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Aplicabilidade do SIG nos programas de habitação de interesse social – estudo de caso do Bosque das Bromélias – Salvador (BA) Aline Oliveira Tosta Pós-graduanda em Geotecnologias – Soluções de Inteligência Geográfica, da Escola de Engenharia Eletro-Mecânica da Bahia (EEEMBA). [email protected] Carmo Elizabeth Liberato da Silva Seydel Pós-graduanda em Geotecnologias – Soluções de Inteligência Geográfica, da Escola de Engenharia Eletro-Mecânica da Bahia (EEEMBA). [email protected] RESUMO Dentre as Geotecnologias, o uso do SIG – Sistemas de Informações Geográficas – vem ampliando progressivamente sua contribuição em diferentes áreas da sociedade. Essa ferramenta facilita a compreensão e a manipulação do espaço geográfico, permitindo que o usuário utilize suas técnicas em diversas áreas do conhecimento científico. O presente artigo promove um estudo sobre a aplicabilidade do SIG na avaliação da implantação do Bosque das Bromélias, através da análise do entorno do empreendimento, informando os equipamentos e serviços existentes. Tal empreendimento do Programa Federal Minha Casa Minha Vida está localizado em Salvador – Bahia. Esse estudo apresenta considerações relevantes sobre o cabedal de possibilidades que as Geotecnologias oferecem a temas importantes como o da habitação. PALAVRAS-CHAVE: Sistemas de Informações Geográficas. Habitação. Programa Minha Casa Minha Vida. Bosque das Bromélias.

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Aplicabilidade do SIG nos programas de habitação de interesse social – estudo de caso do Bosque das Bromélias – Salvador (BA)

Aline Oliveira Tosta Pós-graduanda em Geotecnologias – Soluções de Inteligência Geográfica, da Escola de Engenharia Eletro-Mecânica da Bahia (EEEMBA). [email protected] Carmo Elizabeth Liberato da Silva Seydel Pós-graduanda em Geotecnologias – Soluções de Inteligência Geográfica, da Escola de Engenharia Eletro-Mecânica da Bahia (EEEMBA). [email protected]

RESUMO

Dentre as Geotecnologias, o uso do SIG – Sistemas de Informações Geográficas – vem ampliando progressivamente sua contribuição em diferentes áreas da sociedade. Essa ferramenta facilita a compreensão e a manipulação do espaço geográfico, permitindo que o usuário utilize suas técnicas em diversas áreas do conhecimento científico. O presente artigo promove um estudo sobre a aplicabilidade do SIG na avaliação da implantação do Bosque das Bromélias, através da análise do entorno do empreendimento, informando os equipamentos e serviços existentes. Tal empreendimento do Programa Federal Minha Casa Minha Vida está localizado em Salvador – Bahia. Esse estudo apresenta considerações relevantes sobre o cabedal de possibilidades que as Geotecnologias oferecem a temas importantes como o da habitação.

PALAVRAS-CHAVE :

Sistemas de Informações Geográficas. Habitação. Programa Minha Casa Minha Vida. Bosque

das Bromélias.

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Aplicabilidade do SIG nos programas de habitação de interesse social – estudo de caso do Bosque das Bromélias – Salvador (BA)

1 INTRODUÇÃO

A expansão de centros urbanos no Brasil e os problemas vinculados a esse crescimento é uma realidade no país desde a década de 1930. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010) a maioria da população brasileira é urbana, com 84% das pessoas vivendo nesses aglomerados, em muitos casos com uma infraestrutura que não acompanha esse patamar, a exemplo de Salvador. É na capital baiana que se encontra o empreendimento Bosque das Bromélias, objeto de nosso estudo.

A urbanização intensificada ao longo das décadas, pressionada pelo capitalismo e pelo desenvolvimento industrial, associado ao mal planejamento da cidade, desencadeou a disseminação de inúmeras ocupações informais, muitas em áreas de risco, sem a infraestrutura básica necessária para uma moradia. A população soteropolitana convive com a falta de emprego, com problemas em saneamento básico, educação, transporte, habitação, dentre outros comuns a uma cidade grande dos países periféricos.

Segundo a Lei Federal 11.124 de 16 de junho de 2005, os programas de habitação de interesse social possuem, dentre seus objetivos, “viabilizar para a população de menor renda o acesso a terra urbanizada e à habitação digna e sustentável”. (Art. 2º/I). Como aplicação dos recursos do FNHISi a “implantação de saneamento básico, infraestrutura e equipamentos urbanos, complementares aos programas habitacionais de interesse social” (Art. 11°/IV). Assim, a meta geral dos programas de habitação de interesse social é propiciar moradia digna e de qualidade com acesso aos serviços básicos necessários para o desenvolvimento dos beneficiários. O objetivo do presente trabalho não é discutir as leis e o embasamento jurídico que assegura o direito à moradia, mas analisar a aplicabilidade do SIG para os programas de habitação de interesse social.

Apesar do objeto de estudo desse artigo encontrar-se em malha urbana, sabe-se que atualmente o uso das geotecnologias funciona como um condicionante facilitador para análise e estudos de planejamentos, estruturação e propostas de qualquer configuração e em qualquer que seja o ambiente aplicado. Podendo ser definida como:

A arte e a técnica de estudar a superfície da terra e adaptar as informações as necessidades dos meios físicos, químicos e biológicos. Fazem parte das Geotecnologias o Processamento Digital de Imagens (PDI), a Geoestatística e os SIGs” (SILVA, 2003, p.35).

Essas ferramentas se aprimoraram ao longo dos anos com o avanço das tecnologias espaciais, aéreas e computacionais. Atualmente a coleta de dados está cada vez mais sofisticada e precisa, permitindo o estudo e reprodução de diversas informações em diferentes espaços com múltiplos objetivos. Por exemplo, a confecção de mapas do entorno dos empreendimentos a serem construídos, informando os equipamentos e serviços existentes e previstos no âmbito da educação, saúde, segurança, comércio, transporte, uso e ocupação do solo e fatores de risco

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ou insalubridade, existência de outros empreendimentos habitacionais de interesse social, dentre outros.

O produto dessas análises auxilia nas tomadas de decisões por apresentarem a situação real de uma localidade, contribui para o planejamento territorial, facilita a organização do espaço urbano de forma mais precisa diminuindo os riscos de insucessos. Na Figura 1, registrada em 22 de julho de 2012 pode-se verificar um pouco das proximidades do empreendimento.

Figura 1: Vista panorâmica do empreendimento Bosque das Bromélias.

Fonte: SEYDEL E TOSTA, 2012.

O Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV, lançado em 2009, tem como escopo inicial a construção de um milhão de unidades habitacionais em sua primeira fase. Na Bahia existem 100.731 unidadesii sendo construídas. Desse total, 81.739 são destinadas à população que possui renda de até R$ 1.600,00 (um mil e seiscentos reais); mesma faixa salarial que compõe o empreendimento Bosque das Bromélias.

2 METODOLOGIA E OPERACIONALIZAÇÃO DO PROCESSO

No desenvolvimento dessa pesquisa buscou-se observar, registrar, analisar e correlacionar fatos com embasamento bibliográfico e documental. Por meio do procedimento de observação direta, a construção desse artigo motivou à presença dos pesquisadores na área de estudo e de observação indireta foram examinadas fontes secundárias, como outros artigos/teses, livros, jornais, revistas, dentre outros.

A pesquisa possui três etapas. No primeiro momento o levantamento bibliográfico, em seguida o planejamento e a execução das atividades de campo e por fim a análise dos dados e síntese dos resultados. Estas etapas permitiram estruturar, fundamentar, compreender e apresentar os benefícios, quando utilizado, das ferramentas de SIG na implementação dos programas de habitação de interesse social, em particular, o caso do empreendimento Bosque das Bromélias.

3 ÁREA DE ESTUDO

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Bosque das Bromélias, popularmente conhecido como Bairro Novo, é o nome dado ao empreendimento habitacional situado na estrada Cia-Aeroporto - BA 526, Km 3,5, como representado na Figura 2. Segundo a Caixa Econômica Federal – CEF (2012) esse complexo de conjuntos habitacionais após a conclusão da sua construção irá beneficiar aproximadamente 9.600 pessoas. O imóvel é composto de dois quartos, sala, cozinha, sanitário, área de serviço e de circulação. Os condomínios oferecem áreas de lazer como quadra poliesportiva, parques e quiosques.

Figura 2: Localização da área de estudo em relação à cidade do Salvador.

Fonte: SEYDEL E TOSTA, 2012.

Segundo o Ministério das Cidades (2009) as diretrizes para a elaboração de projetos vinculados ao Programa Minha Casa Minha Vida no período de contratação do empreendimento, estavam regulamentadas pela Portaria N° 139 de 13 de Abril de 2009, e que possuía o seguinte teor:

4.1 Os projetos serão elaborados para a execução de empreendimentos inseridos na malha urbana e que contém com a existência de infraestrutura básica que permita as ligações domiciliares de abastecimento de água, esgotamento sanitário e energia elétrica, bem como vias de acesso e transportes públicos. 4.1.1 Deverá ser considerada a existência ou ampliação dos equipamentos e serviços relacionados à educação, saúde e lazer. 4.2 No caso de aquisição de projetos sob a forma de loteamento, cuja infraestrutura não se encontra executada, o valor de investimento poderá compreender os custos com a infraestrutura externa aos lotes adquiridos. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2009).

Atualmente os beneficiários ali residentes sofrem com o acesso a serviços básicos como educação, saúde, lazer e transporte. Insatisfeitos protestam com queima de pneus, fechamento de avenidas e participação em reuniões com a CEF, Prefeitura de Salvador e várias Secretarias do Governo do Estado. A Figura 3 apresenta um pouco dos problemas existentes na localidade.

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Figura 3: Imagens do Empreendimento Bosque das Bromélias.

3a: Vista do alto, mostrando alguns dos

condomínios do empreendimento. 3b: Faixa comunicando audiência pública.

3c: Placa de informação da construção da

passarela e do ponto de ônibus. 3d: Localização da passarela para a

entrada do empreendimento

Fonte: SEYDEL E TOSTA, 2012.

O Ministério das Cidades (2011) buscando mitigar essas situações criou a Portaria N° 465, de 03 de Outubro do mesmo ano supracitado, demonstrando uma maior preocupação com essa questão. As Diretrizes para Elaboração de Projetos ganha 16 tópicos, destacando:

2.4 Sem prejuízo das exigências municipais de destinação de áreas públicas para a aprovação de projetos independente de seu aporte, os empreendimentos que totalizem mais de mil unidades, deverão ter garantidas áreas para implantação dos equipamentos públicos necessários para atendimento da demanda gerada por estes. 2.8 As famílias residentes nos empreendimentos, com crianças em idade escolar, deverão ser atendidas, por escolas de educação infantil e de ensino fundamental localizadas, preferencialmente, numa faixa de até dois mil metros ao redor do empreendimento. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2011).

Ao analisar tais diretrizes, verifica-se que mais relevante do que os novos tópicos é a exigência de um Relatório de diagnóstico de demanda por equipamentos e serviços públicos e urbanos. Esse relatório foi criado após ser constatado que muitos empreendimentos já entregues não ofereciam os equipamentos básicos necessários para atender aos beneficiários. A exigência desse documento visa assegurar que os problemas apresentados anteriormente sejam evitados em contratações futuras e que os moradores não sejam penalizados pela falta de serviços. As autoridades ficam responsáveis pela expansão desses equipamentos para as

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novas localidades, facilitando a mobilidade urbana, porém, o que ocorre em muitos casos é a falta de infraestrutura básica por parte dos municípios para receber a grande demanda de investimentos em habitação que o programa oferece.

A maioria dos empreendimentos estão localizados ao ermo desligado do cotidiano urbano, são conjuntos isolados, não só pela distância do centro, mas pela ausência de elementos caracterizantes de cidade: comércio, vida noturna, postos de trabalho, lazer. São por isso núcleos residenciais isolados, fragmentos de bairro, são assim espaços não urbanos, negação à Cidade. (CAMPOS, 2011, p.23)

É possível ver empreendimentos construídos em locais impróprios, sem equipamentos públicos, oportunidades de emprego, sem acesso a serviços básicos. Segundo MASCIA (2011, p.14) “Um fenômeno importante nas regiões metropolitanas é a periferização da habitação de interesse social, pela escassez de terrenos acessíveis nos centros urbanos, ocorrendo juntamente com o esvaziamento das áreas centrais”.

4 PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, a moradia adequada foi reconhecida um direito humano universal.

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis (...) (Art XXV, 1.)

Sendo reforçado esse direto na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, no Capítulo II (dos Direitos Sociais), Art. 6, onde a educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, segurança, dentre outros compõem os direitos sociais do cidadão brasileiro. Ainda nesse contexto, fazem-se necessárias algumas observações sobre a Constituição. Qualquer pessoa tem direito de morar sem o medo de sofrer remoção, possuindo, em seu entorno, equipamentos públicos e infraestrutura, o que lhe garantiria a segurança da posse. Sobre o dispêndio para a aquisição do imóvel, o custo não deve comprometer a renda familiar. O imóvel não pode colocar em risco a saúde e a vida das pessoas que ali moram, deve ser bem localizado, e sua circunvizinhança terá que oferecer crescimento econômico, cultural e social.

Nas décadas de 1980 e 1990 a habitação no país passou por um longo período de letargia. Vários programas voltados para a habitação ficaram dispersos e não tiveram continuidade. Em 2003, com a criação do Ministério das Cidades, a habitação ganhou um importante espaço dentro do governo. Após a implantação do ministério foram criados o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, o Fundo de Arrendamento Residencial – FAR, o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS, o Conselho Nacional das Cidades – CONCIDADES e leis regulatórias que propiciaram uma nova fase para a produção habitacional e urbanização de áreas precárias. Segundo a Revista Brasileira de Habitação (2011, p.6) o déficit habitacional no Brasil alcançou um total de 7,9 milhões de moradias. Ainda pela mesma revista, o objetivo do Ministério das Cidades é zerar esse déficit até 2023.

É necessário realizar uma breve exposição sobre os aspectos principais do PMCMV do Governo Federal, por ter uma relação direta com a aplicação da ferramenta aqui utilizada. Segundo o Decreto 6.819 de 13 de Abril de 2009, o programa compreende: O Programa

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Nacional de Habitação Urbana - PNHU; O Programa Nacional de Habitação Rural - PNHR; A autorização para a União transferir recursos ao Fundo de Arrendamento Residencial - FAR e ao Fundo de Desenvolvimento Social - FDS; A autorização para a União participar do Fundo Garantidor da Habitação Popular - FGHab; e a autorização para a União conceder subvenção econômica ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES.

O programa “tem como finalidade criar mecanismos de incentivo à produção e à aquisição de novas unidades habitacionais pelas famílias com renda limitada a dez salários mínimos” (DECRETO 6.819). Um programa habitacional com um papel econômico que visava principalmente à geração de empregos para pessoas com baixa qualificação, aquecimento do mercado interno, aumento na comercialização de materiais e serviços. Seu objetivo principal é de fomentar a economia brasileira diante dos vários cenários de crises externas.

É nesse contexto, e em meio à grande crise dos mercados mundiais, que ainda em 2008 o governo federal passa a discutir mais intensamente com os grandes empresários da construção civil um plano que contemplaria a produção habitacional em escala, ao mesmo tempo em que configuraria em medida anticíclica de enfrentamento da crise econômica e diminuição do emprego formal. (MASCIA, 2011, p.11)

O PMCMV é um programa gerido pelo Ministério das Cidades e operacionalizado pela CEF. Inicialmente foi estipulada uma meta de produção de 1 milhão de unidades, atualmente, segundo a CEF, essa meta passou para 2 milhões de novas residências para famílias com renda de até R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Com a continuidade do PMCMV II, a meta para esse segmento passou para 860.000 unidades até 2014, nas operações que envolvem exclusivamente o FAR. A execução das obras é realizada pelas construtoras contratadas pela CEF, mediante a apresentação de projetos que se enquadrem as exigências do programa, onde o imóvel pode ser casa ou apartamento. Os imóveis contratados são de propriedade do FAR até que ocorra o cadastro dos beneficiários, que deverá ser feito pelo Governo Estadual ou Municipal. Após o repasse das unidades, os moradores terão que arcar com uma parcela mínima mensal de R$50,00 (cinquenta reais) ou 10% do salário mínimo durante dez anos. Atualmente o valor das unidades para Salvador está em torno de 57 mil reais para unidade tipo apartamento e 56 mil para tipo casaiii .

A questão habitacional do país é de extrema complexidade. Lidar com o espaço urbano é tarefa que exige estudo e atenção. No âmbito econômico, o programa teve sua atuação renovada com o PMCMV II. Como o atual cenário é de crises externas enfrentadas pelo Brasil sua responsabilidade aumenta ainda mais.

5 A FERRAMENTA SIG

Conhecer o mundo onde o homem habitava essa é, possivelmente, a origem dos estudos vinculados à Cartografia, ciência base para a formulação dos Sistemas de Informação Geográfica - SIG. Nossos ancestrais já utilizavam técnicas cartográficas buscando delimitar territórios de caça e pesca na pré-história. Assim, desde tempos remotos, já para elaboração dos primeiros mapas, havia a coleta de dados pelos viajantes.

Desde as antigas civilizações até os tempos modernos, os dados espaciais são coletados por navegadores, geógrafos, agrimensores e geodesistas e representados na forma de mapas

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pelos cartógrafos ou pelos próprios coletores de dados. O desenvolvimento da Cartografia ou dos mapas aconteceu naturalmente com o desenvolvimento da humanidade. (NOGUEIRA, 2008, p.91)

Realizar o registro e caracterização de áreas é um comportamento do homem desde as antigas civilizações. O objeto desses registros evoluiu juntamente com a necessidade do indivíduo de cada época. É possível classificar nossa atual sociedade como sendo a “Sociedade da informação” diante da vital importância que o fluxo informacional vem atingindo. Todas as atividades desenvolvidas pelo homem contemporâneo envolve geração e troca de informações. A evolução tecnológica propiciou uma abertura de fronteiras nunca antes vista na história da humanidade. Diante dessas novas ferramentas e equipamentos o homem abandona o lápis e papel e passa a espacializar seus dados e objetos de estudo utilizando as mais novas tecnologias disponíveis no mercado para tal função.

(...) a Tecnologia da Informação e Comunicação encontram-se entre as áreas tecnológicas, que nos últimos anos, conheceram os maiores avanços, com o aparecimento diário de novos programas e computadores com potencialidades cada vez maiores. Essa situação tem contribuído, de forma decisiva, para uma crescente utilização das TIC nas organizações e na sociedade em geral, afirmando-se como uma ferramenta imprescindível, que já é parte integrante de nosso cotidiano. (FURTADO, 2006, p.11)

Assim como afirma SANTOS (1996, p.47), o mundo hoje passa por um período “técnico-científico-informacional”. Exemplo claro dessa classificação defendida pelo autor supracitado é o SIG, do inglês, Geographic Information System (GIS). O uso desses sistemas está se tornando cada vez mais comum no planejamento, diagnóstico, monitoramento e estudos preliminares do ambiente urbano. Essa ferramenta pode ser definida como:

Os Sistemas de Informações Geo-referenciadas ou Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) são usualmente aceitos como sendo uma tecnologia que possui o ferramental necessário para realizar análises com dados espaciais e, portanto, oferece, ao ser implementada, alternativas para o entendimento da ocupação e utilização do meio físico, compondo o chamado universo da Geotecnologia. (SILVA, 2003, p.27).

Em acelerado desenvolvimento, o Geoprocessamento vem ampliando sua área de atuação dentro das empresas utilizando técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica. Essas ferramentas facilitam a compreensão e a manipulação do espaço geográfico, permitindo que o usuário utilize suas técnicas em diversas áreas do conhecimento científico, dentre elas, a análise de áreas para implementação de programas para habitação. Hardwares e softwares funcionando harmoniosamente, incorporando dados, análises e pessoas, co-relacionando essas informações.

Com ideologia compatível as idéias de globalização, as ferramentas de geoprocessamento representam rapidez, facilidade e precisão na qualidade do produto final após esse processamento de dados, podendo vincular-se em qualquer tipo de atividades que possua dentre suas necessidades localizar e analisar objetos – como aqueles desenvolvidos e executados pelo PMCMV.

SILVA (2003), o SIG permite estabelecer zoneamentos, o que facilita o gerenciamento de inúmeros serviços que são oferecidos à população, tornando-se um aliado dentro do processo de implementação desse tipo de programa. Evidente, que apenas a utilização dessa ferramenta

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não garante qualidade nos resultados. O sistema facilita a compilação dos dados. Para o autor supracitado (2003, p.45) o “banco de dados georreferenciado e com controle de erros” é extremamente necessário e isso auxilia boa parte do sucesso do resultado.

Para a utilização do SIG é necessário ter “um banco de dados robusto e bem planejado, que é uma tarefa desafiadora e consome, muitas vezes mais de 70% dos esforços físicos, financeiros e intelectuais de um projeto. (SILVA, 2003, p.161).

Para utilização do SIG é necessário que os conceitos trabalhados em cada área sejam traduzidos para um ambiente computacional, ou seja, escolher as representações que mais se adéquam ao que o trabalho deseja. Aplicando as suas funções à área de estudo do presente artigo são possíveis, após colher as coordenadas geográficas do empreendimento, transpor esses elementos para imagens de satélites e até mesmo sobrepor às bases de equipamentos públicos e sociais disponíveis nas Secretarias do Governo do Estado.

Além da representação geográfica é possível agregar informações gerais do empreendimento como número de unidades habitacionais, município, construtora, contrato, território de identidade, loteamento, endereço, dentre outras, que irão compor um banco de dados georreferenciado.

O SIG pode ser utilizado nos programas habitacionais não somente para a produção de mapas. Sem dúvida, um de seus papéis mais importantes é poder oferecer um suporte para análise espacial de seus fenômenos e armazenar suas informações. Segundo CÂMARA et al. (2001), numa visão abrangente, pode-se indicar que um SIG tem os seguintes componentes: interface com usuário; entrada e integração de dados; funções de consulta e análise espacial; visualização e plotagem; armazenamento e recuperação de dados (organizados sob a forma de um banco de dados geográficos).

Destacando alguns dos softwares de SIG mais utilizados no mercado, encontra-se o Spring, Geomedia e QuantumGis, todos gratuitos. O MapInfo e o ArcGis são softwares com uma quantidade maior de ferramentas, permitem que o usuário utilize um maior número de funções, são softwares pagos que possuem uma boa aceitação para trabalhos nessa área.

6 RESULTADO DA ANÁLISE DA ÁREA DE ESTUDO

Remover a população mais carente dos bairros considerados nobres e/ou centrais para áreas pobres e/ou periféricas é uma prática comum dentro da lógica dos programas de habitação de interesse social. No caso do PMCMV essa realidade não é divergente. A justificativa é que existe uma tendência à implantação desses novos empreendimentos em áreas consideradas de expansão urbana. Assim, o programa seria o impulsionador para desencadear o processo de crescimento e desenvolvimento daquela localidade. É importante salientar que pela legislação o direito a moradia vai além de quatro paredes e um teto. Seria a garantia da prática a cidadania.

Aprofundando o olhar sobre a localidade do Bosque das Bromélias o que se observa é uma série de deficiências sociais reunidas em um único local. Em visita de campo e análise da área utilizando o SIG, fica notória a falta de planejamento e de um estudo preliminar durante esse processo.

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Segundo o depoimento prestado por moradores na audiência pública realizada em 17 de julho de 2012, os atuais beneficiários desses apartamentos eram moradores de áreas centrais da cidade do Salvador como Pelourinho, Sete Portas, Baixa dos Sapateiros. Oriundos em sua maioria de habitações irregulares, essa população retirava do seu antigo entorno residencial sua forma de sustento. Atividades como comércio, artesanato e pesca de marisco era a fonte de renda dessas famílias. Remanejados para a Estrada Cia - Aeroporto, já no limite municipal da cidade, os moradores alegam dificuldades financeiras, além da falta de oportunidade para exercer suas antigas atividades econômicas de onde eles retiravam suas rendas.

A nova moradia trouxe consigo responsabilidades e despesas que muitos não tinham anteriormente. A taxa condominial, a conta de energia e a parcela mínima de R$50,00 (cinquenta reais) para aquisição do próprio imóvel são alguns desses exemplos. Sem ter como manter as atividades econômicas devido à distância da sua antiga área de atuação, a escassez de transporte público e a falta de oportunidade de trabalho no perímetro de sua nova moradia, muitos beneficiários têm sua situação financeira agravada, o que leva alguns a realizar a venda do imóvel recém-recebido por valores irrisórios.

Durante o “Seminário de sustentabilidade nos empreendimentos de habitação de interesse social e avaliação de pós-ocupação” ocorrido no dia 26 de abril de 2012, e na audiência pública “Provisão de serviços, bens e políticas públicas em empreendimentos de habitação de interesse social” realizada em 17 de julho de 2012 na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, os moradores do Bosque das Bromélias relataram todas as dificuldades citadas acima, acrescentando ainda que sofrem descriminação por parte dos moradores que já residiam na localidade. Segundo os mesmos a chegada deles, agravou a situação de uma estrutura urbana já precária. Os episódios de discriminação e ofensas podem ser presenciadas nos pontos de ônibus e em postos de saúde próximo ao empreendimento.

Sobre o transporte público oferecido, a quantidade de linhas passantes na Estrada CIA - Aeroporto não atende a demanda populacional da área. Existe a linha regular da Estação Mussurunga - Barro Duro, sob a responsabilidade da Prefeitura de Salvador. As demais linhas passantes são intermunicipais e estão sob responsabilidade da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia - AGERBA.

Não existem semáforos nem faixa de pedestre. A passarela, ainda provisória, foi implantada após inúmeras reclamações e acidentes, a estrutura atual fica a cerca de 500m da entrada principal do empreendimento. A iluminação pública também é deficiente, o que gera insegurança aos moradores impossibilitando os mesmos de estudar, trabalhar ou realizar atividades e lazer noturno. Não existem pontos comerciais como padaria, farmácia e lojas, como mostra a Figura 4.

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Figura 4: O entorno do Bosque das Bromélias, julho/2012.

Fonte: SEYDEL E TOSTA, 2012.

A utilização de ferramenta de geoprocessamento é indispensável para análises como essa. Os produtos gerados possibilitam que o projetista identifique com certa facilidade as distâncias dos equipamentos urbanos para o local onde serão implementados os projetos. Assim ele pode escolher outras localidades para construir o empreendimento ou propor à prefeitura a instalação de determinados equipamentos urbanos.

Inúmeros foram os problemas listados na avaliação de pós-ocupação dos imóveis, na audiência pública e em visita de campo. Com base no Ministério das Cidades (2011), Portaria N° 465, de 03 de Outubro sobre a elaboração do Relatório de diagnóstico da demanda por equipamentos e serviços públicos e urbanos, foi delimitado no mapa um raio de 2,5 km no entorno do empreendimento, visando melhor analisar a área.

Esses dados resultaram como produto a Figura 5 abaixo que possui a área circunvizinha ao Bosque das Bromélias. Buscou-se ao confeccionar esse mapa identificar os principais serviços encontrados no entorno do empreendimento.

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Figura 5: Área circunvizinha ao Bosque das Bromélias.

Fonte: SEYDEL E TOSTA, 2012.

Abrangendo o raio existem poucos equipamentos disponíveis. É possível identificar a presença de cinco unidades escolares, quatro municipais: Escola Municipal Raimundo Lemos de Santana, Escola Municipal Governador Mario Covas (é a unidade mais próxima do empreendimento com aproximadamente 1km de distância), Escola Municipal Jacira

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Fernandes Mendes e Escola Municipal Mercedes do Espírito Santo e o Colégio Estadual José Augusto Tourinho Dantas. Foi identificado um posto de combustível há uma distância de 1,5km. O Aterro sanitário metropolitano e o centro de treinamento do Esporte Clube Bahia também estão inseridos no raio estabelecido pelo Ministério.

O posto de saúde mais próximo ao empreendimento é a Unidade de Saúde da Família - USF de Boca da Mata fica a 2,8km de distância. Existe também a 49º Companhia da Policia Militar localizado há 3,0km de distância do empreendimento e nas proximidades de um comércio de abastecimento alimentar, a Cesta do Povo. Analisando o mapa é possível perceber que quanto mais próximo à presença de equipamentos e serviços básicos para o atendimento da população maior é o sucesso do programa de habitação social, diminuindo as possibilidades da venda do imóvel por parte do beneficiário.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Promover ações em qualquer ambiente requer atenção e estudo. Principalmente, porque a verba utilizada é fruto da contribuição de milhões de pessoas ao pagarem seus impostos. Programas como MCMV são destinados a melhorar a vida de milhões de brasileiros que sofrem com problemas de habitação. Esse programa que está em vigor há três anos cumpre o seu papel enquanto agente fomentador da economia do país, gerando novos postos de trabalho e circulação de capital.

Infelizmente, em alguns casos, os altos investimentos não foram acompanhados de estudos prévios necessários para a inserção de novos elementos no espaço de forma a garantir as condições mínimas de habitabilidade e inserção social para os beneficiários do programa.

Dentro do processo que envolve o Programa Minha Casa Minha Vida, observa-se a seguinte situação: É um programa de grande porte, nunca antes visto na história da habitação brasileira que envolve quantias vultosas e números expressivos. Com relação aos números o programa apresenta um constante crescimento, entretanto o fator quantitativo pode mascarar uma realidade antagônica. Uma análise mais aprofundada sobre o olhar qualitativo, principalmente ao que se refere o empreendimento Bosque das Bromélias, revela um amplo conjunto de problemas sociais e de infraestrutura.

O uso das geotecnologias mostrou ser uma ferramenta essencial para análise e estudos da viabilidade de empreendimentos do programa. Um banco de dados atualizado favorece o reconhecimento da área pretendida, apresenta a disposição dos equipamentos, possibilita o entendimento do seu entorno. O estudo de caso aqui realizado sobre o empreendimento Bosque das Bromélias pode comprovar que construir moradias dignas requer mais do que materiais de construção. Os equipamentos necessários para uma convivência integrada e saudável devem acompanhar o novo teto. Educação, transporte, saúde, segurança, lazer, infraestrutura devem estar inseridas nas novas contratações do programa. Os governos municipal, estadual e federal precisam estar em sintonia trabalhando para um bem comum.

Diante da sociedade tecnológica atual não fazer uso das ferramentas disponíveis para a implantação de novos projetos é regredir, e no caso específico da área estudada no presente artigo, é presenciar brasileiros que realizaram o sonho da casa própria abrir mão de seu imóvel por não ter condições de arcar com as tarifas sociais e a prestação mínima exigida. De

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nada adianta obras prontas, metas alcançadas sem serviços complementares indispensáveis para uma vida digna. Temas como a habitação vêm aguardando há décadas um “olhar” do Governo. É importante aproveitar essa fase e fazer uso dos investimentos de forma responsável e comprometida para atingir o objetivo principal dos programas de habitação de interesse social que é propiciar a população de menor renda acesso a moradia digna e sustentável. A cartografia evoluiu ao longo dos séculos tornando-se indispensável em muitas atividades da atualidade, não fazer uso dos benefícios que ela pode oferecer é assumir uma postura do homem das antigas civilizações, e as consequências dessa postura pôde ser vista no presente artigo.

REFERÊNCIAS

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NOGUEIRA, Ruth E. Cartografia : representação, comunicação e visualização de dados espaciais. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnicas e tempo, razão e emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996. SILVA, Ardemirio de Barros. Sistemas de Informações Geo-referenciadas: conceitos e fundamentos. Campinas, SP. Editora da Unicamp, 2003.

i FNHIS – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social. Maiores informações no decorrer do artigo. ii Fonte: Caixa Econômica Federal, em 02 de maio de 2012 iii Fonte: Portaria N° 465, de 03 de outubro de 2011 do Ministério das Cidades.