviar a vida de um doente que sofra sem esperana de cura?

    28. Um homem est agonizante, presa de cruis sofrimentos. Sabe-seque seu estado desesperador. Ser lcito pouparem-se-lhe alguns instantes deangstias, apressando-se-lhe o fim?Quem vos daria o direito de prejulgar os desgnios de Deus? Nopode Ele conduzir o homem at a borda do fosso, para da o retirar, a fimde faz-lo voltar a si e alimentar ideias diversas das que tinha? Ainda quehaja chegado ao ltimo extremo um moribundo, ningum pode afirmarcom segurana que lhe haja soado a hora derradeira. A Cincia no se terenganado nunca em suas previses?Sei bem haver casos que se podem, com razo, considerar desespera-dores; mas, se no h nenhuma esperana fundada de um regresso definiti-vo vida e sade, existe a possibilidade, atestada por inmeros exemplos,de o doente, no momento mesmo de exalar o ltimo suspiro, reanimar-see recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graa,que lhe concedida, pode ser-lhe de grande importncia. Desconheceis asreflexes que seu Esprito poder fazer nas convulses da agonia e quantostormentos lhe pode poupar um relmpago de arrependimento.O materialista, que apenas v o corpo e em nenhuma conta tem aalma, inapto a compreender essas coisas; o esprita, porm, que j sabe oque se passa no alm-tmulo, conhece o valor de um ltimo pensamento.Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas guardai-vosde abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto podeevitar muitas lgrimas no futuro. So Lus. (Paris, 1860.)