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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE
DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO.
CRISTIANO ZANIN MARTINS, brasileiro, casado, advogado
inscrito nos quadros da OAB/SP sob o n.º 172.730, VALESKA TEIXEIRA ZANIN
MARTINS, brasileira, casada, advogada, inscrita nos quadros da OAB/SP sob o nº
153.720 e PEDRO HENRIQUE VIANA MARTINEZ, brasileiro, solteiro, advogado
inscrito nos quadros da OAB/SP sob o n.º 374.207, todos com endereço profissional na
Rua Padre João Manoel, n.º 755, 19º andar, Jardim Paulista, CEP 01411-001, São
Paulo/SP, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no
artigo 5º, LXVIII, e 108, I, “d”, da Constituição da República, nos artigos 647 e 648,
inciso I, do Código de Processo Penal e nos demais normativos de regência, impetrar
ORDEM DE HABEAS CORPUS
em favor de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, brasileiro, viúvo, portador da Cédula
de Identidade RG n.º 4.343.648, devidamente inscrito no CPF/MF sob n.º 070.680.938-
68, residente e domiciliado na Avenida Francisco Prestes Maia, n.º 1.501, apartamento
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122, Bloco 1 – Centro – na cidade de São Bernardo do Campo/SP, CEP 09770-000,
contra ato ilegal praticado pelo MM. Juízo da 13ª Vara Criminal Federal da Subseção
Judiciária de Curitiba/PR nos autos do Incidente de Falsidade Documental de nº
5037409-29.2017.4.04.7000. É que, em decisão proferida no aludido feito em
07.12.2017, esta Autoridade Judiciária indeferiu, pela segunda vez, requerimento de
inquirição de testemunha, pedido este veiculado em petições datadas dos dias
27.11.2017 e 06.12.2017, violando assim a ampla defesa e o contraditório, o que
implica grave e manifesto constrangimento ilegal imposto ao Paciente, tudo conforme
razões de fato e de direito a seguir articuladas.
– I –
DA PERTINÊNCIA DA VIA ELEITA
O habeas corpus, não obstante se encontre regulado no Código
de Processo Penal, é ação constitucional mandamental de maior amplitude que visa a
tutelar, jurisdicional e concretamente, direitos e garantias fundamentais do indivíduo,
encontrando previsão no artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição da República:
“LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;”
A presente ação mandamental, pois, se consubstancia na mais
importante proteção conferida pelo ordenamento jurídico democrático ao jus libertatis
individual, preceituando a Lex Mater ser este o instrumento jurídico adequado, pronto e
eficaz, para conjurar qualquer ameaça de violência ou de supressão (imediata ou
mediata) da liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder.
Integrando a norma matriz, o Código de Processo Penal esmiúça
as hipóteses de sua pertinência e define as situações fáticas configuradoras do que
considera coação ilegal, capaz de ensejar a impetração de habeas corpus:
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Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; (...) VI – quando o processo foi manifestamente nulo.
No caso em apreço, justifica-se o manejo do presente remédio
heroico diante de manifesta ilegalidade perpetrada pelo MM. Juiz Federal Titular da 13ª
Vara Federal Criminal de Curitiba, que indeferiu requerimento da defesa do Paciente
no sentido de produzir prova necessária e de seu interesse, qual seja, a oitiva de
testemunha intimamente relacionada ao objeto do procedimento incidental, o Sr.
Rodrigo Tacla Duran.
Embora os atos aqui descritos não versem sobre violação direta e
imediata ao direito à liberdade, encontra-se há muito sedimentado na jurisprudência dos
nossos tribunais o entendimento de que o habeas corpus constitui meio de controle da
legalidade da persecução criminal, visto que atos ilegais poderão acarretar o
comprometimento do status libertatis do Paciente, circunstância suficiente para
“admitir-se o habeas corpus a fim de fazer respeitar as prerrogativas da defesa e,
indiretamente, obviar prejuízo que, do cerceamento delas, possa advir indevidamente à
liberdade de locomoção do paciente.”1
Nesse sentido, segue o entendimento de ADA PELLEGRINI
GRINOVER, ANTONIO MAGALHÃES GOMES FILHO e ANTONIO SCARANCE FERNANDES2:
O Código de Processo Penal de 1941 (art. 647) refere-se à iminência da violência ou coação como requisito para a concessão da ordem em caráter preventivo, mas essa limitação não subsiste no nosso ordenamento, desde a
1 STF. HC 82.354/PR. 1ª Turma. Min. Rel. Sepúlveda Pertence. j. 10/08/2004. 2 GRINOVER, Ada Pellegrini. GOMES FILHO, Antonio Magalhães. FERNANDES, Antonio Scarance. Recursos no Processo Penal. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 272.
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Constituição de 1946, razão pela qual é admissível a tutela antecipada mesmo em situações em que a prisão constitua evento apenas possível a longo prazo – essa característica tem permitido que o habeas corpus seja, entre nós, um remédio extremamente eficaz para o controle da legalidade de todas as fases da persecução criminal.
Na mesma linha é a lição de ALBERTO ZACHARIAS TORON:
É inegável que a Suprema Corte tinha uma preocupação quase ancestral com a legalidade do devido processo legal, passível de ser corrigida pela via expedita do mandamus, inclusive com a vantagem de se evitar a prescrição. De fato, podendo-se corrigir mais rapidamente uma nulidade, o sistema fica mais funcional. Inadmitido o manejo do writ para tal finalidade, a correção de eventual desvio ou abuso somente pela via recursal ordinária poderá acarretar a ocorrência da extinção da punibilidade pela prescrição, dada, como regra, a impossibilidade de se refazer o processo pelo decurso do tempo3.
Mostra-se relevante realçar que a jurisprudência do STF converge
no sentido de que é cabível o habeas corpus não somente para conjurar ilegalidade,
coação ou ameaça direta à liberdade de locomoção, mas também para arredar vícios
insanáveis que, em processo nulo, atingem as liberdades individuais. É o que se lê no
voto da lavra do Ministro CARLOS VELLOSO, em paradigmático julgamento sobre o
manejo desta espécie de ação mandamental:
“Não é somente a coação ou ameaça direta à liberdade de locomoção que autoriza a impetração de habeas corpus. Também a coação ou a ameaça indireta à liberdade individual justifica a impetração da garantia constitucional inscrita no art. 5º, LXVIII, da CF.”4
Demonstrados, portanto, a pertinência e o cabimento da presente
ação mandamental, bem como o prejuízo defensivo decorrente da não produção dessa
fundamental prova oral, imprescindível para a solução do referido Incidente de
Falsidade, necessária se faz a concessão da ordem para o fim de fazer cessar o
constrangimento ilegal infligido.
3 TORON, Alberto Zacharias. Habeas Corpus – controle do devido processo legal: questões controvertidas e de processamento do writ. 1 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. p. 66. 4 STF - HC 83.162. Rel. Min. Carlos Velloso. 2ª Turma. j. 6.09.2003
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– II –
SÍNTESE DO NECESSÁRIO
Em 30.08.2017 (Doc. 01)5, apenas 02 (dois) dias úteis antes de
seu interrogatório, o corréu-colaborador Marcelo Odebrecht, sob a alegação de que
estaria reafirmando o seu compromisso com a Justiça e a efetividade de seu acordo de
colaboração premiada, promoveu a juntada de documentos que teriam chegado “ao seu
conhecimento durante a preparação para o interrogatório marcado para o dia
04/09/2017”.
Nessa mesma ocasião (30.08.2017), o Ministério Público Federal
acostou aos autos documentos (Doc. 02)6 - sendo alguns os mesmos juntados por
Marcelo Odebrecht – que também teriam sido retirados de suposta cópia do sistema
Drousys, bem como Relatório de Análise, da Assessoria de Pesquisa e Análise da
Procuradoria do Paraná.
Diante da juntada de novos documentos e da fundada dúvida
sobre a idoneidade do material, a Defesa do Paciente suscitou Incidente Processual de
Falsidade Documental7 (Doc. 03) — para de que fosse apurada a integridade dos
documentos juntados aos autos da Ação Penal originária (n. 5063130-
17.2016.4.04.7000/PR).
Cumpre sublinhar que, após sucessivos indeferimentos de pedidos
da Defesa para acesso à integralidade das cópias dos supostos sistemas operacionais do
Grupo Odebrecht – como o Drousys, de onde teriam sido retirados os documentos que
ensejaram o Incidente de Falsidade -, a Autoridade Coatora determinou, de ofício, a
realização de perícia oficial nos referidos sistemas, em decisão tomada nos autos da
referida Ação Penal.
5 Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000/PR, evento 997. 6 Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000/PR, evento 999. 7 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 01.
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O Magistrado de piso indicou (Doc. 04)8 a necessidade de que se
aguardasse o resultado desta perícia nos sistemas, a ser realizada no âmbito da Ação
Penal, e ordenou a intimação das partes para que indicassem outras provas a serem
produzidas, pertinentes à resolução do Incidente.
Seguindo-se o rito procedimental assinado para o incidente, o
Paciente requereu a apresentação de vias físicas originais dos documentos impugnados,
bem como a realização de exames grafoscópico e documentoscópico sobre cada um
deles (Doc. 05)9.
As partes foram intimadas a se manifestar sobre a posse das vias
físicas originais dos documentos impugnados, tendo todas elas respondido
negativamente – Odebrecht S/A, Marcelo Odebrecht e Ministério Público Federal.
O Ministério Público requereu, na oportunidade, (Doc. 06)10, a
expedição de ofício à Receita Federal solicitando do órgão informações a respeito de
Mateus Claúdio Gravina Baldassari. O requerimento tinha como finalidade o acesso às
suas Declarações de Imposto de Renda, relativas aos anos-calendário de 2012 e
seguintes. Também solicitou o Parquet notícias acerca de eventual adesão de Mateus
Baldassari, bem como de pessoas jurídicas a ele vinculadas, ao Regime Especial de
Regularização Cambial e Tributária.
A Defesa do Paciente protestou, em face do inoportuno e
impertinente pleito do MPF (Doc. 07)11. A Autoridade Coatora, no entanto, decidiu
pelo deferimento do requerido pelo órgão acusatório, sob o frágil argumento de que
8 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 14. 9 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 21. 10 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 19. 11 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 30.
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“tais elementos circunstanciais podem auxiliar o juízo na avaliação da autenticidade
dos documentos questionados” (Doc. 08)12.
Referida decisão foi impugnada por meio de Correição Parcial
(Doc. 09)13 manejada pela Defesa do Paciente. Ao deferir a produção de prova não
relacionada ao objeto do incidente, mas sim a questões debatidas na Ação Penal
originária, após o término da fase instrutória, a Autoridade Coatora promoveu
verdadeira inversão tumultuária dos atos processuais, privilegiando a acusação em
prejuízo das defesas.
Ainda nesta decisão, a Autoridade Coatora intimou a Defesa do
Paciente para que esclarecesse se insistiria na realização de perícia sobre os
documentos impugnados, indicando seu objeto, quesitos a serem observados e assistente
técnico para acompanhamento do exame.
Para tanto notificada, manifestou-se a Defesa, em data de
27.11.2017 (Doc. 10)14, requerendo a oitiva de duas testemunhas antes da realização de
perícia grafotécnica nos documentos, os senhores Paulo Sérgio da Rocha Soares e
Rodrigo Tacla Duran.
A Autoridade Coatora decidiu (Doc. 11)15 pelo deferimento da
oitiva do Sr. Paulo Sérgio da Rocha Soares, a ser realizada por meio de
videoconferência no dia 13.12.2017.
Em sentido oposto, deliberou a Autoridade Coatora pelo
indeferimento do pedido relativo à inquirição do Sr. Rodrigo Tacla Duran, conforme os
fundamentos seguintes:
12 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 36. 13 Correição Parcial nº 5067325-59.2017.4.04.0000/PR, evento 01. 14 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 46. 15 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 49.
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Quanto ao requerimento da oitiva de Rodrigo Tacla Duran, já foi indeferida sua oitiva, conforme decisão de 29/08/2017 (evento 994) na ação penal 5063130-17.2016.4.04.7000. Não cabe ouvir testemunha residente no exterior na fase final do processo, seja em substituição à testemunha residente no Brasil, como pretendido na ação penal, seja em fase de diligências complementares ou em incidente de falsidade, já que a oitiva de testemunha no exterior é diligência sempre custosa e demorada.Para ouvir testemunha residente no exterior, exige a lei que a parte requerente demonstre a imprescindibilidade (art. 222-A do CPP). Embora existam indícios de que Rodrigo Tacla Durant tenha prestado serviços para o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, não há elemento probatório mínimo que indique o seu envolvimento específico nas operações que constituem objeto da presente ação penal, especificamente no suposto pagamento por fora de parte do preço do imóvel na Rua Doutor Haberbeck Brandão, 178, São Paulo/SP, matrícula 188.853 do 14ª Registro de Imóveis de São Paulo em favor do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se existem esses elementos, a Defesa falhou em demonstrá-los, nada alegando a esse respeito.Como se não bastasse, Rodrigo Tacla Duran é acusado de lavagem de dinheiro de cerca de dezoito milhões de dólares, teve a sua prisão preventiva decretada por este Juízo, fugiu, mesmo antes da decretação da prisão, e está refugiado no exterior. Responde à ação penal 5019961-43.2017.4.04.7000 e ao processo de extradição 5035144-88.2016.4.04.7000. A palavra de pessoa envolvida, em cognição sumária, em graves crimes e desacompanhada de quaisquer provas de corroboração não é digna de crédito, como tem reiteradamente decidido este Juízo e as demais Cortes de Justiça, ainda que possa receber momentâneo crédito por matérias jornalísticas descuidadas e invocadas pela Defesa. O objetivo claro das declarações públicas de Rodrigo Tacla Duran são, como ele mesmo chegou a admitir, afastar este julgador, que decretou a sua prisão preventiva, do processo pelo qual responde, não sendo ele, no contexto e sem mínima corroboração, pessoa digna de qualquer credibilidade, com o que seu depoimento em nada contribuiria para a apuração dos fatos na presente ação penal, máxime quando, como adiantado, sequer participou dos fatos que constituem objeto da ação penal. Como ainda não bastasse, a Defesa, apesar de pretender a oitiva da testemunha, sequer indicou, como é o seu ônus, o endereço dela no exterior, inviabilizando a diligência. Não cabe à Defesa transferir ônus que é seu ao Juízo.
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Quanto à sugestão da oitiva por videoconferência, não tem este Juízo qualquer problema em realizar o ato, mas cabe então à Defesa de Luiz Inácio Lula da Silva indicar como seria realizada e viabilizar a sua prática, pois este Juízo, por óbvio, não tem contato com o foragido. Assim, a oitiva de Rodrigo Tacla Duran neste feito deve ser indeferida, não havendo demonstração mínima de que ele tenha relação com os atos que constituem objeto da ação penal. (destacamos)
Irresignada com a decisão, pleiteou a Defesa pela
reconsideração (Doc. 12)16 do indeferimento, acrescendo-se o fato de que a referida
testemunha havia prestado importante depoimento no âmbito da Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, no dia 30.11.2017, tratando diretamente de
documentos objeto do Incidente de Falsidade. Requereu-se, também, a juntada da
íntegra deste depoimento nos autos.
Mesmo diante dos fatos, a Autoridade Coatora decidiu pela
manutenção de sua decisão (Doc. 13)17, alegando “ausência de qualquer elemento
probatório mínimo que indique envolvimento específico dele nas operações que
constituem objeto da presente ação penal, especificamente no suposto pagamento por
fora de parte do preço do imóvel na Rua Doutor Haberbeck Brandão, 178, São
Paulo/SP, matrícula 188.853 do 14ª Registro de Imóveis de São Paulo em favor do ex-
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
A Autoridade Coatora parece confundir os objetos da Ação
Penal e do Incidente de Falsidade, que trata especificamente da idoneidade e integridade
de provas documentais trazidas aos autos pelo colaborador Marcelo Odebrecht e pelo
Ministério Público Federal. Como se demonstrará a seguir, a testemunha, em seu
depoimento na CPMI, versou diretamente sobre o objeto do procedimento incidental,
sendo, portanto, totalmente pertinente sua oitiva para a solução do feito.
16 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 58. 17 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 61.
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Assim sendo, é injustificada e ilegal a recusa cerceadora da
Autoridade Coatora em ouvir nos autos testemunha diretamente vinculada aos fatos
apurados, desrespeitando os princípios da ampla defesa e da paridade de armas entre as
partes. Deve a ordem ser concedida, fazendo cessar esta violência processual exercida
contra os direito do Paciente.
– III –
DA PERTINÊNCIA DA OITIVA DO SR. RODRIGO TACLA DURAN
Em sua primeira decisão (ref. Doc. 11)18 que indeferiu a oitiva do
Sr. Rodrigo Tacla Duran, a Autoridade Coatora atacou a credibilidade da testemunha,
bem como da matéria jornalística apontada. Ainda, revelou que considera que o objetivo
da testemunha em suas declarações seriam o de “afastar este julgador” e por isso não
seria digno de credibilidade. Faz-se importante a transcrição deste trecho do despacho:
“O objetivo claro das declarações públicas de Rodrigo Tacla Duran são, como ele mesmo chegou a admitir, afastar este julgador, que decretou a sua prisão preventiva, do processo pelo qual responde, não sendo ele, no contexto e sem mínima corroboração, pessoa digna de qualquer credibilidade, com o que seu depoimento em nada contribuiria para a apuração dos fatos na presente ação penal, máxime quando, como adiantado, sequer participou dos fatos que constituem objeto da ação penal.”
No entanto, a credibilidade da palavra de uma testemunha só
poderá ser aferida após sua oitiva. Não é admissível desqualificá-la a priori, máxime
pelos argumentos apresentados. O fato de uma pessoa ser acusada de eventual
envolvimento em crimes não pode ser usado para impedir sua oitiva enquanto
testemunha de fatos com os quais possa ter ligação direta. A própria Autoridade
Coatora tem sido frequente em afirmar que “crimes não acontecem no céu” (sic) e que,
em certas circunstâncias somente pessoas partícipes dos fatos (ou correlatos e conexos)
podem esclarecer a verdade neles contida.
18 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 49.
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Assim não fosse, delações e depoimentos de aspirantes a
delatores, ordinariamente desacompanhados de quaisquer elementos de corroboração,
teriam de ser de plano descartados, o que não se pratica (muito ao contrário) nos casos
que tramitam – ou já tramitaram – perante a 13ª Vara Federal de Curitiba.
Ademais, o princípio constitucional da presunção de inocência,
embora sempre guerreado no âmbito da Operação Lava Jato, ainda vigora em nosso
ordenamento jurídico – Art. 5º, inciso LVII, da Constituição da República.
A respeito de inquirição de testemunhas, o Código de Processo
Penal determina, em seu artigo 202, que “toda pessoa poderá ser testemunha”.
Sobre o tema, oportuno trazer a lume a lição de FERNANDO DA
COSTA TOURINHO FILHO:
“O princípio genérico adotado no Processo Penal é o de que toda pessoa poderá ser testemunha. Assim, qualquer pessoa física, independentemente da idade, sexo ou nacionalidade, pode ser testemunha. Não importam as imperfeições físicas, à vezes, e até os estados contingentes de inconsciência. Não se levam em conta o estado social e a condição econômica da pessoa, bem como sua reputação ou fama (...)” (in Código de Processo Penal Comentado, volume 1, 15ª. edição, Saraiva, p. 678 – destacou-se).
Cabe também destacar o normativo dos artigos 214, 207 e 208 do
aludido Codex:
Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208. ------------------------------------------------------------------------------------------------
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Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. ------------------------------------------------------------------------------------------------ Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.
Ou seja, o diploma legal elenca, de forma exaustiva, as razões
pelas quais pessoas podem ser eximidas ou proibidas de depor. Nenhuma das hipóteses
se identifica com o caso em questão, tanto assim que sequer foram citadas pelo Juízo
quando do indeferimento do pedido. Cuida-se de elenco numerus clausus.
Ademais, quais elementos permitem a Autoridade Coatora
afirmar que a matéria jornalística a que se referiu a Defesa fora produzida de forma
descuidada?
Cabe recordar que o Magistrado deu grande valor a matérias
jornalísticas quando da prolação da sentença condenatória na Ação Penal nº 5046512-
94.2016.4.04.7000/PR – itens 376, 377 e 412, por exemplo. Agora não mais? Por quê?
Na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da JBS, do
Congresso Nacional, o Sr. Rodrigo Tacla Duran prestou importante depoimento19.
Questionado pelos Parlamentares, em vários momentos revelou fatos que diretamente
influenciam o convencimento sobre circunstâncias que emolduram o objeto do presente
incidente. Faz-se necessária a transcrição de alguns pontos deste depoimento, a
demonstrarem a imprescindibilidade da oitiva requerida:
Dep. Wadih Damous: Só para que nós tenhamos claro, senhor Rodrigo. Esses
documentos acostados em autos de processos, de inquéritos, que foram
obtidos mediante acesso a esse sistema Drousys. O senhor afirma que a
19 Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/comissoes/reuniao?reuniao=7002&codcol=2110 >. 16 ª reunião da CPMI JBS, realizada em 30.11.2017. Acesso em 11.12.2017.
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totalidade destes documentos é falsa, ou alguns documentos são falsos? Só
para que nós tenhamos isso claro. Esses documentos eles serviram de prova
para corroborar delações premiadas, eles serviram de provas para condenar
pessoas. Esclareça isso para nós.
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Todos os documentos são falsos eu não sei, porque
estou me referindo aos documentos que eu tive acesso, que são estes da
denúncia do presidente Michel Temer porque citava o meu nome e, por
exemplo, também o que foi aportado pela Odebrecht no Inquérito 4435, que
envolve o deputado Pedro Paulo e o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo
Paes.
Esses extratos são falsos e já foram periciados. No caso da denúncia do
presidente Michel Temer, esses extratos que foram aportados, eles
demonstram que o sistema foi manipulado. A partir do momento em que o
sistema foi manipulado antes, durante e depois do bloqueio, as provas, no
meu entender, são viciadas. Todas as provas que saem daquele sistema, a
partir daí, são viciadas.
[...]
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Só para o senhor entender, houve uma
manipulação também no sistema do banco, para que não seja possível
determinar a origem e o destino dos recursos. Porque a lavagem de dinheiro que
eles praticavam, ela era feita em diversos níveis, só que dentro do Meinl Bank
Antígua através de transferências internas. Essas transferências internas foram
apagadas do sistema de uma forma que não se identificasse o destinatário. Na
verdade, é muito pouco provável que se chegue a provar, por meio do sistema
do Meinl Bank, que o dinheiro que se originou na Odebrecht, na origem, se
destinou a determinado beneficiário.
[...]
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Dep. Paulo Pimenta: [...] O senhor poderia explicar essa relação do banco com
a Odebrecht para a gente poder entender melhor? Por que que o senhor diz “o
banco da Odebrecht”, ou “do banco da Meinl Bank”? Como é que funcionava
essa operação, essa relação da Odebrecht com o Meinl Bank?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Bom, esse banco foi comprado pela, em nome dos
seis, né, no caso, foi comprado em nome dos quatro mas eram seis sócios. Os
acionistas que apareciam como, no banco eram Luiz França, o Olívio
Rodrigues, o Marco Bilinski e o Vinicius Borin. Fora eles quatro, havia de
sócios o Luiz Eduardo da Rocha Soares e o Fernando Migliaccio, apesar de não
aparecerem nos papéis do banco, eles eram sócios também.
Esse banco atuava, praticamente, exclusivamente à Odebrecht. O que não era
Odebrecht era vinculado à Odebrecht, né. Mas, 99% das operações eram as
operações da própria empresa e foi comprado com essa finalidade.
Dep. Paulo Pimenta: O Meinl Bank é um banco em Antígua, através do qual a
Odebrecht fazia grande parte de suas operações. É isso?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Sim, tomei conhecimento dessas informações que
eu estou transmitindo justamente no meu trabalho como advogado, fazendo a
defesa, quando recebi essas informações dos seis.
Dep. Paulo Pimenta: Só quero entender uma coisa. Quem era o dono desse
banco?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: A Odebrecht.
Dep. Paulo Pimenta: A própria Odebrecht era dona do banco?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: É, uma parte. A outra parte é do Meinl Bank
Áustria.
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Dep. Paulo Pimenta: Como?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: 50% era do Meinl Bank Áustria.
Dep. Paulo Pimenta: Sim, mas era da Odebrecht ou de executivos da
Odebrecht?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Seis executivos que eram laranjas e movimentavam
o banco em favor da Odebrecht. O Meinl Bank Áustria não usava o banco.
Dep. Paulo Pimenta: Então, seis executivos da Odebrecht participaram da
compra de um banco em Antígua, mas essa participação desses seis eram eles
ou era a Odebrecht que era dona do banco? É isso que eu estou querendo
perguntar.
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Eles compraram para uso da Odebrecht, o banco.
Agora, eles também faziam negócios deles dentro do banco.
Dep. Paulo Pimenta: Os extratos apresentados - pela Odebrecht na sua delação
e utilizados pelo Ministério Público nas denúncias – do Meinl Bank, são
extratos de um banco cujo dono é a própria Odebrecht. É isso que o senhor está
dizendo?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Eu não fiz delação, deputado. Os extratos que eu
apresentei aí na Comissão, periciados...
Dep. Paulo Pimenta: Eu estou perguntando o seguinte: boa parte das denúncias
são feitas a partir de extratos do Meinl Bank, as delações da Odebrecht. Então, a
Odebrecht apresenta extratos de um banco que ela é a dona?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Sim.
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Dep. Paulo Pimenta: E esses extratos que o senhor alega que foram
fraudados, foram manipulados? São extratos falsos, é isso que o senhor
afirma?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Exato. Mais do que dona do banco, ela era dona
do sistema de informática do banco também. Ela que controlava.
Dep. Paulo Pimenta: Então, o senhor tem como provar isso? O senhor tem
perícia disso?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Isso já está provado. O irmão do Luiz Eduardo, o
Paulo Sérgio da Rocha Soares era o responsável pela TI. Ele já afirmou à
Polícia Federal por escrito e, inclusive, na perícia que eu fiz e que encaminhei à
Comissão tem essa carta que ele assina, na qual ele diz que os equipamentos
foram apreendidos na Suíça, que ficavam no mesmo datacenter e que ele ajudou
a Polícia Federal a identificar quais HDs eram do banco e quais eram da
Odebrecht. Ficavam juntos, administrados pelo mesmo administrador de rede,
Paulo Sérgio.
[...]
Diante de tais declarações prestadas, envolvendo diretamente os
documentos impugnados no âmbito deste procedimento incidental, como é possível se
afirmar ser impertinente a oitiva do Sr. Rodrigo Tacla Duran nos autos do referido
Incidente de Falsidade para a resolução do conflito?
Ademais, o Sr. Rodrigo Tacla Duran confirmou à Defesa do
Paciente, na presença de um Notário, ter informações relevantes a respeito dos
documentos que são objeto do Incidente de Falsidade:
Adv. Cristiano Zanin Martins: Eu, na verdade, dizia que nós tentamos
em três oportunidades ouvir o senhor como testemunha em uma ação
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penal em que o ex-Presidente Lula é acusado. O objetivo principal pelo
qual nós arrolamos o senhor era prestar esclarecimentos, contribuir para a
apuração da verdade dos fatos, notadamente em relação a documentos
que foram apresentados durante processo de colaboração premiada de ex-
executivos da Odebrecht e também no acordo de leniência da empresa.
Há um incidente de falsidade que nós aqui apresentamos e que ele tem
por objeto documentos do Meinl Bank Antigua, dentre outros. Então, eu
queria saber se o senhor teria condições de prestar esclarecimentos a fim
de apurar a verdade dos fatos porque nós vamos insistir na sua oitiva. É
necessário, ao nosso ver, apurar a realidade dos fatos. Então, eu queria, se
o senhor pudesse, nos dizer se o senhor se sente em condições de prestar
depoimento como testemunha, notadamente para esclarecer fatos
relativos a esses documentos.
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Só recapitulando, se eu tenho condições de
elucidar os documentos relativos ao Meinl Bank e do sistema Drousys?
Adv. Cristiano Zanin Martins: Isso, exatamente. São documentos que
são objeto de um incidente de falsidade.
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Se esses documentos são relativos ao sistema
Drousys, que era a intranet da Odebrecht, e ao sistema do Banco,
propriamente dito, do Meinl Bank, eu tenho condições sim, dependendo
dos documentos, claro, e informações que são pertinentes a eles.
[...]
Adv. Cristiano Zanin Martins: Doutor Rodrigo, como eu disse no
início, é a primeira vez que nós estamos conversando e eu percebi na sua
narrativa durante a CMPI da JBS que há uma situação de inclusive
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perseguição aos familiares do senhor, houve até mesmo a necessidade de
mudança para o exterior, de alguns familiares do senhor. Eu gostaria de
saber se, a despeito dessa situação, se o senhor efetivamente estaria
disposto a prestar um depoimento como testemunha nas ações penais,
como testemunha que nós da Defesa do ex Presidente Lula pudéssemos
indicar? O senhor teria essa disponibilidade? O senhor entende que teria
condições de contribuir para a verdade dos fatos?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Cortou um pouquinho... se eu tenho a
disponibilidade de fazer ao Juízo um depoimento como testemunha no
processo do ex-Presidente Lula?
Adv. Cristiano Zanin Martins: Na verdade... vou repetir. Eu constatei
no seu depoimento à CPMI que o senhor narrou, inclusive, que há uma
perseguição em relação a familiares do senhor. Houve ate mesmo a
necessidade de mudança para o exterior. A despeito dessa situação toda,
o senhor teria disponibilidade para ser ouvido como testemunha em uma
ação penal que tramita na 13ª Vara Federal de Curitiba?
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Sim, por videoconferência ou por uma carta
rogatória. Aqui na Espanha sem problema algum. Eu atendi... eu fui
testemunha... me chamaram como testemunha em assuntos do Equador,
por exemplo, hoje, que eu não tinha o menor conhecimento e eu até fui,
atendi, expliquei que eu não tinha conhecimento, não podia ajudar, mas,
no caso das suas perguntas eu entendo que é pertinente.
Como se vê, a afirmação da Autoridade Coatora quando decidiu
pela manutenção do indeferimento (ref. doc. 13)20 de que inexiste “qualquer elemento
20 Incidente de Falsidade Documental nº 5037409-29.2017.4.04.7000/PR, evento 61.
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probatório mínimo que indique envolvimento específico dele nas operações que
constituem objeto da presente ação penal”, não se sustenta.
Inicialmente, porque não se discute, neste procedimento
incidental, a controvérsia sobre pretensão punitiva versada na ação penal (controvérsia
mais ampla, continente do incidente), mas tão somente a idoneidade de documentos
juntados aos autos pelo órgão acusatório e pelo colaborador Marcelo Odebrecht
(controvérsia mais restrita sobre falsidade ou não de documentos físicos ou virtuais,
contida na ação). Entre estes documentos, existem ordens de pagamento realizadas por
meio do Meinl Bank Antígua. A testemunha indicada declarou – conforme acima
transcrito – a falsidade de documentos emitidos pelo referido banco, apontando
manipulação dos sistemas do banco e do Setor de Operações Estruturadas em prol dos
interesses do Grupo Odebrecht e seus executivos.
Destaca-se que diversos dos executivos da Odebrecht realizaram
acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal e são tratados de
forma diferenciada pelo órgão acusatório e pela Autoridade Coatora. A própria
empresa também realizou acordo de leniência. Documentos apontados como falsos pelo
Sr. Tacla Duran foram utilizados pelo Grupo Odebrecht e seus executivos em suas
negociações.
Há, portanto, fortes indícios de que documentos apresentados no
bojo da ação penal originária estejam manchados por falsidade. É exatamente para esta
verificação que existe o instituto do Incidente de Falsidade Documental.
Como pode a Autoridade Coatora antever o depoimento da
testemunha nos autos de forma a determinar que a mesma não teria nada a contribuir
com a solução do incidente?
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Saliente-se, por relevante, que o Sr. Rodrigo Tacla Duran
esclareceu que vem sendo ouvido como testemunha em processos que tramitam perante
diversos países. Por que apenas o Juízo da 13ª. Vara Federal Criminal de Curitiba
coloca obstáculos à sua oitiva?
Por fim, insta salientar que o Sr. Rodrigo Tacla Duran afirmou
que a Autoridade Coatora conhece seu endereço, visto que foi expedida uma Carta
Rogatória pela própria autoridade coatora, a pedido da Força Tarefa da Lava
Jato, para ouvi-lo em Madri-ES:
Sr. Rodrigo Tacla Duran: Primeiro, com todo respeito que o Juízo
merece. Eu como advogado não quero deixar isso de lado nunca. Eu
respondi a um processo de extradição e compareci a todos os atos. Atendi
a mais de 7 rogatórias de países diferentes. Sempre eu fui localizado. O
meu endereço na Espanha é o endereço da minha família há mais de 20
anos. Está no meu documento de identidade, que está no meu processo de
extradição, que o Juízo da 13ª Vara de Curitiba com certeza tem cópia. O
Ministério Público também tem cópia. Isso chega a ser tão estarrecedor
que, no dia 4 de dezembro, aqui em Madri... a Procuradoria do Paraná
encaminhou uma Carta Rogatória para a Espanha para me ouvir, na qual
os procuradores do Brasil, o Sr. Robson Pozzobon, o Sr. Orlando
Matello... não me lembro qual era o terceiro que constava... se
comprometiam a vir a Madri para tomar o meu depoimento no dia 4 de
dezembro. Eu fui à Audiência Nacional para atender a essa rogatória do
Brasil, na semana passada, no dia 4. Entretanto os procuradores não
vieram.
Adv. Cristiano Zanin Martins: Então, eles não só tem conhecimento do
endereço em que o senhor reside em Madri, como também chegaram a
pedir a sua oitiva.
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Sr. Rodrigo Tacla Duran: É obvio que sim porque eles mandaram uma
rogatória para que eu fosse ouvido. Eu compareci e eles não
compareceram.
Salta aos olhos que não há interesse em se ouvir essa
testemunha no âmbito da Operação Lava Jato, não porque os esclarecimentos e
informações que poderão ser prestados pelo Sr. Rodrigo Tacla Duran seriam
irrelevantes, mas por outras razões....
Aliás, quando o pedido para ouvir o advogado Tacla Durán foi
formulado pelo Ministério Público a autoridade coatora o acolheu e expediu a carta
rogatória para Madri.
Após ter conhecimento do teor do depoimento da testemunha, a
Força Tarefa da Lava Jato deixou de comparecer à sua oitiva e a autoridade coatora
indeferiu os pedidos desta Defesa para ouvi-lo.
Como justificar isso?
O ato ilegal perpetrado contra o Paciente é explícito cerceamento
de defesa e influencia diretamente no resultado do procedimento incidental, portanto no
resultado da ação penal. Não é esse o papel de um Juiz imparcial na condução da causa,
conforme o ordenamento nacional. Não há simples discricionariedade para que o
magistrado aceite ou não a produção de provas. A atuação deve se dar estritamente de
acordo com a lei.
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– IV –
DA FALTA DE ISONOMIA ENTRE DEFESA E ACUSAÇÃO
A situação se mostra ainda mais grave, quando observamos as
decisões da Autoridade Coatora em relação aos requerimentos de prova formulados
pelo Órgão acusatório. Veja-se o caso do Incidente de Falsidade nº 5043015-
38.2017.4.04.7000, de mesma natureza.
No Incidente de Falsidade nº 5037409-29.2017.4.04.7000,
conforme já mencionado acima, o Ministério Público requereu o envio de ofício à
Receita Federal para a obtenção de dados fiscais de Mateus Baldassari e empresas a ele
vinculadas (ref. Doc. 06). A Defesa questionou o deferimento (ref. Doc. 07), não tendo
sido demonstrada qualquer pertinência do pedido com o objeto do feito. O Magistrado
deferiu (ref. Doc. 08) a produção da prova com o seguinte fundamento:
“Pleiteou o MPF no evento 19, com esclarecimento no evento 29, a quebra de sigilo fiscal, a partir de 2012, de Mateus Cláudio Gravina Baldassari, CPF 769.065.318-91, das suas empresas, e das empresas Jaumont Services Limited e Beluga Holdings. Já foi decretada a quebra do sigilo fiscal de Mateus Cláudio Gravina Baldassari entre 2009 a 2011, conforme decisão do evento 7 no processo 5042689-15.2016.4.04.7000 e resultado no evento 34 daquele mesmo processo. No evento 34, anexo21 e anexo22, há referência de que ele seria titular de cotas da empresa Jaumont Services Limited, companhia estrangeira. O dado é relevante pela suspeita de que a Jaumont tenha alguma relação com a empresa Beluga Holdings Holdings Ltd. e com a suspeita do pagamento por fora de parte do preço na aquisição do prédio na Rua Haberbeck Brandão, conforme especialmente fls. 18-19 do Relatório 7/2017 constante no evento 999, anexo2, da ação penal 5063130-17.2016.4.04.7000. Há, portanto, justa causa para a quebra pretendida, além dela ser necessária para confirmar ou não a relação de Mateus Cláudio Gravina Baldassari com o suposto pagamento por fora. Assim, é o caso de deferir parcialmente o requerido pelo MPF e decretar a quebra do sigilo fiscal de Mateus Cláudio Gravina Baldassari, CPF
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769.065.318-91, e das empresa Jaumont Services Limited e Beluga Holdings Ltd., na expectativa improvável, quanto às últimas, de que estejam cadastradas no CNPJ. Ao contrário do reclamado pela Defesa de Luiz Inácio Lula da Silva (evento 30), não se trata de diligência estranha ao incidente de falsidade, uma vez que tais elementos circunstanciais podem auxiliar no juízo na avaliação da autenticidade dos documentos questionados.”
Ou seja, a Autoridade Coatora aponta as informações
requeridas pelo MPF como “elementos circunstanciais” e mesmo assim autoriza a
produção da prova, afirmando que auxiliariam o juízo na avaliação da autenticidade dos
documentos questionados.
A testemunha arrolada pela Defesa do Paciente tratou
diretamente do objeto do feito. Mesmo assim, ela não teria nada a contribuir com o
julgamento, segundo o Magistrado. Por quê?
Em relação ao Incidente de Falsidade Documental de nº 5043015-
38.2017.4.04.7000, o Ministério Público Federal requereu a produção de prova oral por
meio da oitiva dos senhores Glaucos da Costamarques e João Muniz Leite (Doc. 14)21.
A Defesa do Paciente peticionou pelo indeferimento do pedido (Doc. 15)22, diante da
impertinência da prova a ser produzida.
A Autoridade Coatora, então, julgou pelo deferimento (Doc.
16)23 da oitiva das duas testemunhas solicitadas pelo Órgão acusatório, de acordo com
os seguintes fundamentos:
“Como este Juízo adiantou, há dúvida, tratando-se de suposto falso ideológico, quanto à adequação de perícia técnica para a solução da controvérsia.
21 Incidente de Falsidade Documental nº 5043015-38.2017.4.04.7000, evento 31. 22 Incidente de Falsidade Documental nº 5043015-38.2017.4.04.7000, evento 36. 23 Incidente de Falsidade Documental nº 5043015-38.2017.4.04.7000, evento 38.
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De todo modo, é o caso de deferir o interrogatório complementar de Glaucos da Costamarques para que ele esclareça as circunstâncias nas quais assinou os recibos, e ainda do contador João Muniz Leite. Em que pesem os argumentos veiculados pela Defesa de Luiz Inácio Lula da Silva, não há vedação legal à produção de prova oral no âmbito de incidente de falsidade documental. Pelo contrário, o próprio artigo 145 do CPP, que regula o rito do incidente, prevê expressamente que o juiz "poderá ordenar as diligências que entender necessárias". Em que pese a prova pericial ser a corrente neste tipo de incidente, não há restrição à produção de outras modalidades de prova, caso o Juízo as entenda pertinentes e necessárias à elucidação da questão. Rigorosamente, para falsidade ideológica, a prova pericial sequer é a mais apropriada, sendo pertinentes a prova oral ou documental. Assim, sem razão a Defesa. Quanto ao pedido para que seja reconhecida a preclusão da modalidade de perícia a ser realizada, o pedido do MPF de postergação da questão para depois da produção da prova oral é razoável, já que necessário elucidar, por aqueles que produziram os documentos, as circunstâncias de sua produção.”
Ora, novamente é evidente o diferente tratamento dispensado pela
Autoridade Coatora aos requerimentos da Defesa e os da Acusação. A testemunha
proposta pelo Paciente apresentou diversos indícios de que os documentos apresentados
pelo colaborador Marcelo Odebrecht e pelo Parquet podem ser falsos, tratando do exato
objeto do procedimento incidental. Como pode o Juízo entender como não pertinente e
desnecessária sua oitiva para a elucidação da questão, senão em razão de elementos
subjetivos que fogem à imparcialidade que se exige de um julgador?
NEREU JOSÉ GIACOMOLLI24 assim escreve a respeito da par
conditio (igualdade processual):
24 GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica – 3. ed. rev., atual e ampl. – São Paulo: Atlas, 2016. p. 449.
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“A exigência de igualdade perante a legislação processual penal, ou seja, a vedação de tratamento diferenciado a situações que não o sejam, se infere do art. 251 do CPP (ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo). Essa regularidade se dá com a utilização de critérios legítimos, com a finalidade de afastar a arbitrariedade. A exigência da par conditio como elemento do devido processo se consubstancia no plano formal da previsão legislativa, mas também possui um conteúdo substancial, aferível na dinâmica processual, na aplicação normativa, bem como no conteúdo e efeitos das decisões [...].”
É na realidade da prática que se verifica a observância à devida
igualdade processual. Como vê, a Autoridade Coatora dispensa tratamento
diferenciado entre esta Defesa e o Órgão acusatório, privilegiando o último e cerceando
a efetiva atuação da primeira.
– V –
REQUERIMENTOS
Diante de todo o exposto e o que mais dos autos consta, pleiteia-
se seja concedida esta ordem de habeas corpus para que seja deferida a oitiva do Sr.
Rodrigo Tacla Duran como testemunha no Incidente de Falsidade nº 5037409-
29.2017.4.04.7000, com intimação a ser realizada por meio de carta rogatória à
Espanha, no endereço de sua residência, que é do conhecimento do Juízo da 13ª. Vara
Federal Criminal de Curitiba (Calle Acanto, 41, Las Rozas, Madri, Espanha), observado
o disposto no art. 222-A do Código de Processo Penal, sob pena de se chancelar o
cerceamento do direito de defesa, constitucionalmente assegurado e que afeta o jus
libertatis do Paciente.
Requer-se, também, a juntada de mídia a ser depositada em
cartório, contendo declarações do Sr. Rodrigo Tacla Duran, prestadas à Defesa do
Paciente, nos termos da ata notarial (Doc. 17).
Caso o incidente processual já tenha sido decidido no momento
da apreciação deste writ, requer-se seja declarada a nulidade de todo esse processado,
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determinando-se a realização da oitiva do Sr. Rodrigo Tacla Durán antes que nova
decisão seja proferida.
Requer-se, por fim, que todas as intimações e informações
relativas ao processo sejam em nome do advogado Cristiano Zanin Martins, OAB/SP nº
172.730, sob pena de nulidade absoluta do ato.
Termos em que,
P. deferimento,
De São Paulo (SP) para Porto Alegre (RS), 15 de dezembro de 2017.
CRISTIANO ZANIN MARTINS
OAB/SP 172.730
VALESKA TEIXEIRA Z. MARTINS
OAB/SP 153.720
PEDRO H. VIANA MARTINEZ
OAB/SP 374.207