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Veículo O GLOBO ONLINE
Data 02/04/2015
Assunto Fundo patrimonial da Poli
Ex-alunos se juntam para criar fundo patrimonial mantido por doações para CAp-Uerj
Ideia é ajudar o colégio, que sofre com a falta de professores e de investimentos. Politécnica da USP usa modelo semelhante
POR CAIO BARRETTO BRISO E LUIZ GUSTAVO SCHMITT
Colégio sofre com falta de investimentos e manutenção - Alexandre Cassiano / Agência O Globo
RIO — Inspirados em modelo de financiamento adotado por diversas universidades
americanas e europeias, um grupo de ex-alunos do Colégio de Aplicação da Uerj (CAp-
Uerj) está se mobilizando para criar um fundo patrimonial para a instituição, que seria
mantido por doações. Eles criaram uma página no Facebook, que já reúne quase 600
pessoas. A ideia surgiu no ano passado, mas só ganhou força agora, justamente na crise
mais grave dos 58 anos de história do colégio. Com número reduzido de professores
desde que a Justiça determinou o afastamento dos docentes temporários — eram 104 de
um total de 210 —, até o momento o CAp só deu início às aulas de aproximadamente
400 alunos. O restante, cerca de 1,3 mil, continua em casa.
— Tive essa ideia há algum tempo, mas só consegui mobilizar umas cem pessoas, a
maioria da minha geração no CAp, onde estudei a maior parte da vida — afirma o
advogado Daniel Hora, de 41 anos. — Com a crise, o número de interessados aumentou.
Nesta quarta-feira, o grupo de ex-alunos se reuniu pela primeira vez, em uma livraria
do Leblon. Hora explicou seu projeto para os presentes, cerca de 30 ex-alunos que não
aceitam ficar de braços cruzados enquanto o CAp pena com a falta de professores e de
investimentos. A proposta é que cada um doe R$ 50 mensais para o fundo. Se mil
pessoas participarem, serão R$ 600 mil por ano.
— Ao fim do primeiro ano, vamos repassar metade do valor para o colégio. A outra
metade ficará com o fundo. Se conseguirmos atingir essa meta, em dez anos teremos R$
3 milhões, e o valor será sempre usado em melhorias e manutenção, de acordo com o
interesse do CAp — explica.
No Brasil, um modelo parecido é o da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
a Poli-Usp. É um exemplo de sucesso que acaba de passar por uma mudança: havia dois
fundos, um deles criado em 2012 por ex-alunos, o Amigos da Poli. Há oito meses, os
fundos passaram por uma fusão e hoje somam mais de R$ 6 milhões. Nada que se
compare à Harvard, universidade americana com as contas mais saudáveis do mundo
acadêmico, onde cerca de um terço da receita vem de doações. Ano passado, Harvard
registrou a contribuição recorde de US$ 150 milhões do bilionário Kenneth C. Griffin,
da turma graduada em 1989.
PEZÃO FALA EM DISPUTA POLÍTICA
Para o diretor do CAp-Uerj, professor Lincoln Tavares, a ideia é positiva:
— Essa tradição em instituições fora do Brasil tem a ver com uma forma de retribuição
por parte de alunos que se sentem agradecidos (pela formação). Isso só mostra a
importância que o CAp tem como instituição no Rio de Janeiro.
Na manhã desta quarta-feira, Pezão comentou a crise no CAp pela primeira vez.
Segundo o governador, os problemas na instituição estão relacionados a uma suposta
disputa política. Ainda este ano haverá eleição para a reitoria da Uerj.
— Disponibilizei professores para o reitor desde o primeiro momento. É preciso separar
o que é carência de docentes do que é disputa política pela reitoria. Alguns grupos,
infelizmente, não estão dizendo a verdade — disse o governador.
Veículo O GLOBO ONLINE
Data 02/04/2015
Assunto Importação de produtos para cientistas
Ciência sem barreiras
Cientistas esperam até dois anos pela chegada de produtos importados
POR LYGIA PEREIRA
De todas as perguntas que me fazem sobre genética e células-tronco, talvez a mais
constrangedora seja: “E o Brasil, está bem avançado nessas pesquisas?!” — feita, em
geral, quase como uma afirmação, ou pelo menos com a grande expectativa de que a
resposta seja positiva. Como dizer que não, que, apesar de toda a competência dos
pesquisadores brasileiros, nossa produção científica ainda é de baixo impacto,
principalmente considerando que somos a sétima economia do mundo?
A boa notícia é que, segundo pesquisa recente do Datafolha, 88% dos entrevistados
consideram que investir em ciência é muito importante. Ao mesmo tempo, 70%
consideram o investimento em ciência e tecnologia insuficiente. Sim, é insuficiente, mas
não é o nosso maior problema.
Mesmo os grupos brasileiros com mais verba para pesquisa não conseguem ser
competitivos internacionalmente por causa da enorme burocracia para importar
equipamentos e reagentes. Depois de desperdiçar tempo e dinheiro preparando uma
papelada infinita, ainda temos que esperar de um a 24 meses (sim, dois anos) pela
chegada dos produtos importados, que, além disso, ficam presos na alfândega. E muitas
vezes são perdidos. Enquanto isso, nos países que, de fato, valorizam ciência e
tecnologia, esses mesmos produtos demoram de um a 15 dias para chegar às bancadas
dos cientistas. Não é, então, de se espantar que 90% dos pesquisadores brasileiros já
tenham mudado os rumos de seus trabalhos ou até mesmo desistido de realizar algum
experimento por causa de problemas com importação. Ora, assim não é possível ser
competitivo.
Apesar do nosso desespero, o governo insiste que a questão de importação foi resolvida
com o programa Importa Fácil, do CNPq. Francamente, pode ser menos difícil, mas, de
fácil, o programa não tem nada. E, depois de nove anos de sua criação, não houve um
real impacto na melhora das condições de trabalho dos pesquisadores do país.
Por enquanto, não pedimos mais verba — afinal, essa será em parte desperdiçada com
as burocracias e ineficiências do sistema. Pedimos, sim, que resolvam esse nó eterno e,
assim, permitam que os cientistas do país possam realizar todo o seu potencial
produtivo. E para isso basta ter vontade política. Porém, paradoxalmente, parece ser
mais fácil para um governo com as contas estouradas criar um programa caro como o
Ciência sem Fronteiras do que reunir o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Anvisa,
Receita Federal, juristas e não sei mais quem e criar uma solução realmente efetiva para
o problema da burocracia da ciência no Brasil. Tenho certeza que o professor Hernan
Chaimovich já sentiu na pele a frustração de não conseguir realizar suas pesquisas por
causa das burocracias. Quem sabe agora, à frente do CNPq, ele possa organizar essa
força-tarefa.
Atenção, governo Dilma: em ano de vacas magras e de baixa popularidade, vocês têm a
chance de entrar para a História positivamente como os grandes transformadores da
ciência nacional sem gastar quase nada, e num assunto considerado importante por
88% da população. Que grande oportunidade!
Lygia Pereira é professora da USP
Veículo O GLOBO ONLINE
Data 01/04/2015
Assunto Evento na FFLCH
‘Roberto Carlos é o último censor de livros do Brasil’, diz autor da biografia do Rei
Paulo Cesar de Araújo participou do debate ‘É proibido proibir’ na USP com biógrafo de Elis Regina
POR LAURO NETO
Araújo: ‘Espero uma mudança na legislação ou uma brecha para tentar trazer o livro de volta’ - Fabio Seixo/22-10-93
SÃO PAULO - No dia em que o golpe militar completou 51 anos, a Universidade de São
Paulo (USP) promoveu o debate “É proibido proibir”, com a participação dos jornalistas
e biógrafos Paulo Cesar de Araújo e Julio Maria. O primeiro teve a biografia “Roberto
Carlos em detalhes” proibida pelo Rei em 2007, com 10 mil exemplares retirados de
circulação. Já Julio lançou “Elis Regina: nada será como antes”, há duas semanas, no
dia em que a cantora completaria 70 anos, com autorização dos três filhos dela.
No debate, realizado na noite desta terça-feira no campus da cidade universitária, na
zona oeste da capital paulistana, os autores se centraram na discussão dos rumos das
biografias no Brasil. Há um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional para
regulamentar a publicação de obras do gênero, já aprovado pela Câmara dos
Deputados, mas ainda não votado pelo Senado.
— O momento é outro. Precisamos estar atentos e oficializar isso. Principalmente no
meu caso. Como meu livro está proibido e todas as tentativas foram em vão, espero uma
mudança na legislação ou uma brecha para tentar trazer o livro de volta. Ele é o último
censor de livro no Brasil. É importante falar isso no dia 31 de março — disse Araújo.
O historiador disse não acreditar numa mudança partindo do Congresso, mas apenas
pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que tem uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (Adin) para julgar. A relatora é a ministra Carmen Lucia. Julio
Maria se mostrou incrédulo quanto à celeridade da alteração por ambas as esferas de
poder e convocou os biógrafos a desafiar os integrantes do movimento “Procure Saber”.
O grupo, liderado pela produtora Paula Lavigne, é defensor da necessidade autorização
prévia dos biografados.
— O que vai mudar a legislação é a prática, com enfrentamento e coragem de ir lá e
fazer. O pessoal do Procure Saber tem que ser desafiado pelos biógrafos. Caetano
Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento precisam de biografias de verdade. Se eles
não querem suas histórias contadas, é porque têm coisas a esconder. Estamos correndo
o risco de ter as histórias contatadas com 'chapabranquismo': o biógrafo com medo de
ser processado logo de cara, com uma editora que vai submeter o livro dele ao
departamento jurídico. Vemos estórias saindo de biografias por medo prévio,
autocensura do biógrafo, que vive um pesadelo eterno — alertou Julio.
Veículo EXTRA ONLINE
Data 01/04/2015
Página SOCIEDADE - 23
Assunto Professores da USP perseguidos pela ditadura
USP ganha posições entre as melhores universidades do
mundo; Confira as dez primeiras
Universidade de Cambridge, na Inglaterra, segunda colocada. Foto: cam.ac.uk/
Márcia Montojos
A revista inglesa Times Higher Education, dedicada à educação superior em todo o mundo, acaba de publicar uma lista com as
cem melhores universidades do mundo. E a Universidade de São Paulo (USP) está entre a 51ª e a 60ª posições (a partir da 51ª
posição, a publicação divide a classificação das instituições em blocos de 10 posições). Isto significa que apesar de ainda estar
fora do top 50 do ranking, a USP melhorou em relação ao ano passado, quando aparecia entre a 81 e 90 posições.
Por ser a única brasileira da lista, o editor da revista, Phil Baty, salientou que a USP tem um papel vital na atração e retenção de
talentos que futuramente vão beneficiar o Brasil como um todo. Somente uma outra instituição latino americana aparece entre as
cem melhores: a Universidade Nacional Autónoma do México, entre as posições 71 e 80.
A pesquisa, realizada com mais de dez mil acadêmicos de todo o mundo, mais uma vez apontou a supremacia da universidades
norte-americanas, com 43 entre as 100 primeiras. Destas, oito instituições aparecem entre as dez melhores. Harvard mais uma vez
ficou com o primeiro lugar, seguida das inglesas Cambridge e Oxford. MIT, Stanfor, Berkeley, Princeton, Yale, California
Institute of Tecnology e Columbia ocupam da quarta a décima posição, respectivamente.
Veículo PEQUENAS EMPRESAS, GRANDES NEGÓCIOS
Data 01/04/2015
Assunto Apoio ao empreendedorismo na USP
EMPREENDEDORISMO
Como a USP vem ajudando
empreendedores há mais de 20 anos Um serviço de informações e dúvidas sobre negócios fez da universidade paulista referência em apoio ao
empreendedorismo
Da Endeavor Brasil - 01/04/2015
A USP, que é a maior universidade da América Latina, é conhecida por ter formado muitos empreendedores de renome no Brasil (Foto: Reprodução)
Da fabricação de máquinas à rotulagem de macarrão. Todo empreendedor, mais cedo ou mais tarde,
sente dúvidas sobre algum aspecto do seu negócio. A maioria, muitas vezes, acaba resolvendo o
problema com base em experiência e intuição. Mas o empreendedor não tem tempo, ele é tomado por
desafios e problemas no dia a dia da empresa, e em geral tem pouco conhecimento técnico em áreas em
que não é especialista, mas que são essenciais para o sucesso de um negócio. Onde ele poderia procurar
informação e conhecimento de forma rápida e prática?
Algumas das melhores universidades do país decidiram ajudar os empreendedores justamente nos
assuntos que eles geralmente possuem menos domínio, de forma gratuita, na internet. O Serviço
Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT) responde questões dos setores de agronegócios, indústria,
serviços, entre outros, desde 2002, por meio de nove instituições de ensino superior brasileiras. No
entanto, tudo começou em 1991, na Universidade de São Paulo (USP), que fornecia um serviço
semelhante: o Disque Tecnologia.
O Disque foi criado por professores da USP em 1991, com a função de ser “um pronto-socorro
tecnológico” para micro e pequenas empresas. Chamava-se Disque porque os atendimentos, quando
criados, eram realizados por telefone – afinal, a internet ainda demoraria para se popularizar. O
número de respostas fornecidas foi aumentando ano após ano, com cada vez mais professores e alunos
envolvidos. Os alunos que davam suporte a iniciativa eram, sobretudo, alunos de Empresas Juniores
(EJs). Com a expansão da demanda por respostas, além do aumento da variedade de assuntos das
perguntas, muitas novas EJs foram criadas no período (de apenas duas em 1991, para mais de 10 nos
anos 2000). Desde o início, a iniciativa também conta com o apoio do Sebrae, que colabora com a
operação do programa até hoje, principalmente para respostas que precisem de mais atenção e tempo
de diagnóstico.
O atendimento cresceu tanto que a USP, juntamente com outras instituições brasileiras, como UNB e
UNESP, fundou a Rede Brasileira de Respostas Técnicas, criando então um portal online de
atendimento gratuito para empreendedores, o SBRT. O portal é extremamente simples de ser usado e
atende qualquer tipo de negócio, da padaria ao fabricante de aviões. O banco de questões tem mais de
12 mil respostas. Há desde informações sobre a abertura de um salão de beleza e como conectar as
impressoras do escritório, até sobre a reciclagem de óleos lubrificantes e fabricação de tecidos de
microfibra, entre muitos outras. Se a dúvida já não tiver sido respondida e não estiver no banco de
questões, é possível perguntar diretamente no portal, que responde a questão com um prazo médio de
15 dias. Desde a criação do Disque Tecnologia, o objetivo principal dos professores era o de aproximar
a academia do mercado: unir a técnica aos problemas reais. Para Dulcimar Barbeto, Diretora de
Empreendedorismo da Agência USP de Inovação, “criar novos conhecimentos a partir de problemas
reais dos empreendedores é o principal objetivo da universidade, que ajuda cerca de 20 mil
empreendedores, todos os anos, a desenvolver suas empresas através do portal”. Para Pamella
Gonçalves, gerente de pesquisas da Endeavor, “Outras universidades podem se espelhar nessa
iniciativa, que não é apenas uma boa ferramenta para empreendedores, mas também uma forma dos
alunos terem mais contato com desafios dos empreendedores, algo fundamental para aqueles que
querem empreender”.
Startup Farm abre inscrições para seu 12º
programa de aceleração O processo ocorre em parceria com a USP e busca atrair empresas com foco em tecnologia
Da Redação - 01/04/2015
Processos de aceleração são boas oportunidades para conhecer pessoas novas e fazer sua startup crescer (Foto: Reprodução)
A Startup Farm, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), abriu as inscrições para a 12ª
edição do seu programa de aceleração de startups. São 15 vagas disponíveis para equipes de no mínimo
2 e no máximo 4 participantes.
O tema dessa edição é "Disrupt: transformando ciência em negócios tecnológicos". O objetivo é atrair
startups com tecnologias e modelos de negócio inovadores - principalmente se seus projetos estiverem
envolvidos com pesquisas científicas.
A parceria da Startup Farm com a USP surgiu em 2014, através do professor Fábio Kon, do Centro de
Competência de Software Livre da USP. Após participar da 10ª edição do programa da aceleradora, ele
viu uma oportunidade interessante de levar a iniciativa para dentro da universidade e assim fortalecer
o vínculo entre empreendedorismo e pesquisa.
O programa tem duração de 5 semanas e terá início no dia 1º de maio. As inscrições podem ser
realizadas no site da aceleradora e ficam abertas até o dia 14 de abril. O resultado sai no dia 24 do
mesmo mês.
Veículo G1 SANTOS
Data 02/04/2015
Assunto Pesquisa Museu de Zoologia
Nova espécie de tubarão é achada nas
profundezas do litoral brasileiro; fotos Tubarão é ovíparo e habita as águas profundas da costa brasileira.
Animal foi identificado e catalogado por pesquisador do litoral de SP.
Mariane RossiDo G1 Santos
Nova espécie de tubarão foi batizada de Scyliorhinus ugoi (Foto: Mariane Rossi/G1)
Pesquisadores de São Vicente, no litoral de São Paulo, descobriram uma nova espécie de tubarão, que habita as
profundezas da costa brasileira, durante um trabalho de pesquisa científica. De acordo com os pesquisadores, existiam
relatos da existência do animal desde a década de 1990, mas nunca um exemplar havia sido encontrado para ser
estudado.
As pesquisas foram comandadas pelos professores Otto Bismarck Gadig (Unesp), Karla Soares (USP) e Ulisses Gomes
(UFRJ). Eles analisaram dez exemplares que foram coletados em diferentes partes do litoral brasileiro, como Rio de
Janeiro e Rio Grande do Norte, em profundidades de mais de 500 metros. "Existiam relatos sobre esse animal. A gente
sempre falava que um dia encontraria ele e estudaríamos", afirma Otto.
Segundo Gadig, os pesquisadores, comandados por Karla, tiveram dificuldades em identificar o animal. “Eles não são
fáceis de serem identificados. São parecidos com outros tipos de tubarão. Existem tubarões-gatos do Nordeste muito
parecidos. Mas eles tinham particularidades e não achávamos exemplares iguais. Fizemos o trabalho de taxonomia,
comparando com as espécies dos gêneros e visitando museus”, conta.
Otto analisa exemplar do novo tubarão (Foto: Mariane Rossi/G1)
Após uma longa pesquisa, os cientistas descobriram que essa espécie ainda não tinha sido descrita, ou seja, era
totalmente nova. O animal foi batizado como Scyliorhinus ugoi, em homenagem à Ugo Gomes, filho do pesquisador
Ulisses Gomes.
O animal é uma espécie da família dos chamados tubarões-gato, por apresentar os olhos alongados e esverdeados como
o dos felinos, mas com características particulares. “Eles eram maiores, mais escuros, sempre com pintas pequenas”,
comenta Gadig. O novo tubarão é ovíparo e habita as águas profundas da costa brasileira entre o Nordeste e o Rio de
Janeiro. Os maiores exemplares adultos examinados atingem cerca de 65 cm de comprimento. Eles se alimentam de
pequenos invertebrados e peixes.
Ovos da nova espécie de tubarão (Foto: Mariane Rossi/G1)
Os pesquisadores concluíram o estudo científico sobre a nova espécie em 2014 e o artigo foi publicado neste ano. Um
dos exemplares analisados está na coleção científica da Unesp, em São Vicente, e é uma fêmea. Os outros exemplares
estão guardados no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), no Museu Nacional do Rio de Janeiro e
na coleção científica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para Gadig, a descoberta de uma nova espécie de tubarão é importante para o conhecimento da biodiversidade
brasileira, principalmente, aquela que habita a profundidade dos oceanos. Ele diz que são quase 200 espécies
conhecidas de raias e tubarões no Brasil. O próprio professor já descobriu duas outras novas espécies de raias antes
deste tubarão. “Somos um depósito da biodiversidade. Estamos no começo da nossa coleção científica aqui na Unesp.
Queremos ter uma diversidade de tubarões e raias do Brasil que represente a diversidade brasileira”, fala.
Além disso, Gadig se preocupa com o futuro dessas espécies e dos profissionais da área que terão esse conteúdo para
realizar outras pesquisas. “Pode ser que, daqui a alguns anos, eles não existam mais. Espécies de tubarões e raias estão
desaparecendo. Essa diversidade é um legado para as futuras gerações”, comenta.
Nova espécie de tubarão vista de cima (Foto: Mariane Rossi/G1)
Veículo AGÊNCIA FAPESP
Data 02/04/2015
Assunto Agências de pesquisa buscam oportunidade
FAPESP integra Plataforma Transatlântica para Ciências Sociais e Humanas 02 de abril de 2015
Agências de fomento das Américas e da Europa buscam identificar áreas potenciais para colaboração, entre elas as Digital
Humanities(ilust.: modelo de Tycho Brahe para o Sistema Solar/Wikipedia)
Diego Freire | Agência FAPESP – A Plataforma Transatlântica para Ciências Sociais e Humanas
(T-AP, na sigla em inglês), formada pela FAPESP e outras 11 agências de fomento das Américas
e da Europa, deu início em janeiro a uma série de workshops para identificar oportunidades de
cooperação entre os continentes e novas direções para projetos multilaterais.
A FAPESP integra a T-AP desde sua fundação, em outubro de 2013, quando assinou
memorando de entendimento entre todos os membros da iniciativa, em cerimônia realizada em
Montreal, no Canadá. Desde então a Fundação vem participando de todas as reuniões
promovidas pela Plataforma para fomentar uma rede de colaboração entre os países em diversas
áreas relacionadas às Ciências Sociais e Humanas.
Os workshops promovidos ao longo de 2015 terão como objetivo explorar áreas de grande
abrangência, com potencial para colaborações, e os meios pelos quais a cooperação se dará,
explicou Claudia Bauzer Medeiros, professora no Instituto de Computação da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e representante da FAPESP nas reuniões.
“Foram feitos estudos preliminares de formas de cooperação e de áreas de interesse dos países
envolvidos. Quatro dessas temáticas deram origem aos workshops, nos quais são investigadas
novas direções para cooperação. Deles participam especialistas que apontam lacunas do
conhecimento e também identificam áreas onde há grande potencial para investigação, fazendo
sugestões às agências de fomento sobre quais poderiam ser as direções futuras para as
colaborações transatlânticas”, disse Medeiros, membro da Coordenação Adjunta de Programas
Especiais da FAPESP.
A Plataforma busca identificar mecanismos que permitam o lançamento de programas e projetos
interdisciplinares de pesquisa. Uma das prioridades é o tema Digital Humanities.
“Trata-se de uma área com grande potencial de colaboração não só entre países, mas também
entre diversas disciplinas, envolvendo, além das Ciências Sociais e Humanas, especialistas de
Computação, Engenharia, Medicina e Matemática, entre muitas outras”, disse Medeiros.
As Digital Humanities se dividem em duas grandes vertentes: uma dedicada aos estudos das
mudanças sociais, econômicas ou científicas desencadeadas pelo mundo digital e outra que
aproveita recursos digitais para estender ou acelerar pesquisas.
Também participa das discussões na área Maria Clara Paixão de Sousa, da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
Workshops
O primeiro workshop da T-AP, realizado em janeiro, em Washington, nos Estados Unidos, tratou
do tema Digital scholarship, que diz respeito à incorporação de tecnologias digitais à pesquisa
acadêmica. A FAPESP participa de uma força-tarefa na T-AP responsável por investigar como
cada nação trata as possibilidades na área.
Entre os especialistas convidados esteve Charlotte Marie Chambelland Galves, do Instituto de
Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que falou sobre
linguística computacional na palestra The Tycho Brahe Corpus project: (big) annotated data for a
new historical syntax.
Na ocasião, Galves tratou das dificuldades no processamento e na anotação de textos históricos
e das múltiplas descobertas científicas que tais procedimentos permitem.
Os próximos workshops estão programados para julho, em Londres, na Inglaterra, com o
tema Diversity, (In)equality and Differences; setembro, em São Paulo, na sede da FAPESP, com
o tema preliminar Transformational Research - Social Sciences and Humanities and
Environmental Sciences; e dezembro, em Dusseldorf, na Alemanha, com o tema Building
Resilient and Innovative Societies.
A T-AP foi implementada no âmbito do Horizonte 2020, maior programa europeu de apoio à
pesquisa e à inovação. As atividades da Plataforma Transatlântica para Ciências Sociais e
Humanas devem ser concluídas até o final de 2016.
Além da FAPESP, integram a iniciativa as divisões de Ciências Sociais e de Humanidades da
Organização Holandesa para a Pesquisa Científica (NWO), o Conselho de Pesquisa Canadense
para Ciências Sociais e Humanidades (SSHRC), a Agência Nacional de Pesquisa da França
(ANR), a Academia da Finlândia (AKA), o Conselho Internacional de Ciência Social da França
(ISSC), o Centro Nacional de Pesquisa em Aeronáutica e Espaço da Alemanha (DLR), o
Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia do México (CONAYT), a Fundação para Ciência e
Tecnologia de Portugal (FCT), o Conselho de Pesquisa em Artes e Humanidades do Reino Unido
(AHRC), o Conselho de Pesquisa em Economia e Ciências Sociais do Reino Unido (ESRC) e a
Fundação de Pesquisa Alemã (DFG).
O memorando de entendimento que institui a T-AP pode ser acessado em www.fapesp.br/9295.
Veículo AGÊNCIA FAPESP
Data 02/04/2015
Assunto Pesquisa FMUSP
Exposição à violência no trabalho pode causar depressão em profissionais de saúde 02 de abril de 2015
Pesquisa com quase 3 mil profissionais constata que mais de 52% apresentam sintomas de depressão, associados a ameaças e
agressões (foto: Wikimedia)
José Tadeu Arantes
Agência FAPESP – Violências de vários tipos, sofridas durante o exercício da atividade
profissional, estão provocando depressão entre os profissionais da Estratégia de Saúde da
Família (ESF), principal programa de atenção básica do Ministério da Saúde.
Uma pesquisa realizada junto a 2.940 integrantes da ESF no município de São Paulo constatou
que formas de depressão leves a moderadas afetavam 36,3% desses profissionais e depressões
mais graves acometiam outros 16%. No total, 52,3% dos entrevistados, englobando agentes
comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos, estavam sofrendo de
algum tipo de depressão por ocasião do inquérito.
A informação foi veiculada no artigo “Violence at work and depressive symptoms in primary health
care teams: a cross-sectional study in Brazil”, assinado por Andréa Tenório Correia da Silva,
Maria Fernanda Tourinho Peres, Claudia de Souza Lopes, Lilia Blima Schraiber, Ezra Susser e
Paulo Rossi Menezes, publicado na revista publicado na revista Social Psychiatry and
Psychiatric Epidemiology.
O estudo foi realizado no âmbito do projeto “Esgotamento profissional e depressão em
profissionais da estratégia saúde da família do município de São Paulo”, coordenado por Paulo
Rossi Menezes, professor titular do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e apoiado pela FAPESP
[http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/132584/esgotamento-profissional-e-depressao-em-
profissionais-da-estrategia-saude-da-familia-do-municipio-de/].
Na amostra investigada foram contabilizados os seguintes percentuais de exposição à violência
durante o exercício da atividade profissional nos 12 meses anteriores às entrevistas: insultos
(44,9%), ameaças (24,8%), agressão física (2,3%), testemunhar violência (29,5%).
Segundo o coordenador, a ideia de fazer essa pesquisa começou a tomar corpo cerca de 10 anos
atrás, a partir da observação pessoal de Andréa Tenório Correia da Silva.
“Na época, ela trabalhava como médica de família em uma equipe da ESF em São Paulo e
percebeu que os agentes comunitários que participavam de sua equipe estavam muito
estressados. Elegendo como tema a saúde mental desses profissionais, Andréa desenvolveu seu
mestrado, com a minha orientação. No curso de sua pesquisa, usando um questionário padrão,
percebemos, para nossa surpresa, que uma proporção muito grande apresentava sintomas de
depressão e ansiedade. A partir disso, elaboramos o projeto, financiado pela FAPESP, que gerou
o trabalho atual”, disse Menezes à Agência FAPESP.
A Estratégia de Saúde da Família é considerada, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), um
modelo de atenção primária à saúde para países de renda média ou baixa. No Brasil, seus 320
mil trabalhadores prestam assistência a mais de 118 milhões de pessoas espalhadas pelo
território nacional. E um indicador de seu êxito é que ele vem sendo copiado por outros países,
como a África do Sul e o Peru.
“O grande diferencial da ESF é que, além de atender nas unidades básicas de saúde (UBS), cada
equipe vai às comunidades, faz visitas domiciliares e assume a responsabilidade pela saúde dos
moradores de uma determinada região”, afirmou Menezes.
Mas esse contato íntimo com a população, que constitui o maior mérito da ESF, é também o fator
que expõe seus profissionais a vários episódios de violência no trabalho. “Durante as visitas à
comunidade, pode ocorrer de os agentes do PSF serem insultados, ameaçados ou até agredidos
pelas pessoas que vão atender, ou por outros moradores, que também fazem parte de sua
clientela. Além disso, é comum esses profissionais presenciarem cenas de violência praticadas
contra terceiros”, informou o pesquisador.
Alvo de frustrações
Os motivos são fáceis de entender. Em um contexto conflituoso, com múltiplas causas para
insatisfação, é comum que o descontentamento seja direcionado contra qualquer pessoa que
ocupe posição associada com autoridade. Embora os trabalhadores da ESF estejam lá para
atender a população, eles podem se tornar eventualmente alvos das frustrações dessa mesma
população.
“A variável ‘presenciar violência’ foi uma novidade incorporada por nossa pesquisa. Foi,
provavelmente, a primeira vez que se mediu essa variável em uma enquete sobre violências
sofridas por profissionais de saúde”, disse Menezes.
Como constatou a pesquisa, essa exposição reiterada à violência pode levar a um quadro
depressivo passageiro ou mesmo a uma depressão duradoura, de intensidade leve, moderada ou
grave.
“Os critérios atuais utilizados para o diagnóstico de depressão, como, por exemplo, os adotados
pela CID 10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), da
Organização Mundial da Saúde, estabelecem uma tipologia com base na conjunção de uma série
de sintomas, como alteração do humor, alteração do sono, alteração do apetite, dificuldade de
concentração, sentimento de culpa, perda de autoestima ou pensamentos suicidas”, disse
Menezes.
Esses critérios, ele sublinha, não classificam como sofrendo de depressão um grande número de
indivíduos que apresentam sintomas mais leves ou em menor número, mas que interferem
significativamente na vida dessas pessoas.
Como os trabalhadores da ESF são indivíduos “concretos” – sujeitos, portanto, a múltiplas
determinações –, os pesquisadores procuraram isolar as causas decorrentes do estresse
profissional de outros fatores de risco para depressão também comumente experienciados pela
população.
“A população em geral está sujeita a episódios depressivos. E há evidências bem estabelecidas
de que as mulheres têm mais chance de apresentar depressão que os homens, os adultos de
idade intermediária mais do que os jovens ou os idosos, os solteiros ou separados mais do que
os casados”, ele diz.
As pessoas com menor poder econômico também apresentam, proporcionalmente, mais
depressão do que aquelas com maior poder econômico, assim como as pessoas com menor
escolaridade, em comparação com aquelas com maior escolaridade, completa.
“Às condições de vida associa-se um fator importante, chamado ‘evento de vida estressante’,
como a morte ou doença de um parente ou amigo, o fim de um relacionamento, a perda do
emprego, ficar preso ou presa no alagamento durante as chuvas de verão etc. Quando fizemos
nossa análise, nós isolamos o efeito desses outros fatores, para examinar especificamente a
relação entre exposição à violência no trabalho e depressão”, explicou Menezes.
“Comparando com dados de um recente estudo sobre transtornos mentais na Grande São Paulo,
o ‘São Paulo Megacity Mental Health Survey’, também financiado pela FAPESP , percebemos
que a prevalência de transtornos depressivos entre os profissionais da ESF é praticamente o
dobro daquela observada na população em geral. Ou seja, os profissionais de saúde estão com
muito mais casos de depressão do que a população à qual eles têm que prestar cuidados”,
ressaltou Menezes.
Segundo o pesquisador, a maioria dos entrevistados que apresenta sintomas de depressão ainda
não foi diagnosticada e, portanto, não recebe cuidados de saúde adequados. E uma das
consequências desejáveis de seu estudo seria conscientizar os gestores dos serviços de saúde
sobre a importância de elaborar programas de atenção à saúde mental desses profissionais.
A investigação, coordenada por Paulo Rossi Menezes, nomeada pelo acrônimo Pandora (de
“Panorama of Primary Health Care Workers in São Paulo, Brasil”), gerou um grande volume de
informações sobre condições de trabalho e saúde mental dos profissionais da ESF, e novas
análises estão sendo realizadas, para auxiliar no desenvolvimento de programas e políticas para
a saúde mental desses profissionais.
Veículo AGÊNCIA FAPESP
Data 01/04/2015
Assunto Pesquisa ICB
Molécula reduz degeneração cardíaca após o infarto 01 de abril de 2015
Droga experimental desenvolvida por pesquisadores da Universidade Stanford e da USP protegeu a função cardíaca em
experimentos com ratos (foto: droga experimental alda-1 reduziu danos do infarto em experimentos com ratos / divulgação)
Karina Toledo | Agência FAPESP – O tratamento de ratos infartados com uma droga
experimental chamada alda-1 reduziu quase pela metade a perda da função cardíaca em
experimentos realizados na Universidade de São Paulo (USP). Os resultados foram divulgados
no International Journal of Cardiology.
Desenvolvida por pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e do Instituto de
Ciências Biomédicas (ICB-USP), a molécula sintética é capaz de ativar uma enzima conhecida
como ALDH2 (aldeído desidrogenase-2), existente na mitocôndria e essencial para o bom
funcionamento de todas as células, inclusive as cardíacas.
Os primeiros ensaios clínicos para atestar a segurança do composto estão sendo realizados nos
Estados Unidos, com apoio privado.
“A enzima ALDH2 é essencial para a metabolização dos aldeídos – moléculas extremamente
reativas produzidas pelo nosso corpo que, em excesso, prejudicam a produção de energia na
célula (ATP) e causam liberação ainda maior de substâncias reativas, como os radicais livres e os
próprios aldeídos”, explicou Julio Cesar Batista Ferreira, professor do Departamento de Anatomia
do ICB-USP e coordenador da pesquisa apoiada pela FAPESP.
Em um estudo anterior com ratos portadores de insuficiência cardíaca, o grupo havia mostrado
que o tratamento com alda-1 aumentava a capacidade do coração de bombear sangue (leia mais
em: http://agencia.fapesp.br/19343).
Neste novo trabalho, também realizado durante o mestrado de Kátia Maria Sampaio Gomes, a
terapia foi administrada no dia seguinte ao infarto e reduziu significativamente os danos
progressivos às células que levam ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
“Antes de tratar os animais, porém, tentamos entender o que acontece com o metabolismo de
aldeídos no coração após o infarto. Queríamos observar se a atividade da enzima ALDH2 está
alterada, se isso afeta o acúmulo de aldeídos e se, de fato, tem influência na progressão da
doença”, explicou o pesquisador.
O modelo animal usado na avaliação consiste em induzir um infarto agudo do miocárdio
amarrando uma das artérias coronárias do rato. A falta de irrigação sanguínea causa a morte
imediata de aproximadamente 30% das células cardíacas. Como as células restantes passam a
trabalhar dobrado para compensar a lesão, entram em colapso após algum tempo. Nesse
modelo, os ratos costumam apresentar sinais de insuficiência cardíaca depois de um mês.
Para medir a progressão da doença, os pesquisadores mediram – na primeira, na segunda e na
quarta semana após o infarto – a função cardíaca, o perfil metabólico do coração (produção de
ATP), a atividade da enzima ALDH2 e os níveis de aldeídos presentes no sangue e no tecido
cardíaco.
“Sem nenhuma intervenção terapêutica, observamos que a função cardíaca foi caindo
progressivamente ao longo das quatro semanas. Antes do infarto a fração de ejeção cardíaca
estava em 81%. Ao fim da primeira semana estava em 54% e, após a quarta, caiu para 44%”,
contou Ferreira.
Nas células cardíacas que se mantiveram viáveis após o infarto, foi observado um prejuízo
progressivo na produção de ATP, redução da atividade da ALDH2. Os níveis de aldeídos no
sangue, que eram de 1,5 nanomoles (nmol) antes do infarto, subiram para 2,8 nmol após a
primeira semana e para 5 nmol, ao fim da quarta semana.
“Foi possível notar uma correlação inversa: quanto maior era o nível de aldeídos no sangue,
menor era a função cardíaca, o que sugere que a enzima ALDH2 não estava funcionando
adequadamente, embora sua expressão não tenha sido reduzida”, comentou Ferreira.
Esses achados foram validados em humanos. Pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio
apresentaram em exames realizados na USP níveis mais elevados de aldeídos no sangue do que
indivíduos saudáveis.
Em biópsias cardíacas de portadores de cardiomiopatias isquêmica, chagásica e idiopática, os
pesquisadores observaram redução da atividade da ALDH2 e acúmulo de aldeídos. Os dados dos
estudos com humanos ainda não foram publicados.
Na avaliação do pesquisador, o conjunto de testes sugere que a dosagem de aldeídos no sangue
pode ser usada pelos médicos como um marcador da progressão da doença, auxiliando no
diagnóstico da insuficiência cardíaca.
Tratamento protetor
Em outro grupo de ratos, o tratamento com a molécula experimental alda-1 foi iniciado no dia
seguinte ao procedimento para indução do infarto. Quatro semanas depois, a função cardíaca
havia caído de 75% para 62%. O nível de aldeídos, tanto no sangue quanto no tecido cardíaco,
estava equivalente ao do grupo controle, ou seja, foi encontrada uma quantidade igual à de um
coração saudável.
“A droga não evitou em 100% a perda da função cardíaca, pois durante o infarto morre uma
quantidade considerável de células e o tratamento começou apenas no dia seguinte. Ainda assim,
no término do experimento, a capacidade de bombear sangue do grupo tratado estava duas
vezes melhor que a do grupo não tratado, mostrando que há uma proteção”, comentou Ferreira.
A alda-1 foi descoberta ainda durante o pós-doutorado de Ferreira, realizado em Stanford com
apoio da FAPESP.
Sob a coordenação de Daria Mochly-Rosen, professora do Departamento de Biologia Química e
de Sistemas de Stanford, o grupo da universidade norte-americana criou a startup Aldea
Pharmaceuticals para tentar transformar a alda-1 em um produto comercial.
Os ensaios clínicos de fase 1, feito com voluntários saudáveis apenas para avaliação de
toxicidade, tiveram início nos Estados Unidos no fim de 2014.
Inicialmente, o foco da farmacêutica é usar o composto para tratar intoxicação por bebida
alcóolica – uma vez que o álcool ao ser metabolizado no organismo libera grandes quantidades
de aldeídos –, principalmente em portadores de uma mutação no gene da ALDH2 que torna a
enzima menos funcional.
Essa mutação é a mais frequente no mundo, afetando 600 milhões de pessoas – cerca de 45%
da população oriental. Recentemente, os pesquisadores do ICB-USP e de Stanford publicaram
no Annual Review of Pharmacology and Toxicology umarevisão de literatura na qual defendem
a necessidade de um cuidado médico personalizado para esses pacientes.
“Portadores dessa mutação não apenas são mais suscetíveis aos efeitos nocivos do álcool, como
também do cigarro, da poluição, de comidas ricas em gorduras saturadas e determinados
medicamentos que favorecem a produção de aldeídos. A mutação, portanto, os torna mais
propensos a desenvolver uma série de doenças degenerativas”, comentou Ferreira.
No artigo de revisão, o grupo apresenta um questionário que permite ao médico determinar se um
paciente é portador da mutação sem a necessidade de um exame genético. O trabalho também
traz uma lista de medicamentos a serem evitados por esses pacientes.
“Essa mutação já era conhecida há muitos anos, mas nunca havia sido considerada como um
fator que poderia influenciar a progressão de doenças. Como desenvolvemos uma ferramenta
capaz de ativar a enzima ALDH2, conseguimos mostrar sua importância para o organismo”, disse
Ferreira.
Foco ampliado
Atualmente, o grupo de Ferreira realiza estudos pré-clínicos em parceria com a Aldea
Pharmaceuticals na tentativa de estender a aplicação da alda-1 para outras doenças
degenerativas de origem isquêmica, como a doença arterial periférica.
“Essa experiência de trabalhar em sinergia com empresas startups é extremamente
enriquecedora, pois estimula o processo de transferência de conhecimento e tecnologia gerados
na academia em prol da sociedade”, comentou Ferreira.
O grupo busca parceiros brasileiros interessados no uso clínico da alda-1. Esses estudos estão
sendo realizados no âmbito doPrograma Supernova, uma iniciativa do ICB-USP em parceria
com Stanford que visa a profissionalizar o processo de aceleração de projetos acadêmicos
inovadores.
O artigo Aldehydic load and aldehyde dehydrogenase 2 profile during the progression of post-
myocardial infarction cardiomyopathy: Benefits of Alda-1 (doi: 10.1016/j.ijcard.2014.10.140) pode
ser lido emwww.sciencedirect.com/science/article/pii/S0167527314020774.
O artigo A personalized medicine approach for Asian Americans with the Aldehyde
Dehydrogenase 2*2 variant (doi: 10.1146/annurev-pharmtox-010814-124915) pode ser lido
em www.annualreviews.org/doi/full/10.1146/annurev-pharmtox-010814-
124915?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%3dpubmed.
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