exame urina

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LABORATRIO ANALISES C LNICAS SECO DE PARASITOLGIA

EXAME DA URINA

EXAME DA URINAA avaliao da urina pode nos fornecer pistas importantes sobre doenas sistmicas, nomeadamente doenas renais. As 3 anlises de urina mais comuns so: - EAS (Elementos Anormais do Sedimento) ou urina tipo I - Urina de 24 horas - Urinocultura (urocultura)

1) EAS ou urina tipo I

O EAS o exame de urina mais simples. Colhe-se 40-50 ml de urina em um pequeno pote de plstico. Normalmente solicitamos que se use a primeira urina da manh e que se despreze o primeiro jato. Essa pequena quantidade de urina serve para eliminar as impurezas que possam estar no canal urinrio. Em seguida enchese o recipiente com o jato do meio. No obrigatrio que seja a primeira urina do dia. A urina deve ser colhida idealmente no prprio laboratrio, pois quanto mais

fresca estiver, mais confivel so seus resultados. Um intervalo de mais de 2 horas entre a coleta e a avaliao normalmente invalidam qualquer resultado, principalmente se urina no tiver sido mantida sob refrigerao.

O EAS divido em 2 partes. A primeira feita atravs de reaces qumicas e a segunda por visualizao de gotas da urina pelo microscpio. Na primeira parte mergulha-se na urina uma fita (dipstick) como as que esto na foto do incio do texto e ao lado. Cada fita possuiu vrios quadradinhos coloridos compostos por substncias qumicas que reagem com determinados elementos da urina. Esta parte to simples que pode ser feita no prprio consultrio mdico.

Aps 1 minuto, compara-se a cores dos quadradinhos com uma tabela de referncia que costuma vir na embalagem das prprias fitas do EAS.

Atravs destas reaces e com o complemento do exame microscpico, podemos detectar a presena e a quantidade dos seguintes dados da urina: - Densidade - pH - Glicose - Protenas - Hemcias (sangue) - Leuccitos - Ketonas - Urobilinognio e bilirubina

- Nitrito - Cristais - Clulas epiteliais e cilindros Os resultados do dipstick so qualitativos e no quantitativos. A fita identifica a presena dessas substncias, mas a quantificao apenas aproximada. O resultado normalmente fornecido em uma graduao de cruzes de 0 a 4. Valores de referncia: a) Densidade: A densidade da gua pura igual a 1000. Quanto mais prximo deste valor, mais diluda est a urina. Do mesmo modo, quanto mais afastado, mais concentrada ela est. Os valores normais variam de 1005 a 1035. A densidade indica a concentrao das substncias slidas diludas na urina. Quanto menos gua houver na urina, menos diluda ela estar e maior ser sua densidade. Urina com densidade prxima de 1030 indica desidratao. So muito amareladas e normalmente possuem odor forte. A urina apresenta um odor caracterstico que causado pela presena de ureia. Quanto maior for a concentrao desta, mais forte ser seu cheiro. Na grande maioria dos casos, uma urina mal cheirosa indica uma urina pouco diluda. Em geral uma urina com cor amarelo forte. O primeiro passo portanto, aumentar a ingesto de lquidos. No existe um nmero mgico. Tem que se beber lquidos at a urina ficar transparente. s vezes, so necessrios at 3L de gua por dia. Alm de melhorar o cheiro, uma urina diluda impede a for mao de clculos renais. J li alguns relatos que clculo renal na bexiga pode ser causa de cheiro forte. Com certeza no algo comum.

Se a urina j est bem diluda e ainda cheira mal, deve-se pensar na presena de bactrias que costumam metabolizar a ureia em amnia, substncia que apresenta odor muito mais forte. Deve-se diferenciar a simples presena de bactrias na urina da infeco urinria. Se houver sintomas como ardncia e vontade de urinar o tempo todo, mesmo com a bexiga vazia, indica-se o tratamento com antibiticos. Se h mal cheiro, bactrias na urina, mas no h sintomas de infeco, a deciso mais controversa. Alm da infeco urinria, algumas uretrites como nas DSTs, tambm podem ser a causa. Mulheres costumam ser menos sintomticas e uma urina mal cheirosa pode ser a dica para o diagnstico. Homens costumam apr esentar sada de pus pela uretra. Nas mulheres preciso ter certeza que o cheiro da urina e no de corrimentos vaginais. Uma consulta ao ginecologista pode descartar infeces vaginais e uretrites Se o problema tambm no for bactrias, existem medicamentos e alimentos que podem alterar o cheiro da urina. O principal o aspargo. Vitaminas tambm podem causar odor. Alguns antibiticos, principalmente da famlia da penicilina podem ser responsveis. Mudanas na dieta podem melhorar o cheiro. Diabetes pode causar urina mal cheirosa, mas em geral j apresenta outros sintomas associados como perda de peso, fraqueza, sede, muita urina (poliria) etc... Dificilmente a urina com cheiro ruim o nico achado. Em pessoas mais velhas, cncer de bexiga e fstula (ligao) da bexiga para o intestino podem ser a causa. O primeiro normalmente est associado a hematria (perda de sangue na urina) e o segundo a um sintoma chamado pneumtica, que a sada de gases do intestino pela urina. So sintomas raros e no devem ser

pensados em pessoas jovens. Algumas doenas genticas raras como fenilketonria tambm do cheiro forte, mas so doenas dos nenes. Se o odor for algo que incomoda muito, sugiro uma consulta ao urologista ou ginecologista para elucidao do quadro. b) pH: A urina naturalmente cida, pois o rim o principal meio de eliminao dos cidos do organismo. Enquanto que o pH do sangue est em torno de 7,4, o pH da urina varia entre 5,5 e 7,0 Valores maiores ou igual 7 podem indicar presena de bactrias que alcalinizam a urina. Valores menores que 5,5 podem ind icar acidose no sangue ou doena nos tbulos renais. O valor mais comum um p H por volta de 5,5-6, porm, mesmo valores acima ou abaixo dos descritos podem no necessariamente indicar alguma doena. Este resultado deve ser interpretado pelo seu mdico. c) Glicose: Toda a glicose que filtrada nos rins, reabsorvida de volta para o sangue pelo tbulos renais. Deste modo, o normal no apresentar evidncias de glicose na urina. Os doentes com diabetes mellitus costumam apresentar glicose na urina. Como a quantidade de acar no sangue est muito elevada, o rim acaba recebendo e filtrando tambm uma grande quantidade deste. O problema que a partir de valores de glicemia acima de 180-200 mg/dL a capacidade de reabsoro do tbulo renal ultrapassada, e o paciente acaba perdendo glicose na urina. J a presena de glicose na urina sem que haja diabetes costuma ser um sinal de doena nos tbulos renais. Portanto, s h glicose na urina se houver excesso desta no sangue ou se houver doena nos rins. d) Protenas: A maioria das protenas no so filtradas pelo rim, e por isso, em situaes normais, no devem estar presentes na urina. Na verdade, existe apenas uma pequena quantidade de pro tenas na urina, mas so to poucas que no costumam ser detectada s pelo teste da fita. Portanto, o normal a ausncia de protenas. Existem 2 maneiras de se apresentar o resultado: em cruzes ou uma estimativa em mg/dL: Ausncia = menos que 10 mg/dL ou 0,05 g/L (valor de referncia habitual) Traos = entre 10 e 30 mg/dL 1+ = 30 mg/dl

2+ = 40 a 100 mg/dL 3+ = 150 a 350 mg/dL 4+ = Maior que 500 mg/dL A presena de protenas na urina se chama proteinria, pode indicar doena renal e deve ser sempre investigada Uma das funes bsicas dos rins excretar na urina as substncias em excesso, txicas ou que no tenham funo. Obviamente, as protenas no se enquadram nesta definio e, portanto, no devem ser excretadas na urina. Na verdade, pequenas quantidades podem sair, algo em torno de 150mg por dia, que considerado o valor limite da normalidade. A principal protena circulante no sangue a albumina e seus valores na urina no devem ultrapassar 30mg/dia.

Portanto, uma urina normal no pode ter mais de 150mg de protenas, sendo que dessas, no mximo 30mg podem ser de albumina. As outras 120mg de protenas so basicamente imunoglobulinas (anticorpos) e aminocidos. A presena de valores acima destes normalmente indica mal funcionamento do rim. Ento vamos as definies: Proteinria - Excreo urinria de protenas (todas somadas) maior que 150 mg por dia. Microalbuminria - Excreo urinria de albumina entre 30 e 300 mg em 24h. Um paciente pode ter microalbuminria com ou sem proteinria associada (120mg de protenas e 60mg de albumina excretadas, por exemplo). Em geral, proteinrias maiores que 300mg/dia so basicamente por albuminria. Todos os resultados anormais devem ser repetidos para confirmao, uma vez que proteinrias isoladas podem ocorrer. Para ser considerada patolgica, a proteinria (e albuminria) deve ser persistente. A microalbuminria no causa sintomas e o primeiro sinal de doena renal em pacientes

diabticos. A sua presena um sinal de leso renal precoce e indica maior risco de desenvolver insuficincia renal crnica. Proteinrias abaixo de 300 mg/dia costumam ser assintomticas. A partir desse valor podemos encontrar uma urina com excesso de espuma. Quanto maior for a proteinria, mais sintomtica esta ser. A partir de 3000 mg por dia, ocorre a sndrome nefrtica. A sndrome nefrtica se caracteriza por uma urina muito espumosa, associado a inchaos (edemas) generalizados, baixos nveis de albumina no sangue e colesterol elevado. Os edemas ocorrem principalmente em pernas, face e abdmen, chamado de ascite. Todo doente com edema generalizado deve ser investigado para proteinria e doena renal. A sndrome ocorre por leso do glomrulo que um conjunto de capilares e clulas responsveis pela filtrao do sangue. Abaixo, listo algumas doenas que podem causar leso glomerular, proteinria e sndrome nefrtica. Causas de proteinria: - Diabetes - Lpus (LPUS ERITEMATOSO SISTMICO - LES -) - Doenas primrias do glomrulo - Hepatite - Sfilis - SIDA (AIDS) - Reaco a anti-inflamatrios - Cncer - Eclmpsia - Obesidade Antigamente usava-se a colheita de urina de 24h para o diagnstico da proteinria. um exame chato de ser feito e apresenta muitos erros de colheita. Hoje j se consegue avaliar a quantidade de protenas em uma amostra simples de urina. Uma vez confirmada a proteinria, se a causa no for bvia, como em um paciente com diabetes de muitos anos, muitas vezes necessria a realizao de bipsia renal para se identificar a etiologia. A proteinria tratada de 3 maneiras: - Controle rigoroso da presso arterial - Medicamentos que reduzem a perda de protenas (inibidores da ECA, exemplo: enalapril; e antagonistas dos receptores da angiotensina 2, exemplo: Losartan) - Tratamento da doena de base.

e) Hemcias (sangue): Assim como nas protenas, a quantidade de hemcias (glbulos vermelhos) na urina desprezvel e no consegue ser detectada pelo exame da fita. Mais uma vez, os resultados costumam ser fornecidos em cruzes. O normal haver ausncia de hemcias (hemoglobina), ou seja, nenhuma cruz. Como eu havia dito antes, a urina aps o teste da fita, examinada tambm em

microscpio. Desta maneira, pode-se contar a quantidade de h emcias que esto presentes. Essa avaliao por microscpio chamada de sedimentoscopia. Atravs do microscpio consegue-se detectar qualquer presena de sangue, mesmo aquelas no detectadas pela fita. Neste caso os valores normais so descritos de 2 maneiras: Menos que 3 a 5 hemcias por campo ou menos que 10.000 clulas por mL A presena de sangue na urina chama-se hematria, e pode ocorrer por diversos motivos, desde um falso positivo devido a menstruao, at infeces, pedras nos rins e doenas renais graves. Uma vez detectada a hematria, o prximo passo avaliar a forma das hemcias em um exame chamado de dismorfismo eritrocitrio. Nem todo laboratrio tem gente capacitada para executar esse exame. Por isso, muitas vezes ele no feito automaticamente. preciso o mdico solicitar especificamente essa avaliao. A presena de hemcias dismrficas, principalmente se em mais de 50%, indica uma doena dos glomrulos. Glomerulonefrite o nome que se d ao grupo de doenas renais causadas pela inflamao dos glomrulos. Todos os nossos rgos so compostos por unidades bsicas de funcionamento. Temos os neurnios no crebro, os hepatcitos no fgado, os alvolos no pulmo, etc. No rim, a unidade bsica o nfron. Cada rim possui um milho de nfrons. Essas unidades microscpicas so as responsveis pela filtragem do sangue e pelas substncias produzidas nos rins. Cada nfron composto de um glomrulo e seu respectivo tbulo renal. Essa coisinha "simples" a do grfico abaixo um nfron com seu glomrulo, vasos sanguneos e tbulo renal.

Nfron - clique na imagem para ampli-la

Podemos resumir o funcionamento do rim da seguinte maneira. O sangue que chega aos rins, passa obrigatoriamente pelos glomrulos, um conjunto de microscpicos capilares enovelados que possuem uma membrana filtradora na sua parede. O glomrulo o verdadeiro filtro do organismo.

Glomrulo visto por microscopia electrnica. O sangue chega por uma arterola (uma artria microscpica), passa por vrios capilares dentro do glomrulo, sofre o processo de filtrao e depois retorna a corrente sangunea. Tudo o que foi filtrado pelos capilares vai em direco ao tbulo renal. No tbulo renal, algumas importantes substncias filtradas como glicose, sdio, potssio, clcio etc., sero reabsorvidas de acordo com as necessidades do organismo antes que a urina estar pronta. S sai na urina o que no necessrio ou est em excesso. O glomrulo separa o que vai para a urina e o que volta para o sangue, enquanto que os tbulos definem o quanto de cada substncia filtrada vai realmente sair na urina. Por exemplo, se tivermos com o potssio baixo no sangue, o tbulo vai reabsorver todo o potssio que for filtrado impedindo que este saia na urina. Se o potssio estiver alto, ele no vai reabsorver nada. Substncias grandes, como as protenas, no so filtradas por serem maiores que os poros da membrana glomerular. Elas nem chegam ao tbulo. Por isso, uma urina normal quase no tem protenas em seu contedo. O processo final da filtrao glomerular e reabsoro tubular destes 1 milhes de nfrons que forma a nossa urina.

Glomrulo.Portanto, como o glomrulo o principal responsvel pela filtrao do sangue, qualquer doena que o acometa, afecta a funo dos nossos rins. Existem 2 tipos bsicos de leso dos glomrulos: - Sndrome nefrtica ou glomerulonefrite. - Sndrome nefrtica. Na sndrome nefrtica, um processo inflamatrio leso e reduz a capacidade do glomrulo de filtrar o sangue, causando um quadro de insuficincia renal aguda, hipertenso e sangue na urina. Na sndrome nefrtica o mais comum leso na membrana glomerular sem inflamao evidente. Podemos fazer a analogia com coador furado. As protenas que normalmente no so filtradas, quando h leses na membrana do glomrulos, "vazam" em direco ao tbulos e so indevidamente eliminadas na urina. Por isso, perda de protenas na u rina, chamada de proteinria, um sinal de doena glomerular. Na verdade, a proteinria sinal de doena, mas tambm responsvel pela progresso da mesma. Os tbulos no esto preparados para receber protenas e, na tentativa de reabsorv-las de volta ao sangue, suas clulas acabam sofrendo leso. Portanto, em um primeiro momento a proteinria nos mostra que h algo de errado no rim. Se no tratada, ela passa a ser mais um factor de agresso e evoluo para insuficincia renal. No incomum encontrarmos sndrome nefrtica e sndrome nefrtica ao mesmo tempo, basta que haja leses na membrana glomerular e intensa actividade inflamatria no glomrulo. Qual a causa das doenas glomerulares? As doenas glomerulares tm vrias causas. Didacticamente so divididas em

primrias, quando no h etiologia aparente, ou secundrias, quando ocorrem devido a alguma doena sistmica. Entre as glomerulopatias secundrias (nefrtica e/ou nefrtica) podemos citar algumas causas: - Lpus (LES) - Hepatite B - Hepatite C - HIV - Diabetes - Obesidade mrb ida - Uso de herona - Sfilis - Granulomatose de Wegene r - Doena de Goodpasture - Cncer - Faringites ou leses de pele pela bactria Estreptococos (glomerulonefrite ps infecciosa) - Amiloidose J as glomerulopatias primrias so: - Glomeruloesclerose segmentar e focal (sndrome nefrtica e/ou nefrtica) - Doena de leso mnima (Sndrome nefrtica) - Nefropatia memb ranosa (Sndrome nefrtica) - Glomerulonefrite membranoproliferativa (sndrome nefrtica e/ou nefrtica) - Nefropatia por IgA (sndrome nefrtica) Amarrando os conceitos, podemos dizer que as glomerulopatias secundrias so aquelas causadas por alguma doena e que as glomerulopatias primrias so a prpria doena. Cada uma destas doenas glomerulares tem quadro clnico, prognstico e tratamento distintos. Por isso, o diagnstico do tipo de leso glomerular e o reconhecimento da presena ou no de doena sistmica associada vital para o tratamento. Anlises de sangue podem evidenciar insuficincia renal atravs do aumento da creatinina e protenas sanguneas, como a albumina, em valores baixos pelo excesso de perda urinria. Anlises de urina podem demonstrar sangue e perda de protenas. O exame fsico pode identificar hipertenso e edemas pelo corpo. Porm, esses factores apenas sugerem a presena de uma doena glomerular, sem estabelecer qual dos tipos descritos acima se trata. Isto particularmente real nas glomerulopatias primrias. claro que se um paciente tem hepatite C e de repente comea a apresentar sinais de glomerulopatia, a causa da leso renal mais ou menos bvia. O problema que algumas doenas como o lpus podem causar diferentes tipos de glomerulonefrite e leso glomerular, sendo necessrios diferentes tratamentos para cada uma.

Por tudo isso, o exame definitivo par o diagnstico das glomerulopatias a bipsia renal). A bipsia alm de definir o tipo de glomerulonefrite, tambm fornece indicaes do prognstico da doena. Se na amostra da bipsia evidenciarmos vrias leses graves e muitas cicatrizes, dificilmente este doente ir responder aos medicamentos. Como a maioria das glomerulonefrites e glomerulopatias tm origem em factores imunolgicos, s vezes relacionados a doenas auto-imunes o tratamento se baseia no uso de imunossupressores pesados como corticides (ciclofosfamida, ciclosporina, azatioprina e micofenolato mofetil). Se na bipsia j se identifica muita leso avanada e pouca possibilidade de cura, muitas vezes o tratamento trs mais complicaes do que alguma melhora. Em relao ao prognstico, vrios factores interferem. Algumas doenas como a leso mnima e a nefropatia por IgA so naturalmente mais benignas do que a nefrite lpica ou a glomerulonefrite secundria a granulomatose de W egener que evoluem muito mal se no tratadas a tempo. As glomerulopatias ficam apenas atrs do Diabetes e da hipertenso como causas de insuficincia renal crnica com necessidade de hemodilise. O grande problema que elas so mal diagnosticadas e, muitas vezes, mal tratadas. Se voc tem algum sinal que possa sugerir uma doena glomerular, principalmente sangue ou protenas na urina (mesmo que em pequena quantidade), a no ser que a causa seja bvia como em uma infeco urinria ou clculo renal, deve-se sempre procurar a ajuda de um nefrologista. f) Leuccitos ou picitos Os leuccitos (picitos) so os glbulos brancos, nossas clulas de defesa. A presena de leuccitos na urina costuma indicar que h actividade inflamatria nas vias urinrias. Em geral sugere infeco urinria, mas pode estar presente em vrias outras situaes, como traumas, drogas irritativas ou qualquer outra inflamao no causada por uma agente infeccioso. Podemos simplificar e dizer que leuccitos na urina significa pus na urina. Como tambm so clulas, os leuccitos podem ser contados na sedimentoscopia. Valores normais esto abaixo dos 10.000 clulas por mL ou 5 clulas por campo Alguns dipsticks apresentam u m quadradinho para deteco de leuccitos, normalmente o resultado vem descrito como esterase leucocitria. O resultado normal estar negativo. g) Ketonas ou corpos ketnicos: Os corpos cetnicos so produtos da metabolizao das gorduras. Normalmente no esto presentes na urina. A sua deteco pelo dipstik pode indicar diabetes descompensada ou jejum prolongado.

f) Urobilinognio e bilirubina Tambm normalmente ausentes na urina, podem indicar doena heptica (fgado) ou hemlise (destruio anormal das hemcias). A bilirubina s costuma aparecer na urina quando os seus nveis sanguneos ultrapassam 1,5 mg/dL. g) Nitritos A urina rica em nitratos. A presena de bactrias na urina transforma esses nitratos em nitritos. Logo, fita com nitritos positivos um sinal da presena de bactrias. Nem todas as bactrias tem a capacidade de metabolizar o nitrato, por isso, nitrito negativo de forma alguma descarta infeco urinria. Na verdade, o EAS apenas sugere infeco. A presena de hemcias, associado a leuccitos e nitritos positivos, fala muito a favor de infeco urinria, porm, o exame de certeza a urocultura (explico mais abaixo). A pesquisa do nitrito feita at ravs da reaco de Griess, que o nome dado a reaco do nitrito com um meio cido. Por isso, alguns laboratrios fornecem o resultado como Griess positivo ou Griess negativo, que igual a nitrito positivo e nitrito negativo, respectivamente. h) Cristais Esse talvez o resultado mais mal interpretado, tanto por pacientes como por alguns mdicos. A presena de cristais na urina, principalmente de oxalato de clcio, no tem nenhuma importncia clnica. Ao contrrio do que se possa imaginar, a presena de cristais no indica uma propenso a formao de clculos renais. Os nicos cristais com relevncia clnica so: - Cristais de cistina - Cristais de magnsio-amnio-fosfato (estruvita) - Cristais de tirosina - Cristais de bilirubina - Cristais de colesterol A presena de cristais de cido rico, se em grande quantidade, tambm deve ser valorizada. i) Clulas epiteliais e cilindros A presena de clulas epiteliais normal. So as prprias clulas do trato urinrio que descamam. Elas s tem valor quando presente em cilindros. Como os tbulos renais so cilndricos, todas vezes que temos alguma substncia em grande quantidade na urina, elas se agrupam em forma de um cilindro. A presena de cilindros indica que esta substncia veio dos tbulos renais e no de outros pontos do trato urinrio como a bexiga, urter, prstata etc. Isto muito relevante, por exemplo, nos casos de sangramento, onde um cilindro hemtico indica o glomrulo como origem. Os cilindros que podem indicar alguma alterao so:

- Cilindros hemticos (sangue) = Indica glomerulonefrite - Cilindros leucocitrios = Indicam inflamao dos rins - Cilindros epiteliais = indicam leso dos tbulos - Cilindros gordurosos = indicam proteinria Cilindros hialinos no indicam doena, mas pode ser um sinal de desidratao. A presena de muco inespecfica e normalmente ocorre pelo acmulo de clulas epiteliais com cristais e leuccitos. Tem pouqussima utilidade clnica. mais uma observao. Em relao ao EAS (urina tipo I) importante salientar que esta uma anlise que deve ser sempre interpretada. Os falsos positivos e negativos so muito comuns e no d para se fechar qualquer diagnstico apenas comparando os resultados com os valores de referncia. 2) Urina de 24 horas A urina de 24 horas um exame cada vez menos necessrio para avaliao das doenas renais. Porm, ainda um exame muito solicitado, principalmente por mdicos no nefrologistas. A urina de 24 horas permite avaliar a excreo diria de substncias na urina, alm de calcular o Clearance de creatinina. Este exame tambm serve para se quantificar a quantidade de protenas pe rdida na urina. Pode-se dosar vrias substncias em uma urina de 24 horas, porm na maioria dos casos os mdicos avaliam apenas a albumina, protenas totais e o Clearance de creatinina. Valores de referncia: - Albumina: menor que 30 mg/24 horas - Protenas totais : menor que 150 mg/ 24 horas - Clearance de creatinina = entre 80 e 120 ml/min* * este valor deve ser interpretado pelo seu mdico A urina de 24 horas chata de ser colher e atrapalha muito o dia, principalmente para as pessoas activas. Alm disso, a maioria dos doentes no consegue realizar um colheita correcta. Sempre h algum que durante algum momento do dia esquece de colher a urina. Para no ter que comear tudo de novo, muitas vezes o doente simplesmente omite este fato do mdico e entrega a urina incompleta. Quando no se colhe correctamente, o exame no tem valor nenhum. E existe como o mdico descobrir atravs de simples clculos se o doente colheu a urina correctamente ou no. Como a maioria dos resultados da urina de 24 horas podem ser obtidos atravs de outros exames com apenas uma amostra de urina, esse tipo de anlise tende a cair em desuso. 3) Urocultura (urinocultura) A cultura de urina o exame escolhido para o diagnstico das infeces urinrias. O EAS pode at sugerir uma infeco, mas o exame que estabelece o diagnstico a urocultura.

A urocultura alm de identificar qual a bactria responsvel pela infeco, tambm nos oferece informaes sobre quais antibiticos que so eficazes ou no para esta determinada bactria. O grande problema da cultura de urina que se leva pelo menos 48 horas para a bactria poder ser identificada. Como as cistites so tratadas com apenas 3 dias de antibitico, muitas vezes o resultado do exame s sai depois que o quadro j est tratado. Se o quadro clnico for sugestivo e o EAS compatvel, no preciso solicitar urocultura. A urocultura importante para aqueles casos de pielonefrite ou para aquelas cistites de difcil tratamento e que respondem mal aos antibiticos mais comuns. importante lembrar que no adianta colher a urocultura se o antibitico j tiver sido iniciado. Neste caso a urina j est rica em anti-bacterianos, o que impede o crescimento das bactrias no laboratrio. Caso seja a vontade do mdico confirmar a cura de uma infeco, a cultura de urina deve ser colhida 7 dias aps o trmino do antibitico. - Em casos de infeco urinria, normalmente temos m ais 100.000 UFC/ml. - Valores entre 10.000 e 100.000 UFC/ml em geral tambm indicam infeco. - Valores menores que 10.000 UFC/ml indicam contaminao da urina por outras bactrias. Porm, em casos seleccionados, mesmo uma contagem to baixa pode ser compatvel com infeco, principalmente se houver um quadro clnico compatvel.